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monografia Eutanásia: morte digna ou auxílio ao suicídio?

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
CURSO DE DIREITO
BRANCA REGINA CLARO SALVADOR
EUTANÁSIA: 
MORTE DIGNA OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO?
CAMPINAS
2017
BRANCA REGINA CLARO SALVADOR
EUTANÁSIA: 
MORTE DIGNA OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO?
Monografia apresentada ao curso de Direito, como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel.
Orientador: Prof. Pedro Santucci. 
CAMPINAS
2017
BRANCA REGINA CLARO SALVADOR
EUTANÁSIA: 
MORTE DIGNA OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO?
Monografia apresentada ao curso de Direito, como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel.
Aprovado em ____/____/____
____________________________________
Orientador: Prof. Pedro Santucci
Pontifícia Universidade Católica de Campinas
____________________________________
Prof. José Guilherme di Rienzo Marrey 
Pontifícia Universidade Católica de Campinas
Dedico este trabalho à minha família, pelo apoio incondicional em minha vida acadêmica.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço minha família pelo amor e apoio incondicional, meus pais, e especialmente meus irmãos Tiago, Daniel e Dênis que são e sempre foram fonte de inspiração para mim. 
Agradeço também amigos especiais que tanto me apoiaram: Natália Arena, com nossa amizade de mais de 18 anos, Bruna Tegon, que recentemente reapareceu em minha vida e fez total diferença, Jéssica Ribeiro, que me acolheu e deu todo seu apoio nos momentos mais difíceis da minha vida, Endy Oliveira e Paula Gomes, que têm me acompanhado desde sempre, Lizandra Guizzi, minha melhor amiga, Fernanda Lopes, Carolini Marangoni e Raíssa Rabello. 
Agradeço em especial aos seguintes professores, sem os quais não seria possível ter trilhado esses cinco anos na Universidade: Pedro José Santucci, José Henrique Di Rienzo Marrey, Ana Elisa Spaolonzi, Paulo Roberto de Sousa, Arlei da Costa, André Nicolau Heinemann Filho, Arnaldo Lemos Filho, Lucas Catib de Laurentiis, Maria Helena Campos de Carvalho, Thiago Silva Freitas Oliveira e Wagner José Penereiro Armani. 
RESUMO
O objetivo deste estudo foi analisar a eutanásia focando no direito à vida e a dignidade da pessoa humana, verificando se ela pode ser vista como morte digna ou auxílio ao suicídio. Para o desenvolvimento da presente monografia é utilizada a pesquisa bibliográfica e os métodos de abordagem dedutiva e de procedimento monográfico, tendo abordagem qualitativa. Com o resultado da pesquisa foi possível concluir que, enquanto no Brasil a eutanásia for considerada como crime, sua prática deve ser repudiada e punida exemplarmente pelo ordenamento jurídico pátrio, qualquer que seja o ente praticante.  Há um longo caminho a ser percorrido com amplas discussões, respeitando todos os elementos envolvidos. 
Palavras-chave: eutanásia; morte digna; suicídio; ordenamento jurídico.
ABSTRACT
The objective of this study was to analyze euthanasia focusing on the right to life and dignity of the human person, verifying if it can be seen as a dignified death or suicide aid. For the development of this monograph is used the bibliographic research and the methods of deductive approach and monographic procedure, with a qualitative approach. With the result of the research it was possible to conclude that, while in Brazil euthanasia is considered a crime, its practice should be repudiated and punished exemplarily by the legal order of the country, whatever the practicing entity. There is a long way to go with broad discussions, respecting all the elements involved.
Keywords: euthanasia; worthy death; suicide; legal order.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	8
1 O DIREITO À VIDA	10
1.1 A PROTEÇÃO CIVIL DA VIDA HUMANA	12
2 A EUTANÁSIA NO BRASIL	18
2.1 ASPECTO JURÍDICO-PENAL	19
3 LIMITES PRINCIPIOLÓGICOS	24
3.1 PRINCÍPIOS LIMITADORES DA ATUAÇÃO DO ESTADO NA EUTANÁSIA	24
3.1.1. Dignidade da pessoa humana	24
3.1.2. Autonomia de vontades	26
3.1.3. Justiça social	28
3.1.4. Do Princípio da legalidade	29
3.1.5. Princípio da proporcionalidade	30
CONCLUSÃO	32
REFERÊNCIAS	35
INTRODUÇÃO
A eutanásia não é apenas uma questão de direito, no entanto, fundamentalmente, um problema a ser apreciado conjuntamente pelos diversos ramos, abrangendo a medicina, assim como a religião e outras crenças, interessando inclusive à opinião da imprensa, do sociólogo, do filósofo, do escritor e até mesmo do homem do povo e de toda a sociedade, mas não pode ficar alheia aos operadores do direito e principalmente ao legislador. 
Apesar de ser um assunto polêmico, a eutanásia já foi praticada muitas vezes na história da humanidade. Em alguns países inexiste, em regra, a aplicação de uma sanção ao agente pela prática da Eutanásia, contudo no Brasil esta prática é tida como crime de homicídio. 
As vicissitudes pelas quais o assunto é tratado representam um verdadeiro paradoxo no contexto do direito pátrio, pois se destaca pelo enfrentamento de dois temas antagônicos, que são a vida e a morte e as visões em confronto.
Essa conjectura envolve interesses contrapostos, de modo que a discussão acaba sendo polarizada e torna-se uma tarefa difícil para encontrar uma resposta que componha satisfatoriamente todas as questões inerentes ao tema, principalmente quando se depara, de um lado, com o fanatismo religioso que apregoa uma repressão rígida quanto aos assuntos que atentam contra a vida e, de outro, com o radicalismo de alguns extremistas que acabam banalizando o direito de dispor da vida.
Eutanásia é o ato voluntário de uma pessoa abreviar a vida de outra, que esteja em situação grave de doença dolorosa, progressiva e irreversível. 
Por outro lado, aqueles que recorrem ao ato da Eutanásia, em portadores de doença grave em progressão e irreversível, questionam o tipo de vida, de existência e de dignidade humana que todo um aparato médico-hospitalar oferece aos pacientes terminais.
