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Artigo Espanhóis e Judeus no Brasil

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O BRASIL DOS ESPANHÓIS E DOS JUDEUS 
BRAZIL OF SPANIARDS AND JEWS 
 
 
 
Isabela Gomes Pereira - isinhajp@hotmail.com 
Lucélia Bandeira – luflag@gmail.com 
Luíza Cipriani - luiza_cipriani@hotmail.com 
Victória Lopes de Lara - victorialopesdelara@gmail.com 
Antropologia Jurídica - Dr. Fernando Kinoshita 
 
 
 
SUMÁRIO/ Summary 
 
RESUMO/ ABSTRACT …………………………………………………………………... 01 
1. INTRODUÇÃO/ INTRODUCTION………………………………………………....… 02 
2. ESPANHÓIS NO BRASIL/ SPANIARDS IN BRAZIL.................................................. 03 
3. JUDEUS NO BRASIL/ JEWS IN BRAZIL...................................................................... 08 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS/ FINAL CONSIDERATIONS........................................... 12 
REFERÊNCIAS/ REFERENCES......................................................................................... 14 
 
 
 
RESUMO 
Este artigo traz algumas informações sobre dois dos muitos povos que contribuíram e ainda 
contribuem para a formação do povo e da nação brasileira. Os espanhóis estão presentes em 
nossas terras desde a colonização, atuaram tanto como inimigos quanto aliados dos 
portugueses durante o processo de colonização. Já como imigrantes, fugindo das dificuldades 
econômicas de seu país, contribuíram muito para o desenvolvimento do Brasil, trabalharam, 
principalmente, em fábricas e na lavoura de café. A comunidade Judaica no Brasil é a segunda 
mais importante da América Latina, pois representa aproximadamente 0,06% da população. A 
sua história é abordada neste trabalho por meio de alguns marcos distinto: as perseguições 
sofridas na Europa antes de Cabral ,a presença de cristãos-novos , a ação da Inquisição, a 
formação de uma comunidade judaica no Nordeste (durante o período de domínio holandês), 
o curto período de liberdade(aonde a primeira comunidade judaica foi formada em Belém), o 
período após 1889 com a Constituição que garantia a liberdade de religião mas também as 
ditaduras fascistas e nazistas e as guerras mundiais. Como podemos perceber durante a 
elaboração desse trabalho, os judeus contribuíram para o desenvolvimento econômico e social 
além de integrarem-se nos processos de formação de uma nacionalidade de nosso País, 
mesmo que em alguns pontos tenham se contrastado (como o período de Nassau, visto como 
fracasso para o Brasil, mas como máximo desenvolvimento da coletividade judaica local, por 
exemplo). 
 
 
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ABSTRACT 
 
This article has some informations about two of the many people that have contributed and 
still contribute to form brazilian people and nation. The spaniards have been in our lands since 
colonization, and they have acted as both enemies and allies of the portuguese people during 
the colonization process. As immigrants, running away from economic struggles in their 
country, they have contributed a lot to Brazil’s development. They have worked mainly in 
factories and coffee plantations. The jewish comunity in Brasil is the second most important 
in Latin America, because it represents about 0,06% of population. Their history is 
approached in this paperwork through some distinct frameworks: the persecution in Europe 
before Cabral, the presence of New Christians, the action of the Inquisition, the formation of a 
Jewish community in the Northeast (during the period of Dutch domination), the short period 
of freedom (where the first Jewish community was formed in Belém), the period after 1889 
with the Constitution that guaranteed the freedom of religion but also the fascist and Nazi 
dictatorships and the World Wars. As we can see during the elaboration of this work, the Jews 
contributed to the economic and social development as well as being integrated in the 
processes of formation of a nationality of our Country, even if in some points they have been 
contrasted (like the Nassau period, seen as a failure for Brazil, but as the ultimate 
development of the local Jewish community, for example). 
 
