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Título original: Getting Things Done – The Art of Stress-Free Productivity Copyright © 2001, 2015 por David Allen Copyright do prefácio © 2015 por James Fallows Copyright da tradução © 2015 por GMT Editores Ltda. Esta edição foi publicada em acordo com Penguin Books, um dos selos do Penguin Publishing Group, uma divisão da Penguin Random House LLC. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito dos editores. tradução: Afonso Celso da Cunha Serra preparo de originais: Flávia Midori revisão: Luis Américo Costa e Tereza da Rocha revisão técnica: Thais Godinho (Call Daniel) diagramação: Ilustrarte Design e Produção Editorial capa: DuatDesign adaptação para e-book: SBNigri Artes e Textos Ltda CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ A427a Allen, David A arte de fazer acontecer [recurso eletrônico] / David Allen [tradução de Afonso Celso da Cunha]; Rio de Janeiro: Sextante, 2015. recurso digital Tradução de: Getting things done Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web Apêndice ISBN 978-85-431-0282-5 (recurso eletrônico) 1. Liderança. 2. Administração de pessoal. 3. Livros eletrônicos. I. Título. 15-25580 CDD: 658.4092 CCDU: 005.322:316.46 Todos os direitos reservados, no Brasil, por GMT Editores Ltda. Rua Voluntários da Pátria, 45 – Gr. 1.404 – Botafogo 22270-000 – Rio de Janeiro – RJ Tel.: (21) 2538-4100 – Fax: (21) 2286-9244 E-mail: atendimento@sextante.com.br www.sextante.com.br mailto:atendimento@sextante.com.br http://www.sextante.com.br Para Kathryn, minha parceira extraordinária na vida e no trabalho. Sumário Prefácio, por James Fallows Introdução à edição revisada Bem-vindo a A arte de fazer acontecer PARTE 1 – A arte de fazer acontecer Capítulo 1: Uma nova prática para uma nova realidade Capítulo 2: A arte de controlar a própria vida: os cinco passos para dominar o fluxo de trabalho Capítulo 3: Como tocar os projetos com criatividade: as cinco fases do planejamento de projetos PARTE 2 – A prática da produtividade sem estresse Capítulo 4: Ponto de partida: definindo o tempo, o espaço e as ferramentas Capítulo 5: Capturar: juntando a “tralha” Capítulo 6: Esclarecer: esvaziando a caixa de entrada Capítulo 7: Organizar: delimitando os compartimentos certos Capítulo 8: Refletir: garantindo a eficácia e a funcionalidade do sistema Capítulo 9: Engajar: decidindo as melhores ações Capítulo 10: Como manter os projetos sob controle PARTE 3 – A importância dos princípios Capítulo 11: O poder do hábito de capturar Capítulo 12: O poder de decidir a próxima ação Capítulo 13: O poder do foco nos resultados Capítulo 14: GTD e a ciência cognitiva Capítulo 15: O caminho para o domínio do método GTD Conclusão Apêndice: Glossário de termos GTD Agradecimentos Sobre o autor Informações sobre a Sextante Prefácio Inúmeros livros no mercado estão cheios de conselhos para melhorar os hábitos de trabalho, a saúde e a produtividade e sobre como ser bem-sucedido na vida. Parte do que ensinam não passa de bom senso disfarçado. Outra parte é conversa fiada. Muita coisa até pode ser lida uma vez, se tanto, já que vai cair no esquecimento horas ou dias depois. Este livro é diferente. Foi sucesso imediato desde a primeira edição, o que só aumentou o alcance da filosofia e dos métodos de David Allen. Eu mesmo o li com bastante atenção e o releio a cada um ou dois anos. Fiquei feliz ao saber do lançamento desta nova versão revisada e atualizada. Mas por que A arte de fazer acontecer é tão diferente dos outros livros sobre o assunto? Eu relacionaria as três qualidades a seguir, que se farão evidentes nos próximos capítulos. Uma é a praticidade, evidente em sua abordagem modular e flexível. Muitos esquemas de autoaperfeiçoamento funcionam na base do “tudo ou nada”: “Tudo deve ser diferente a partir de amanhã.” Se você quiser perder 20 quilos, controlar suas finanças pessoais, melhorar a vida familiar ou seguir a carreira dos seus sonhos, é preciso promover mudanças radicais, de alto a baixo, em todos os aspectos de sua vida. De vez em quando as pessoas de fato dão esses saltos radicais, como, por exemplo, nos programas de abstenção de bebidas e drogas, nos compromissos com novos planos de dietas e exercícios, depois de sérios problemas de saúde e até no enclausuramento monástico após uma vida profissional próspera. No entanto, em quase todas as situações, as abordagens que admitem erros são mais propensas a produzir resultados satisfatórios no longo prazo. Dessa maneira, caso você se esqueça de alguma parte do método ou deixe de cumprir algum passo, não é preciso abandonar todo o resto. As pretensões de David Allen em relação aos objetivos que devem ser alcançados são, sob alguns aspectos, ainda mais ambiciosas do que as de outros autores do ramo. Seu propósito nada mais é que ajudar as pessoas a eliminar o estresse e a ansiedade, de modo a alinhar todos os momentos e atividades do cotidiano com os objetivos que mais gostariam de realizar. No entanto, com muito poucas exceções – por exemplo, a insistência sensata no desenvolvimento do hábito de “captura”, anotando ou registrando todos os compromissos que você assume e as obrigações que aceita em vez de se torturar tentando se lembrar de tudo, e a ênfase correlata em adotar um repositório central confiável –, uma grande vantagem do sistema é sua natureza modular. Este livro está repleto de conselhos que podem funcionar melhor se adotados na totalidade, mas são úteis mesmo quando aplicados em partes. Por exemplo, mesmo que você não aplique todas as técnicas do método GTD de David Allen, ainda é possível aproveitar a Regra dos Dois Minutos e livrar-se das obrigações agora em vez de adiá-las. (A Regra dos Dois Minutos, exposta no Capítulo 6, defende que “se alguma ação demorar menos que dois minutos, ela deve ser engajada no momento em que for definida”.) Ou constatar a importância, destacada em todo o livro, de confiar num “cérebro externo” – ou seja, ferramentas capazes de exercer atividades rotineiras de arquivamento e classificação, desde simples pastas para organizar recibos até recipientes onde guardar chaves, óculos ou objetos que você perde a toda hora. Esses são conselhos de alguém que compreende muito bem as limitações das pessoas, sempre ocupadas e falíveis. David Allen dá dicas úteis, mas não para que você se sinta mais culpado e incompetente; elas se baseiam no fato de que a vida é uma sucessão de ciclos, com altos e baixos. A certa altura, ficamos para trás; depois, começamos a avançar, ou pelo menos tentamos. A arte de fazer acontecer sugere que, nas situações inevitáveis, quando nos sentimos oprimidos e incapazes, devemos dar pequenos passos todos os dias para restabelecer a calma e recuperar o senso de controle. Uma segunda qualidade do livro é sua adaptabilidade irrestrita. Nas últimas décadas, desde que ele iniciou o desenvolvimento de seu método para melhorar a vida e o trabalho, alguns aspectos práticos de organização pessoal permaneceram inalteráveis. O dia continua tendo poucas horas, por mais que se expandam as fronteiras da vigília. Também são poucas as pessoas com quem podemos manter relações profundas, assim como a quantidade de ações em que conseguimos nos engajar simultaneamente. Por outro lado, alguns aspectos da vida profissional passaram por mudanças radicais. Quando a primeira edição do livro foi lançada, o e-mail ainda era uma novidade, e não uma fonte inesgotável de trabalho que muitas vezes gera sentimento de culpa. Um dos primeiros projetos tecnológicos de David Allen foi um sistema de gerenciamento de tarefas, denominado “Actioneer”, para o primeiro palmtop. Hoje, a empresa não existe mais, assim como o aparelho, que deu lugar aos smartphones. Outras tecnologias agora inimagináveis, sem dúvida, os substituirão. Nesta nova edição, David Allen está bem familiarizado com as tecnologiasatuais. Entretanto, diferentemente de outros livros de administração que se restringem a hardwares ou softwares – como planilhas eletrônicas e apresentações em Powerpoint –, A arte de fazer acontecer explora sistemas externos específicos, embora não dependa de nenhum deles. O autor atualizou as dicas não só para refletir sobre o que ficou diferente com as novas tecnologias, mas também para acrescentar, com detalhes fascinantes, as descobertas admiráveis da neurociência. Suas expectativas, porém, sempre se associam a princípios atemporais de como as pessoas gerenciam a atenção, as emoções e a criatividade. Se lerem este livro daqui a 10 anos ou mais, elas poderão ignorar as referências a aparelhos obsoletos e, ainda assim, aproveitar as ideias relevantes sobre a natureza humana. Em terceiro lugar está um atributo que logo me cativou assim que me tornei amigo de David e sua esposa Kathryn e que acho que as pessoas devem ter percebido no trabalho dele. Trata-se da integridade e da autenticidade de suas recomendações, a conexão profunda entre a pessoa e a mensagem que ele transmite. Quando escrevi o perfil de David Allen para a Atlantic, em 2004, descobri que ele havia experimentado várias carreiras profissionais e ciclos de sorte na vida. Fazia teatro na escola, foi praticante e professor de caratê, garçom, motorista de táxi e gerente de uma empresa de serviços de jardinagem – tudo isso antes de se tornar consultor e assessor de produtividade. Toda essa experiência repercutiu em suas recomendações e no seu estilo, não apenas nos exemplos reais que utiliza, mas também na sua extraordinária falta de vaidade. Às vezes, ao avaliar a importância de uma obra, não percebemos os traços pessoais de seu criador. Steve Jobs, por exemplo, costumava ser mais admirado como visionário do que como modelo de conduta pessoal. Em outros casos, a integração estreita entre as experiências e as ideias de uma pessoa reforçam o poder das mensagens. Posso garantir, com base na convivência com ele, algo que muitos leitores talvez tenham percebido: David deu o melhor de si para ser honesto em relação ao que aprendeu com a vida. Algumas pessoas podem pensar que não “precisam” deste livro – e é bem provável que isso seja verdade. Muita gente já alcançou o sucesso profissional e vive com satisfação, mesmo ignorando os métodos da “arte de fazer acontecer”. No entanto, conheço outras que leram o livro e se beneficiaram ao dedicar algum tempo à absorção das mensagens e suas implicações. Tenho dois critérios para avaliar a qualidade de um livro: se me lembro dele um mês depois de terminada a leitura e se afeta minha visão de mundo. Nesse sentido, A arte de fazer acontecer é, para mim, um sucesso. Fico feliz com o fato de que uma nova versão esteja sendo oferecida a uma nova geração de leitores. James Fallows James Fallows é correspondente da revista Atlantic e autor de 10 livros, entre eles Detonando a notícia. Ele escreveu sobre David Allen pela primeira vez em 2004, num artigo intitulado “Organize your life!” (Organize sua vida!). Introdução à edição revisada O que se segue é uma reedição da primeira publicação de 2001 – ou, melhor, uma espécie de reescritura. Na verdade, redigitei o manuscrito original do começo ao fim, com o objetivo de revisar o conteúdo e a linguagem, identificando os pontos pendentes, obsoletos ou até falhos, para manter o livro funcional, um manual sempre atualizado, útil, relevante e aplicável no século XXI. Também queria incluir o que descobri e aprendi de mais significativo e interessante sobre as técnicas introduzidas por A arte de fazer acontecer, já que continuei envolvido no processo desde a primeira edição do livro. Ou seja, incluí minha própria compreensão do poder, da sutileza de raciocínio e da aplicabilidade do método, além da forma como foi recebido mundo afora. O que não precisei mudar nessa reavaliação foram seus princípios básicos e suas técnicas centrais. Enquanto reformulava a edição original, percebi que tanto os princípios da produtividade sem estresse aqui descritos quanto as práticas de como aplicá-los ainda não perderam força, e sinceramente acho que isso dificilmente acontecerá. Para desembarcar em Júpiter, em 2109, a equipe de exploração espacial terá que seguir as mesmas regras hoje adotadas para manter o controle e o foco. Ainda precisarão de algum tipo de caixa de entrada, conforme explicado mais adiante, para capturar inputs significativos e inesperados, a fim de saber em que pontos se concentrar. E decidir o passo seguinte é sempre uma questão crítica no engajamento bem-sucedido de qualquer ação, não importa o seu âmbito. Fiz alguns ajustes no material básico, uma vez que muito do nosso jeito de viver e trabalhar mudou desde a primeira edição do livro. Explico logo adiante minhas ideias sobre o que considero novo e interessante nessa área, oferecendo conselhos tanto a quem ainda não se familiarizou com o GTD1 quanto a quem já o segue e talvez leia esta nova edição para se atualizar. O QUE É NOVO Eis algumas das principais áreas que atualizei ou onde inseri dados novos: A ascensão da tecnologia digital A continuidade da Lei de Moore (de acordo com a qual o poder do processamento digital cresce em progressão geométrica), além das questões sociais e culturais geradas pelo mundo digital, nunca deixa de nos surpreender. Uma vez que A arte de fazer acontecer trata basicamente do conteúdo e do significado do que precisamos gerenciar, não importando como se manifestam ou se organizam – digitalizados ou no papel –, os avanços da tecnologia são até certo ponto irrelevantes para o método. Um pedido por e-mail ou em uma conversa informal são processados da mesma forma, por exemplo. Mas o mundo mudou e agravou a maneira como aplicamos as práticas centrais de capturar, organizar e acessar o que é significativo. Embora agora tenhamos acesso a muitos aplicativos e superferramentas, essa variedade de aparelhos pode acabar com a nossa produtividade. Manter- se por dentro das tecnologias e explorá-las ao máximo em proveito próprio aumentam bastante a pressão para ajustar o próprio método do fluxo de trabalho. Para esta edição, mudei a ênfase que dava às ferramentas mais adequadas para determinadas ações e reconheci a onipresença dos recursos digitais. Também eliminei a maior parte das referências a softwares, pois a velocidade do avanço tecnológico torna obsoleto qualquer programa específico. Tentei evitar essa armadilha fornecendo, em vez disso, um modelo geral de como avaliar a utilidade de qualquer ferramenta. Precisei refletir sobre o grau de atenção que deveria ser dedicada às ferramentas e aos materiais em papel (em especial para captura, arquivo de referência e incubação), uma vez que as gerações atuais acham que não precisam mais lidar com papel. No entanto, decidi me arriscar e resolvi deixar intactas muitas das instruções da primeira edição, já que alguns leitores ainda devem estar, pelo menos em parte, na era do papel. O tempo dirá se um dia de fato nos livraremos desse meio físico. Um mundo que não desliga nunca Muitas vezes me perguntam que conselhos o método GTD poderia oferecer ao mundo conectado de hoje. Indivíduos notáveis como o imperador Napoleão, o compositor Bach e o artista plástico Andy Warhol talvez tenham tido a necessidade de lidar o tempo todo com muitas informações potencialmente importantes. Agora, porém, elas estão disponíveis a toda uma população mundial num estalar de dedos. A facilidade com que essa enorme quantidade de dados pode ser acessada trouxe oportunidades recompensadoras, embora, ao mesmo tempo, tenha aumentado em volume, velocidade e mutabilidade. Se você ouve sirenes na rua e quer saber o que está acontecendo ou tem curiosidade acerca do que algumas pessoas discutem do outro lado da sala, tenha certeza de que se tornou vítima das inúmeras distrações a que a tecnologia o expõe o tempo todo. Se você aplicar as práticas recomendadas neste livro de forma correta, sem dúvida conseguirá lidar com os novos recursos de forma positiva.Nada é novo, exceto a sua frequência. A globalização do método GTD Muitas pessoas costumam me perguntar se o método GTD pode ser levado a pessoas de outras culturas. Minha resposta é: “Com certeza.” A mensagem central deste livro é tão relevante que ainda não deparei com diferenças culturais – nem de gênero, idade ou personalidade – na aplicação das técnicas. No entanto, é claro que cada indivíduo deve saber a que propósitos o treinamento lhe servirá. Isso pode depender mais da fase da vida, da natureza do trabalho e do próprio interesse pela evolução pessoal que de qualquer outro fator. Ao praticar o método GTD, você terá mais em comum com uma pessoa do outro lado do mundo do que com seu vizinho. Qualquer pessoa que precise lidar com mais do que pode realizar em determinado momento tem a oportunidade de fazê-lo com mais facilidade e elegância do que imagina. Desde a primeira edição, a mensagem de A arte de fazer acontecer só se difundiu mundo afora. O livro foi traduzido para mais de 30 idiomas, possibilitando que abríssemos franquias em diversos países, no intuito de oferecer programas de treinamento. Se eu já me sentia confiante quanto à capacidade de as técnicas se adaptarem às diversas culturas, os anos seguintes à publicação do livro só aumentaram minha certeza. Uma abordagem que se tornou ainda mais inclusiva para todos os tipos de leitores e usuários Para escrever A arte de fazer acontecer, precisei elaborar um manual do método, que, de início, foi formulado, testado e implementado em programas de treinamento e desenvolvimento corporativos. O livro se destinava a gestores, executivos e profissionais de alto nível. Embora o material também pudesse ser valioso para outras pessoas, nosso público-alvo principal era composto por funcionários de grandes empresas que visavam ao crescimento profissional e à produtividade – além da vontade de preservar a própria sanidade, tão castigada sob tantas pressões. Eles atuavam na linha de frente e compunham a vanguarda que pela primeira vez depararia com a enxurrada iminente de informações e com as transformações aceleradas e revolucionárias do mundo empresarial, embora tivessem acesso aos recursos necessários para enfrentar essas ameaças. A arte de fazer acontecer não é simplesmente sobre fazer as coisas acontecerem. É sobre se engajar em sua vida pessoal e profissional. Hoje, há um interesse universal acerca dos resultados alcançados pelo foco e pela produtividade sem estresse, além da percepção de que o método não trata apenas de “gestão de tempo”, mas da prática de um novo estilo de vida, necessária para lidar com o mundo atual. Tenho recebido depoimentos de várias pessoas, nos mais diferentes contextos, sobre como a vida delas mudou após aplicar os princípios do GTD. Essa necessidade crescente de um modelo organizacional me inspirou a reformular muitos exemplos e a ajustar o foco do texto. A partir dessa perspectiva, talvez o título do livro possa parecer enganoso, dando a impressão de que eu recomendo que você trabalhe com mais afinco, durante mais horas, para fazer mais coisas acontecerem. O termo produtividade, infelizmente, costuma ter duas conotações: realização (o ato de empreender) e ocupação (o ato de preencher o tempo). Na verdade, este livro não está muito preocupado em fazer acontecer, uma vez que pretende engajá-lo da forma adequada, orientando-o quanto às melhores decisões e eliminando as distrações e o estresse do que você não está fazendo. A compreensão e a capacidade psicológica daí resultantes podem beneficiar outros profissionais, e não somente aqueles que querem subir na carreira. Algumas das declarações que mais endossaram a importância de aplicar os princípios e as técnicas de A arte de fazer acontecer vieram de áreas inesperadas. O chefe da maior empresa financeira do mundo, um comediante americano de grande popularidade, a personalidade mais ouvida dos programas de rádio, o CEO de um grande conglomerado europeu, um dos diretores mais bem-sucedidos de Hollywood, todos atribuíram ao GTD os grandes benefícios que adquiriram na vida e no trabalho. Foi fascinante receber depoimentos de religiosos também. Embora descrevam questões sobrenaturais, eles se revelaram ávidos por maneiras eficazes de se concentrarem mais em assuntos mundanos ao conduzir seus rebanhos, libertando-se das distrações que advêm dos aspectos rotineiros da liderança de uma congregação. Estudantes, designers, médicos – a lista de defensores do método é infindável. Ao longo dos anos, descobri que estamos todos juntos neste jogo. E nada poderia ser melhor que a oportunidade de propagar o GTD e abranger absolutamente qualquer pessoa. Uma conscientização maior sobre o tempo e a energia indispensáveis para a plena implementação do método GTD e as mudanças comportamentais necessárias para mantê-lo Infelizmente, por mais fácil que seja fazer o que recomendo neste livro, destaquei dois fenômenos: (1) talvez a quantidade de informações e de atividades sugeridas possa levar quem estiver começando a implementar o método a se sentir sobrecarregado; e (2) talvez fazer com que práticas fundamentais se tornem um hábito leve algum tempo para a maioria das pessoas. Tudo o que deve ser realizado exige prática. Com efeito, a vida nada mais é que uma sucessão de práticas, um esforço infindável para aprimorar nossas iniciativas. Quando se compreende a mecânica adequada, aprender algo novo é convertido numa experiência alegre e tranquila, sem estresse, um processo que delimita todas as áreas da vida e que oferece uma perspectiva apropriada sobre todas as dificuldades. – THOMAS STERNER Mantive nesta edição instruções e recomendações detalhadas sobre como implementar o método GTD na vida e no trabalho. Hoje sei que, para muitos novatos, essa tarefa parecerá confortável e passível de ser incorporada de uma vez. Mas, para ser honesto, não posso lhe dizer exatamente como integrar o método no seu dia a dia, caso você queira adotá-lo. Se você quisesse ser um jogador de tênis, eu lhe exporia pelo menos um esboço do jogo, as habilidades que você precisaria ter e o nível de prática indispensável para realizar esse desejo. No Capítulo 15, que adicionei a esta versão, tentei esclarecer a profundidade e a amplitude do jogo que proponho, deixando você à vontade para capturar o que mais se ajuste às suas possibilidades e intenções. Procurei reconhecer com mais tolerância a dificuldade de reorganizar suas práticas e seus sistemas pessoais. Trata-se mesmo de dar um passo de cada vez. Em todo caso, porém, um dos mais difíceis desafios do método é aplicar e manter essas práticas, de forma que se tornem um hábito e exijam pouco esforço consciente. Não sou expert em mudança de hábitos – dediquei-me muito mais a desenvolver e refinar a prática da produtividade sem estresse.2 Os ingredientes comportamentais do GTD são relativamente simples e conhecidos. Até que ponto é mesmo difícil fazer anotações, definir o próximo passo, manter lembretes à mão e sempre revisar suas listas de ações? Todo mundo reconhece a necessidade de seguir essas práticas; no entanto, poucos persistem. A grande dificuldade em internalizar a vontade de se livrar dos fatores de dispersão, ou distrações, tem sido uma de minhas maiores surpresas ao longo dos anos. Tudo que merece existir também merece ser conhecido, pois o conhecimento é o reflexo da existência e as coisas existem e atuam com o mesmo esplendor. – FRANCIS BACON Descobertas da neurociência que validaram a eficácia do método GTD Graças às pesquisas científicas, não me sinto mais como “uma voz gritando no deserto”, como na virada do século. Elas validaram os princípios e as práticas deste livro. Você conhecerá algumas dessas descobertas no Capítulo 14. SE VOCÊ FOR NOVATO… … e chegou até este ponto da Introdução, é provável que tenha interesse em se engajar de alguma forma. A arte de fazer acontecer foi estruturada como um manual prático: formulação dos princípios básicos, instrução para superar os obstáculos e apresentação de fórmulas úteisem inúmeros casos. Se fiz um bom trabalho nesta nova edição, você já extrairá ensinamentos a partir do próximo capítulo. Os princípios do método GTD foram testados por muitas pessoas, que o apontaram como uma experiência poderosa a ser absorvida e aplicada. Por outro lado, você também pode apenas folhear o livro, detendo-se num ou noutro parágrafo. O livro foi organizado para servi-lo também dessa maneira. SE VOCÊ JÁ EXPERIMENTOU O MÉTODO GTD… … este é um novo livro. Os métodos aqui apresentados são sempre surpreendentes: antigos praticantes costumam recorrer a ele com observações do tipo “O conteúdo e a maneira como eu o absorvo agora são totalmente diferentes”. Mesmo quem releu a edição original me confessou: “O livro parece totalmente diferente a cada leitura!” É como ler o manual de um aparelho cujos mecanismos básicos você já conhece. Você ficará chocado ao perceber tudo o que pode fazer (ou já poderia estar fazendo) mas não conseguiu identificar nem implementar por causa de qualquer outra questão que lhe parecia mais importante e urgente. Não importa quando ou quantas vezes você leu a edição anterior de A arte de fazer acontecer. Não importa se participou de seminários, treinamentos, coaching ou podcasts: você experimentará um nível de engajamento inédito e envolvente ao ler esta edição revisada. Nas próximas páginas você deparará com um novo universo de ideias a ser explorado e internalizado, como parte da estrutura e das ferramentas que você já conhece. Aprofundar-se no livro e absorver as informações aqui expostas lhe proverão algumas ideias positivas e produtivas sobre os aspectos mais relevantes da vida e do trabalho. Bem-vindo a A arte de fazer acontecer Bem-vindo a uma mina de ouro de insights e estratégias para ter mais energia e conseguir relaxar, ter mais clareza e ser mais concentrado em tudo o que fizer, de modo a atingir mais objetivos com bem menos esforço. Se você é como eu, deve gostar de fazer acontecer e de fazê-lo bem, e ainda querer aproveitar a vida, mesmo trabalhando tanto. Você não precisa eliminar uma coisa para ter outra. De fato, é possível fazer bem-feito e, ao mesmo tempo, curtir o momento, mesmo na rotina do trabalho. Acho que eficiência é uma coisa boa. Pode ser que o que você faz seja realmente importante, interessante ou útil. Mas talvez não seja, e você precisa fazê-lo de qualquer forma. No primeiro caso, você quer conseguir o máximo de retorno, já que investiu tempo e energia; no segundo, você está doido para terminar o que está fazendo e se envolver em outras atividades, mas sem deixar nada pendente. Descansar a cabeça e deixar todas as preocupações de lado é um dos grandes segredos da humanidade. – CAPITÃO J. A. HATFIELD E, independentemente do que esteja fazendo, você com certeza gostaria de se sentir despreocupado, seguro de que está fazendo o que deve ser feito – sair com os colegas depois do expediente, admirar seu filho dormindo ou responder ao e-mail do cliente é exatamente o que você deveria fazer. Meu principal objetivo ao escrever este livro era ensinar aos praticantes do método GTD como alcançar a máxima eficiência e ficar despreocupado. Depois de muitos anos compartilhando seus princípios, em contextos e para públicos diversos, posso garantir: ele funciona. Você sabe se o que está fazendo é de fato o que deveria estar fazendo? Nenhum programa de computador, smartphone ou mentor estenderá o seu dia, tornará mais simples o trabalho ou tomará as decisões difíceis por você. Quando usadas de maneira adequada, as ferramentas podem ajudá-lo nessas tarefas, mas não necessariamente garantirão controle e foco. Além disso, a partir do momento que elevar sua produtividade a determinado nível, você assumirá novas responsabilidades e adotará objetivos criativos, cujos desafios desprezarão qualquer fórmula, frase de efeito ou dispositivo móvel que tenham prometido eficiência total. Talvez você tenha estabelecido hábitos e ferramentas que funcionem por um tempo, mas uma mudança grande, como um novo emprego, a chegada do primeiro filho ou a compra da casa própria, testará sua sustentabilidade e poderá gerar um desconforto sério – se não um massacre! São muitos os métodos, mas poucos os princípios. Quem domina os princípios pode escolher com sucesso os próprios métodos. Quem tenta adotar os métodos ignorando os princípios com certeza enfrentará problemas. – RALPH WALDO EMERSON No entanto, caso você não encontre nenhuma técnica ou ferramenta para melhorar a organização e a produtividade, tenho alguns métodos simples, fáceis de aprender, para aperfeiçoar a habilidade de lidar de maneira proativa e construtiva com as prioridades da vida. Ao longo do tempo, essas práticas se revelaram bastante viáveis tanto para quem está às voltas com o dever da escola quanto para quem precisa formular uma nova estratégia para a empresa. Reuni neste livro três décadas de descobertas sobre produtividade pessoal e organizacional – um guia para maximizar o output e minimizar o input num mundo em que o trabalho é cada vez mais volumoso e mutável. Eu e meus associados treinamos algumas das pessoas mais brilhantes e ocupadas e as ajudamos a capturar, esclarecer e organizar todas as suas ações e seus compromissos. Meus métodos se provaram altamente eficazes em todos os níveis hierárquicos, em qualquer cultura, até mesmo em casa e na escola. Depois de anos orientando e preparando profissionais sofisticados e produtivos (e os filhos deles também!), não tenho dúvida de que o mundo está ávido por esse conhecimento. A ansiedade é consequência da falta de controle, de organização, de preparação e de ação. – DAVID KEKICH Os altos executivos tentam se inserir em padrões elevados de execução e demandam isso de suas equipes, além de buscarem manter o equilíbrio de suas vidas pessoais. Eles sabem, e eu também, que, mesmo depois do expediente, ainda restam telefonemas não atendidos, tarefas a serem delegadas, pendências de reuniões, questões ainda não definidas, atribuições não gerenciadas e centenas (ou até milhares) de e-mails para lidar. Muitos executivos são bem- sucedidos porque as crises solucionadas e as oportunidades exploradas por eles são maiores que os problemas que admitem ou criam no escritório ou em casa. Considerando, porém, o atual ritmo do trabalho e da vida, esse equilíbrio costuma ser bastante questionado. E o pior é que as pessoas não estão prestando atenção no que os filhos fazem na escola, se praticam esportes ou se questionam sobre a vida na hora de dormir. A angústia invade nossa sociedade: existe uma sensação de que deixamos de lado o que de fato deveríamos estar fazendo, o que cria uma tensão sem solução e que não dá descanso. De um lado, precisamos de ferramentas que possam nos ajudar a concentrar as energias de maneira estratégica e tática, sem deixar passar nada. De outro, devemos cultivar hábitos mentais e desenvolver ambientes de trabalho capazes de evitar que entremos em colapso por causa do estresse. Necessitamos de padrões de trabalho e de estilos de vida que atraiam e retenham os melhores profissionais em nossas organizações, além de práticas pessoais e domésticas que fomentem a clareza, o controle e a criatividade em quem amamos e em nós mesmos. Sabemos que essas informações são cruciais para as organizações, inclusive nas escolas, onde a maioria das crianças ainda não entende como esclarecê-las, como gerar resultados ou como chegar a eles. E também são indispensáveis para que possamos tirar vantagem de todas as oportunidades com que deparamos para acrescentar valor ao mundo. O poder, a simplicidade e a eficácia do conteúdo desta obra são mais bem compreendidos como uma experiência em tempo real, envolvendo situações do mundo real. Ao ler ou folhear o livro, sem dúvida você ganhará motivação para refletir sobre como poderia implementar as práticas de que tanto falamos. Faça o que você está lendo conforme avança na leitura. Assim, sua compreensão se dará de forma muito mais profunda e significativa. Será muito útil entender osmodelos; você notará grandes transformações ao aplicá-los. O ceticismo saudável geralmente é a melhor maneira de captar o valor do que está sendo apresentado – desafie-o, prove que está errado, se puder. Isso gera engajamento, que é a chave para a compreensão. O livro deve colocar em formato linear a dinâmica da gestão do fluxo de trabalho e da produtividade pessoal. Tentei organizá-lo de modo a oferecer aos leitores tanto o contexto geral quanto os resultados imediatos. A Parte 1 descreve um esboço do sistema e explica por que ele é único e conveniente, além de expor as técnicas básicas em sua forma mais fundamental e condensada. A Parte 2 mostra como implementar o sistema: trata-se de um treinamento pessoal, passo a passo, que trabalha a essência do modelo. A Parte 3 avança ainda mais, descrevendo os resultados que você deve esperar quando incorporar o método GTD na vida e no trabalho. Nas três partes, inevitavelmente tive que repetir alguns trechos do conteúdo. O cerne do método GTD é relativamente simples, mas ele pode ser expresso e compreendido mais a fundo por meio dos exercícios que colocaremos em prática aqui. Quero que você entre de cabeça, experimente tudo, até mesmo questione o que eu digo. Quero que descubra por si mesmo que minhas propostas não somente são possíveis como também instantaneamente acessíveis. E quero que saiba que as minhas sugestões são fáceis de ser colocadas em prática, sem a necessidade de novas habilidades. Você já sabe como se concentrar, tomar notas, definir estratégias e resultados, analisar opções e fazer escolhas. Você concluirá que agiu de forma correta ao seguir seu instinto e sua intuição, mas eu lhe ensinarei novas formas de alavancar essas habilidades básicas de modo que atinja novos padrões de produtividade. Quero inspirá-lo a unir tudo isso a um novo comportamento que abrirá a sua mente. De vez em quando, faço referências a histórias de pessoas que aplicaram esse material. Nas últimas três décadas, atuei como consultor de gestão, consultor executivo e coach pessoal – sozinho, em pequenas parcerias e por meio da minha empresa de treinamento. Meu trabalho consiste em sessões particulares de coach, workshops e palestras sobre as técnicas. Eu e meus parceiros já orientamos muitas pessoas individualmente e treinamos milhares de colaboradores em apresentações para empresas ou para o público. Ajudamos pessoas e profissionais em todo o mundo a se comprometer com o método GTD. Foi dessas histórias que extraí meus exemplos. Provavelmente passo pelas mesmas experiências que a maioria das pessoas. Com frequência saio do controle e perco o foco. Preciso me comprometer com as práticas que descrevo aqui, no intuito de me manter atento. Como falo no Capítulo 15, este livro descreve um conjunto de hábitos que deve ser aplicado com afinco e persistência de modo que você alcance a maturidade. Não compartilho nada que não tenha experimentado ou testado e que não pratique de alguma forma. Um cliente meu descreveu muito bem minha proposta para este livro: “Aplicados no dia a dia, os princípios deste programa salvaram a minha vida… Aplicados com fé, eles mudaram a minha vida… É como uma prevenção aos incêndios do cotidiano e um antídoto contra os desequilíbrios da vida.” PARTE 1 A arte de fazer acontecer CAPÍTULO 1 Uma nova prática para uma nova realidade Mesmo que alguém tenha um monte de coisas para fazer, ainda assim pode ser altamente produtivo, ter boas ideias e manter o controle de tudo sem estresse. É um ótimo estilo de vida e de trabalho, com altos níveis de produtividade e eficiência. Também é a melhor maneira de dedicar-se integralmente a tudo o que você está fazendo, comprometendo-se no momento. Isso acontece quando você está no comando da sua atenção. O que você faz é exatamente o que deveria estar fazendo, considerando todos os seus compromissos e interesses. Você está totalmente disponível. Você está “ligado”. Há uma coisa que podemos fazer, e as pessoas mais felizes são aquelas que a fazem no limite de sua capacidade. Podemos estar completamente presentes. Podemos estar sempre aqui. Podemos dedicar toda a atenção às oportunidades que virão. – MARK VAN DOREN Hoje, esse modo de agir é indispensável para profissionais bem-sucedidos, uma necessidade para a saúde de qualquer pessoa que vive ultrapassando os limites e uma plataforma fundamental que permite um envolvimento ideal em nossos empreendimentos mais importantes. Você já sabe do que precisa para ter um bom desempenho nesse sentido. Se for como a maioria das pessoas, entretanto, aplique essas habilidades da maneira mais oportuna, completa e sistemática possível – assim você se manterá no controle de tudo em vez de se sentir soterrado e oprimido. E, embora os métodos e as técnicas sejam extremamente práticos e baseados no senso comum, muitas pessoas deverão mudar alguns hábitos antes de desfrutar dos benefícios do sistema. Essas pequenas mudanças poderiam representar uma alteração significativa em sua maneira de abordar alguns aspectos fundamentais de suas atividades cotidianas. Mas as consequências quase sempre são consideradas transformacionais. O método GTD se baseia em três objetivos: (1) capturar todas as coisas que devem ser feitas ou que sejam úteis para você num sistema lógico e confiável; (2) educar-se para tomar as decisões de todos os seus projetos para que você possa implementar ou renegociar as “próximas ações”; e (3) organizar e coordenar todo esse conteúdo, reconhecendo seus vários níveis de compromissos consigo mesmo e com os outros, a qualquer momento. Este livro oferece um método comprovado para o bom desempenho desse tipo de gestão do fluxo de trabalho. Também fornece boas ferramentas, dicas, técnicas e truques para a sua implementação. Como você descobrirá, as técnicas GTD podem ser usadas e aplicadas a tudo o que você precisa fazer na vida e no trabalho.3 Você pode incorporar os princípios de acordo com o avanço da operação. Ou, como outras pessoas, pode simplesmente adotar essas recomendações como um guia para recuperar o controle, caso seja necessário. O PROBLEMA: NOVAS DEMANDAS, RECURSOS INSUFICIENTES Quase todas as pessoas com quem converso se sentem sobrecarregadas ou não têm tempo suficiente para resolver todos os afazeres. Ao longo de uma única semana, prestei consultoria a dois clientes: o sócio de uma grande empresa de investimentos que receava que as novas atribuições no trabalho pudessem influenciar seus compromissos com a família e uma gerente de recursos humanos que encarava mais de 150 e-mails diários, obcecada com a meta de dobrar a quantidade de funcionários do escritório regional em um ano – tudo isso enquanto mantinha uma vida social nos fins de semana. Um novo paradoxo surgiu neste novo milênio: a qualidade de vida melhorou ao mesmo tempo que os níveis de estresse subiram. As pessoas assumiram mais responsabilidades do que conseguem cumprir. É como se o olho fosse maior que a barriga. O excesso de opções e oportunidades traz consigo a pressão da tomada de decisão. E muitos se sentem frustrados e perdidos sobre como melhorar a situação. Não há mais fronteiras definidas Outra questão importante acerca do aumento do estresse é o fato de a natureza do nosso trabalho ter mudado de forma mais radical e rápida que a velocidade de realização. Na segunda metade do século XX, a “mão de obra” deixou a linha de montagem e se tornou intelectual, o que o falecido Peter Drucker denominou trabalho do “conhecimento”. Antigamente o trabalho não tinha muito mistério. Os campos eram arados; as máquinas, operadas; as caixas, empilhadas; as vacas, ordenhadas; os guindastes, movimentados. Sabia-se o que precisava ser feito – era só ver para aprender. Também era evidente quando o trabalho estava terminado ou não. Se quisessem aumentar a produtividade, a solução era apenas tornar o processo mais eficiente ou simplesmente trabalhar mais duro e durante mais tempo. Quase todos os projetos poderiam ser mais bem- feitos e uma quantidade infinita de informaçõeshoje disponível poderia fazer isso acontecer. Nos dias de hoje, muitos dos nossos projetos não têm limites demarcando início e fim. Quase todas as pessoas que conheço tentam fazer pelo menos meia dúzia de coisas ao mesmo tempo e, ainda que tivessem o resto da vida para tentar, não conseguiriam concluí-las com perfeição. É bem provável que você já tenha enfrentado esse dilema. Como a palestra pode melhorar? Como o programa de treinamento pode ser mais eficiente? Como aperfeiçoar a educação dos seus filhos? Como alavancar os acessos ao seu blog? Como aumentar a motivação da sua equipe? Como ser mais saudável? E, por último, quais informações você precisa ter para que esses projetos sejam bem-feitos? A resposta é: uma quantidade infinita, mas facilmente acessível por meio da internet. Por outro lado, a falta de limites ou fronteiras pode gerar mais trabalho. Muitas empresas hoje exigem comunicação, cooperação e entrosamento entre todos os funcionários, eliminando as divisões entre departamentos. Baias e divisórias estão entrando em desuso e, sem essa separação, agora acaba sendo necessário estar copiado em e-mails de outros setores ou de um comitê para tratar de um assunto específico, por exemplo. Acrescente-se a tudo isso o aumento do contato com amigos e familiares na medida em que as redes sociais diminuem as distâncias entre eles, pois até os mais idosos acessam a internet no computador ou nos smartphones para “ficarem conectados”. As tecnologias de comunicação em constante inovação dificultaram a imposição de limites a compromissos e atividades. A segunda década do século XXI vem testemunhando a preocupação com a questão da conectividade, agravada pela globalização, pelo trabalho virtual e pela internet móvel, além da crescente dependência de aparelhos eletrônicos modernos, como smartphones e tablets. Portanto, não somente o trabalho e suas fronteiras cognitivas estão mais ambíguos e mal definidos como também o tempo e o espaço, além da profusão contínua de dados significativos e acessíveis que podem agregar valor à nossa vida. Nossos empregos (e nossas vidas) continuam mudando A delimitação de limites e fronteiras já seria um grande desafio, mas ainda precisamos acrescentar à equação as constantes mudanças nas nossas atribuições e nos nossos interesses. Durante minhas apresentações, costumo perguntar ao público: “Quem faz somente aquilo para o qual foi contratado? E quantos de vocês não tiveram nenhuma mudança significativa na vida pessoal no ano passado?” Raramente alguém levanta a mão. Por mais indefinido que seja o trabalho, se você pudesse ser designado para uma tarefa bem específica a longo prazo, provavelmente se planejaria o suficiente para preservar a sanidade. E, se conseguisse manter sua vida em ordem – sem mudança de casa, sem problemas de saúde, sem surpresas financeiras, sem desvios na carreira –, talvez fosse capaz de desenvolver um ritmo e um sistema de gerenciamento para alcançar um pouco de estabilidade. Muitos de nós recebemos, nas últimas 72 horas, mais inputs que produzem mudanças, criam projetos e alteram prioridades do que nossos pais recebiam em um mês inteiro, talvez até em um ano. Mas pouca gente pode se dar esse luxo por três motivos: 1. A maioria das organizações parece estar sempre alterando objetivos, sócios, clientes, mercados, tecnologias e proprietários. Tudo isso abala estruturas, formas, funções e atribuições. 2. As pessoas hoje trocam de carreira com tanta frequência quanto seus pais mudaram de emprego na época deles. Até profissionais na casa dos 40 ou 50 anos adotam padrões de crescimento contínuo. Eles visam galgar todos os níveis da empresa – profissional, gerencial e executivo –, ou seja, não continuarão fazendo o que estão fazendo por muito tempo.4 3. A velocidade relativa das mudanças em nossas culturas, estilos de vida e tecnologias estão criando uma grande necessidade de que os indivíduos exerçam mais controle sobre sua situação pessoal. Seja cuidando dos pais idosos, lidando com um filho desempregado, enfrentando um problema de saúde inesperado ou incorporando no negócio uma modificação que seu sócio decidiu promover, tudo parece acontecer com mais frequência e causar consequências mais sérias que antes. Talvez de fato nunca estejamos preparados para o que é novo. Precisamos sempre nos ajustar, e todo ajuste radical gera uma crise de autoestima; se passamos por um teste, precisamos nos provar. É preciso ter muita autoconfiança para enfrentar mudanças drásticas sem medo. – ERIC HOFFER Poucas atribuições parecem claras hoje, como o que fazer no escritório, em casa, no avião, no carro ou no café local – no fim de semana, na segunda-feira de manhã, ao acordar às três da madrugada e durante o tempo livre. E ainda nos perguntamos de que conhecimentos precisamos para realizar bem nossas tarefas. Recebemos grande quantidade de informações e comunicados, gerando volumes igualmente vultosos de ideias e compromissos com os outros ou com nós mesmos. E, na verdade, não estamos preparados para tudo isso. Nada é realmente novo neste mundo tecnologicamente conectado, exceto a própria frequência das inovações. Quando o ritmo das mudanças era muito mais lento, as pessoas primeiro deviam superar o desconforto inevitável do novo, depois entravam no piloto automático e aproveitavam a tranquilidade do voo de cruzeiro. Isso não existe mais nos dias de hoje. Muita coisa está mudando enquanto você lê este livro. E se, neste meio-tempo, você se distraiu ou cedeu à tentação de checar o e-mail, não há dúvida de que está sofrendo da “síndrome de pegar o bonde andando”, ou seja, o medo de se desconectar por um instante mínimo e ficar de fora do que está acontecendo no mundo. Modelos e hábitos antigos não são suficientes Nem a educação tradicional, nem os padrões de gestão de tempo, nem as inúmeras ferramentas de organização digitais e físicas nos oferecem meios viáveis de atender às novas demandas. Se você já tentou usar qualquer um desses processos ou instrumentos, talvez tenha percebido como são incompatíveis com a velocidade, a complexidade e as prioridades inerentes que atingem o que você está fazendo. A capacidade de se manter focado, despreocupado e no controle nesta inventiva mas turbulenta época exige novas maneiras de pensar e de trabalhar. Precisamos de novos métodos, tecnologias e hábitos para dar conta de tudo. A abordagem tradicional acerca de gestão de tempo e organização pessoal foi muito útil para a força de trabalho que saía da linha de montagem industrial e entrava num novo tipo de atividade que permitiria escolher quando executar determinada ação. A partir do momento em que o próprio tempo se tornou um fator importante, os calendários se transformaram numa ferramenta. (Nos anos 1980, muitos profissionais já os consideravam um item fundamental para a organização, e hoje os calendários dos celulares se tornaram os principais meios para manter tudo sob o devido controle.) As listas de prioridades e de afazeres foram técnicas desenvolvidas para ajudar a organizar melhor o tempo. O que você provavelmente já descobriu, pelo menos até certo ponto, é que, embora relevantes, agendas e calendários gerenciam apenas uma pequena parcela do que você precisa saber para dar conta de tudo. E as listas de tarefas, assim como as de prioridades, se revelaram insuficientes no sentido de lidar com o nível de atribuições designadas a uma pessoa. A vida e o trabalho hoje envolvem centenas de e-mails e mensagens por dia, e não há como ignorar uma única solicitação, queixa, pedido ou comunicado, seja da empresa ou da família. Poucas são as pessoas que podem (ou devem) cumprir somente as ações contidas na lista, ou que não são interrompidas por uma nova ordem do chefe ou um novo pedido do cônjuge. Os ventos e as ondas estão sempre do lado dos navegadores mais competentes. – EDWARD GIBBON Perspectiva ampla versus detalhes práticos Uma enorme quantidade de livros de negócios, modelos, seminários e gurus enalteceu o “contexto mais amplo” como a solução paralidar com nosso mundo complexo. De acordo com essa proposta, a definição das metas mais importantes confere ordem, significado e rumo ao nosso trabalho. Entretanto, o bem- intencionado exercício da mentalidade voltada para os valores não costuma alcançar os resultados desejados. Testemunhei o fracasso de muitos desses esforços, por uma ou mais das seguintes razões: 1. O excesso de distrações no dia a dia não permite que mantenhamos o foco adequado. 2. Se seus sistemas de organização pessoal são ineficazes, seu subconsciente se recusará a assumir projetos e objetivos maiores, cujo mau gerenciamento pode gerar ainda mais estresse e distração. 