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Funções das celulas T

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Resumo 
 
O sistema imunológico possui várias estratégias que asseguram sua homeostase e evitam o 
auto-reconhecimento em níveis exacerbados. Esses mecanismos ocorrem precocemente no 
timo, onde células T auto-reativas são eliminadas mediante encontro com auto-antígenos 
ainda nos estágios iniciais de maturação celular. Temos ainda os mecanismos de tolerância 
periférica em que recentemente tem sido destacada a importância da supressão mediada por 
células imunorregulatórias ativadas, como células T regulatórias (TREGS) naturais 
(CD4+CD25+), células TH3, TR1, entre outras. 
 
As TREGS (CD4+CD25+) têm sido estudadas amplamente nos últimos anos e são 
caracterizadas pela expressão constitutiva de altos níveis da molécula CD25, pela presença 
de CTLA-4 intracelular, pelo receptor de TNF induzido por glicocorticóide (GITR) e pela 
positividade para o transcrito primário Foxp3. In vitro as células imunorregulatórias 
demonstram características funcionais peculiares como anergia diante de estimulação via 
TCR, inibição da transcrição de IL-2 e da proliferação de células T CD4+ e CD8+. Uma vez 
que em modelos experimentais a remoção dessa população celular resulta na indução de 
doenças auto-imunes, foi sugerida uma correlação entre essas células e a patogênese de 
distúrbios auto-imunes em humanos. 
 
Os estudos realizados em humanos sugerem heterogeneidade quanto à participação das 
células regulatórias nas diferentes doenças auto-imunes. A partir do estudo dessas células, 
abrem-se novas perspectivas para o entendimento dos mecanismos de regulação periférica e 
fisiopatologia nas diferentes enfermidades auto-imunes, o que dará subsídio para a 
elaboração de abordagens futuras de intervenção terapêutica. 
 
Células regulatórias e a manutenção da tolerância 
 
O sistema imunitário é comprometido com a proteção do organismo contra uma elevada 
variedade de agentes infecciosos. Para o êxito das respostas imunes os linfócitos necessitam 
de um elevado repertório de reconhecimento antigênico, produto de recombinações 
aleatórias de segmentos gênicos que geram diversos receptores capazes de distinguir 
diferentes seqüências peptídicas. Entretanto, este processo tem potencial para gerar clones 
auto-reativos, capazes de reconhecer antígenos próprios em níveis exacerbados. Assim, para 
desempenhar essa função protetora os múltiplos clones de células T com ampla diversidade 
de reconhecimento antigênico passam por um rigoroso processo de seleção e maturação 
tímica que se dá mediante o reconhecimento de peptídeos próprios ligados a moléculas do 
complexo de histocompatibilidade principal (MHC). 
 
A capacidade de distinção entre antígenos próprios e não próprios é definida como tolerância 
imunológica e é fundamental para evitar o auto-reconhecimento de modo intenso gerando 
desordens auto-imunes. O primeiro mecanismo de autotolerância ocorre precocemente no 
timo e é denominado seleção negativa. Nesse mecanismo, timócitos auto-reativos que 
reconhecem antígenos próprios com elevada afinidade são eliminados por deleção clonal 
(Kappler et al., 1987). Mesmo sendo um mecanismo eficiente, é sabido que algumas células 
auto-reativas conseguem evadir esta barreira, saindo do timo e podendo ser ativadas na 
periferia gerando enfermidades auto-imunes. 
 
