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RESUMO: TENTATIVA + DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA + ARREPENDIMENTO POSTERIOR

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RESUMÃO -14
Tentativa 
Ao executar seu plano criminoso, o agente passa por algumas fases1 (iter criminis ou caminho do crime), as quais, em que pese não obrigatórias, são possíveis. Vejamos: 
1ª. Cogitação: reflexão acerca do cometimento do crime; 
2ª. Atos preparatórios: antecessores da execução, não significam, ainda, a efetiva prática criminosa2; 
3ª. Execução; 
4ª. Consumação; 
5ª. Exaurimento: esgotamento de todas as potencialidades lesivas da conduta. Tal ideia é deveras relevante nos crimes formais, os quais se consumam com a mera realização da conduta.
Observação: porque nos crimes formais a consumação é antecipada, parte da doutrina (Juarez Cirino, Nilo Batista, etc.) sustenta que esse ingresso de coautor/partícipe pode ocorrer até o exaurimento.
A parte especial do Código Penal descreve, tão somente, hipóteses de crimes consumados. Inexistem descrições de tentativas (salvo nos crimes de atentado). Daí, chega-se à conclusão de que alguma é típica a partir de uma conjugação de dispositivos, quais sejam, o dispositivo legal consignante do crime consumado (ex.: artigo 121 do CP) com o artigo 14, inciso II, do CP (norma de extensão, pois estende os limites temporais do tipo para um momento anterior, qual seja, atos de execução antes da consumação). In casu, a adequação típica será mediata, e não imediata.
1.1 Diferença entre atos preparatórios e atos de execução 
Sobre o tema, existem três teorias. 
1ª. Formal-objetiva: bastante utilizada no Brasil, quem mais se vale dela é a defesa, uma vez que é consideravelmente restritiva. Narra que, para que haja ato de execução, é necessário que o agente inicie a realização do núcleo do tipo. Exemplo: no homicídio, o agente precisa começar a matar (enfiar a faca na vítima, efetuar disparos de arma de fogo, etc.); no furto, necessário colocar as mãos sobre a coisa. 
2ª. Material-objetiva: essa teoria, com forte aceitação na jurisprudência, explicita que ato de execução é aquele que produz perigo para o bem jurídico. Embora tal ideia possa ser interessante. 
3ª. Subjetivo-objetiva: seguida por Zaffaroni e outros autores, é a teoria a que se filia a professora Ana Paula. Será ato de execução e, portanto, tentativa, aquele que, segundo os planos do agente, seja imediatamente anterior ao ato de matar. 
	EXEMPLO 
	TEORIA 
	EM QUE MOMENTO HÁ ATO DE EXECUÇÃO E, PORTANTO, TIPICIDADE.
	Ana Paula deseja matar Huppert, um de seus alunos. Compra uma arma e dirige-se até o Curso Ênfase. Esconde-se atrás de uma pilastra e aguarda Huppert chegar. Assim que isso ocorre, aponta-lhe a arma e efetua um disparo. 
	Formal-objetiva 
	No momento em que Ana Paula puxa o gatilho 
	
	Subjetivo-objetiva (amplia-se a noção de ato de execução por essa teoria) 
	No momento em que Ana Paula aponta a arma de fogo para a vítima 
 PONTOS DO SLIDE LIDOS PELA PROFESSORA 
 DIFERENÇA: ATOS PREPARATÓRIOS E DE EXECUÇÃO 
 1) teoria formal-objetiva: é necessário início da execução típica. 
 2) material-objetiva: ato de execução é aquele que produz perigo para o bem jurídico. 
 3) subjetivo/individual-objetiva: ato de execução é aquele que, mesmo que não seja típico, antecede diretamente e conduz, segundo o plano do autor, ao exercício da ação típica (para essa teoria, se o agente já está dentro de uma residência com a intenção de furtar, isso já caracterizaria a tentativa, não sendo necessário colocar as mãos sobre a coisa); 
1.2 Casos especiais 
1.2.1 Contravenções penais
LCP, Art. 4º Não é punívela tentativa de contravenção [aqui, por expressa disposição legal, não se aplica o artigo 14, inciso II, do CP].