Assim, o problema a ser pesquisado neste estudo é: a Eutanásia pode ser vista como morte digna ou auxílio ao suicídio?
O objetivo deste estudo é analisar a eutanásia focando no direito à vida e a dignidade da pessoa humana, verificando se ela pode ser vista como morte digna ou auxílio ao suicídio.
Para o desenvolvimento da presente monografia é utilizada a pesquisa bibliográfica e os métodos de abordagem dedutiva e de procedimento monográfico. 
O presente trabalho monográfico versará com abordagem qualitativa, de acordo com a luz da doutrina e jurisprudência, embasada na legislação pátria vigente, pertinente à informatização dos processos judiciais.
O estudo bibliográfico e exploratório se constituirá em etapa fundamental, para que haja uma revisão da literatura pertinente ao tema, a partir de obras que tratam do assunto em livros que fundamentaram a formulação e determinação dos objetivos. 
1 O DIREITO À VIDA
Inicialmente, é necessário que se pondere sobre o conceito do direito à vida, que se imiscui de forma inegável na consideração do aborto, seja este motivado por quaisquer circunstâncias ou motivos. 
O direito à vida é um direito individual, sendo inútil tutelar a liberdade, a igualdade e o patrimônio de alguém sem que fosse assegurada a sua vida. (SILVA, 2002). 
José Afonso da Silva (2002, p. 187) explica que 
o direito à vida deve ser compreendido de forma extremamente abrangente, incluindo o direito de nascer, de permanecer vivo, de defender a própria vida, enfim, de não ter o processo vital interrompido senão pela morte espontânea e inevitável.
Para Pinho (2001, p. 76):
O conceito de vida é uma questão filosófica de alta indagação. A morte, ao contrário, é a cessação da vida, sendo diagnosticadapelo fim das funções vitais do organismo: respiração, circulação e atividade cerebral. O diagnóstico da morte deve ser feito de acordo com os conhecimentos médicos existentes. Em regra, constata-se de forma clínica pela paralisação da respiração e da circulação, bem como por outros sinais evidenciadores do término das funções vitais do organismo humano. Para efeitos de transplantes, contudo, em razão da possibilidade da manutenção artificial das funções respiratórias e de circulação, a legislação é mais rigorosa, exigindo a verificação de morte encefálica (Lei n. 9.434/97). A Constituição tutela o direito à vida sem estabelecer o momento inicial e final da proteção jurídica. Esses termos, por opção do poder constituinte originário, devem ser fixados pela legislação infraconstitucional, obedecidos os preceitos da Constituição. O direito à vida é protegido pelo legislador ordinário desde a concepção. De acordo com a legislação civil, "a personalidade civil do homem começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro" (CC, art. 4°). O nascituro é o ser já concebido no ventre materno, mas ainda não nascido. A ele a legislação civil assegura diversos direitos, entre eles o de reconhecimento e o sucessório.
Sob o ponto de vista da moral católica e cristã, a vida é avaliada sagrada a partir da concepção. Somam-se, contudo, outros acordos que sustentam que o início da vida, com a implantação do embrião no útero, com o desenvolvimento do sistema nervoso; a partir do terceiro mês; ou exclusivamente com a vida extrauterina (ARAUJO, 2007).
Todas as religiões concentram-se no absoluto respeito ao valor da vida. Discordam, entretanto, na concepção e no significado da própria vida e no modo como seu valor inseparável a ser desenvolvido e potencializado (GARRAFA, 2000).
A ordem jurídica brasileira considera que a personalidade civil se inicia no nascimento com vida. Segundo Garrafa (2000, p. 55), “A obrigação de se proteger a vida humana é tão clara que não precisa expressar-se como direito, seria o mesmo que falar, respirar e enxergar”. 
Ainda que, no que tem referência ao direito à vida, encontra-se presente no mesmo indivíduo sujeito e objeto do direito, isso não significa dizer que, enquanto elemento possa o homem ser atenuado em sua vida ou dignidade. Além do mais, é conhecido que existem numerosos direitos que exercem, do mesmo modo, uma função, de alguma forma, restritiva desse direito origem (GARRAFA, 2000).
No fato do direito à vida, o favorecido será o próprio sujeito do direito. O ser humano é, simultaneamente, sujeito do direito à vida e elemento desse mesmo direito. Consequentemente, o homem não é direito de outro. (SILVA, 2002).
A natureza integral da proteção do direito à vida ocorre em razão de sua proteção constitucional apresentar-se mesmo em caso de ambiente ou situação crítica, significando dizer que, em critérios de proporcionalidade não existem valores, ainda que fundamentais, que possam superá-lo (SILVA, 2002).
Abordando a questão da individualidade Pessini e Barchifontaine (2000, p. 48), argumenta que:
(...) a dignidade de o indivíduo necessitar ser observado como a obrigação de se respeitar o homem como pessoa, involuntariamente de raça, religião, nível social, sexo, etc., ou seja, reconhecer na pessoa humana os seus valores intrínsecos, que não pode ser avaliado de acordo com critério de ordem econômica. 
É na singularidade de cada indivíduo que convive, de um modo, a reivindicação de se tratar de um ser imensamente digno de consideração, o elemento fundamental da sua própria identificação: todos os outros direitos pessoais transcorrem do caráter único, indissolúvel e exclusivo de cada indivíduo.
1.1 A PROTEÇÃO CIVIL DA VIDA HUMANA
De acordo com a legislação penal, matar um ser humano durante ou após o nascimento é homicídio (Código Penal, artigo 121):
Art 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.       (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
§ 6o  A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.       (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012)
E a provocação da morte do produto da concepção antes do nascimento, aborto (Código Penal, artigos 124 a 128):
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Induzir, instigar ou auxiliar uma pessoa a se matar é crime de participação de suicídio (Código Penal, artigo 122), pois a vida é um bem jurídico indisponível:
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
A morte não é um direito subjetivo, sendo lícita a conduta de quem impede, utilizando-se dos meios que forem necessários, alguém de se matar (Código Penal, artigo 146, § 3º, II):
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois delhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Aumento de pena
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.