3. Quando níveis e valores mais elevados são elucidados, aumentamos o grau de exigência e percebemos que muito mais precisa ser mudado. Já reagimos de forma negativa à esmagadora quantidade de coisas a fazer. E o que gerou todas aquelas listas de tarefas? Nossos valores! O foco nos resultados e nos valores é, sem dúvida, um exercício de extrema importância. Ele permite que você avalie o que deve parar de fazer, assim como o que merece mais atenção. Mas isso não quer dizer que não haja menos desafios para se engajar no trabalho. Muito pelo contrário: essa quantidade só aumenta. Ao profissional de recursos humanos, por exemplo, cabe a decisão de melhorar a qualidade das condições de trabalho dos funcionários a fim de atrair e manter talentos importantes, o que não torna as coisas mais simples. Na mesma situação se encontra uma mãe que deseja proporcionar boas experiências à filha adolescente antes que ela saia de casa para estudar ou trabalhar. Melhorar a qualidade não diminui a quantidade de coisas importantes que devem ser gerenciadas. Caos não é o problema; a demora em encontrar coerência é o verdadeiro jogo. – DOC CHILDRE E BRUCE CRYER Falta uma peça na nossa cultura de trabalho: um sistema coerente de comportamentos e ferramentas que funcione e incorpore o resultado das ideias, além dos pequenos detalhes em aberto. Esse sistema também deve gerenciar múltiplas camadas de prioridades e controlar centenas de novas informações recebidas todos os dias. E, além de tudo, precisa poupar muito mais tempo e esforço para funcionar. Ou seja, deve tornar mais fácil fazer acontecer. A PROMESSA: A “POSIÇÃO DE PRONTIDÃO” DOS GUERREIROS Reflita por um momento sobre como seria se tudo o que você fizesse estivesse sob controle o tempo todo. E se sua mente estivesse vazia, livre de qualquer preocupação? E se você conseguisse se concentrar em tudo, sem distrações para atrapalhar? Isso é possível. Há um jeito de exercer controle total, manter-se despreocupado e fazer o que for importante com o mínimo de esforço. Você pode experimentar o que guerreiros denominam “mente clara como água” e a que os atletas se referem como “estado de fluxo”. É bem provável que você passe por essa experiência de vez em quando. A vida é negada pela falta de atenção, seja no ato de limpar uma janela ou de escrever uma obra- prima. – NADIA BOULANGER O estado de fluxo é uma forma de trabalhar, de fazer e de ser em que a mente fica completamente desobstruída e as ideias acontecem. É um estado que todos podem atingir, muito importante para lidar com eficácia com a complexidade da vida. Uma mente clara como água logo se tornará um pré-requisito indispensável para qualquer pessoa que queira ter equilíbrio e produtividade no trabalho e na vida. Em Mind over Water, o famoso remador Craig Lambert escreveu: Os remadores têm uma palavra específica para esse estado: balanço… Lembre-se da alegria que o percorre ao se mover para a frente e para trás no balanço do quintal: a facilidade do movimento cíclico, o impulso produzido pelo balanço. O balanço nos leva; não precisamos fazer força. Esticamos e dobramos as pernas para ampliar o arco, mas é a gravidade que trabalha. Mais somos balançados do que nos balançamos. Assim como o barco. O casco quer avançar rapidamente – a velocidade sibila em suas linhas e formas. Nós apenas devemos ajudar o casco, deixar de opor resistência em nossa luta para ir mais rápido. O excesso de esforço sabota a velocidade do barco. A persistência se torna obsessiva e a obsessão é autodestrutiva. Os alpinistas sociais anseiam ser aristocratas, mas seus esforços provam que não são. Os aristocratas não se esforçam, pois já estão lá. O balanço é o estado de chegada. “Mente clara como água” Os caratecas usam uma imagem para definir a “mente clara como água”. Imagine-se atirando uma pedra num lago plácido. Como a água reage? De maneira totalmente apropriada à força e à massa do objeto; em seguida, retorna à calma. Sua habilidade para gerar poder é diretamente proporcional à sua habilidade para se manter calmo. O poder do golpe de caratê decorre da velocidade, não da força; resulta do impacto no fim do movimento. Pessoas franzinas conseguem quebrar tábuas e tijolos com as próprias mãos: não precisam de força bruta, apenas da capacidade de gerar impulso concentrado com velocidade. Mas o músculo tenso é lento. Por isso, o treinamento em artes marciais ensina e exige muito equilíbrio e descanso. Limpar a mente para mantê-la aberta e capaz de reagir é o segredo. Qualquer coisa que o leve a reagir pode controlá-lo, e geralmente o faz. Responder de maneira inadequada a um e-mail, às próprias ideias sobre o que precisa fazer, aos filhos ou ao chefe não produzirá resultados muito eficazes. A maioria das pessoas dá muita ou pouca atenção ao que deve simplesmente porque não tem a mente clara como água. Você consegue ser produtivo quando necessário? Pense na última vez em que se sentiu altamente produtivo. Você provavelmente teve a sensação de exercer o controle, não estava estressado, conseguia se concentrar no que estava fazendo, não olhava a toda hora para o relógio e parecia progredir em ritmo acelerado para alcançar os resultados almejados. Gostaria de repetir essas experiências? Se sua mente está vazia, está pronta para qualquer coisa; ela está aberta a tudo. – SHUNRYU SUZUKI Se você costuma se distrair muito e se sente descontrolado, estressado, desatento, entediado e emperrado, conseguiria se recuperar e voltar a ser produtivo? Essa é a situação sobre a qual o método GTD exercerá maior impacto, demonstrando como retornar à “mente clara como água”, com todos os seus recursos e faculdades. O maior desafio talvez seja a falta de uma referência que indique em que momento as pessoas deixaram de ser produtivas. Muita gente vive tão ansiosa que ignora a possibilidade de mudar para um engajamento mais positivo com o mundo. Espero que este livro inspire você a elevar os próprios padrões, além de ensiná-lo a reduzir a pressão por meio das nossas técnicas. O PRINCÍPIO: LIDANDO COM OS COMPROMISSOS INTERNOS Depois de décadas de orientação e treinamento, descobri que grande parte do estresse decorre da má gestão dos compromissos. Mesmo quem não tem consciência do próprio estresse invariavelmente experimentará mais descanso, melhor foco e aumento da produtividade a partir do momento em que aprende a controlar os “laços abertos” da vida. É provável que você já tenha se comprometido muitas vezes consigo mesmo e perseguido cada uma de suas metas, mesmo inconscientemente. Elas são definidas como “laços abertos” ou “pendentes”, ou seja, qualquer coisa que atrai sua atenção mas de que você não consegue se desligar. Laços abertos vão desde grandes projetos, como acabar com a fome no mundo, passando por questões mais modestas, como contratar um assistente novo, até afazeres mínimos, como substituir a lâmpada da varanda. Qualquer coisa que atrai sua atenção é um “laço aberto”, que gruda na sua mente se não for gerenciado de maneira adequada. Para lidar com isso, é preciso primeiro identificar todas as coisas que, de alguma forma, estão “tocando a campainha” na sua cabeça; depois, determinar o que de fato significam para você; e, então, decidir o que fazer com elas. Pode parecer um processo simples, mas muitas pessoas nem sempre agem assim, talvez por falta de conhecimento ou de motivação,ou de ambos, e principalmente por não terem consciência do preço que pagam por negligenciar essa prática. Exigências básicas para gerenciar compromissos Um gerenciamento de compromissos eficiente exige a implementação de alguns comportamentos e atividades: • Primeiro, se alguma coisa estiver emperrada em sua mente, é porque esta não está clara como água. Caso você tenha alguma pendência, por qualquer motivo, ela deve ser apreendida por um sistema de ações confiável, ou o que chamo de ferramenta de captura, que você usará constantemente. • Segundo, é preciso definir o seu compromisso e decidir o que você deve fazer, se for o caso, para cumpri-lo. • Terceiro, uma vez que resolva quais ações você deve tomar, estabeleça um sistema organizado de lembretes, que deverão ser consultados com regularidade. Use a sua mente para esvaziá-la. Um importante exercício para testar o modelo Anote o projeto ou a situação que mais ocupa sua mente neste momento. O que mais o incomoda, o distrai, lhe interessa ou absorve grande parte de sua atenção? É bem provável que o problema esteja debaixo do seu nariz, algo pelo qual você se sinta pressionado ou um compromisso com que deva lidar. Talvez sejam as resoluções de última hora acerca da sua viagem de férias. Ou você acabou de ler um e-mail sobre uma nova questão urgente no departamento. Ou talvez você tenha recebido uma herança e não saiba o que fazer com o dinheiro. Entendeu o que quero dizer? Ótimo. Agora, escreva numa única frase o resultado que você pretende alcançar para o problema do passo anterior. Em outras palavras, o que precisa acontecer para que você marque esse projeto como “concluído”? Pode ser algo tão simples quanto “Passar as férias no Havaí”, “Trabalhar a questão com tal cliente”, “Resolver a situação da faculdade”, “Definir uma nova estrutura organizacional”, “Implementar uma nova estratégia de investimento” ou “Pesquisar alternativas para ajudar o filho com as dificuldades em matemática”. Tudo certo? Perfeito! Agora anote a próxima ação física necessária para avançar no compromisso. Se você não tivesse mas nada para fazer na vida a não ser resolver essa questão, quais ações tomaria neste exato momento? Ligaria ou enviaria uma mensagem para alguém? Escreveria um e-mail? Pegaria papel e caneta na tentativa de uma solução criativa? Procuraria mais informações na internet? Conversaria pessoalmente com o sócio, o assistente, o advogado, o chefe? O quê? Já sabe a resposta? Muito bem. Esses dois minutos de reflexão valeram alguma coisa para você? Talvez você tenha experimentado pelo menos um pouquinho mais de controle, despreocupação e foco. Também pode estar se sentindo mais motivado para fazer algo com relação ao problema. Imagine que você consiga viver e trabalhar com uma motivação dessas. Pense como um homem de ação, atue como um homem de pensamento. – HENRI BERGSON Se algo de positivo aconteceu com você depois desse rápido exercício, reflita: o que mudou? O que ocorreu para melhorar as condições de sua experiência? Você conseguiu eliminar uma das pendências, mas ela ainda não foi completamente resolvida. Você deve ter definido com mais clareza o resultado almejado e a próxima ação. O que realmente mudou é o fator mais importante para a manutenção do foco e para a paz de espírito: a maneira como você se compromete com as suas ações. Mas o que o levou a isso? Não foi “tornar-se mais organizado” nem “definir prioridades”. A resposta é: pensar. Não muito; apenas o suficiente para reforçar seu compromisso em relação às demandas e aos recursos necessários para realizá-las. As pessoas pensam além da conta e acabam ocupando a mente com preocupações em vez de refletir e tentar buscar soluções. Se você fez o exercício, concentrou seu pensamento em ações e resultados, o que não acontece sem um esforço consciente. A reação é automática, mas a reflexão é deliberada. O ancestral de toda ação é um pensamento. – RALPH WALDO EMERSON A função real do trabalho do conhecimento Bem-vindo à experiência do “trabalho do conhecimento”… e a um profundo princípio operacional: você precisa pensar mais em seus problemas, mas não tanto quanto receia. Como escreveu o teórico da gestão Peter Drucker: “No trabalho do conhecimento, a tarefa não é dada; ela precisa ser determinada. ‘Quais são os resultados esperados?’ é a principal questão quando se trata de aumentar a produtividade dos trabalhadores do conhecimento. E essa pergunta requer decisões arriscadas. Em geral, não há resposta certa, e sim escolhas. E os resultados devem ser bem determinados para que a produtividade seja alcançada.”5 Muitas pessoas têm dificuldade de mudar de atitude e decidir fazer algo a respeito. Na verdade, nunca ninguém nos ensinou que devemos refletir sobre o trabalho antes de começarmos a colocá-lo em prática; nossas atividades são definidas pelo próprio dia a dia: a família esperando para ser alimentada, a roupa a ser lavada ou os filhos a serem colocados na cama. Pensar numa forma de definir resultados desejados e suas ações subsequentes é uma questão que poucas pessoas julgam necessária (até que se sintam obrigadas). Mas, na verdade, é o jeito mais eficaz de converter desejos em realidade. Por que sua mente o persegue Geralmente, alguma coisa gruda na sua cabeça porque você quer que ela mude. E, ainda assim: • Você não determinou exatamente o resultado que almeja; • Você não definiu a ação física seguinte; e/ou • Você não incorporou o sistema de lembretes. Essa preocupação constante e improdutiva com todas as coisas que precisamos fazer é o maior consumidor de nosso tempo e energia. – KERRY GLEESON É por isso que as coisas grudam na sua mente. Enquanto você não determinar quais resultados pretende alcançar, não definir a próxima ação e não armazenar as informações em um sistema que lhe dê garantias de que vá lembrá-las, seu cérebro não abandonará a questão. Você pode enganar qualquer pessoa, mas não a própria mente. Só ela poderá saber se as ações foram concluídas ou não e se você manteve os lembretes em lugares de fácil acesso para que sejam repassados em sua mente consciente.6 Se você não fez nada disso, sua mente não vai parar de funcionar. Mesmo que você saiba qual é o passo seguinte, sua cabeça não lhe dará descanso. A não ser que você incorpore o sistema de lembretes, sua mente continuará a pressioná-lo sobre o passo que não foi dado, apenas aumentando seu estresse. Sua mente não tem mente própria Não se ofenda, mas uma parte da sua mente não é muito inteligente de um jeito interessante. Se inteligência e lógica fossem inatas, ela o lembraria do que você deve fazer apenas quando você tomasse alguma decisão a respeito. Quando exatamente o seu cérebro o avisa de que precisa comprar pilhas novas para o controle remoto? No momento em que você precisa ligar a televisão! Se a inteligência fosse inata, sua mente o lembraria das pilhas assim que você passasse por elas no supermercado. Entre a hora em que você acordou e agora, pensou em alguma coisa que devia ter feito e não fez? Pensou nisso mais de uma vez? Por quê? É perda de tempo e de energia ficar pensando e não botar a mão na massa. Pensar só aumenta sua ansiedade. Governa tua mente ou ela governará a ti. – HORÁCIO A maioria das pessoas deixa que seu processo mental comande o espetáculo, especialmente em relação à síndrome “Tenho muita coisa para fazer”. Você já deve ter ficado tão desesperado com tanta “tralha” na sua cabeça que se sentiu incapaz de resolver os problemas. Pesquisas comprovaram que uma parte significativa da sua psique não consegue deixá-los de lado. E eles, ainda por cima, não funcionam como motivadores positivos e inteligentes, mas como sabotadores, comprometendo sua capacidade de desempenho. A transformação da “tralha” “Tralha” é tudo aquilo que permanece na sua cabeça e cujas ações e resultados você não determinou. Grande parte dos sistemas de organização não funciona porque a tralha ainda não foi transformada. Enquanto ainda for tralha, não haverá como domá-la. Precisamos transformartoda a “tralha” que atraímos e acumulamos num inventário claro de ações significativas, projetos e informações úteis. Na tentativa de preparar uma lista de tarefas, as pessoas acabam relacionando apenas tralhas. São lembretes parciais de um monte de coisas não resolvidas e ainda não convertidas em resultados e ações – ou seja, não contêm os detalhes do que o dono da lista precisa fazer. O que você costuma ver nessas listas? “Mamãe”, “Banco”, Médico”, “Babá”, “Reunião”… Olhar a toda hora para esses itens gera mais estresse que alívio, porque, embora sejam um valioso gatilho no sentido de definir as ações em que você se engajará, sua cabeça não parará de repetir essas pendências. E, se você não tiver energia nem foco para decidir o que fazer, ela simplesmente continuará gritando. As tralhas em si não são ruins. Tudo o que “pipoca” na nossa mente, chamando nossa atenção, em geral aparece como tralha. No entanto, quando permitimos que as tralhas interfiram na vida pessoal e profissional, assumimos um compromisso inerente de determinar seu significado. Nossas ações, na esfera profissional, nos obrigam a refletir, avaliar, decidir e nos engajar, minuto a minuto, em um e-mail ou nas anotações que fizemos na reunião da manhã. O trabalho exige tais decisões. Se não tivesse que pensar nisso tudo, você seria completamente dispensável. E sempre acabamos prejudicados quando permitimos que questões do nosso estilo de vida – casa, família, saúde, finanças, carreira ou relacionamentos – continuem ocupando espaço na nossa cabeça, porque demoramos a decidir acerca das ações e dos resultados que desejamos atingir. Quando estava concluindo um dos meus seminários, a alta executiva de uma empresa de biotecnologia deu uma olhada na lista de tarefas que trouxera consigo e disse: “Cara, isto não é nada objetivo!” Foi a melhor descrição acerca de organização de listas. As pessoas tentam se organizar elaborando listas incompletas de coisas confusas; não percebem quanto precisam organizar para serem recompensadas. Na verdade, devem reunir tudo que exige reflexão e, então, se engajar nas ideias, para que o esforço organizacional seja bem-sucedido. O pensamento é útil quando estimula a ação e é obstáculo quando substitui a ação. – BILL RAEDER O processo: gerenciando ações Você pode se treinar para ser mais rápido, mais compreensivo, mais proativo e mais focado. Você pode ser mais eficiente e gerenciar os resultados com mais facilidade e controle. Você pode subestimar as pendências de sua vida profissional e pessoal e fazer muito mais com menos esforço. E pode tomar decisões acerca de todas as tralhas capturadas e criar um procedimento operacional padrão para viver e trabalhar neste milênio. Antes de tudo, porém, você deve desenvolver o hábito de esvaziar a sua mente. E a maneira de fazer isso, como vimos, não é gerenciando tempo, informações ou prioridades. Afinal: • Você não gerencia cinco minutos para acabar com seis; • Você não gerencia a sobrecarga de informações – senão morreria assim que saísse de casa; • Você não gerencia prioridades – você as enfrenta. A melhor forma de administrar toda a sua tralha é gerenciando suas ações. O começo é metade de todas as ações. – PROVÉRBIO GREGO Gerenciar ações é o desafio principal O que você faz com o seu tempo, com as suas informações, o que você faz com relação às suas prioridades – é nisso que você deve se concentrar. A questão principal é fazer a escolha mais adequada do que realizar a qualquer momento. O verdadeiro trabalho consiste em gerenciar nossas ações. Talvez seja óbvio, mas você se surpreenderá ao descobrir quantas pessoas subestimam o valor das ações. É muito difícil gerenciá-las se você ainda não as definiu. As pessoas precisam fazer um milhão de coisas simultaneamente. Por isso é compreensível que a queixa “Não tenho tempo de ________” (preencha a lacuna) seja bastante repetida por aí, já que muitos projetos não só parecem como de fato o estão oprimindo, uma vez que você só pode se engajar numa ação relacionada ao projeto. Muitas ações exigem apenas um ou dois minutos, no contexto apropriado, para levá-lo adiante. Com o meu trabalho, descobri que a falta de tempo não é o principal problema (embora as pessoas sejam levadas a pensar assim). Na verdade, o que acontece é a falta de definição sobre o que o projeto representa e quais são as ações necessárias. Quando as ações aparecem pela primeira vez no radar, antes de desenvolverem problemas, essas pré-definições permitem que haja a gestão da ação para depois ser possível colher os benefícios. As coisas não emperram por causa da falta de tempo. Elas emperram porque ainda não foi definido o que feito significa nem onde isso acontece. Fazer acontecer envolve dois componentes básicos: (1) definir o que feito significa (resultado desejado) e (2) definir como fazer (ação). E essas definições não são muito evidentes para as pessoas em geral. O valor da abordagem de baixo para cima Com o passar do tempo, descobri como é importante desenvolver a produtividade pessoal de baixo para cima, partindo de atividades e compromissos básicos. Do ponto de vista racional, a abordagem mais adequada deveria ser de cima para baixo, primeiro identificando o propósito e a visão pessoais e organizacionais, depois definindo os objetivos críticos, e, finalmente, concentrando-se nos detalhes da implementação. O problema é que a maioria das pessoas está tão envolvida com compromissos do dia a dia que sua capacidade de se concentrar num contexto mais geral é muito limitada. Consequentemente, esse método costuma ser mais eficaz. Manter-se atualizado e no controle do que há na sua caixa de entrada e na sua mente, além de adotar práticas que o ajudem a continuar assim, lhe oferecerá os melhores meios para ampliar seus horizontes. Uma energia criativa e revigorante será liberada, fortalecendo sua capacidade de concentração e aumentando sua confiança para explorar o resultado dessa criatividade. Uma sensação de liberdade é percebida imediatamente e a inspiração logo impregna as pessoas que arregaçam as mangas e adotam esse método. A visão, sozinha, não é suficiente; ela deve ser combinada à aventura. E não basta olhar para o topo das escadarias – precisamos subir todos os degraus. – VÁCLAV HAVEL Você estará mais equipado para empreender um pensamento altamente focado quando as ferramentas que utilizar para lidar com as ações se tornarem parte de seu estilo operacional. Há assuntos mais importantes a tratar do que a sua caixa de entrada, mas nada disso adiantará se você não conseguir se organizar desde o início. Trabalhei com executivos de dia a fim de eliminar as tralhas que inibiam suas ações. Eles passaram a noite tendo ideias e visões sobre a empresa e o estilo de vida. Essa é uma consequência automática quando você se desprende do seu fluxo de trabalho. Gerenciamento horizontal e vertical da ação Você precisa controlar compromissos, projetos e ações em duas frentes: horizontal e vertical. O controle horizontal mantém a coerência das atividades com que você se envolveu. Imagine sua mente perscrutando tudo ao seu redor, como um radar da polícia. Ela pode se deter em qualquer um dos muitos itens diferentes que atraem ou exigem sua atenção: as compras, o namorado da sua filha, a reunião do conselho, a mensagem de texto que você acabou de receber, a nova estratégia da empresa, o almoço atrasado, a planta que está murchando, um cliente insatisfeito, os sapatos que precisam ser engraxados. Você tem que preparar a apresentação do dia seguinte, depositar o cheque, reservar o hotel, cancelar uma reunião e assistir a um filme hoje à noite. Talvez se surpreenda com o volume de coisas em que pensa e com que lida em apenas um dia. Você precisa de um bom sistema que seja capaz de monitorá-las o máximo possível, além de fornecer as informações necessárias e permitir que mude de foco com rapidez e facilidade. O controle vertical, ao contrário, gerencia as ideias, o desenvolvimento e a coordenação de assuntos e projetos individuais.Seu radar interno, por exemplo, pode “estacionar” sobre suas próximas férias no momento em que você e o cônjuge conversam sobre o assunto durante o jantar. Ou você e seu chefe precisam decidir sobre a iminente mudança de layout do departamento. Ou você deve se atualizar sobre o novo cliente para quem precisa telefonar. Isso se chama “planejamento de projeto”, em seu sentido mais amplo: concentrar-se numa única iniciativa, situação ou pessoa e recheá-la com o que quer que ideias, detalhes, prioridades e sequências de eventos requeiram para levá-las adiante, pelo menos nesse momento. Horizontal ou vertical, o objetivo é o mesmo: esvaziar sua cabeça e executar as ações. O gerenciamento apropriado da ação permite que você se sinta confortável e no controle à medida que percorre o amplo espectro do trabalho e da vida, enquanto um foco adequado mantém suas ideias claras e atualizadas com relação às suas necessidades. A grande mudança: como esvaziar a cabeça Não há como alcançar tal tipo de controle sem estresse se você mantiver tudo aquilo em que precisa se engajar apenas dentro da sua cabeça. Como explico adiante, você já vem adotando os comportamentos descritos neste livro. A grande diferença entre o que faço e o que os outros fazem é que eu consigo capturar e organizar toda a minha tralha com ferramentas objetivas, e não deixo que ela encha a minha cabeça. E isso se aplica a tudo – coisas grandes ou pequenas, pessoais ou profissionais, urgentes ou não. Tudo.7 Normalmente há uma relação inversamente proporcional entre a quantidade de coisas que há na sua mente e a quantidade de coisas que está sendo feita. É bem provável que você, vez por outra, tenha chegado a determinado momento do projeto ou da vida em que simplesmente teve que se sentar e fazer uma lista. Você se sentiu um pouco mais focado e no controle, certo? Se sim, sabe do que estou falando. Nada mudou, mas você se sentiu melhor. Na verdade, o que mudou, e muito, é como você se compromete. Isso sempre acontece quando você tira coisas importantes da cabeça. Porém a maioria das pessoas acaba recorrendo às listas quando a procrastinação fica insustentável e elas precisam agir. Só que elas se limitam a fazer uma lista restrita à área que as perturba mais. Mas, se você já conseguiu adotar esse tipo de externalização e revisão no seu estilo de vida e trabalho e o aplica em todas as suas atividades pessoais e profissionais (não apenas nas mais “urgentes”), está praticando o método “mente clara como água”. Com base na minha experiência, posso afirmar que esse processo sempre melhora nossa perspectiva e nossa experiência. Por que esperar? Não há por que ter o mesmo pensamento duas vezes, a não ser que você goste de pensar nele. Tento fazer escolhas intuitivas em vez de ficar pensando no que as opções significam. Preciso já ter capturado e refletido sobre os resultados de maneira confiável. Não quero perder tempo pensando em tudo mais de uma vez. É um mau uso da energia criativa, além de fonte de frustração e estresse. E você não pode fugir desse pensamento. Sua mente continuará trabalhando em cima de qualquer coisa que ainda não foi definida. Mas foi comprovado que esse tipo de vaivém mental reduz a capacidade de raciocinar e de se engajar. Além disso, sua cabeça tem uma quantidade limite de tralhas para armazenar antes de surtar. Qualquer compromisso “seria, poderia, deveria” que se concentra apenas na psique cria uma pressão irracional e insolúvel, em tempo integral. A área da mente dedicada à memória de curto prazo, que tende a armazenar toda a tralha pendente, indefinida e desorganizada, funciona como a memória RAM dos computadores. A mente consciente, como a tela do computador, é uma ferramenta de foco, não um lugar para armazenamento. Você pode pensar somente em duas ou três coisas ao mesmo tempo. Mas os itens pendentes ainda ocupam espaço de armazenamento na memória de curto prazo. E, assim como na memória RAM, esse espaço também é limitado: só é possível armazenar certo volume de tralhas de modo que a função cerebral se exerça adequadamente. No entanto, a maioria das pessoas acaba forçando muito a barra. Estão sempre distraídas, sem foco e com o desempenho prejudicado pela própria sobrecarga mental. Pesquisas recentes das ciências cognitivas validaram essa conclusão. Os processos mentais são afetados negativamente pelo fardo que a nossa cabeça carrega aguardando que as ações sejam concluídas, sem dispor de um plano ou sistema confiável para lidar com elas.8 Por exemplo, sua mente viajou nos últimos minutos por áreas que nada têm a ver com o que você está lendo aqui? É bem provável que sim. E suas digressões devem ter passado por laços abertos, algumas situações com que você chegou a se comprometer mas não concluiu. Essas pendências escapuliram da sua memória RAM e clamaram pela sua atenção. E o que você fez? A menos que você tenha anotado, com certeza deve ter ficado preocupado ou, pelo menos, reforçado alguma tensão mal resolvida. Não é o comportamento mais eficaz: não houve processo e seu estresse só aumentou. O grande problema é que sua cabeça fica se “lembrando” das pendências, embora você não possa fazer nada a respeito. Então, a partir do momento em que você sinaliza que precisa realizar uma ação e armazena essa informação na mente, uma parte de você passa a acreditar que você deve se ocupar dela o tempo todo. Quando você sinaliza, seu cérebro interpreta que você deveria estar fazendo a ação neste momento. Se você armazenar duas ações na cabeça, a chance de fracasso aumenta, uma vez que não há como se engajar em ambas ao mesmo tempo. Isso acaba causando estresse generalizado. É duro lutar contra um inimigo quando ele tem uma base militar instalada na sua cabeça. – SALLY KEMPTON Muitas pessoas enfrentam alguma versão desse processo durante tanto tempo que nem mesmo compreendem o que estão sofrendo. Como a gravidade, essa ansiedade está sempre presente – e quem a experimenta nem tem consciência dessa pressão. Só vai perceber quando finalmente se livra dela e o peso sai de seus ombros. É como um zumbido que você não tinha notado até ele parar. Você consegue se livrar desse estresse e dessa ansiedade? Aposte nisso. O livro explicará a você como chegar lá. CAPÍTULO 2 A arte de controlar a própria vida: os cinco passos para dominar o fluxo de trabalho Para dominar a arte do engajamento sem estresse, é preciso colocar em prática cinco passos para gerenciar o fluxo de trabalho. Não importa o contexto, passamos por cinco estágios à medida que lidamos com a vida, o trabalho e as constantes mudanças. Manter tudo sob controle, na cozinha ou na empresa, levará a incorporá-los. Cada um deles possui as melhores práticas e ferramentas, que devem ser trabalhadas em conjunto a fim de desenvolver a produtividade. Não se trata apenas de “ser organizado” ou de “definir prioridades”. Embora positivas, ambas as ações resultam dos cinco passos – não são simplesmente delimitadas. Aplicar o método GTD para produzir resultados é ao mesmo tempo mais fácil e mais desafiador do que você imagina. Não deixe que a vida fique no seu caminho. Nós (1) capturamos para esvaziar a mente; (2) esclarecemos o que fazer com cada item; (3) organizamos os resultados, que devem apresentar as opções sobre as quais (4) refletimos e então escolhemos aquelas em que nos (5) engajamos. Os cinco passos constituem o gerenciamento horizontal, integrando tudo o que precisamos considerar enquanto avançamos a cada momento. Essas etapas não são arbitrárias nem puramente teóricas – todos nós passamos por elas sempre que queremos controlar e estabilizar um projeto por meio de uma ação produtiva. Se você planeja preparar um jantar para os amigos, mas, ao chegar em casa, a cozinha está uma bagunça, como você dá conta? Primeiro, identifica o que deve ser feito (capturar); em seguida, determina o que deve guardar e o que deve descartar (esclarecer); depois, você devolve tudo ao seu devido lugar – líquidos na geladeira, restos no lixo, louça suja na pia (organizar);então você dá uma olhada no livro de receitas e verifica de que ingredientes e utensílios precisa (refletir); por fim, você começa a cozinhar (engajar). Uma boa definição de liberdade é obtida apenas ao buscar o princípio da liberdade no principal negócio da vida humana, ou seja, no processo em que as pessoas moldam suas respostas e aprendem a controlar seu ambiente. – WALTER LIPPMANN De início, as técnicas são bastante objetivas – é assim que costumamos trabalhar –, mas as pessoas podem desenvolver a melhor forma de lidar com cada um dos cinco passos. Nosso método de gestão do fluxo de trabalho integra e reforça todos os elos da cadeia de maneira consistente. Muitas pessoas não obtiveram muito sucesso, nem na vida, nem no trabalho, porque o estresse, hoje tão comum, acaba minando os pontos mais fracos. O acesso à informação e a velocidade de mudança resultam no aumento contínuo da complexidade das diversas áreas da vida. Como seria bom se todos os nossos problemas se resumissem a uma cozinha bagunçada! Pequenos vazamentos, sob grande pressão, podem se transformar numa enxurrada. Um e-mail perdido, um compromisso esquecido ou uma decisão adiada podem produzir consequências devastadoras. Como o volume de conteúdo não diminui nem a caixa de entrada se esvazia, ignorar a arte do domínio do fluxo de trabalho é uma decisão que só você pode tomar. Muita gente comete falhas na fase de (1) captura. Tudo aquilo que você poderia e deveria fazer durante um bom tempo ocupa bastante espaço na sua mente. Quase todo mundo captura, mas não (2) esclarece as ações com eficácia: não define exatamente o que representam nem decide o que fazer. Listas aleatórias espalhadas pelos cantos, notas de reuniões, lembretes em post-its colados na geladeira e na tela do computador, ou mesmo calendários com alarme no celular, tudo se dispersa ou se esconde dentro da sua cabeça, transformando-se cada vez mais em fonte de estresse. O problema é que essas listas quase sempre geram mais ansiedade que alívio. Outros dão um bom jeito na tralha que foi esclarecida, mas perdem seu valor porque não (3) organizam os resultados com eficiência. Se você decide conversar com o chefe, o lembrete dessa decisão se perde nos cantos obscuros da mente, inacessíveis no contexto adequado. Embora algumas listas constituam bons sistemas, se elas não (4) refletem sobre o conteúdo de maneira satisfatória, não podem mantê-lo funcional. Talvez você faça uso de calendários, planos e checklists, gerados nas fases de captura, esclarecimento e organização, mas não os mantenha atualizados nem os acesse em benefício próprio. Muita gente não tem o costume de consultar o próprio calendário para atualizar-se acerca de eventos e prazos, por isso acaba deixando tudo para a última hora. Faça a si mesmo a seguinte pergunta: “Quando preciso ver o quê, de que forma, para tirar isso da mente?” Você deve construir um sistema para funcionar, não apenas para ter um. Finalmente, se alguma das etapas anteriores não der certo, (5) engajar-se a qualquer momento pode não ser a melhor opção. Muitas decisões acerca de ação e foco são impulsionadas pelos inputs mais recentes e intensos e baseadas em esperança em vez de confiança. Algumas pessoas têm a constante e incômoda sensação de que não estão trabalhando no que deveriam, de que “não têm tempo” para determinadas atividades e de que lhes falta uma realização duradoura – a essência da produtividade sem estresse. É preciso compreender a dinâmica desses cinco passos e adotar práticas e ferramentas para que o método tenha ótimo desempenho. É muito útil separar esses estágios ao longo do dia. Às vezes quero apenas reunir inputs, sem ainda decidir o que fazer com eles. Outras vezes, prefiro esclarecer as anotações de uma reunião. Ou organizar o que capturei e esclareci na longa viagem que acabei de fazer. Em alguns momentos tenho que rever todo o backlog (inventário) do meu trabalho, ou parte dele. E, obviamente, gasto a maior parte do tempo fazendo algo que preciso que fique pronto. Uma das principais razões pelas quais muitos não conseguem se organizar é porque tentaram executar todas as fases ao mesmo tempo. As pessoas, quando se sentam para preparar uma lista, também tentam capturar “as informações mais importantes” de algum jeito que reflita prioridades e sequências, sem definir em quantas (ou quais) ações reais se engajarão. Mas se você não souber o que será feito no aniversário do seu assistente, porque “não é importante” nesse momento, esse laço aberto absorverá a sua energia e o impedirá de manter foco nítido e eficaz no que de fato é importante. Este capítulo explica detalhadamente os cinco passos. Os Capítulos 4 a 8 fornecem um programa para implementar um sistema para cada fase, com as melhores práticas e muitos exemplos. CAPTURAR É importante saber o que precisa ser capturado e como cumprir esta etapa de forma eficaz, para esclarecê-lo adequadamente. Para que você se liberte das ações que ocupam espaço em sua mente, certifique-se de que tenha de fato capturado tudo o que deve ser feito ou decidido e sobre o qual deve ser refletido. Juntando todas as “pendências” Para tapar os buracos, você precisa capturar e reunir representações daquilo que considerar pendente – ou seja, tudo que for pessoal ou profissional, grande ou pequeno, urgente ou secundário, que você ache que deva mudar de alguma forma. Muito do que você precisa fazer está sendo capturado enquanto você lê este livro. As mensagens chegam a todas as suas caixas de entrada – físicas e virtuais. Talvez você receba pacotes e cartas em casa. Tralhas físicas se acumulam na sua mesa de trabalho, além de e-mails e correios de voz nos celulares. Ao mesmo tempo, porém, você vem capturando informações e guardando-as na memória e, embora talvez não fiquem tão à vista quanto os e-mails, essas tralhas ainda exigem algum tipo de resolução – um laço aberto que deve ser fechado. São as ideias de estratégia esquecidas num caderno, os aparelhos antigos que devem ir para o conserto ou ser descartados e as revistas desatualizadas na mesa do café – tudo isso se enquadra no que entendemos por “tralhas”. Quando você indica que determinada ação está pendente, ela se torna incompleta, assim como as decisões cujas ações você ainda deve planejar, por exemplo. E nessa lista também podem ser incluídos todos os itens pendentes e em andamento, além daqueles que apenas faltam ser concluídos. Uma tarefa deixada por fazer fica pendente em dois lugares: no local em questão e dentro da sua cabeça. As tarefas incompletas, na sua cabeça, consomem a energia da sua atenção à medida que corroem a sua consciência. – BRAHMA KUMARIS Para administrar tantos laços abertos, você precisa capturá-los em “repositórios” que contenham itens pendentes, até que você determine o que fazer com eles. Então você deve esvaziá-los para que esses repositórios continuem atuando como ferramentas de captura eficazes. Basicamente, tudo o que for significativo para você já está sendo capturado. Se você não criou um sistema de gerenciamento adequado, a pendência deve estar escondida em algum canto da sua mente. O fato de você não tê-la colocado na caixa de entrada não significa que ela não tenha sido capturada. Mas aqui vamos nos ater à captura de tudo aquilo que você precisa fazer em algum lugar que não a sua cabeça. Ferramentas de captura Existem vários tipos de ferramentas, tecnológicas ou não, que podem ser usadas para capturar as pendências. As ferramentas a seguir podem servir como versões de caixa de entrada, capturando inputs que você mesmo gera e informações externas: • Caixa de entrada física (escaninho) • Papel • Dispositivos eletrônicos • E-mails e mensagens de texto Caixa de entrada física (escaninho) O recipiente feito de plástico, madeira, couro ou arame é há anos a ferramenta mais comum para capturar materiais que demandam algum tipo de esclarecimento: cartas, revistas, atas de reuniões, relatórios corporativos, tíquetes, recibos, pen-drives, cartões de visita – e até lanternassem pilhas! Blocos de anotações e cadernos Folhas soltas e cadernos, blocos para anotações e papéis de todas as formas e dimensões podem capturar ideias aleatórias, inputs, tarefas, etc. Use qualquer coisa que se encaixe nas suas necessidades. Aparelhos eletrônicos Computadores, tablets, smartphones e todos os tipos de engenhocas podem ser usados para capturar notas para esclarecer posteriormente, preservando registros provisórios do que deve ser lembrado para você tratar no futuro. E-mails e mensagens de texto Se você se conecta ao resto do mundo por e-mails e mensagens de texto, o software da sua mente contém algum tipo de caixa de entrada onde eles ficam retidos até serem lidos e esclarecidos. Influência da tecnologia A evolução do mundo digital tornou possível a integração automática desses vários canais. Anotações escritas podem ser armazenadas de imediato. Mensagens de voz e gravações podem ser digitalizadas e impressas. Além desses recursos, você pode enviar uma ideia do seu smartphone para seu e-mail. Quer sejam tecnológicas ou não, todas essas ferramentas e funções atuam como caixas de entrada, capturando informações, compromissos, ideias e acordos que talvez sejam úteis na fase da ação. Como capturar com sucesso Infelizmente, ter apenas uma caixa de entrada não a torna exatamente funcional. A maioria das pessoas possui algum tipo de dispositivo de captura, mas, em geral, eles são subutilizados. Vamos examinar as três exigências que tornam eficaz a fase de captura: 1. Todos os laços abertos devem ser capturados; 2. Você deve ter como capturá-los (escolha um tipo de caixa de entrada); 3. Você deve esvaziar regularmente suas caixas de entrada; Tire tudo da cabeça Se você ainda guarda muitas coisas na cabeça, talvez não tenha motivação para esclarecer e esvaziar sua caixa de entrada. As pessoas costumam ser um tanto negligentes com relação a essas ferramentas, pois sabem que não representam sistemas integrados; a caixa de entrada reúne algumas pendências, e a mente, outras, e nenhuma das duas oferece recompensas satisfatórias. É como jogar tênis ou pingue-pongue com raquetes furadas – não há condições para manter a motivação dos jogadores assim. Tome um purgante para o cérebro. Fará mais efeito do que para o estômago. – MICHEL EYQUEM DE MONTAIGNE Essas ferramentas de captura devem fazer parte do seu estilo de vida. Mantenha-as sempre à mão a fim de que você possa capturar qualquer pensamento valioso – imagine que elas são tão indispensáveis quanto sua escova de dentes, sua carteira de motorista ou seus óculos. A confiança de que nada útil será perdido lhe dará um ótimo estímulo para criar novas ideias. Mantenha tudo dentro da cabeça ou fora da cabeça. Se as coisas ficarem no meio, você não poderá confiar nelas. Diminua o número de locais de captura Você precisa de tantas caixas de entrada quantas forem necessárias, mas poucas serão funcionais. Elas devem estar sempre disponíveis, já que suas capturas podem acontecer a qualquer momento e em qualquer lugar. No entanto, se houver muitas zonas de captura, você não será capaz de esclarecê-las com facilidade e consistência. Inúmeras caixas de entrada podem surgir, seja o dispositivo utilizado tecnológico ou não. Há aqui uma ótima oportunidade de desenvolvimento para as pessoas digitalmente excluídas, principalmente no sentido de fazer anotações e criar caixas de entrada físicas. As notas escritas devem ser reunidas e esclarecidas em vez de esquecidas no meio de livros, cadernos e gavetas. Papéis e outros materiais devem ser compartimentalizados em caixas de entrada físicas em vez de se perderem por aí. Já para os que gostam de tecnologia, os recursos da caixa de entrada proliferaram aceleradamente, com o surgimento de mídias sociais, dispositivos multiconectados e acesso a e-mails sempre disponível. As pessoas do mundo de hoje costumam ter mais de uma conta, usar pelo menos uma rede social e operar diversos aparelhos ao mesmo tempo. Paradoxalmente, a tendência a acumular várias caixas de entrada aleatórias e a quantidade de pessoas que enfrentam esse problema aumentaram de forma drástica à medida que a revolução digital “dinamizou” a nossa vida. Direcione para você todos os inputs potencialmente significativos através de poucos canais, de modo que tenha acesso fácil, reflita sobre eles e avalie sua natureza. A implementação de ferramentas e procedimentos padrão para capturar ideias e inputs se tornará cada vez mais importante à medida que sua vida e seu trabalho ficam mais sofisticados. Ao avançar na carreira, por exemplo, talvez você perceba que suas melhores ideias não ocorrerão no trabalho. A habilidade de refletir sobre isso, além da ajuda de dispositivos eletrônicos de fácil acesso, é fundamental para dar conta de tudo. Esvazie a caixa de entrada regularmente O último fator de sucesso na captura é óbvio: se você não descartar a tralha capturada, as ferramentas serão inúteis. Esvaziar o recipiente não significa esclarecer e concluir, mas sim definir a natureza do conteúdo e o que deve ser feito; e, se ainda houver pendências, organize-as no sistema. Não esvaziar sua caixa de entrada tem o mesmo efeito que latas de lixo e caixas de correio apinhadas: o conteúdo nunca será acessado ou descartado e você recorrerá a outros recipientes a fim de acumular cada vez mais tralha. Para esvaziá-la, porém, é necessário um sistema de gestão integrado. Muita tralha fica acumulada nas caixas de entrada (físicas e digitais) por falta de um sistema específico. Às vezes pode parecer mais fácil deixar as pendências na “entrada”, quando você sabe que deve fazer algo em relação a elas, mas não imediatamente. A caixa de entrada costuma ser a melhor forma de organização que muitos conseguem manter – pelo menos sabem que há um lembrete em algum lugar. Infelizmente, essa rede de segurança se rompe quando o volume de tralha foge do controle ou quando a relação de e-mails fica grande demais para ser visualizada na tela. Bloquear o fluxo de qualquer coisa prejudica a habilidade de estar presente, bem-disposto e criativo nessa área. Quando você domina os dois passos seguintes e aprende a organizar seus inputs e pendências com rapidez e facilidade, a caixa de entrada volta a exercer a função original. Vamos ver como esvaziar caixas de entrada sem ter que necessariamente se engajar no trabalho. ESCLARECER Ensinar a esvaziar os recipientes de captura talvez tenha sido minha contribuição mais importante no método. Quando a chefe do principal departamento de uma empresa global terminou de definir quais eram todas as suas pendências, ela se recostou, espantada, e revelou que, embora conseguisse relaxar em relação aos compromissos, por confiar no calendário, nunca se sentira tão aliviada quanto a outros aspectos que tínhamos acabado de definir juntos. As ações e informações de que precisava ser lembrada agora se concentravam num sistema eficaz. É melhor estar errado do que ser impreciso. – FREEMAN DYSON O que você deve se perguntar (e responder) sobre cada e-mail, mensagem de texto, correio de voz, memorando e ideia que surge do nada na sua cabeça? Esse é o componente do gerenciamento de inputs que constitui a base da sua organização pessoal. Muitas pessoas tentam ser organizadas, mas cometem o erro de deixar que tralhas e mais tralhas se acumulem. Não há como organizar o que está entrando – é possível apenas capturá-lo e esclarecê-lo. O que você deve organizar, na verdade, são as ações baseadas nas decisões que você tomou acerca daquilo em que precisa se engajar. Tudo isso – capturar e organizar – está representado no “tronco” central do modelo de “árvore de decisão” aqui apresentado. O que é? Essa não é uma pergunta boba. Já falamos sobre tralha. Também falamos sobre os recipientes de captura. Mas não conversamos sobre o que é tralha nem o que fazer com ela. Por exemplo, grande parte das coisas que tendem a vazar dos nossos sistemas de organização pessoal são inúteis – precisamos mesmo dar um destino a elas? E quanto àquele e-mail dos recursoshumanos que comunicava algo de que você nem se lembra mais? Vasculhei gavetas e desencavei um monte de documentos que lá foram jogados porque o cliente não quis se dar ao trabalho de descobrir se aquilo era importante ou não. É por isso que a próxima decisão é fundamental. Demanda ação? Há duas respostas possíveis: sim e não. Nenhuma ação é necessária. Se a resposta for não, há três possibilidades: 1. Não será mais necessário (lixo); 2. Nenhuma ação é necessária agora, mas talvez alguma seja útil no futuro (incubação); 3. A informação é muito útil e com certeza será necessária adiante (referência); Essas três categorias podem ser gerenciadas, mas trataremos disso mais tarde. Por enquanto, basta dizer que você precisa de uma lixeira e da tecla Delete, um arquivo de referência rápida (sistema tickler) ou um calendário. DIAGRAMA DO FLUXO DE TRABALHO – ESCLARECIMENTO Demanda ação. Esse é o grupo do sim: as tralhas nas quais você precisa se engajar. Os exemplos típicos abrangem tanto um pedido por e-mail quanto os lembretes de uma reunião pendente a respeito de um projeto importante. Duas coisas devem ser definidas sobre os itens que demandam ação: 1. Com que projeto ou resultado você se comprometeu? 2. Qual é a próxima ação? Se for sobre um projeto… A pendência deve ficar concentrada numa Lista de Projetos. Essa lista o lembrará constantemente que você tem um laço aberto que precisa ser resolvido. A Revisão Semanal o lembrará de que o item ainda continua pendente. E ele permanecerá ali, em seu sistema de gerenciamento, até que seja engajado ou eliminado. Não é preciso muita força para fazer coisas, mas é necessária uma grande dose de força para decidir o que fazer. – ELBERT HUBBARD Qual é a próxima ação? Essa é a pergunta mais importante que você deve fazer acerca do que capturou. Dependendo da resposta, você terá em mãos o principal recurso para começar a se organizar. A próxima ação é a próxima atividade física e visível que leva algo à sua conclusão. As próximas ações podem ser, por exemplo: • Ligar para Fred e pedir o nome e o telefone da oficina que ele mencionou. • Esboçar ideias para a reunião de orçamento. • Conversar com Ângela sobre o sistema de arquivo que precisamos implementar. • Pesquisar na internet sobre cursos de pintura. Todas essas são atividades que devem ser engajadas. Os lembretes são a matéria-prima de seu sistema de gerenciamento da produtividade pessoal. Faça, delegue ou adie. Quando você decidir sobre a próxima ação, terá três alternativas: 1. Faça. Se a ação levar menos de dois minutos, ela deve ser feita no momento em que for definida. 2. Delegue. Se a ação demorar mais que dois minutos, pergunte-se: “Eu sou a pessoa certa para fazer isso?” Se a resposta for não, delegue. 