1.2.2 Delitos qualificados 
Normalmente, há uma conduta base e um resultado qualificador. É possível encontrar-se crime qualificado com três combinações: 
(i) Dolo + dolo 
Exemplo: lesão corporal qualificada, na qual se deseja a lesão e o resultado qualificador (fique a vítima cega, com debilidade permanente ou perca um membro). Aqui, tranquila é a possibilidade de cabimento da tentativa. 
(ii) Dolo + culpa (preterdolo) 
Exemplo: lesão corporal seguida de morte. Quer-se a lesão, porém, não se deseja a morte, a qual decorre culposamente da conduta do autor. Muitos autores (ex.: Luiz Regis Prado) sustentam não haver tentativa nos crimes preterdolosos, porquanto contêm em sua essência uma parte culposa e, como os crimes culposos não admitem tentativa, esta também não seria cabível aos preterdolosos.
(iii) Culpa + culpa 
Exemplo: incêndio culposo com resultado morte (artigo 258 do CP). Logicamente, porque todo o crime é culposo, incabível a tentativa.
Tentativa no preterdolo 
Exemplo1: aborto (dolo) + lesão grave da gestante (culpa)  artigo 127 do CP. 
Algumas estruturas preterdolosos admitem que o resultado qualificador culposo complete-se sem a consumação da conduta-base dolosa. É a hipótese descrita no exemplo1.
Faticamente é possível que o médico inicie o aborto na gestante e, quando ela começa a sangrar excessivamente, porque sofreu uma grave lesão, ele interrompa as manobras abortivas e o feto não morra. Assim, o resultado qualificador culposo completou-se (lesão grave); a conduta-base dolosa, não.
Quando se visualizar tal cenário, será possível a tentativa do preterdolo. Dessa feita, a figura do artigo 127 do CP admite tentativa. De igual modo, cabe tentativa no estupro com resultado morte culposo (plausível que o agente coloque o um travesseiro sobre o rosto da vítima, para impedi-la de gritar e, antes de consumar o estupro, ela morra sufocada).
Exemplo2: lesão (dolo) + morte (culpa)  artigo 129, §3º, do CP. Ou há as duas figuras consumadas; ou não há esse crime, pois não é possível a consumação da morte culposa, sem a consumação da lesão dolosa. 
Em síntese, crimes preterdolosos admitem tentativa somente quando for possível a consumação do resultado qualificador culposo, sem a consumação da conduta-base dolosa.
Tentativa nas hipóteses de dolo + dolo 
Exemplo1: rompimento de obstáculo + furto  conduta qualificante antecede a conduta-base. 
Nota: aqui, a tentativa inicia-se quando o agente inicia a conduta qualificante, sendo desnecessário o início da realização da conduta-base. 
Exemplo2: lesão corporal + perda de membro  conduta-base antecede o resultado qualificador. 
Nota1: aqui, haverá tentativa quando o sujeito realiza a conduta base e, em seguida, inicia a obtenção do resultado qualificador4. No exemplo citado, o agente desfere um golpe de machado contra a perna da vítima, que fica ligada ao tronco por apenas alguns nervos. Porém, a vítima é socorrida e, no hospital, ocorre a reimplantação do membro.
 PONTOS DO SLIDE LIDOS PELA PROFESSORA 
 Delitos qualificados 
 Conduta qualificante: 
 a) sucede a conduta-base: somente com o início da conduta qualificante, ou se demonstrado, quanto a este (resultado qualificador), o dolo do autor; 
 b) precede a conduta-base: a tentativa, do crime qualificado, se inicia com o começo da execução da conduta qualificante. 
Crimes de mera conduta
Se fracionável (plurissubsistente) a conduta, cabível será a tentativa. Todavia, se a conduta for composta de um único ato (unissubsisente) e, portanto, não fracionável, inadmissível a tentativa. Isso vale tanto para os crimes formais (exemplo: injúria verbal) quanto para os de mera conduta.
Crimes habituais 
A habitualidade não é repetição de condutas. Antes, é elemento subjetivo especial, a saber, a intenção de repetir. Adotando-se esse entendimento, admite-se a ocorrência de tentativa (posição de Zaffaroni). 
Caso se encampasse a posição tradicional, a qual exigia, necessariamente, três condutas para haver crime habitual, não se admitiria a tentativa. Assim o era porquanto ou existiam três condutas e o crime estava consumado, ou não havia as três condutas e a conduta era atípica. 
