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Aula 02 A preparação do trabalho de campo Disciplina: TCC EM PEDAGOGIA (p.2) Objetivo desta aula Ao final desta aula, você será capaz de: 1. Revisar a construção do delineamento metodológico de uma pesquisa, analisar alguns critérios para a definição do universo e do campo de estudos e discutir sobre como organizar o trabalho de campo. (p.3) A preparação do trabalho de campo Maria Regina Bortolini Na aula passada você foi orientado a revisar seu projeto e rever o delineamento metodológico que definiu para a sua pesquisa. Você sabe que a escolha do tipo de pesquisa deve ocorrer em função do objeto de investigação. Os procedimentos devem estar em consonância com o tipo de informação que precisamos coletar para responder às questões que norteiam nossa investigação. Se queremos saber sobre as dificuldades no processo de inclusão de crianças autistas na escola, certamente vamos ter que ir a uma escola onde há um aluno autista e fazer um estudo do caso (associação de amigos do autista). Mas se queremos analisar o perfil dos alunos de Pedagogia da Estácio, teremos que fazer um levantamento das características desses alunos. No primeiro caso vamos ter que conversar com professores e pais, mas igualmente importante será observar o que ocorre no dia a dia na escola. No segundo caso, não há necessidade de acompanhamento da vida acadêmica dos alunos, mas apenas a aplicação de um questionário que nos informe determinadas variáveis que consideramos significativas para a construção do perfil dos alunos. (p.4) E VOCE? Já definiu quais técnicas de coleta de dados vai usar? Você já escolheu o tipo de pesquisa que estará adotando? Analisou se ele está adequado ao seu objeto de estudo? (p.5) Vimos também na aula passada que muitas vezes a análise de documentos e de dados disponíveis pode auxiliar o pesquisador na configuração do universo de estudo e na delimitação do universo de estudo e na delimitação do campo de investigação, mas que a escolha das instituições e sujeitos que estarão envolvidos na pesquisa precisa atender a critérios metodológicos. As instituições e/ou sujeitos da pesquisa não podem ser escolhidos apenas por uma facilidade de acesso (ser onde uma amiga trabalha, estar perto de casa), mas precisam ter características que indiquem que eles poderão se constituir fontes férteis de informação. (p.6) PESQUISAS QUALITATIVAS E QUANTITATIVAS ATENÇÃO Pesquisas qualitativas e quantitativas diferem quanto aos critérios de amostragem. Na abordagem quantitativa, o tamanho da amostra é definido por critérios matemático-estatísticos. Na abordagem qualitativa, a amostra deve adequar-se aos objetivos da pesquisa. Ou seja, se vamos fazer uma pesquisa sobre o perfil dos alunos da Pedagogia da UNESA, você vai precisar aplicar questionários a pelo menos 10% dos alunos matriculados. Se esse número for muito grande para você trabalhar, uma opção é reduzir o campo de estudos e tomar apenas um campus. Assim a população que vai fazer parte da sua amostra fica bem menor. (p.7) Mas se a abordagem dada ao problema é qualitativa, não é a quantidade de sujeitos envolvidos que estará dando validade aos dados, mas seu perfil e a recorrência de suas respostas, ou seja, a sua capacidade de possibilitar a compreensão do fenômeno estudado. Qual escola devo tomar como “caso” para analisar a inclusão de um aluno autista? Será que posso ir a qualquer escola? Não né? É claro que tenho que encontrar escolas que tenham um aluno autista. Mas devo procurar uma escola onde essa inclusão foi exemplar? Olha só, eu estava lendo um artigo de Maryse Suplino, e ela diz que “existem alunos portadores de autismo frequentando, em sua maioria, escolas especiais ou classes especiais de condutas típicas, dentro das escolas regulares. Há umas poucas iniciativas de inclusão desses alunos em classes regulares. Neste último caso, a inclusão tem sido efetivada sob quatro condições: a) o aluno freqüenta a classe regular todos os dias, durante o tempo total da aula; b) o aluno frequenta a classe regular todos os dias, em horário parcial; c) o aluno frequenta a classe regular algumas vezes na semana, durante o tempo total da aula; d) o aluno frequenta a classe regular algumas vezes na semana, em horário parcial. Praticamente na totalidade dos casos, tais alunos fazem uso de recursos especializados de apoio como escolas de educação especial, fonoaudiologia, dietas especiais, terapia ocupacional, entre outros”. É, diante do que Suplino descreve, não existe um só modelo de inclusão. Então, acho importante entrevistar professores que vivem essas diferentes realidades, né? Afinal, eles devem estar enfrentando dificuldades diferentes e pode ser interessante no meu estudo eu poder conhecer melhor essas condições de inclusão diferentes. Isso! E, para complementar seu estudo talvez você possa visitar e fazer umas observações em campo, do dia-a-dia desse processo. Eh! Acho que isso seria muito bom. Eu teria uma visão mais completa do quadro da inclusão, diferentes realidades e fontes de informação. Muito bom! (p.8) Mas, não obstante os critérios metodológicos sejam decisivos, o delineamento do universo da pesquisa só será concluído no trabalho de campo, afinal, é nele que o pesquisador