O direito à vida decorre de uma série de direitos, como o direito à integridade física e moral, a proibição da pena de morte e a venda de órgãos, a punição como crime do homicídio, eutanásia, do aborto e da tortura (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2000).
O sistema jurídico brasileiro assegura o direito de viver e não reconhece o direito de morrer, possibilitando que a doutrina jurídica possa afirmar que esse direito não existe (TESSARO, 2000).
O direito à vida tem como princípio a autonomia, de modo ninguém precisa de licença de outrem para viver a sua própria vida, exceto em países que adotam o sistema de pena de morte. Portanto, nem o Estado pode impor qualquer restrição a esse direito. 
Trata-se de um direito supremo. Somente o titular pode renunciar a sua própria vida. 
Com o intuito de resguardar à vida, existem inúmeras normas jurídicas que reforçam essas ideias, tais como: punição da tentativa de suicídio; proibição dos esportes radicais e atividades de risco em geral; coibição de tratamentos desumanos e degradantes ao doente etc. (TESSARO, 2000).
Sobre esses aspectos, o Código Penal brasileiro em comparação com o art. 15 do Código Civil destaca em seu artigo 146 que:
 Art. 146. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda. (...) § 3o Não se compreendem na disposição deste artigo: I a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II a coação exercida para impedir suicídio(...). (BRASIL, 2002).
No inciso terceiro foram feitas observações bastante significativa com relação a não obrigação do médico em acatar essa medida e, livrando-o do crime, caso o pratique. 
Para ilustrar outro caso em que o direito à vida é posto à prova, o art. 128 do mesmo Código Penal, destaca que:
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
De acordo com a doutrina brasileira, entende-se, na primeira hipótese, que o médico não precisa de consentimento livre e esclarecido da mãe. Nesse caso, sua decisão de interromper a gravidez é mais importante do que a da mãe. 
Na verdade, tal artigo viola alguns novos princípios, como o direito à autonomia como inerente à dignidade humana (BRASIL, CP, 1940).
Ao estudar as doutrinas vigentes até então estudadas neste trabalho, nota-se que a suspensão de esforço terapêutico, denominado SET, tem apoio na Constituição Federal de 1988 (art. 1.º III, e art. 5.º, III).
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) III -  ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante.
Assim, é reconhecida a dignidade da pessoa humana como fundamento do estado democrático brasileiro.
No art.15 do Código Civil, também há destaque nesse sentido, pois se autoriza o paciente a recusar determinados procedimentos médicos. 
“Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”.
A Lei Orgânica da Saúde Lei n. 8.080/90, dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Em seu art. 7.º, III, apresenta, além de outros aspectos, o direito à autonomia do paciente.
Dos Princípios e Diretrizes
 Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:
I - Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;
 II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;
 III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;
 IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie;
 V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;
VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; (...)
 	No Código de Ética Médica, nota-se que os princípios legais são retomados, mas a figura do médico e sua responsabilidade como profissional da saúde, que lida diretamente com a vida humana, são enfatizados nesse documento. A seguir são transcritos alguns artigos que reafirmam a ética médica.
Art. 6° - O médico deve guardar absoluto respeito pela vida humana, atuando sempre em benefício do paciente. Jamais utilizará seus conhecimentos para gerar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano, ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade.
Capítulo IV - Direitos Humanos
É vedado ao médico:
Art. 46 - Efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e consentimento prévios do paciente ou de seu responsável legal, salvo iminente perigo de vida.
Art. 47 - Discriminar o ser humano de qualquer forma ou sob qualquer pretexto.
Art. 48 - Exercer sua autoridade de maneira a limitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a sua pessoa ou seu bem-estar.
Art. 49 - Participar da prática de tortura ou de outras formas de procedimento degradantes, desumanas ou cruéis, ser conivente com tais práticas ou não as denunciar quando delas tiver conhecimento.
Art. 50 - Fornecer meios, instrumentos, substâncias ou conhecimentos que facilitem a prática de tortura ou outras formas de procedimentos degradantes, desumanas ou cruéis, em relação à pessoa.
Capítulo V - Relação com Pacientes e Familiares
É vedado ao médico:
Art. 56 - Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente perigo de vida.
Art. 57 - Deixar de utilizar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento a seu alcance em favor do paciente.
Art. 58 - Deixar de atender paciente que procure seus cuidados profissionais em caso de urgência, quando não haja outro médico ou serviço médico em condições de fazê-lo.
Art. 59 - Deixar de informar ao pacienteo diagnóstico, o prognóstico, os riscos e objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta ao mesmo possa provocar-lhe dano, devendo, nesse caso, a comunicação ser feita ao seu responsável legal. (...)
Art. 61 - Abandonar paciente sob seus cuidados.
	Assim, pode-se perceber que o direito à vida deve ser respeitado, assim como o Código de Ética Médica. 
2 A EUTANÁSIA NO BRASIL
A prática da Eutanásia tem origem remota, ela tem sido exercida com frequência ao longo das diversas civilizações da história humana, mas de formas primitivas, por exemplo: diversos povos, como os brâmanes, os esquimós, em Atenas e Esparta; como os celtas, por exemplo, tinham por hábito que os filhos matassem os seus pais quando estes estivessem velhos e doentes (CARVALHO, 2001, p. 33). 
No panorama histórico, a título ilustrativo, a primeira notícia acerca da eutanásia refere-se ao rei do Egito, Saul, que gravemente ferido em combates de guerra com os Filiseus, implorou por sua própria morte para não sofrer e, ao mesmo tempo não cair nas mãos inimigas e acabar sendo eliminado de forma cruel e barbárie (XAVIER, 2007, p. 01). 
Contempla-se que entre os esquimós tradicionalmente se trancavam em iglus hermeticamente fechados, os anciãos e os enfermos incuráveis, com o fim de poupar-lhes sofrimento. Já, os relatos em relação a Grécia do período de Hipócrates, era de que as pessoas fartas de viver ou portadora de doenças graves, procuravam os médicos para que estes lhes ministrassem um tóxico que os libertasse da vida (XAVIER, 2007, p. 01). 