Contudo, para a posição mais moderna, plausível a consumação de crime habitual com apenas uma conduta, contanto que haja a intenção de repetir. Daí, não consumada a primeira conduta com a intenção de repetir,patente a tentativa de crime habitual.
Exemplo: falso médico que monta consultório no interior. No dia da inauguração, para a qual houve larga propaganda, forma-se uma enorme fila na porta do consultório de pacientes aguardando atendimento. Caso a polícia chegue antes de completar-se o primeiro atendimento, haverá tentativa do crime habitual.
1.2.5 Unissubsistentes
Trata-se dos crimes cuja conduta realiza-se com um único ato. Somente não admite tentativa caso seja de mera conduta ou formal, porquanto a realização da conduta já caracteriza o delito. Distintamente, em sendo crime de resultado (material), admissível à tentativa.
1.2.6 Crimes de atentado 
São aqueles que, na parte especial, existe a equiparação da forma tentada à forma consumada. Assim, se, na parte especial, já está inserta a modalidade tentada, incabível, portanto, a tentativa da tentativa. 
Exemplo: artigo 352 do CP. Tanto o “fugir” quanto o “tentar fugir” têm a mesma pena. São figuras equiparadas. 
Evasão mediante violência contra a pessoa 
CP, Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência.
1.2.7 Crimes omissivos 
Podem ser próprios ou impróprios. Pacífico é o entendimento de que os crimes omissivos próprios não admitem tentativa, pois, ou, ainda, se pode agir e, logo, não há omissão, ou não se pode mais agir, e a omissão está consumada. 
A seu turno, os crimes omissivos impróprios (cometidos por agente garantidor), em regra, são materiais. Em sendo dolosos, admitem a tentativa.
 PONTOS DO SLIDE LIDOS PELA PROFESSORA 
 Crimes omissivos 
 a) próprios - não admitem; 
 b) impróprios: indaga-se quando o autor se põe em atividade direta para a realização do tipo legal; 
 Perigo próximo: desde que o garantidor deixe perecer a primeira chance de salvamento; 
 Perigo distante: quando o agente tira de suas mãos a possibilidade de atuação salvadora. 
1.2.8 Autoria mediata 
Existem dois momentos na autoria mediata: [1] o autor mediato atua sobre o instrumento; [2] o instrumento comete o crime. Dá-se a tentativa, de acordo com a posição predominante, quando o autor age sobre o instrumento. 
Exemplo: Ana Paula quer utilizar-se de uma criança para envenenar Huppert. Para tanto, chama-a e entrega-lhe um frasco nas mãos, ordenando que ela despeje o conteúdo venenoso na comida de Huppert.
2. Desistência voluntária e Arrependimento eficaz 
2.1 Natureza jurídica
CP, Art. 15 -O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.
Duas correntes surgem para delimitar a natureza jurídica desse apagamento feito pelo legislador no artigo 15 do CP. Sustenta a primeira corrente, a que se filiam Damásio, Frederico Marques, que a tentativa (de homicídio, no exemplo) torna-se em fato atípico. 
Exemplo: David tenta matar Thiago, desiste e Thiago não morre. 
Dizem os aludidos autores que, na tentativa, não se pode fazer uma adequação típica imediata, ante a necessidade do arrimo na norma de extensão. Todavia, essa norma de extensão exige a não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente e, no caso em tela, a não consumação dá-se por expressa vontade do agente, o qual desiste de seu intento. Logo, essa tentativa será atípica, pois não há como fazer qualquer adequação típica. Seja direta/imediata. Seja indireta/mediata.
SEGUNDA CORRENTE (EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE): Exemplo: Frederico avista Neymar. Dispara contra ele uma, duas, três vezes. Não o acerta em nenhum momento. Dispondo, ainda, de três munições em seu revólver, desiste de matar Neymar. 
Os três primeiros atos de Frederico são típicos de tentativa. Só depois de havê-los efetuado ele desiste. E essa desistência não pode retroagir para apagar a tipicidade dos atos já realizados, pois não existe atipicidade retroativa. A bem da verdade, a desistência, in casu, atuará como causa extintiva de punibilidade. 
Predominante, a segunda corrente pontifica que a tentativa do crime-fim tem a punibilidade extinta (Wessels, Pierangelli, Hungria).
