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Um papel primordial da habitação, mesmo nos dias atuais, é servir de abrigo contra intempéries. Contudo, esta não é sua única função, segundo Rapoport (1984, apud LARCHER, 2005, p.6): A variedade observada nas formas de construção, num mesmo local ou sociedade, denota uma importante característica humana: transmitir significados e traduzir aspirações de diferenciação e territorialidade em relação aos vizinhos e a pessoa de fora do seu grupo. Além de ser uma necessidade básica do ser humano a habitação constitui-se como um item de consumo, cuja aquisição “(...) liga-se subjetivamente, ao sucesso econômico e a uma posição social mais elevada” (BOLAFI, 1977, apud LARCHER, 2005, p. 6). Precedentes Existe atualmente no Brasil um déficit habitacional de aproximadamente 7,2 milhões de unidades habitacionais. Noventa por cento desse valor corresponde a famílias com renda entre 0 e 3 salários mínimos, que de forma geral, estão fora do mercado imobiliário formal. (Bonates, 2007) Existem dois tipos de déficit habitacional: inadequação inexistência A EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS HABITACIONAIS NO BRASIL Sabe-se da existência de preocupação com as necessidades de habitação no Brasil desde a década de 1930, quando segundo Larcher (2007, p. 2) “o Estado passa a assumir a coordenação das ações pela redução do déficit habitacional junto às camadas populacionais de renda mais baixa”. Desde essa intensificação da atuação do Estado na área de habitação social muitos foram os programas e políticas públicas implantadas. Durante a “Era Vargas” existiam os IAP’s (Institutos de Aposentadorias e Pensões), mas sua produção era voltada a determinadas classes trabalhadoras . Eram formas de financiamento de habitação, mas para quem podia pagar por ela e estava organizado em um dos sindicatos. Tipologias habitacionais do IAPI, feitas por Carlos Frederico Ferreira para o IV Congresso Panamericano de Arquitetos [BONDUKI, 1998] A atuação inicialmente fragmentada nas décadas de 1930 e 1940 (Governo Militar) deu lugar a uma política centralizada e ao período de produção mais expressiva de produção de habitação com financiamento estatal, o do BNH/SFH. SFH = Sistema de Financeiro de Habitação (mantido por recursos do FGTS e as cadernetas de poupança.) BNH = Banco Nacional de Habitação Antes disso não existia uma forma de poupança para a classe trabalhadora! Existia para as elites. Isso de usar o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) pra isso foi inovador e teve efeito imediato na economia. A Caderneta de poupança era considerada uma poupança voluntária, já o FGTS era poupança compulsória (só podia ser usado em casos de demissão, morte. Um procedimento Indenizatório). p.s: Tudo imitação dos fundos ingleses e modelos americanos. O Estado pode intervir de várias formas na tentativa de equilibrar a situação supracitada, contudo, sua principal estratégia nos últimos anos tem sido o desenvolvimento de políticas públicas específicas para aquisição da casa própria, seja para financiamentos destinados a classe média ou à classe baixa. Dos 4,5 milhões de moradias erguidas com financiamentos do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) entre 1964 e 1986, apenas 33% se destinaram à população de baixa renda, sempre em conjuntos localizados nas periferias urbanas, em áreas onde a terra era barata por não haver acesso a infraestruturas [...] e não apresentar oferta de empregos. Enfim, por não ser cidade. O crédito imobiliário naquele período jamais alcançou a faixa de renda familiar mensal entre 0 e 3 salários mínimos, que concentrava – e continua concentrando – 90% do déficit habitacional. (ROLNIK, 2009). “A partir da extinção do BNH em 1986, as políticas governamentais voltadas para o enfrentamento da problemática habitacional tem apresentado elevado grau de descontinuidade” (Cardoso, 2011, p.1) O SFH (Sistema de Financiamento de Habitação) dependia demasiadamente do bom desempenho da economia e da participação da população através de seus investimentos. Em razão de a crise econômica da década de 70, sérias restrições foram impostas a esse sistema, prejudicando suas principais fontes de renda: caderneta de poupança e FGTS, como aponta Valença (2001) Apesar da produção do BNH representar inegavelmente a maior contribuição nesse sentido, graças a crise e ao impacto negativo de um sistema centralizador como a ditadura militar, ela foi seguida de um período de apatia durantes os governos seguintes, Itamar e Fernando Henrique Cardoso (FHC).