Por sua vez, na Índia, os doentes incuráveis eram atirados ao Rio Ganges, e lá eram asfixiados quase que completamente, enchendo-lhes as narinas e a boca de lama sagrada, e depois abandonando-os no leito do rio sagrado, esclarece JIMENEZ DE ASÚA (Apud., XAVIER, 2007, p. 01).
Em relação a eutanásia no Brasil tem-se que ela não é permitida por lei. Contudo, tolerar-se a prática, como em alguns países da eutanásia passiva quando o estado terminal do paciente lhe causa fortes e terríveis dores ou no caso de pessoas mantidas por aparelhos, sem os quais não sobreviverão (GONÇALVES, 2005, p. 30).
Oportuno para finalizar a questão, tendo em vista que alguns países até permitem a eutanásia passiva, abordar de maneira sutil o que vem a ser esta modalidade do instituto. 
A eutanásia passiva consiste na modalidade mais frequente de eutanásia, há de ser sempre voluntária e direta, é conceituada como sendo a omissão de tratamento ou de qualquer meio que contribua para a prolongação da vida humana que apresente alguma deterioração irreversível ou uma enfermidade incurável e se encontre em fase terminal, acelerando-se assim o desenlace mortal (GONÇALVES, 2005, p. 30).
2.1 ASPECTO JURÍDICO-PENAL
A teor do Código Penal Brasileiro não se vê a expressão eutanásia de forma explícita na redação dos dispositivos, mas encontra-se o "homicídio privilegiado". Nesse sentido, destaca-se que os médicos dividem a prática da morte assistida em dois tipos: ativa (com o uso de medicamentos que induzam à morte) e passiva ou ortotanásia (a omissão ou a interrupção do tratamento). Atualmente, no caso de um médico praticar a eutanásia em um de seus pacientes em fase terminal ou sem expectativa de melhoras, o profissional pode ser condenado pela prática do crime tipificado como homicídio, e sofrer a imputação da pena de prisão de 12 a 30 anos, ou auxílio ao suicídio, com pena de prisão de dois a seis anos (LIMA NETO, 2003, p. 02).
Com suporta ainda no mesmo diploma legal, destaca-se que neste tópico que a Eutanásia passiva, tema de considerável maior interesse, em regra encontra-se atualmente tipificada como crime previsto no artigo 135, intitulada omissão de socorro.
Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco, à criança abandonada ou extraviada, ou a pessoa inválida ou ferida, ao desamparado ou em grave e eminente perigo; ou não pedir, nesses casos socorro da autoridade pública:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se da omissão resultar lesão corporal de natureza grave, e triplica, se resulta a morte.
O dever moral de solidariedade humana de amparar aqueles que necessitam de socorro é convertido em dever legal geral pela regra contida no dispositivo acima, que define o crime de omissão de socorro. Protege-se com referido dispositivo a vida e a saúde da pessoa por meio da tutela da segurança individual, sendo este crime consumado pela omissão do agente em prestar o socorro (MIRABETE, 2003, p. 136-140).
Seguindo essa visão, muito próximo da eutanásia, que é o objeto deste estudo, encontra-se o suicídio assistido, entretanto, este, com aquele não deve ser confundido. Tem-se que o suicídio assistido se confunde com a indução, instigação ou auxílio ao suicídio, crime tipificado no artigo 122 do Código Penal. Contudo, no tocante a eutanásia, o médico age ou omite-se em relação à prestação do auxílio ao paciente, tendo como resultado dessa ação ou omissão direta a morte (LIMA NETO, 2003, p. 02). 
Apregoa-se, neste passo, que no caso do suicídio assistido, a morte da pessoa não depende diretamente da ação de um terceiro, como por exemplo, do médico. Ela é consequência de uma ação realizada pelo próprio paciente, que pode inclusive ter sido orientado ou auxiliado por esse terceiro (LIMA NETO, 2003, p. 02).
Nessa trilha é um crime já que é fato típico e antijurídico, que encontra sua tipificação na Parte Especial, do nosso Código Penal em seu artigo, verbis: 
Art. 121. Matar alguém:
§1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. (grifou-se)
Assim a eutanásia ativa, está estipulada no § 3º do mesmo artigo, dispondo:
Art. 121.(...):
§ 3º. "Se o autor do crime é cônjuge, companheiro, ascendente, descendente, irmão ou pessoa ligada por estreitos laços de afeição à vítima, e agiu por compaixão, a pedido desta, imputável e maior de dezoito anos, para abreviar-lhe sofrimento físico insuportável, em razão de doença grave e em estado terminal, devidamente diagnosticados: Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
No ordenamento jurídico brasileiro o ato criminoso pode ser praticado por comissão (ação) ou omissão (inação) e, até mesmo, comissão por omissão, não fazendo diferença para caracterizar, e enquadrar legalmente, o delito penal de eutanásia como se caracterizou o agir do agente criminoso. 
Uma primeira modalidade ocorre no caso de um terceiro, médico ou familiar do doente terminal lhe dê a morte, hipótese em que estaremos diante do homicídio, que, eventualmente teria tratamento penal privilegiado, atenuando-se a pena, pelo relevante valor moral que motivou o agente; assim o juiz poderia reduzir a pena de um sexto a um terço. Esse homicídio, mesmo privilegiado, não leva em conta, se houve ou não consentimento da vítima para descaracterizar o crime (RIBEIRO, 2005, p. 01). 
Outra forma de crime eutanásico, que pode aqui ser consignado se dá quando o terceiro auxilia o próprio doente para que este se lhe dê a própria morte. Trata-se da modalidade criminosa do auxílio ao suicídio, pois se pune alguém que estimulando, induzindo ou auxiliando, colabora para que o doente se mate (RIBEIRO, 2005, p. 01). Neste exemplo, as formas de colaboração são as mais diversas, desde o fornecimento de uma arma, até a colocação de equipamentos vitais, ao alcance do doente, que ao desligá-lo vem a falecer. A instigação e o induzimento, embora de prova difícil no contexto jurídico-penal, poderá ser determinante para que a eutanásia se consume ou não.