A fim de evitar o auto-reconhecimento em níveis exacerbados, o sistema imunitário possui 
várias estratégias que asseguram sua homeostase. Além da seleção negativa que ocorre nos 
estágios iniciais de maturação celular, ocorre também na periferia o mecanismo de tolerância 
periférica, em que células maduras reativas sofrem anergia ou são moduladas pelo 
mecanismo de supressão. Entre esses mecanismos há subpopulações celulares específicas 
com função regulatória, definidas em conjunto como células T regulatórias (TREGS). É 
possível que parte das enfermidades auto-imunes possam surgir a partir de uma falha na 
eliminação ou inativação de clones de alta afinidade de células auto-reativas 
imunocompetentes durante sua ontogenia, podendo ainda estar associado ou não à falha do 
sistema imune em controlar clones auto-reativos de afinidade intermediária, que escaparam 
para a periferia. Células com função regulatória parecem ser fundamentais também na 
modulação dos episódios de eliminação de patógenos e antígenos tumorais que promovem a 
destruição de tecidos próprios, exposição de auto-antígenos e produção de citocinas pró-
inflamatórias, condições que favorecem a indução e manutenção dos eventos auto-imunes. 
 
As células com função imunorregulatória apresentam como característica básica a 
capacidade de produção de citocinas imunossupressoras, como IL-4, IL-10 e TGF-â. Atuam 
em uma complexa rede de mecanismos regulatórios destinados a assegurar a modulação das 
respostas imunológicas diante dos diversos antígenos provenientes de agentes infecciosos, 
tumores, aloantígenos, auto-antígenos e alérgenos. Entre as células T com função 
imunorregulatória temos as células T regulatórias de ocorrência natural (TREGS 
CD4+CD25+), descritas por Sakaguchi et al. (1995), células TR1 que regulam mediante a 
produção de IL-10 e suprimem o desenvolvimento de algumas respostas de células T in 
vivo,, e as células TH3, capazes de suprimir o desenvolvimento de enfermidades auto-
imunes mediante a produção de TGF-a. Têm sido relatadas ainda outras células T com 
função reguladora como os linfócitos T CD8+CD28- (CD8+ TR), células NK/T e células T gd 
(Choileain & Redmond, 2006). 
 
Também foi sugerido o papel de células B imunorregulatórias CD1+, produtoras de IL-10. 
Mizoguchi et al. (2002) apresentaram um modelo em que estas células são capazes de 
regular a progressão da colite a partir da produção de IL-10 e o mesmo foi relatado por 
Mauri e cols. (2003) em um modelo de artrite experimental. As principais células com função 
regulatória com alguns de seus marcadores fenotípicos estão esquematizadas na Figura 1. 
 
 
Figura 1 - Células imunorregulatórias humanas com seus respectivos 
marcadores fenotípicos. No quadro superior estão demonstradas algumas 
diferenças entre a célula T regulatória de ocorrência natural (CD4+CD25+), 
comparada às células T regulatórias induzidas (TH3 e TR1). No quadro 
inferior estão esquematizados alguns exemplos de outras células com função 
imunorregulatória, entre elas linfócitos T CD8+, célula T gd, linfócito B 
CD1+ e células NK/T. 
 
Células T regulatórias (CD4+CD25+) de ocorrência natural - TREGS 
 
As células T regulatórias de ocorrência natural são células relacionadas com a 
manutenção da autotolerância e de grande importância para manutenção da 
homeostase do sistema imunitário (Baecher-Allan et al., 2001). São células 
comprometidas com a inibição da ativação e expansão de linfócitos auto-
reativos nos tecidos periféricos e apresentam capacidade inibitória com 
comprovado papel na regulação negativa da resposta imune também ante a 
antígenos exógenos e a auto-antígenos. 
 
Atualmente as células T regulatórias (CD4+CD25+) são alvo de intensas 
pesquisas que especulam sua função como reguladoras das respostas imunes 
fisiológicas e sua participação em diversas enfermidades. Tem sido avaliado o 
papel dessas células em doenças infecciosas, alérgicas, neoplásicas, auto-
imunes e no campo da imunologia dos transplantes. Em cada grupo 
nosológico essas células são avaliadas com o propósito de melhor 
entendermos os mecanismos imunopatogênicos das doenças e com a 
perspectiva de manipulação dessas células, com a finalidade de 
desenvolvimento de terapias imunorregulatórias. Assim, espera-se alcançar 
um nível de controle da resposta imune que permita algumas abordagens, 
como, por exemplo, estimular a função dessas células em doenças que cursam 
com a exacerbação da resposta imune, como no caso das doenças auto-
imunes, doenças alérgicas e rejeição aos transplantes ou, ainda, inibir sua ação 
nas neoplasias e doençasinfecciosas. 
 
