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Aula 03 Observação Disciplina: TCC Pedagogia (p.2) Objetivo desta Aula Ao final desta aula, você será capaz de: 1. Discutir sobre a observação como técnico de pesquisa. Quais os objetivos, vantagens e limitações; 2. conhecer os diferentes tipos de observação: sistemática e assistemática, participante e não participante; 3. aprender a como elaborar um roteiro e se preparar para a observação. (p.3) A Observação - Regina Bortolini A observação é um dos procedimentos de coleta de dados mais usuais nas pesquisas em Educação (LUDKE; ANDRÉ, 1999). Mas como técnica de pesquisa, ela não significa apenas ver ou ouvir. Na pesquisa científica, a observação assume características e procedimentos específicos. Não existe uma única forma de fazer uma observação. Segundo Markoni e Lakatos (2003), podemos organizar os diferentes métodos de observação de acordo com os procedimentos utilizados (sistemática ou assistemática) ou da maior ou menor participação/envolvimento do pesquisador/observador com a realidade/fenômeno que ele está investigando (participante ou não participante). Vamos conhecer melhor cada um deles. (p.4) Quanto aos procedimentos, ela pode ser assistemática ou sistemática A observação é um dos procedimentos de coleta de dados mais usuais nas pesquisas em Educação (LUDKE; ANDRÉ, 1999). Mas como técnica de pesquisa, ela não significa apenas ver ou ouvir. Na pesquisa científica, a observação assume características e procedimentos específicos. OBSERVAÇÃO ASSISTEMÁTICA É uma observação simples, sem um plano de observação prévio. Ela serve como um primeiro contato com determinados contextos, quando ainda não temos clareza de quais são os problemas de pesquisa. Um primeiro contato pode então favorecer a construção de algumas perguntas e hipóteses, dando início a problematização da realidade/fenômeno. Em continuidade, o pesquisador poderá então fazer uso de entrevistas, pesquisas documentais ou com uma observação sistemática. OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA Aqui o pesquisador já sabe exatamente o que vai procurar durante a observação. E para garantir mais rigor e objetividade no levantamento de dados, ele precisa elaborar um plano de observação, seguir um determinado roteiro e fazer o registro do que foi observado utilizando algumas ferramentas. Em uma observação sistemática, você já vai ao ao campo com um conhecimento mínimo sobre o que vai ser pesquisado. (p.5) Quanto ao grau de envolvimento/participação, ela pode ser participante ou não participante. OBSERVAÇÃO NÃO PARTICIPANTE Como próprio nome já diz, aqui o pesquisador presencia o fato, sem tomar parte, permanecendo de fora da ação que acontece diante dele. Por exemplo, como alguém que senta quieto no fundo da sala para observar a prática pedagógica de um professor ou a sua interação com os estudantes. OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE Numa observação participante, o pesquisador é parte integrante do que acontece. Interage, fala, participa. Por exemplo: um pesquisador que conduz junto à professora da turma uma atividade que ele mesmo pretende analisar. Ou uma pesquisadora que observa o cotidiano de uma organização da qual ela mesma faz parte como profissional. (p.6) Quanto ao grau de envolvimento/participação, ela pode ser participante ou não participante. Mas como eu vou participar e observar ao mesmo tempo? Como vou ter certeza de que estou sendo objetivo nas minhas observações? (p.7) Observação participante ou não participante. Se por um lado uma observação participante traz oportunidades únicas, pois pode permitir um grau de intimidade com os sujeitos ou de imersão num contexto que possibilite ao pesquisador acessar informações que não seriam passadas a um "estranho", de modo que seja possível ao pesquisador perceber/entender especificidades e sutilezas que uma pessoa "de fora" não seria capaz de compreender. Por outro, realmente a observação participante traz grandes desafios: como produzir uma interpretação com um mínimo de distanciamento necessário se você está tão imerso naquilo que está sendo realizado? Até que ponto você está observando um fenômeno, até que ponto você mesmo está produzindo esse fenômeno com a sua participação? Será que o seu intenso envolvimento político, pessoal ou cultural não pode condicionar a sua análise? (p.8) Planejamento de sua observação Já vimos que não é possível excluir completamente do processo de investigação a interferência dos valores e mesmo a simples presença do pesquisador em campo. Mas podemos reduzir esse impacto através de um controle mais rigoroso desse processo. E para fazer isso é preciso, antes de ir ao campo, construir um planejamento de sua observação, pensando em alguns aspectos, veja a seguir: Planejamento de sua observação FOCO Ou ler em: Aula 03 (anexo) Foco QUANDO OBSERVAR? Ou ler em: Aula 03 (anexo) Quando observar ONDE OBSERVAR? Ou ler em: Aula 03 (anexo) Onde observar (p.9) O Registro das Observações Toda observação deve ser registrada - não dá para contar só com a memória. A questão é saber quando, como e o que registrar. O