Palavras-chave: Brasil. Espanhóis. Judeus. 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
O Brasil é um país de dimensões continentais, com uma variedade enorme de 
culturas. Essa variedade de culturas vem da diversidade de povos que formaram e formam o 
país desde antes do período de colonização. 
Os primeiros a povoarem o Brasil, até onde sabemos, foram os índios, e com a 
colonização vieram os portugueses, os negros, os espanhóis, os franceses, os holandeses, os 
ingleses, entre outros. Nem todos continuaram em grande número por aqui, como no caso dos 
franceses e holandeses que foram expulsos das regiões que ocupavam e dos ingleses que 
estiveram aqui só de passagem. 
Com a declaração de nossa independência, muitos povos migraram para cá, 
muitos em busca de novas oportunidades ou em fuga de problemas políticos e econômicos. 
Após a abolição da escravidão tivemos muitos imigrantes substituindo a mão-de-obra escrava, 
como os italianos e os espanhóis. 
Todas essas nações deixaram por aqui suas marcas, auxiliando a transformar o 
Brasil no que é hoje. 
 
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Neste artigo iremos nos ater aos espanhóis, que vieram para o Brasil tanto no 
período colonial quanto na leva de imigrantes do fim do Século XIX e início do Século XX 
como colonizadores, e aos judeus, que nos últimos 500 anos, por diversas razões que neste 
trabalho intencionamos explicar, tiveram o Brasil como destino escolhido, voluntária ou 
forçadamente, migrando de seus países de origem. Porém, a história dos motivos que levaram 
pessoas desse grupo a virem para o Brasil começa antes mesmo da chegada de Cabral para cá. 
 
2. ESPANHÓIS NO BRASIL 
A presença dos espanhóis no Brasil há muito tempo tem passado despercebida 
pelos brasileiros, porém, não deixa de ser tão importante quanto tantos outros imigrantes que 
aqui se instalaram. Desde a colonização contamos com os espanhóis em nosso território, 
principalmente no sul do país, devido às disputas de fronteiras com nossos vizinhos 
colonizados pelos castelhanos. 
A cultura da região sul do Brasil, principalmente o Estado do Rio Grande do 
Sul, possui uma influência dos portugueses, dos indígenas e dos espanhóis. Estes últimos 
introduziram a criação de gado, base da economia gaúcha no Século XIX. 
No período da colonização, principalmente durante a União Ibérica (1580 a 
1640), os castelhanos atuaram, ora como inimigos, ora como aliados dos portugueses no 
processo de ocupação, auxiliando, como por exemplo, na expulsão dos franceses e dos 
holandeses do nordeste brasileiro. Cabe lembrar que a ligação entre espanhóis vem de muito 
antes desse período, Portugal se formou após se tornar independente de Castela, no Século 
XII. 
No final do Século XIX os espanhóis passam de colonizadores a imigrantes, 
representando, embora não nos pareça, o terceiro maior contingente de imigrantes que para cá 
vieram, superados apenas pelos portugueses e italianos. No entanto, não mais os de origem 
castelhana, mas sim, em maioria, os migrantes de Galícia. Abaixo um gráfico para ilustrar os 
imigrantes em números. 
 
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Figura 1: Gráfico: Proporção das Nacionalidades na Imigração para o Brasil. 
As informações sobre a imigração hispânica são muito precárias, falta de 
registros e a clandestinidade (tanto na saída quanto na entrada) são alguns dos fatores que 
contribuíram para que isso ocorresse. Tivemos, também, os chamados "golondrias", 
trabalhadores agrícolas sazonais, que iam e voltavam de acordo com as safras. Diferentemente 
dos demais imigrantes, os espanhóis possuíam uma taxa de retorno em torno de 50%, 
representado uma dinâmica importante desse povo. 
Quando comparamos os dados brasileiros com os dados espanhóis a respeitoda imigração hispânica percebemos uma discrepância entre os números apresentados. 
Segundo o Instituto Espanhol de Emigração, estima-se que cerca de 3,5 milhões de espanhóis 
migraram para o Brasil no período compreendido entre 1890 e 1940, já levantamentos 
baseados na documentação brasileira indicam que cerca de 600 mil entraram no país no 
mesmo período. No gráfico abaixo se verifica essa discrepância, contudo revela uma mesma 
tendência de fluxo imigratório. 
 