Segundo Choileain & Redmond (2006), nos últimos anos foram acumuladas 
evidências a cerca do fenótipo e fisiologia das células com função regulatória, 
como, por exemplo, a de que a combinação de citocinas como IL-2 e TGF-a 
ou IL-10 pode induzir células T CD4+ ex vivo a se diferenciarem em células 
T regulatórias naturais ou células TR1. O domínio da habilidade de geração de 
células regulatórias ex vivo abre perspectivas para manipularmos as próprias 
células do indivíduo com propósito terapêutico. Células TR1 geradas ex vivo 
previnem a colite imunomediada em camundongos. Tem sido demonstrado 
também que o uso de aloantígenos associados à IL-2 e TGF-a é capaz de 
induzir o desenvolvimento de células T CD4+ e CD8+ com atividade 
supressora. Essas células T impediram o desenvolvimento de síndrome lúpus-
símile e dobraram a sobrevida de camundongos que já tinham desenvolvido 
auto-anticorpos anti-dsDNA. Chen e cols. (2003) induziram a supressão da 
doença do enxerto versus hospedeiro (GVHD) in vivo a partir da ativação de 
células T regulatórias ex vivo, trazendo perspectivas adicionais na prevenção 
da GVHD. 
 
Origem das células imunorregulatórias 
As primeiras descrições de células com função imunorregulatória ocorreram 
no início da década de 70, quando foi relatado que algumas células T eram 
capazes de suprimir o desenvolvimento de doenças auto-imunes. 
Posteriormente, o estudo dessas células se tornou limitado pela ausência de 
marcação fenotípica ou detecção dos mediadores da supressão, que 
permitissem a sua caracterização. Finalmente, Sakaguchi e cols. (1995) 
descreveram as células T regulatórias (TREGS) como linfócitos T CD4+ que 
expressam constitutivamente a cadeia a do receptor da IL-2 (CD25). Seu 
estudo demonstrou o papel das TREGS como mediadoras de mecanismos 
supressores de doenças auto-imunes em camundongos. 
 
O interesse no estudo das células T regulatórias se deve à função chave dessa 
população celular na manutenção dos mecanismos de autotolerância e 
regulação da resposta imune (Sakaguchi et al., 2004). Evidências 
experimentais que suportam seu papel imunorregulatório incluem a indução 
de distúrbios auto-imunes em roedores normais, a partir da eliminação das 
TREGS. Foi demonstrado ainda que a reconstituição dessa população inibe a 
auto-imunidade (Sakaguchi et al., 1995). 
 
Penhale e cols. (1973) relataram que a timectomia de ratos adultos, 
acompanhada de doses subletais de irradiação, resultava no desenvolvimento 
de tireoidite auto-imune. Assim, nas décadas de 70 e 80 os pesquisadores 
avaliaram a influência do timo no desencadeamento dessas enfermidades. 
Uma vez que manipulavam a função tímica, interferindo na indução e 
evolução das patologias auto-imunes, especulavam que o fator responsável 
pelas mudanças observadas poderia ser representado por algum tipo de célula 
supressora. Assim, esses experimentos iniciais sugeriram a participação das 
células com função regulatória nos distúrbios auto-imunes, despertando o 
interesse na avaliação do papel fisiopatológico dessas células. 
 
Após a definição em camundongos do fenótipo das células TREG, 
caracterizado por intensa expressão de CD4+CD25+, e de algumas de suas 
propriedades, o mesmo fenótipo com as mesmas características funcionais foi 
descrito em humanos (Baecher-Allen et al., 2001). 
 