3. Adie. Se a ação demorar mais de dois minutos e você for a pessoa certa para se engajar nela, adie-a e a acompanhe em uma ou mais listas de “Próximas Ações”. ORGANIZAR A borda mais externa do Diagrama do Fluxo de Trabalho mostra os oito componentes que resultam do esclarecimento das tralhas. Juntos, eles compõem um sistema para organizar quase tudo o que tiver sido ou ainda possa ser capturado. Ser organizado quer dizer simplesmente que o lugar onde alguma coisa se encontra é compatível com o que ela significa para você. Para os itens que não demandam ação, os componentes são Lixo, Algum dia/Talvez e Referência. Se nenhuma ação é necessária, você descarta, arquiva para rápida referência posterior ou guarda de modo que consiga encontrar o material em futuras consultas. Para lidar com os itens que demandam ação, você vai precisar de uma lista de projetos, uma lista de planos de projetos, uma lista de espera, um calendário e uma lista de próximas ações. Todos os componentes organizacionais devem ser guardados fisicamente. Essas “listas” na verdade são lembretes que podem ser acessados a qualquer momento, como as listas que você faz no bloco de anotações, em algum aplicativo específico ou em pastas com compartimentos etiquetados. Os lembretes inseridos na categoria Algum dia/Talvez podem ser armazenados num arquivo de referência rápida ou num calendário digital. DIAGRAMA DO FLUXO DE TRABALHO – ORGANIZAÇÃO Projetos Defino um projeto como qualquer resultado alcançado em um ano e que exige mais de uma ação. Isso significa que tanto pequenas tarefas que normalmente você não chamaria de projetos quanto grandes planos para o futuro entram na lista. Meu raciocínio é que, se apenas uma ação não for suficiente para atingir o objetivo, será necessário estabelecer um tipo de marco para lembrá-lo de que ainda há algo a ser feito. Se não tiver marcadores, a pendência ficará perdida na sua cabeça. O prazo é de um ano porque qualquer coisa que você se comprometa a terminar nesse período deve ser revisada semanalmente para que seja de fato concluída. Outra alternativa é fazer uma lista de laços abertos, quer sejam fáceis ou difíceis. Lista parcial de projetos Contratar novos profissionais para a equipe Tirar cópias do artigo da HBR Tirar férias em agosto Contratar um publicitário Programar evento com a equipe, fora da empresa Cuidar do jardim Publicar livro Pesquisar recursos para projeto de vídeo Atualizar o computador Programar as conferências do ano que vem Atualizar testamento Finalizar acordos de trabalho Completar orçamento Instalar nova iluminação da varanda Completar oferta de novos produtos Comprar nova mesa para a cozinha Aprender novo software CRM Matricular Maria na escola A princípio, não é necessário listar os projetos em ordem, por tamanho ou por prioridade. Eles só precisam ser revisados com regularidade a fim de que sejam definidas as ações mais adequadas para cada um. Na verdade, você não se engaja num projeto; você apenas se engaja nas ações relacionadas ao projeto. A partir do momento em que coloca algumas ações em prática, você já terá avançado bastante em direção ao resultado, tanto que poderá considerar o objetivo como feito. A lista de projetos é a compilação dos nossos objetivos para manter nossas ações ao alcance. Talvez haja uma explicação para classificar seus projetos em diferentes subcategorias, conforme as diversas áreas de foco. No entanto, criar, de início, apenas uma única lista geral pode ajudar na personalização do seu sistema à medida que você se familiariza com ele. Material de apoio Em muitos projetos, você acumulará informações relevantes que talvez sejam organizadas por tema, tópico ou nome. É como se sua Lista de Projetos fosse um índice. Todos os detalhes, planos e informações extras de que você possa precisar à medida que avança nos projetos devem ser separados, guardados em pastas ou anotados em planilhas no computador. Materiais de apoio e arquivos de referência. Uma vez que você tenha organizado seu material de apoio por tema ou tópico, talvez perceba que o resultado é quase idêntico ao seu material de referência e que poderia ser mantido no mesmo sistema de arquivo de referência (um documento sobre casamento poderia ficar no arquivo de referências gerais, por exemplo). A única diferença é que, no caso de projetos ativos, você deve refletir de forma mais consistente sobre o material de apoio, garantindo que todas as ações subsequentes foram determinadas. Eu costumo recomendar que as pessoas armazenem o material de apoio num local fora de vista. Se você tiver um bom sistema de arquivo de referência que possa ser acessado a qualquer momento, talvez essa seja a maneira mais simples de organizá-lo. Às vezes, porém, será mais conveniente ter tudo disponível e à vista, ainda mais se for um projeto importante cujas referências você precisará verificar a toda hora. Pastas de arquivo suspensas ou bandejas empilháveis, facilmente acessíveis, são soluções práticas para esse tipo de papelada pendente. Paradoxalmente, o mundo digital tornou a organização de materiais de referência e de apoio ao mesmo tempo mais simples e mais complexa. É rápido e fácil pegar alguma coisa de algum lugar e enviar a cópia para outro, mas decidir paraonde enviá-la pode ser difícil, por conta da imensa quantidade de alternativas disponíveis e das inúmeras formas de disponibilizar a informação. O melhor é manter seus arquivos digitais de referência e de apoio o mais simples possível, além de refletir sobre eles com rigor. As próximas ações Como pode ser observado no Diagrama do Fluxo de Trabalho, a decisão acerca da próxima ação é fundamental. Isso deve acontecer, sem exceção, logo depois da identificação dos laços abertos. Qualquer ação que exija menos de dois minutos e todas as outras ações que já foram concluídas não precisam, evidentemente, de reflexão. O que de fato precisa ser monitorado são as ações que têm dia e hora específicos para ocorrer (inclua no Calendário), as que devem ser engajadas o mais cedo possível (inclua na Lista de Próximas Ações) e as que dependem de outros para serem feitas (inclua na lista Aguardando Resposta). Calendário Os lembretes de ações que devem ser engajadas se enquadram em duas categorias: coisas que têm dia e hora para acontecer e coisas que devem ser feitas o mais rápido possível. Seu calendário deve utilizar apenas o primeiro tipo de lembrete. São três os itens que devem ser incluídos: • Ações de hora específica • Ações de dia específico • Informações de dia específico Ações de hora específica. Esse é um nome pomposo para “compromissos”. A próxima ação na qual você deve se engajar é ir a uma reunião marcada para discutir o projeto em questão. Basta monitorá-la no calendário. Ações de dia específico. São as ações que devem ser feitas em algum momento de determinado dia, mas não necessariamente com hora marcada. Talvez você tenha dito a Miyoko que ligaria para ela na sexta-feira para falar sobre o relatório que lhe enviará na quinta. Miyoko viajará no sábado. Portanto, sexta-feira é a janela temporal para praticar a ação – mas sem horário predefinido. Basta que seja feita nesse dia. Anote no seu calendário as ações de dia específico e de hora específica. Informações de dia específico. Com o calendário, você também pode monitorar atividades de dias específicos – não apenas ações a serem engajadas, mas informações que talvez sejam úteis em determinada data. Aí talvez se incluam orientações ou recomendações referentes a compromissos, atividades de que participarão outras pessoas (família ou equipe) ou eventos de interesse. Devem-se incluir aqui também as pendências de curto prazo, como o lembrete de telefonar para uma pessoa depois que ela voltar de férias. Também faça aqui anotações importantes sobre quando algo deve ser feito ou se já foi iniciado, considerando o prazo. Abençoados são os que se vergam, pois não se quebrarão. – DR. MICHAEL MCGRIFFY Não adicionar outras listas ao calendário. Somente esses três itens devem ser incluídos. Nada mais! Pode parecer uma heresia se você pensar nos antigos programas de gestão do tempo, que quase sempre ensinavam a fazer listas de tarefas diárias. O problema é que, quando você combina esse tipo de lista com a ação do calendário, ela não funciona. E existem duas razões para isso. Primeiro, novos inputs e mudanças nas prioridades táticas reconfiguram o trabalho diário com tanta frequência que é quase impossível determinar as ações com antecedência. É sempre útil ter um planejamento como ponto de referência, mas ele deve ser reajustado a todo momento. Tentar manter a lista no calendário, sujeita a ser transferida para outro dia, caso alguns itens não sejam concluídos, pode ser perda de tempo e fator de desmotivação. Já a Lista de Próximas Ações abrangerá todos os lembretes, mesmo aqueles que dependem de dia e hora. E não precisará ser reescrita. Segundo, se há alguma coisa na lista diária que não precise ser feita impreterivelmente naquele dia, a aparente flexibilidade ignorará a importância do que for de fato inadiável. Se sexta- feira é o único dia em que Miyoko estará disponível para conversar sobre o relatório, então, ao incluir outros cinco telefonemas menos relevantes e mais flexíveis, talvez eu não consiga telefonar para Miyoko. Eu teria que sobrecarregar meu cérebro com o lembrete de que esse é o único telefonema inadiável. Dessa forma, o sistema não está sendo utilizado de maneira adequada. De acordo com a minha proposta, o calendário deve ser sagrado. Ao incluir uma ação no calendário, ela deve ser feita naquele dia ou naquela hora – ou não ser feita. Suas únicas alterações devem decorrer de mudanças nos compromissos. Dito isso, não há nada de errado em criar uma lista pequena, rápida e informal do tipo “Se tiver tempo, eu gostaria de…”, extraída do backlog de Próximas Ações. Ela só não pode ser confundida com suas ações inadiáveis e obrigatórias, além de ser tratada com flexibilidade suficiente para ser descartada ou modificada à medida que as atividades diárias vão sendo alteradas. A Lista de Próximas Ações Então para onde vão seus lembretes de ações? Para a Lista de Próximas Ações, que, junto do Calendário, é o cerne da organização e da orientação estabelecidas pelo gerenciamento das ações diárias. Qualquer ação que não possa ser delegada e que demore mais de dois minutos para ser feita precisa ser monitorada. “Marcar reunião de orçamento com Jim Smith”, “Enviar notícias da família aos amigos” e “Esboçar ideias sobre a convenção de vendas anual” são alguns tipos de lembretes de ações que devem entrar em listas adequadas, identificadas como opções do que faremos a qualquer momento. No caso de haver apenas 20 ou 30 ações desse tipo na sua lista, ela pode ser rotulada como Lista de Próximas Ações, sobre a qual você refletirá sempre que tiver algum tempo livre. É bem provável, entretanto, que a maioria das pessoas tenham entre 50 e 150. Assim, faz sentido dividir a lista em seções, como “Telefonemas” ou “Computador”. Tudo deveria se tornar o mais simples possível, mas não simplificado. – ALBERT EINSTEIN Itens que não demandam ação Você precisa de sistemas bem organizados para lidar tanto com as coisas que não exigem ação quanto com as que exigem. As primeiras se enquadram em três categorias: lixo, incubação e referência. Lixo Esse sistema é autoexplicativo. Descarte, rasgue ou recicle qualquer coisa que não tenha potencial para se tornar uma ação no futuro ou um valor de referência. Se você deixar que essa tralha se misture com outras categorias, ela comprometerá o sistema e prejudicará a clareza do contexto. Incubação Além do Lixo, há outros dois grupos de coisas que não exigem ação imediata. Aqui, outra vez, é importante que os itens que não demandam ação sejam separados dos que demandam, senão você ficará aterrorizado com a enorme quantidade de pilhas e listas que se acumularão, sem saber por onde começar e o que deve ser feito. Imagine que você tenha lido algo que lhe deu uma ideia sobre um projeto, mas você não quer realizá-lo agora. Você deseja ser lembrado disso mais tarde para que avalie a possibilidade de colocá-lo em prática. Ou, então, digamos que você fica sabendo que aquela peça de teatro a que tanto quer assistir vai ter outra temporada. O problema é que isso só vai acontecer daqui a quatro meses e você não sabe se estará viajando de férias nessa época. Mas, se estiver na cidade, gostaria de ir. O que você deveria fazer nesse caso? Há duas ferramentas de incubação que podem funcionar: Algum dia/Talvez e o Arquivo de Referência Rápida (sistema tickler). Algum dia/Talvez. Pode ser útil e inspirador fazer uma lista de projetos com que você se compromete a refletir mais tarde. É como um “estacionamento” de ideias impossíveis de serem colocadas em prática neste momento, mas, ao mesmo tempo, de que você não quer se esquecer. Seria bom que você fosse lembrado de vez em quando. Lista parcial típica Algum dia/Talvez Comprar um veleiro Montar uma adega Aprender espanhol Ir à Toscana nas férias Fazer um curso de pintura Criar minha própria página na internet Reformar a cozinha Fundar uma instituição para crianças Construir uma piscina no quintal Comprar um piano Voar de balão Publicar minha autobiografia Praticar mergulhoDar uma festa para os vizinhos Aprender a dançar tango Construir um lago de carpas Fazer cerâmica É preciso refletir sobre essa lista de tempos em tempos para que ela seja bem aproveitada. Sugiro que você inclua isso na sua Revisão Semanal. É provável que você relacione outras informações a Algum dia/Talvez, mas terá que refletir sobre ela apenas quando for obrigado a se comprometer com uma das atividades. Aqui se encaixam listas como: • Livros • Vinhos • Receitas • Filmes • Viagens de fim de semana • Atividades para as crianças • Seminários • Sites Esses lembretes podem ampliar seus horizontes criativos. Vale muito a pena ter uma ferramenta organizacional que lhe permita criar listas tão fáceis assim. Arquivo de Referência Rápida (sistema tickler). Essa segunda ferramenta de incubação engloba o que você não quer ou não precisa ser lembrado até determinada data no futuro. Uma versão mais elegante desse recurso é o arquivo de referência rápida (sistema tickler, para quem já conhece o método GTD), às vezes também denominado “arquivo suspenso”, “arquivo de acompanhamento” ou “arquivo perpétuo”. São sistemas que permitem que você envie algo para você mesmo e o receba em determinada data no futuro. É assim que seu calendário funciona. Se hoje é dia 15 de fevereiro, por exemplo, você pode marcar no calendário que daqui a um mês (dia 15 de março) deve pagar a primeira parcela do imposto de renda; também pode registrar que no dia 12 de setembro haverá a apresentação de O lago dos cisnes pelo Balé Bolshoi. Para mais detalhes, consulte o Capítulo 7. Material de referência Muitas tarefas que chegam a você talvez não exijam ação, mas contêm valor de informação. Talvez você queira manter e recuperar esses itens quando necessário. Eles podem ser armazenados em papel ou digitalmente. O material em papel – desde o menu do restaurante até projetos sobre a reforma do escritório – é mais bem armazenado em sistemas físicos ou digitais, de forma a recuperar a informação facilmente. Esses sistemas podem abranger tanto folhas soltas e cadernos, listas dos restaurantes favoritos ou números de telefone dos membros do comitê escolar quanto arquivos físicos, onde ficam guardados os documentos da empresa. Embora a maior parte das informações hoje seja digital, a versão impressa muitas vezes ainda é a maneira mais eficaz de armazená-las e refletir sobre elas. O armazenamento eletrônico inclui dados em nuvem e pastas no computador ou do dispositivo móvel. O mais importante é que o material de referência deve ser exatamente isto: um acesso fácil a informações. Esse sistema costuma se dividir em dois tipos: (1) armazenamento específico e (2) arquivo de referências gerais. Armazenamento específico. Classifica de acordo com o assunto: contratos, fichas dos funcionários, processos judiciais encerrados, gestão de relações com clientes ou histórico de clientes atuais e potenciais – cada um em uma gaveta diferente. Arquivo de referências gerais. Esse é o tipo que deve ser bem acessível, pois armazena informações avulsas que não se encaixam numa determinada categoria. Você precisa de um lugar para guardar manuais de eletrodomésticos, anotações sobre a reunião de sexta-feira e os ienes que você não trocou ao voltar do Japão. A falta de um arquivo de referências gerais pode ser um dos grandes obstáculos durante a implementação de um sistema organizacional. Se o arquivamento e o armazenamento não forem fáceis e rápidos (e até divertidos!), você tenderá a amontoar e acumular material digital em vez de guardá-lo no lugar certo. Se seu material de referência não estiver bem delimitado, a fronteira entre o que demanda ou não ação ficará, visual e psicologicamente, indefinida e sua mente entrará em curto-circuito. É muito importante que você crie um bom sistema para o arquivo de referências gerais, pois ele garante mais produtividade e menos estresse. Vamos analisar o assunto em mais detalhes no Capítulo 7. REFLETIR Uma coisa é anotar que você precisa comprar leite; outra é estar no supermercado e se lembrar disso. Do mesmo modo, anotar que deve ligar para um amigo para saber se ele passa bem é muito diferente de se lembrar de fazer isso quando você está distraído, de papo ao telefone. Tente ver sua vida pessoal e profissional de uma perspectiva mais ampla. A maioria das pessoas costuma perceber a mágica da gestão do fluxo de trabalho por meio da fase da reflexão. É quando você considera todos os projetos futuros e laços abertos, no que denomino Horizonte 1, que deve ser avaliado semanalmente. É sua chance de examinar todas as ações e opções que estão diante de você, aumentando radicalmente a eficácia da escolha do que você faz a qualquer momento. Sua vida é mais complexa do que qualquer sistema isolado pode descrever ou coordenar, mas o método GTD oferece um modelo coerente para destacar os elementos-chave que ainda requerem atenção e sobre os quais devem ser refletidos e atualizados. Muitas pessoas o aplicam em vários setores da vida. Sobre o que refletir e quando Se adotar um sistema de organização estruturado, com Lista de Projetos, Calendário, Listas de Próximas Ações e uma lista Aguardando Resposta, você não precisará se sacrificar para mantê-lo. O item sobre o qual talvez você mais refletirá será seu calendário, que o lembrará dos seus compromissos e tarefas diárias – ou seja, tudo o que você tiver que fazer em determinado dia. Não há um conteúdo específico mais importante – todos eles devem ser cumpridos. Saber o que e quando fazê-lo constitui um bom terreno para manobras. É um bom hábito na medida em que você conclui uma ação do calendário (uma reunião, um telefonema, um relatório final), verificando o que falta fazer. Reflita sobre todas as listas, esboços e mapas de orientação, com a frequência que você achar necessária, para tirar o conteúdo deles da sua mente. Depois de consultar o calendário, você quase sempre recorrerá às Listas de Próximas Ações. Elas são o backlog das ações nas quais você deve se engajar quando tiver tempo. Caso você as tenha organizado por contexto (Em casa, No computador, Na reunião com George), elas serão válidas apenas quando os contextos estiverem disponíveis. Você deve refletir sobre as Listas de Projetos, Listas de Espera e Algum dia/Talvez apenas quando considerar necessário para que pare de divagar a respeito delas. Os acontecimentos da vida abarcam uma grande variedade de interesses, e aquele que argumenta sobre qualquer um deles sem consultar o resto é um visionário sem condições de controlar os assuntos do mundo. – JAMES FENIMORE COOPER Fator crítico para o sucesso: a Revisão Semanal Reflita sobre tudo aquilo que talvez possa exigir ação com frequência suficiente para evitar que sua mente retome o hábito de se encher de tralha. Para confiar em seus julgamentos rápidos e intuitivos acerca das ações a serem praticadas a cada momento, você deve se resguardar. Com base em minha experiência, esse resultado pode ser alcançado por meio de um fator crítico para o sucesso: a Revisão Semanal. Uma vez por semana reflita sobre todas as suas Listas de Projetos, Listas de Próximas Ações, Calendário, Listas de Espera e até Algum dia/Talvez. A Revisão Semanal também lhe dá a oportunidade de garantir que seu cérebro esteja livre de todas as pendências que tenham sido capturadas, esclarecidas e organizadas nos últimos dias. Talvez você já tenha constatado que as coisas podem sair um pouco do controle nos dias mais agitados. Por mais normal que seja, essa situação irá se agravar à medida que o ritmo deste mundo sempre conectado se acelera. Você não quer se distrair demais, e se esforça para se manter limpo de tudo isso. No entanto, para avançar com confiança, será importante limpar a casa e renovar o conteúdo uma vez por semana. A Revisão Semanal funciona no sentido de: • Capturar e esclarecer toda a tralha; • Refletir sobre o sistema; • Atualizar as listas; • Ficar limpo, claro, atual e completo. Muitas pessoas não dispõem de um sistema completo e, consequentemente, nãoextraem os benefícios da Revisão Semanal, mas apenas por duas razões: elas não observam sua vida pessoal e profissional de uma perspectiva mais ampla; ainda têm a vaga sensação de que alguma coisa está faltando. É por isso que as recompensas decorrentes da implementação desse processo são exponenciais: quanto mais completo for o sistema, mais você confiará nele. E quanto mais você confiar nele, maior será sua motivação para mantê-lo. A Revisão Semanal é a chave para preservar esse padrão. Você tem que usar a sua mente para tirar coisas da sua mente. As pessoas costumam se sentir melhor em relação ao próprio trabalho quando estão prestes a tirar férias, mas não por causa das férias em si. O que você faz na semana anterior a uma longa viagem? Você limpa, fecha, define, organiza e renegocia todas as suas decisões – consigo e com os outros. Faz tudo isso para relaxar a cabeça e curtir a praia, a montanha ou a cidade sem ter com que se preocupar. Sugiro que você faça isso semanalmente e desfrute dessa sensação de “estar presente” na vida cotidiana. ENGAJAR O principal objetivo da gestão do fluxo de trabalho é facilitar a escolha do que e quando fazer. Às 10h33 de segunda-feira, saber se deve telefonar para Sandy, terminar a proposta ou limpar os e- mails será sempre uma decisão intuitiva; mas, com a orientação adequada, você terá mais segurança quanto ao que escolher. Você pode sair da esperança para a confiança em suas ações, aumentando imediatamente sua energia e sua eficácia. Toda decisão de agir é intuitiva. O desafio não é esperar que seja a escolha certa, mas confiar em que é a escolha certa. Três modelos para decidir quais ações tomar Vamos assumir que você não esteja resistindo a nenhuma tralha, por insegurança ou procrastinação. Haverá sempre uma longa lista de ações que você não está praticando. Então como você pode decidir o que fazer e o que não fazer e se sentir bem nas duas situações? Confiando na sua intuição. Se você tiver capturado, esclarecido, organizado e refletido sobre todos os seus compromissos em aberto, poderá reforçar seu julgamento intuitivo com algumas ideias inteligentes e práticas sobre seu trabalho e seus valores. Três modelos ajudarão você a decidir o que fazer. Não lhe darão respostas – ligar para o Mário, enviar uma mensagem para seu filho na escola, ou apenas conversar com a secretária –, mas podem tornar mais fácil e mais inteligente a formulação de suas opções. Esse é o tipo de coisa que outros métodos sobre gestão de tempo e de prioridades não lhe oferecerão. 1. Modelo dos quatro critérios Às 15h22 de quarta-feira, como saber o que deve fazer? Aplique quatro critérios, nesta ordem: contexto, tempo disponível, energia disponível e prioridade. Os três primeiros descrevem as restrições sob as quais você atua o tempo todo e o quarto fornece o valor atribuído a cada ação. Contexto. Você está sempre limitado pela própria capacidade de agir em determinado momento. Você pode se engajar numas poucas ações em qualquer lugar (esboçar ideias sobre um projeto, com lápis e papel), mas a maioria exige local específico (em casa, no escritório) ou acesso a alguma ferramenta de produtividade, como telefone ou computador. Esses são os primeiros fatores que limitam a escolha do que você pode fazer no momento. Tempo disponível. Quando você tem que fazer outra coisa? Uma reunião em cinco minutos já o impedirá de fazer qualquer ação que exija mais tempo. Sempre há mais a fazer do que você pode fazer, e você só pode fazer uma coisa de cada vez. O segredo é se sentir bem quanto ao que você não está fazendo e quanto ao que você está fazendo no momento. Energia disponível. Quanta energia você tem? Algumas ações demandam uma reserva de energia mental nova e criativa. Outras requerem mais capacidade física. Algumas exigem muito pouco de ambas. Prioridade. Considerando o contexto, o tempo e a energia disponíveis, quais ações dão mais retorno? Você está no escritório, com um telefone e um computador, e tem uma hora livre. Sua energia está quase em alta – 7, numa escala de 10. Você pensa: “Devo telefonar de volta para o cliente, trabalhar na proposta, selecionar seus e-mails ou ligar para seu cônjuge?” É nesse ponto que você deve recorrer à intuição e confiar na sua capacidade de julgamento. Para explorar ainda mais o conceito, vamos examinar os outros dois modelos para decidir o que é mais importante. 2. Modelo tríplice do trabalho diário Quando você faz acontecer – ou “trabalha”, no sentido universal da palavra –, realiza três tipos de atividades: • Fazer o trabalho predefinido • Fazer o trabalho à medida que aparece • Definir seu trabalho Fazer o trabalho predefinido. Ao fazer um trabalho predefinido, você se engaja em itens da Lista de Próximas Ações e do Calendário – completando ações que você já havia determinado ou gerenciando o fluxo de trabalho. Está tomando decisões, rascunhando ideias ou preparando uma lista de coisas que deve discutir com seu advogado. Fazer o trabalho à medida que aparece. De vez em quando surgem situações inesperadas – insuspeitas e imprevistas –, queira você ou não. Por exemplo, seu sócio entra no escritório para conversar com você sobre o lançamento de um produto e você para de fazer tudo o que precisa ser feito. O dia a dia traz surpresas e você vai ter que gastar algum tempo e energia com elas. Agindo assim, você automaticamente decide que o trabalho que caiu no seu colo de repente é mais importante do que todo o resto. Definir seu trabalho. Definir o trabalho envolve esvaziar a caixa de entrada e avançar novos projetos para a fase da ação. Ao esclarecer os inputs, você se engajará em algumas ações que demandam menos de dois minutos, além de descartar e arquivar um monte de coisas. Boa parte dessa atividade consistirá em identificar ações que precisam ser feitas em algum momento, mas não agora. Ao prosseguir, você acrescentará itens a todas as suas listas. Uma vez que você definiu todo o trabalho, suas listas estão completas. E o contexto, o tempo e a energia disponíveis ainda permitem que você escolha mais de uma coisa a fazer. O último fator crítico a ser considerado é a natureza do trabalho, seus objetivos e padrões. 3. Modelo de seis níveis para revisar o próprio trabalho As prioridades devem guiar suas escolhas, mas os modelos que as determinam não são ferramentas confiáveis para grande parte das nossas ações. Para saber quais são suas prioridades, você tem que saber qual é o seu trabalho. E há pelo menos seis perspectivas diferentes para defini-lo. Fazendo uma analogia, essa situação tem muito a ver com o horizonte, ou percepção de distância. Olhando um edifício de fora, você irá notar diferentes panoramas de diferentes andares. • Horizonte 5: Propósitos e princípios • Horizonte 4: Visão • Horizonte 3: Metas e objetivos • Horizonte 2: Áreas de foco e responsabilidade • Horizonte 1: Projetos • Solo: Próximas ações Vamos começar de baixo para cima. Solo: Próximas ações. Nessa lista estão todas as atividades nas quais você deve se engajar no nível mais físico e visível – telefonemas, e-mails, tarefas e compromissos. É provável que haja mais de 100 itens neste momento, se fizesse o tempo parar, sem receber mais inputs em sua caixa de entrada. Horizonte 1: Projetos. Ao praticar suas ações, existem cerca de 30 a 100 projetos em que você deve se engajar. São os resultados a curto prazo que você quer atingir, como, por exemplo, instalar o computador novo, organizar uma convenção de vendas, mudar-se para a nova sede e ir ao dentista. Horizonte 2: Áreas de foco e responsabilidade. Você cria ou aceita projetos e ações com base em suas funções, seus interesses e suas responsabilidades – as principais áreas da sua vida pessoal e profissional cujos resultados você quer alcançar e manter. Seu trabalho pode envolver compromissos com planejamento estratégico, apoio administrativo, desenvolvimento de equipes, pesquisa de mercado, atendimento ao cliente ou gestão de ativos. E sua vida pessoal tem pelo menos a mesma quantidade dessas áreasde foco: saúde, família, finanças, casa, espiritualidade, diversão, etc. Não são pontos em que você deve se engajar, e sim adotar como critério para avaliar suas experiências e compromissos, para manter o equilíbrio e a sustentabilidade à medida que você atua no trabalho e no mundo. Listar e refletir sobre essas responsabilidades oferecem uma estrutura mais ampla para avaliar seu backlog de projetos. Complete os projetos que você começou, respeite os compromissos que você assumiu, cumpra as promessas que você fez. Assim, tanto sua consciência quanto sua inconsciência podem alcançar o sucesso, levando a um sentimento de satisfação, merecimento e singularidade. – JOHN-ROGER Horizonte 3: Metas e objetivos. O que você quer vivenciar na vida pessoal e profissional daqui a três meses ou dois anos? Isso pode dar outra dimensão à definição do seu trabalho. Muitas vezes o cumprimento das metas exige uma mudança no foco, com novas responsabilidades emergentes. Nesse horizonte, é provável que você queira realizar ou contar com coisas que poderiam acrescentar importância a certos aspectos de sua vida e, ao mesmo tempo, diminuir em outros. Horizonte 4: Visão. Fazer projeções de três a cinco anos costuma gerar novas ideias em categorias maiores: estratégias organizacionais, tendências ambientais, transformações na carreira e mudanças no estilo de vida. Fatores internos incluem aspirações e considerações de longo prazo referentes a carreira, família, finanças e qualidade de vida. Questões externas podem afetar seu trabalho e sua organização, como tecnologia, globalização, tendências de mercado e competição. Nesse âmbito, as circunstâncias podem mudar facilmente suas condições de trabalho em muitos níveis. Horizonte 5: Propósitos e princípios. Este é o olhar do panorama geral. Por que a empresa existe? Por que você existe? O que realmente importa para você, independentemente do que seja? O propósito fundamental de qualquer coisa fornece a definição da essência do trabalho. Todas as metas, visões, objetivos, projetos e ações decorrem daí e para aí o levam. Essas analogias com horizontes são um tanto arbitrárias e, na vida real, as conversas que você terá sobre foco e prioridades talvez não se encaixem exatamente num nível ou noutro. Elas podem servir de referência útil para lembrá-lo da natureza múltipla de seus compromissos e tarefas. No dia a dia, você nunca tem tempo para pensar. Você precisa já ter pensado. Obviamente, muitos fatores devem ser considerados antes de você se sentir confortável para decidir o que e quando fazer. “Estabelecer prioridades” no sentido de concentrar-se nos objetivos e valores de longo prazo, embora seja o foco central necessário, não oferece um referencial prático para a maior parte das decisões e das ações do dia a dia. Ao dominar todos os níveis do fluxo de trabalho, você perceberá que o trabalho fornece uma forma muito mais holística de fazer acontecer e se sentir bem quanto a isso. Na Parte 2 você encontrará um treinamento específico sobre como aplicar esses modelos para facilitar suas escolhas, além das melhores práticas de captura, esclarecimento, organização, reflexão e engajamento que contribuirão para o seu sucesso. CAPÍTULO 3 Como tocar os projetos com criatividade: as cinco fases do planejamento de projetos Os principais ingredientes para o exercício do controle despreocupado são: (1) definir os resultados (projetos) que quer alcançar e as próximas ações necessárias para impulsioná-los rumo ao sucesso e (2) incluir lembretes num sistema sobre o qual você reflita com regularidade. Isso é o que chamo de foco horizontal. Embora pareça simples, a aplicação efetiva do processo pode gerar um impacto profundo. REFORÇANDO O FOCO VERTICAL O foco horizontal é tudo de que você precisará na maioria das ocasiões. Às vezes, você pode necessitar de maior rigor e foco para manter um projeto ou uma situação sob controle, para identificar uma solução ou para garantir que todos os passos certos já foram determinados. É onde entra o foco vertical. Saber raciocinar produtivamente dessa forma mais vertical e saber como integrar os resultados no seu sistema pessoal formam o segundo conjunto de comportamentos necessários para o trabalho do conhecimento. Você tem que pensar nas coisas grandes enquanto faz as pequenas, pois assim estas irão conduzi-lo na direção certa. – ALVIN TOFFLER Essa linha de pensamento não precisa ser complexa. Grande parte do raciocínio de que você vai precisar é informal, o que chamo de “planejamento de guardanapo” – o tipo de plano que você esboça numa cafeteria na companhia de um amigo enquanto reorganiza seu calendário e prepara uma apresentação de vendas. Esse costuma ser o tipo de planejamento mais produtivo quanto ao output relativo à energia que você emprega. É verdade que, vez por outra, todos precisarão desenvolver uma estrutura mais formal a fim de determinar os componentes, as sequências e as prioridades. E também serão necessários esboços mais detalhados para coordenar situações mais complexas – se as equipes tiverem que colaborar em vários segmentos do projeto, por exemplo, ou se for preciso elaborar planos de negócios para convencer potenciais investidores de que você sabe o que está fazendo. Mas, como regra geral, é possível ser muito criativo com nada mais que lápis e papel. Acontece que a maior carência do cenário profissional não se dá por meio de modelos formais. Geralmente, as pessoas que precisam desses modelos ou já os têm ou podem consegui- los como parte de um currículo acadêmico ou profissional. Constatei que, quase sempre, o que falta é um modelo focado no projeto. Precisamos de maneiras de validar e apoiar nosso raciocínio, por mais informal que seja. Sessões de planejamento formal e ferramentas de alta capacidade (como softwares de gestão de projetos) podem ser muito úteis, mas os participantes de uma reunião com frequência precisam de outra reunião – uma sessão do tipo “verso do guardanapo” – para que, de fato, tenham o controle do projeto. Reuniões mais formais e estruturadas também tendem a ignorar pelo menos uma questão crítica, como, por exemplo, a razão de você se engajar no projeto. Ou não dão tempo suficiente para estimular o brainstorming, ou seja, a apresentação de ideias aleatórias capazes de tornar o projeto mais interessante, mais lucrativo ou apenas mais divertido. Além disso, muito poucas reuniões são rigorosas o suficiente para definir ações e atribuições dos vários aspectos de um planejamento de projeto. O objetivo é ter clareza e controle suficientes sobre projetos e situações para tirá-los da mente, e não perder ideias potencialmente úteis. A boa notícia é que existe uma forma produtiva de pensar sobre projetos, situações e tópicos que pode gerar o máximo de valor com o mínimo de tempo e esforço. Essa é a maneira como costumamos planejar quando tentamos controlar um projeto e nos engajar para alcançar o resultado almejado. Quando as pessoas se planejam mais, informal e espontaneamente, acabam reduzindo a ansiedade e obtendo os melhores resultados. O modelo de calendário mais experiente no mundo é o seu cérebro. O MODELO DE PLANEJAMENTO NATURAL Você já conhece e usa a mais brilhante e criativa ferramenta de planejamento do mundo: seu cérebro. Na verdade, você é uma máquina de planejar. Você planeja ao escolher a roupa, ao almoçar, ao fazer compras e até ao conversar. Embora o processo pareça aleatório, ele se caracteriza por uma série de passos bastante complexos para que o cérebro realize algo no mundo físico. Sua mente percorre cinco fases para cumprir quase qualquer pendência: • Definição de propósitos e princípios • Resultados desejados • Brainstorming • Organização • Identificação das próximas ações Um exemplo simples: planejando um jantar Na última vez que você saiu para jantar, o que o levou a fazer isso? Talvez tenham sido muitos fatores: o desejo de matar a fome, socializar com amigos, comemorar uma ocasião especial, fechar um negócio ou cultivar um romance. Assim que uma dessashipóteses se converteu em realidade, você começou a planejar. Sua intenção se transformou em propósito, o que automaticamente disparou seu processo de planejamento interno. Seus princípios definiram as fronteiras de seu plano. Você provavelmente não pensou conscientemente em seus princípios antes de sair para jantar, mas com certeza os levou em consideração: comida e atendimento, acessibilidade, conveniência, conforto, todos esses fatores entraram em questão. Em todo caso, seus propósitos e princípios foram o impulso e as fronteiras delimitadoras de seu planejamento. Uma vez que cumpriu seu propósito, quais foram seus primeiros pensamentos? Talvez “comida italiana no Giovanni’s”? Ou “uma mesa na calçada do Bistrô Café”? É provável que também tenha lhe ocorrido alguma imagem positiva do que você possa vivenciar ou do desfecho da noite – talvez as pessoas envolvidas, a atmosfera e/ou as consequências. Isso foi a visualização dos resultados. Enquanto seu propósito foi o porquê de ter ido jantar fora, a visualização foi a imagem do quê – a aparência, os sons e as sensações do que melhor poderia cumprir seu propósito. Depois que identificou a visão, o que sua mente começou a fazer? O que ela começou a pensar? “A que horas devemos ir?”, “Abre hoje à noite?”, “Será que vai estar cheio?”, “Como estará o tempo?”, “Precisamos trocar de roupa?”, “O carro tem gasolina?”, ou “Vamos estar com fome suficiente?”. Essa é a fase do brainstorming. As perguntas compõem o processo criativo que se desenvolve quando você almeja um resultado que ainda não aconteceu. O cérebro percebe uma brecha entre o que você deseja e sua situação efetiva, então começa a resolver essa dissonância cognitiva, tentando completar as lacunas. Inicia-se a fase do como do planejamento natural. O raciocínio, porém, ocorreu de maneira mais aleatória e improvisada. Muitos aspectos diferentes de sair para jantar lhe passaram pela cabeça. Você não deve ter precisado escrevê-los, mas com certeza elaborou uma versão mental desse processo.9 A partir do momento em que você gerou uma quantidade suficiente de ideias e detalhes, a fase seguinte é a organização. Talvez você tenha pensado ou dito: “Primeiro precisamos confirmar se o restaurante está aberto”, ou “Vamos perguntar se os Andersons gostariam de sair conosco”. Depois de acumular tantas ideias referentes ao resultado, sua mente automaticamente começará a classificá-las por componentes (subprojetos), prioridades e/ou sequências de eventos. Os componentes seriam: “Precisamos tratar da logística, das pessoas e do local”. As prioridades seriam: “É fundamental saber se o cliente realmente gostaria de sair para jantar”. As sequências de eventos seriam: “Primeiro, verificamos se o restaurante está aberto; depois, telefonamos para os Andersons; em seguida, nos prepararmos para sair”. Essa é a seção do planejamento natural que inclui desafios, comparações e avaliações. Uma coisa é melhor, maior ou mais avançada que outra. A chave para o pensamento inteligente são mais pensamentos inteligentes. Finalmente (assumindo que você esteja mesmo comprometido com o projeto – nesse caso, sair para jantar), você se concentra na próxima ação em que se engajará para efetivamente fazer o primeiro componente acontecer: “Telefonar para o Café Rouge, verificar se está aberto e fazer a reserva.” As cinco fases do planejamento ocorrem espontaneamente em tudo o que você faz. É como você empreende alguma coisa – um jantar, uma noite relaxante, um novo produto ou uma nova empresa. Você tem a necessidade de fazer acontecer; imagina o resultado; gera ideias que podem ser relevantes; enquadra-as numa estrutura; define uma atividade que gostaria de converter em realidade. E faz tudo isso com naturalidade, sem muito esforço. O planejamento natural não é necessariamente normal O processo descrito acima é exatamente como o comitê de planejamento atua? É assim que sua equipe de TI trata da instalação do novo sistema? É assim que você organiza o casamento ou estuda determinada operação? Você tem previsto algum grande sucesso ultimamente? Você definiu o propósito do projeto e o comunicou a todos que devem saber dele? E concordou com os comportamentos que devem ser observados para alcançar o sucesso? Você imaginou o sucesso e considerou todas as inovações resultantes? Expôs todas as suas ideias, tudo aquilo que deve ser considerado para afetar o resultado? Identificou todos os componentes críticos da missão, seus principais marcos e os produtos finais? Você definiu todos os aspectos do projeto a que deve dar andamento, a próxima ação e a divisão do trabalho? Talvez grande parte de suas respostas seja “não”. As pessoas não têm a tendência de praticar nenhum componente do modelo de planejamento natural implementado. Em alguns seminários, peço que os participantes efetivamente planejem um projeto estratégico com base nesse modelo. Em poucos minutos, eles percorrem as cinco fases, e costumam ficar surpresos com o progresso que fizeram. Um homem uma vez me procurou, no final da apresentação, e revelou: “Não sei se devo agradecer ou ficar zangado. Acabei de concluir um plano de negócios que pensei que levaria meses e agora não tenho desculpa para não executá- lo!” Você também pode tentar, se quiser. Escolha um projeto novo ou emperrado, ou que talvez possa simplesmente ser melhorado. Pense no propósito. Visualize o resultado: qual seria a sua situação em termos físicos, financeiros, de reputação, etc.? Faça um brainstorming sobre as possíveis decisões a tomar. Organize suas ideias. Decida sobre as próximas ações. E então, está se sentindo mais seguro e enxergando com mais clareza aonde quer ir e como pretende chegar lá? MODELO DE PLANEJAMENTO ARTIFICIAL Para enfatizar a importância de aplicar o modelo de planejamento natural às situações mais complexas, vamos compará-lo ao modelo mais “normal” usado na maioria dos contextos – o que denominamos planejamento artificial. Quando a “boa” ideia é má Você já ouviu falar de um gerente ou chefe de projeto bem-intencionado que começa uma reunião perguntando: “Alguém arrisca uma boa ideia?” Qual é a premissa aqui? Antes de avaliar uma boa ideia, o propósito deve estar claro, a visão deve ser bem definida e todos os dados relevantes devem ter sido capturados (brainstorming) e analisados (organizados). “O que é uma boa ideia?” é uma boa pergunta, mas só quando você já percorreu 80% do processo mental! Começar nesse ponto explodiria a mente criativa de qualquer um. Se você está esperando ter uma boa ideia antes de ter qualquer ideia, não terá muitas. É difícil abordar uma situação de uma perspectiva que não é a forma de sua mente operar. As pessoas agem assim o tempo todo, o que quase sempre gera falta de clareza e aumenta o estresse. Nas interações, abrem-se as portas para vaidades, politicagens e interesses ocultos que dominam as discussões (os mais agressivos verbalmente costumam comandar o espetáculo). E, caso se trate só de você, a tentativa de gerar boas ideias antes de definir o propósito, de criar a visão e capturar muitas ideias ruins iniciais provavelmente lhe causará um problema criativo. MODELO DE PLANEJAMENTO REATIVO O modelo artificial é o que a maioria das pessoas, em sã consciência, acha que é “planejamento”. E, como costuma ser tão artificial e irrelevante para o trabalho real, as pessoas simplesmente não planejam. Pelo menos não de primeira: resistem a planejar reuniões, apresentações e operações estratégicas até o último minuto. Quando você se vir dentro de um buraco, pare de cavar. – WILL ROGERS Mas o que acontece se você não planeja com antecedência? Em muitos casos, crise! (“Não comprou os ingressos?”, “Pensei que você fosse cuidar disso!”) Então, quando a urgência o pressiona, o modelo de planejamento reativo acaba sendo sua solução. Qual é a primeira coisa que acontece quando a tralha bate no ventilador? Ação! Trabalhar mais! Fazer hora extra! Contratar mais funcionários! Ralar mais! E quem está estressado fica ainda mais estressado. Então, quandoessas pessoas batendo cabeça não resolvem a situação, alguém tem uma ideia brilhante e conclama: “Precisamos nos organizar!” Aí elas começam a redesenhar os problemas e a rotulá-los. Não faça alguma coisa apenas. Destaque-se. – ROCHELLE MYER A certa altura, percebem que apenas redesenhar os problemas e nomeá-los não ajuda nada na resolução deles. Agora alguém (muito mais sofisticado) sugere que o que precisam é de mais criatividade. “Vamos fazer um brainstorming!” Com todo mundo reunido, o chefe pergunta: “Então, quem arrisca uma boa ideia aqui?” Quando nada acontece, o chefe talvez suspeite de que a equipe já tenha esgotado boa parte da própria criatividade. Hora de contratar um consultor! Se o consultor vale o que ganha, em algum momento ele fará a grande pergunta: “Então, o que vocês realmente estão tentando fazer aqui?” (visão, propósito). TÉCNICAS DE PLANEJAMENTO NATURAL: AS CINCO FASES Dedicar-se mais a projetos e situações pode acelerar, melhorar e tornar mais bem-sucedido o desenvolvimento das coisas. Então, se nossa mente é capaz de planejar, o que aprendemos com isso? Como usar esse modelo para obter mais e melhores resultados? Vamos examinar cada uma das cinco fases do planejamento natural e ver como avançar nesse contexto. O fanatismo consiste em intensificar os nossos esforços depois de termos esquecido o nosso alvo. – GEORGE SANTAYANA Propósito Não custa nada perguntar por quê. Quase tudo que você faz pode ser aprimorado e até requentado se for feita uma análise minuciosa. Por que você deve ir a essa reunião? Qual é o propósito da sua ação? Por que convidou amigos para jantar? Por que contratou um diretor de marketing em vez de uma agência? Por que você deve suportar essa situação da sua prestadora de serviços? Por que você tem um orçamento? E assim por diante. Admito: isso não passa de bom senso. Conhecer e definir o propósito de qualquer atividade é uma orientação fundamental para manter o foco, desenvolver a criatividade e aumentar a cooperação. Mas esse bom senso raramente é praticado, pois temos muita facilidade em criar situações, nos prender às nossas criações e perder a conexão com nossas intenções reais. Não podemos deixar de perguntar por quê. Quando as pessoas reclamam que têm muitas reuniões, quando indagam quem deve participar da sessão de planejamento, quando pensam se devem ou não se manter conectadas com o trabalho durante as férias, eu sempre pergunto: “Qual é o propósito?” Antes de respondermos à minha pergunta, não há como encontrar as respostas mais adequadas às perguntas deles. O valor de pensar sobre o porquê Aqui estão alguns dos benefícios de perguntar por quê: • Define o sucesso • Cria critérios para tomadas de decisão • Alinha recursos • Motiva • Determina o foco • Expande as alternativas As pessoas adoram vencer. Se você não tiver clareza acerca do propósito do que está fazendo, não terá nenhum jogo para vencer. Vamos examinar mais de perto cada um deles: Define o sucesso. Hoje as pessoas chegam a matar para vencer. Adoramos jogar e gostamos de vencer, ou, pelo menos, estar na posição de poder vencer. E, se você não souber o propósito do que anda fazendo, não terá nenhuma chance. O propósito define o sucesso. É o principal ponto de referência para qualquer investimento de tempo e energia, desde concorrer a um cargo eletivo até criar uma obra de arte. Você não pode se sentir bem numa reunião de equipe se não tiver em mente o propósito daquilo. E, se quiser dormir bem, é melhor que tenha uma boa resposta quando o conselho perguntar por que você demitiu o chefe de marketing ou por que contratou aquele MBA brilhante como seu novo diretor financeiro. Você não tem como saber qual o melhor plano de negócios até que o aplique aos critérios de sucesso que definiu quando respondeu à pergunta: “Por que você precisa de um plano de negócios?” Cria critérios para tomadas de decisão. Como você decide se vai gastar dinheiro num folheto de cinco cores ou em outro de duas? Como você sabe se vale a pena contratar uma importante empresa de webdesign para construir seu novo site? Como você sabe se deve matricular sua filha numa escola particular? Geralmente, a única maneira de tomar uma decisão difícil é lembrar-se do propósito do que está fazendo. Tudo se resume ao propósito. Considerando o que você tem que cumprir, esses investimentos são mesmo necessários? Não há como saber até que o propósito seja definido. Alinha recursos. Como deveríamos gastar a verba destinada ao pagamento do pessoal no orçamento da empresa? Como usar melhor o caixa disponível neste momento para reforçar nossa viabilidade como varejista no próximo ano? Devemos gastar mais com o almoço ou com os palestrantes na próxima reunião mensal? Em cada caso, a resposta depende do que realmente tentamos realizar – o porquê. Motiva. Vamos encarar a realidade: se não há razão para fazer alguma coisa, não vale a pena fazê- la. Não raro me espanto com a quantidade de pessoas que esqueceram por que estão fazendo o que estão fazendo – e com a rapidez com que uma pergunta simples como “Por que você está fazendo isso?” pode colocar essas pessoas no caminho certo. Se você não sabe ao certo de por que está fazendo alguma coisa, você nunca conseguirá fazer o suficiente. Determina o foco. Quando você se dá conta do verdadeiro propósito de seus projetos, as coisas ficam mais claras. Gastar dois minutos para escrever a principal razão de fazer alguma coisa invariavelmente gera um aumento na acuidade visual, como se você acertasse o foco do telescópio. Projetos e situações que pareciam dispersos e desfocados costumam ficar mais nítidos quando alguém simplesmente pergunta: “O que estamos mesmo tentando alcançar aqui?” Expande as alternativas. Paradoxalmente, mesmo que seja identificado, o propósito abre o pensamento criativo para possibilidades mais amplas. Quando você conhece o porquê implícito, suas ideias de como alcançar o resultado almejado se expandem. Depois que as pessoas definem o propósito de determinado projeto, logo reconhecem uma sensação de mente arejada, que ilumina a visão do que estão fazendo. Seu propósito