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Figura 2: Gráfico representando o fluxo da migração espanhola. 
As situações políticas e econômicas de ambos os países influenciaram o fluxo 
de espanhóis para o Brasil ao longo dos anos. Aqui no Brasil, a abolição da escravidão foi um 
importante fato a contribuir para as várias políticas de incentivo para a imigração, não só 
espanhola claro. Esses imigrantes vinham para cá, principalmente para substituir a mão-de-
escrava nas lavouras de café. A partir de 1901, com a queda nos preços do café, tivemos uma 
redução dos incentivos, refletindo em uma ligeira redução no fluxo de imigração. Contudo, a 
partir de 1910 observa-se um aumento nesse fluxo, apesar da 1ª Guerra mundial. A proibição, 
por parte do rei italiano, do subsidio para os italianos emigraram para o Brasil pode ser 
considerado para esse aumento do fluxo de espanhóis a partir de 1910. 
 
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Figura 3: Gráfico representando o fluxo de imigrantes e fatos históricos. 
Após 1920, crises em nosso país acarretaram algumas políticas de limitação na 
entrada de imigrantes. Neste quesito tivemos a lei que ficou conhecida por "Lei dos 
Indesejáveis" e a Constituição de 1934 que estabeleceu o sistema de cotas de imigração. 
Na Espanha, a emigração foi impulsionada por fatores demográficos e por questões 
decorrentes da manutenção de uma estrutura fundiária arcaica. No final do século XIX, a 
Espanha era um país pobre, que entrou de forma tardia no processo de industrialização. Até 
1900, cerca de dois terços da população espanhola se ocupava direta ou indiretamente com as 
atividades agrárias. À medida que a população rural aumentava, os investimentos com a 
agricultura diminuíam. Na zona rural, ainda existiam práticas senhoriais, onde uma família 
não conseguia o seu sustento pelo cultivo da terra, o que, por exemplo, na Galícia gerou o 
fluxo migratório. No Sul, predominavam os latifúndios. 
Além da pobreza no campo, outros fatores incentivavam os espanhóis a 
abandonarem a Espanha. As pretensões coloniais espanholas e o recrutamento militar 
obrigatório também eram fatores que estimulavam os homens jovens a saírem do país, uma 
vez que era necessário pagar uma alta taxa para se desobrigar do serviço militar, a qual os 
camponeses pobres não conseguiam pagar. Sendo a maioria dos camponeses analfabetos e 
sem qualificação para o trabalho fabril nos centros urbanos espanhóis, restava a esses 
indivíduos procurar uma nova vida nas Américas. 
Em fins do século XIX, com o desenvolvimento da tecnologia naval, milhares 
de pessoas saíram da Europa em busca de melhores condições de vida nas Américas. Para o 
Brasil imigraram 567 176 espanhóis. 
 
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Ao chegarem ao Brasil, esse povo manteve-se em grandes centros urbanos, 
como: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, além das cidades do interior, onde 
trabalhavam em fazendas cafeeiras, praticando a agricultura em substituição da mão-de-obra 
escrava após a abolição da escravatura. 
Os Galegos (imigrantes vindos da região noroeste da Espanha) se fixaram nas 
cidades, enquanto os Andaluzes (imigrantes vindos da região sul da Espanha) se dedicaram à 
colheita de café em São Paulo. A introdução da criação de gado foi feita também pelos 
espanhóis, tornando-se a economia predominante no Rio Grande do Sul no século XIX. 
O que realmente contribuiu para haver uma migração em massa de espanhóis 
para o Brasil foi o fato de o governo brasileiro subvencionar a passagem de navio. Viajar com 
a passagem gratuita era muito vantajoso, pois não era fácil bancar uma viagem imigratória. 
Assim, pode-se concluir que os espanhóis que emigraram para o Brasil estavam entre os mais 
pobres, aqueles que não tinham condições de comprar uma passagem para ir para a Argentina, 
Cuba ou para o Uruguai. 
Após os italianos serem proibidos por seu rei de migrarem para o Brasil, 
devido às denúncias de maus tratos e de trabalho semiescravo, os recrutadores "facilitavam" o 
embarque dos espanhóis, que muitas vezes se diziam agricultores para conseguir a passagem 
paga pelo governo brasileiro. 
A subvenção visava buscar mão-de-obra para as lavouras, porém, ao chegarem 
ao Brasil, com a ilusão de se tornarem proprietários rurais, abandonavam a zona rural em 
direção aos grandes centros, se juntando ao proletariado urbano. 
Santos ficou conhecida como Barcelona Brasileira, devida a grande quantidade 
de hispânicos que por lá se instalaram. Os que chegavam no porto de Santos eram acolhidos 
por seus conterrâneos, mas nem por isso tinham uma vida mais fácil, disputavam empregos 
menos qualificados e se juntavam aos mais pobres nos espaços de moradias. 
Os que desembarcavam no porto do Rio de Janeiro não se viam em uma 
situação melhor, por falta de qualificação acabavam com os trabalhos que ates eram 
realizados pelos escravos. 
Os imigrantes espanhóis tiveram forte participação no movimento operário do 
Brasil de inícios do século XX. Da abolição da escravatura até 1920, imigrantes e filhos 
formavam a maior parte do operariado brasileiro, devido à concentração das fábricas no 
centro-sul, onde os estrangeiros eram numerosos. Os espanhóis, nessa época, empregavam-se 
em indústrias de vários segmentos, sobretudo nas do ramo têxtil, principalmente as mulheres 
 
