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A Trajetória das Relações Trabalhistas no Brasil


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A Trajetória das Relações Trabalhistas no Brasil – 
Nos primeiros anos do século passado, as relações trabalhistas no Brasil ainda reproduziam o sistema da economia agrícola, de característica paternalista e quase escravocrata. As condições de trabalho eram péssimas e a remuneração, baixa. Os movimentos grevistas buscavam, essencialmente, melhores condições de trabalho. Na greve de 1917, ocorrida na cidade de São Paulo e considerada um marco do movimento operário, as principais reivindicações eram a jornada de trabalho de 8 horas e a proibição do trabalho noturno para mulheres e menores.
A aceleração da industrialização desencadeada após a Depressão de 1929 e a crise do café, notadamente no eixo Rio – São Paulo trouxeram mudanças nas relações de trabalho.
Data desse período o surgimento do Departamento de Pessoal, ainda que exercendo um papel meramente burocrático. Os princípios protecionistas e legalistas da relação também se estabelecem durante o primeiro governo Getúlio Vargas, com a criação da carteira do trabalho, do imposto sindical, do salário mínimo, da Justiça do Trabalho e outros direitos posteriormente reunidos na Consolidação das Leis do Trabalho, de 1943.
“Nossa legislação trabalhista foi criada numa época em que o Brasil era essencialmente agrícola e a maioria de sua população, analfabeta. Quase copiada da Carta del Lavoro italiana [editada em 1927 pelo governo de Benito Mussolini], era, e ainda é, própria de um regime facista”, escreveu Drausio Villas Boas Rangel no capítulo “Aspectos Jurídicos na gestão de Recursos Humanos”, do Manual de Gestão de Pessoas e Equipes – Volume 2 (Aparh/Editora Gente – 2002).
A instalação de indústrias multinacionais e o crescimento das estatais no país, no final dos anos 1950, não mudaram o cenário das relações de trabalho, que se torna mais engessado ainda com a instalação do Regime Militar em 1964.
O novo governo cria uma lei reguladora do direito de greve, com tantas exigências e fases que quase impediam a sua deflagração. Os sindicatos passam a ser supervisionados de perto e as negociações coletivas eram desencorajadas.
“De 1960 a 1978, na Ford de São Paulo, fábrica onde iniciei a minha carreira, nunca existiu qualquer atividade sindical, nada, ‘zero’ ”, relata Edmir de Freitas Garcez no seu livro Negociando com Negociadores, de 2007.
Esse cenário iria mudar drasticamente com a insatisfação dos trabalhadores e a onda de greves liderada pelos metalúrgicos do ABC paulista entre 1978 e 1979.
O movimento contribuiu decisivamente para o declínio do Regime Militar e expôs o despreparo dos gestores de Recursos Humanos e Relações Trabalhistas brasileiros para lidar com um novo tipo de sindicato que surgia, menos subserviente ao governo federal e mais profissional e próximo aos trabalhadores. A experiência das paralisações despertou, principalmente na indústria automobilística, a necessidade de incentivar o seu pessoal de relações industriais a participar de programas de treinamento, a fazer pesquisas sobre o assunto e a ampliar os canais de comunicação com entidades norte-americanas e européias.
“A partir da redemocratização do país, nos anos 1989, as relações trabalhistas passaram a se caracterizar pelo enorme descompasso entre as instituições trabalhistas e legislativas, ainda arcaicas, e a modernização econômica, política e social do Brasil”, analisa o professor da FEA/USP, Hélio Zylberstajn, presidente do Instituto Brasileiro de Relações de Emprego e Trabalho (Ibret).
Outra marca do período foram as diversas tentativas de reforma sindical e trabalhista. Movimentos frustrados, segundo Zylberstajn, porque as tentativas de negociação foram estabelecidas com os principais beneficiários do imobilismo, atores que não têm quaisquer interesses em mudanças.
Apesar do arcaísmo que ainda impera nas relações de trabalho de forma geral, alguns setores caminharam para a modernização. “É o caso de setores, como o metalúrgico e siderúrgico, cujos sindicatos se tornaram poderosos, conseguindo, assim, se legitimar dentro das empresas para construir modelos de relações trabalhistas parecidos com os dos países mais desenvolvidos; e de empresas que, embora negociassem com sindicatos fracos, modernizaram a gestão de RH se antecipando às necessidades dos trabalhadores”, explica Zylberstajn.
Com a crise financeira internacional, o professor Zylberstajn enxerga dois movimentos antagônicos que podem influenciar as relações trabalhistas: de um lado, a reafirmação da necessidade de que o mundo precisa de regulações em escala global, o que inclui o trabalho; de outro, o surgimento de novas formas de organização da produção mais flexíveis e desregulamentadas. “O que vai sair disso, ainda é incógnita”.