De outro lado, a única forma que a legislação atual brasileira não pune, é quando o doente, absolutamente sozinho, se mata por iniciativa e vontade própria. Neste caso, nem mesmo a tentativa pode ser punida, uma vez que se o agente quer se dar à pena máxima,de nada adiantaria lhe atribuir uma punição para que não reitere nessa conduta. Seria absurdo se pensar contrariamente (RIBEIRO, 2005, p. 01). A eutanásia é enquadrada dentro do direito brasileiro como homicídio privilegiado, isto é, um tipo de homicídio em que a lei prevê uma redução na pena de um sexto a um terço, "se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima". 
Oportuno trazer um exemplo da aplicação desta lei na prática, ocorre quando o médico tira a vida de um paciente a pedido deste ou de sua família e acaba sendo privilegiado com os atenuantes previstos em lei.
Como se vê no Código Penal, apenas a eutanásia ativa (aplicada por médicos em doentes terminais) faz parte de nosso ordenamento jurídico, sendo considerado um crime com atenuante e passível de redução de pena, devido ao seu valor social ou moral. Já, as espécies selecionadora e econômica, são definidas em nosso código penal como homicídios qualificados, com intenção de matar, sem qualquer piedade, e quem a praticar, sofrerá pena de reclusão, sendo alijado do convívio na sociedade (RIBEIRO, 2005, p. 01). 
Vale salientar que essas duas espécies de eutanásia se confundem, pois visam interesses econômicos ou seletivos da raça humana, o que, por si só, já caracteriza a prática de um homicídio qualificado nos termos da lei (motivo torpe). 
A vida humana é consequência de uma lei da natureza, ou seja, consequência de Direito Natural, o que a torna desde logo conformadora de qualquer lei positiva. Qualquer ato antinatural na extinção de uma vida não é aceitável. Há uma clara proteção do direito à vida e a dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento jurídico, pois vejamos:
Na Declaração Universal dos Direitos do Homem, vê-se estatuído que:
Art. 3º Todo o indivíduo tem direito à vida à liberdade e à segurança pessoal. 
Esse homicídio privilegiado, a qual sedimentamos acima, não leva em conta, se houve ou não consentimento da vítima para descaracterizar o crime, mesmo em havendo tal consentimento, se haveria de desconfiar sobre sua lucidez e independência para decidir sobre a própria vida.
Nesse sentido, a comissão de reforma do Código Penal Brasileiro enfrenta a questão da eutanásia e traz uma alternativa que merece estudos. De acordo com o Projeto de Reforma de Lei (PIERANGELI, 2001, p. 341), assim ficaria o art. 121: 
Art. 121…
(...)…
Eutanásia
§ 3º Se o autor do crime agiu por compaixão, a pedido da vítima, imputável e maior, para abreviar-lhe sofrimento físico insuportável, em razão de doença grave:
Pena: Reclusão de 3 (três) a 6 (seis) anos.
Exclusão de Ilicitude
§ 4º Não constitui crime deixar de manter a vida de alguém por meio artificial, se previamente atestada por dois médicos, a morte como iminente e inevitável, e desde que haja consentimento do paciente, ou na sua impossibilidade de ascendente, descendente, cônjuge, companheiro ou irmão.
A não-invasão corporal para preservar a vida contra a vontade do paciente, a eutanásia, o suicídio assistido e o homicídio humanitário praticados por médico são temas que merecem dos juristas e políticos mais atenção, mais coragem para inovar dentro da realidade, afastando as influências e o fundamentalismo dos dogmas de ordem religiosa ou outros equiparados. Num país laico, conceitos dessa origem não devem ser compartilhados com o Direito Penal, nem com qualquer outro ramo do Direito (RIBEIRO, 2005, p. 30). 
Além do mais, há um despudor dos hospitais nos custos cobrados pelos tratamentos intensivos e de doenças prolongadas, sem qualquer perspectiva ou esperança de melhora. Constituem uma indústria que se alimenta do sofrimento exagerado dos pacientes, do ônus impagável por eles ou por suas famílias e majoritariamente pelo erário, pelo SUS - Sistema Único de Saúde. 
3 LIMITES PRINCIPIOLÓGICOS 
No capítulo derradeiro, já à guisa das considerações finais o trabalho deve a analisar o tema propriamente dito, que é a compreensão dos limites principiológicos a intervenção do estado brasileiro na sucumbência da vida humana pela prática da eutanásia, visto a luz da doutrinária, e frente aos argumentos que imperam limitativos da intervenção estatal nesta prática, em atenção aos princípios limitadores da atuação do estado e a luz da preservação da dignidade e da vida humana e a autonomia da vontade.
3.1 PRINCÍPIOS LIMITADORES DA ATUAÇÃO DO ESTADO NA EUTANÁSIA
O Estado Democrático de Direito, como um todo organiza-se, pois, para servir e para atender a fins sociais e econômicos, constituindo-se como um sistema de serviços públicos, além de outras funções. Nesse viés, o poder estatal sujeita-se aos ditames da lei, lei esta que ele mesmo edita no sentido de promover a ordem social e atender aos interesses da coletividade. Num Estado de Direito, sabe-se que o poder não é efetivamente absoluto, estando, sobretudo, sujeito a princípios e regras jurídicas que asseguram aos cidadãos segurança, liberdade e igualdade. Como diretrizes de sua aplicação, a doutrina identifica a existência de determinados princípios aplicáveis em cada esfera do direito e a função que este representa em cada uma delas. É dever inerente ao Estado de cumprir a lei, pois este, como se sabe, é um dos preços impostos pelo direito e, sobretudo, pela democracia (MORAES, 2007, p. 46-47). sem deixar de observar os princípios a ele inerentes. 
3.1.1. Dignidade da pessoa humana
A dignidade é um valor subjacente às numerosas regras de direito, daí a razão de ser da proibição de toda ofensa à dignidade da pessoa, já que ela representa uma questão de respeito ao ser humano, e que leva o direito positivo a protegê-la, a garanti-la e a vedar atos que podem de algum modo levar à sua violação, inclusive na esfera dos direitos sociais (MORAES, 2007, p. 46-47).