As TREGS representam 5% a 10% do total de células CD4+ no sangue 
periférico (Baecher-Allan et al., 2001) e podem também ser isoladas 
diretamente do timo. A origem tímica das TREGS foi descrita em 
camundongos, em que animais timectomizados no terceiro dia de vida tinham 
eliminadas as TREGS e desenvolviam síndromes auto-imunes. Outros estudos 
demonstram que as TREGS em humanos também são originadas no timo e 
que possuem características fenotípicas e funcionais semelhantes às 
observadas nos adultos. Foi demonstrado ainda que as TREGS presentes no 
timo são células naive e que se tornam ativadas, adquirindo fenótipo de 
memória, quando saem para a periferia. 
 
Tem sido sugerido que os timócitos CD4+CD25+ são selecionados no timo a 
partir de interações com peptídeos próprios apresentados por moléculas de 
MHC-II e que a seleção positiva dessas células ocorre mediante interações de 
alta afinidade. Evidência experimental para isso foi fornecida por Jordan e 
cols. (2001) em um modelo experimental de camundongos transgênicos que 
expressam TCR com alta afinidade, específico para a hemaglutinina do vírus 
Influenza. Esses foram cruzados com transgênicos que expressam o antígeno 
hemaglutinina S1. Nos animais da primeira geração, duplamente transgênicos, 
que expressavam simultaneamente o TCR de alta afinidade e o antígeno, foi 
observado considerável aumento no fenótipo CD4+CD25+, tanto no timo 
quanto na periferia. Isso sugere que para a seleção das TREGS são necessárias 
interações de alta afinidade entre TCR e auto-antígenos expressos em 
moléculas de MHC. Quanto à participação dessas células na seleção negativa, 
o assunto ainda é controverso, mas acredita-se que as TREGS selecionadas 
positivamente via reconhecimento de alta afinidade de peptídeos próprios 
apresentados pelas células do estroma tímico produzem moléculas 
antiapoptóticas que as protegem da seleção negativa. 
Além de descritas no timo, as TREGS em humanos foram isoladas em outros 
sítios anatômicos como nos órgão linfóides secundários, como tonsilas e baço, 
além de sangue de cordão umbilical. 
 
 
 
 
Figura 2 - Características fenotípicas das células T regulatórias. 
 
Características fenotípicas 
Fenotipicamente, as TREGS são caracterizadas pela expressão constitutiva 
dos marcadores CD4 e CD25, embora qualquer outra célula T CD4+CD25- 
possa, uma vez ativada, expressar transitoriamente a molécula CD25 
(Sakaguchi et al., 1995; Sakaguchi et al., 2004; Möttönen et al., 2005). Em 
camundongos o fenótipo das células TREGS é facilmente identificado por 
formarem populações bem separadas na análise por citometria de fluxo. Isso 
não ocorre em humanos, nos quais as células T CD4+ apresentam diferentes 
intensidades de expressão do receptor CD25. É possível observarmos dentro 
da população CD4+CD25+, uma população maior, expressando baixos níveis 
de CD25, e uma população menor, com elevada intensidade de expressão 
desse receptor (Baecher-Allan et al., 2001). Esta última população, com 
intensa expressão de CD25, corresponde ao pool de TREGS, que varia de 5% 
a 10% das células CD4+ no sangue periférico humano (Baecher-Allan et al., 
2001). Embora sejam observadas dificuldades na caracterização das TREGS, 
como ausência de marcador altamente específico e possibilidade de indução 
transitória do CD25 em células ativadas (Sakaguchi et al., 2004; Möttönen et 
al., 2005), a avaliação desse receptor é atualmente fundamental para 
isolamento e caracterização das TREGS. O CD25 representa, ainda, na 
fisiologia dessa célula, um componente indispensável para sua geração e 
manutenção no organismo (Sakaguchi et al., 2004). 
 