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espanholas. Os empregados desse setor estiveram à frente das maiores greves ocorridos, em 
São Paulo e no Rio de Janeiro. Na Greve Geral de 1917, pelo menos dois espanhóis foram 
expulsos do país. Maran (1979) examinou a nacionalidade dos 119 líderes sindicalistas do 
Brasil na época, e os espanhóis tinham uma participação maior do que sua proporção na 
população em geral. Dos 119 líderes, 22 eram espanhóis, dentre 24 italianos e 23 portugueses 
e o restante, brasileiros. Dos 556 organizadores sindicais expulsos do Brasil entre 1907 e 
1921, 113 eram espanhóis. Isso é um reflexo das ideias socialistas e anarquistas que, a partir 
de 1890, conseguiram penetrar de forma considerável algumas regiões espanholas. 
 
3. JUDEUS NO BRASIL 
Tudo começa em 1492, quando os Reis Católicos assinam o Decreto de 
Alhambra que determinava a expulsão de todos os judeus da Espanha após revoltas do grupo 
contra os altos impostos instituídos. Isso deu origem a um grande movimento migratório para 
diversos países europeus, principalmente em direção a Portugal, para onde migraram cerca de 
100.000 judeus. 
Dessa forma, a população judaica passou a compor entre 10% e 15% da 
população total de Portugal. Com um número assim expressivo e contando com mão de obra 
altamente qualificada, os judeus foram de grande contribuição para o desenvolvimento de 
Portugal nesta época, culminando com o protagonismo na era dos descobrimentos. 
“Os judeus foram truculentamente forçados a abandonar sua posição e riqueza, 
mas levaram na diáspora sefaradita o que tinham de mais valioso, o conhecimento geral e o 
talento comercial” (Marcelo Szpilman, 1961). 
Em 1946, o rei de Portugal, D. Manuel I, por interesses políticos, pediu a mão 
em casamento da Infanta Isabel, filha dos reis católicos da Espanha. Ela, porém, disse que não 
se casaria com ele se houvesse hereges e judeus em Portugal. Por isso, D. Manuel assinou o 
Édito de Expulsão, mas, conscienteda importância social e econômica que os judeus 
representavam para o país, permitiu-lhes que permanecessem em Portugal desde que se 
convertessem ao catolicismo, dando origem, assim, aos chamados “cristãos-novos”. 
Como podemos perceber, os cristãos-novos que permaneciam em Portugal 
sofriam com massacres e revoltosos, inclusive tiveram atribuídos a sua permanência um 
terremoto em 1531 em Lisboa. Em 1540 o primeiro auto-de-fé é realizado pela Santa 
Inquisição, que reforçou as fugas do país. Enquanto isso, no decorrer do período de 1530 -
 