QUÊ? O que registrar tem a ver com o seu problema de pesquisa. A princípio, tudo pode parecer importante, mas você deve manter o seu foco de observação, ou seja, aquilo que possa ter uma relação mais estreita com seu objeto de investigação. Toda observação deve ser descritiva e reflexiva ao mesmo tempo. Por isso, é fundamental você elaborar um roteiro de observação indicando com clareza as variáveis. Procure descrever o mais minuciosamente os aspectos que considerou relevante para o seu estudo. • Espaço físico - estrutura, recursos disponíveis, organização dos espaços e dos objetos. • Sujeitos - aparência, modo de agir, de falar, posição no grupo/contexto. • Diálogos - gestos, depoimentos, frases. • Ação - tudo o que acontece nesse espaço e entre esses sujeitos. (p.10) “Ai, estou aqui há horas, mas ainda não sei direito o que eu estou observando. Já anotei um monte de coisas, mas nem sei se isso vai servir depois...” Se quando for a campo você se der conta de que não está sabendo exatamente o que registrar, talvez seja um sinal de que as suas questões de pesquisa não estão muito claras ou que você ainda conhece muito pouco sobre a área que decidiu investigar. Converse com o seu orientador, reveja o seu planejamento e volte a campo com mais certeza dos seus objetivos. Mas o registro da observação não deve ser um documento frio, ele deve expressar o ambiente de observação. É importante registrar as suas observações pessoais. Então, não se esqueça, se algumas situações lhe provocarem, inspirarem uma série de reflexões registre-as. Elas podem ser importantes mais tarde. (p.11) Quando e Como? Quando Dependendo da situação, você pode fazer o registro durante a própria observação. Em alguns casos isso não é possível - numa situação de rua, por exemplo - ou não é indicável - se o fato de você estar ali fazendo um registro produzir algum tipo de constrangimento ou mesmo se for importante que você participe da situação sem a distração de qualquer instrumento de registro. Se for esse o caso, faça o registro o mais próximo do momento da observação possível, enquanto a memória e as impressões ainda estão vivas em você. Como Para fazer o registro, você pode usar uma série de recursos. Desde o velho papel e caneta até uma câmera de vídeo. Gravador e fotografia também valem. Mas atenção: cada ferramenta traz prós e contras. Avalie junto do seu orientador qual o melhor instrumento. (p.12) Blocos, formulários, computadores portáteis, caderno de campo Grande parte dasobservações é feita simplesmente assim: anotando! Você pode previamente estruturar algum formulário de registro, que lhe ajude a manter o foco no seu objetivo. Para períodos mais longos de observação, talvez seja interessante trabalhar com um caderno de campo, onde você possa ir registrando cada momento - e até perceber a evolução dessa observação ao longo do tempo. Esse tipo de ferramenta interfere muito pouco no que é observado, mas também tem o limite da sua memória/percepção ou da velocidade da sua escrita/digitação. (p.13) Fotografia ou Desenho? Algumas poucas pessoas têm habilidade suficiente para registrar em desenhos situações e lugares. Se, como a maioria de nós, não é o seu caso, a fotografia pode ser uma alternativa. Um registro fotográfico pode ser interessante para detalhar a descrição do espaço ou da aparência das pessoas. Uma divisão por sexos ou a distribuição racial dos alunos em uma sala de aula - que talvez passasse desapercebida aos olhos do pesquisador - pode ficar evidente em uma fotografia. No entanto, uma câmera fotográfica pode mudar a postura das pessoas, o que talvez possa prejudicar o próprio registro. (p.14) Câmera de Vídeo Talvez a gravação audiovisual seja uma das melhores formas de registrar uma situação. Você pode ver e rever quantas vezes quiser a mesma cena, percebendo em detalhes as ações, as falas, os gestos, as expressões faciais, enfim, tudo o que estiver ao alcance da tela. Mas, ao mesmo tempo, uma câmera interfere muito no comportamento das pessoas. Imagine você mesmo, no seu trabalho, na sua casa ou na sua escola, com uma câmera apontada gravando tudo o que você diz e faz. Será que você vai agir do mesmo jeito? Provavelmente não. No entanto, existem formas de diminuir o impacto que uma gravação de vídeo produz. Você pode criar um momento inicial em que as pessoas tomem contato com o equipamento. Mexam, filmem, vejam-se filmadas, como uma forma de todo mundo ir tomando mais intimidade com aquele objeto para que ele deixe ser um corpo estranho naquele espaço. Quanto mais tempo também o equipamento for utilizado, mais as pessoas vão deixando de se ater a ele e voltando a agir com a mesma espontaneidade de antes. ATENÇÃO Por questões éticas, as pessoas devem saber exatamente que ferramentas de registro você está utilizando. Participantes ou não da pesquisa, elas devem ser informadas se vão ser filmadas, fotografadas ou se você vai fazer anotações por escrito - e precisam autorizar tudo isso! (p.15) Limites e Oportunidades Como qualquer técnica de pesquisa, a observação traz alguns limites, mas também muitas oportunidades. Vamos pensar um pouco sobre