Assim, a natureza jurídica do artigo 15 do CP seria a de causa de extinção da punibilidade. Tal entendimento, porém, como visto acima, não é pacífico.
2.1.1 Consequências advindas da distinção 
A punição do partícipe é sempre dependente dalgumas características da conduta do autor. Precisa esta última ser típica e ilícita. Não interferirão na punição ao partícipe eventuais punibilidade ou culpabilidade do autor. A punição do partícipe, portanto, é acessória à conduta do autor. Eis o motivo pelo qual se fala em teoria da acessoriedade limitada. 
Caso a conduta do autor seja atípica, ou típica, mas lícita, obsta-se a que se puna o partícipe. Noutros termos, todas as causas supressivas da tipicidade/ilicitude do autor, automaticamente, comunicam-se ao partícipe. 
Encampada a posição ventilada por Damásio, segundo a qual desistência/arrependimento geram atipicidade, a desistência e o arrependimento do autor sempre se comunicarão ao partícipe, mesmo que não tenha ele desistido ou se arrependido.
De outro giro, adotada a posição prevalente na doutrina, não haverá a comunicação, haja vista que desistência/arrependimento não incidem sobre tipicidade ou ilicitude. Sua afetação cinge-se à punibilidade do autor, a qual não é comunicável ao partícipe. Daí, se o autor desiste ou se arrepende, somente a ele próprio isso beneficia. Para ver-se contemplado por essa benesse, o próprio partícipe é que necessita desistir ou arrepender-se.
2.3 Critérios de aferição da voluntariedade da desistência
Existem algumas fórmulas a tentar conferir uma solução à problemática. Mais conhecida delas, a fórmula de Frank apresenta os seguintes aforismas: (i) se o agente não pode prosseguir na execução, ainda que quisesse, haverá tentativa; (ii) se o agente não quer prosseguir na execução, embora pudesse fazê-lo, ocorrerá desistência voluntária.
Wessels fornece solução semelhante. Afirma que a desistência será voluntária quando o autor permanecer senhor de sua resolução. 
Malgrado interessantes, tais ideias são genéricas e não resolvem todos os problemas. 
Anos atrás, cobrou-se numa prova do MPMG questão na qual se dizia ter o agente ingressado num imóvel e, já no interior, ter sido acometido de severa dor de barriga, motivo que o impediu de continuar a subtração dos bens que guarneciam a residência. Perguntou-se se se trataria de desistência voluntária. Caso o aluno se valesse dos critérios de Frank ou de Wessels, responderia positivamente quanto à indagação. Contudo, como dito pela professora, a situação apresentada não é hipótese de desistência voluntária. 
Zaffaroni, cujo critério é reputado como o melhor pela professora. Propala o grande doutrinador haver duas hipóteses nas quais a desistência não é voluntária. A primeira delas ocorre quando o agente interrompe a execução por estar temeroso de sofrer uma repressão do sistema penal. Nada obstante esclareça-se que tal suposição pode ser errada. Damásio exemplifica com o agente que está no interior da residência a furtar, quando, do lado de fora, um galho de árvore cai e atinge a janela. O agente, supondo que se trata de pessoa a aproximar-se, foge. Essa suposição tem o caráter de afastar a voluntariedade da desistência. Outra hipótese de inexistência de voluntariedade é a interrupção da execução em decorrência de uma coação física ou moral. 
Voluntária é a desistência que não está fundada na representação (suposição) de uma ação especial do sistema penal, ou não está coagida por um terceiro. 
Observação: a desistência voluntária não precisa de motivação nobre. Ou seja, não necessita ser espontânea. Exemplo: Huppert já iniciou os atos de execução do estupro contra Jupira. Antes de consumar o ato, vê Aretuza, mais bonita. Então, desiste de estuprar Jupira e dirige-se à Aretuza. Aqui, embora por motivo claramente ignóbil,o agente desistiu voluntariamente.
2.4 Tentativa falha
2.5 Tentativa qualificada
A solução de responder apenas pelos resultados alcançados no curso da empreitada criminosa possui um nome, a saber, tentativa qualificada (nome dado ao efeito da desistência voluntária e do arrependimento eficaz). 