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1570, a evolução da vida judaica se entrosou plenamente com a do Brasil, numa cooperação 
ativa, uma coexistência pacífica e harmoniosa. 
Entre o fim do século XVI e o início do XVII, no Brasil, os cristãos-novos já 
exerciam as mais diversas funções em boa parte das Capitanias. Eles estavam entre a 
aristocracia açucareira de Pernambuco, entre os senhores de engenho na Bahia - segundo a 
autora Sônia Siqueira, dos 85 senhores-de-engenho na Bahia e Pernambuco, 27 eram de 
origem judaica cristã-nova -, e nas mais variadas funções como artesãos, lavradores, 
comerciantes, etc. e até mesmo em posições administrativas e políticas, mesmo isso sendo 
proibido naquela época. Exemplo disso é que Tomé de Souza, primeiro governador-geral do 
Brasil, era de origem judaica. 
Tudo corria bem e os cristãos-novos eram completamente integrados aos 
cristãos-velhos (se casavam, frequentavam os mesmos locais, partilhavam dos mesmos 
problemas, etc.) até que, entre 1591 e 1595 teve no Brasil a primeira visita do Santo Ofício da 
Inquisição. 
A razão alegada para essa visita foi que os judeus estariam cometendo 
“heresias, práticas judaizantes e delitos em geral contra a fé católica”. Mas até hoje é uma 
polêmica se isso realmente estava acontecendo (se eles estavam mantendo o judaísmo 
escondido por várias gerações) ou se a Inquisição prendia os cristãos-novos por questões 
econômicas (ideia que corria a solta na época). 
A resposta para essas questões não é fácil de encontrar, pois ao mesmo tempo 
em que utilizar objetos como a Estrela de Davi, limpar a casa nas sextas-feiras apenas durante 
o dia, pois as noites eram reservadas para reuniões em família ou “não fazer nada”, evitar 
trabalhar aos sábados, comemorar o “Dia Puro” (Yomkippur) e etc., eram costumes/rituais 
judaicos, muitas vezes eram passados só como tradições familiares sem valores religiosos. 
 
Figura 4: Símbolos judaicos. 
 
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Durante a ocupação holandesa em Recife, Itamaracá e Paraíba nos anos de 
1630 a 1654, o governante Maurício de Nassau instituiu a tolerância religiosa, possibilitou a 
participação no comércio do açúcar, escravos e arrecadação de impostos (funções semelhantes 
das praticadas na Europa) além de funcionarem como intermediadores das negociações entre 
holandeses e portugueses, os judeus formaram a primeira congregação judaica da Américas - 
Kahal Zur Israel em 1636 no Recife- composta por praticantes holandeses, portugueses, 
espanhóis e cristãos-novos judaizantes. A construção de uma sinagoga representou a 
possibilidade de cerimônias sem a interferência de perseguidores o que fez metade da 
população moradora da região ser composta por judeus e praticantes. Após a expulsão dos 
holandeses, muitos dos cristãos-novos participantes emigraram para a Holanda, Caribe e 
América do norte (onde ocorreu a fundação da primeira comunidade judaica na América do 
Norte). Entretanto outros voltaram a praticar atos cristãos. Demonstra-se assim a inexistência 
de regras determinantes sobre o comportamento dos cristãos-novos, mesmo quando a prática 
do judaísmo era oficialmente permitida assim como a católica. 
O cenário religioso encontrava-se extremamente confuso, pois havia: 
 Católicos 
 Judeus 
 Cristãos-novos católicos fervorosos 
 Cristãos-novos Judaizantes 
Mas embora praticantes, nenhum dos “Cristãos-novos” tinham seu 
reconhecimento como judaizante ou cristão pelos Judeus ou Católicos. 
Isso tudo muda a partir do século XVIII, quando Marquês de Pombal começa a 
implantar políticas para modernizar o Brasil, e com isso extingue oficialmente a diferenciação 
entre cristãos-novos e velhos com a Carta Lei de 1773. Aí, começa a fase de tolerância 
religiosa que se confirma ao longo do tempo. Na primeira constituição do Brasil, em 1824, 
ainda Império, é estabelecida definitivamente a liberdade religiosa no país. 
Por causa disso, judeus marroquinos começaram migrar para o Brasil em busca 
de melhores condições de vida e liberdade, com as quais não contavam em seus países de 
origem. Por serem descendentes das comunidades expulsas de Portugal e Espanha, contavam 
com o domínio da língua portuguesa e espanhola, o que favoreceu ainda mais a imigração 
para o Brasil. Estes grupos passaram a se instalar em Pernambuco, Bahia e principalmente no 
Amazonas. Em um primeiro momento, se estabeleciam na selva ou em comunidades 
ribeirinhas, mas à medida que iam enriquecendo, iam se mudando para cidades maiores como 
 