Várias outras moléculas estão presentes nas TREGS, como HLA-DR, CD122, 
CD45Ro e o antígeno associado ao linfócito T citotóxico (CTLA-4), presente 
intracelularmente. Essas moléculas podem ser induzidas também em outros 
tipos de células T CD4+, porém em menor intensidade de expressão do que 
ocorre nas TREGS. As células que apresentam altos níveis de CD25 
(CD25HIGH ou CD25BRIGHT) expressam moléculas como CD45Ro, 
CD62L, CD122, HLA-DR, CD69 e CD71, entre outras. As células CD4+ com 
baixa expressão de CD25 (CD25LOW) são altamente heterogêneas em 
relação à expressão desses marcadores e os expressam transitoriamente 
(Baecher-Allan et al., 2001). Shimizu e cols. (2002) relataram que as TREGS 
também expressam o receptor para o fator de necrose tumoral á induzido por 
glicocorticóides (GITR). 
 
Imunofenotipicamente o método mais aceito atualmente para se obter o 
isolamento maispuro e homogêneo das TREGS é obtido a partir da marcação 
para células CD4+CD25HIGH. O uso de outros marcadores como GITR, 
CTLA-4, CD122, entre outros, embora também expressos em condições de 
ativação, pode auxiliar na caracterização. Alguns marcadores, além de serem 
induzidos nos momentos de ativação das células CD4+CD25-, não têm 
claramente definido seu padrão de expressão, como, por exemplo, o receptor 
CD122 (Sakaguchi et al, 1995). Outro ponto relevante na caracterização 
fenotípica dessas células é a influência da idade. Dados de Gregg e cols. 
(2005) demonstram que numericamente as TREGS aumentam com a 
progressão da idade. Foi demonstrado em seu estudo que grande proporção de 
indivíduos normais com idade superior a 60 anos apresentam aumento de 2 a 
4 vezes na proporção das TREGS em relação a indivíduos na faixa etária 
compreendida entre 20 e 30 anos. Nesse estudo, não foram evidenciadas 
diferenças funcionais entre as diferentes idades. 
 
Do ponto de vista molecular, Hori e cols. (2003) demonstraram que o fator de 
transcrição Foxp3 é predominantemente expresso nas TREGS tímicas e 
periféricas. Células T naive transfectadas com o mRNA do gene Foxp3 se 
tornaram anérgicas e supressoras in vitro. Foi observado ainda que as células 
adquiriram fenótipo semelhante ao das TREGS em relação à expressão 
fenotípica e produção de citocinas. Além de passarem a expressar moléculas 
relacionadas às TREGS, como CD25, CTLA-4, CD103 e GITR, células 
CD4+CD25- transfectadas com Foxp3, são capazes de suprimir a proliferação 
de outras células T e o desenvolvimento de doença auto-imune e doença 
inflamatória dos vasos in vivo (Hori et al., 2003; Fontenot et al., 2003). 
Fontenot e cols. (2003) relataram ainda que o número de células CD4+CD25+ 
se encontra aumentado em camundongos transgênicos para Foxp3 e que 
camundongos deficientes para esse gene apresentam hiperativação das células 
T. 
 
Desta forma, Foxp3 parece ser um gene de grande importância no 
desenvolvimento e função das TREGS, tanto em camundongos quanto em 
humanos. Têm sido descritos pacientes com mutação no gene FOXP3, que 
apresentam a síndrome denominada IPEX (desregulação imune, 
poliendocrinopatia, enteropatia, síndrome ligada ao X). Consiste em um 
distúrbio auto-imune que afeta múltiplos órgãos com desenvolvimento de 
alergia e doença inflamatória dos vasos (Hori et al., 2003). Aparentemente 
esses pacientes têm comprometimento no desenvolvimento das TREGS e 
conseqüente defeito na função supressiva, sendo induzido um estado de 
hiperativação das células T, que se tornam reativas contra auto-antígenos, 
bactérias comensais do intestino ou antígenos ambientais inócuos. O 
resultando é o desenvolvimento de poliendocrinopaita auto-imune, doença 
inflamatória dos vasos e alergia, respectivamente (Sakaguchi, 2004). 
 