O delito que se pretende cometer abrange, simultaneamente, a consumação de outro delito / princípio da subsidiariedade. Quando a tentativa do crime-fim é apagada, surge a possibilidade de punição do delito que ele abrangeria.
2.6 Desistência do partícipe 
Adotando-se a posição de Damásio, desistência/arrependimento do autor sempre se comunicará ao partícipe. Porém, encampando-se o pensamento confeccionado pela maioria da doutrina, a desistência/arrependimento do autor não é comunicável ao partícipe. 
Como regra geral, para desistir, o partícipe precisa impedir a consumação. Exemplo: acionar policiais militares que, ao deslocarem-se até o local do fato, consigam impedir a consumação. 
Exemplo: Bill (autor) efetua disparos e atinge e lesiona Bob (vítima), porém desiste de prosseguir na execução. Responderá pelo crime de lesões corporais. Felipe (partícipe) não desiste e nem se arrepende. Assim, responderá por participação em tentativa de homicídio. Haverá solução diferenciada, porque o benefício do autor não se estenderá ao partícipe. 
Observação: no tocante ao partícipe, não se faz distinção entre desistência e arrependimento. Fala-se de maneira genérica em desistência. Isso ocorre porque o critério diferenciador entre os institutos é o esgotamento dos atos de execução, os quais não são realizados pelo partícipe. Logo, para ele, inexiste diferenciação entre desistência e arrependimento.
3.Crime impossível
Dessa feita, a não punição do crime impossível junge-se umbilicalmente ao princípio da lesividade, porque a conduta realizada no crime impossível não gera perigo ao bem jurídico. 
Estudar-se-ão três espécies de crime impossível: (i) inidoneidade do meio (art. 17 do CP); (ii) inidoneidade do objeto (art. 17 do CP); (iii) flagrante preparado (verbete nº 145 da súmula do STF).
3.1.1 Inidoneidade do objeto 
Aqui, não existe um elemento do tipo objetivo. Clara, portanto, a ideia de atipicidade. 
Exemplo1: atirar, para matar, em um cadáver. O elemento do tipo objetivo “alguém” (pessoa viva) não existe.
3.1.2 Inidoneidade do meio 
A conduta escolhida para a realização do crime é absolutamente incapaz de consumá-lo. Por “meio” compreende-se a conduta do agente; não, o objeto/instrumento por ele empregado. 
Exemplo: matar alguém por meio de um boneco de vodu. Essa conduta é totalmente incapaz de consumar o crime.
 PONTOS DO SLIDE LIDOS PELA PROFESSORA 
 CRIME IMPOSSÍVEL 
 Por inidoneidade do meio ou do objeto 
 Inidoneidade: 
 1. Do meio (a conduta em si realizada): considera-se o conhecimento de um observador prudente, mas tomando-se em conta ainda os conhecimentos especiais do autor (o resultado deve surgir ex ante como consequência não absolutamente improvável da conduta – Régis Prado). 
 2. Do objeto: ausência de tipo 
 Inidoneidade relativa: mera condição acidental neutraliza a eficiência do meio usado – tentativa. O observador prudente acompanha, vê o risco, mas, depois, algo neutralizará a eficiência do meio (ex.: tentar esfaquear alguém com uma couraça embaixo da roupa);
Observação: dispositivos de segurança, tais como aparelhos de raios-x, câmeras de segurança, alarmes antifurto nos carros não geram crime impossível. É mera inidoneidade relativa, pois todos são falíveis e contornáveis.
3.1.3 Flagrante preparado/Deleito de ensaio
Também chamado de crime impossível por obra do agente provocador, é fruto da criação da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 
Enunciado nº 145 – Súmula do STF 
NÃO HÁ CRIME, QUANDO A PREPARAÇÃO DO FLAGRANTE PELA POLÍCIA TORNA IMPOSSÍVEL A SUA CONSUMAÇÃO.
Só existe flagrante preparado quando o agente provocador fomenta, incentiva ou facilita a realização do crime dalguma forma e, simultaneamente, montar um aparato para impedir a consumação. Avive-se não bastar a montagem do aparato. É preciso haver esse fomento pretérito. Exemplo: deixar os vidros do automóvel abertos com quantias em dinheiro à mostra.