vai conhecer de fato a realidade da pesquisa. A delimitação do universo da pesquisa tem estreita relação com o tipo de instrumento de coleta de dados a ser adotado. Se o universo é necessariamente grande, dificilmente teremos condições de usar entrevista. Mas se a pesquisa é qualitativa, geralmente os melhores instrumentos de coleta de dados são a entrevista e a observação. Para verificar a adequação das técnicas ao nossos objetivos e condições de pesquisa, McMillan e Shumacher (1997) propõem que consideremos os pontos fortes e fracos de cada técnica. Ler em: Aula 02 (anexo) A preparação do trabalho em campo ou abaixo: (p.9) Utilização dos diferentes objetos Como visto, nenhum instrumento é perfeito. Por isso, é sempre mais interessante usarmos mais de um instrumento. Assim, aproveitamos o que cada um pode oferecer e compensamos suas deficiências. (p.10) Explorar o campo e organizar o trabalho de coleta de dados EXEMPLO Piaget usou a combinação entre observação do comportamento e entrevistas para saber como organizavam o pensamento, que explicações formulavam acerca das situações vivenciadas no desenvolvimento dos estudos que o levaram a elaborar a teoria dos estágios de desenvolvimento da inteligência. Definidos o universo, o campo e os instrumentos, o pesquisador deverá explorar o campo e organizar o trabalho de coleta de dados, ou seja, deve visitar a instituição ou comunidade onde realizará a pesquisa, identificar os sujeitos e as condições da pesquisa e elaborar um plano de trabalho de campo. (p.11) Não esqueça Ao fazer o primeiro contato pessoal, devemos nos apresentar usando linguagem e indumentária adequadas. Afinal, não estamos “visitando uma amiga”, mas fazendo um contato formal para o desenvolvimento de um projeto de pesquisa científica. É sempre prudente levar documento que comprove nosso vínculo institucional (sua matrícula na universidade) e o projeto de pesquisa impresso. Essas atitudes conferem mais credibilidade ao pesquisador. Em muitas escolas, será necessário formalizar esse processo através de algum tipo de documentação (carta de apresentação da Universidade, protocolo de visita etc.). Caso a instituição solicite alguma documentação, procure o coordenador de EAD do seu polo. Geralmente, é mais produtivo o trabalho de campo que envolve aproximações sucessivas com a realidade de investigação, ou seja, onde o pesquisador, depois da sua apresentação formal, faz algumas visitas buscando simplesmente familiarizar-se com o ambiente e com os sujeitos da pesquisa. Ele deve, neste movimento de exploração do campo, procurar conhecer o lugar, observar o seu funcionamento,conversar informalmente com alguns sujeitos. Em muitos casos, essa aproximação inicial pode revelar aspectos do objeto de nossa investigação que não conhecíamos e, portanto, não estávamos considerando em nosso estudo, mas que podem ser relevantes para a compreensão da problemática estudada. Além disso, essas visitas e conversas nos aproximam do cotidiano da instituição fazendo com que as pessoas deixem de nos ver como estranhos e passem a se comportar de forma mais natural em nossa presença. Mas, além dessa familiarização com o campo, essas visitas também cumprem um papel operacional. É nelas que vamos poder identificar e fazer o primeiro contato com os sujeitos que constituem o universo da nossa pesquisa. Assim que definidos os sujeitos a serem entrevistados ou grupos/situações que serão foco de nossa observação, devemos nos apresentar e relatar nossas intenções. É muito importante obtermos a autorização desses sujeitos para sua participação na pesquisa. Essa é uma questão que se refere à conduta ética que todo pesquisador deve ter. *conduta ética: A atividade de pesquisa científica no Brasil é regulamentada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) com o apoio de Comitês de Ética em pesquisa regionais. Essa regulamentação é fruto de uma iniciativa do Conselho Nacional de Saúde e traz para a atividade de pesquisa algumas exigências. Uma delas é que: O respeito à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe após consentimento livre e esclarecido dos sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ ou seus representantes legais manifestem a sua anuência à participação na pesquisa (CNS, Resolução196/96). Dessa forma, para que uma pesquisa seja considerada eticamente responsável, é necessário que os sujeitos envolvidos sejam devidamente esclarecidos acerca das intenções do pesquisador (objetivos, justificativa, procedimentos que serão utilizados na pesquisa) e autorizem o uso dos dados obtidos para fins científicos. Ele deve ser informado também que será garantido o total sigilo sobre as informações dadas e que tem liberdade em recusar-se a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa sem nenhum prejuízo ou penalidade. Veja TERMO DE LIVRE CONSENTIMENTO. Disponível em: Aula 02 (anexo) termo_de_consentimento (p.11) A coleta de dados Depois de contatados os sujeitos e informados sobre a pesquisa, é preciso analisar as condições em que se dará a coleta de dados. Se vamos aplicar questionários, ou se precisamos fazer observações e entrevistas, onde e quando elas serão feitas? Qual seria o melhor momento para aplicar os questionários? Durante uma