Características in vitro e indução da supressão 
Para avaliação das características funcionais das TREGS, tem sido analisado 
seu comportamento em estudos in vitro. Uma de suas características 
marcantes é a não proliferação após estímulo via TCR com anticorpos 
monoclonais anti-CD3 e anti-CD28 ou por células apresentadoras de 
aloantígenos. O mesmo comportamento é observado quando são estimuladas 
repetidas vezes, comprovando suas características anérgicas. 
 
As propriedades inibitórias das TREGS foram evidenciadas a partir da 
realização de co-cultivos entre TREGS e células CD4+CD25- na presença de 
estímulo policlonal, sendo as TREGS diluídas normalmente em pequenas 
quantidades. Esses estudos demonstraram também que a ação supressora das 
TREGS sobre células T CD4+CD25- ou CD8+ é dependente de contato 
célula-célula (Baecher-Allen, 2001). 
 
O perfil de citocinas produzido por TREGS recém-isoladas, ativadas por anti-
CD3 ou por APC alogenéica in vitro, registra baixos níveis de IFN-g, TGF-b e 
IL-10 e ausência de IL-2 e IL-4, o que é inteiramente distinto do observado 
em culturas de células T CD4+CD25-, em que se detectam níveis médios de 
IL-2, IL-10 e IFN-g, e baixos de TGF-b. Até o momento não se tem 
comprovação da relevância das citocinas como indutores da supressão, pois o 
bloqueio das citocinas nas culturas (IL-4, IL-10, TGF-b) não inibe a supressão 
mediada pelas TREGS. Sabe-se que a supressão é independente de IL-10, mas 
existem controvérsias quanto à participação do TGF-b. 
 
Ao se transferir o sobrenadante de cultura de TREGS para culturas de células 
CD4+CD25- não se observa nenhum efeito na proliferação, sugerindo que a 
supressão não é dependente de fatores solúveis. As evidências demonstram 
que as TREGS, para exercer supressão sobre as células T, necessitam de 
ativação via TCR e de contato célula-célula. 
 
 
 
 
Figura 3 - Exemplo de indução da supressão por células T regulatórias, 
inibindo a ativação de clones de células T a partir de interação das moléculas 
CTLA-4 e TGF-a, competição pela IL-2 produzida pela célula T e, ainda, 
supressão de células apresentadoras de antígeno a partir da regulação da 
expressão de moléculas co-estimulatórias. 
 
A principal função das TREGS é regular negativamente as respostas imunes. 
Elas são capazes de inibir várias células, tanto relacionadas à imunidade inata 
quanto a adaptativa. Segundo Thornton et al. (2004), para exercerem sua 
função supressora, elas provavelmente necessitam de ativação via TCR e IL-2. 
Segundo relatos, uma vez que apresentam elevada expressão da cadeia a do 
receptor da IL-2, podem absorver a IL-2 autócrina impedindo a ativação da 
célula-alvo. Paust et al., (2004) relataram que as TREGS são capazes de 
regular negativamente a expressão de moléculas co-estimulatórias 
(CD80/CD86) em células dendríticas, reduzindo sua função de apresentação 
de antígeno. Sugeriram também que a interação CTLA-4 na TREG com CD80 
e em menor intensidade CD86 nas células T respondedoras pode ser o sinal 
inibitório gerado pelas TREGS. Além da interação mediada pela molécula 
CTLA-4, tem sido relatada a participação do TGF-â na indução dessa 
supressão. Levando-se em consideração as dificuldades na caracterização 
fenotípica das TREGS, os aspectos ainda não claros sobre seu mecanismo de 
ação e as variabilidades nos ensaios funcionais in vitro, fica evidente a 
necessidade de mais estudos para a melhor compreensão da natureza dessas 
células. Algumas sugestões de indução da supressão TREG-mediada podem 
ser observadas na Figura 3. 
 