é claro e específico o suficiente? Se você de fato estiver experimentando os benefícios gerados por manter o foco no propósito – motivação, clareza, decisão, alinhamento e criatividade –, então é bem provável que seu propósito seja bastante específico. Mas muitas definições de propósito são tão vagas que não produzem esses efeitos. “Formar uma boa equipe”, por exemplo, talvez seja um objetivo amplo ou vago demais. Afinal, o que constitui uma “boa equipe”? Um grupo de pessoas altamente motivadas, que colaboram com algumas ideias eficazes e tomam iniciativas? Ou um grupo de pessoas que não estouram o orçamento? Em outras palavras, caso você não saiba se conseguiu atingir seu propósito ou tenha se perdido no caminho, você não tem diretrizes viáveis. A pergunta “Como posso saber quando determinado item está fora de propósito?” deve ter uma resposta clara. Princípios Assim como os critérios básicos, os padrões e os valores que orientam você também direcionam e conduzem um projeto. Embora as pessoas raramente pensem sobre isso de maneira consciente, eles estão sempre presentes. E, se são transgredidos, os resultados inevitavelmente serão dispersão e estresse. Propósitos e princípios simples e claros dão origem a um comportamento complexo e inteligente. Regras e regulamentos complexos dão origem a um comportamento elementar e estúpido. – DEE HOCK Um ótimo jeito de refletir sobre quais são seus princípios é completando a frase: “Eu daria total liberdade para fazer isso desde que…” “Desde que” o quê? Que políticas, expressas ou tácitas, seriam aplicadas às atividades do seu grupo? Desde que respeitassem o orçamento? Desde que satisfizessem os clientes? Garantissem a união da equipe? Construíssem uma imagem positiva? Adotar ou admitir comportamentos fora dos padrões pode ser uma grande fonte de estresse. Se você nunca teve que lidar com isso, levante as mãos para o céu. Por outrolado, se depara com algo parecido, deve definir e conversar sobre os princípios que poderiam alinhar a energia e evitar conflitos desnecessários. Talvez você possa começar se perguntando: “Que tipo de comportamento pode prejudicar o que estou fazendo e como posso evitá-lo?” A resposta lhe indicará um bom ponto de partida para definir seus padrões. Outros ótimos motivos para se concentrar nos princípios são a clareza e a referência que eles fornecem para a conduta positiva. Como você quer ou precisa trabalhar para garantir o sucesso de um projeto? Quando seus filhos podem ou não ultrapassar os limites durante as férias? Quando você e a equipe têm o melhor desempenho para agir de determinado jeito? Enquanto os propósitos lhe proporcionam a matéria-prima e a orientação, os princípios definem os parâmetros de ação e os critérios de uma conduta de excelência. Resultados desejados Para acessar os recursos conscientes e inconscientes de forma mais produtiva, você deve ter uma imagem clara de como o sucesso será. Propósitos e princípios fornecem o impulso e o controle, mas a visão oferece o projeto do resultado final. É o quê em vez do porquê. Como será esse projeto ou situação quando finalmente for divulgado ao mundo? O poder do foco Desde os anos 1960, milhares de livros salientaram o valor da visualização e do foco positivos. O foco prospectivo tem sido até um elemento-chave no treinamento esportivo de nível olímpico, quando os atletas imaginam o esforço físico, a energia positiva e os bons resultados com o intuito de garantir o apoio do inconsciente ao desempenho. A imaginação é mais importante que o conhecimento. – ALBERT EINSTEIN Sabemos que o foco mental influencia o que percebemos e como nos engajamos. Isso se aplica ao campo de golfe, às reuniões de equipe e a uma conversa séria com o cônjuge. O que eu quero aqui é fornecer um modelo de foco dinâmico e prático, especialmente quando se pensa em projetos. Quando você se concentra em alguma coisa – as próximas férias, a reunião iminente, o projeto a ser lançado –, esse foco logo gera ideias e padrões de pensamento que, do contrário, não lhe ocorreriam. Até seu organismo vai reagir a uma imagem mental como se fosse real. Sistema de Ativação Reticular. Em maio de 1957, a revista Scientific American publicou um artigo que descreve a descoberta da formação reticular na base do cérebro. Trata-se basicamente do portão que dá acesso ao seu conhecimento consciente, é o botão que liga sua percepção de ideias e dados, o fator que o mantém adormecido mesmo quando a música está alta, mas o acorda se um bebê chora em outra sala. Assim como um computador, seu cérebro tem uma função de busca – só que mais poderosa. Ele parece ser programado por aquilo em que nos concentramos e com que nos identificamos. É o que muita gente chama de paradigmas. Só tomamos consciência do que é compatível com nossos sistemas de crenças e contextos. Um optometrista, por exemplo, tende a notar com mais facilidade pessoas que usam óculos; um empreiteiro nota os detalhes físicos de um ambiente. Se você focar a cor vermelha agora e logo depois procurar objetos vermelhos, perceberá até os pontinhos mais minúsculos nessa cor. O mecanismo criativo automático é teleológico, ou seja, opera, ou deve ser orientado, por objetivos. Quando você lhe dá uma meta definida para atingir, pode confiar em sua orientação automática para levá-lo até essa meta de uma forma muito melhor do que “você” jamais conseguiria através do pensamento consciente. “Você” fornece a meta ao pensar em resultados finais. O mecanismo automático, então, fornece os meios para tal. – MAXWELL MALTZ As implicações de como esse filtro funciona – como inconscientemente temos consciência das informações – são um assunto que poderia durar o resto da vida. Basta dizer, portanto, que algo automático e extraordinário acontece em sua mente quando você cria e mantém o foco numa imagem nítida do que almeja. Determinando os resultados Um princípio simples mas profundo emerge da compreensão de como funcionam seus filtros perceptivos: você não saberá como fazer isso até que se veja fazendo. É fácil imaginar um bom resultado se você já passou por isso. Pode ser um desafio, entretanto, identificá-lo com imagens que representam um território novo e desconhecido – ou seja, se você tiver poucas referências sobre como um evento pode acontecer e pouca habilidade para fazê-lo acontecer. Você geralmente precisa elaborar na sua mente antes de fazer acontecer na sua vida. Muita gente tem certa resistência quanto a imaginar um resultado almejado, a não ser que alguém mostre como chegar lá. Infelizmente, essa é uma atitude retrógrada, já que a mente funciona para avançar, gerando e reconhecendo soluções e métodos. Ser capaz de criar resultados claros é uma das mais poderosas e importantes habilidades que devem ser desenvolvidas visando tanto ao sucesso profissional quanto ao pessoal. Isso não é tão óbvio quanto parece. Precisamos definir (e redefinir) o que tentamos realizar e redistribuir os recursos para completar essas ações com o máximo de eficácia e eficiência. Sempre quis ser alguém. Eu deveria ter sido mais específica. – LILY TOMLIN Como será o projeto quando estiver concluído? Como você quer que o cliente se sinta e o que você quer que ele saiba e faça depois da apresentação? Em que pé estará sua carreira daqui a três anos? Como agiria o chefe ideal? Como seria seu site se ele fosse programado do seu jeito? Quão diferente seria o relacionamento com seu filho se a conversa com ele fosse bem-sucedida? A visão/resultado pode variar de uma simples ação, como “Finalizar a implementação do sistema de computação”, até o roteiro completo de um filme, descrevendo a cena final em todos os seus detalhes. Quando as pessoas focam um cenário bem-sucedido do projeto, elas geralmente ficam muito entusiasmadas e têm ideias positivas. “Não seria ótimo se…” não é um jeito ruim de começar a pensar numa situação, pelo menos por tempo suficiente até conseguir uma resposta. A melhor maneira de ter uma boa ideia é ter um monte de ideias. – LINUS PAULING Brainstorming Uma vez que você saiba o que quer que aconteça e por quê, o mecanismo como entra em cena. Quando você identifica uma situação diferente da sua realidade atual, automaticamente começa a preencher as lacunas em sua cabeça por meio do brainstorming. As ideias começam a pipocar em sua mente, de modo aleatório – pequenas, grandes, não tão boas, boas. O processo costuma se desenvolver internamente. Por exemplo, você pensa no que quer dizer à sua chefe enquanto caminha pelo corredor. Mas há muitas outras situações, como fazer anotações ou capturar ideias de um contexto externo, que podem lhe dar um tremendo impulso e resultados produtivos. Sua mente quer entender como chegar daqui até ali, mas inicialmente numa ordem um tanto aleatória. Capturando suas ideias Nas últimas décadas, muitas técnicas de brainstorming foram desenvolvidas para ajudar a gerar ideias criativas. Elas receberam nomes como mapeamento da mente, método de ramos e árvores, escrita livre, espinha de peixe, entre outros. Embora os autores desses processos os descrevam como complementares, a premissa básica é a mesma: capture e anote qualquer ideia para só depois descobrir como ela se encaixa e o que fazer com ela. Essa prática aumenta a sua eficiência – quando você tem uma ideia, você a registra, então não precisa tê-la novamente. O mais popular desses conceitos e técnicas foi idealizado por Tony Buzan, um pesquisador inglês do funcionamento do cérebro, que o chamou de mapeamento da mente. O objetivo é anotar as ideias num formato gráfico: a principal ideia é apresentada no centro e as associações são ligadas a ela por meio de ramificações. Por exemplo, se a ideia central é a transferência do escritório, logo penso em computadores, cartões de visita, instalações elétricas, móveis, telefones, etc. Você também pode fazer esse mapeamento em post-its a serem presos no quadro ou digitar as ideias em processadoresde texto ou aplicativos específicos de brainstorming. Cognição distribuída A grande vantagem do brainstorming externo é que, além de capturar suas ideias originais, ajuda a gerar outras novas que talvez não lhe ocorressem se você não tivesse um mecanismo para reter seus pensamentos e refletir sobre eles. É como se sua mente dissesse: “Olhe, vou lhe dar quantas ideias você achar necessárias, mas só se você capturá-las do jeito certo. Senão vou reduzir a quantidade. E se essas ideias forem mesmo úteis, ainda que você apenas as registre para uma avaliação futura, então veja aqui um monte delas! Ah, sim! Aqui está outra, e mais uma…” Nada é mais perigoso do que uma ideia quando se tem apenas uma. – ÉMILE CHARTIER Os psicólogos nomearam esse processo “cognição distribuída”. Significa transferir as ideias da sua cabeça para um formato objetivo sobre o qual pode ser refletido, como uma espécie de “mente ampliada”. Meu professor de inglês da escola, no entanto, não precisou conhecer a teoria para me dar a solução: “David”, disse ele, “você vai para a faculdade e terá que preparar alguns trabalhos escritos. Escreva todas as suas ideias e citações em fichas. Então, quando você conseguir organizar seu raciocínio, espalhe-as no chão, veja como elas irão se estruturar e descubra o que está faltando.” Naquele momento, ele me ensinou uma peça importante do modelo de planejamento natural. Poucas pessoas conseguem manter o foco num tema sem a ajuda de alguma estrutura objetiva e ferramentas ou gatilhos úteis. Escolha um grande projeto em que você esteja trabalhando no momento e concentre-se apenas nele por mais de 30 segundos. É uma coisa muito difícil de fazer, a menos que você tenha lápis e papel na mão e use um desses “artefatos cognitivos” como âncora. Assim, você conseguirá trabalhar as ideias durante horas. É por isso que as melhores ideias surgem enquanto você está trabalhando num documento no computador, rascunhando num bloco de papel, fazendo desenhos num guardanapo ou simplesmente se reunindo com outras pessoas e registra o conteúdo numa lousa, por exemplo. Apenas aquele que lida com suas ideias as domina, e apenas aquele que domina suas ideias não se torna escravo delas. – LIN YUTANG A chave do brainstoming Muitas técnicas ajudam na prática do brainstorming e do raciocínio fora da caixa. Os princípios básicos podem ser resumidos assim: • Não julgue, questione, avalie ou critique. • Busque quantidade, não qualidade. • Deixe a análise e a organização em segundo plano. Não julgue, questione, avalie ou critique. No modelo de planejamento artificial, é fácil fazer cara feia para algumas ideias, avaliando-as prematuramente e criticando-as. Se você se importa com o que os outros pensam, acabará censurando seu processo expressivo ao tentar buscar a coisa “certa” a dizer. Há uma diferença muito sutil entre pensar no brainstorming e sufocar a verve criativa. É também importante que o brainstorming seja adicionado ao processo de planejamento – pode parecer banal e inadequado para quem o faz apenas para o próprio bem, e não para alcançar um objetivo mais amplo. Se você compreender o propósito do brainstorming, se sentirá mais à vontade para se dedicar a essa parte do processo. Determinar o que pode dar errado numa situação é, às vezes, a melhor maneira de gerar as melhores ideias sobre como torná-la bem-sucedida. Não estou sugerindo que você bloqueie seu pensamento crítico – é importante jogar limpo nesse estágio. Não há por que não dizer: “Aqui está o que poderia dar errado com essa abordagem.” São as ideias mais desafiadoras e críticas que contêm as sementes da inovação. É importante compreender que tipos de pensamento estão lhe surgindo e reservá-los para quando forem mais úteis. Devem ser levados em conta os critérios da inclusão e da expansão, e não os da repressão e da contração. Busque quantidade, não qualidade. A quantidade mantém o pensamento em expansão. Em geral, você não saberá o que é uma boa ideia até deparar com ela. E, às vezes, você perceberá que é uma boa ideia, ou o embrião de uma, só mais tarde. Sabe quando você se sente à vontade ao escolher dentre as muitas opções de uma grande loja? Isso também se aplica aqui. Quanto maior for o volume de ideias com que você deve trabalhar, melhor será o contexto a ser criado para desenvolver alternativas e confiar nas escolhas. Deixe a análise e a organização em segundo plano. A análise, a avaliação e a organização de seus pensamentos devem desfrutar de tanta liberdade quanto o pensamento criativo. Mas, na fase do brainstorming, essa atividade crítica não deve ter participação. Fazer listas pode ser um recurso criativo; é uma forma de saber quem deve fazer parte da equipe, avaliar as exigências do cliente sobre o software ou analisar os componentes do plano de negócios. Apenas tenha certeza de registrar tudo até chegar a hora da seleção e da organização do foco, que é a próxima fase. Organização Se você completou o trabalho de tirar da cabeça todas as coisas que surgiram no brainstorming, verá surgir uma organização natural. Como sugeriu meu professor de inglês, assim que você esvaziar a cabeça e o campo visual, automaticamente notará as relações naturais e a estrutura. É a isso que as pessoas se referem quando falam sobre organizar um projeto. Um plano de projeto identifica os menores resultados, que, então, podem ser planejados naturalmente. A organização geralmente acontece quando você identifica os componentes e os subcomponentes, as sequências de eventos e/ou as prioridades. Quais são as coisas que devem ocorrer para gerar o resultado final? Em que ordem? Qual é o elemento mais importante para garantir o sucesso do projeto? Essa é a fase em que você pode fazer bom uso das ferramentas de estruturação, que abrangem desde as listas informais com marcadores rabiscadas no guardanapo até o mais sofisticado software de planejamento de projeto. Quando o projeto exige alta dose de controle, talvez você precise de algum tipo de perfil hierárquico, com componentes e subcomponentes e/ou gráficos que mostrem o cronograma do projeto, com atividades independentes e dependentes em relação ao todo. O pensamento criativo não para aqui; apenas assume outra forma. Depois de entender a estrutura básica, sua mente vai começar a tentar preencher as lacunas. Identificar os três principais fatores com que você precisará lidar no projeto, por exemplo, pode levá-lo a pensar em um quarto ou um quinto, ao vê-los todos alinhados. Os fundamentos da organização Os principais passos são: • Identificar as partes mais significativas • Classificá-las por (um ou mais): • Componentes • Sequências • Prioridades • Detalhar até o ponto necessário Nunca vi dois projetos que precisassem ter as mesmas estruturas e detalhes como condição para esvaziar a cabeça e avançar com sucesso. Mas quase todos os projetos podem usar uma forma de pensamento criativo, na área sequencial do cérebro, seguindo a linha “Qual é o plano?”. Próximas ações A última fase do planejamento vem com as decisões sobre alocação e realocação dos recursos físicos para de fato promover o avanço do projeto. A pergunta a se fazer aqui é: “Qual é a próxima ação?” Conforme observamos no capítulo anterior, esse tipo de raciocínio fundamentado, combinado à determinação do resultado almejado, é o principal componente que define e elucida qual é o nosso verdadeiro trabalho. A criação de uma lista de projetos e a gestão da próxima ação de cada um deles representarão 90% do que é geralmente considerado num planejamento de projeto. Essa abordagem básica estimulará a seriedade. Você está se empenhando mesmo? Quem é responsável? Você já refletiu o suficiente sobre todos os aspectos? Em determinado momento, se o projeto demandar ação, é preciso decidir sobre a próxima ação. Responder à pergunta sobre o que você faria especificamente testará a maturidade das suas ideias sobre o projeto. Se você ainda não está pronto para responder, é necessário que se desenvolva mais em algum nível anterior, na sequênciado planejamento natural. Os fundamentos • Decidir sobre as próximas ações para cada um dos “elementos móveis” do projeto. • Decidir sobre as próximas ações no processo de planejamento, se necessário. Ativação dos elementos móveis. O projeto já pode ser implementado a partir do momento em que estão definidas todas as próximas ações em todas as frentes em que se possa avançar sem primeiro precisar completar outro componente. Se o projeto tem componentes múltiplos, cada um deve ser avaliado de forma adequada, perguntando-se: “Alguém poderia estar fazendo outra coisa a respeito disto neste momento?” Em alguns casos, haverá apenas um aspecto a ser ativado e tudo mais dependerá desses resultados. Então deve haver apenas uma próxima ação, que será a chave para todo o resto. Mais a planejar? E se ainda houver mais a planejar antes de seguir para a próxima ação? Ainda há uma ação – exatamente uma ação de processo. Qual é o próximo passo na continuação do planejamento? Esboçar mais ideias. Enviar um e-mail solicitando a contribuição de outros funcionários. Pedir que sua assistente convoque uma reunião de planejamento com a equipe do produto. O hábito de definir a próxima ação, em qualquer situação, é fundamental para você manter o controle, despreocupado. Quando a próxima ação é de outra pessoa. Se a próxima ação não for sua, você deve determinar de quem é (uso da lista Aguardando Resposta). Numa situação de planejamento em grupo, não é preciso que todos saibam qual será a próxima ação. Basta distribuir as responsabilidades e deixar que eles definam as próximas ações nas respectivas áreas de competência. Conversar sobre as próximas ações promove clareza organizacional. Podem surgir questões e detalhes que não seriam percebidos. Trata-se de provocar uma simples discussão capaz de levantar questões importantes e localizar os elos fracos. De quanto planejamento você de fato precisa? Até que ponto você precisa se engajar nesse modelo de planejamento? A resposta é: até você esvaziar a sua cabeça. Em geral, as coisas continuam ocupando espaço na sua cabeça porque o resultado e as ações necessárias não foram propriamente definidos e/ou você não investiu o suficiente no sistema de lembretes. Além disso, talvez você não tenha desenvolvido os detalhes, as perspectivas e as soluções para confiar na eficácia do plano. Muitos projetos nada mais precisam que uma lista dos resultados almejados e de próximas ações para que você possa tirá-los da cabeça. Precisa de um novo corretor de valores? Peça uma recomendação a um amigo. Quer instalar uma nova impressora em casa? Pesquise modelos e preços na internet. Creio que 80% dos projetos sejam dessa natureza. Você continuará seguindo o modelo de planejamento, mas apenas na sua cabeça, e somente até determinar as próximas ações e mantê-las em andamento até que sejam concluídas. Se o projeto ainda estiver na sua cabeça, será necessário pensar mais. Outros 15% talvez exijam pelo menos alguma forma externa de brainstorming – talvez um mapeamento da mente ou algumas anotações num processador de texto ou software de apresentação. Deve ser o suficiente para planejar pautas de reuniões, suas férias ou um discurso na câmara de comércio local. Os últimos 5% podem precisar da aplicação deliberada de uma ou mais das cinco fases do modelo de planejamento natural, que fornece uma receita prática para desemperrar, resolver e avançar passos de maneira produtiva. Você está ciente da necessidade de maior clareza, ou ação, em algum de seus projetos? Em caso positivo, o modelo quase sempre pode ser a chave para progredir com eficácia. Precisa de mais clareza? Se é de mais clareza que você precisa, pense um degrau acima na escala de planejamento natural. As pessoas, em geral, estão muito ocupadas (ação), mas quase sempre se sentem confusas e carecem de orientação. Elas precisam recorrer ao planejamento ou desenvolver um, caso ainda não tenham (organização). Se não houver clareza no nível do planejamento, é provável que haja necessidade de mais brainstorming para gerar um backlog de ideias e dados, a fim de reforçar a confiança no plano. Se o brainstorming emperrar, desloque o foco para a visão dos resultados, garantindo que a formação reticular do cérebro seja atingida. Se a visão não for clara, volte a analisar por que você se envolveu na situação (propósito). Precisa de mais ação? Se é de mais ação que você precisa, saia do modelo. Pode haver ao mesmo tempo entusiasmo e resistência acerca da execução de um projeto. Melhorar a qualidade de vida dos funcionários talvez seja o foco de um gerente, mas é bem provável que ele ainda não tenha definido com clareza o resultado almejado. Assim, o raciocínio deve ser direcionado às especificidades da visão. Mais uma vez, pergunte-se: “Como seria o resultado?” Se você já formulou uma resposta a essa pergunta, mas as coisas continuam emperradas, talvez esteja na hora de enfrentar algumas das questões como, além dos detalhes e perspectivas operacionais (brainstorming). De vez em quando, alguns clientes meus herdam um projeto relativamente bem articulado, mas não conseguem avançar porque não pararam alguns minutos para descartar ou desenvolver ideias. Se o brainstorming empacar (e isso geralmente acontece com os tipos menos pragmáticos), talvez seja necessário maior rigidez para avaliar e decidir acerca dos resultados mais importantes (organização) – quando uma reunião informal de troca de ideias não produz nada de concreto, por exemplo. E se há um plano, mas ainda não foi colocado em prática, cada componente dele deve ser avaliado, a fim de que se faça a seguinte pergunta: “Qual é a próxima ação e quem é o responsável por ela?” Uma gerente responsável pela organização de uma importante conferência anual uma vez me perguntou como poderia evitar a crise que a equipe enfrentara no ano anterior quando estavam se aproximando do prazo final. Quando ela descreveu os vários elementos do projeto que tinha herdado, perguntei: “Em quais deles você poderia se engajar de imediato?” Depois de identificar meia dúzia, determinamos a próxima ação para cada um. E o projeto finalmente começou a andar, a tempo de evitar que se repetisse o caos. Nos dois primeiros capítulos, expliquei como os modelos básicos podem mantê-lo produtivo e no controle, com pouco esforço, nos dois níveis mais básicos da sua vida pessoal e profissional: as ações e os projetos que geram grande parte dessas ações. Você não precisa de novas competências para aumentar sua produtividade e reduzir seu estresse – basta aprimorar alguns comportamentos sistemáticos e aplicá-los. Os fundamentos ainda são os mesmos – capturar todos os laços abertos, refletir sobre cada um deles e gerenciar os resultados com organização, reflexão e ações práticas. Há um planejamento natural para todas as situações com que você deve se comprometer. A aplicação desse modelo de cinco fases pode tornar a evolução mais fácil, mais rápida e mais produtiva. Os planos levam você a coisas de que você deve lutar para sair. – WILL ROGERS Esses modelos são simples e fáceis de serem implementados. A aplicação deles gera resultados notáveis. Você não precisa de novas competências – já sabe que deve fazer anotações, determinar resultados, decidir sobre as próximas ações, dividi-las em categorias, revisá-las e usar da sua intuição na hora de fazer escolhas. Agora você tem a habilidade de se concentrar nos resultados, de realizar brainstorming, de organizar o raciocínio e ainda avançar para os próximos passos. No entanto, apenas entender na teoria como tudo deve ser feito não produz resultados. Ser altamente produtivo, manter-se despreocupado e exercer o controle não necessariamente o mudarão da água para o vinho. Como a maioria das pessoas, você pode recorrer a um coach – alguém que o guie e lhe forneça orientações e truques importantes ao longo do percurso até que seu novo estilo operacional se torne espontâneo. É o que você encontrará na Parte 2. PARTE 2 A prática da produtividade sem estresse CAPÍTULO4 Ponto de partida: definindo o tempo, o espaço e as ferramentas Na Parte 2, vamos passar do conceito e da aplicação limitada para a implementação em grande escala das melhores práticas. O método costuma oferecer às pessoas um nível de controle que talvez nunca tenham experimentado antes, mas que quase sempre exige um passo a passo para acelerar o cumprimento das metas. Por isso, proponho aqui uma sequência lógica que ajudará você a recolher o máximo de valor a partir dessas técnicas. Muitos dos detalhes desta seção talvez pareçam difíceis de digerir e de se engajar numa primeira leitura. Eles oferecem um manual de instruções minucioso, caso você tenha decidido implantar o modelo em larga escala, o que poderia levar pelo menos dois dias inteiros, sem interrupção. São informações e sugestões sobre as quais com certeza você refletirá, a fim de desenvolver novos níveis de aplicação quando começar a colocar em prática o método GTD. A IMPLEMENTAÇÃO TEM MUITO A VER COM “TRUQUES” Se você não estiver certo de que está comprometido com a implementação completa desses métodos, garanto que o que mais as pessoas extraem deles são bons truques. Às vezes, basta um bom truque para recompensar o esforço: já me disseram, por exemplo, que a melhor coisa foi a Regra dos Dois Minutos. As pessoas que têm o mais alto desempenho são as que praticam os melhores truques. É o meu caso. Nosso lado inteligente nos impõe soluções a que o lado não tão inteligente reage quase automaticamente, gerando comportamentos excelentes. Nós nos enganamos fazendo o que deveríamos estar fazendo. É mais fácil agir para nos sentirmos melhor do que sentir que temos que agir melhor. – O. H. MOWRER Por exemplo, se você faz atividades físicas regularmente, é provável que já tenha praticado alguns truques que o estimulam a se exercitar. Meu melhor truque é a roupa. A partir do momento em que coloco a roupa da musculação, já me sinto correndo, pedalando ou malhando. Vejamos um exemplo de truque de produtividade. Você já deve ter trazido para casa um trabalho do escritório que precisava adiantar, certo? Era muito importante que você não o esquecesse em casa ao ir para o trabalho. Então, onde o teria guardado na noite anterior? É provável que você o tenha deixado perto da porta ou junto às chaves? Você foi educado para isso? Nada disso. Seu lado inteligente, na noite anterior, sabia que seu lado não tão inteligente não estaria muito consciente na manhã seguinte. “O que é isso perto da porta? Ah, sim, preciso levar esses papéis comigo!” Quanta eficiência! E de fato é. Trata-se de um truque que denomino “Coloque Perto da Porta”. Nesse caso, “porta” é a da mente, e não a de casa. Mas é a mesma ideia. Se você consultasse seu calendário agora e examinasse com atenção todos os itens das próximas duas semanas, é provável que deparasse com pelo menos um do tipo “Ah, isso me lembra de que preciso _______”. Se você, então, capturasse o valor agregado a esse pensamento em algum lugar que disparasse sua ação, já se sentiria melhor, esvaziaria sua cabeça e conseguiria resultados mais positivos. Não é nada muito sofisticado, apenas um bom truque. Se você pegasse um papel em branco e um lápis neste momento e, durante três minutos, se concentrasse no mais incrível projeto que tem em mente, garanto que lhe ocorreria pelo menos um “Ah, sim, preciso me lembrar de que _______”. Capture, então, no papel o que surgir na sua mente e guarde para quando você realmente puder usar a ideia ou informação. Você não ficará mais inteligente do que 10 minutos atrás, mas terá valorizado seu trabalho e sua vida. O grande segredo para pensar e agir de forma criativa e produtiva é colocar em foco as coisas certas na hora certa. Grande parte do aprendizado sobre a gestão do fluxo de trabalho consiste em dispor de ferramentas e praticar ações para que as boas ideias ocorram de maneira mais automática e tornem o compromisso muito mais fácil. As sugestões a seguir sobre como ter tempo, espaço e ferramentas são métodos infalíveis para fazer acontecer. Se você estiver comprometido em avançar em seu sistema de gerenciamento pessoal, recomendo que preste muita atenção aos detalhes e siga na íntegra as propostas aqui apresentadas. Você descobrirá que a realização do programa trará uma grande contribuição ao que anda acontecendo na sua vida neste momento. Muitas das coisas que você deseja fazer serão feitas – de um jeito tão eficaz que o surpreenderá. MARCANDO O TEMPO Dedique algum tempo a dar início ao processo e preparar uma área de trabalho com espaço, móveis e ferramentas adequados. Se for configurada e organizada da maneira certa, a área de trabalho irá diminuir sua resistência inconsciente a lidar com a tralha e até facilitará o processo de resolver inputs e problemas de trabalho. Dois dias inteiros são o prazo ideal para a maioria das pessoas. (Mas não se aborreça se não tiver tanto tempo disponível: praticar qualquer atividade sugerida aqui já será útil, não importando quantas horas você dedique a ela. Os benefícios dessas técnicas e princípios começarão a aparecer quase instantaneamente.) Implementar todo o processo de captura pode levar seis horas ou mais; esclarecer os inputs e definir as ações talvez exija mais outras oito horas. É claro que você também pode capturar e esclarecer a tralha em lotes, mas será muito mais fácil se você resolver tudo de uma vez. Não tenha medo de dar um grande passo quando necessário. É impossível cruzar um abismo com dois pequenos saltos. – DAVID L. GEORGE Prefiro implementar essa técnica com um cliente num fim de semana ou num feriado, pois são menores as chances de interrupção externa. Se você só puder fazer isso num dia útil comum, primeiro deve desmarcar todas as reuniões do calendário e apenas admitir interrupções de emergência. Os telefonemas serão desviados para caixas postais ou atendidos pelos seus assistentes. Não recomendo ficar até depois do expediente, quando as pessoas já estão cansadas e desatentas.10 Para muitos executivos, parar tudo o que estão fazendo durante dois dias consecutivos é a parte mais difícil do processo. É por isso que geralmente se recorre aos fins de semana. Se você trabalha num escritório sem divisórias, será ainda mais complicado isolar-se por tempo suficiente durante o horário comercial. Dedique dois dias a esse processo: valerá muito mais a pena em termos de produtividade e saúde mental. Não que o procedimento em si seja tão inviolável; apenas exige muita energia mental para capturar e decidir acerca de um grande backlog de laços abertos, sobretudo aqueles que estão emperrados há muito tempo. Pode levar o dobro do tempo em caso de interrupções constantes. Zerar a tralha durante esse período de dois dias fará com que você se sinta realizado e no controle, além de liberar energia e criatividade. CONFIGURANDO O ESPAÇO Você precisará escolher um local físico que servirá de cabine de comando. Se já tiver uma mesa ou sala própria no escritório, talvez seja o melhor lugar para começar. Se você trabalha em casa, então esse será seu espaço principal. Se contar com ambos, talvez queira dispor de sistemas idênticos, até intercambiáveis, nos dois lugares, ainda que um deles deva ser escolhido como o principal. Se você não dispõe de nenhum local físico, será necessário criar um espaço. Mesmo que seu trabalho mude constantemente de lugar, você ainda assim deve arranjar um ambiente privado como base de operações. Talvez esteja planejando implementar esse programa em qualquer lugar, mas recomendo que tenha de fato uma base física. Para tornar a área de trabalho um espaço produtivo, você deve ter uma superfície para escrita e um recipiente físico ou digital para a caixa de entrada. Profissionais como o gerente de uma oficina, um paramédico ou uma babá não precisarão de muito mais. As pessoas que trabalham em casa nem sempre terão necessidade de uma grande área para gerenciar o fluxo de trabalho, mas é fundamental que disponham de um espaço para esclarecer notas, correspondências, contas domésticase projetos familiares. Essa tralha quase sempre costuma ficar espalhada na cozinha, no corredor, na mesa de jantar, na estante de livros, gerando um aspecto acumulador. Na mesa deve haver um telefone, um computador, bandejas empilháveis, gaveteiros e prateleiras para material de referência. Alguns podem sentir necessidade de uma impressora, lousa e/ou equipamento multimídia para conferências. Os profissionais mais independentes também procurarão dispor de aparelhos para exercícios físicos, lazer e hobbies. É essencial que a área de trabalho seja funcional. Caso você não disponha de uma, trate de providenciá-la. Isso se aplica a estudantes, empresários e aposentados. É imprescindível que todo mundo tenha um local físico que funcione como cabine de controle para lidar com tudo o que acontece na vida. Você precisa de uma área de trabalho individual e exclusiva, completa e autônoma – em casa, no escritório e até em trânsito. Se eu precisasse montar uma área de trabalho de emergência em apenas alguns minutos, compraria uma porta de madeira, a instalaria em cima de dois gaveteiros e colocaria sobre ela três bandejas empilháveis, folhas de papel em branco, blocos de anotações, lápis e canetas. E aí estaria minha base de operações. (Talvez também comprasse um banco ou uma cadeira!) Acredite se quiser: já estive em muitos escritórios que não eram tão funcionais quando essa área improvisada. Se trabalha num escritório, você ainda precisa de um espaço em casa Não economize em seu espaço de trabalho doméstico. Como você descobrirá ao longo do processo, é fundamental ter pelo menos um sistema satélite em casa, idêntico ao do escritório. Muitas pessoas costumam se sentir constrangidas com o nível de bagunça que reina em casa, em contraste com a mesa ou a sala do escritório; elas agregam valor ao se permitirem o mesmo arranjo em ambos os locais. Se você for uma delas, irá perceber que passar um fim de semana arrumando o espaço doméstico pode promover uma revolução na forma como você organiza a própria vida. Espaço de escritório em trânsito Se você está constantemente se deslocando, porque sempre viaja a negócios ou tem um estilo de vida itinerante, também precisará montar um eficiente microescritório móvel. É mais do que provável que ele consista em mala, mochila, bolsa e suprimentos de escritório portáteis. Muita gente perde em produtividade quando não carrega equipamentos suficientes para aproveitar os intervalos ao se deslocar de um lugar para outro ou nos momentos em que se encontra fora do escritório. Combinar um bom estilo de esclarecimento, ferramentas certas e sistemas interconectados, em casa e no escritório, pode transformar as viagens em oportunidades altamente eficazes para se engajar em certos tipos de trabalho. À medida que a tecnologia desenvolve dispositivos móveis cada vez mais poderosos e agiliza o acesso global a eles, aumenta também nossa capacidade de gerenciar virtualmente a própria vida. No entanto, há um problema inerente aí: como lidar com todas as opções que são oferecidas pelos dispositivos móveis. Sem um bom método de captura, esclarecimento e organização, por meio de aplicativos e ferramentas adequadas, o novo mundo de acesso móvel será subaproveitado, transformando-se numa fonte de distração e estresse improdutivos. Não compartilhe seu espaço! É importante que você tenha a própria área de trabalho – ou pelo menos a própria caixa de entrada e um lugar em que disponha de papel e material físico. Muitos casais tentam dividir uma única escrivaninha em casa, mas faz muita diferença quando trabalham em duas estações separadas. A “separação” lhes tira um estresse sutil no relacionamento a partir do momento em que passam a lidar cada com a sua tralha da vida comum. Um casal até decidiu montar mais uma miniestação na cozinha, para que a mãe pudesse adiantar o trabalho enquanto cuidava das crianças. Algumas empresas têm mostrado interesse em montar estações de trabalho autônomas e móveis, de onde os funcionários podem se “conectar” com qualquer ponto da firma a qualquer momento. Assim, elas podem economizar em espaço, operando num ambiente virtual, com uma força de trabalho funcionando de forma independente em relação à “nave mãe”. Mas isso pressupõe que cada empregado tenha o próprio local de operação. Algumas experiências desse tipo deram errado porque as áreas de trabalho foram destruídas. A necessidade de sempre reinventar a caixa de entrada, o sistema de arquivamento e como e onde esclarecemos a tralha pode ser uma fonte incessante de distração. Você precisa usar seu sistema – e não recriá-lo o tempo todo. Você pode trabalhar virtualmente de qualquer lugar se tiver um sistema limpo e compacto e souber esclarecer a tralha com rapidez e portabilidade. De uma forma ou de outra, você precisará de uma base de operações, com ferramentas eficazes e espaço suficiente para todos os materiais de referência, que devem estar sempre ao seu alcance. A maioria das pessoas com quem trabalho precisa de pelo menos dois gaveteiros. Com o avanço tecnológico dos scanners, um dia todo esse material físico será arquivado em computadores ou dispositivos digitais e recuperado quando necessário, em qualquer lugar. Ainda demorará um pouco até que você não precise mais do passaporte físico, do dinheiro que sobrou da viagem e dos documentos em papel, que às vezes ainda são a melhor maneira de registrar alguns dados. Grande ou pequeno, todo material precisa de um lugar de fácil acesso. REUNINDO AS FERRAMENTAS NECESSÁRIAS Caso você esteja completamente comprometido com a implementação desse fluxo de trabalho, deve arranjar alguns equipamentos básicos. Conforme avança, é provável que oscile entre usar os itens com que estiver acostumado e avaliar quaisquer possibilidades de itens novos. Observe que boas ferramentas não necessariamente são caras. Com frequência, quanto mais algo parecer “executivo”, mais disfuncional será. Ferramentas básicas para esclarecer a tralha Vamos supor que você esteja começando do zero. Além de uma mesa, você precisará de: • Bandejas para papéis (pelo menos três) • Uma resma de papel sem pauta • Lápis e canetas • Bloquinhos de post-it • Clipes • Grampeador e grampos • Durex • Elásticos • Etiquetas • Pastas de arquivo • Calendário • Lixeira • Ferramentas para coleta de dados, organização e listas de afazeres, inclusive dispositivos móveis, computadores, calendários digitais e cadernos Bandejas para papéis Uma para caixa de entrada e outra para caixa de saída; mais uma ou duas para materiais em andamento e em processo de reflexão. As bandejas mais funcionais são as de tamanho carta ou ofício. Papel sem pauta Folhas de papel serão bastante usadas no início do processo de captura. Acredite: anotar suas ideias no papel pode ser muito útil. Muitas pessoas costumam organizar suas anotações em listas, mas registrá-las separadamente com o auxílio de marcadores pode ajudar você a esclarecer e organizar. Em todo caso, é importante ter à mão tanto folhas de papel quanto tablets, para tornar a captura de inputs mais eficiente. Itens de escritório Embora seu uso esteja diminuindo, post-its, clipes, grampeadores, fitas adesivas e elásticos serão úteis para armazenar ou despachar materiais em papel. É bastante desafiador capturar, esclarecer e organizar em todos os momentos. Garanta sempre que você tenha as ferramentas que tornem isso o mais fácil possível. Etiquetas As etiquetas são ferramentas muito úteis. Elas podem ser usadas para rotular pastas de arquivos e fichários, além de categorizar documentos nos gaveteiros. Pastas de arquivo Você precisará de muitas pastas de arquivo. Elas podem ser coloridas ou de uma cor só. A categorização por cores envolve um nível maior de complexidade. Seu sistema de arquivamento deve ser simples como o de uma biblioteca. Calendário Ainda que você não necessite de um calendário apenas para capturar suas pendências, com certeza deparará com ações que precisam de definição quanto a quando serão colocadas em prática. Como já mencionei anteriormente,o calendário não deve ser usado para abrigar listas de ações, e sim para enquadrar tudo o que tem dia e hora específicos. Muitos profissionais usam algum tipo de calendário, sejam agendas de folhas soltas, digitais ou aplicativos voltados para gestão empresarial. O calendário costuma ser a principal ferramenta de organização pessoal. É o componente mais importante para lidar com determinados tipos de dados e lembretes, compromissos e informações referentes a dias e horários. Ele envolve um sistema muito mais amplo, que despontará à medida que você aplicar o método GTD. Talvez você fique pensando qual seria o tipo de calendário mais adequado a suas necessidades. Vamos discutir isso com mais detalhes no próximo capítulo. Por enquanto, continue com o que tem. Depois que compreender toda a abordagem sistemática, você terá melhores pontos de referência para decidir. Lixeira Ao implementar esse processo, você descartará muito mais tralha do que espera, portanto prepare-se para jogar fora muito lixo. Você precisa de um organizador? Em caso positivo, você deve responder às seguintes questões: o organizador servirá para gerenciar listas e referências? Para arrumar lembretes de ações, pautas e projetos? Onde e com que frequência você precisa revê-los? Como você não deve guardar informações na sua cabeça, obviamente terá necessidade de meios adequados para gerenciar seus gatilhos e orientar-se no contexto externo. Você pode manter tudo dentro de pastas ou usar um caderno, uma agenda ou um calendário digital. Também pode optar por uma combinação desses itens. Uma vez que saiba como esclarecer sua tralha e o que deve organizar, você só vai precisar criar e gerenciar listas. Todos os equipamentos não tecnológicos listados há pouco são usados em vários aspectos da captura, do esclarecimento e da organização. Bandejas e folhas de papel serão úteis na captura. À medida que você esclarecer a caixa de entrada, suas ações demandarão menos de dois minutos para serem engajadas, exigindo post-its, grampeadores e clipes. Revistas, artigos, relatórios ou documentos cuja leitura leva mais de dois minutos serão reunidos em outra bandeja. Algumas coisas serão arquivadas ou descartadas. O que sobrar – projetos pendentes, anotações no calendário e itens aguardando resposta – exigirá algum tipo de lista ou reflexão de grupos semelhantes. As listas podem ser gerenciadas com recursos de baixa tecnologia, como papéis arquivados numa pasta (por exemplo, anotações de números de pessoas a quem você deve telefonar, na pasta “Telefonemas”; ou contas a pagar, na pasta “Pagamentos”), ou podem ser arrumadas em organizadores. Dispositivos digitais também ajudam, como uma categoria “Telefonemas” na seção Tarefas de um aplicativo. Um dos melhores truques para aumentar sua produtividade é organizar as ferramentas que você mais gosta de usar. Além de armazenar material de referência portátil (por exemplo, informações sobre contatos), a maioria das ferramentas organizacionais também gerencia listas. (Seu calendário é uma forma de lista, com lembretes de ações associados a hora e dia específicos, em ordem cronológica.) Durante o século XX, houve uma proliferação de tipos de organizadores pessoais, desde as caixas plásticas até os atuais softwares de gerenciamento de tarefas.11 Se você está se perguntando se deveria implementar o método GTD no que está fazendo hoje, a melhor resposta é: faça o que mais ajudar a mudar seu comportamento e use as ferramentas de maneira adequada. Também há outros fatores a considerar. Você lidaria melhor com as informações que recebe por meio de ferramentas digitais? Precisa de um calendário em que possa registrar todos os seus compromissos e alterá-los com rapidez? Quando estiver se deslocando, onde e como será mais fácil ser lembrado dos telefonemas que precisa dar? Além disso, você também pode se planejar ou se atualizar simplesmente se deseja brincar com o smartphone – ao esperar por alguém num restaurante, por exemplo. Se seu sistema de referência não estiver sob controle, ele gera um bloqueio em seu fluxo de trabalho que cria um conteúdo inútil em seu mundo. Lembre-se, porém, de que as ferramentas não garantirão produtividade sem estresse. Isso é algo que você cultiva implementando o método GTD. A estrutura adotada terá extrema importância em relação à forma como você expressa e implementa o método, mas não o substitui. Como diz o ditado, um ótimo martelo não faz um ótimo carpinteiro – mas um ótimo carpinteiro sempre fará questão de usar um ótimo martelo. Ao considerar o uso de alguma ferramenta organizacional, tenha em mente que tudo o que você realmente precisa fazer é gerenciar listas. Você deve ser capaz de criar uma lista rapidamente e de refletir sobre ela com facilidade e na medida do possível. Uma vez que você sabe o que incluir nas listas e como usá-las, o meio não importa. O fator crítico de um sistema de arquivamento Um sistema de referência pessoal simples e altamente funcional é muito importante para esse processo. O sistema de arquivamento existente é uma das primeiras coisas que avalio antes de analisar a gestão do fluxo de trabalho de um cliente. Conforme mencionei no Capítulo 2, a falta de um bom sistema de referências pode ser um dos maiores obstáculos à implementação de um sistema de gestão pessoal, além de representar uma das maiores oportunidades de desenvolvimento. Não porque o conteúdo seja importante ou estratégico, mas porque, se não for bem gerenciado, acaba embaçando o espaço físico e mental. Embora relevantes, as pendências que não demandam ação, não esclarecidas e não organizadas produzem um ruído psicológico debilitante. Também causam um bloqueio no fluxo de trabalho, acumulando pontos de retenção, como canos entupidos. Muitas vezes fui com um cliente a uma loja de material de escritório e comprei gaveteiros, pastas e etiquetas para alocar dois terços da tralha espalhada pela sala. A transformação é inevitavelmente drástica. Você vai resistir a todo processo de captura de informações se seus sistemas de referência não forem rápidos, funcionais e divertidos. Aqui nos preocupamos basicamente com o arquivamento de referências gerais – categorias de dados que merecem espaço e indexação específicos –, que abrangem arquivos, folhetos, papéis, anotações, impressos, documentos e até tíquetes, chaves, cartões de fidelidade e pen-drives, ou seja, qualquer coisa que você queira guardar para o próprio interesse, utilidade ou propósito e que não se encaixe em seus sistemas de arquivamento por temas específicos. Se você for viciado em tecnologia, talvez ache que não mais é necessário manter pastas de arquivo com tralha física. Em algum momento no futuro, a documentação física poderá mesmo deixar de existir, mas por enquanto é preciso organizar um lugar físico onde guardá-la. Para capturar e classificar suas experiências, você deve criar um arquivo… Sempre que experimentamos fortes sensações sobre acontecimentos ou ideias, devemos procurar não deixá-las fugir e, em vez disso, formulá-las para nossos arquivos. Com isso, elaboramos suas implicações, mostrando a nós mesmos como esses sentimentos ou ideias são tolos, ou como poderão ser articulados de forma produtiva. – C. WRIGHT MILLS Se você tiver uma secretária ou assistente organizada, que arquiva documentos e os coloca na caixa de saída, ótimo para você. Pergunte-se, porém, se algum material de apoio interessante, confidencial ou útil deve estar acessível, mesmo quando sua secretária ou assistente não estiver ali para atendê-lo. Em caso positivo, você ainda precisará elaborar o próprio sistema em vez de depender de outros. Como recebemos cada vez mais informações por meio digital, é muito importante que haja locais específicos de armazenamento de referências gerais. Muitas pessoas ainda usam a caixa de entrada do e-mail como arquivo de referências gerais indefinido, resistindo à criação de uma pasta específica para onde possa arrastar determinado conteúdo. Diversos softwares permitem reunir e categorizaressas informações (sincronizando-as em vários dispositivos), embora você deva