“No governo FHC, para surpresa de todos, a política habitacional se restringiu [...] a operar os sistemas de cadernetas de poupança e FGTS, como determinam as leis específicas que regem o sistema de cadernetas de popança e FGTS ” (Valença, 2001, p.41). No governo FHC não ocorreu aporte de investimento sobre o total de cadernetas e, além disso, os bancos privados (e recém privatizados) não quiseram financiar moradias. Resultado: restrição de crédito ou crédito muito caro. No Brasil, a partir dos anos 80, com o término definitivo do regime autoritário, o que restou foi um sistema econômico fragilizado, do ponto de vista conceitual, demasiadamente centralizado no Governo Federal. Esta centralização na esfera federal parecia favorecer a tomada de decisões de modo arbitrário, motivo de grande insatisfação durante o regime militar, o que por sua vez, acabou por provocar uma redefinição na natureza da ação intervencionista do Estado. Pode-se dizer que o maior marco dessa redefinição foi a Promulgação da Constituição de 88, que derivou basicamente, segundo Ferreira (2005), de duas grandes tendências: da manutenção dos mecanismos de regionalização coordenados pelo Governo Federal e do fortalecimento dos governos estaduais com as eleições para governador no ano de 1982 e do reforço dado às receitas dos níveis inferiores de governo, separando uma parte importante das receitas da União, dando assim mais poderes às esferas locais de planejamento. Destacam-se durante o governo FHC três programas habitacionais: 1. Pró-Moradia: que concedia financiamento ao poder público (governos dos estados e municípios) visando produzir habitações para população até três salários mínimos; 2. Pró-Credi: que concedia financiamentos diretamente a população (desta vez com renda entre três e doze salários mínimos) e por fim; 3. Poupanção CEF: que também fornecia financiamento diretamente ao usuário mas não através de carta de crédito, mas sim de poupanças. Nota-se a partir do exposto acima que o objetivo destes programas não era trabalhar a redução do déficit habitacional, pois, não privilegiavam regiões mais carentes, onde o problema habitacional é mais representativo. Sob a justificativa de que fornecendo a carta de crédito era possível ao usuário escolher modelos e locais mais adequados as suas necessidades, pode-se dizer que: Segundo Bonates (2007, p. 42), habitação social é “aquela moradia voltada à população que não tem como se inserir no mercado imobiliário e que, no Brasil, hoje é constituída por famílias com renda mensal inferior a três salários mínimos”. Pensamento corroborado por Maricato, quando diz que: Diante disso, surge o questionamento sobre o que essa população tem feito no sentido de suprir suas necessidades habitacionais. Azevedo (2007, p. 26) diz que “Nesse contexto, a opção habitacional para a maioria da população pobre (...) tem sido os cortiços, favelas e bairros clandestinos, localizados fundamentalmente nas metrópoles e nas grandes cidades”. Ou seja, a autoconstrução tem prevalecido como alternativa para essa parcela excluída das linhas de financiamento. No Brasil, em quatro anos (1995- 1999), menos de 20% do aumento dos domicílios, apenas, foi representadopor moradias produzidas com financiamento. Enfim, a maior parte das moradias, assim como boa parte das cidades construídas no país nos últimos vinte anos, foram feitas sem financiamento, sem conhecimento técnico e fora da lei. (Maricato, 2008, p. 133) Diante disso, surge o questionamento sobre o que essa população tem feito no sentido de suprir suas necessidades habitacionais. Azevedo (2007, p. 26) diz que “Nesse contexto, a opção habitacional para a maioria da população pobre (...) tem sido os cortiços, favelas e bairros clandestinos, localizados fundamentalmente nas metrópoles e nas grandes cidades”. Ou seja, a autoconstrução tem prevalecido como alternativa para essa parcela excluída das