Há de se notar que a dignidade humana, insculpida pela Carta Política em seu art. 1º, inciso III, não foi criada pelo Legislador Constituinte, mas sim, recepcionada por ele e, atuando sobre toda a ordem jurídica, o princípio em apreço funciona como verdadeira cláusula geral de tutela da pessoa, que contém em seu cerne a igualdade, a integridade psicofísica, a liberdade e a solidariedade, de modo a proteger o ser humano mesmo precedente ao nascimento.
O legislador constituinte elevou à categoria de princípio fundamental da República, à dignidade da pessoa humana (um dos pilares estruturais fundamentais da organização do Estado brasileiro), previsto no art. 1º, inciso III da Constituição de 1988. Cabe aqui dizer que agir com respeito à dignidade da pessoa é uma forma de garantir a consecução dos demais princípios, direitos e garantias fundamentais reservados para a mesma na Carta Magna. 
Cumpre destacar que a existência de condições mínimas materiais para vida, tais como assistência médica, alimentação e moradia, é fundamental para a concretização da dignidade humana. É imprescindível assegurar o mínimo necessário para viver com dignidade, reforçando suas condições enquanto pessoa, especialmente porque a vida não se resume ao alimento propriamente dito, insere outros elementos para que haja realmente a dignidade que aqui se analisa.
Nesse sentido Alexandre de MORAES (2005, p. 128), nos dá conta que:
A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.
Dignidade significa respeito, neste caso, para aquele que deseja sua morte. O enfermo a deseja, pois indignamente sofre de um mal que não tem cura, seria digno trazer-lheo alívio e a brevidade de sua morte. Relembrando o caso da norte-americana Terri Schiavo, foi digno brincar com ela buscando trazer-lhe a morte retirando e colocando por vezes os equipamentos que a mantinham viva. Entendo por morte digna aquele em que a própria natureza se incumbe de realizar, não vejo dignidade em provocar a morte, mesmo dos que agonizam por ela (WUSTHOF, 2005, p. 62).
Este questionamento representa muito bem os dois opostos que se deve refletir, pois a vida não deixa de ser respeitável mesmo quando convertida num drama pungente e esteja próxima de seu fim (HUNGRIA, 1958, p. 379).
E conforme leciona o jurista José Afonso da SILVA (2002, p. 146), temos que:
A dignidade da pessoa humana encontra-se no epicentro da ordem jurídica brasileira tendo em vista que concebe a valorização da pessoa humana como sendo razão fundamental para a estrutura de organização do Estado e para o Direito. 
E, em defesa ao princípio da dignidade da pessoa humana, enquanto máxima principiológica insculpida pela Carta Política, o Ministro Celso de Mello, em suas decisões defende que a dignidade humana é o preceito central de nosso ordenamento jurídico, cuja expressão é vetor elevado, como um verdadeiro valor-fonte que compõe e guia todo o ordenamento jurídico do país, sem esquecer que serve de base para toda a fundamentação da ordem democrática.
3.1.2. Autonomia de vontades 
Pelo Princípio da autonomia ou livre arbítrio do ser humano como justificativa da eutanásia implica no respeito do médico à vontade do paciente; aqui se reconhece a inexistência de uma vida satisfatória para todos os indivíduos, coexistindo uma pluralidade de tipos de vida, dando origem a diferentes critérios pessoais de uma vida boa e útil, cabendo a cada indivíduo escolher a maneira de morrer, em particular (CARVALHO, 2001, p. 77). 
Destarte, a recusa por ministrar ao paciente terminal um tratamento médico-terapêutico adequado mesmo quando se está em evidente conflito com as perspectivas de uma vida boa e útil parecem justificadas sob esta ótica. Este princípio compreende um direito do paciente no uso pleno de sua razão, ou de seus responsáveis, quando faltar consciência, de estabelecer os limites em que gostaria de ver respeitada sua vontade em situações fronteiriças.
O referido princípio tem como alicerce o fato de ser reconhecido e autônomo nas suas decisões. Esse conceito de autonomia significa dizer que o sujeito é capaz de deliberar sobre seus objetivos pessoais. Autoriza o exercício do poder de autodeterminação do paciente, frente ao médico.
Em linhas gerais os estudos sobre o princípio da autonomia, também conhecido como princípio do respeito às pessoas, apontam ele incorpora convicções éticas tais como: uma que se refere ao tratamento dos indivíduos como agentes autônomos, e outra, que as pessoas com a autonomia diminuída devem ser tratadas com maior proteção pelo estado.
Aqui se propugna que a autonomia da vontade tem sede imediata no direito geral de liberdade das pessoas. Este consiste categoricamente no fundamento precípuo da dignidade da pessoa humana (MENEZES, 2009, p. 54). 
Nada obstante, a ordem constitucional vigente no país sugere uma valoração intrínseca à vida quando dispõe a norma em relação a garantia de todos a inviolabilidade do direito à vida, e, mais, quando tipifica a eutanásia como homicídio. De tal modo, como é possível pensar na eficácia de um documento em que o titular expressa uma limitação ao seu direito à vida, autorizando que seus entes próximos efetuem o desligamento dos aparelhos ou ministre injeção de substância para fins de abreviar-lhe a vida. 
Nesse passo os opositores da eutanásia ditam que a defesa da vida é forma de tutelar do interesse público. No contexto do Brasil, seria complicadíssima a tentativa de atribuir validade a um negócio jurídico feito e pelo qual o paciente em estágio terminal de uma doença manifestasse claramente a sua opção de ter sua vida abreviada. Seria plausível a defesa de sua validade em face dos princípios acima mencionados. 
3.1.3. Justiça social 
O mais delicado dos princípios é o da justiça, em face do qual se questiona: até que ponto é legal, e não apenas legítimo, suspender os suportes de vida. Contempla-se que há uma faceta que sempre é mistificada e escondida e que se encontra subjacente em motivações de ordem econômica. A morte passou a ser asséptica dentro do silêncio barulhento dos Centros de Terapia Intensivos. A consciência de todos é aplacada. A consciência dos que lá trabalham, pois tudo fizeram; a consciência dos familiares, porque tudo proporcionaram (CARVALHO, 2001, p. 78). 