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Manaus e Belém. Inclusive, em Belém é que foi organizada a primeira comunidade judaica do 
Brasil independente, com o estabelecimento da sinagoga Eschel Abraham, em 1824. 
Século XIX. Inicia-se a onda de imigrações de refugiados judeus vindo do 
Leste Europeu e da Rússia devido a ataques antissemita. Cria-se assim o ICA (Associação da 
Colonização Judaica) na Argentina e Rio Grande do Sul com o intuito de atrair investimentos 
dos governos locais para a imigração judaica, mas não teve sucesso devido ao desinteresse 
dos judeus da Europa Oriental (consideravam o Brasil um lugar de doenças e pobreza) e a 
grande rudimentação nas técnicas de manejo do solo, sementes e plantio no sistema agrônomo 
além de um modo de trabalhos nos campos análogo ao escravo (recém-abolido). 
 
Figura 5: Imigração total e de judeus para o Brasil. 
As três cidades no Brasil que mais receberam judeus depois da I Guerra 
Mundial foram São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, e em 1930 já residiam no país cerca 
de 60.000 judeus. Primeiramente vinham sozinhos, com esperanças de voltar, mas acabavam 
mandando trazer suas famílias pouco tempo depois, principalmente pelo crescimento do 
antissemitismo na Europa e pela ascensão econômica que vinham conseguindo no Brasil. 
Com tudo isso, os judeus do Leste Europeu conseguiram recriar no Brasil a 
participação cultural e política de que possuíam previamente, em jornais, bibliotecas, 
sinagogas, escolas e outros. 
Quando os alemães nazistas tomam o poder em 1933 e promulgam as 
chamadas Leis de Nuremberg (Lei de Proteção do Sangue Alemão e da Honra Alemã- proibia 
 
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o matrimônio entre judeus e não judeus e a Lei da Cidadania do Reich - só pessoas de “sangue 
ou ascendência alemã” podiam ser cidadãos da Alemanha.), inicia-se um processo de forte 
êxodo judaico e o drama dos refugiados, que eram barrados nos países devido às leis 
restritivas à imigração, antissemitismo e o começo da II Guerra Mundial. O Brasil, fortemente 
influenciado por intelectuais nacionalistas que não viam os Judeus como contribuintes para a 
nacionalidade brasileira (trabalhando a terra ou trazendo capitais), adotou restrições para as 
imigrações com as Cartas de Chamada (comprovação da existência de familiares no País) e de 
um sistema de cotas. Durante o Estado Novo, proibiu-se a concessão de vistos a “pessoas de 
origem semita” independente de qual seu objetivo ao visitar o Brasil, o que diminuiu em 75% 
a imigração judaica durante aquele ano. 
Daí em diante e até o final da Segunda Guerra Mundial, a política de imigração 
brasileira foi um tanto quanto “indecisa”, pois em tese proibia a entrada dejudeus, mas alguns 
vistos eram concedidos, normalmente por intervenção de autoridades. Portanto, mesmo contra 
a lei, alguns judeus ainda conseguiam entrar no país. As ameaças de exportação em massa 
eram frequentes naquela época, mas nunca chegaram a ser concretizado, o máximo que 
aconteceu foram deportações de inimigos políticos, a exemplo de Olga Benário e Jenny 
Gleizer. 
Nota-se que essa restrição e ante semitismo era muito ocasionada pela vontade 
de formar uma nacionalidade brasileira e manter uma política de extração de dividendos 
devido à tensa situação internacional formada. Os poucos que conseguiram entrar, se 
estabeleceram em áreas de colonização alemã ou encontraram empregos em indústrias, áreas 
do comércio e nas universidades e em pouco tem tiveram suas naturalizações concedidas. 
Na década de 1950, os judeus que representavam a classe média brasileira, já 
eram vistos como membros do país e por isso puderam participar de processos político, 
industriais (Casas Bahia, fábrica de brinquedos Estrela) e culturais (Editora Perspectiva e 
Nobel, livraria Cultura). 
Durante a Ditadura Militar, alguns judeus se manifestaram favoráveis ao 
movimento e, outros, principalmente depois da promulgação do AI-5, deixaram o país, 
migrando até mesmo para o Estado de Israel. Além disso, vale ressaltar o emblemático caso 
de prisão e tortura do jornalista judeu Vladimir Herzog, militante do partido comunista. 
 