eles. Acesso A observação nos permite um acesso direto a um determinado objeto, sem a intermediação de um documento ou de um entrevistado. A imersão em um contexto pode nos fazer enxergar coisas que não estão registradas em documentos ou que não são faladas pelas pessoas em entrevistas. Ela permite a coleta de dados também em situações em que formas de comunicação são impossíveis (por exemplo: crianças pequenas que ainda não conseguem se expressar bem na linguagem oral para uma entrevista). (p.16) Limites e Oportunidades: interferência O pesquisador não é invisível e pode, ele mesmo, provocar interferências no ambiente que pretende analisar. Por isso você precisar sempre considerar a sua própria presença como um dos fatores que compõe o quadro que você observa. Será que se você não estivesse ali as pessoas agiriam do mesmo jeito? (p.17) Limites e Oportunidades Sujeitos A observação nos ajuda a compreender um espaço, um contexto, uma série de relações, o que pode ampliar mas também trazer alguns limites quanto à compreensão dos sujeitos da pesquisa. A observação permite que você veja as pessoas em ação e interação - não só o que elas dizem em uma entrevista, mas o que elas efetivamente fazem em uma situação real. Uma coisa é ouvir o que uma professora fala sobre a sua prática pedagógica, outra coisa é observá-la em sala de aula, num dia de aula como outro qualquer. Será que a prática dela é compatível com o seu discurso? O que você observa pode ajudar a compreender melhor o discurso, as situações mais ou menos contraditórias que o contextualizam. Mas ao mesmo tempo, observamos as pessoas - funcionários de uma empresa, por exemplo - apenas naquele momento, o que não permite que você compreenda de maneira mais profunda quem realmente é aquele sujeito. Vários aspectos da sua vida particular podem não ser acessíveis. Há também um outro aspecto: imagine a diferença entre entrevistar uma catadora de papel em uma sala ou acompanhá-la durante uma semana no seu trabalho. Se a entrevista vai lhe permitir conhecer a trajetória dessa pessoa e vários aspectos da sua vida, a observação vai lhe colocar em contato direto não com a realidade contada, mas com a realidade vivida diretamente por ela. Assim, se a observação não é suficiente para construir um quadro completo de um único sujeito, ela é capaz de nos mostrar uma dimensão de diferentes sujeitos que dificilmente seria apreendida por outras técnicas. (p.18) Envolvimento Em pesquisas em que o tempo de observação é mais longo - e especialmente em casos de observação participante - você pode acabar se envolvendo demais naquele contexto. Quando se passa muito tempo em um mesmo lugar, convivendo com as mesmas pessoas e presenciando as suas relações, nós podemos acabar criando juízos de valor, "tomando partido", formando a nossa própria opinião de como as coisas deveriam - ou não - funcionar naquele ambiente. Isso pode acabar interferindo, e muito, na sua análise. Por isso é importante fazer sempre um exercício de autocrítica, perguntando a si mesmo: Será que eu não estou sendo parcial nessa análise? Será que o meu posicionamento não está condicionando demais o meu olhar? Será que eu não estou sendo condescendente com algumas pessoas com quem eu simpatizei? Ou enfatizando a crítica daquelas que me pareceram antipáticas? Quanto da minha observação não pode estar condicionado pelos meus próprios preconceitos? Será que eu estou realmente tentando compreender esse contexto? Ou será que não estou só buscando comprovar alguma ideia que eu já tinha pronta na cabeça? (p.19) Limites e Oportunidades: viabilidade Fazer uma observação não é tarefa simples. Algumas perguntas demandam um tempo de observação que talvez você não tenha. Seja porque esse tempo não é compatível com os seus prazos, seja porque você teria que fazer a observação em dias e horários em que você está trabalhando ou desenvolvendo alguma outra atividade obrigatória. Converse com seu orientador para decidir não só se essa técnica é indicada, mas também se ela é viável dentro das suas possibilidades de tempo e de recursos. Enfim, reflita sobre seu projeto de pesquisa e avalie com seu orientador se a problemática que você está estudando requer o uso da observação na coleta de dados. Se for o caso, planeje cuidadosamente como ela será feita, elabore um roteiro de elementos a serem observados. Apresente esse plano e esse roteiro ao seu orientador. Considere os comentários que ele fizer e BOM TRABALHO! (p.20) Síntese da Aula Nesta aula, você: nesta aula você aprendeu mais sobre uma importante técnica de pesquisa: a observação; identificou os tipos de observação (sistemática/não sistemática; participante/não participante) e as vantagens e desvantagens de cada uma delas; aprendeu o que é importante para o planejamento do uso dessa técnica e conheceu diferentes formas de se fazer o registro de uma observação. O Que Vem na Próxima Aula Na próxima aula, você vai estudar: Objetivos, vantagens e limitações das entrevistas; tipos de entrevistas: estruturada, semiestruturada, não estruturada; elaboração do roteiro da entrevista; preparação das entrevistas.