A corporação médica cita que a intromissão indevida de agentes policiais, além de advogados, promotores e magistrados que, na intenção de promover e salvaguardar a vida e os direitos humanos poderiam vir a interferir na relação médico-paciente, obstaculizando a correta prática médica através da imposição de limitações à própria evolução do conhecimento científico (RIBEIRO, 2005, p. 30). 
Os partidários da eutanásia invocam a compaixão como sendo o sentimento determinante da atitude eutanásica. Algumas situações, que devem ser distinguidas da eutanásia:
O emprego de analgésicos, narcóticos e sedativos destinados a aliviar os sofrimentos de um moribundo e a evitar dores insuportáveis, mesmo que provocando o risco, não desejado, de abreviar a vida de um paciente, não constitui um caso de eutanásia, pois a morte não está sendo buscada como um fim ou um meio, mas apenas prevista e tolerada como algo inevitável. Trata-se aqui do princípio do duplo efeito: um efeito bom que é desejado e simultaneamente, um efeito mal, que não pode ser evitado.
A questão cerne da presente discussão versa acerca do direito à vida e se pode ser um direito disponível em certa circunstância. Negando-se a indisponibilidade, nada impediria que o indivíduo, albergado pelo direito à liberdade e pelo princípio da dignidade da pessoa humana, viesse a dispor sobre sua vida nas situações de estado vegetativo irreversível, câncer terminal, doenças degenerativas, dentre outras. Poderia se utilizar de qualquer documento autêntico, ainda que fosse por procuração para tomada de decisões médicas consignaria sua vontade.
3.1.4. Do Princípio da legalidade
Segundo Celso Antônio Bandeira de MELLO (2003, p. 90/91), “Este é o princípio capital para a configuração do regime jurídico-administrativo”, ou seja, dentre todos os princípios aplicáveis à Administração Pública, afirma renomado doutrinador que “o da legalidade é específico do Estado Democrático de Direito, é justamente aquele que o qualifica e que lhe dá a identidade própria”. 
Diógenes GASPARINI (2003, p. 7-8) sobre referido princípio explica que:
O princípio da Legalidade significa estar a Administração Pública, em toda a sua atividade, presa aos mandamentos da lei, deles não se podendo afastar, sob pena de invalidade do ato e responsabilidade de seu autor. Qualquer ação estatal sem o correspondente calço legal, ou que exceda ao âmbito demarcado pela lei, é injurídica e expõe-se à anulação. 
Ou seja, o Estado no exercício de suas funções está preso ao comando, limites e direitos fixados pela lei, não podendo afastar-se da mesma sob pena de invalidade de todos os atos praticados, o seu campo de atuação, como se vê, é bem menor que o do particular. De fato, o particular pode fazer tudo que a lei permite e tudo que a lei não proíbe, enquanto que o agente estatal somente poderá fazer o que a lei autoriza e, assim, quando e como autorizado pela norma (GASPARINI, 2003, p. 8).
Assim sendo frente a eutanásia direito geral de liberdade associado à dignidade da pessoa humana poderia sustentar a autodeterminação do titular em autorizar a abreviação da vida em situação de extremo sofrimento, marcado pelo estado terminal e/ou estado vegetativo permanente, o ainda, serviria de permissivo a atuação do estado no sentido de conferir permissivo ou de interferir neste ato. 
Afetar o direito à vida com a indisponibilidade absoluta seriareconhecer-lhe valor intrínseco, independente da percepção do titular e da adjetivação dessa vida pelo princípio da dignidade da pessoa humana. Ter-se-ia a tutela da vida e o ônus da vida. De modo semelhante, a restrição à eutanásia pela tipificação do comportamento do executor visa evitar a violação da vida. 
3.1.5. Princípio da proporcionalidade
Ao mencionarmos que para a obtenção de um resultado justo e igualitário entre todos e nos moldes do texto constitucional o Estado em toda forma de atuação deve se valer de mecanismos que não cause lesão a direitos fundamentais insculpidos na Carta Magna, como a dignidade da pessoa e ainda a proporcionalidade com os meios de obtenção.
Nesse sentido, aproveitando os ensinamentos do professor Pedro Augusto SABINO (2003, p. 01) tem-se que “os meios adequados deverão ser estritamente os necessários”. Se a finalidade pretendida pode ser realizada de outra maneira, menos contundentes, sobretudo por meio do livre acordo sobre condições adequadas, deve-se priorizar este modo de resolução do problema. Deve-se verificar se o “bem sacrificado não é mais relevante que o tutelado”, complementa o autor. 
Desta feita, ainda que o meio empregado seja apropriado para atingir aquele fim desejado, que no caso se trata da manutenção da vida de uma pessoa enferma, mesmo que não haja outro modo de atingi-lo, deve-se constatar inicialmente se o bem sacrificado não é mais importante que o bem beneficiado, uma vez que, em tal hipótese, o sacrifício de um direito em detrimento de outro é, por assim dizer, inadmissível a teor do ordenamento jurídico nacional.
Assim, ante o princípio da proporcionalidade consagrado pela doutrina nacional no intuito de proteger valores relevantes da pessoa e dentre eles a dignidade humana e o direito à vida, um questionamento que se faz nesta textualização é o sopesamente acerca dos direitos que acabam sendo ofendidos com a prática da eutanásia.
Nesse passo, destaca-se que os princípios fundamentais de direito integram o conjunto institucionalizado de direitos e garantias pertencentes ao ser humano, cuja finalidade precípua é o respeito a sua dignidade, por meio da proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana, ao passo que pode ser definido como direitos humanos fundamentais, sendo certo que, no contexto da eutanásia, existem aqueles que guardam relação dieta com o tema.
Nenhum direito fundamental é assegurado de maneira absoluta, repita-se, haverá sempre a possibilidade de confronto com outro direito fundamental ou com outro princípio constitucional, na situação concreta, de modo a permitir a exaltação de um sobre o outro. O sopesamento de princípios é uma técnica que pode ser utilizada para solucionar colisões, a partir da análise do caso concreto. 