pensar em como estruturá-las e nas ações requeridas ao guardar a tralha, a fim de não bagunçar seu ambiente digital. Quando instalei no meu computador um novo software de arquivamento de referências gerais, precisei de três meses para encontrar um jeito de organizá-lo e outros três para operá-lo sem qualquer esforço mental. Fatores de sucesso no arquivamento Um sistema de arquivamento pessoal físico e digital acessível fará você perceber que pode levar menos de um minuto para tirar alguma coisa da caixa de entrada ou para imprimir um arquivo do computador; concluir que não há necessidade de ação, mas que talvez aquilo seja importante no futuro; e armazená-lo em um sistema de confiança. O mesmo se aplica a escanear e guardar documentos ou a copiar e colar informações no computador. Sem sistemas eficazes, haverá muita resistência a guardar neles informações valiosas ou você continuará a acumulá-las em lugares inadequados. Se você demorar mais de um minuto para arquivar algo recuperável, é bem provável que o amontoe ou o enfie em outro lugar. Além de rápido, o sistema precisa ser fácil, divertido e atualizável. Do contrário, você inconscientemente resistirá a esvaziar sua caixa de entrada. Anime-se: muita gente parou de enrolar e começou a curtir a organização depois de implementar com eficiência seu sistema de arquivamento pessoal. Você também deve se sentir à vontade ao arquivar uma única folha de papel numa nova categoria. Uma vez que organizar e atualizar arquivos exige tanto trabalho, as pessoas começam a desistir do método, enchendo pastas e gavetas com itens sem categorização. Se você achar que as informações que acessa na internet são confiáveis e que não precisa de versões físicas, assegure-se de que não está duplicando sistemas sem necessidade, mantendo-os integrados. Faça o que for necessário para preservar a velocidade de arquivamento. Tente adotar todas as sugestões a seguir a fim de garantir a eficácia de seu sistema de referência: Mantenha seus arquivos de referências gerais acessíveis. O arquivamento deve ser instantâneo e fácil. Se você tiver que se levantar quando precisar arquivar algum documento ou se tiver que percorrer diversas pastas no computador, tenderá a largar a informação em qualquer lugar em vez de garantir sua recuperação eficaz. Também é provável que você tenha alguma resistência a esclarecer e organizar a caixa de entrada, pois sabe que boa parte daquela tralha deve ser transferida para outro local. Muitos dos meus clientes redesenharam o escritório de forma que houvesse uma quantidade satisfatória de gaveteiros ao alcance da cadeira giratória em vez de no outro lado da sala. Organize um sistema alfabético. Mantenha um sistema de arquivamento alfabético. As pessoas tendem a usar seus arquivos como sistema de gerenciamento pessoal e os organizam por projetos ou áreas de foco. O problema é que, se você esquecer em qual categoria guardou tal documento, os lugares onde terá que procurar aumentarão em progressão geométrica. Você tem liberdade de acumular quanta tralha quiser, mas deve pensar se há espaço disponível para armazenamento e acesso fácil à informação, quando necessário. O sistema alfabético arquiva tudo por tópicos, pessoas, projetos ou empresas, de modo que o documento possa estar em três ou quatro lugares, caso você esqueça onde guardou. Cada categoria pode reunir um subconjunto de tópicos, como “Decoração – sofás”, “Decoração – papéis de parede” e “Decoração – ideias”. Tudo ficaria localizado na letra D. Usar um arquivo de referência geral simples, eficiente e facilmente acessível lhe dá liberdade para manter quanta informação você desejar. O sistema digital fornece a vantagem do mecanismo de busca, além da capacidade de categorizar o conteúdo por meio de palavras-chave a fim de facilitar ainda mais a recuperação. No entanto, com tantas opções e locais para armazenamento, isso pode aumentar a complexidade e a confusão. Embora o computador nos dê amplo poder e flexibilidade e possibilite a criação de uma grande biblioteca de referência, ele também dificulta a formatação simples e eficaz de informações de referência. Mesmo no contexto digital, é muito útil dispor de um mapa visual categorizado por índices ou grupos de dados, geralmente organizado em ordem alfabética. Para localizar um livro de suspense, por exemplo, entro no meu sistema, onde encontro “Livros”, depois “Gêneros”, depois “Suspense” – tudo em ordem alfabética dentro de cada nível de abstração. O principal problema para pessoas com alta propensão digital é que a facilidade de captura e armazenamento faz com elas apenas capturem informações, sem acessá-las ou usá-las com inteligência. É preciso certo esforço mental para manter uma enorme biblioteca digital funcionando em vez de criar um buraco negro de dados facilmente descartáveis. Recusar-se a organizar sua tralha porque o mecanismo de busca pode encontrar o que você quiser encontrar é uma atitude ruim. Precisamos dispor de meios para refletir sobre a massa de informações capturadas com alguma forma de categorização eficaz. Com frequência, o material de referência é tão volumoso que seria melhor arquivá-lo num local específico. Mas, se for pouca coisa, recomendo incluí-lo no sistema alfabético. No meio digital, talvez mereça seu próprio lugar num subdiretório. Facilite a criação de uma nova pasta. Novas pastas são úteis para esclarecer a caixa de entrada. Não há nada pior que ter algo para arquivar e não dispor de pastas suficientes. Sempre tenha um estoque de segurança. Já no computador, você deve ser capaz de criar um novo diretório em seu software de armazenamento a qualquer instante. Certifique-se de ter espaço suficiente. Procure manter seu gaveteiro ocupado com menos de três quartos da capacidade. Se pastas e gavetas estiverem muito entulhadas, você inconscientemente resistirá a enchê-las ainda mais, então nada será arquivado com eficiência. Se uma gaveta começar a ficar cheia, esvazie-a enquanto fala ao telefone. Essa é também uma boa ocasião para esvaziar e refletir sobre seus dispositivos digitais. As gavetas de arquivo normalmente estão abarrotadas. Se você deseja insistir no sistema, mantenha-as vazias o suficiente a fim de poder guardar e retirar pastas sem esforço. A versão digital dessa recomendação é garantir espaço livre na memória do computador ou na nuvem. Para isso, é preciso que você reavalie suas necessidades de espaço. Aproveite os intervalos entre reuniões para esvaziar as pastas de e-mails ou os diretórios de antigos documentos. Algumas pessoas reagem a essa situação comprando mais gaveteiros ou inserindo mais memória no disco rígido. Pense que, se vale a pena guardar a tralha, também vale a pena mantê- la acessível, certo? Senão, para que gastar espaço com ela? Talvez notas sobre projetos concluídos e arquivo “morto” de clientes possam ser guardados em locais menos acessíveis, como na nuvem ou fora da área de trabalho. Divida suas pastas em categorias com etiquetas. Pastas devidamente etiquetadas são muito mais convenientes e acessíveis, inclusive em mesas de reuniões, onde qualquer um pode identificá-las; e também, ao abrir o gaveteiro, você pode deparar com o índice impresso de todas as pastas, em ordem alfabética. Você domina as coisas que nomeia. Mas a tralha capturada não nomeada domina você. Use as etiquetas e assuma o controle. Para que todo o sistema funcione, ele deve ser capaz de arquivar qualquer coisa a qualquer momento. Se você precisar categorizar alguma coisa e não tiver etiquetas à mão, acabará empilhando o material em vez de arquivá-lo. As etiquetas são uma ferramenta tão importante quanto o grampeador. Na zona de fogo do trabalho real, se você demorar mais de 60 segundos para arquivar alguma coisa onde ela deve ficar, você não está arquivando, e sim “empilhando”. Descarte arquivos pelo menos uma vez por ano. De vez em quando, faça uma limpeza em seus arquivos para evitar que seu gaveteiro pareça umburaco negro. A “faxina” também garante a liberdade de guardar qualquer coisa “para o caso de precisar dela no futuro”. Esse critério se aplica tanto ao material de referência digital quanto ao físico. Todas as empresas deveriam instituir o “dia da faxina”, quando os funcionários poderiam vestir roupas informais, tirar o telefone do gancho e refletir sobre toda a tralha armazenada.12 Lixeiras, recipientes para material reciclável e picotadeiras de papel são itens indispensáveis. O dia da faxina é uma data que pode ser mantida no sistema de lembretes. O arquivamento como fator de sucesso Os materiais de referência e apoio quase nunca precisam ser recuperados com urgência ou têm importância estratégica. Por isso muitas vezes seu gerenciamento é relegado a segundo plano. O problema é que seu espaço de trabalho mental e físico fica entulhado de tralha que não demanda ação, ainda que seja relevante e útil. Se as pendências não foram resolvidas logo, sua consciência começará a atormentá-lo. A partir do momento em que itens diferentes são empilhados no mesmo local, é muito trabalhoso pensar o tempo todo a que categorias pertencem, então seu cérebro passa a ignorar as pilhas. Os materiais de referência devem ser guardados e organizados de acordo com os próprios limites para que não se misturem e não se confundam com outras categorias. Como podem ser volumosos, é fundamental que sejam gerenciáveis com facilidade – para capturar, classificar e buscar a qualquer momento o que for necessário – e que não interfiram nos componentes que demandam ação. Limpar e organizar um sistema de referência a fim de torná-lo simples e funcional libera sua atenção para coisas mais importantes. UMA ÚLTIMA COISA… Você já programou a agenda, já organizou a área de trabalho e já tem as ferramentas básicas para começar a implementar o método GTD. E agora? Se você se comprometeu a configurar seu sistema de fluxo de trabalho, o próximo passo o tornará eficaz: você deverá se livrar de qualquer outro compromisso que possa interferir na execução dessa ação. Se precisar ligar para alguém imediatamente, tiver algo a ser delegado à secretária ou qualquer assunto a tratar com o cônjuge, faça-o agora. Ou defina para si mesmo quando fazê-lo, colocando um lembrete em lugar seguro. É fundamental que você concentre toda a atenção no que estiver fazendo. Meus clientes quase sempre tiveram que se programar antes de começar os trabalhos. Essa tendência denuncia certa falta de consciência e maturidade em nossa cultura, pois é inadmissível que tanta gente delegue tantas responsabilidades à própria consciência ou à sua base operacional. Então, já cuidou de tudo? Ótimo. Agora é hora de reunir todos os seus laços abertos em um só lugar. CAPÍTULO 5 Capturar: juntando a “tralha” No Capítulo 2, descrevi como capturar seus inputs. Este capítulo o conduzirá mais a fundo no processo de reunir num só lugar todos os itens que ainda não foram esclarecidos – a caixa de entrada. Esse é o primeiro passo importante para alcançar o estado da “mente clara como água”. Se você conseguir reunir um pouco mais do que normalmente faz, já sentirá um estímulo. Por outro lado, se persistir o suficiente e completar o processo de captura, o resultado provocará uma mudança tão drástica em sua experiência que lhe fornecerá um novo ponto de referência para dar conta de todos os seus afazeres. A fase da captura costuma levar de uma a seis horas, embora isso varie de pessoa para pessoa. Talvez demore mais caso você queira realizar o processo no escritório, em casa e em mais outro lugar. Isso significa vasculhar todas as áreas de armazenamento, inclusive computadores, dispositivos móveis, carros, barcos, garagens e casas de veraneio, se houver. Até capturar tudo aquilo que prende sua atenção, alguma parte em seu ser ainda duvidará que você esteja considerando o contexto geral. Se você dedicar pelo menos duas horas do seu dia a lidar com esse problema, conseguirá identificar grande parte das pendências. E até poderá capturar o restante, marcando anotações, como “Esvazie e defina o que fazer com as prateleiras do barco” ou “Não se esqueça de arrumar o armário do corredor”. No mundo real, é bem provável que você não consiga capturar 100% da tralha o tempo todo. Passará de um tópico a outro com muita rapidez e se comprometerá com muitas coisas para conseguir capturar todas as suas ideias externamente. Esse padrão deverá mantê-lo motivado a sempre esvaziar a cabeça de tudo que chama sua atenção. PREPARAR, APONTAR… Há muitas razões para capturar tudo antes de começar a esclarecer: 1. É bom que você tenha noção do volume de tralha que pretende reunir. 2. A noção deixa você ciente de quando a tralha acaba. 3. Quando você está esclarecendo e organizando, não pode ser distraído por uma grande massa de tralha. Uma vez que tenha reunido toda a tralha que chama sua atenção num só lugar, seu foco e seu controle melhorarão automaticamente. Capturar num lugar só, de uma vez, tudo que houver de pendente na sua cabeça talvez seja assustador. Pode até parecer um pouco contraintuitivo, já que grande parte da tralha não era, e não é, “tão importante”, por isso continua vagando pela sua mente. Não era urgente quando apareceu pela primeira vez, e é provável que não seja, já que ainda não foi esclarecida. É o cartão de visita que você coloca na carteira porque talvez precise contatar essa pessoa no futuro. É aquele aparelho cuja peça se soltou e você guardou no fundo da gaveta. É a impressora que um dia você mudará de lugar no escritório. São as coisinhas que cutucam a sua cabeça, mas continuam pendentes, porque você ainda não as resolveu. Mas, como você acha que elas ainda podem ser importantes, essa massa de tralha o incomoda e suga cada vez mais sua energia. Você só pode se sentir bem em relação ao que não está fazendo quando sabe tudo o que não está fazendo. Portanto, está na hora de começar. Pegue sua caixa de entrada e um bloco de anotações e vamos… … CAPTURAR! Captura física Vasculhe o ambiente em busca de qualquer coisa fora do lugar e coloque-a na caixa de entrada. Você reunirá coisas pendentes, coisas que requerem uma decisão ou ação. Todas devem ser transferidas para a caixa de entrada para que sejam esclarecidas mais tarde. O que deve ficar onde está A melhor maneira de decidir sobre se alguma coisa deve ser transferida para a caixa de entrada é compreender o que não deve ir para lá. Aqui estão quatro categorias de coisas que podem permanecer onde estão: • Suprimentos • Material de referência • Objetos decorativos • Equipamentos Suprimentos. Inclui tudo que é usado com regularidade. Papéis de carta, cartões de visita, carimbos, grampos, post-its, clipes, recargas de caneta, pilhas, formulários, elásticos – tudo isso entra nessa categoria. Muita gente mantém uma gaveta de “suprimentos pessoais”, com fio dental, lenços de papel e outros itens de higiene pessoal. Material de referência. É qualquer coisa que possa ser consultada em algum momento no futuro, como manuais técnicos, cardápios de restaurantes e lanchonetes, calendário de atividades dos filhos, listas de ramais da empresa. Também inclui números de telefone e endereços, conteúdos relevantes para projetos em andamento e obras de referência, como dicionários, enciclopédias, almanaques, além de livros e revistas que compõem sua biblioteca. Objetos decorativos. Fotografias da família, miniesculturas, bonecos divertidos, mensagens inspiradoras afixadas no seu quadro de avisos. Também se enquadram aqui placas, suvenires e plantas. Equipamentos. Telefone, computador, impressora, scanner, lixeira, mesa, prateleiras e armários, relógio, material de papelaria e blocos de anotações. Com certeza você tem alguns dos objetos que se encaixam nessas quatro categorias – basicamente, todas as ferramentas e equipamentos que não necessitam de ações. Tudo o que demanda ação vai para a caixa de entrada. Por exemplo, a maioria das pessoas tem nos gaveteiros, nas prateleiras e nos quadros de avisos, ou gravados emarquivos de computador, muitos materiais e informações que estão ultrapassados ou precisam ser organizados. Esses itens devem ir para a caixa de entrada. Da mesma maneira, se sua gaveta de suprimentos está uma bagunça, é uma pendência que precisa ser capturada. Fotos antigas dos seus filhos? Uma pintura que você não emoldurou? As lembrancinhas de viagens ainda representam alguma coisa? Os móveis estão arrumados do jeito que deveriam? O computador está configurado? As plantas não estão meio murchas? Em outras palavras, os suprimentos, o material de referência, os objetos de decoração e os equipamentos talvez também devam ficar na caixa de entrada se não estão exercendo seu papel corretamente. Questões sobre a captura Quando você se compromete com a captura, talvez depare com uma ou mais das seguintes situações: • Sua caixa de entrada fica abarrotada; • É provável que você se sinta perdido durante o processo de esvaziamento e organização; • Talvez parte da tralha já tenha sido capturada e organizada; • É provável que você dê de cara com algumas coisas importantes que devem estar acessíveis. E se algum item for muito grande para caber na caixa de entrada? Se você não conseguir pôr algo fisicamente na caixa de entrada, então anote a tralha numa folha de papel sem pauta. Por exemplo, se você tiver um pôster ou outra peça de arte atrás da porta do escritório, escreva apenas “Peça de arte atrás da porta” e coloque o papel na caixa de entrada. Não se esqueça de datá-lo! Daí decorrem dois benefícios. Se seu sistema de organização contiver apenas essas anotações, que na verdade representam outras tralhas, será útil saber quando a nota foi criada. Também é um ótimo hábito colocar a data em tudo o que você escrever, desde bilhetes para a secretária até anotações que tenha feito ao conversar ao telefone com um cliente. Se estiver usando uma ferramenta digital, nomeie o arquivo com a data em que foi salvo. Se essa informação for útil apenas três vezes, já terá valido a pena o desenvolvimento desse hábito simples. E se sua tralha ultrapassar a capacidade da caixa de entrada? Se você for como 98% das pessoas, sua atividade de captura inicial reunirá muito mais do que sua caixa de entrada pode aguentar. Nesse caso, vá empilhando tudo em torno dela ou até mesmo no chão. As pilhas serão eliminadas quando você esclarecer e organizar. Nesse meio-tempo, estabeleça alguma diferenciação visual entre as pilhas que estão na caixa de entrada e o restante. Descarte instantâneo. Se é óbvio que se trata de lixo, descarte assim que o vir. Essa ação costuma marcar o primeiro esvaziamento da mesa! Se você não tiver certeza do que fazer com determinado objeto, mantenha-o na caixa de entrada. Adie sua decisão para quando for esclarecer. Não se deixe levar pelo apego. Ao esclarecer sua tralha, você precisará de uma atitude mental muito diferente da adotada durante a fase da captura, por isso os dois estágios acontecem separadamente. Seja como for, você apenas poderá esclarecer a tralha se ela primeiro estiver na caixa de entrada, e será mais fácil escolher o que manter e o que descartar a partir do momento em que você começar a decidir sobre tudo. Cuidado com a mania de esvaziar e organizar ao mesmo tempo! Muitas pessoas desenvolvem essa mania quando começam a arrumar suas áreas de trabalho (na empresa ou em casa). Não há problema em fazer isso desde que você tenha tempo para percorrer todo o processo. Senão você terá que desmembrar a atividade em pequenos projetos ou ações, com lembretes como “Esvazie quatro gaveteiros” ou “Limpe o armário do escritório”. Nenhuma pessoa capaz de ler será bem-sucedida ao limpar o sótão. – ANN LANDERS O que você não pode fazer é se engajar em pequenas ações aqui e ali em vez de se concentrar em implementar todo o processo de gerenciamento. Talvez isso demore mais do que você imagina, deixando-o angustiado para acabar de esclarecer toda a tralha. E quanto à tralha que já faz parte de listas e organizadores? Talvez você já tenha colocado em prática algum sistema pessoal de listas e organização. Se não estiver totalmente familiarizado com esse modelo de processamento do fluxo de trabalho ou não o tiver implementado antes, recomendo que trate essas listas como itens que ainda devem ser esclarecidos, junto das tralhas da caixa de entrada. É claro que você quer que seu sistema funcione, por isso será necessário avaliar tudo sob o mesmo ponto de vista para alcançar esse resultado.13 “Mas eu não posso descartar isso!” Durante a captura, alguém pode encontrar um pedaço de papel ou um documento que contenha uma informação urgente. Pode ser o lembrete de um telefonema que deveria ter sido dado dois dias atrás ou anotações de uma reunião para lembrá-lo de algo que deveria ter sido feito há duas semanas. Com medo de se perder novamente, as pessoas às vezes colocam qualquer coisa na já enorme pilha de tralha da caixa de entrada. Se isso acontecer com você, verifique primeiro se a ação é tão urgente que precise mesmo ser feita antes de terminar essa fase inicial de implementação. Em caso positivo, aja imediatamente a fim de tirar a pendência da cabeça. Em caso negativo, coloque-a na caixa de entrada. De uma forma ou de outra, em breve tudo será esclarecido e esvaziado, então nada será perdido. Se você não puder se engajar na ação no momento ou ainda precisar manter o lembrete à vista, crie uma pilha de “emergência” acessível. Não é a solução ideal, mas tirará o peso da ansiedade de seus ombros. Comece em sua própria mesa de trabalho Tudo pronto? Ok. Empilhe na caixa de entrada tudo o que estiver pendente na sua mesa. Muitas pessoas usam a mesa inteira como caixa de entrada; se você for uma delas, terá um monte de pilhas para começar o processo de captura. Parta de uma das extremidades e, conforme for colocando as mãos nas coisas, decida se deseja mantê-las ou descartá-las. Itens que você mais deve encontrar: • Pilhas de cartas, memorandos, relatórios e material de leitura • Post- its • Cartões de visita • Recibos • Atas de reuniões Resista ao impulso de dizer: “Sei o que está naquela pilha e é lá que quero que fique.” Foi exatamente isso que não funcionou antes, portanto tudo deve ser transferido para a caixa de entrada. Todo mundo que superou a inércia e eliminou as pilhas demonstrou um enorme alívio ao terminar o processo. É fácil resistir e evitar escolher alguma coisa quando você sabe que isso exige algum esforço mental. Ao vasculhar a mesa, verifique se há itens que demandam ação. Em caso positivo, coloque-os na caixa de entrada ou escreva uma nota sobre eles. Mais uma vez, aproveite a oportunidade para limpar e organizar os gaveteiros ou, dependendo do tempo que você tiver disponível e da quantidade de tralha a ser esclarecida, simplesmente escreva lembretes. Gavetas Em seguida, ataque as gavetas, se houver, uma de cada vez. Alguma coisa prende sua atenção? Existem itens que demandam ação? Em caso positivo, coloque os itens na caixa de entrada ou escreva um lembrete. Estantes É possível que haja materiais de referência que não foram descartados nem guardados. Assim, decida logo se deve colocá-los na caixa de entrada, guardá-los no gaveteiro ou nas estantes de livros ou removê-los. Dentro dos gaveteiros Você sabe o que há nos gaveteiros? São lugares perfeitos para guardar suprimentos volumosos e materiais de referência… além de ocultarem grande quantidade de tralha. Há objetos quebrados ou obsoletos lá dentro? É nos gaveteiros que costumo encontrar lembranças antigas que já perderam o significado. O gerente de uma seguradora, por exemplo, jogou fora pelo menos três dúzias de prêmios que havia acumulado ao longo dos anos. Mais uma vez, se você precisar esvaziar e organizar os gaveteiros, retire tudo o que há dentro deles e verifique o que é ou não tralha. Considere se seus itens colecionáveis ou lembranças ainda têm algum significado para você. Pisos, paredes e prateleiras Seu quadro de avisos precisa ser atualizado? Algum papel afixado nas paredes pode ser removido? Quadros,esculturas, placas e objetos decorativos devem mudar de lugar? E nas prateleiras? Há algum livro que pode ser doado? Catálogos, manuais ou fichários que necessitem de ação? Coloque na caixa de entrada tudo o que você acha que se encaixa como tralha. Equipamentos, móveis e acessórios Quer mudar o layout da sua sala ou a disposição dos móveis? Sua área de trabalho está bem iluminada? Caso haja itens que demandem ação, você sabe o que fazer: escreva uma nota e coloque-a na caixa de entrada. Outros locais Dependendo da amplitude do processo, talvez você queira realizar a fase da captura em outros lugares onde possa acumular tralha. Se você está decidido a esvaziar a cabeça, é importante que o método GTD seja aplicado onde você achar que deve. Não permita que as coisas que você considerou “não tão importantes” arruínem sua energia e seu foco. Alguns clientes costumam me chamar em casa para que eu aplique as técnicas lá também. Em geral, trata-se de questões “não tão importantes” da vida doméstica que acabaram arruinando suas energias. Não jogue fora coisas de que você possa precisar no futuro As pessoas às vezes pensam que defendo um minimalismo radical. Ao contrário, se você se sentir mal ao descartar alguma coisa, você deve mantê-la.14 Senão sua atenção se voltará para o fato de que agora você não tem mais algo de que talvez precise no futuro. Avalie e organize tudo que mantiver em seu ecossistema para que nada interfira no seu foco. Considere seu espaço disponível e estabeleça as prioridades, a fim de que os projetos importantes não fiquem soterrados junto ao que não é relevante. Não há problema em manter seus objetos queridos, desde que fiquem no lugar certo e sejam esclarecidos da maneira adequada. Captura mental: a varredura da mente Uma vez que você tenha capturado toda a sua tralha física, é hora de capturar também o que há no seu espaço mental. O que ainda capta a sua atenção e não está na caixa de entrada? É aqui que o papel entra em ação. Anotar cada pensamento, ideia, projeto ou item numa folha de papel separada é melhor que listar todos os itens num bloco ou no aplicativo de sua preferência, pois você irá esclarecer um de cada vez. Dar a cada ideia um marcador próprio facilita muito o trabalho. E a primeira ideia capturada raramente é a última a ser monitorada. Depois da captura, você levará de 20 minutos a uma hora para esvaziar a cabeça e anotar num papel as tralhas que o atormentam. Nesse caso, busque a quantidade. É melhor cometer excessos que correr o risco de perder uma informação importante. O lixo não tem hora para ser descartado. Capture desde as grandes ideias até as mais triviais. Não fique surpreso quando deparar com uma caixa de entrada exorbitante durante essa fase do processo. Lista de gatilhos Para ajudá-lo a esvaziar a cabeça, considere a Lista de Possíveis Pendências a seguir. Basta uma cutucada no cérebro para você descobrir que há algo oculto ali dentro. Lembre-se: quando um pensamento lhe ocorrer, anote-o no papel e deixe-o na caixa de entrada. Lista de Possíveis Pendências Assuntos profissionais Projetos iniciados e não concluídos Projetos ainda a iniciar Projetos de pesquisas Projetos sobre os quais deve refletir Compromissos/promessas Chefe/sócios Colegas Subordinados Pessoas de fora Clientes Outras empresas Profissionais Fornecedores Comunicações Internas/externas Iniciar ou responder a: Telefonemas Mensagens de voz E-mails Mensagens de texto Cartas Postagens em mídias sociais Outros trabalhos escritos a terminar Relatórios Avaliações/reflexões Propostas Artigos Materiais de marketing Manuais de instruções Informativos Reedições Relatórios de status Acompanhamento de conversas e comunicações Reuniões a serem marcadas/solicitadas Decisões sobre quem deve saber o quê Leituras/resenhas importantes Financeiros Caixa Orçamentos Previsões/projeções Lucros e prejuízos Balancete Previsões Linhas de crédito Bancos Contas a receber Contas a pagar Dinheiro em caixa Investidores Gestão de ativos Planejamento/organização Planejamento formal (objetivos, metas, alvos) Projetos em curso (próximos passos) Planejamento de negócios Planejamento de marketing Planejamento financeiro Iniciativas organizacionais Próximos eventos Reuniões Apresentações Conferências Estrutura organizacional Reformas Instalação de novos sistemas/equipamentos Viagens Férias Viagens a negócios Desenvolvimento organizacional Organograma Reestruturação Funções Descrições de cargos Instalações Novos sistemas Liderança Iniciativas de mudança Planejamento de sucessão empresarial Cultura organizacional Marketing/promoção Campanhas Materiais Relações públicas Administração Legal Seguro Pessoal Provimento Políticas/procedimentos Treinamento Equipe Admissões/demissões/promoções Revisões Comunicação Desenvolvimento da equipe Remuneração Feedback Moral Vendas Clientes Prospecção de novos clientes Liderança Processo de vendas Treinamento Construção de relacionamentos Relatórios Acompanhamento de relacionamentos Atendimento ao cliente Sistemas Dispositivos móveis Telefones Computadores Softwares Bancos de dados Telecomunicações Internet Arquivos e referências Inventários Armazenamento Escritório/site Espaço/organização Mobiliário Equipamentos Decoração Utilidades Suprimentos Manutenção/limpeza Segurança Reuniões Próximas A serem marcadas/solicitadas A serem revisadas Desenvolvimento profissional Treinamento/palestras Coisas a aprender Coisas a descobrir Competências a praticar/desenvolver Livros a ler/estudar Pesquisa Educação formal Análise da carreira Currículo Objetivos a desempenhar Roupas profissionais À espera… Informações Ações e projetos delegados Complementos críticos para projetos Respostas a perguntas Responder a: E-mails Cartas Propostas Telefonemas Convites Requisições Reembolsos Sinistros de seguros Itens pedidos Reparos Tíquetes Outras decisões Assuntos pessoais Projetos iniciados e não concluídos Projetos a iniciar Projetos – outras organizações Serviços Comunidade Voluntariado Instituições religiosas Compromissos/promessas Parceiro/cônjuge Filhos Pais Família Amigos Profissionais Itens a devolver Dívidas Comunicações Telefonemas E-mails Cartões e cartas Agradecimentos Textos Postagens em mídias sociais Próximos eventos Aniversários Datas comemorativas Casamentos Formaturas Recepções Escapadas Feriados Férias Viagens Jantares Festas Eventos culturais Eventos esportivos Administração Itens para home office Equipamentos Telefones Dispositivos móveis Mídia audiovisual Mensagens de voz Computadores Softwares Internet Arquivos e registros Armazenamento de dados/backup Lazer Livros Música Vídeo Viagens Lugares a visitar Pessoas a visitar Navegação na web Fotografia Equipamentos esportivos Passatempos Culinária Recreação Financeiros Contas Bancos Investimentos Empréstimos Impostos Orçamento Seguros Hipoteca Escrituração Contadores Animais de estimação Saúde Educação Suprimentos Jurídicos Testamentos Fideicomissos Espólio Assuntos legais Projetos e atividades em família Parceiro/cônjuge Filhos Pais Parentes Casa/negócios domésticos Imóvel Reparos Construção Reforma Senhorio Condicionadores de ar Encanamento Utilidades Telhado Paisagismo Entrada para carros Garagem Paredes Pisos Tetos Decoração Mobiliário Eletrodomésticos Iluminação e instalações elétricas Utensílios de cozinha Lavanderia Organização e limpeza Armazenamento Prestadores de serviços Saúde Médicos Dentistas Oftalmologistas Paramédicos Checkups Dieta Alimentação Exercícios físicos Desenvolvimento pessoal Cursos Palestras Educação Coaching/treinamento corporativo Carreira Expressões criativas Transportes Carros Bicicletas Manutenção Reparos Meios de transporte Vestuário Profissional Casual Formal Esportivo Acessórios Bagagem Reparos Sob medida Em trânsito Compras Lojas Ferragens Suprimentos Mercearias Presentes Farmácia Bancos Limpeza Reparos Comunidade Bairro Vizinhos Serviços Escolas Cidadania Votações À espera Pedidos de produtos Reparos Reembolsos Itens emprestados Informações Confirmações de convites Projetos/ações complementadaspor familiares e amigos O BACKLOG DA CAIXA DE ENTRADA Se sua cabeça estiver livre de pendências, tanto da vida pessoal quanto da profissional, é provável que sua caixa de entrada esteja transbordando. Além dos papéis e de outros itens físicos, a caixa de entrada deve incluir mensagens de voz e e-mails que ainda não foram deslocados para pastas específicas. Quaisquer anotações em calendários e listas sem próximas ações definidas também entram nela. A etapa de captura está completa quando você facilmente pode ver reunido tudo o que ainda chama sua atenção. Em geral, recomendo que as pessoas transfiram as mensagens de voz para folhas de papel e as coloquem na caixa de entrada, junto de qualquer conteúdo que precise ser reavaliado. Se você costuma usar aplicativos digitais, sugiro que imprima todas as listas e as coloque na caixa de entrada. É melhor deixar os e-mails no formato digital, por causa da quantidade e por ser mais eficaz lidar com eles em seus próprios subsistemas. A caixa de entrada não deve permanecer cheia Depois de ter feito tudo isso, você já está pronto para dar o próximo passo. Não deixe que as tralhas se acumulem na caixa de entrada por tempo indefinido, pois, assim, as pendências voltariam a atormentá-lo, uma vez que sua mente perceberia que você não as resolveu. As pessoas resistem tanto à fase de captura porque a falta de um bom treinamento de esclarecimento e organização as faz retornar à estaca zero. Isso nos leva ao próximo capítulo. CAPÍTULO 6 Esclarecer: esvaziando a caixa de entrada Depois de capturar todas as tralhas, você deve agora se aprofundar mais na caixa de entrada. Esvaziá-la não significa se engajar em ações e projetos capturados, e sim identificar cada item e definir sua natureza, seu significado e o que fazer com ele. Para uma visão geral do processo, talvez seja útil consultar o Diagrama do Fluxo de Trabalho da página seguinte. O eixo central ilustra todos os passos que você deve considerar quando for esclarecer a tralha e decidir quanto às próximas ações. Este capítulo se concentra nos componentes desse eixo do diagrama, os passos que se estendem de “Caixa de Entrada” até “Qual é a próxima ação?”. Você logo perceberá a organização natural que resulta do esclarecimento de cada laço aberto. Por exemplo, ao esclarecer alguma tralha da caixa de entrada, você pode se lembrar de que precisa telefonar para Andréa, mas apenas na segunda-feira, quando ela estará no escritório. Então adiará a ação imediatamente, anotando esse compromisso no calendário. É altamente recomendável que, antes de esclarecer o que capturou, você leia este capítulo e o próximo, sobre organizar suas ações. Talvez isso lhe poupe alguns passos. Durante esse processo, as pessoas vão e voltam entre o simples estágio de tomada de decisões – o esclarecimento dos laços abertos – e o complicado, de definir a melhor forma de introduzir essas decisões em seus sistemas de organização específicos. Muitos dos meus colegas de trabalho, por exemplo, sincronizam seus dispositivos móveis com o aplicativo de gestão empresarial. A primeira coisa a fazer (depois de capturar a tralha na caixa de entrada) é certificar-se de que hardware e software estão funcionando. Em seguida, limpamos (em geral, imprimimos e apagamos) tudo aquilo que tentamos organizar antes, com a ajuda das listas, e transferimos para a caixa de entrada. Então estabelecemos algumas categorias funcionais, como “Telefonemas”, “Em trânsito”, “Agendas”, “Computador”, etc. Quando começar a esclarecer a caixa de entrada, você pode ir direto para o computador e digitar essas ações no sistema do qual dependerá. Se ainda não souber direito o que usará como sistema de lembretes, não se preocupe. Você pode começar com algumas folhas soltas ou o que quer que esteja usando para fazer as listas. E sempre há condições de melhorar as ferramentas depois, quando já tiver implementado o sistema. DIAGRAMA DO FLUXO DE TRABALHO – ESCLARECIMENTO DIRETRIZES PARA ESCLARECER A melhor maneira de aprender este modelo é colocando-o em prática. Mas algumas regrinhas devem ser observadas: • Esclareça o primeiro item primeiro. • Esclareça um item de cada vez. • Nunca ponha nada de volta na caixa de entrada. O primeiro item primeiro Mesmo que o segundo item seja um pedido do presidente e o primeiro, lixo eletrônico, você deve esclarecer o lixo eletrônico antes de qualquer outra coisa! Este princípio é importante: tudo deve ser esclarecido da mesma maneira. Esclarecer não significa “gastar tempo”, e sim “determinar a pendência, decidir qual é a próxima ação e, então, se engajar nela”. De qualquer forma, você acabará com a pilha na caixa de entrada e não deixará nada sem esclarecer. Esclarecer não significa “gastar tempo”. Identificar emergências não é esclarecer A maioria das pessoas costuma priorizar as pendências mais urgentes, mais divertidas, mais fáceis ou mais interessantes. “Identificar emergências” às vezes é bom e necessário. Talvez você tenha acabado de voltar de uma reunião fora da empresa e precise participar de uma longa teleconferência que começará em 15 minutos. Então você abre a caixa de e-mail para verificar se não há nenhuma bomba prestes a explodir e se o cliente já lhe respondeu. Mas isso não é esclarecer a caixa de entrada; é apenas identificar emergências. Para esclarecer, você deve cultivar o hábito de verificar um item de cada vez, na ordem. À medida que você quebra a regra e esclarece apenas o que quer, aleatoriamente, acabará deixando algum item para trás. Desse jeito, você não terá mais como filtrar suas pendências e passará a acumular “restos” da caixa de entrada. Muitas pessoas somente identificam emergências, distraindo-se sempre com um novo input e ficando nervosas quando não podem verificar os e-mails e os dispositivos móveis. Se elas soubessem que, ao dedicarem um tempo para esclarecer, a caixa de entrada ficará vazia em um ou dois dias, não se deixariam dominar pela necessidade de verificá-la toda hora. Pilha ou fila? Teoricamente, você deveria esclarecer primeiro a primeira coisa que entrou na caixa de entrada. Se você seguir a ordem, não fará muita diferença. De uma forma ou de outra, todos os itens serão verificados. No caso dos e-mails, você descobrirá que é mais eficiente esclarecer primeiro o último que chegou, já que as mensagens se concentram todas na mesma conversa. Do contrário, você poderia responder a algo que já foi resolvido, antes de compreender toda a discussão. A caixa de entrada é uma estação de esclarecimento, não de armazenamento. Um item por vez Ao esclarecer a caixa de entrada, você pode pegar um item, ficar em dúvida sobre o que fazer com ele e então permitir que seus olhos sejam distraídos por outro bem abaixo na pilha. Talvez o que está mais embaixo lhe pareça mais atraente porque você já sabe como lidar com ele – e está com preguiça de refletir sobre aquele primeiro que você tinha em mãos. Se você deixá-lo de lado para dar preferência ao outro mais fácil, talvez ele acabe numa pilha qualquer. Não faça isso. Pensar sobre as coisas que você acumulou geralmente não acontece de forma natural, espontânea. Você deve aplicar um esforço consciente para se obrigar a pensar, como ao fazer exercícios ou limpar a casa. Muitas pessoas também têm mania de esclarecer a pilha inteira de uma vez só. Embora eu mesmo me identifique com esse método, devo ressaltar que é melhor esclarecer os itens na ordem em que eles aparecem na caixa de entrada – primeiro o de cima. Quando você se concentra apenas nele, acaba direcionando a atenção e a tomada de decisões. E, se for interrompido, não deparará com inúmeros itens da caixa de entrada espalhados aleatoriamente. A exceção multitarefa Há uma exceção sutil à regra “um item de cada vez”. Algumas pessoas de fato precisam de um tempo para tomar uma decisão. Quando isso acontece, elas podem tentar esclarecer dois ou três itens por vez. Assim, é mais fácil e mais rápido decidir acerca da próxima ação. Lembre-se: a multitarefa é uma exceção e só funciona sevocê for disciplinado o suficiente para trabalhar os itens naquela ordem e nunca adiar uma decisão por mais que um ou dois minutos. Não há retorno A tralha da caixa de entrada tem apenas um caminho a percorrer: a saída. Embora, na verdade, seja uma má ideia, é isso que quer dizer “lidar com as pendências apenas uma vez”. Seguindo essa regra, você não precisaria fazer listas nem deixá-las na caixa de entrada, pois resolveria tudo assim que detectasse o problema. Por outro lado, suas próximas ações também seriam ineficientes, já que é difícil saber o que fazer de imediato. Por isso aconselho que você pare de retirar da caixa de entrada os itens que ainda não definiu ou cujas próximas ações desconhece. Deixe-os onde estão. Uma recomendação melhor seria: quando for esclarecer uma pendência, decida logo o que fazer a respeito e onde deixá-la. Nunca a devolva para a caixa de entrada. Pesquisadores já comprovaram a existência da “fadiga de decisão”: toda decisão que você toma, pequena ou grande, diminui um pouco a capacidade de seu cérebro. Decidir “não decidir” acaba por drenar o tanque de combustível psicológico. A PRINCIPAL QUESTÃO NA HORA DE ESCLARECER: QUAL É A PRÓXIMA AÇÃO? Você entendeu o recado: esclareça apenas um item por vez. E decida sobre a próxima ação de cada um. Pode parecer fácil – e é –, mas isso exige que você raciocine com rapidez. Na maioria das vezes, a ação terá que ser definida. Sou meio como um mosquito num campo de nudismo: sei o que quero fazer, mas não sei por onde começar. – STEPHEN BAYNE Em relação ao primeiro item, por exemplo, caso haja alguma ação em que se engajar, a própria natureza determinará o próximo conjunto de opções. E se você achar que não há mesmo nada a fazer quanto a isso? E se a tralha não demandar ação? Às vezes parte do conteúdo da caixa de entrada pode não exigir ação. Nessa categoria se encaixam: • Lixo • Incubação • Referência Lixo Se você vem adotando o método GTD, já deve ter descartado um monte de tralha. Também deve ter deixado na caixa de entrada materiais de que você nunca mais irá precisar. Não se surpreenda, portanto, se ainda houver muito mais a jogar fora quando for esclarecer a tralha. Esclarecer tudo o tornará mais consciente sobre o que você vai fazer e o que não deveria estar fazendo. Um diretor com quem trabalhei uma vez acumulara tantos e-mails inúteis (milhares!) que o método GTD o obrigou a “fazer uma dieta saudável” sobre o que ele permitiria manter como pendência e o que deveria jogar fora. É provável que em determinado momento você depare com a questão de manter ou não algo para referência futura. Você pode lidar com essa situação de duas maneiras: • Na dúvida, descarte. • Na dúvida, guarde. Escolha. Confie na sua intuição e seja realista quanto ao espaço disponível para guardar a tralha. Muitas pessoas ficam angustiadas ao tomar essa decisão porque nunca tiveram um sistema tão funcional assim. Você deve saber a diferença entre suprimentos e materiais de referência e separar o que exige ação imediata; então, se seu sistema de referências for simples e funcional, você poderá guardar quanto material quiser. Como não demandam ação, é só uma questão de espaço físico e logística. Arquivistas podem lhe oferecer diretrizes mais detalhadas sobre como organizar documentos de forma eficaz, e contadores podem lhe dizer até quando guardar certos recibos e contas pagas. Classifique a tralha de acordo com o que exige e o que não exige ação. Uma vez que uma ação imediata não seja necessária, muitas alternativas são possíveis, considerando suas preferências pessoais e sua capacidade de armazenamento. Informações de mais geram os mesmos resultados que informações de menos: você não tem o que precisa quando e na forma que precisa. O mundo digital cria mais oportunidades e desafios sobre o que manter e o que descartar. Como podemos aumentar a memória do computador e a capacidade de armazenamento na nuvem, a boa notícia é que sempre haverá espaço para guardar toda a nossa tralha. Além disso, o recurso de busca também tem se desenvolvido bastante. Mas há um porém: essas duas tendências geram um arquivamento indiscriminado, além de aumentar o volume de pastas e atrapalhar a organização dos documentos. Como o armazenamento digital se tornou quase automático, é fácil estabelecer um ambiente de inputs constantes que acabará por não ter utilidade nenhuma. Desse jeito, você cria uma biblioteca tão grande e opressiva que limita sua capacidade de torná-la funcional. A solução aqui é buscar e descartar informações ultrapassadas, além de filtrar a caixa de entrada, à medida que você esclarece os inputs. Pense se determinado arquivo será realmente útil ou se pode acessá-lo pela internet caso necessite. Incubação Sua caixa de entrada pode conter itens que não precisam de ação imediata, mas talvez venham a precisar no futuro. Veja se você se identifica com alguma dessas situações: • Um e-mail com um convite para uma palestra que acontecerá daqui a duas semanas a que talvez você queira assistir, mas não tem certeza se poderá comparecer. • Uma reunião do conselho programada para daqui a três semanas. Não requer ação imediata, a não ser anotar o compromisso no calendário e lembrar-se de consultá-lo na véspera. • O anúncio do lançamento do novo modelo do seu celular. Você precisa mesmo dessa versão? Se ainda não sabe, pense no assunto por mais uma semana. • Ocorreu-lhe uma ideia que talvez você queira apresentar na próxima convenção de vendas. Não há o que fazer neste momento, mas você gostaria de ser lembrado a tempo de começar a se preparar. • Um lembrete sobre a próxima turma do curso de pintura, pois você está sem tempo de frequentar agora. O que fazer nesses casos? Você tem duas opções: • Anotar suas pendências na categoria Algum dia/Talvez. • Anotar os compromissos no calendário ou as ideias no arquivo de referência rápida. Esses procedimentos de incubação lhe oferecem um meio de esvaziar a cabeça imediatamente, além de tranquilizá-lo, já que o lembrete da ação emergirá no momento adequado. O Capítulo 7, sobre organização, tratará do assunto em mais detalhes. No momento, basta colar um post-it nesses itens e rotulá-los como “talvez” ou “lembrar em 17 de outubro”, para posterior classificação.15 Não há problema em decidir não decidir sobre alguma coisa. Você só precisa de um sistema assim para clarear sua mente. Referência Há muitas tralhas que não demandam ação, mas podem servir como informação útil sobre projetos e tópicos. O ideal é que você já tenha configurado um sistema de arquivamento eficaz (conforme descrito no Capítulo 4) para seu material de referência e apoio. À medida que for adicionando tralha na sua caixa de entrada e deparando com novos e-mails na caixa de correio eletrônico, arquive o que quiser manter como referência e apoio. Você provavelmente irá descobrir quantas coisas deveriam ter sido guardadas mas acabaram amontoadas em pilhas ou entulhadas em gavetas porque seu sistema de referência era formal demais ou não existia. Lembre-se de que um sistema de arquivamento de referências gerais, no qual os itens são bastante acessíveis e podem ser recuperados em menos de 60 segundos, é um componente muito importante para a implementação do método. Se o processo de arquivar alguma coisa não for fácil e rápido, você simplesmente a empilhará ou a jogará na caixa de entrada em vez de organizá- la. Assim, será muito mais difícil esclarecê-la. Quando você deparar com alguma coisa que queira guardar, categorize-a, coloque-a numa pasta devidamente etiquetada e insira a pasta no gaveteiro. Você também pode colar um post-it nela. Ou então classifique-a em pastas e subpastas no computador. Se você não introduzir logo o item no sistema, talvez nunca o faça. Quanto aos inputs digitais, há várias soluções. Se você quer guardar apenas um e-mail para recuperar mais tarde, sugiro que use as pastas disponíveis nos aplicativos de e-mail. As pessoas costumam deixar os e-mails que não demandam ação imediata soltos na caixa deentrada, entulhando o sistema. Sinta-se à vontade para criar um arquivo de referência específico para um novo tópico, tema, pessoa ou projeto e arraste o e-mail para dentro dele. No caso de documentos, anexos, textos e gráficos, será preciso desenvolver os próprios critérios de arquivamento. Há inúmeros sistemas de armazenamento em nuvem, assim como aplicativos acessíveis de vários dispositivos. O poder, a variedade e o avanço da tecnologia podem também não ser os melhores meios para você. Cada um deve experimentar, ajustar e personalizar as bibliotecas digitais para que atendam às necessidades individuais. A solução mais eficaz é refletir regularmente sobre os dados a serem esclarecidos e arquivados, assim como sobre os critérios de organização, para mantê-los atualizados, acessíveis e úteis. Mais uma vez, você deve pensar se seu sistema de referência e conteúdo ainda exigirá atenção. Em caso positivo, crie um projeto e defina a próxima ação. Se a tralha demandar ação, qual será ela? Talvez essa seja a principal técnica do método GTD. Se algo deve ser feito em relação a um item na caixa de entrada, defina exatamente qual é a próxima ação. “Próxima ação” é a atividade física necessária para orientar a situação rumo à conclusão. Isso é mais fácil e mais difícil do que parece. Executar uma atividade objetiva e definida, com começo e fim, equilibra a complexidade que frequentemente atormenta a minha vida. Santa simplicidade. – ROBERT FULGHUM A próxima ação deve ser fácil de definir, mas de vez em quando é necessário fazer certa reavaliação e tomar algumas providências práticas para que você seja capaz de determinar as condições exatas para concluir o item, mesmo que seja uma simples tarefa. Veja alguns exemplos de situações típicas que exigem atenção: • Limpar a garagem • Declarar o imposto de renda • Participar de uma conferência • Ir à festa de aniversário do vizinho • Enviar um release à imprensa • Avaliar o desempenho • Mudar a administração Embora cada item pareça bastante definido como projeto, determinar a próxima ação