aula? Preciso negociar isso com a coordenação pedagógica e os professores! Tenho que fazer as entrevistas com os professores. Preciso conversar com cada um para ver qual a disponibilidade deles. Qual seria a melhor data e hora para a entrevista? Será que no intervalo dá tempo? Antes ou depois da aula seria melhor? Qual lugar da escola é mais tranquilo para não sermos interrompidos? Como posso fazer para realizar minhas observações sem atrapalhar a aula? Fico no fundo da sala ou posso participar das atividades? É melhor observar durante o recreio também? Qual o melhor dia da semana para eu fazer minhas observações? (p.12) Concomitante com a entrada no campo, é preciso elaborar e testar os instrumentos de coleta de dados. Os instrumentos devem estar em consonância com o tipo de abordagem que se pretende dar ao objeto e precisam ser testados para avaliarmos sua eficácia. Sobre a elaboração dos instrumentos, estaremos dando as devidas orientações nas próximas aulas. Por hora é preciso levar em conta que a testagem dos instrumentos é um procedimento importante para poder verificar se eles cumprem devidamente a coleta de dados relevantes para o nosso estudo. Não é possível prever todos os problemas que podemos encontrar na aplicação dos instrumentos. As perguntas de um questionário ou entrevista podem não estar claras o suficiente, o roteiro pode ser extenso demais tomando tempo excessivo na sua aplicação, os itens a serem observados não se mostraram suficientes etc. A testagem dos instrumentos deve ser feita em uma amostra da população do estudo para verificarmos suas incongruências, erros e podermos fazer as alterações necessárias para garantir a sua eficácia. Somente a testagem permitirá a revisão e validação dos instrumentos. Consideradas as condições do campo de investigação, identificados e contatados os sujeitos, avaliados e aprovados os instrumentos, é possível elaborar um plano de trabalho. Esse plano deve incluir um calendário de visitas, agenda das entrevistas (data, horário, telefone dos contatos), recursos necessários (gravador, cópias dos questionários etc.) e quaisquer outras informações úteis. Mas é preciso ter em conta que no trabalho de campo, você, como pesquisador, vai ter pouco controle sobre o que acontece. Mudanças de horário, cancelamentos e uma série de outros imprevistos podem acontecer. Se por um lado essa imprevisibilidade do trabalho de campo pode significar por vezes mais tempo e investimento no processo de investigação, é justamente ela que permite envolver-se com a dinâmica própria da realidade investigada e descobrir novos aspectos de um problema. Aspectos que não estariam em um roteiro de entrevistas ou em um questionário e que podem levar a novas respostas ou perguntas. (p.14) O trabalho de campo O trabalho de campo é uma experiência importante na pesquisa de fenômenos sociais e educacionais. Permite um mergulho, a imersão na problemática real, inspira novas questões de pesquisa, que podem, inclusive, caso não possam ser consideradas nesse momento de investigação, alimentar a sua carreira acadêmica mais à frente e se tornarem objeto de uma pós-graduação, por exemplo. Uma dica: durante todo esse processo, tenha um caderno de campo para fazer anotações, tanto referentes ao conteúdo das conversas informais e das primeiras observações que realizar, quanto das dificuldades/oportunidades operacionais que identificar. Anote suas dúvidas, novos questionamentos ou ideias que surgem. Até mesmo impressões mais subjetivas ou certas “intuições” podem fazer parte dos seus registros, mas procure distingui-las dos seus apontamentos mais objetivos. Tenha esse caderno ao longo de todo o trabalho de campo. Você vai ver que esse diário pode ser muito útil na revisão de um instrumento ou para esclarecer dúvidas, ressignificar resultados durante o processo de análise de dados. (p.15) Organize-se e bom trabalho! Bem, agora você deve estar se perguntando: será que vou dar conta disso tudo? Claro que sim, basta organizar-se. Reveja essas orientações e procure aplicá-las ao seu projeto de pesquisa. Você já definiu o tipo de pesquisa que considera mais adequado ao seu estudo? Já escolheu com que instituição/sujeitos pretende trabalhar? Quais os instrumentos de coleta de dados vai usar? Se já fez essas escolhas, agora é fazer o primeiro contato, buscar a aproximação e exploração do campo e organizar seu plano de trabalho. As orientações para elaboração dos instrumentos (observação, entrevistas e questionários) serão feitas nas próximas aulas. Compartilhe com o professor e seus colegas nos fóruns suas ideias e dúvidas. Organize-se!! E lembre-se, você só deve realizar a aplicação efetiva dos instrumentos depois de validado pelo seu professor orientador, OK? Bom trabalho! (p.16) Síntese da Aula Nesta aula, você: Fez revisão sobre a construção do delineamento metodológico de uma pesquisa, analisou alguns critérios para a definição do universo e do campo de estudos e foi orientado sobre como organizar o trabalho de campo. Proxima Aula Na próxima aula, você vai estudar: Objetivos, vantagens e limitações da observação; tipos de observação: sistemática e assistemática, participante e não participante; elaboração do roteiro da observação; preparação da observação.