CONCLUSÃO
A eutanásia, nos conceitos básicos anotados, consiste na prática da morte visando atenuar os sofrimentos do enfermo e também de seus familiares, haja vista que a sua inevitável morte, ou mesmo a sua situação incurável do ponto de vista médico é eminente. Traço relevante neste caso é a ideia de causar conscientemente a morte de alguém, por motivo de piedade ou compaixão, introduzindo outra causa, que por si só, seja suficiente para desencadear o óbito. 
No tocante à eutanásia, observa-se, como demonstrado anteriormente um conflito entre o direito à vida e o princípio da dignidade da pessoa humana, e a discussão sobre incidência e limites da liberdade e da intervenção do estado nesta questão. O primeiro, inclusive, já teve seu caráter absoluto refutado pela própria Constituição Federal, que permite a pena de morte em certos casos, fazendo-se entender que o direito à vida suporta intervenção.
Assim sendo, tanto a liberdade, como a responsabilidade estão ligadas à eutanásia, porque esta afeta diretamente os interesses sociais bem como o da adequação social. E essa liberdade encontra limite nas suas ações, regulamentada no Direito Penal. 
A proposta da eutanásia seria a positivação de uma lei que faculte ao paciente, e não que o obrigue a uma escolha. Ninguém será submetido a tratamento que não queira, mesmo porque os critérios para a adoção de tal prática já tramitam no mundo sem causar danos à sociedade. Poderá esta passar a ser um direito do homem, apoiado no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana e que deve ser vista como um paradigma "vida como bem individual e possível de disponibilidade" e não mais "bem divino e indisponível", como o trata a Constituição pátria.
Frente às questões, da dignidade e direito à vida, cabe destacar que o direito à vida é, sem dúvida uma obrigação do Estado e sua interpretação não deve ser entendida com uma imposição legal do Estado, pois o simples fato de o ser humano querer poupar-se de sofrimento, frente à morte inevitável, não deve ser visto como afronta à Constituição Federal, no tocante ao direito à vida.
Por outro lado, não podemos aceitar o eterno sofrimento humano, sendo que se algo pode ser feito para a cura, logo deve ser feito. A medicina não pode afastar a morte indefinidamente. A morte finalmente acaba chegando e vencendo. Quando a terapia médica não consegue mais atingir os objetivos de preservar a saúde ou aliviar o sofrimento, novos tratamentos tornam-se uma futilidade ou peso. Surge então a obrigação moral de parar o que é medicamente inútil e intensificar os esforços no sentido de amenizar o desconforto de morrer. 
Acreditamos que um caso é diferente do outro, mas sempre a decisão acabaria nas mãos de médicos e familiares. A eutanásia é uma medida que visa acabar não com a vida, mas com a dor; seria o mais extremo analgésico. Assim, ela tenta encaminhar o paciente a uma morte mais digna. 
Como pudemos perceber, não podemos negar que em alguns casos não havia a necessidade de aplicação da eutanásia, mas há outros em que a não aplicação aparenta uma falta de sentimentos e humanidade dentro das pessoas. Tanto a liberdade, como a responsabilidade estão ligados a eutanásia, porque esta afeta diretamente aos interesses sociais, bem como o da adequação social.
O direito deve impor limites e controles à liberdade que deve possuir a ciência médica. A norma penal tem certamente uma função protetora, isso possibilita um controle social de liberdade ao apelar para o sentido de responsabilidade do cidadão.
O princípio da justiça ou adequação social adotado pelo direito penal visa a ampla proteção social e cria uma ponte que nos permite o tráfego entre o direito e a ética. Assim, sob a luz do princípio da adequação enfocamos o tema que possui contato com a adequação: a Eutanásia.
Tem-se que liberdade é a palavra-chave de nossa procura de critérios válidos para a distinção entre ações socialmente adequadas e ações socialmente manipuláveis (portanto, inadequadas). O jurista e operador do direito pensa, principalmente, na capacidade própria do homem para obedecer à lei e adequá-la à realidade, mas as vezes esquece-se que o Estado também deve olhar as letras da norma. 
A liberdade envolve sempre responsabilidade social. Este princípio acarreta o dos limites de liberdade. Assim, a liberdade de um ser humano é limitada, entre outros, pelo seu corpo, pela doença, pelo fato de que morre, pela sua inteligência, pelos controles sociais, pela cultura, ad infinitum.
Em suma, não há porque manter a pessoa viva por intermédio de aparelhos médicos quando se sabe serem inócuas as esperanças do enfermo em retomar sua vida normal, pois este fato só faz aumentar o sofrimento do paciente e da família que está a acompanhar seu drama e sofrendo junto com o moribundo. 
Sinteticamente, não se deve confundir a eutanásia, que propicia morte aos doentes incuráveis, com homicídio por interesse ou por compaixão, que visa a eliminação de seres inúteis para o trabalho. Queremos dizer que apenas a eutanásia terapêutica deve ser considerada como tal.
No Brasil, em desfavorda eutanásia, pesa ainda o óbice constitucional, consagrando entre os direitos fundamentais o direito à vida. A eutanásia no Brasil é crime, trata-se de homicídio doloso que, em face da motivação do agente, poderia ser alçado à condição de privilegiado, apenas com a redução da pena e não se trata de compaixão ou altruísmo, mas sim, ao contrário, é um sentimento egoístico é que leva alguém ao cometimento da eutanásia.
A vida não pode ser suprimida por decisão de um médico ou de um familiar, qualquer que seja a circunstância, pois o que é incurável hoje, amanhã poderá não o ser e uma anomalia irreversível poderá ser reversível na próxima semana. Afinal, se a sociedade brasileira não aceita a pena de morte, é óbvio que esta mesma sociedade não aceita que se disponha da vida de um inocente, para poupar o sofrimento ou as despesas de seus parentes. Enquanto no Brasil a eutanásia for considerada como crime, sua prática deve ser repudiada e punida exemplarmente pelo ordenamento jurídico pátrio, qualquer que seja o ente praticante.  Há um longo caminho a ser percorrido com amplas discussões, respeitando todos os elementos envolvidos. 
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