exigirá alguma reflexão. A próxima ação precisa ser a próxima coisa física a fazer Lembre-se de que essas devem ser atividades físicas visíveis. Muitas pessoas acham que podem definir como próxima ação “marcar uma reunião”. Mas isso não é a próxima ação, pois não descreve um comportamento físico. Como você marca uma reunião? Bem, poderia ser por telefone ou e-mail, mas quem deve convocar? Decida. Se não decidir agora, terá que fazê-lo em algum momento, já que o objetivo desse processo é levá-lo a refletir sobre esse item. Caso você ainda não tenha identificado a próxima ação física necessária, ocorrerá um hiato psicológico toda vez que pensar nela. Você resistirá a essas cobranças, o que o levará a adiar as decisões. Até saber qual é a próxima ação física, você deve pensar mais antes que qualquer coisa aconteça – antes que você se comprometa de fato. No momento em que você pegar o telefone para convocar alguém para uma reunião ou abrir o e-mail para enviar um release, já deve ter concluído todo o raciocínio, de modo que possa usar as ferramentas de que dispõe e o local onde se encontra para fazer acontecer, depois de ter definido o que precisa ser feito. E se você pensar: “A próxima coisa que preciso é decidir o que fazer sobre isso”? Não se engane. O ato de decidir não é de fato uma ação, porque as ações tomam tempo, e as decisões não. As atividades físicas podem facilitar sua decisão. Em 99% das vezes você só precisa de mais informações para tomar uma decisão. Elas podem ser adquiridas por meio de fontes externas ou internas. De qualquer maneira, ainda há uma próxima ação esperando para ser definida para que o projeto avance. Determine qual atividade física precisa acontecer para que você consiga decidir. Depois de decidir a próxima ação Você tem três alternativas: • Faça (se a ação demanda menos de dois minutos para se engajar nela). • Delegue (se você não é a pessoa mais indicada para se engajar na ação). • Adie (se você pode agendar a ação ou se engajar nela quando tiver tempo). Faça Se você pode se engajar na próxima ação em dois minutos ou menos, faça-a assim que deparar com ela. Se você pode ler um e-mail em 30 segundos e responder com apenas “sim” ou “não”, faça-o assim que ele entrar na caixa. E, se você quiser dar uma olhada no catálogo de produtos, folheie-o por um ou dois minutos e então descarte-o ou arquive-o numa pasta de referências. Se a próxima ação é deixar um recado na caixa postal de alguém, faça a ligação agora. Mesmo que o item não seja urgente, se engaje nele de uma vez. É mais rápido se engajar logo na ação do que rastrear o item – por isso a Regra dos Dois Minutos funciona como um atalho eficiente. Se a tralha não for importante o suficiente para você pensar numa ação para ela, descarte-a. Se for e se você pretende se engajar nela um dia, o fator eficiência deve ser levado em conta. Para muitas pessoas, manter o hábito de seguir a Regra dos Dois Minutos gera um aumento drástico na produtividade. O vice-presidente de uma grande empresa descobriu que a regra lhe rendeu uma hora de tempo livre por dia! Ele costumava receber cerca de 300 e-mails diários e se concentrava em três atividades principais. Muitos eram de funcionários da própria equipe que precisavam da aprovação dele para seguirem com determinado projeto. Mas, como não eram urgentes, ele os deixava de lado na caixa de entrada a fim de analisá-los “mais tarde”. Com o acúmulo de milhares de e-mails, ele passava os fins de semana tentando tirar o atraso. Não teria problema em fazer isso se ainda fosse jovem, mas já havia passado dos 40 anos e tinha filhos pequenos. Trabalhar o fim de semana inteiro não era um comportamento aceitável. A Regra dos Dois Minutos é mágica. Quando realizei o treinamento com ele, ele repassou os mais de 800 e-mails que tinha acumulado na caixa de entrada. A maioria podia ser descartada, muitos arquivados para referência futura e outros ele poderia responder em menos de dois minutos, disparando de imediato. Um ano depois, quando conversei com ele novamente, ainda se mantinha atualizado! Nunca mais deixou que os e-mails se acumulassem. Esse depoimento mostra como é importante esclarecer, especialmente se sua caixa de entrada fica cheia em questão de segundos. A Regra dos Dois Minutos, na verdade, é apenas uma orientação. Se você dedicar algum tempo a esclarecer sua caixa de entrada, utilize o atalho eficiente por cinco ou 10 minutos. Se quiser acabar com a pilha de tralha e deixar sua tarde mais tranquila, diminua o tempo para um minuto, ou até mesmo 30 segundos, de modo que você se engaje em tudo um pouco mais rápido. Você ficará surpreso com a quantidade de ações em que pode se engajar em dois minutos, até mesmo seus projetos mais importantes. Tente cronometrar a execução das próximas ações. Muitas pessoas sentem dificuldade em restringi-las a dois minutos e subestimam o tempo que algumas requerem. Por exemplo, se você tiver apenas que deixar um recado mas acabar falando com a própria pessoa, o telefonema levará bem mais que dois minutos. Você não precisa monitorar suas ações – basta se engajar nelas. No entanto, se você se engajar numa ação mas o projeto não for concluído, determine o que fazer em seguida e gerencie essa ação de acordo com os mesmos critérios. Por exemplo, se a tinta da impressora acabou, você decidirá que sua próxima ação será comprar novos cartuchos, ou fazer, delegar ou adiar, conforme a urgência da questão. O mundo só pode ser compreendido pela ação, e não pela contemplação. A mão é mais importante que o olho… A mão é o lado afiado da mente. – J. BRONOWSKI Adote a Regra dos Dois Minutos e veja como conseguirá avançar na hora de esclarecer. As pessoas se surpreendem com quantas coisas é possível fazer em dois minutos, mesmo algum projeto importante. Elas também ficam encantadas com o resultado ao aplicar o método a pequenas pendências que durante muito tempo as incomodaram. A Regra dos Dois Minutos temsido a salvação de quem tenta controlar a quantidade de e- mails que chega à caixa de entrada. É bem provável que pelo menos 30% dos e-mails que demandam ação exijam menos de dois minutos para serem lidos e respondidos. Caso você queira se tornar mais eficaz durante o esclarecimento dos e-mails, coloque essas recomendações em prática e melhorará muito o caráter responsivo e sensível de seu ecossistema. Dito isso, você não precisa se tornar um escravo da Regra dos Dois Minutos. Ela deve ser aplicada somente quando você está comprometido com novos inputs: esclarecendo a caixa de entrada ou interagindo com alguém no escritório ou em casa. Mas, se você não decidir sobre a próxima ação assim que a tralha aparecer, terá que gastar tempo e energia para captura, determinar e monitorar a fim de evitar que ela retorne para sua cabeça. Delegue Se a próxima ação exigir mais de dois minutos, pergunte-se se é a pessoa mais apropriada para se engajar nela. Se não for, delegue-a para alguém mais indicado. Não tenha medo de delegar. Você pode simplesmente pedir que o Serviço de Atendimento ao Cliente resolva o problema ou que seu chefe dê uma opinião acerca de determinado relatório. Veja alguns exemplos de como proceder: • Envie um e-mail à pessoa mais indicada para o trabalho. • Encaminhe-lhe uma anotação sobre o trabalho. • Envie-lhe uma mensagem de texto ou deixe um recado na secretária eletrônica. • Marque um dia no calendário para conversar sobre o trabalho na próxima reunião. • Procure a pessoa diretamente. O e-mail, em geral, é o meio mais rápido e garante o registro eletrônico. Além disso, o destinatário pode esclarecê-lo quando for conveniente. As anotações também chegam rapidamente à caixa de entrada do destinatário, que pode contar com um meio físico que serve como lembrete. Se você delegar algum material em papel, a comunicação por escrito é a melhor alternativa – e o destinatário também pode tratar da questão quando quiser. Por outro lado, as mensagens de voz e de texto são tão eficientes que muitos profissionais dependem desses recursos, mas às vezes a mensagem pode causar um ruído ou um mal- entendido. Já registrar a comunicação na agenda para tratar do assunto na próxima reunião pode ser a melhor alternativa, em virtude da quantidade de detalhes que o trabalho demanda. Nesse caso, é melhor esperar até o próximo encontro. A solução menos preferível seria interromper tanto o seu fluxo de trabalho quanto o da pessoa a quem você quer delegar o serviço. Além disso, a abordagem pode ser imediata, mas impede que o pedido seja registrado. Acompanhando a ação. Caso você delegue uma ação e se importe com o resultado, será necessário monitorá-la. No Capítulo 7, sobre organização, você entenderá a importância da categoria “Aguardando resposta”. À medida que você personaliza o seu sistema, a transferência e o acompanhamento da ação podem ser incluídos numa lista. Se você ainda não tiver configurado um, anote isto – “Aguardando resposta: Bob” – e coloque numa pilha de Pendências, separada da caixa de entrada, como resultado do esclarecimento. E se a ação já estiver sob a responsabilidade de outra pessoa? Nessas situações, você também deve marcar a ação como um item que foi delegado, ou como Espera. Inclua uma anotação e coloque- a na pilha de Pendências. É crucial que você registre a data em que delegou a pendência. Vale a pena cultivar esse hábito: use a informação quando você precisar cobrar de alguém o serviço que lhe foi delegado. Adie É provável que a maioria das próximas ações devam ser engajadas por você e exijam mais de dois minutos para serem concluídas. Telefonar para um cliente; redigir com cuidado e atenção um e- mail para a equipe; comprar um presente para seu irmão; experimentar um aplicativo baixado da internet; conversar com sua filha adolescente – tudo isso se enquadra nessa descrição. Essas ações precisam ser escritas e depois organizadas em categorias para que você as recupere quando precisar. Por enquanto, cole post-its como lembretes nas folhas de papel empilhadas na caixa de entrada, inclusive a descrição da ação, e transfira-as para a pilha de Pendências, onde se encontram os itens que já foram esclarecidos. Outras pendências Se seguiu as instruções deste capítulo, você descartará um monte de coisas, arquivará outras, se engajará em muitas ações em dois minutos e delegará pendências. Depois de tudo isso, ainda haverá itens que exigem ações nas quais se engajar – em breve, num dia ou numa data específica – e lembretes na lista Aguardando Resposta. A pilha de Pendências já esclarecidas é composta de ações que você delegou ou adiou e ainda precisam ser organizadas. Vamos nos aprofundar mais nesse assunto no próximo capítulo. IDENTIFICANDO SEUS PROJETOS Para eliminar a tralha da caixa de entrada, você precisa adotar uma perspectiva mais ampla: partir dos detalhes das ações isoladas em direção aos seus projetos. Um projeto é qualquer resultado que você se comprometeu a alcançar e que demanda mais de uma ação. Ao decidir suas próximas ações – “Falar com Frank sobre o alarme do carro”; “Enviar um e-mail a Bernadette sobre a apresentação” –, você deparará com muita tralha que demanda mais que apenas uma ação isolada. A questão do alarme do carro se desenrolará mesmo depois de falar com Frank e ainda haverá coisas a fazer com relação à apresentação após entrar em contato com Bernadette. Se a ação que você identificou não for suficiente para alcançar o resultado almejado, você precisará deixar lembretes para suas ações ainda pendentes, até que elas sejam concluídas. Também será necessário fazer uma Lista de Projetos, que pode incluir qualquer coisa, como “Organizar uma festa”, “Desativar a fabricação dos produtos”, “Terminar o cálculo da remuneração dos funcionários”. O propósito da lista não é definir as prioridades, mas apenas garantir que você se lembre de todos os laços abertos. Neste momento, você provavelmente tem em andamento entre 30 e 100 projetos. Não faz muita diferença se você vai preparar a Lista de Projetos quando for esclarecer a caixa de entrada ou só depois de já ter feito a Lista de Próximas Ações. Mas ela deve ficar pronta em algum momento e deve ser sempre atualizada, pois é o que o orientará na hora da reflexão – onde você está e onde queria estar – e fornecerá uma percepção de controle semanal da própria vida. Por enquanto, vamos garantir que tudo fique devidamente organizado. CAPÍTULO 7 Organizar: delimitando os compartimentos certos Colocar em prática um sistema de organização total e integrado confere um enorme poder, permitindo que sua mente se livre das cobranças e foque o que é importante, sem se deixar dispersar por assuntos que não foram tratados de maneira adequada. Para que isso aconteça, no entanto, o sistema físico de organização deve funcionar ainda melhor do que o mental. É necessária uma organização hermética para que você mantenha o foco no horizonte mais abrangente e elimine a pressão constante de lembrar e ser lembrado. Ser organizado significa que alguma coisa se encontra em determinado lugar de acordo com o que ela significa para você. Se você decidiu arquivar um item no seu material de referência ou apoio, você é organizado. Se você precisava ser lembrado de dar um telefonema e colocou o lembrete na sua pendência relacionada, você é organizado. Por mais simples que pareça, esse critério envolve uma questão muito importante: o que as coisas significam para você. Às vezes as pessoas tentam organizar itens que ainda não foram esclarecidos. E, ainda que tenham sido, algumas distinções aumentam muito seu potencial de criatividade e controle. Este capítulo trata dos estágios e das ferramentas de organização indispensáveis para esclarecer a caixa de entrada. Ao começar a esclarecê-la, você criará listas e agrupará os itens que devem ser organizados. Em outras palavras, o sistema de organização não será criado de uma vez: ele se desenvolverá à medida que você esclarecer a tralha e verifica se guardou tudo no melhorlugar para você. A forma como você estrutura as coisas hoje pode mudar daqui a um ano, mas o significado deve se manter o mesmo. Eu preciso criar um sistema ou serei escravizado por outro homem. – WILLIAM BLAKE A camada externa do Diagrama do Fluxo de Trabalho mostra as principais categorias em que as tralhas podem ser encaixadas à medida que você as define e o que precisa ser feito com elas. AS CATEGORIAS BÁSICAS Classifique, rastreie e gerencie suas tralhas em sete categorias principais: • Lista de Projetos • Material de suporte a projetos • Ações e informações inseridas no Calendário • Lista de Próximas Ações • Lista Aguardando Resposta • Material de referência • Algum dia/Talvez DIAGRAMA DO FLUXO DE TRABALHO – ORGANIZAÇÃO A importância dos limites É fundamental que todas essas categorias se mantenham bem distintas umas das outras. Cada uma representa um tipo de acordo que fazemos com nós mesmos, que deve ser lembrado em determinado dia e de certa maneira. Se elas não forem bem delimitadas e começarem a se misturar, muito do valor da organização será perdido. Por isso é essencial que você capture e esclareça para ser organizado. As pessoas querem controlar mais as tralhas apenas “tornando-se mais organizadas”, mas acabam reagrupando pendências ainda indefinidas. Entretanto, uma vez que você tenha percorrido todas as etapas do método GTD até aqui, já deve saber o que deve dividir em categorias e como classificar tudo de forma prática. As categorias devem ficar separadas visual, física e psicologicamente a fim de que haja clareza no sistema. Se você negligenciar essa categorização e permitir que coisas diferentes façam parte do mesmo grupo visual ou mental, provavelmente perderá a percepção em relação ao conteúdo. Se guardar os materiais de referência junto com as pendências que ainda devem ser esclarecidas, por exemplo, seu inconsciente as rastreará no lugar errado. Se você incluir na Lista de Próximas Ações itens que deveriam estar no Calendário porque devem ser engajados em dias determinados, acabará tendo que reavaliá-la o tempo todo. Se algum projeto requer uma reflexão mais tarde, deve ficar em Algum dia/Talvez, assim você poderá associar a Lista de Projetos ao foco necessário para colocar as ações em prática. E, se um item da lista Aguardando Resposta for incluído numa das listas de ações, uma reformulação mental não produtiva irá atrapalhar a sua vida. Tudo de que você precisa são listas e pastas A partir do momento em que souber em quais ações deve se engajar, tudo de que você de fato precisa são listas e pastas – ferramentas que suprirão a função de lembretes, materiais de referência e de apoio. Suas listas – que também poderiam ser itens em pastas – vão monitorar as Listas de Projetos e Algum dia/Talvez, assim como a Lista de Próximas Ações. Pastas (digitais ou físicas) serão necessárias para guardar seus materiais de referência e de apoio relativos a projetos ainda ativos. Muitas pessoas vêm fazendo listas há anos, mas nunca consideraram colocar em prática essa técnica. Como o método GTD é bem simples, isso acaba gerando grande ceticismo. O problema é que a maioria não inclui as tralhas nas devidas listas, ou não as conclui, o que prejudica a eficiência das listas. Depois de definir o que deve entrar nas listas, entretanto, tudo fica mais fácil: você só precisa encontrar um jeito de gerenciá-las. Eu não daria um centavo pela simplicidade que há deste lado da complexidade, mas daria minha vida pela simplicidade que existe do outro lado da complexidade. – OLIVER WENDELL HOLMES Não se preocupe em formular listas de prioridades, pois elas teriam que ser reordenadas ou reescritas à medida que as circunstâncias mudam. Tentar impor uma ordem de importância pode ser uma grande frustração para quem quer estruturar um sistema organizacional. Suas prioridades serão estabelecidas mais intuitivamente, quando você visualizar todos os itens variáveis da lista. Ela é apenas uma forma de monitorar o backlog de laços abertos com que você se comprometeu e deixá-lo disponível para futura reflexão. “Lista” aqui nada mais é que a reunião de alguns itens com características semelhantes. Uma lista pode se parecer com pelo menos uma de três coisas: (1) uma pasta de arquivo ou recipiente, com os itens escritos numa folha de papel por categoria; (2) uma folha de papel intitulada (geralmente num recipiente que organize as folhas soltas); ou (3) um backlog de itens registrado num software ou aplicativo de celular. COMO ORGANIZAR OS LEMBRETES DE AÇÕES Se você já esvaziou a caixa de entrada, deve ter criado uma pilha de Pendências cujas ações demandam mais de dois minutos para serem engajadas e não podem ser delegadas. Talvez haja de 20 a 60 itens anotados. Além disso, você também deve ter acumulado lembretes de ações que transferiu para seus funcionários e outros itens soltos da categoria Algum dia/Talvez ou compromissos que deveriam ser anotados no calendário. Classifique tudo isso em pequenos agrupamentos sobre os quais você possa refletir quando tiver tempo. Crie subdivisões físicas para organizá-los, seja como itens em pastas ou listas, em papel ou digitais. As ações registradas no calendário Para fins de organização, há dois tipos básicos de ações: as que devem ser engajadas num determinado momento e aquelas para fazer assim que puder, levando em consideração outros compromissos ou ações marcadas no calendário (alguns até com prazo para entrega). As ações podem ter hora ou dia específicos. Enquanto esclarecia a caixa de entrada, talvez você tenha deparado com coisas que já havia incluído no calendário quando surgiram. Pode ter percebido que, para fazer um checkup médico, por exemplo, a próxima ação é marcar a consulta, e, como isso exige menos de dois minutos para ser concluído, você se engajou assim que esclareceu a tralha. Anotar o compromisso no calendário foi, então, apenas uma questão de bom senso. No entanto, o que muitas pessoas preferem fazer, talvez por já terem o costume de listar as ações, é escrever no calendário as ações em que pretendem se engajar na próxima segunda-feira, digamos, mas que talvez tenham que ser transferidas para outro dia. Resista a esse impulso. Considere seu calendário sagrado, delimitando exatamente a que horas começam e a que horas terminam os compromissos do seu dia. Seria muito mais fácil se as únicas ações anotadas no calendário fossem as inevitáveis e inadiáveis, que de fato tivessem que ser feitas ou lembradas no dia. Quando ele é relegado a segundo plano, não mais exercendo sua função original, as ações passam a ser encaixadas na categoria “para fazer assim que puder”. Como organizar as ações “para fazer assim que puder” por contexto Ao longo de anos, descobri que a melhor forma de ser lembrado das ações “para fazer assim que puder” é pelo contexto exigido por elas – ou seja, o ambiente físico ou psicológico em que você classifica os lembretes para facilitar o acesso às informações. Por exemplo, se a ação exigir um computador, inclua-a na lista “No computador”. Se a ação demanda que você ande pela cidade (pagar contas, comprar frutas), a lista “Em trânsito” seria o lugar adequado. Se a próxima ação for discutir o comportamento da sua filha, inclua-a na lista Conversa. Até que ponto essas categorias devem ser segregadas dependerá (1) de quantas ações você realmente deve monitorar e (2) de quantas vezes você modifica o contexto em que são engajadas. Caso você seja uma das raras pessoas que têm apenas 25 próximas ações, uma única lista já deve ser suficiente. Inclua nela itens tão diversos quanto “Comprar pregos”, “Conversar com o chefe” e “Pensar em ideias sobre o projeto”. Por outro lado, se suas próximas ações se resumirem a 50 ou 100 pendentes, mantê-las numa grande lista dificulta muito a visualização do que precisa ser feito. Toda vez que você finalmente arranjar tempo para se engajar em alguma delas, precisará fazer uma reclassificação. Se tiver, por exemplo, um breve intervalo durante uma reunião no qual queira adiantar algumasações da lista, você precisará procurá-las entre um monte de itens totalmente diferentes. Se fosse fazer coisas fora do escritório, você provavelmente tiraria dessa lista as pendências em trânsito e prepararia outra separada. Esse tipo de organização ajuda em outro fator fundamental para a produtividade: aproveitar ao máximo sua energia ao se engajar em certos tipos de atividades. Quando você estiver com paciência para falar ao telefone, tente eliminar ou enxugar a lista “Telefonemas”. Ao navegar na internet, concentre-se apenas nas questões que deve resolver on-line, sem passar para outras. Desligar-se de certo tipo de comportamento e conectar-se a outro tipo de trabalho que envolve outras ferramentas consome muito mais energia do que se supõe. E, claro, quando alguém se sentar diante de você na sua sala, tenha certeza de ter em mãos tudo de que precisa para tratar com ele. As categorias mais comuns de lembretes de ações Talvez algumas das categorias a seguir façam sentido no seu sistema organizacional. Veja se você se identifica: • Telefonemas • No computador • Em trânsito • No escritório (diversos) • Em casa • Em qualquer lugar • Agenda (pauta para encontros e reuniões) • Ler/Refletir Telefonemas. Faça uma lista com todos os telefonemas que você precisa dar. Quando tiver uma oportunidade – em trânsito, viajando, no intervalo de uma reunião, aguardando a hora do embarque ou esperando seu filho – e um telefone, fixo ou móvel, à mão, consulte a lista. Ter uma categoria apenas para os telefonemas pendentes ajuda a manter o foco e facilita a escolha intuitiva das ligações a serem feitas naquele momento. É bom até que você insira o número do telefone ao lado de cada item. Pode ocorrer que você tenha uma brecha para fazer uma ligação, mas, ao precisar procurar o número, acabe adiando a ação. Se você tiver gravado o número no celular, basta ver nos contatos e tocar a tela. No computador. Se você trabalha com computador – principalmente se for um notebook ou tablet, ou se usa um computador no escritório e outro em casa –, reúna todas as ações a serem engajadas assim que ligar a máquina. Você ficará ciente de tudo o que deve fazer no computador: enviar e-mails, redigir documentos, etc. Como viajo muito, separei na lista “No computador” os itens que devem ser feitos on-line. Quando estou no avião, não tenho conexão de dados nem acesso aos servidores. Então, em vez de perder tempo pensando no que posso fazer ou não quando olho para a lista “No computador”, já sei que as ações contidas ali requerem conexão com a internet, liberando minha mente para fazer escolhas baseadas em outros critérios. Pense com cuidado sobre onde, quando e em que circunstâncias você pode se engajar em quais ações e organize suas listas de acordo com isso. Se você trabalha no computador tanto no escritório quanto em casa, inclua essas ações nas listas referentes aos dois locais, embora talvez seja mais funcional ter apenas uma lista “No computador”. Por outro lado, se você costuma realizar seu trabalho em trânsito, com a ajuda de um notebook, tablet ou smartphone, salve os lembretes nesses dispositivos ou em aplicativos direcionados. Você também pode arquivá-los numa pasta física sob a categoria “Qualquer lugar”. Em trânsito. É muito comum reunir os lembretes de tarefas que devem ser feitas quando você estiver na rua. Se precisar ir a algum lugar, confira na lista se há algo para ser engajado no caminho. Essa lista pode ser tão simples quanto um post-it colado no calendário, na porta da geladeira ou na categoria “Em trânsito” em algum gerenciador de tarefas digital. Devemos lutar para atingir aquela simplicidade que mora além da sofisticação. – JOHN GARDNER Às vezes é útil elaborar sublistas sob tópicos específicos de “Em trânsito”. Por exemplo, a partir do momento em que você precisar de alguma coisa da loja de ferragens, destaque o item “loja de ferragens” e anexe uma sublista com todas as coisas que precisa adquirir lá. Isso pode funcionar tanto com um post-it quanto com um aplicativo digital, duas ferramentas que lhe possibilitam anotar todos os detalhes.16 No escritório. Se você trabalha num escritório, certas coisas só poderão ser feitas lá. É bom que tenha uma lista específicas para elas – embora, obviamente, você possa segregar essas ações em duas listas distintas, como “Telefonemas” e “No computador”, para o caso de ter que realizar ligações e atividades no computador. Tente incluir na lista “No escritório” qualquer ação que exija sua presença física nesse local, como esvaziar um gaveteiro ou analisar um documento junto a um funcionário da equipe. Simplificar seu foco em ações vai garantir que você se engaje em mais ações. Atualmente as organizações vêm se tornando mais abertas, flexíveis e virtuais. O conceito de home office está em ascensão. Portanto, a lista “No Escritório” pode significar as ações em que você deve se engajar durante o período em que estiver trabalhando. Em casa. Você pode se engajar em muitas ações somente em casa, e faz sentido manter uma lista específica para esse contexto. Com certeza, você deve ter inúmeros projetos pessoais e afazeres domésticos cuja próxima ação é apenas se engajar neles. “Pendurar o quadro novo na parede”, “Organizar os documentos da viagem” e “Separar roupas para doação” seriam itens típicos dessa categoria. Algumas pessoas fazem de casas de veraneio, barcos, restaurantes e cafeterias seus ambientes de trabalho. Nesse caso, “No Starbucks” pode servir como uma ótima categoria para uma Lista de Próximas Ações! Agenda (pauta de encontros ou reuniões). Vez por outra você perceberá que muitas de suas próximas ações implicarão interações pessoais ou debates em reuniões. Por exemplo, talvez você precise conversar com seu chefe sobre uma ideia, verificar junto a seu cônjuge a possibilidade de tirar férias no próximo verão, delegar uma tarefa ao seu assistente ou anunciar à equipe alguns cortes no orçamento. Reuniões e interações pessoais frequentemente precisam da própria agenda. Essas próximas ações devem ser separadas nas categorias “Reuniões” ou “Interação” (presumindo-se que aconteçam com regularidade). Se você tiver necessidade de definir todas as suas próximas ações, talvez descubra que precisará de vários tipos de listas. Categorize as listas dedicadas a compromissos com chefes, sócios, assistentes, filhos, advogados, consultores financeiros, contadores e/ou técnicos em computação, além de qualquer outra pessoa com quem possa ter mais de um tema a abordar. Quanto maiores são suas responsabilidades e mais alto seu cargo na empresa, mais você fará acontecer por meio de suas comunicações e transações com outras pessoas. Se você participa de reuniões de atualização semanais – reuniões da equipe, reuniões do conselho, comitês, reuniões de pais e professores –, elas também merecem as próprias listas, com indicações dos temas a serem abordados. E é bom que elas durem um determinado período. Considerando a utilidade desse tipo de lista, seu sistema organizacional deve permitir que você faça uma programação bem direcionada, rápida e simples. Por exemplo, anexar à Agenda uma página ou uma lista referente a uma reunião demora apenas alguns segundos, assim como adicionar uma nota na mesma categoria em seu dispositivo digital. Ler/Refletir. Você já deve ter percebido que há muita tralha em sua caixa de entrada cuja próxima ação é ler. Se tiver colocado a Regra dos Dois Minutos em prática, já descartou, arquivou ou delegou muitos desses itens. Caso tenham sobrado alguns itens impressos que poderiam demandar mais de dois minutos do seu tempo, eles costumam ser mais bem gerenciados se guardados numa pasta física com a etiqueta “Ler/Refletir”. Conforme minha definição, ainda se trata de uma lista, embora seja mais eficiente monitorá-la quando os próprios documentos são reunidos numa caixa ou pasta. Aqueles que gastam mal o seu tempo são os primeiros a se queixar da brevidade dele. – JEAN DE LA BRUYÈRE Para muita gente, a quantidade de coisas na categoria“Ler/Refletir” pode se tornar muito grande. Por isso é importante reservá-la apenas para o material cuja leitura demore mais de dois minutos e que você de fato queira ler assim que puder. A tarefa talvez pareça assustadora, mas, se você perder o controle, o problema pode virar uma bola de neve, afetando seu psicológico, quando os limites dessa categoria não são definidos com clareza. A delimitação nítida o deixará ciente do tamanho do inventário. Alguns profissionais, principalmente advogados e editores, ainda trabalham com muito material impresso, e, embora muitos documentos sejam salvos no computador, lidar com eles na forma física é a melhor maneira de monitorá-los. Nesses casos, além da pasta “Ler/Refletir”, faz sentido criar a categoria “Refletir/Responder” para as leituras mais rigorosas, que exigem um foco diferente. É muito prático ter seu material de leitura já organizado quando você estiver a caminho de uma reunião que pode começar tarde, de um seminário com intervalos, de uma consulta médica onde deve esperar um tempo ou quando fizer uma viagem demorada de trem ou avião. Essas ocasiões são ótimas oportunidades para trabalhar nesse tipo de leitura. Se seu material não estiver organizado nem preparado, você pode acabar perdendo um tempo precioso em vez de se dedicar a essas atividades. Considerando a quantidade de inputs digitais que recebemos – dados e informações para ler/refletir –, a maioria deles não é tão importante, mas talvez sejam interessantes e divertidos, portanto crie um compartimento organizacional para eles. Uma pasta ou Lista de Próximas Ações no computador ou no sistema de e-mail chamada “Refletir/Observar” ou “Itens on-line” pode ser um bom lugar para guardar e-mails com links para vídeos, blogs ou artigos da internet. Organizando a lista Aguardando Resposta Como os lembretes de ações, os lembretes de ações delegadas devem ser classificados e agrupados. O objetivo aqui não é monitorar ações específicas, e sim projetos que estejam sob a responsabilidade de outras pessoas. Quando a próxima ação depende de alguém, você não precisa de um lembrete de ação, apenas de um gatilho para lembrar o que e de quem você está esperando. Reflita sobre a lista com regularidade e avalie se há algo para ser feito. Gerencie o compromisso dos outros antes que a omissão deles gere uma crise. Para muitas pessoas, principalmente aquelas que têm um cargo alto, fazer um levantamento desse backlog de ações não concluídas gera um grande alívio e aumenta a concentração, facilitando o avanço do processo. Você já deve ter concluído que é melhor manter acessível essa lista Aguardando Resposta, no mesmo esquema dos lembretes das próximas ações. A responsabilidade pela próxima ação pode mudar de mãos várias vezes até o fim do projeto. Por exemplo, você pede um orçamento a um fornecedor (Aguardando Resposta). Quando o orçamento chegar, será preciso revê-lo (pasta “Ler/Refletir” ou lista “No computador”). Depois de examiná-lo, você o envia para aprovação do chefe (Aguardando Resposta novamente). E assim por diante.17 Também é muito útil que você tenha em mãos sua lista Aguardando Resposta quando for se reunir com a pessoa responsável pela pendência. Puxe o assunto ao acaso e pergunte a quantas anda a pendência: “Alguma novidade sobre a proposta?” É mais elegante do que esperar até o prazo final e ficar estressado se o resultado não for satisfatório. Por isso é fundamental que você inclua a data da solicitação junto do prazo final previamente combinado. É muito mais eficaz monitorar a pendência quando você tem um argumento para fazer a cobrança. A lista Aguardando Resposta representa o inventário de tudo o que é importante para você e se encontra sob a responsabilidade de outra pessoa. Usando a tralha como seu lembrete de ação A maneira mais eficiente de monitorar seus lembretes de ação é adicioná-los a listas ou pastas à medida que eles vão lhe ocorrendo. O gatilho original não será mais necessário depois de esclarecê-los. As anotações que você fez durante a reunião com o chefe podem ser descartadas depois da execução das ações relacionadas ao projeto. Enquanto algumas pessoas arquivam mensagens de texto ou voz para uma referência futura, essa não é a forma mais eficaz para gerenciar os lembretes nelas incluídos. Mantenha e-mails e documentos que exigem ação separados de todo o resto. No entanto, essa regra tem algumas exceções. Você se engajará mais em certos inputs se usá- los como os próprios lembretes de ações, em vez de apenas escrever sobre eles numa lista. Isso também pode se aplicar a materiais impressos e e-mails. Como lidar com o fluxo de papéis Artigos, publicações e documentos que se encaixam na categoria “Ler/Refletir” são um bom exemplo de coisas que podem ser os próprios lembretes. Pode dar muito trabalho escrever “Ler revista Vogue” em uma lista quando bastaria deixar a publicação na pasta “Ler/Refletir” para que seja o próprio gatilho. Outro exemplo: se você ainda paga suas contas no banco, talvez seja mais organizado deixá- las juntas dentro de uma pasta com a etiqueta “Contas a pagar” e pagá-las todas de uma vez. Da mesma forma, os recibos devem ser anexados aos relatórios de despesas assim que forem gerados ou devem ficar na pasta “Recibos a processar”.18 As especificidades de suas atividades, inputs e ambiente de trabalho melhoram a organização de outras categorias se você usar apenas o documento original. Um fornecedor, por exemplo, lida com inúmeras encomendas mais ou menos semelhantes. Como elas são itens que demandam ação, ele mantém os pedidos numa caixa ou pasta (de papel ou digital) de modo que sejam mais bem gerenciados. Já um advogado, sobre cujos documentos deve refletir a fim de definir quais são as próximas ações, pode reuni-los numa pilha sobre a mesa, onde se acumulam itens com as mesmas características. Escrever os lembretes numa lista ou usar os documentos originais como os próprios lembretes dependerá em grande parte da logística. Você teria outro lugar para deixar esses lembretes além de sua mesa? Em caso positivo, considere a portabilidade do material. Se só for possível fazer o trabalho na sua mesa, é melhor gerenciar os lembretes exclusivamente na sua área de trabalho. A principal razão para a organização é a redução da sobrecarga cognitiva, ou seja, a eliminação da necessidade de pensar “O que preciso fazer sobre isso?” o tempo todo. Independentemente de qual alternativa você escolher, os lembretes devem ser incluídos em cada categoria com base na próxima ação necessária. Se a próxima ação de determinado serviço for ligar para alguém, ela deve ser inserida na lista “Telefonemas”; se for refletir sobre a informação e salvá-la no computador, a lista mais indicada é “No computador”. O que acaba comprometendo a eficácia do fluxo de trabalho é o fato de manter todos os documentos de um tipo de ação numa única caixa ou arquivo, mesmo que exijam diferentes Próximas Ações. Uma delas demanda um telefonema; outra, uma revisão de dados; e uma terceira, o resultado de um item que foi delegado – mas todas são classificadas juntas. O problema é que esse esquema pode atrapalhar o esvaziamento da sua mente, já que as decisões quanto às próximas ações em que você deve se engajar continuam pendentes. Meu sistema pessoal é de alta portabilidade, já que organizo quase tudo em listas, mas mantenho uma pasta “Ler/Refletir” no computador e uma versão física sempre comigo. Embora eu armazene e leia algumas revistas digitais, ainda considero a versão física mais funcional, do ponto de vista logístico, e mais agradável, do ponto de vista estético. Como gerenciar o fluxo de e-mails Como alguns materiais impressos, os e-mails que demandam ação às vezes são seus melhores lembretes, principalmente se você recebe muitos e-mails e passa muito tempo com a caixa de entrada aberta e acessível. Arquive aqueles que exigem ação no próprio sistema, em vez de anotar o que deve fazer em outra lista. Muitas pessoas criam duas ou três pastas na barra de navegação do sistemade e-mail. Elas costumam ser usadas para material ou arquivo de referência, mas também é possível configurar um sistema funcional que mantenha os e-mails que demandam ação organizados separadamente, fora da caixa de entrada, onde as pessoas acabam por deixá-los.19 Assim, crie uma pasta para e-mails cujas ações podem ser engajadas em menos de dois minutos (embora, na verdade, você deva despachá-los assim que os vir, seguindo a Regra dos Dois Minutos). Nomeie a pasta com um prefixo ou símbolo de forma que (1) a diferencie das pastas de referência e (2) seja a primeira pasta da barra de navegação. Use algo como o sinal de arroba (@) ou um hífen para que o sistema a classifique no topo. A pasta @AÇÃO conterá os e- mails em que você deve se engajar. Em seguida, crie outra pasta @AGUARDANDO RESPOSTA, que aparecerá logo abaixo da pasta @AÇÃO. Arraste para ela os e-mails cujas ações você teve que delegar, além dos lembretes: quando você encaminhar uma mensagem, fizer um pedido ou delegar uma ação, salve uma cópia do e-mail na pasta @ AGUARDANDO RESPOSTA.20 Alguns aplicativos possibilitam que você arquive em determinada pasta uma cópia do e-mail enviado (com o botão “Enviar e Arquivar”). Em outros, o arquivamento é automático apenas na pasta universal “Itens Enviados”. Nesse caso, a melhor solução é enviar uma cópia para si mesmo e arquivá-la na pasta @AGUARDANDO RESPOSTA. Você gasta muito menos energia para manter a caixa de entrada zerada do que gerenciando mil e- mails ao mesmo tempo. Esvaziando a caixa de entrada de e-mails. Essa técnica permitirá que você retire todo o conteúdo da caixa de entrada, contribuindo para a clareza e para o controle do seu trabalho no dia a dia. A entrada voltará a ter o conceito de entrada, ou seja, tudo o que estiver lá é novo, nunca foi ouvido ou lido – indícios de que há algo a esclarecer. A caixa de entrada costuma ser usada para guardar e-mails cujas ações ainda não foram definidas, referências e até lixo, o que acaba entorpecendo a mente: tudo terá que ser reavaliado sempre que você passar os olhos pela tela. Esvaziar a caixa de entrada não significa ter que esclarecer tudo correndo; apenas indica que você concluiu o que podia, arquivou o que queria (referência), resolveu as questões que levam menos de dois minutos e transferiu para as pastas todos os e-mails que demandam ação ou cujo retorno você está aguardando. Agora você pode abrir a pasta @AÇÃO e refletir sobre os e-mails. Não é mais fácil fazer assim do que deixar as informações perdidas na caixa de entrada? Cuidado para não perder de vista os lembretes das próximas ações Há um perigo óbvio ao guardar os lembretes de ações em lugares não visíveis. Um sistema de organização consiste basicamente em deixar os lembretes à vista quando você precisar lê-los, para que você possa confiar no que está fazendo (e no que está deixando de fazer). Antes de ir embora no fim do expediente, ou antes de passar o dia fazendo algo que caiu no seu colo, reflita sobre os e-mails cujas ações ainda precisam ser definidas, assim como suas listas. Em essência, a pasta @AÇÃO é uma extensão da lista “No computador” e ambas devem ser engajadas da mesma forma. A pilha de Pendências também deve ser considerada uma lista. Às vezes é mais fácil confiar em dados impressos do que nas versões digitais. Espalhar gatilhos de ação por pastas, listas e/ou sistemas de e-mail é perfeitamente concebível, desde que você reflita sobre todas as categorias em que instalou seus gatilhos. Os lembretes não podem ficar escondidos nos recantos mais ocultos do sistema, senão seu propósito se perde. Sob esse aspecto, o mundo digital pode ser perigoso, pois, assim que os dados somem da caixa de entrada, os gatilhos podem desaparecer; isso leva muitas pessoas a retomar o sistema de organização em papel, cuja obviedade física e visual inspira muito mais confiança. Para realmente esvaziar a cabeça, você tem que saber quais são e onde estão todos os itens que exigem ação. E o ideal é que você esclareça tudo em poucos segundos, e não em dias. COMO ORGANIZAR OS LEMBRETES DE PROJETOS Criar e manter uma Lista de Projetos (todos os compromissos ou resultados almejados que exigem mais de uma ação para serem concluídos) pode ser um desafio. É provável que haja muito mais deles do que você imagina. Se ainda não o fez, elabore uma lista simples, semelhante à Lista de Próximas Ações. Pode ser uma categoria no computador, uma página num caderno de folhas soltas ou papéis numa pasta com a etiqueta “Projetos”, cada um com os detalhes de cada projeto. Lista de Projetos A Lista de Projetos não se destina a mostrar planos e detalhes dos projetos em si; também não devem ser organizados por importância, tamanho ou urgência – trata-se apenas de um índice de laços abertos. A Lista de Projetos não será reduzida conforme você for executando suas atividades, pois o Calendário, as Listas de Próximas Ações e as ações não planejadas absorverão seu foco tático e imediato. Lembre-se: você não se engaja num projeto, e sim nas ações que ele demanda. Ter consciência do que é preciso fazer para o projeto avançar, no entanto, é fundamental para que você não perca o foco e o controle até o prazo final. Uma Lista de Projetos completa e atualizada é a principal ferramenta operacional para fazer seu projeto avançar. O verdadeiro valor das Listas de Projetos está na reflexão que elas propiciam, por meio da qual garantem que todas as ações sejam definidas e impedem que algum dado se perca. Basta passar os olhos pela lista de vez em quando para reforçar seu senso de controle. Você também saberá que tem um inventário acessível sempre que quiser avaliar o próprio trabalho. O valor de uma Lista de Projetos completa A definição ampla e simples de “projeto” aqui – um item que requer mais de uma ação para alcançar um resultado almejado –- fornece uma rede importante para capturar as coisas que atormentam a sua mente. Se você trabalha numa indústria que, em termos formais, atua com projetos, talvez seja difícil compreender que comprar um cachorro para os filhos e encontrar um bom alfaiate também são projetos! Não importa que você chame ou não essas atividades de “projetos”, e sim o fato de que elas ainda exigem tempo e atenção para serem retiradas da sua cabeça. Preparar um backlog de tudo isso e mantê-lo atualizado pode ser a grande atitude a tomar para se tornar mais produtivo. Aqui estão algumas razões: • Reforça o controle e o foco • Diminui o estresse • Orienta a Revisão Semanal • Facilita a gestão dos relacionamentos Reforça o controle e o foco. É impossível ficar despreocupado com as coisas que você deve fazer quando elas lhe atormentam a cabeça, quer sejam grandes ou pequenas. Ações do tipo “Renovar a carteira de motorista” podem ocupar tanto espaço quanto “Definir o tema do congresso do ano que vem”, principalmente se não há uma Lista de Próximas Ações ou reflexão. Diminui o estresse. As pequenas tarefas são as que mais causam estresse justamente porque não “pipocam” na sua frente o tempo todo. Os projetos não costumam aparecer embalados em papéis de cores berrantes. Começam com o que parece ser uma situação comum, uma comunicação ou uma atividade, mas, aos poucos, se transformam em algo maior do que você esperava. Você achou que tivesse resolvido o problema de comportamento da sua filha, mas agora ela surgiu com um namorado que você não aprova. Você supôs que o acordo já estivesse fechado, mas agora o cliente voltou atrás. Identificar e incluir no sistema esses tipos de situações, juntamente com os resultados almejados, renova suas energias, com consequências positivas inesperadas. Os projetos raramente aparecem em embalagens bonitas e limpas. Pequenas coisas quase sempre se tornam grandes inesperadamente. Orienta a Revisão Semanal. A Revisão Semanal é um fator crítico de sucesso na integração de suas atividades do dia a dia com seus compromissos mais importantes. E uma Lista de Projetos completa ainda é essencial para que isso aconteça. Uma vez por semana, reflita sobrea lista para que você tenha certeza de que está fazendo o possível para dar um cachorro aos seus filhos ou para criar o novo tema do congresso do ano que vem. Para isso, a Lista de Projetos deve estar disponível. Facilita a gestão dos relacionamentos. Não importa se você está conversando com o chefe, com a equipe ou com o cônjuge: é fundamental que controle e supervisione todos os compromissos relevantes que você tem com essas pessoas. É difícil arranjar tempo, dinheiro e atenção para eles. E, quando os outros também compartilham desses recursos, a capacidade de negociação (e, muitas vezes, de renegociação) desses compromissos é a única maneira de aliviar a pressão inerente. Uma vez que executivos, cônjuges e equipes enxerguem o panorama geral, é importante que haja conversas e debates construtivos entre vocês. Nada disso pode acontecer sem uma Lista de Projetos completa. Como descobrir projetos desconhecidos Há três áreas principais onde você pode ter “escondido” os projetos: • Atividades em andamento • Interesses e compromissos mais difíceis de cumprir • Problemas, questões e oportunidades em curso Atividades em andamento. Alguns projetos devem ser capturados do seu calendário, das Listas de Próximas Ações e da sua área de trabalho. Quais são as reuniões que fazem parte do seu calendário mas não são suficientes para resolver o problema? Talvez você depare com uma palestra para os pais, na escola de seu filho, que o lembre de que você deve reorganizar a programação de aulas dele. Viagens pessoais e de negócios no futuro próximo, conferências para as quais foi convidado, tudo deve ser avaliado como projetos que merecem conhecimento. É muito provável que haja projetos não identificados nas Listas de Próximas Ações. Às vezes você pode incluir na lista “Telefonemas” a ação “Falar com Mário sobre o evento para angariar fundos”, mas o item “Concluir o levantamento de fundos” não foi incluído na sua Lista de Projetos. E também pode haver propostas e contratos sobre os quais refletir na sua bolsa, formulários a preencher na escrivaninha de casa ou um relógio quebrado na sua gaveta – estes são, na verdade, artefatos de projetos. Redobre a atenção ao associar esses itens aos resultados finais em vez de deixá-los ao acaso. Interesses e compromissos mais difíceis de cumprir. Há uma boa chance de que você ainda tenha que dispensar alguma atenção a seus compromissos e interesses sob um ponto de vista “de fora” de suas responsabilidades, objetivos, visões e valores. Uma reflexão sobre suas responsabilidades profissionais – o que deve ser bem-feito em relação às suas atribuições no trabalho –, ou sobre as áreas da sua vida que você quer que permaneçam em certo padrão, dispara alguns lembretes de como é importante definir um projeto. Se você tem metas profissionais e planos estratégicos, já identificou todos os projetos que deles resultarão para desenvolvê-los de forma adequada? Raramente um executivo reflete sobre uma longa lista de documentos sem perceber que há pelo menos um projeto a ser esclarecido. Problemas, questões e oportunidades em curso. Um lugar muito bom para encontrar itens para seu backlog é a área onde ficam reunidas coisas aleatórias que podem distraí-lo do objetivo se não forem reconhecidas como projetos reais. Isso nos leva a três categorias: • Problemas • Desenvolvimento do processo • Oportunidades criativas de reforçar a capacidade Quando um problema é um projeto? Sempre. Em vez de apenas aceitá-lo como ele é, dê uma solução para ele. É preciso determinar, porém, se há uma possibilidade real ou imaginária. Mesmo que haja pouca chance, persista. “Melhorar o relacionamento de seu filho com os colegas”, “Definir o valor do aluguel com o proprietário” e “Conversar sobre a promoção com o chefe” são projetos reais que você resiste a classificar como projetos. A partir do momento em que você descrever o problema, incluí-lo na lista e definir a próxima ação, talvez se surpreenda com o aumento de sua produtividade e a redução de seu estresse. Além disso, alguns projetos podem estar