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Figura 6: Migração dos Judeus do Brasil para Israel. 
 Mas como eram experientes como comerciantes e profissionais liberais, além 
de familiarizados com os costumes, encontraram no Brasil oportunidades para morarem e 
participarem amplamente das esferas da vida brasileira (assim como haviam feito os judeus de 
1950). Por darem grande importância a formação educacional (praticamente 20,4% de todos 
os judeus de São Paulo que tinham o segundo grau também completaram o ensino superior) 
encontramos pessoas importantes para o país em áreas do conhecimento e cultura como: 
 Clarice Lispector, Franz Kafka, Moacyr Scliar (escritores). 
 Lasar Segall (pintor) 
 Fritz Feigl (químico) 
 Hans Stammreich (Físico) 
 Ernst Marcus (biólogo) 
Assim, a comunidade judaica brasileira redefiniu as bases de sua identidade, 
tirando da religião, língua e costumes para formação de laços para uma identificação geral, 
sem dissociações entre o país de nascimento e o de imigração. 
 
 
 
 
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise de como os 
espanhóis e os judeus contribuíram para a formação da imensidão cultural que é o Brasil. 
Os espanhóis, quando comparados em números com os demais povos 
imigrantes, representaram o terceiro maior fluxo a entrar no país. Contudo, não vemos, nos 
dias atuais, expressões de sua cultura no nosso dia a dia como vemos de outras nações. A 
quem diga que o fato de terem facilmente se incorporado a culturas dos que aqui já viviam 
contribui para esse acontecimento. Também pode se considerar a falta de informações que os 
próprios descendentes encontram ao buscar suas raízes seja outro forte influenciador. 
Estima-se que 15 milhões de descendentes de espanhóis viviam no Brasil, 
porém silenciosos e discretos com suas tradições e culturas. 
Os judeus, propriamente ditos, os cristãos-novos e os descendentes desses 
povos tiveram uma trajetória regada por sofrimentos, mas também contribuições positivas e 
fundamentais para o atual cenário social, econômico e formação de uma nacionalidade 
brasileira, que não nos são contadas durante nossos estudos no colégio e nem de 
conhecimento geral, apenas com pesquisas e trabalhos como esse. Esses povos progrediram 
com desbravamentos do interior, lavouras e movimentos ideológicos de emancipação política 
da terra, comercio e formação das primeiras indústrias além de avançarem nos estudos da arte 
e da ciência. 
Esse legado deixado e a capacidade de adaptação e convivência deram margem 
permanentemente a cruzamentos de modos de agir e pensar, fazendo com que os judeus e 
espanhóis entrassem poderosamente na composição étnica nacional transmitindo largos 
contingentes éticos, antropológicos e culturais para a formação do brasileiro de hoje. 
 
REFERENCIAS 
 
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BENCHIMOL, Artur. 15 autores judeus que todos deveriam conhecer. Disponível em: 
<http://confeitariamag.com/arturbenchimol/15-escritores-judeus-que-todos-deveriam-conhecer/>. 
Acesso em 16 de setembro de 2017. 
LEMLE, Marina. Judeus que resistiram à ditadura eram secularizados. Disponível em: 
<http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/judeus-que-resistiram-a-ditadura-eram-secularizados>. 
Acesso em 16 de setembro de 2017.

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