Nessa senda, instalar câmeras de segurança no interior da residência por haver suspeitas da prática de furtos pela empregada doméstica não é flagrante preparada. Isso porque não houve qualquer incentivo/fomento à conduta do agente. 
Também não é flagrante preparado a prisão efetuada por policiais após receberem notícia anônima sobre data, hora e local do cometimento do ilícito. Em ambas as hipóteses, o flagrante é esperado. Se o agente provocador (o qual pode ser policial ou particular) provoca uma situação de flagrante preparado e o delito se consuma, responderá ele a título de culpa. 
Exemplo: policiais arquitetam uma armadilha para prenderem os estupradores de uma mulher. Para isso, utilizam a filha dela como isca. Todos comparecem até o local. Contudo, por um descuido dos agentes, a mulher que servia como isca termina por ser estuprada e morta. Aqui, os policiais responderiam por homicídio culposo, porquanto não existe estupro na modalidade culposa.
A responsabilidade dá-se a título de culpa em virtude do duplo dolo do partícipe. Isso significa que, para que o partícipe aja com dolo, faz-se necessário um duplo dolo, qual seja: (i) desejar contribuir para a conduta do autor; (ii) desejar a consumação do crime. Daí, como o agente provocador deseja, apenas contribuir com a conduta do autor, com a finalidade de prendê-lo em flagrante, não pode ele ser partícipe doloso. Responderá, portanto, apenas a título de culpa.
4. Arrependimento posterior
No arrependimento posterior, o crime já se consumou. O intento do agente é reparar o dano. 
Arrependimento posterior 
CP, Art. 16 -Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa [limite temporal], por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
A violência impeditiva dos efeitos do arrependimento posterior é a real. A violência ficta não obsta o reconhecimento do instituto. Exemplo: roubo impróprio (“boa noite cinderela”) admite arrependimento posterior. De igual modo, admissível o arrependimento posterior nos crimes praticados com violência contra a coisa. 
A restituição da coisa deve ser realizada voluntariamente pelo agente, de sorte que, apreendida ela pela autoridade policial, não há se falar em arrependimento.
Controvertida mostra-se a necessidade de reparação integral do dano material. Posição amplamente predominante sinaliza positivamente. Corrente minoritária (Alberto Silva Franco), por sua vez, aventa que a reparação do dano não precisaria ser integral. Quanto maior a reparação, maior a diminuição da pena; quanto menor a reparação, menor a diminuição da pena. 
A reparação do dano tem como marco inicial a consumação do crime e, no status de marco final, o recebimento da denúncia ou queixa. Se essa reparação ocorrer após o recebimento da denúncia/queixa, pode-se utilizar a circunstância atenuante do artigo 65, inciso III, ‘b’, do CP (menos exigente do que o artigo 16 do Codex). 
Viu-se que a reparação do dano/devolução da coisa demanda voluntariedade. Com efeito, admite a jurisprudência posiciona-se no sentido de que, em relação ao concurso de agentes, no caso de um deles reparar o dano, o arrependimento posterior beneficia os demais por tratar-se de circunstância objetiva (logo, comunicável). O fundamento é o artigo 30 do Código Penal.
Existem previsões especiais mais benéficas que o artigo 16 do CP, às quais é preciso estar atento. 
Exemplo1: no peculato culposo, a reparação do dano extingue a punibilidade e pode ser realizada até o fim da ação penal. 
Exemplo2: nos crimes contra a ordem tributária, a reparação do dano até o recebimento da denúncia extingue a punibilidade. 
Exemplo3: no crime de emissão dolosa de cheque semfundo, o pagamento do cheque extingue a punibilidade (verbete nº 554 da Súmula do STF). 
Para Alberto Silva Franco, que sustenta a desnecessidade de a reparação ser integral, o critério é a quantidade de reparação. Quanto mais se repara, maior a diminuição da pena. Sua posição, no entanto, é minoritária. 
Narra a posição dominante que a reparação do dano precisa ser integral. Daí, o critério de fixação do quantum de diminuição é a presteza/rapidez do ressarcimento. Quanto mais rápido o ressarcimento, maior a diminuição. 
Observação: a jurisprudência admite que a violência que impede o arrependimento posterior é apenas a dolosa. Dessa feita, crimes violentos culposos admitem arrependimento posterior (exemplo: homicídio culposo praticado na condução de veículo automotor).

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