passeando por entre seus processos de trabalho – nas áreas profissional e pessoal. Do que você costuma reclamar com relação ao que você tem feito ou não? Sente-se frustrado com seus procedimentos de arquivamento, armazenamento ou acompanhamento? Precisa melhorar algum aspecto, profissional ou pessoal, da sua vida? Coisas desse tipo são lenta e gradualmente caracterizadas como projetos. É difícil perceber quando transpõem a fronteira entre a leve irritação e o aborrecimento sério. Finalmente, é possível que você esteja se perguntando sobre o que gostaria de aprender ou experimentar para expandir sua criatividade e seu desenvolvimento pessoal. Quer aprender a preparar comida japonesa ou desenhar? Ter aulas on-line de fotografia ou marketing de mídias sociais? Projetos desse tipo podem se encaixar em Algum dia/Talvez. Mas, conforme você for se acostumando com o método, as vantagens que ele lhe oferece vão aumentar, levando-o a adquirir experiências interessantes e úteis e a definir de forma eficaz os resultados almejados em sua Lista de Projetos. Apenas uma lista? Ou é melhor subdividi-la? Muitas pessoas recorrem a uma lista única, que funciona como um backlog mestre, e não como diretrizes sobre prioridades diárias. O sistema de organização apenas fornece marcadores para todos os seus laços abertos para que sua mente tome as decisões estratégicas mais facilmente. Não importa quantas sejam as Listas de Projetos, desde que você reflita sobre todas elas sempre que for necessário. É provável que você o faça de uma vez só, durante a Revisão Semanal. Como subdividir projetos Em certas situações, faz sentido criar subclassificações para sua Lista de Projetos. Veja alguns exemplos: Pessoal/profissional. Muitas pessoas preferem subdividir suas listas em projetos pessoais e projetos profissionais. Reflita sobre ambas com o mesmo cuidado e atenção. Muitas ações da lista pessoal talvez precisem ser engajadas nos fins de semana, mas não relegue a reflexão a apenas esses dois dias. Além disso, algumas situações de pressão decorrem de aspectos pessoais não resolvidos. Projetos delegados. Se você exerce um cargo alto na hierarquia, deve ser responsável por diversos projetos, alguns dos quais são delegados aos subordinados. Embora você sinta vontade de incluí- los na lista Aguardando Resposta, talvez faça mais sentido criar uma Lista de Projetos Delegados para se manter atualizado quanto a eles. Reflita regularmente sobre a lista para garantir que tudo está correndo conforme planejado. Tipos específicos de projetos. Há quem lide com projetos totalmente diferentes entre si, que devem ser agrupados em sublistas de modo a funcionar com eficiência e alta produtividade. Por exemplo, um promotor de eventos poderia manter uma categoria distinta de “Projetos: apresentações”, com a cronologia de todos os eventos próximos a essa natureza. Seriam “projetos” como os outros, uma vez que você deve refletir sobre as atividades até que elas sejam concluídas. Mas talvez seja útil organizar todos eles numa lista, na ordem em que forem surgindo no calendário, à parte de outros projetos. A dose certa de complexidade é o que gera a simplicidade ideal. Se você é corretor de imóveis, presta serviços de consultoria ou apresenta propostas a clientes potenciais, talvez considere útil ver todas as suas “possíveis vendas” num único lugar. Você pode preparar uma lista separada, mas, para funcionar bem, deve atualizar e refletir sempre sobre ela a fim de que possa acompanhar as ações em curso. Subdividindo suas listas ou não, o mais importante é assegurar que o backlog esteja sempre completo e atualizado e que você reflita sobre ele com regularidade. Assim, você será capaz de se desligar dos projetos e se dedicar às atividades. Talvez você até mude sua estrutura organizacional à medida que ganhar experiência com o sistema e mudar de foco no trabalho e na vida. E quanto aos subprojetos? Alguns de seus projetos podem ser subdivididos emsubprojetos, e cada um destes pode funcionar como um projeto autônomo. Caso você esteja reformando a sua casa, por exemplo, talvez tenha uma lista de itens que demandam ação, como “Terminar o jardim”, “Melhorar a cozinha”, “Construir o escritório”, etc. Nesse caso, cada item poderia ser tratado como um projeto isolado. Todos esses itens seriam incluídos na Lista de Projetos “Reforma da casa” ou cada um seria lançado como um subprojeto separado? Tanto faz, desde que você reflita sobre todos os componentes do projeto com a frequência necessária para se manter produtivo. Mas é fundamental ter consciência da coesão de todos os itens que compõem a lista (por meio da Revisão Semanal, por exemplo). Se você incluir na lista apenas o conjunto, como projeto único, terá que criar uma lista de subprojetos sobre a qual deverá refletir quando tratar do item mais amplo. Esse método é mais eficiente a partir do momento em que partes do projeto dependam da execução de outras partes. Assim, haveria subprojetos sem próximas ações definidas porque devem esperar que outras coisas aconteçam antes que possam avançar. Por exemplo, você não tem como “Melhorar a cozinha” sem antes “Substituir a fiação elétrica”. Se suas condições financeiras só permitem que você se engaje num subprojeto de cada vez, faria sentido organizá-los de acordo com a prioridade. Talvez fosse possível, no entanto, prosseguir com “Terminar o jardim”. Desse modo, as próximas ações sempre poderiam estar em curso em qualquer parte do projeto mais amplo, desde que pudessem progredir de maneira independente. Não se preocupe demais com qual seria a melhor lista. Se eu não tivesse certeza, incluiria os grandes projetos na Lista de Projetos e manteria os componentes como parte do material de suporte a projetos, me assegurando de incluí-los na Revisão Semanal. Em geral, isso facilita a perspectiva mais ampla. Se esse esquema não lhe parecer muito adequado, tente incluir os subprojetos ativos e independentes como itens separados na lista mestre. Fica a seu cargo como listar projetos e subprojetos; apenas tenha certeza de que você saiba onde encontrar todas as partes e reflita sobre elas frequentemente conforme as for tirando da cabeça. Não há sistema perfeito para monitorar todos os projetos e subprojetos. Você só precisa saber que tem projetos e, se eles estiverem associados a componentes, onde encontrar lembretes deles. Materiais de apoio Os materiais de apoio não são ações nem lembretes de projetos. São recursos para facilitar a definição de suas próximas ações. Não use o material de apoio como lembretes. As pessoas costumam usar pilhas de papel, pastas entulhadas e/ou grande quantidade de e-mails e documentos digitais como lembretes de que têm um projeto e precisam fazer algo a respeito. Em resumo, usam o material de apoio como lembretes de ação. O problema é que as próximas ações e os itens da lista Aguardando Resposta desses projetos ainda não foram definidos a essa altura e, do ponto de vista psicológico, continuam imersos em pilhas, pastas e e-mails – dando a impressão de que não passam de tralha a ser descartada. Quando você está na correria, no turbilhão das atividades do dia a dia, pastas desse tipo são a última coisa que você quer examinar à procura de ações a serem engajadas. Você, na verdade, se torna insensível a pastas e pilhas, porque elas não o levam à execução, apenas geram mais ruído mental e estresse emocional. O que continua na sua cabeça exigindo que você faça algo a respeito? Se você se identificou com essa situação, primeiro adicione o projeto à Lista de Projetos como lembrete de que há um resultado a ser alcançado. Então as ações isoladas e os itens da lista Aguardando Resposta devem ser incluídos nos lembretes de ações. Quando chegar a hora de colocar uma ação em prática, pegue o material de apoio de que talvez precise durante a conversa. Repetindo, você não deve usar materiais de apoio como lembretes – relegue isso à sua Lista de Próximas Ações. Se o material contiver planos e descrições de projetos, além de informações específicas para arquivo de referências, talvez seja o caso de mantê-los um pouco mais visíveis e acessíveis do que os outros materiais comuns nos gaveteiros ou no computador. Esses lugares também são bastante adequados para armazenar tralha de apoio, desde que você seja disciplinado o suficiente para dar uma olhada nos planos sempre que fizer a Revisão Semanal. Do contrário, será melhor manter essas pastas de apoio em outro arquivo ou numa pilha de Pendências separada sobre a mesa ou em outra superfície visível. Voltando ao exemplo anterior, você poderia ter uma pasta com a etiqueta “Reformas – endereço”, contendo todos os planos, detalhes e anotações sobre o jardim, a cozinha e o escritório. Na Revisão Semanal, ao tratar do item “Reforma da casa” em sua Lista de Projetos, você puxaria a pasta que contém todas as anotações referentes a isso para certificar-se de que não perdeu nenhuma das Próximas Ações. Elas, então, seriam engajadas, delegadas ou adiadas na Lista de Próximas Ações e a pasta seria recolocada no gaveteiro até que você a retirasse de novo para se engajar nas ações ou na próxima Revisão Semanal. Muita gente que interage com clientes tentou usar as pastas de clientes e/ou o software de relacionamento com clientes (CRM) para “gerenciar a conta”. O problema é que alguns materiais são apenas fatos ou dados históricos a serem armazenados como antecedentes e usados no momento em que forem necessários. Parte do que deve ser monitorado são as ações necessárias para reforçar os relacionamentos. Esse último tipo de material pode ser organizado com mais eficácia no sistema de lista de ações. Informações sobre clientes podem ser mantidas como arquivo de referência rápida ou armazenadas na biblioteca de clientes. Se você precisar telefonar para um deles, o lembrete deve estar nada mais, nada menos que na lista “Telefonemas”.21 Como organizar o raciocínio sobre projetos No Capítulo 3, sugeri que devem lhe ocorrer ideias sobre projetos que talvez você queira manter, mas nem sempre como próximas ações. Essas ideias se enquadram na categoria ampla de “materiais de suporte a projetos” e podem ser qualquer coisa: desde uma vaga noção sobre algo a ser feito em suas próximas férias até um esclarecimento sobre um importante componente do Plano de Projeto. Talvez elas ocorram enquanto você está dirigindo, ao ouvir alguma notícia no rádio. O que fazer com esse tipo de material? Minha recomendação aqui é que você considere onde acompanhar o projeto ou o tópico em si, como adicionar informações sobre ele nesse formato e onde armazenar dados mais extensos. A maioria dos profissionais terá várias opções sobre como lidar com materiais de apoio, inclusive juntando anotações a cada item da lista, organizando informações digitais em e-mails ou bancos de dados e mantendo arquivos impressos e anotações em cadernos. Não há necessidade de perder uma ideia sobre um projeto, um tema ou um tópico. Notas anexadas. A maioria dos softwares voltados para organização permite que você anexe uma nota a uma lista ou item do calendário. Se você mantiver uma Lista de Projetos no computador, acesse o projeto sobre o qual teve uma ideia, anexe uma nota a ele e digite a ideia. Trata-se de uma excelente maneira de capturar aquela ideia que você escreveu no guardanapo. Se sua Lista de Projetos estiver registrada em meio físico, cole um post-it ao lado do item na lista mestra ou na folha de papel que foi destinada ao item. Em todo caso, você precisará se lembrar de olhar a nota ao refletir sobre o projeto, para de fato aproveitá-la. E-mail e softwares. O mundo digital oferece uma variedade infinita de alternativas para lidar com ideias sobre projetos. Os e-mails que contenham boas informações podem ser mantidos em pastas específicas, nomeadas de acordo. Se houver um grande volume de e-mails relacionados, crie mais pastas. Talvez valha a pena criar um banco de dados digital para organizar suas ideias sobre projetos ou tópicos.O avanço da tecnologia já permitiu o desenvolvimento de várias ferramentas com esse propósito. A má notícia sobre a boa notícia referente à enorme variedade de opções digitais para materiais de apoio é a facilidade com que espalhamos informações potencialmente úteis, o que talvez nos leve de volta à estaca zero: ignorar onde as coisas se encontram; carecer de integração que propicie a visão geral; não ter certeza de onde exatamente guardar os dados… e acabar tentando, mais uma vez, lembrar tudo de cabeça. Por isso preserve sua sanidade mental: crie uma Lista de Projetos clara e acessível. O perigo inerente ao mundo digital é a quantidade de dados que pode ser dispersada tão facilmente por inúmeros lugares diferentes, sem links que os coordenem. Arquivos impressos. Ter uma pasta de arquivo para cada projeto faz muito sentido quando você está acumulando material impresso. Simplicidade e facilidade de manuseio são os ingredientes básicos para um bom sistema de arquivamento de referência rápida – qualquer coisa que o deixe à vontade para criar uma pasta destinada a sobras de papel de uma reunião. Às vezes é mais fácil visualizar e acessar informações em pastas físicas do que recorrer aos dispositivos e arquivos digitais. Costumo imprimir todos os itens referentes ao projeto que possam ser úteis – planilhas eletrônicas, tabelas, e-mails – para tê-los à mão quando precisar. Anotações em cadernos. Uma grande vantagem do arquivo de folhas soltas é a possibilidade de dedicar toda uma página ou grupo de páginas a determinado projeto. Durante anos usei um caderno com uma Lista de Projetos colada na frente e uma seção de Suporte a Projetos no fim, onde deixava umas páginas em branco para capturar quaisquer ideias que surgissem. Embora os componentes dos sistemas de papel estejam sendo substituídos por alternativas digitais, as ferramentas físicas ainda são muito úteis, por apoiarem uma plataforma mais integrada e multinível, de modo a orientar melhor o raciocínio. Cada um dos métodos descritos pode ser eficaz para organizar o raciocínio sobre projetos. O importante é sempre procurar quaisquer ações sugeridas nas anotações e refletir sobre cada uma delas com a frequência necessária, à luz da natureza do projeto. Também é importante esclarecer as anotações para evitar que todo o sistema fique desatualizado. Capture essas ideias mais pela maneira como sempre ajudam o raciocínio do que por acabar vindo a aplicá-las (o que na maioria das vezes não acontece!). Mas não permita que velhas ideias continuem no sistema durante muito tempo, como se ainda fossem úteis, quando já perderam a validade. COMO ORGANIZAR DADOS QUE NÃO EXIGEM AÇÃO Curiosamente, um dos principais problemas do sistema de gestão pessoal é misturar os itens que exigem ação com dados e materiais às vezes valiosos, mas sem ação imediata. Dispor de boas estruturas para gerenciar os últimos é tão importante quanto gerenciar nossos lembretes de ações e de projetos. Quando gerenciados de maneira inadequada, os itens que não demandam ação emperram todo o processo. Eles se enquadram em três grandes categorias: materiais de referência, lembretes de ação e coisas descartáveis (lixo). Materiais de referência Boa parte do que aparece em sua mesa e desponta em sua vida é, quase sempre, material de referência. Embora não requeiram ação, são informações que talvez você deva guardar. Suas principais decisões serão quanto espaço reservar, como e onde armazenar. Em grande parte, essas decisões são pessoais ou organizacionais, com base em questões legais ou logísticas. Você só precisa dar atenção ao seu material de referência quando pretender mudar o sistema, por ter informações de mais ou de menos, considerando suas necessidades ou preferências. O problema com as tralhas é que elas continuam sendo tralhas – ou seja, ainda não se sabe se demandam ação ou não. Depois de defini-las, o que sobrar não deve encher sua cabeça nem ser considerado uma pendência – é a sua biblioteca. Portanto, a decisão restante é sobre o tamanho dela. A partir do momento em que você passar a gerir suas ações, acumulará tanta tralha quanto seu espaço (físico e digital) permitir. Ao aumentar a memória do computador ou acrescentar espaço na nuvem, sua biblioteca de e-mails e arquivos digitais também crescerá. Quanto mais material de referência, menos sobrecarga para sua cabeça. Os inúmeros sistemas de referência Os materiais de referência aparecem sob várias formas e podem ser organizados de diversas maneiras. Eis os sistemas mais comuns: • Arquivo de referências gerais – papéis, e-mails e conteúdo digital • Arquivo de categorias • Gerenciadores de contatos • Bibliotecas e arquivos Seu sistema de arquivo e de material de referência deveria ser uma simples biblioteca de dados facilmente recuperáveis, e não seu lembrete de ações, projetos, prioridades ou possibilidades. Arquivo de referências gerais. Um bom sistema de arquivamento é fundamental para esclarecer e organizar a tralha. Também é indispensável para lidar com o material impresso e as informações digitais que, por algum motivo, são importantes para você. Daí a necessidade de dispor de espaço e de maneiras de armazenar as duas espécies. O ideal é que você já tenha constituído um arquivo de referências gerais ao esclarecer a caixa de entrada. Você deve se sentir à vontade para arquivar até uma folha de papel de que talvez venha a precisar no futuro ou um artigo que tenha lido on-line. Além disso, o arquivo de referências gerais deve ser acessível. Se isso ainda não ocorrer, releia o Capítulo 4 para alguma orientação acerca desse tópico. A maioria das pessoas acaba precisando de um a quatro gaveteiros, de dúzias de pastas de plástico e de outros tantos megabytes ou gigabytes de armazenamento digital. A rede em si não passa de um enorme arquivo digital, ao mesmo tempo atenuando a necessidade de criar a própria biblioteca de referências digitais e produzindo enorme quantidade de informações a capturar e organizar no próprio sistema. A enxurrada crescente de informações e de meios de acessá-las e organizá-las apenas agrava a necessidade de distinguir inputs e de criar e manter um sistema eficaz de armazenamento de referências. Arquivo de categorias. Qualquer tópico que exija mais de 50 pastas e/ou grandes documentos pode precisar de área, gaveta ou banco de dados digital próprio, organizado por ordem alfabética ou qualquer outro critério que facilite o acesso. Por exemplo, se você estiver gerenciando uma operação de fusão ou incorporação e tiver de lidar com uma vasta papelada, talvez seja o caso de destinar dois ou três gaveteiros ao arquivamento de toda a documentação necessária. Se tiver hobbies, dedique uma gaveta a cada um. Se sua área de foco tiver material de apoio que possa se misturar com o de outra área de foco, talvez você tenha que armazenar a informação em referências gerais ou em referências específicas. Onde você guardaria um artigo sobre estofamento: em reformas ou decoração? Opte por um sistema de referências gerais, exceto no caso de um número muito limitado de tópicos específicos. Gerenciadores de contatos. Muitas das informações a serem arquivadas se referem às pessoas de sua rede de contatos. Organize as informações nos dispositivos móveis, em casa ou no escritório: números de telefones, endereços de e-mails, etc. Além disso, talvez seja o caso de salvar datas de aniversário e interesses pessoais, entre outros dados. No contexto profissional, você pode incluir datas de admissão, avaliações de desempenho, metas e objetivos, além de informações relevantes para o desenvolvimento da equipe. A ferramenta “Contatos” das agendas em papel e dos celulares talvez seja o sistema de organização mais comum. Todo mundo precisa registrar números de telefone e endereços de e- mail de amigos, colegas de trabalho e clientes. Vale salientar que não há necessidade de ação; trata-se basicamente de material de referência. Mas, uma vez que você tenha filtrado os itens que demandam ação em meio a todos os inputs,não há nenhum mistério em como organizar as informações sobre contatos além da logística referente às suas necessidades individuais. Mais uma vez, não use o gerenciador de contatos como lembrete de ações. Se você identificar e rastrear nas listas de lembretes todas as ações referentes aos seus contatos, o gerenciador de contatos não terá mais nenhuma função a não ser armazenar dados. A única questão (ou oportunidade) passa a ser, então, a quantidade de informações que você deve guardar e quais ferramentas utilizar para garantir sua acessibilidade. Nenhum dispositivo é perfeito, mas, à medida que as ferramentas digitais móveis, conectadas à internet, se tornam cada vez mais poderosas, além da ligação com armazenamento de dados, tanto a facilidade de acesso quanto o emaranhado de opções aumentam. Bibliotecas e arquivos: níveis personalizados. As informações úteis são distribuídas em vários níveis. É provável que você consiga encontrar quase qualquer coisa se estiver disposto a escavar fundo o suficiente. A dúvida sobre quanto arquivar, com que proximidade e de que forma fazê-lo é uma realidade em constante mutação, considerando as suas necessidades, seu nível de conforto específico no manejo dos dados e a tecnologia que turbina sua interação com as informações globais. Nesse contexto, a organização e a produtividade pessoais não são temas centrais, desde que todos os seus projetos e ações se concentrem num sistema de controle com que você trabalhe de maneira regular. Os materiais de referência, sob todas as formas, se tornam, então, nada mais, nada menos que material a ser capturado e acessado de acordo com suas inclinações, necessidades e capacidades. Se o material for apenas para referência, a única questão é se vale a pena investir tempo e espaço para mantê-lo. Algum grau de consistência sempre facilitará as coisas. A que coisas você deve ter acesso o tempo todo? Carregue-as em seus dispositivos móveis, no notebook ou no caderno de anotações. O que precisa levar para reuniões ou eventos fora do local de trabalho? Coloque na mala, na mochila, na sacola ou na bolsa. Do que precisa quando está no escritório? Mantenha tudo no sistema de arquivamento pessoal ou no computador em rede. E quanto às situações pouco comuns no âmbito profissional? Os materiais a elas pertinentes devem ser mantidos em armários, depósitos fora do local de trabalho ou na nuvem digital. O que você pode encontrar na rede sempre que for necessário? O único problema aqui será quando você não dispuser de conexão com a internet. Nesse caso, imprima ou salve os dados num pen- drive. Está vendo como a organização do material de referência se baseia na logística e na finalidade? Distinguir os itens que exigem ação dos que não exigem é o primeiro fator crítico de sucesso. O segundo é definir como você pretende usar a informação e, portanto, onde e como armazená-la. Uma vez abordadas essas questões, você tem liberdade total para gerenciar e organizar todo o seu material de referência. Não existe um sistema de referência “perfeito”. Sua estrutura e seu conteúdo exigem decisões individuais, baseadas na relação entre o valor recebido, de um lado, e o tempo e o esforço dispendidos, de outro. A solução é partir das informações reais a serem mantidas, escolher o melhor lugar onde guardá-las, para que sejam acessíveis e recuperáveis, e desenvolver um sistema específico, sob medida, do começo ao fim em vez de escolher ou projetar um sistema genérico. Com o passar do tempo, você aprimorará suas bibliotecas de referência, convertendo-as em estruturas mais amplas e mais sensíveis. Os resultados serão mais eficazes se você também melhorar a maneira como gerencia as realidades do dia a dia. Nesse ponto, é importante tolerar alguma ambiguidade, no esforço de descobrir a melhor maneira de se engajar em tudo. A chave será refletir sobre o sistema e avaliá-lo com regularidade e promover correções de curso dinâmicas, em tempo real, conforme as necessidades. Algum dia/Talvez A segunda coisa a se lidar na organização de itens que não demandam ação é como acompanhar o que você pretende avaliar no futuro. Nessa categoria, você pode incluir desde viagens que venha a fazer algum dia, livros que gostaria de ler e projetos que começarão no próximo ano a competências e talentos que você quiera desenvolver. Para a plena implementação desse modelo, será necessário algum tipo de compartimento de espera. Os itens da categoria Algum dia/Talvez não são descartáveis. Talvez eles sejam algumas das coisas mais interessantes e criativas com que você irá se envolver. Há diversas formas de adiar as coisas para posterior reflexão, todas capazes de esvaziar a sua mente. Inclua-as em várias versões de Algum dia/Talvez ou deixe-as engatilhadas no Calendário ou no Arquivo de Referência Rápida. Algum dia/Talvez Se você já tiver feito uma varredura completa da mente ao capturar coisas em seu espaço mental, devem ter surgido itens em relação aos quais você não tinha completa segurança quanto a se comprometer. “Aprender espanhol”, “Comprar um cavalo para Márcia”, “Escalar o Aconcágua”, “Escrever um romance de mistério” e “Alugar uma cabana para as férias” são projetos típicos que se enquadram nessa categoria. Crie uma categoria Algum dia/Talvez em qualquer sistema de organização de sua escolha. Preencha-a com todos os sonhos e anseios que lhe pareçam distantes. Você talvez descubra que o simples fato de ter a lista e de começar a preenchê-la lhe possibilitará desenvolver todo tipo de ideias criativas. Você também pode se surpreender ao constatar que algumas das coisas incluídas na lista venham a se realizar, mesmo que você não tenha feito nenhum esforço consciente para que elas acontecessem. Se você reconhecer o poder da imaginação para estimular mudanças de percepção e desempenho, será fácil compreender como a presença de Algum dia/Talvez será capaz de enriquecer sua vida e seu trabalho. É provável que sejamos capazes de aproveitar as oportunidades quando elas surgirem se já as tivermos reconhecido como possibilidades. Essa tem sido minha experiência: aprender a tocar flauta e a velejar em alto-mar são projetos que começaram nessa categoria. Além da caixa de entrada, há duas outras fontes a serem exploradas para abastecer a categoria Algum dia/Talvez: a imaginação criativa e a lista de projetos em curso. Criar e manter ativa a categoria Algum dia/Talvez libera o fluxo do pensamento criativo – você tem permissão para imaginar coisas legais sem precisar se comprometer a fazer algo a respeito. Faça um inventário da sua imaginação criativa. O que você gostaria de fazer um dia, se tiver tempo, dinheiro e disposição? Inclua em Algum dia/Talvez. Algumas das categorias típicas são: • Comprar novos móveis para a casa • Praticar novos hobbies • Aprender novas competências • Explorar expressões criativas • Experimentar novas roupas e acessórios • Adquirir brinquedinhos tecnológicos • Viajar • Participar de organizações • Contribuir para projetos de serviços • Ver e fazer coisas Reavalie os projetos em curso. Chegou a hora de refletir sobre sua Lista de Projetos, de uma perspectiva mais ampla (do ponto de vista de seu trabalho, seus objetivos e compromissos pessoais) e considerar se é possível transferir alguns de seus compromissos correntes para a categoria Algum dia/Talvez. Se, depois de refletir um pouco, você concluir que um projeto não vai atrair sua atenção nos próximos meses ou em período mais longo, passe-o para essa lista. Há quem tenha considerado útil subclassificar os projetos Algum dia/Talvez. Pode ser que, em seu caso, seja grande a diferença entre pretensões realistas, como a reforma da sua casa, de um lado, e fantasias ousadas, como escalar uma montanha no Nepal, de outro. Numa empresa, isso equivaleria à distinção entre ideias pragmáticas (“Vamos discutir isso em nossa próxima reunião trimestral) e propostas imaginosas a serem consideradas quando houver recursos suficientes. O importante aqui é verificar se as listas e sublistas o estressam oulhe dão energia para continuar. Categorias especiais de Algum dia/Talvez É provável que você tenha alguns interesses especiais que envolvam muitas ações possíveis. Pode ser divertido preparar essas listas. Por exemplo: • Culinária – receitas, menus, restaurantes, vinhos • Filhos – passeios para fazer com eles • Livros • Músicas • Filmes • Ideias para presentes • Sites da internet • Viagens de fins de semana • Ideias diversas (ou seja, você não sabe em que categoria encaixá-las) Essas categorias especiais podem ser um meio-termo entre Lista de Referências e Algum dia/Talvez. “Referências” porque basta capturá-las, anotá-las e consultá-las como melhor lhe parecer; “Algum dia/Talvez” porque você pode se compromenter a refletir sobre elas mais tarde e se lembrar de, às vezes, tentar realizar uma ou mais dessas aspirações. De qualquer forma, essa é outra razão para você ter um sistema organizado que facilite a captura de coisas capazes de acrescentar valor, variedade e interesse à sua vida – sem entupir sua mente e sua área de trabalho com hipóteses duvidosas e inacabadas. O perigo de arquivos e pilhas “Manter e Refletir” Muitas pessoas criam algum tipo de pilha ou arquivo “Manter e Refletir”, que, de maneira vaga, se encaixa na categoria Algum dia/Talvez. E dizem a si mesmas: “Quando eu tiver tempo, gostaria de fazer isso.” Nesse caso, um arquivo “Manter e Refletir” parece ser um lugar conveniente onde guardar essas ideias. Não gosto de recomendar esse tipo de subsistema, uma vez que as pessoas as mantêm, mas não refletem sobre elas, e demonstram indiferença e resistência em relação à pilha e ao conteúdo. A importância da categoria Algum dia/Talvez desaparece se você não a encarar com atitude consciente. Aquilo que temos o poder de fazer temos também o poder de não fazer. – ARISTÓTELES Também é grande a diferença entre alguma coisa bem gerenciada, como um item da Lista Algum dia/Talvez, e outra que seja apenas tralha. A maior parte da tralha costuma ser descartada, uma parte se destina a Ler/Refletir, outra parcela pode ser arquivada como referência, mais um punhado é lançado no calendário ou no arquivo de referência rápida, para reflexão em um mês ou talvez no começo do próximo trimestre. Somente alguns itens realmente envolvem algum tipo de ação. Muitas vezes, depois de esclarecer tudo, descubro que não sobrou nada de aproveitável. Como usar o calendário para decisões futuras O calendário pode ser um lugar muito conveniente onde colocar lembretes de coisas que você pense em fazer no futuro. A maioria das pessoas que orientei não se sentia à vontade com seus calendários; do contrário, provavelmente teriam encontrado muito mais coisas para incluir neles. Uma das três utilidades de um calendário é o registro de informações referentes a um dia específico. Essa categoria pode incluir inúmeros itens, mas uma das formas mais criativas de usá- la é lançar coisas que você quer tirar da cabeça e reavaliar no futuro. Eis o que você pode incluir no calendário: • Gatilhos para ativação de projetos • Eventos de que você talvez queira participar • Catalisadores de decisões Gatilhos para ativação de projetos. Se houver um projeto em que você não precise pensar agora mas que mereça um alerta no futuro, escolha uma data adequada e inclua no calendário um lembrete sobre o item. O aviso deve entrar num dia específico, junto de outras coisas de que você queira ser lembrado na mesma data. Então, quando chegar o dia, você vê o lembrete e o transfere para a Lista de Projetos, como projeto ativo. Candidatos típicos a esse tratamento são: • Eventos especiais com certo prazo para organização (lançamentos de produtos, angariação de fundos, etc.). • Eventos regulares para os quais você deve se preparar, como revisões de orçamentos, conferências anuais, sessões de planejamento, reuniões periódicas (por exemplo, quando incluir “programar a convenção anual de vendas” ou “preparar as crianças para o próximo ano letivo” em sua Lista de Projetos?). • Datas importantes que merecem ser comemoradas (aniversário, Natal, Dia das Mães). Eventos de que você talvez queira participar. É provável que você receba notícias constantes sobre seminários, conferências, discursos e eventos sociais ou culturais dos quais talvez queira participar, mas só conseguirá decidir quando a data já estiver próxima. Defina, então, quando será o momento oportuno e inclua um gatilho no calendário, nessa data. Se você se lembrar de mais alguma coisa, anote-a logo. Catalisadores de decisões. Vez por outra, é necessário tomar uma decisão importante, mas você não quer ou não pode fazê-lo agora. Tudo bem, desde que você tenha concluído que a informação adicional de que precisa virá de fonte interna, não de fonte externa (você precisa dormir sobre ela), ou contanto que haja boas razões para adiar a decisão até o último momento (permitindo que todos os fatores se atualizem tanto quanto possível antes de escolher como avançar). Mas, para sentir-se bem nesse estado de indecisão, é bom estender uma rede de segurança que faça você se concentrar na questão, de maneira adequada, no momento certo. Um lembrete no calendário pode servir a esse propósito.22 Algumas áreas de decisão típicas nessa categoria são: • Admitir/demitir • Incorporar/adquirir/vender/renunciar • Mudar de cargo/carreira • Redirecionar as estratégias Esse é um tópico muito importante para que lhe seja dado tão pouco espaço, mas siga em frente e pergunte a si mesmo: “Haverá outra decisão para a qual devo criar outro gatilho no futuro de modo que posso ‘esquecê-la’ com segurança por enquanto?” Em caso positivo, ponha um lembrete no calendário para voltar ao assunto depois. O arquivo de referência rápida (sistema tickler) Uma forma elegante de gerenciar itens que não demandam ação imediata é o arquivo de referência rápida. Sua versão original permite que você mantenha lembretes físicos ou digitais relacionados a datas específicas no futuro. Ele pode ser uma ferramenta extremamente funcional, permitindo-lhe constituir o próprio serviço postal e “postar” coisas para si mesmo, para recebimento em data futura predeterminada. Usei o arquivo de referência rápida durante anos. Embora a tecnologia tenha facilitado a digitalização de lembretes desse tipo, ainda é possível gerenciá-los por meio do recurso físico. As possibilidades do gerenciamento digital avançam em ritmo acelerado, mas ainda acho mais eficiente usar papéis como lembretes. Basicamente, o arquivo de referência rápida é um conjunto de pastas que possibilita que você distribua papéis e outros lembretes físicos de maneira que qualquer coisa programada para ser vista em determinada data no futuro apareça “automaticamente” nesse dia em sua caixa de entrada. Se você tiver uma secretária ou assistente, delegue a ela parte do problema, caso possua uma versão funcional desse sistema ou de outro semelhante. Exemplos típicos seriam: • “Entregue-me a pauta no dia da reunião pela manhã.” • “Devolva-me na segunda-feira; assim tenho tempo de reavaliar a questão até a reunião de quarta-feira.” • “Lembre-me da viagem a Hong Kong com duas semanas de antecedência para planejarmos a logística.” Então, em todos os dias da semana, retire a pasta do dia e reflita sobre ela. Mesmo que exerça um alto cargo e tenha uma equipe subordinada a você, se for integrá-la ao seu estilo de vida, recomendo que não deixe o arquivo de referência rápida nas mãos de terceiros. Nesse contexto, talvez você tenha condições de se engajar em algumas ações por conta própria, fora da influência do pessoal de apoio. Com meu arquivo de referência rápida, gerencio documentos de viagem que preciso ter à mão, lembretes de aniversários e eventos especiais próximos (que ocupariam muito espaço no meu calendário digital), impressos de lugares interessantes aonde ir quando eu tiver mais tempo, etc. Conclusão: o arquivo de referência rápida exige apenas novos comportamentos que não consomem mais que alguns segundos por dia e gera retorno muitas vezes maior que o investimentopessoal. E ainda propicia uma atitude gerencial singular: decidir não decidir até determinado momento. Como configurar o arquivo de referência rápida. Serão necessárias 43 pastas – 31 numeradas de 1 a 31 (dias) e 12 etiquetadas com os meses do ano. As pastas diárias ficam na frente, começando com a de amanhã (se hoje for 5 de outubro, a primeira será a do dia 6). As sucessivas pastas diárias representam os dias restantes do mês (de 6 a 31). Atrás da 31 coloca-se a pasta mensal do mês seguinte (novembro) e atrás dela as pastas diárias de 1 a 5. Em seguida, enfileiram-se as demais pastas mensais (dezembro a outubro). Todos os dias a pasta do dia seguinte é esvaziada na caixa de entrada e recolocada atrás das pastas diárias (agora, em vez de 6 de outubro, ela representa 6 de novembro). Da mesma forma, quando a próxima pasta mensal vier para a frente (em 31 de outubro, depois da transferência do conteúdo da pasta para a caixa de entrada, a pasta de novembro será a próxima, com as numeradas de 1 a 30 atrás), ela é esvaziada na caixa de entrada e recolocada atrás das pastas mensais, para representar novembro do próximo ano. Esse é um arquivo perpétuo, significando que, a qualquer momento, contém pastas dos próximos 31 dias e dos próximos 12 meses. A grande vantagem de usar pastas de arquivo para o arquivo de referência rápida é que elas permitem que você guarde os documentos em si (o formulário que você deveria preencher, a pauta da reunião para refletir, a conta para pagar, etc.). FIGURA: CONFIGURAÇÃO DO ARQUIVO DE REFERÊNCIA RÁPIDA (5 DE OUTUBRO) Para que o sistema funcione, é preciso verificá-lo e atualizá-lo todos os dias. Caso você se esqueça de esvaziar as pastas diárias, o arquivo de referência rápida deixará de ser confiável e será preciso recorrer a outros meios. Ao se ausentar (ou caso não o acesse nos fins de semana), você terá que verificar antecipadamente as pastas referentes aos dias de afastamento. CHECKLISTS: LEMBRETES CRIATIVOS E CONSTRUTIVOS O último tópico sobre organização é a manutenção e a atualização de checklists, as “receitas de ingredientes potenciais” para projetos, processos e procedimentos de trabalho, eventos e áreas de valor, interesse e responsabilidade. Em essência, qualquer lista usada como lembrete ou para avaliar os procedimentos e/ou componentes de uma atividade são checklists. Prestam-se à função de apontar aspectos sobre os quais devem ser refletidos, para evitar que você se esqueça de alguma coisa. Os checklists costumam aparecer como uma listagem do conteúdo de um tópico, de um procedimento ou de qualquer área de interesse ou atividade a ser usada em momento específico ou sempre que você se comprometer com uma tralha. Nessa lista você pode incluir desde a visão geral de áreas de foco até instruções detalhadas sobre como postar imagens na internet. Muitos anos atrás, Alfred North Whitehead observou que “a civilização avança na medida em que amplia a quantidade de coisas importantes em que podemos nos engajar sem pensar nelas”. Os checklists são uma versão micro dessa observação macro: sempre que for preciso pensar em algo, por causa da regularidade de uma visão renovada (“A partir deste ano eu vou…”) ou em face de uma situação específica que exige mais detalhes do que aqueles de que é possível se lembrar com facilidade (“Antes de começar o seminário, preciso…”), convém confiar essas ações à “mente externa” – o seu sistema de gerenciamento que guarda os detalhes com que você deve se comprometer em determinados momentos.23 Há infinitas possibilidades de se fazer um checklist, permitindo que você exerça controle sem estresse sobre várias situações da vida pessoal e profissional. Se a diretoria o incumbir de três importantes iniciativas ou resultados a serem realizados ou alcançados no ano, refletir sobre o andamento de cada um antes da próxima reunião é recorrer a checklists. Como estou descrevendo o processo de esclarecer e organizar o possível conteúdo de sua mente, para começar a implementar esse sistema focarei um conjunto de tópicos comuns, para os quais os checklists são em geral a melhor solução. Itens em que prestar atenção Quando tento descobrir o que entulha a cabeça das pessoas, descubro tralhas como: • Praticar exercícios físicos com mais regularidade • Passar mais tempo com os filhos • Fazer um planejamento mais proativo para a equipe • Manter o moral dos subordinados elevado • Garantir o alinhamento com a estratégia da empresa • Manter atualizado o processo de faturamento • Concentrar-me mais em práticas espirituais • Prestar mais atenção aos objetivos pessoais dos membros da equipe • Manter a motivação no trabalho • Conversar e me atualizar com pessoas importantes da empresa O que fazer com esse conjunto confuso de compromissos internos e áreas de atenção? Primeiro, identifique projetos e ações Para grande parte desse tipo de tralha, ainda há um projeto e/ou uma ação a ser definido. “Praticar exercícios com mais regularidade” de fato é traduzido como “Adotar programa de exercícios frequentes” (projeto) e “Telefonar para Sally e pedir sugestões sobre academias e personal trainers” (ação concreta). Nesses casos, projetos e ações ainda precisam ser esclarecidos e organizados num sistema pessoal. Ou “Manter o moral dos subordinados elevado” deve se converter em projeto (“Explorar progressos profissionais do departamento”) com uma ação concreta (“Enviar e-mail ao RH para saber o que eles pensam disso”). No entanto, há algumas coisas que não se encaixam muito bem nessa categoria e precisam da orientação dos checklists. Projetando as principais áreas de trabalho e as responsabilidades Objetivos como “Ter um bom condicionamento físico” ou “Deixar minha equipe motivada” às vezes ainda precisam se converter em algum tipo de checklist sobre o qual se deve refletir com regularidade. São várias as camadas de resultados e padrões que atuam na sua cabeça e influenciam suas escolhas, a qualquer momento. Identificá-las é sempre uma boa ideia (embora não seja fácil). Há pelo menos seis níveis em seu “trabalho” que devem ser definidos. Cada um deles merece reconhecimento e avaliação. Um backlog completo de tudo o que você considera importante e com que está comprometido comporia um checklist incrível. Ele poderia incluir: • Objetivos de carreira • Serviços • Família • Relacionamentos • Comunidade • Saúde e energia • Recursos financeiros • Expressão criativa E, descendo um nível em seu trabalho, você talvez queira incluir alguns lembretes de suas principais áreas de responsabilidade, sua equipe, seus valores e assim por diante. Uma lista assim abrangeria itens como: • Moral da equipe • Processos • Cronogramas • Questões da equipe • Carga de trabalho • Comunicações • Tecnologia Todos esses itens poderiam, por sua vez, ser incluídos nas listas de seu sistema pessoal como lembretes. Muitas vezes, o benefício consiste apenas em afirmar que a área específica está ok; nada precisa ser acrescentado ou mudado. Ter consciência disso, porém, contribui para o foco sem estresse. Quanto mais recente for a situação, maior é o controle requerido A extensão em que adotamos checklists e controles externos é inversamente proporcional a quanto conhecemos a área de responsabilidade. Se você estiver fazendo o que está fazendo por muito tempo e não sofrer pressões para mudar, é provável que precise de um mínimo de organização pessoal externa para se manter no piloto automático. Você sabe quando as coisas devem acontecer e como fazê-las acontecer e seu sistema funciona bem, mantendo o status quo. Você poderia gerenciá-lo até dormindo. Mas não é esse o caso. Você já se perguntou o que deve fazer agora? Em qualquer situação, você precisa de um checklist. Não entendo muito de computador, então, sempre que peço ajuda aos especialistas em TI, é fácil me convencer de que me lembrarei do que eles disseram que eu precisava fazer. Aprendi (muitas vezes da maneira mais difícil) a criar checklists para essas situações. Muitas vezes você precisará de um tipo de checklistpara ajudá-lo a manter o foco até que você se acostume com o que está fazendo. Por exemplo, se o CEO da sua empresa some de repente e você precisa exercer as funções dele, talvez queira ter instruções e descrições do trabalho para certificar-se de que está considerando os aspectos críticos da missão. E se você tiver sido contratado para uma nova posição, com novas atribuições, precisará de uma estrutura de monitoramento e controle, pelo menos nos primeiros meses. Checklists são usados para facilitar a implementação de uma nova estrutura organizacional e de um sistema operacional até que as inovações se tornem automáticas. Checklists podem ser altamente úteis para ajudá-lo a identificar aquilo com que você não precisa se preocupar. Às vezes precisei fazer listas de todas as áreas que tive que gerenciar temporariamente, até passar a controlar a situação. Por exemplo, quando minha mulher e eu criamos uma estrutura para um negócio nosso, assumi atribuições totalmente novas para mim. Durante meses, mantive um checklist dessas ações à minha frente, para garantir que tivesse preenchido todas as lacunas e gerenciado a transição da melhor maneira possível. Quando o negócio começou a funcionar sozinho, não precisei mais das listas. Checklists em todos os níveis Crie qualquer tipo de checklist que atenda às suas necessidades. As possibilidades são infinitas, como “Valores fundamentais da vida”, “Acessórios para o acampamento” ou “Sugestões de presentes”. Preparar listas voltadas para finalidades específicas é um dos melhores procedimentos, ainda que simples e provisório, que você pode adotar. Para estimular seu pensamento criativo, eis uma lista com alguns tópicos de checklists bem comuns: • Atribuições do cargo (principais áreas de responsabilidade) • Exercícios físicos (programas de treinamento de resistência muscular) • Itens de viagem (tudo o que deve ser separado ou ser feito antes da viagem) • Revisão Semanal (tudo o que deve ser atualizado a cada semana) • Componentes de um programa de treinamento (tudo o que se deve fazer ao organizar um evento) • Principais clientes • Contatos (todas as pessoas com quem você queira manter um relacionamento) • Pendências de fim de ano (todas as providências que você deve tomar para encerrar o período) • Desenvolvimento pessoal (tudo o que você deve avaliar para garantir seu progresso e seu equilíbrio) • Brincadeiras e passeios (tudo o que você pode fazer com as crianças no fim de semana) A habilidade e a boa vontade para fazer checklists acessíveis quando necessários são os componentes centrais para uma gestão bem-sucedida. Acostume-se a preparar checklists, tanto circunstanciais quanto permanentes. Elabore-os e elimine-os quando necessário. Guarde as novas listas em lugar acessível e mantenha-as sempre disponíveis. Quando usados da maneira adequada, os checklists podem ser extremamente eficazes para melhorar a produtividade e aliviar a pressão mental. Se você já capturou todos os laços abertos, esclareceu cada um desses itens, definindo as ações que exigem, e organizou os resultados num sistema que forneça a visão geral atualizada de todos os projetos atuais e eventuais, então você está pronto para o próximo passo da arte da produtividade sem estresse: o da reflexão. CAPÍTULO 8 Refletir: garantindo a eficácia e a funcionalidade do sistema O propósito de todo este método de gestão do fluxo de trabalho não é permitir que o cérebro relaxe, e sim criar condições para que a mente se dedique a atividades mais produtivas e criativas. Para conquistar essa liberdade, entretanto, o cérebro precisa se comprometer com todas as suas ações. Você deve ter certeza de que está fazendo o que precisa ser feito e que não há problemas em não fazer o que não está fazendo. Isso facilita a condição de estar presente. Refletir sobre o sistema com regularidade, pensar no conteúdo e mantê-lo atualizado e funcional são pré-requisitos para esclarecer e manter tudo equilibrado. Se você tiver que ligar para algumas pessoas, por exemplo, mas a lista com essas ações não estiver completamente atualizada com todos os telefonemas que você precisa fazer, o cérebro não mais confiará no sistema e se recusará a se engajar nas atividades mentais de baixo nível. A mente será obrigada a reassumir as ações de registrar, esclarecer e lembrar. Isso pode significar que seu sistema de organização não tem estabilidade. Para tomar as decisões acerca das ações adequadas, ele deve estar sempre atualizado. E precisa avaliar tudo que o cerca. Há duas questões principais com que lidar nesse momento: • O que e quando avaliar tudo isso? • O que você precisa fazer para garantir que tudo funcione como um sistema integrado, liberando a sua mente do esforço? E com que frequência? O verdadeiro processo de reflexão o levará a desenvolver novas ideias em áreas fundamentais da vida pessoal e profissional. Essas ideias, que podem surgir tanto da concentração intensa quanto como resultado do brainstorming, serão disparadas por uma reflexão pessoal de seu backlog de ações e projetos. O QUE E QUANDO AVALIAR? Seu sistema pessoal e seus comportamentos precisam ser estabelecidos de tal modo que você possa avaliar todas as alternativas de ação, quando for necessário identificá-las. Na verdade, isso não passa de bom senso, mas poucas pessoas de fato dispõem de processos e de organização eficazes o suficiente para atingirem esse nível de funcionalidade. Você precisa de apenas poucos segundos por dia para refletir, desde que esteja avaliando as coisas certas na hora certa. Quando você estiver com tempo livre e tiver um telefone à mão, deve ao menos dar uma olhada na lista que enumera todos os telefonemas que você tem que dar. Então ou você faz a ligação que lhe parece mais fácil e rápida de lidar ou não se preocupa com isso. Quando estiver se preparando para discutir com seu chefe, pare um momento e reflita sobre a pauta, de modo a usar o seu tempo com eficiência. Quando precisar pegar uma roupa na lavanderia, primeiro reflita sobre todas as outras