linhas de financiamento. No Brasil, em quatro anos (1995- 1999), menos de 20% do aumento dos domicílios, apenas, foi representado por moradias produzidas com financiamento. Enfim, a maior parte das moradias, assim como boa parte das cidades construídas no país nos últimos vinte anos, foram feitas sem financiamento, sem conhecimento técnico e fora da lei. (Maricato, 2008, p. 133) Favela da Rocinha. Rio de janeiro/ RJ Favela do Maruim. Natal/RN Segundo Rolnik (2009), o Governo Federal já possui condições para lançar um pacote de desenvolvimento urbano estruturado sobre uma verdadeira política habitacional. Desde 2001, ano em que foi aprovado o Estatuto da Cidade, o Brasil possui uma estratégia inovadora de regulação territorial ampliação do acesso à terra urbanizada, em especial para a promoção de moradias populares (ROLNIK, 2009, s/n). Rolnik (2009) destaca ainda os importantes instrumentos previstos no Estatuto da cidade, com o intuito de diminuir o preço da terra urbana e possibilitar o acesso a ela pelas camadas mais baixas da sociedade, como por exemplo, as Áreas de Interesse social. “A partir de 2003, com o governo Lula, é possível observar o início de um movimento mais sistemático para a construção de uma política habitacional mais estável. A Secretaria Nacional de Habitação, criada no âmbito do Ministério das Cidades (Mcid), procurou dar sequencia ao “Projeto Moradia”, concebido antes da campanha eleitoral, fruto de um projeto político resultante da experiência acumulada em política habitacional desenvolvida pelas administrações municipais [...], somado a uma série de debates realizados junto a sociedade civil” (Cardoso. 2011, p.2) “Como elemento central do sistema, o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), criado a partir de um projeto de lei de iniciativa popular, [...] permitiria o repasse de recursos a fundo perdido para estados, municípios, sendo estes os principais executores das políticas”. (Cardoso, 2011, p.2) “No segundo semestre de 2008, novas mudanças ocorreram em resposta à crise mundial sobre a economia brasileira: O governo buscou mitigar os seus efeitos internos através da adoção de políticas Keynesianas que incluíram a manutenção do crédito, o atendimento aos setores mais atingidos pela repressão e a sustentação dos investimentos públicos, particularmente na área de infraestrutura, que já vinha sendo objeto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No âmbito dessas medidas teve destaque o “pacote” de investimentos lançado para a área de habitação” (Cardoso, 2011, p.4) FNHIS (2003) Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social ; PAC (2007) Plano de Aceleração do Crescimento; MCMV (2009) Minha Casa, Minha Vida. Ignorou completamente o Planhab, discutido desde 2007. “Uma boa política de geração de emprego e renda na construção civil, não significa necessariamente uma boa política habitacional” (Rolnik e Nakano, 2009) Exemplo do Episódio dos Simpsons, em 2009. “No Loan again naturally” http://www.watchcartoononline. com/the-simpsons-season-20- episode-12-no-loan-again- naturally “Analisando os montantes alocados observa-se que o núcleo central do Programa é aquele voltado para as empresas que acessam diretamente os recursos do FAR (Fundo de Arrendamento Residencial), através de projetos a serem avaliados e aprovados pela CEF” (Cardoso, 2011, p.5) “ O papel dos estados e municípios passou a ser o de organizar a demanda, através de cadastros encaminhados à CEF para seleção dos beneficiários e, ainda o de criar condições para facilitar a produção, através da desoneração tributária e flexibilização da legislação urbanísticas e edílicia dos municípios” (Cardoso, 2001,p.6) Qual o papel que deveriam os estados e municípios assumirem no planejamento habitacional? Apenas gestores de demanda? Consequências do modelo: 1. Aumento do preço da terra urbana; 2. Incentivo a ocupação de áreas periféricas nas cidades; 3. Transferência de custos para o trabalhador (deslocamento trabalho- casa e acesso a infraestrutura). 4. Custos na ampliação das redes de abastecimento (água, luz) 5. Reprodução de modelos homogeneizados e desconformes com a população. REPENSAR O MODELO!!! FIM
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