pendências que você pode resolver no caminho. As pessoas costumam me perguntar quanto tempo eu passo avaliando o sistema. Ora, avalio o sistema até que me sinta satisfeito com o que eu estiver fazendo. Devo levar alguns segundos em cada questão. O que elas não entendem é que minhas listas são, em certo sentido, meu escritório. Assim como você pode usar post-its e pilhas de documentos que representam o trabalho em que você deve se engajar, eu faço o mesmo com minhas Listas de Próximas Ações e meu Calendário. Tendo em vista que você capturou, esclareceu e organizou sua tralha, é muito provável que bastem apenas uns breves momentos aqui e ali para acessar o sistema em busca de lembretes diários. Refletindo sobre o Calendário… Você deve refletir com mais frequência sobre seu Calendário e o Arquivo de Referência Rápida para avaliar o que precisa ser feito. Conheça primeiro os parâmetros de tempo e espaço. Por exemplo, saber que você participará de uma reunião atrás da outra durante um dia inteiro, com um intervalo de meia hora para o almoço, o ajudará a tomar as decisões necessárias sobre quaisquer outras atividades. … e agora as Listas de Próximas Ações Depois de refletir sobre todos os seus compromissos com dia e hora específicos, outra área sobre a qual você deve refletir com frequência são as Listas de Próximas Ações. Se você estiver no escritório, examine as listas “Telefonemas”, “No computador” e “No escritório”. Refletir não significa necessariamente se engajar nos itens das listas; você apenas os comparará com o intuito de fazer a melhor escolha quanto ao que fazer primeiro. Confie em si mesmo e não deixe passar nada de importante. A manutenção da vida e a busca da felicidade não são duas questões separadas. – AYN RAND Se seu calendário for confiável e suas Listas de Próximas Ações estiverem atualizadas, talvez sejam as únicas coisas que você precise consultar a cada um ou dois dias. Já fiquei sem checar minhas listas por vários dias porque meu calendáriodita o que eu não posso fazer. A reflexão certa no contexto certo Talvez você precise acessar qualquer uma de suas listas a qualquer hora. Quando você e seu cônjuge quiserem se certificar de que estão dando conta de todas as questões domésticas e da família, é bom que tenham uma agenda conjunta. Por outro lado, se seu chefe aparece de repente para conversar sobre as prioridades do momento, será muito útil contar com a Lista de Projetos atualizada e a agenda da equipe em mãos. Quando você recebe um convite inesperado para um almoço extremamente estratégico com um cliente, quanto tempo você leva para reunir as informações, arrumar a mesa e desmarcar compromissos para se dedicar inteiramente a ele, o que pode lhe ocupar toda a tarde? ATUALIZANDO SEU SISTEMA A solução mais eficaz para garantir a confiabilidade de todo o sistema de organização é por meio da renovação regular das suas ideias e do seu sistema. Isso não acontecerá caso suas listas não acompanhem a realidade. Você não conseguirá se enganar a respeito disso: se seu sistema não estiver atualizado, sua mente terá que voltar a se esforçar para lembrar o que você deve fazer. Para tornar o conhecimento produtivo, teremos que aprender a enxergar tanto a floresta quanto as árvores. Vamos ter que aprender a nos conectar. – PETER DRUCKER Talvez esse seja o maior de todos os desafios. Depois de saber como é ter a mente clara como água e controlar tudo o que está acontecendo sem qualquer esforço mental, você conseguirá manter esse padrão? O método GTD tem demonstrado que a chave mágica da sustentabilidade do processo é a Revisão Semanal. O poder da Revisão Semanal A velocidade com que o mundo avança é maior do que sua capacidade de acompanhá-lo, por melhores que sejam as suas intenções. É fácil perceber que nos envolvemos com mais coisas do que somos capazes de lidar. Participamos de sucessivas reuniões, comparecemos a diversos eventos depois do expediente e nos comprometemos com pendências e projetos que colocam à prova nossa inteligência e criatividade. Você invariavelmente se envolve em mais oportunidades do que seu sistema pode esclarecer no dia a dia. Esse turbilhão de atividades é exatamente o que torna a Revisão Semanal tão valiosa. Ela usa o tempo de captura, de avaliação e de esclarecimento para manter você em equilíbrio. Não há como fazer esse reagrupamento enquanto você está tentando fazer seu trabalho. A Revisão Semanal também aguçará seu foco intuitivo nos projetos importantes enquanto você lida com a enxurrada de novos inputs e distrações que o assediam durante toda a semana. Aprenda a dizer não para conseguir dar conta de tudo. Dedique algum tempo a gerar novas ideias acerca dos projetos e assim facilitar o processo. O que é a Revisão Semanal? Para simplificar, trata-se de tudo o que você precisa fazer para esvaziar a cabeça e se orientar ao longo das duas semanas seguintes. É percorrer as fases do gerenciamento do fluxo de trabalho – capturar, esclarecer, organizar e refletir – até que você esteja ciente de tudo o que não está fazendo, mas que poderia estar, se assim decidisse. Do ponto de vista prático, há três coisas que você pode fazer: esclarecer, atualizar e criar. A primeira garantirá que toda a tralha capturada seja esclarecida. Manter os itens atualizados fará você refletir sobre todos os seus “mapas” (ferramentas que orientam o seu foco) ou listas. A capacidade de criar se desenvolve à medida que você esclarece – mas, aos poucos, você colaborará com ideias e perspectivas que agregarão valor ao seu sistema. Esclareça Você deve capturar todas as pontas soltas que surgiram durante a semana: anotações de reuniões, contas pagas e cartões de visita recebidos, avisos das escolas dos filhos e todos os inputs que acabaram se acumulando em bolsos e tablets, gavetas e estantes, além daqueles que jazem na caixa de entrada do seu e-mail e nas mídias sociais. Capture papéis e materiais avulsos. Recolha folhas de papel, cartões de visita, recibos, tudo aquilo que pode ter se perdido nas frestas da sua área de trabalho, nos cantos dos seus acessórios e nas dobras das suas roupas. Ponha tudo na caixa de entrada para esclarecer. Esvazie a caixa de entrada. Reflita sobre os rascunhos, as anotações e os itens inclusos nos dispositivos móveis. Defina as próximas ações e reúna-as em categorias (Próximas Ações, Projetos, Calendário, Algum dia/Talvez). Arquive notas e materiais de referência. Limpe a caixa de e-mails e as mensagens de texto e correio de voz do seu celular. Esclareça tudo o que tiver a ver com interações, projetos, novas iniciativas e inputs e descarte o que for desnecessário. Esvazie a cabeça. Inclua anotações nas categorias adequadas, referentes aos novos projetos, ações (imediatas ou não), pendências, itens que ainda não foram capturados e esclarecidos. Fique atualizado Elimine os lembretes obsoletos, atualize e preencha as listas do seu sistema. Siga estes passos: Reflita sobre as Listas de Próximas Ações. Exclua aquilo em que você já se engajou. Elimine ou acrescente, conforme o caso, lembretes de ações. Talvez você esclareça tudo tão rapidamente que acabe esquecendo de excluir itens encerrados, muito menos definir a próxima ação. Faça isso agora. Reflita sobre os dados antigos do calendário. Examine os registros feitos nas duas ou três últimas semanas em busca de ações remanescentes ou informações de referência e transfira o que encontrar para o sistema ativo. Você provavelmente identificará reuniões e eventos que lhe sugeriram ideias de próximas ações. Arquive o velho calendário. Não deixe nele nada que não tenha sido capturado. Reflita sobre os dados futuros do calendário. Avalie os novos registros, de curto e longo prazo. Capture as ações sobre projetos e preparativos necessários para eventos futuros. O calendário é um dos melhores checklists e por isso se deve refletir sobre ele regularmente a fim de evitar o estresse de última hora e disparar a criatividade. Viagens, congressos, reuniões e feriadões iminentes são itens que podem ser avaliados e acrescentados às Listas de Projetos e de Próximas Ações, de modo que você se prepare para qualquer situação ainda não controlada. Reflita sobre a lista Aguardando Resposta. Há necessidade de monitorar algum item? Precisa enviar um e-mail? Mais algum item para acrescentar à pauta da próxima reunião? Registre as novas próximas ações já identificadas. Elimine tudo o que já tiver sido resolvido. Reflita sobre a Lista de Projetos e as Listas de “Resultados Maiores”. Avalie a situação dos projetos, seus objetivos e resultados, garantindo que pelo menos uma ação de cada seja incluída no sistema. Examine os planos de projetos ativos e relevantes e os materiais de apoio e de referência para disparar novas ações, conclusões, esperas, etc. Reflita sobre checklists relevantes. Sobrou algum item que exige ação que você não tenha definido, mas em que precisa se engajar, considerando seus compromissos, interesses e responsabilidades? Seja criativo O método GTD não consiste apenas em limpar e concluir. Esses são os fatores críticos de sucesso, é claro. Mas a principal orientação aqui é a criação de um espaço para catalisar e acessar novas ideias criativas e valiosas. Você não precisará concentrar muita energia nessa etapa, caso tenha chegado até este ponto do treinamento. Somos seres criativos, propensos a viver, crescer, nos expressar e nos expandir. O desafio não é ser criativo, e sim eliminar tudo o que for obstáculo para as energias criativas. Na prática, trata- se de integrar as ações, permitindo a expressão de ideias espontâneas, capturando-as e explorando o seu valor. “Ponto de vista” é aquela solução quintessencialmente humana para a sobrecarga de informações, um processo intuitivo de reduzir as coisas a um mínimo essencial, relevante e administrável. Em um mundo de conteúdo hiperabundante, o ponto de vista se tornará o mais escasso dos recursos. – PAUL SAFFO A esta altura, talvez não haja nada a ser focado, uma vez que você já deve ter expressadoe integrado grande parte de seu pensamento criativo. Por outro lado, considere dois outros gatilhos para finalizar esse processo. Reflita sobre a categoria Algum dia/Talvez. Verifique se existem projetos que tenham se tornado tão interessantes que valeria a pena ativá-los e transfira-os para a Lista de Projetos. Exclua qualquer item que ficou parado por mais tempo do que devia. Considere incluir quaisquer novas possibilidades que você esteja pensando em começar. Seja criativo e corajoso. Há alguma ideia maravilhosa, ousada, criativa, instigante e que valha a pena arriscar que ainda deva ser capturada e incluída em seu sistema? Esse processo de reflexão não passa de bom senso, mas pouca gente o conduz com eficiência. É importante que você mantenha a mente vazia e sem estresse. Se você ainda não estruturou nem alimentou seu sistema pessoal com dados atualizados e sem pendências, isso pode ser bastante intimidador. Além disso, mesmo que você mantenha o controle total do sistema, considerando as pressões e demandas que precisa enfrentar no dia a dia, raramente é fácil colocar em prática esse tipo de reflexão e reajuste. Hora certa e lugar certo para a reflexão A Revisão Semanal é tão importante que o induz a adotar bons hábitos, contextos e ferramentas para sustentá-la. Uma vez que tenha estabelecido a zona de conforto necessária para atingir o controle do sistema sem estresse, você não terá que se preocupar mais com a execução da Revisão Semanal – ela será obrigatória para que você seja capaz de recuperar seus padrões pessoais. Até lá, uma vez por semana tente se afastar da rotina por algumas horas, não para isolar-se, e sim para confrontar tudo o que ainda desperta a atenção da sua mente. Se você possuir uma sala própria ou uma mesa separada das outras e tem uma jornada de trabalho de 40 horas semanais, recomendo que reserve duas horas do expediente de sexta-feira para se dedicar à Revisão Semanal. É o momento mais adequado porque: • Os acontecimentos da semana ainda são recentes para que você faça uma análise completa (“Não posso me esquecer de tratar do assunto…”). • Antes de a semana acabar, você ainda terá tempo de entrar em contato com alguém que lhe deve uma pendência. • É ótimo limpar a sua mente para começar o fim de semana revigorado, sem nenhuma pressão desnecessária. Por outro lado, você pode ser o tipo de pessoa que simplesmente não abdica de seus fins de semana. De vez em quando, eu mesmo preciso me dedicar ao trabalho nesses dias, por exemplo. Mas, como também faço longas viagens de avião, posso pôr as pendências em dia nesse momento. Alguns praticantes do método GTD ajustaram os próprios hábitos de Revisão Semanal à vida pessoal. De vez em quando afasta-te, relaxa um pouco, para que, quando voltares ao teu trabalho, teu julgamento esteja mais seguro. Distancia-te um pouco e o trabalho aparentará ser menor e num relance poderão ser percebidas faltas de harmonia e as proporções serão vistas mais prontamente. – LEONARDO DA VINCI Qualquer que seja o seu estilo de vida, você precisa de um ritual de reagrupamento semanal. É provável que você já pratique algo semelhante. Se assim for, explore e aprimore o hábito, acrescentando-lhe uma reflexão mais abrangente. As pessoas que têm dificuldade em conseguir tempo para esse exercício costumam se sentir sob constante pressão na vida pessoal e profissional, sem tempo ou espaço para esse reagrupamento. Os profissionais mais estressados precisam reagir de imediato às mudanças no contexto e voltar para casa, onde convivem com os filhos pequenos e o cônjuge, que também deve ter tido um dia difícil. Felizmente, podem esfriar um pouco a cabeça no percurso para casa. Se você se identificou com essa situação, seu maior desafio será desenvolver um processo de reagrupamento, a partir do qual você deve se distanciar um pouco dos problemas. Para tanto, ou você aceita fazer um pouco de hora extra na sexta-feira à noite ou cria em casa espaço e tempo propícios para trabalhar sem estresse. Tempo para a reflexão operacional. Já recomendei separar duas horas do último dia da semana para esse tipo de prática. O maior desafio aqui é equilibrar a reflexão profunda e as pressões constantes das interações. Não é fácil! Os mais experientes sabem como é fundamental sacrificar o que parece urgente pelo que é de fato importante, por isso constroem ilhas de tempo para desenvolver alguma versão desse processo. Um executivo de uma das maiores empresas do mundo lamentou que a disponibilidade de tempo para a reflexão e o ritual de reagrupamento, como condição para confiar nas próprias decisões intuitivas, seja ao mesmo tempo fundamental e escassa nos altos escalões de sua organização. Suas melhores ideias sobre o trabalho não acontecerão enquanto você está no trabalho. Mesmo os funcionários que adotaram o hábito de refletir sobre o próprio trabalho não raro parecem atribuir pouca importância ao processo mais trivial de reflexão e atualização no nível do Horizonte 1 (Projetos). Nos intervalos das reuniões e durante suas andanças ao pôr do sol, é preciso incluir um nível mais elevado de reflexão, indispensável para o controle e o foco operacionais. Se você acha que já capturou, esclareceu, refletiu e se engajou em todos os seus laços abertos, provavelmente está tentando se enganar. Pensar é a verdadeira essência do negócio e da vida – e a coisa mais difícil de fazer. Os construtores de impérios passam horas e horas no trabalho mental… enquanto outros festejam. Se você não está inteiramente consciente da importância de empreender o esforço de exercer uma reflexão integrada e autoguiada, então está se entregando à preguiça e não mais controla sua vida. – DAVID KEKICH REFLEXÕES SOBRE O “PANORAMA GERAL” Sim, em algum momento você precisa esclarecer os resultados maiores, os objetivos de longo prazo, as visões e os princípios que, em última instância, impulsionam, testam e priorizam suas decisões. Quais são seus principais objetivos e metas no trabalho? O que você terá que concluir daqui a um ou três anos? Como está sua carreira? Você se sente realizado com esse estilo de vida? Está fazendo tudo aquilo que você quer ou precisa fazer, de uma perspectiva mais ampla? Tentar criar metas antes de ter confiança suficiente para manter seu dia a dia sob controle vai minar sua motivação e sua energia em vez de intensificá-las. O foco deste livro não é provocar os Horizontes 3, 4 e 5. Instigá-lo a operar sob uma perspectiva mais ampla é nosso propósito implícito – ajudando-o a tornar a expressão integral de sua vida mais realizadora e mais alinhada com o jogo do qual você participa. À medida que você aumentar a velocidade e a agilidade com que esclarece os dois primeiros níveis – Solo e Horizonte 1 – de sua vida pessoal e profissional, revisite os níveis mais altos para preservar a clareza mental. Com que frequência você se desafia com essa reflexão ampla e irrestrita é algo que só você pode saber. O princípio aqui é: avalie sua vida e seu trabalho nos horizontes apropriados, tomando as decisões apropriadas, nos intervalos apropriados, no sentido de esclarecer a mente e o contexto. É uma missão para a vida toda, quaisquer que sejam seu propósito e seu destino. Ao longo dos anos, descobri que ter os pés no chão e exercer controle absoluto sobre os aspectos triviais da vida semeiam um campo fecundo de pensamento criativo sobre nossas tralhas. É por causa das nossas mais profundas motivações e inclinações que acabamos nos comprometendo e criando a sensação de opressão. Você tinha a necessidade de ter filhos e, agora que os tem, constatou que eles são um empreendimento complexo que precisa ser gerenciado por pelo menos duas décadas. Você se sentia impelido a ser criativo e a agregar valor, então fundou uma empresa ou se dedicou a uma bem-sucedida carreira, mas hoje se encontra soterrado por mais compromissos do que consegue lidar. Talvez você não precise assumir mais metas agora – dedique-se apenas a atingir as que já assumiu e tenha certeza de que será capaz dese envolver com quaisquer outras. Para compreender o mundo, é preciso mudar de posição. – ALBERT CAMUS De fato, sempre podemos renovar nossos valores, visões e objetivos. No entanto, você resistirá a ter essa conversa consigo mesmo caso não se julgue capaz de lidar com o mundo que criou para si. Quanto tempo levará até que você se sinta confiante para mudar de opinião? Não muito. Quanto tempo levará para que você se sinta confiante quanto à própria capacidade de alcançar os resultados almejados? Talvez dois anos de implementação e familiarização com o método. Não pense que isso é uma má notícia – é apenas a realidade. A boa, no entanto, é que você começará a exercer mais controle a partir do momento em que colocar as melhores técnicas em prática. É até provável que você descubra outros aspectos com que lidar. Outra faceta dessa dinâmica é a importância de se manter extremamente flexível com relação à definição dos objetivos. Uma mudança importante nessa área está sendo desbravada por novos softwares e aplicativos à medida que o calendário se transforma numa regra para o sucesso de startups. Ao lhe ocorrer uma ideia, imagine como você poderia realizá-la, empenhe-se em produzir algo inédito comercializável e, então, inicie um processo iterativo, amadurecendo a visão e a execução. Moral da história: o pensamento futuro positivo é fundamental, mas ele se manifestará com mais eficácia quando você se sentir confiante o suficiente para se engajar nele por meio de processos responsivos e corretivos. O próprio mundo nunca está sobrecarregado ou confuso – nós é que estamos, por causa da forma como nos envolvemos com ele. Isso nos leva ao principal desafio do método GTD: são 9h22 de quarta-feira – o que fazer agora? CAPÍTULO 9 Engajar: decidindo as melhores ações Quando se trata de tempo real, ralação, trabalho diário, como você decide o que fazer? Você sempre deve confiar na sua intuição. Entretanto, há muitas coisas que você pode fazer para desenvolver essa confiança. Confie no seu coração. Ou no seu espírito. Ou, se você não gostar dessas palavras, tente instinto, coragem, intuição, qualquer coisa que funcione como ponto de referência, que lhe possibilite acessar a fonte da sua sabedoria interior. Se você já tomou uma decisão muito importante alguma vez na sua vida, entende o que estou dizendo. Isso não significa que você tenha que deixar rolar – a não ser, é claro, que esse seja o seu plano. Eu mesmo já tive essa experiência e posso garantir que tirei lições valiosas, se não imprescindíveis.24 Como expliquei no Capítulo 2, existem três modelos que o ajudarão muito na tomada de decisões: • Modelo dos quatro critérios • Modelo tríplice do trabalho diário • Modelo de seis níveis para revisar o próprio trabalho Os três modelos estão apresentados na ordem inversa da hierarquia – ou seja, o inverso da perspectiva estratégica típica de cima para baixo. Ao preservar a natureza do método GTD, preferi, mais uma vez, trabalhar de baixo para cima, começando pelo nível mais trivial. MODELO DOS QUATRO CRITÉRIOS As próximas ações foram decididas com base nos quatro critérios a seguir, em ordem: • Contexto • Tempo disponível • Energia disponível • Prioridade Vamos examinar cada um deles à luz de como melhorar a estrutura de seus sistemas e comportamentos. Contexto A qualquer momento, a primeira coisa que você deve considerar é o que pode fazer no ambiente em que se encontra e com as ferramentas de que dispõe. Você tem um telefone à mão? Consegue contatar a pessoa com quem precisa conversar sobre três pendências anotadas no calendário? Pode aproveitar o percurso até a lavanderia para realizar outra pendência? Caso todas as suas respostas sejam negativas, não se preocupe. É útil organizar seus lembretes de ação por contexto – “Telefonemas”, “Em casa”, “No computador”, “Em trânsito”, “Programação escolar”, “Pauta da reunião de equipe”, etc. Como o contexto é o primeiro critério a ser considerado para decidir melhor as próximas ações, as listas evitam que você esqueça o que deve fazer. Se houver muitos itens a cumprir, mas você não tiver como agilizá-los no mesmo contexto, você acaba se forçando a sempre reconsiderar todos eles. Você tem liberdade quando possui pleno domínio de si mesmo. – ROBERT FROST Se você viajou para encontrar uma cliente no escritório dela e, ao chegar, descobriu que a reunião começaria dali a 15 minutos, dê uma olhada na lista “Telefonemas” para matar o tempo de forma produtiva. Seus lembretes de ações podem se desenrolar ou se enrolar, com base em como você pode aproveitar o momento. Um segundo benefício real decorre de organizar os lembretes de ação pelo contexto adequado: você terá que definir tudo o que for relevante sobre a próxima ação física. Assim, precisa decidir sobre a próxima ação física antes de cogitar em que lista incluir um item. Muitas pessoas elaboram uma lista “Diversos” (ou seja, independente de contexto), o que acaba atrapalhando na decisão da próxima ação. Portanto, não formule a estrutura das categorias enquanto esclarece as caixas de entrada, pois você tenderá a basear automaticamente seus projetos nas coisas reais em que você deverá se engajar para avançar. Classificação criativa dos contextos A partir do momento em que implementar e acreditar no método GTD, você descobrirá formas criativas de ajustar suas categorias contextuais e encaixá-las na devida situação. Embora a classificação pela ferramenta ou pelo local físico seja mais comum, sempre há outra maneira útil de filtrar seus lembretes. Antes de realizar uma longa viagem, crio a categoria temporária “Antes da viagem”, em que incluo tudo que preciso resolver até a hora de embarcar. É a única lista sobre a qual devo refletir até concluir todas as pendências. Às vezes muitas das ações requerem uma parte escrita; embora elas estejam na lista “No computador”, exigem tempo e disposição de uma forma diferente das outras coisas que eu tenho que fazer no notebook. É muito mais relaxante e produtivo classificar essas ações em outra categoria: “Escrita criativa”. Hoje costumo dividir as ações que exigem o uso do computador em “On-line”, “Off-line” e “Exploração na rede” (geralmente, coisas divertidas ou interessantes). Ao longo dos anos, pessoas nomearam suas categorias como “Sem cérebro” (ações que não exigem esforço mental) e “Menos de cinco minutos” (ações rápidas), por exemplo. Às vezes, há quem prefira classificar os lembretes por área: “Finanças”, “Família”, “Administrativo”, etc. Um tempo atrás alguém comentou como considerava importante classificar as ações conforme a recompensa emocional imediata: serviços a terceiros, estabilidade, garantia de fartura, etc. Não há uma estrutura “certa” – tente o jeito que melhor funcionar para você e essa parte do sistema mudará de acordo com a sua vida.25 Se você for novato nesse processo, detalhes e especificações podem parecer desnecessários e opressivos. Lembre-se de que, quando identificar todas as próximas ações, você terá que se engajar em muito mais de 100. No intuito de implementar um “cérebro externo” eficaz e alcançar resultados surpreendentes, gerenciar o seu trabalho com esse grau de sofisticação produzirá recompensas imensuráveis. Tempo disponível O segundo fator a ser considerado na decisão é o tempo de que você dispõe para iniciar outra atividade. Se a reunião começa daqui a 10 minutos, sua próxima ação deve ser concluída em 10 minutos. Obviamente, é bom saber quanto tempo você tem disponível (daí a importância de ter o calendário à mão). Um backlog de lembretes de ação oferece o máximo de informação sobre o que você deve se engajar e facilita muito equiparar as tarefas e o tempo de que dispõe para se engajar nelas. Em outras palavras, se você tiver 10 minutos de intervalo, encontre algo para fazer nesse tempo. Se as listas contiverem apenas ações complexas, talvez você não consiga colocar nada em prática nesses 10 minutos. Seja como for, a melhor forma de se engajar nas pendências que consomem pouco tempo é usando folgase intervalos. Além disso, muitas vezes você precisa se concentrar em atividades intensas por duas horas ou mais e gostaria de deslocar o foco para ações mais rápidas de realizar. Nesses casos, selecione em suas listas de ação itens simples e rápidos. Reservar uma mesa no restaurante, telefonar para um amigo, encomendar a comida do cachorro ou comprar um remédio na farmácia são exemplos típicos. Todos nós temos momentos em que pensamos de forma mais efetiva e momentos em que não deveríamos pensar de jeito nenhum. – DANIEL COHEN Energia disponível Embora, às vezes, seja possível aumentar seu nível de energia mudando o contexto e redirecionando o foco, você não pode fazer muito mais que isso. As últimas horas de um dia dedicado ao planejamento do orçamento dificilmente serão as melhores para telefonar para um cliente potencial, começar a redigir as avaliações de desempenho ou tratar de um assunto delicado com o cônjuge. É preferível que você se engaje em ações como mudar a reserva de assentos, processar algum recibo de despesa, assistir ao pôr do sol ou arrumar as gavetas. Assim como decidir previamente acerca de suas próximas ações permite que você aproveite as folgas para realizá-las, saber com antecedência tudo o que precisa esclarecer e em que se engajar lhe possibilitará equiparar sua produtividade com seu nível de energia. Mantenha atualizado um backlog das ações que exigem pouco esforço mental ou capacidade criativa. Quando você se sentir pouco disposto, engaje-se num desses itens. Leituras leves (revistas, artigos, catálogos), dados que devem ser incluídos no calendário, limpeza de arquivos, backup do computador e até abastecimento do grampeador são algumas das inúmeras ações rápidas e fáceis em que você pode se engajar. É por isso que você deve delimitar seu sistema de gerenciamento pessoal: a execução de atividades produtivas quando não tiver muita energia. Caso não se sinta tão bem-disposto, seu material de leitura esteja desorganizado, seus recibos espalhados pela mesa e seu sistema de arquivamento bagunçado e disfuncional, é provável que tudo lhe pareça muito difícil de organizar, a ponto de você se sentir desestimulado e culpado. Uma das melhores formas de renovar o nível de energia é fechando alguns laços abertos. Assegure-se, portanto, de sempre poder se engajar em algumas ações fáceis e rápidas.26 Não há razão para não ser altamente produtivo, mesmo quando você não está em sua melhor forma. Esses três primeiros critérios – contexto, tempo e energia – indicam a necessidade de se ter um sistema completo de lembretes de ações. Durante boa parte do tempo você não pensará de forma tão organizada e coordenada. Por isso, é importante que já o tenha feito. Assim, você pode se engajar nas ações de acordo com sua disposição, seu tempo e o contexto. Prioridade Considerando o contexto, o tempo e a energia, de todas as suas alternativas restantes, qual é a mais importante neste momento? Como decidir as prioridades é uma questão comum. Ela decorre do fato de se ter mais ações a cumprir do que aquelas com que é possível lidar. Portanto, é preciso tomar algumas decisões difíceis acerca do que engajar e do que descartar. É impossível sentir-se bem a respeito de suas escolhas a menos que você saiba exatamente qual é o seu trabalho. Para que você não se sinta culpado em relação àquilo que deixou de fazer ao longo do dia, defina responsabilidades, objetivos e valores. Esse processo costuma incluir uma interação complexa entre os objetivos, os valores e os rumos da empresa e as pessoas e a relevância dos relacionamentos com elas para você. Esse critério deve ser adotado por meio do modelo de seis níveis para refletir sobre o próprio trabalho, que descreverei sucintamente. MODELO TRÍPLICE DO TRABALHO DIÁRIO Definir prioridades pressupõe que algumas coisas sejam mais importantes do que outras. Mas mais importantes em relação a quê? Ao seu trabalho, ou seja, às atribuições conferidas a você pela descrição do seu cargo ou delegadas por outros. Tanto o modelo tríplice do trabalho diário quanto o modelo de seis níveis para refletir sobre o próprio trabalho servem para definir o seu trabalho.27 Hoje, o trabalho diário nos impõe um desafio relativamente novo, algo que precisamos compreender à medida que construímos sistemas mais produtivos. Ao longo do expediente, a qualquer momento, você está comprometido em realizar um dos três tipos de atividades: • Fazer o trabalho predefinido • Fazer o trabalho à medida que aparece • Definir seu trabalho Você pode se engajar em itens da Lista de Próximas Ações, itens inesperados (conforme forem aparecendo) ou esclarecer inputs que demandam ações ou não com base nas categorias dos lembretes. Pode parecer simples, mas muitas pessoas se deixam envolver pela segunda atividade com tanta facilidade que acabam negligenciando as outras duas. Geralmente, é mais fácil se deixar envolver pelas demandas urgentes do momento do que lidar com sua caixa de entrada, os e-mails e o resto de seus laços abertos. São 10h26. Segunda-feira. Você está no escritório. Acabou de ficar meia hora com um cliente ao telefone. Um cliente que lhe ligou de repente. Você anotou três páginas de informações durante a conversa. Uma reunião com a equipe começará daqui a 34 minutos. Ontem você saiu com seu sogro e lhe prometeu que voltaria a tratar de um assunto que já esqueceu. Chegou em casa tarde e ainda está meio sonolento. No caminho para o trabalho, o painel do carro indicou que o nível de óleo está baixo. Você esbarrou com sua chefe no elevador e ela disse que gostaria de receber sua resposta a respeito do e-mail que lhe enviara na noite anterior até antes da reunião das três da tarde. A secretária acaba de deixar na sua mesa duas entregas internacionais expressas e avisa que precisa falar com você sobre três pedidos de reuniões urgentes. Depois de amanhã, você participará de uma conferência sobre as estratégias da empresa e ainda nem começou a elaborar suas ideias. Seus sistemas estão preparados o suficiente para enfrentar essa realidade às 10h26 de uma segunda-feira? Se você ainda está tentando manter a tralha na sua cabeça e capturando apenas os itens mais importantes, receio que a resposta seja não. As pessoas de fato preferem concluir itens à medida que aparecem a percorrer as etapas do processo de controle – capturar, esclarecer, organizar, refletir e engajar – dos componentes do trabalho que não estão tão visíveis. É fácil se deixar seduzir pelas urgências, principalmente quando há sobre a mesa, dentro da cabeça e na caixa de entrada de e-mails muita tralha não esclarecida e não organizada. De fato, muitas coisas na nossa vida pessoal e profissional aparecem do nada – e, não raro, logo se tornam prioridades. Por exemplo, você não pode ignorar a presença do seu chefe quando ele surge abruptamente e toma alguns minutos do seu tempo. O pedido dele de repente se torna mais importante do que qualquer outra coisa que você planejava fazer. Sucesso é aprender a lidar com o Plano B. – ANÔNIMO Esse tipo de decisão é perfeitamente compreensível, mas a angústia começa a se manifestar quando você não esclarece nem reflete sobre as outras ações. Os sacrifícios que você precisa fazer ao não se engajar no que planejou só são toleráveis se você souber o que está fazendo. Isso exige que esclareça (defina a ação) a sua caixa de entrada e reflita sobre suas listas de ações. Se você decidir conscientemente que precisa se engajar no trabalho que acabou de aparecer, em detrimento de fazer o trabalho predefinido, tudo bem. No entanto, a maioria das pessoas faz algumas melhorias na maneira como esclarecem, gerenciam e esclarecem novamente o backlog de projetos e ações. Caso se deixe enredar pela urgência do momento e se sinta insatisfeito por ter que deixar de lado o que planejou, a frustração e a ansiedade acabam tomando conta de você. E o fracasso muitas vezes é atribuído às emergências que surgem de surpresa. Se você sabe o que está fazendo e o que não está fazendo, as urgênciassão apenas mais uma oportunidade para ser flexível, criativo e excelente. Não existem interrupções – há apenas inputs mal gerenciados. As demandas inesperadas também são consideradas um ato improdutivo quando não há confiança na capacidade do próprio sistema e o comportamento de marcar as ações em que se deve engajar. Você sabe que precisa fazer o trabalho à medida que aparece, mas não acredita que uma simples anotação deixada na caixa de entrada garanta que você se engaje nele no momento certo. Nessas condições, você interrompe a sua tarefa e começa aquela que acabou de surgir, não sem reclamar dessa interrupção. Na verdade, não há interrupções, e sim inputs mal gerenciados. Além disso, quando você ignora as caixas de entrada e os lembretes de ações por muito tempo, as tralhas que eles contêm se tornam urgentes mais tarde, colocando mais lenha na fogueira do trabalho que você deve fazer à medida que aparece. Por vezes, a inevitabilidade de certas ações é usada como pretexto para fugir da responsabilidade de esclarecer e gerenciar o backlog de ações. É aqui que o método GTD aparece para ajudá-lo. Ao desenvolver a habilidade e o hábito de esclarecer os inputs assim que chegam à caixa de entrada, fica muito mais fácil confiar no próprio julgamento sobre o que fazer, quando parar de fazer e qual a próxima ação. Equilíbrio a cada momento Quando você já estiver completamente familiarizado com o método GTD, será capaz de mudar rapidamente de uma situação para outra e de volta para a anterior. Enquanto você está esclarecendo a caixa de entrada, por exemplo, seu assistente lhe relata uma situação que exige atenção imediata. Você simplesmente sai para resolver o problema, deixando suas caixas de entrada (física e digital) no mesmo lugar, com toda a tralha ainda a esclarecer em ordem, pronta para ser definida quando voltar. Enquanto espera que alguém atenda o telefone, você pode refletir sobre suas listas de ações para saber o que pode fazer assim que terminar a ligação. Enquanto seu filho está brincando na sala, você pode pesquisar itens que constem da lista “No computador”. Enquanto a reunião não começa, você pode trabalhar a pilha Ler/Refletir que levou consigo. E, quando a conversa inesperada com seu chefe reduz para 12 minutos o tempo disponível antes da reunião, é fácil descobrir como tirar vantagem desse intervalo. Ignorar o inesperado (ainda que fosse possível) seria viver sem oportunidade, sem espontaneidade e sem os ricos momentos dos quais a “vida” é feita. – STEPHEN COVEY Só é possível se engajar nessas atividades uma de cada vez. Ao interromper o que está fazendo para conversar com alguém, você não se engaja nas ações definidas nem esclarece a tralha da caixa de entrada. Sinta-se confiante em relação ao que decidiu fazer. Então como decidir? Novamente isso envolve intuição – até que ponto fazer o trabalho à medida que aparece é mais importante do que fazer o trabalho predefinido? Por quanto tempo você pode ignorar a tralha acumulada na caixa de entrada sem esclarecê-la ou refletir sobre ela e confiar nas decisões que está sendo obrigado a tomar? Faça o trabalho à medida que aparece assim que ele surgir, não porque oferece menos resistência, mas porque é a coisa que deve ser feita em comparação com todo o resto. As pessoas costumam reclamar das interrupções que as impedem de trabalhar. Mas elas são inevitáveis. Quando começar a descartar a tralha com espontaneidade e tiver se organizado o suficiente para aproveitar as “folgas” repentinas, você conseguirá se engajar em uma ação atrás da outra com rapidez e esclarecer os e-mails enquanto espera uma teleconferência. Pesquisas recentes já comprovaram que não há como uma pessoa ser multitarefa, isto é, manter o foco consciente em mais de uma coisa de cada vez. Isso poderá comprometer seu desempenho. Adote práticas para estacionar pendências no meio do percurso, assim seu foco poderá se deslocar de um item para outro várias vezes, nos dois sentidos. No entanto, mesmo que você domine a captura e a marcação das ocorrências, ainda deve aprender a fazer escolhas rápidas e adequadas para manter um equilíbrio saudável no fluxo de trabalho. Elas serão ajustadas em relação à sua clareza sobre a natureza e os objetivos do trabalho. Fazer o trabalho à medida que aparece é seu maior trunfo competitivo e a chave para a sanidade, dependendo do seu estilo de vida. A certa altura, porém, se você não monitorar e não mantiver as coisas sob controle, fazer apenas o trabalho à medida que aparece comprometerá sua eficácia. E, para decidir se deve parar ou não de fazer o trabalho predefinido, você precisa saber quais são exatamente suas atribuições e como elas se encaixam numa perspectiva mais ampla. A única maneira de alcançar esse resultado é avaliando sua vida pessoal e profissional de acordo com os múltiplos horizontes. MODELO DE SEIS NÍVEIS PARA REVISAR O PRÓPRIO TRABALHO Como vimos no Capítulo 2, os seis níveis de reflexão podem ser pensados como os andares de um edifício: • Horizonte 5: Propósitos e princípios • Horizonte 4: Visão • Horizonte 3: Metas e objetivos • Horizonte 2: Áreas de foco e responsabilidade • Horizonte 1: Projetos • Solo: Próximas ações Faz sentido que cada um desses níveis aprimore e se alinhe com o que vem antes. Em outras palavras, suas prioridades se distribuirão numa hierarquia, de cima para baixo. Se o telefonema que você precisa dar entra em choque com seus propósitos ou valores, você não deve se engajar na ação. Se a estrutura do seu emprego não o está levando aonde você quer estar daqui a um ano, repense em como você enquadrou suas áreas de foco e suas atribuições, se quiser chegar lá. Vejamos o primeiro exemplo, de baixo para cima. Você precisa dar um telefonema (próxima ação), para falar sobre o negócio em que você está trabalhando (projeto), que aumentaria as vendas (responsabilidade). Esse negócio, em especial, lhe daria a oportunidade de se destacar entre os vendedores (objetivo) por causa do novo mercado em que sua empresa quer penetrar (visão), resultado que o aproximaria do estilo de vida almejado, em termos financeiros e profissionais (propósitos e princípios). Sua tarefa é descobrir o seu trabalho e, então, com todo o coração, dedicar-se a ele. – BUDA Outro exemplo, mas agora de cima para baixo. Você concluiu que quer libertar alguns de seus recursos e talentos singulares em certa área mais em sintonia com as suas aspirações (propósitos e princípios). Então você cria uma empresa (visão), com metas operacionais de curto prazo bem definidas (objetivo). Em consequência, assume atribuições fundamentais para garantir a continuidade do negócio (responsabilidade), com certos resultados imediatos a alcançar (projetos). Em cada um desses projetos, haverá pendências a realizar assim que puder (próximas ações). A abordagem mais saudável para alcançar o controle sem estresse e a produtividade inspirada é gerenciando todos os níveis de maneira equilibrada. É fundamental que você descubra os laços abertos, as pendências e os seus compromissos em cada um desses níveis. Eles são consequências, conscientes ou não, das urgências e pressões que tanto o atormentam. Sem a aceitação e a avaliação objetiva do que é verdade no presente e sem autoconfiança, é muito difícil que você consiga conquistar seu espaço no mercado. O que há na caixa de entrada dos e-mails? Quais são os projetos a concluir com as crianças? Com que você precisa lidar, tendo em vista suas atribuições no escritório? O que o induz a mudar ou o incita a criar nos próximos meses ou anos? Esses são laços abertos em sua cabeça, embora sejam necessários processos mais profundos e intrínsecos para identificar objetivos e inclinações. Estar presente na própria vida envolve certa mágica. Sempre me surpreendo com o poder da observação clara do que está acontecendo, do que é verdade. Conhecer todos os detalhes das suas finanças pessoais, esclarecer os dados históricos sobre a empresa que você está comprando ou entender o que realmente foi dito durante uma discussãosão atitudes construtivas, senão absolutamente necessárias e reparadoras. O melhor lugar para alcançar o sucesso é onde você está, com o que você tem. – CHARLES SCHWAB Fazer acontecer, e sentir-se bem a respeito, significa estar disposto a reconhecer, admitir e se comprometer com tudo que compõe o seu ecossistema vitalício. É condição necessária para dominar a arte da produtividade sem estresse. Trabalhando de baixo para cima Para promover a produtividade em sua vida, comece o processo de esclarecimento de cima para baixo. Defina por que você está no planeta. Descubra que tipo de vida, de trabalho e que estilo pessoal melhor se encaixariam nos seus propósitos. Quais as atividades e os relacionamentos que o impulsionariam nessa direção? Em que você poderia se engajar para fazer acontecer agora mesmo e em que você poderia se engajar no contexto físico, o mais cedo possível, para começar a desenvolver cada um desses processos? Nunca faltarão oportunidades para que você esclareça suas prioridades em qualquer nível. Preste atenção ao horizonte que o está convocando. Na verdade, você pode abordar suas prioridades em qualquer nível, a qualquer momento. Sempre tenho algo a fazer de maneira construtiva para melhorar minha consciência e meu foco em cada nível. Nunca preciso de mais visões para elaborar, de mais objetivos para reavaliar, de mais projetos para criar, de mais ações sobre as quais decidir. O truque é prestar atenção ao necessário, no momento oportuno, para preservar sua clareza e sua presença em tudo que você faz. Como tudo acabará sendo impulsionado pelas prioridades do nível acima, qualquer formulação será mais eficiente quando iniciada no topo. Por exemplo, se você passar algum tempo definindo as prioridades e depois descobrir que não deveria estar fazendo isso, talvez tenha perdido tempo e energia à toa. O problema é que, se você não controlar os níveis da implementação (projetos e ações) e não confiar em si mesmo para gerenciá-los, tentar se autogerir quase sempre acabará em frustração. Tentar gerenciar de cima para baixo, quando a base está fora de controle, talvez seja a abordagem menos eficaz. De uma perspectiva prática, sugiro a abordagem de baixo para cima. Já realizei treinamentos em ambas as direções e, em termos de valor duradouro, posso afirmar que é melhor controlar primeiro os detalhes do seu mundo físico para depois se concentrar nos níveis mais altos. Esclareça primeiro o que está atraindo sua atenção, então você descobrirá o que realmente merece sua atenção. A principal razão para usar a abordagem de baixo para cima é começar esclarecendo as visões mais significativas e fugazes, para cuja identificação você talvez tenha que se desafiar. Além disso, esse método, em especial, oferece alto grau de flexibilidade e de liberdade, incluindo uma prática universal e eficaz de raciocínio e organização, independente do foco, e é por isso que vale a pena aprendê-la, não importa o conteúdo com o qual esteja lidando. Se você mudar de ideia, esse processo o ajudará a se reajustar rapidamente. Não é preciso tempo para reformular a visão ou os objetivos, mas aprender a concretizá-los e a se engajar neles de maneira coordenada e sem estresse é uma arte que deve ser aprendida e praticada. Ser capaz disso permitirá que você participe de um jogo mais amplo. A coisa mais importante com que lidar é o que está na sua cabeça. É irrelevante achar que determinada tralha não deveria ocupar espaço em sua mente. Comprar comida para o gato talvez não seja prioridade em nenhuma lista, mas, se esse item for o que mais o perturba no momento, trate logo dessa questão. Depois de cuidar do que está atraindo sua atenção, você passa para o que realmente merece sua atenção – que, uma vez resolvido, tornará possível que você veja o que demanda sua atenção, e assim sucessivamente. Quase sem exceção, os executivos costumam ser mais contaminados pelos detalhes do trabalho cotidiano – e-mails, reuniões, viagens, projetos em andamento, etc. Quando começam a retomar o controle, a atenção deles se volta para áreas de foco e de interesse, a partir de uma perspectiva mais ampla – família, carreira e qualidade de vida. Portanto, não se preocupe em descobrir qual horizonte ou qual tralha é mais importante – lide com o que o incomoda no presente. Assim, você identificará e abordará com mais eficiência o que de fato é prioridade para você.28 Embora o Horizonte 5 (propósitos e princípios) seja o contexto mais importante para estabelecer prioridades, quando compreendemos e implementamos todos os níveis de trabalho, sobretudo o Solo e o Horizonte 1, temos mais liberdade e recursos para atingir o resultado almejado. A abordagem de baixo para cima é, de uma perspectiva prática, um fator crítico de sucesso para alcançar uma vida equilibrada, produtiva e confortável. Solo. A primeira coisa a fazer é se certificar de que suas listas de ações estejam completas, o que em si pode ser uma tarefa e tanto. Quem se concentra em reunir e definir a próxima ação descobre que muitos itens foram esquecidos, guardados no lugar errado ou simplesmente ignorados. Além do Calendário, se você não tiver pelo menos 50 itens na Lista de Próximas Ações e na lista Aguardando Resposta, talvez não tenha reunido todos eles. Por outro lado, caso tenha seguido rigorosamente todos os passos da Parte 2 deste livro, é bem provável que já tenha capturado toda a tralha. Se não, repasse os Capítulos 4 a 6 e coloque em prática todas as sugestões. Ao concluir a atualização desse nível de controle, você automaticamente desenvolverá uma percepção mais fundamentada das prioridades imediatas, o que, de outra maneira, é quase impossível alcançar. Horizonte 1. Finalize sua Lista de Projetos em até um ano. Nela estão reunidos todos os compromissos que exigem mais de uma ação? Isso definirá todas as fronteiras do mundo operacional em que você atua e permitirá que sua mente fique desobstruída por intervalos mais longos. Se você enumerar tudo o que deseja realizar na vida pessoal e profissional nesse nível, descobrirá que ainda existem ações em que você deve se engajar. A simples elaboração desse inventário lhe fornecerá uma base mais firme para tomar decisões sobre o que fazer quando tiver tempo livre. Isso acontecerá sempre que você atualizar sua Lista de Projetos. Fazer o inventário do seu trabalho atual produzirá mais foco, alinhamento e senso de prioridade. Pouquíssimas pessoas têm acesso a esses dados definidos com clareza. Antes de decidir qualquer coisa, você deve ter as informações da Lista de Projetos à mão. Se está colocando em prática o método GTD, perceberá que são necessárias de 10 a 15 horas de captura, esclarecimento e organização para enfim confiar na abrangência completa do inventário. E, para alcançar o nível ideal de “mente clara como água”, o Horizonte 1 é o nível que parece incluir os desafios mais interessantes. Existem certas situações e circunstâncias que nos incomodam, nos interessam ou nos distraem, mas é difícil perceber como podemos nos comprometer com elas. Silenciar o ruído exige que resultados sejam identificados para cada um desses itens (projeto), inclusive as próximas ações em seu sistema de confiança. Atuar com eficácia nesse nível de produtividade sem estresse é a marca registrada de seu domínio. Horizonte 2. Esse é o nível das “atuais responsabilidades do trabalho” e das “áreas da minha vida em que devo manter o padrão adequado”. Quais funções você desempenha? Em termos profissionais, isso tem a ver com sua posição e suas atribuições atuais; em termos pessoais, inclui suas responsabilidades nas esferas familiar e comunitária, assim como em relação a si mesmo. Se você não tem clareza total acerca do que é o seu trabalho, sempre se sentirá sobrecarregado. Alguns desses papéis talvez já estejam definidos. Se você assumiu uma nova posição, o contrato acerca de suas áreas de responsabilidade seria um bom ponto de partida. Em seguida, elabore e mantenha uma lista denominada “Áreas de foco e responsabilidade”, que