Várias evidências sugerem a relação das TREGS com o desencadeamento de 
doenças em que efetivamente há quebra da autotolerância. Entretanto, essas 
evidências foram alcançadas a partir de estudo em animais, demonstrando que 
tanto a remoção quanto a interferência no desenvolvimento dessa população 
celular podem resultar em alterações que induzem enfermidades auto-imunes. 
Ao transpormos as alterações observadas em animais para humanos, 
percebemos que o inadequado funcionamento das TREGS poderá estar 
relacionado à indução, intensidade e forma de evolução de diferentes 
patologias que acometem os seres humanos. Além de sua relação com 
distúrbios auto-imunes em condições em que sua função está ausente ou 
deficiente, existe interesse no seu estudo em outras situações onde 
observamos exacerbação da resposta imunitária. Por exemplo, podemos citar 
os transplantes, a doença do enxerto versus hospedeiro (GVHD), os processos 
alérgicos, entre outras condições. Nessas situações, a abordagem terapêutica 
seria utilizar recursos que venham a estimular o número e a função dessas 
células a partir da administração de fármacos, citocinas, moléculas co-
estimulatórias ou outros elementos que potencialmente atinjam esta 
finalidade. 
 
Ao contrário das enfermidades auto-imunes, a resposta imunológica nas 
neoplasias, no caso a reação antitumoral, não é intensa suficiente para 
prevenir o crescimentodas células anômalas. Conseqüentemente, pode-se 
especular sobre alternativas terapêuticas que induzam a inibição das TREGS, 
resultando em aumento da imunidade antitumor. Isso foi observado em 
modelos de câncer murino. Wei e cols. (2004) demonstraram que a depleção 
das células CD25+ resultou em regressão de tumor mamário, mas com 
aumento da suscetibilidade ao desenvolvimento de tireoidite. As evidências 
indicam que os linfócitos T citotóxicos (CD8+) são normalmente ativados e 
expandidos, mas sofrem supressão mediada por TGF-b por parte das TREGS. 
Esta seria uma importante barreira para o desenvolvimento de imunoterapias 
eficazes nas doenças neoplásicas. Interessantemente, na leucemia linfocítica 
crônica de células B observou-se aumento significante na freqüência do 
fenótipo CD4+CD25HIGH em pacientes não tratados ou com a doença em 
progressão, mas não nos pacientes tratados. Também foi encontrado aumento 
das TREGS no sangue periférico de pacientes com câncer de pele, com câncer 
gástrico e com câncer esofágico. 
 
No campo das doenças infecciosas as TREGS exercem um controle de vital 
importância na regulação positiva e negativa das respostas diante dos 
patógenos. Distúrbios funcionais das TREGS podem, por um lado, limitar a 
magnitude da resposta contra os agentes infecciosos, impedindo sua completa 
eliminação e, por outro lado, podem permitir que as respostas se prolonguem e 
se exacerbem com excessiva lesão tecidual. Tem sido demonstrado que a 
função das TREGS nesse balanço é complexa. Sua função supressora pode ser 
desfavorável para a eliminação de alguns patógenos em doenças crônicas. Por 
outro lado, suas características regulatórias são fundamentais para evitar que o 
sistema imunitário elabore uma resposta contra bactérias comensais, por 
exemplo, as que colonizam a mucosa intestinal. Como evidência 
experimental, Montagnoli e cols. (2002) mostraram que a redução das TREGS 
em camundongos infectados por Candida albicans induz melhor controle da 
infecção. Em contrapartida, notou-se um aumento da atividade inflamatória 
intestinal, comprovando-se o papel homeostático dessas células no organismo. 
Tsunemi e cols. (2005) encontraram correlação entre a elevada freqüência de 
TREGS e as baixas contagens de linfócitos T CD4+ em pacientes portadores 
do HIV, reforçando a hipótese de que elas podem inibir a ativação de uma 
resposta imune mais eficaz contra determinados patógenos. Trabalhando com 
hepatite C persistente, Rushbrook e cols. (2005) demonstraram que as TREGS 
inibem a proliferação e a expressão de perforina por parte de linfócitos T 
citotóxicos (CD8+), o que prejudica a resposta imune celular contra o vírus e 
deve contribuir para sua perpetuação no hospedeiro. Tem sido sugerida ainda 
a influência da participação das TREGS em doenças causadas por 
Helicobacter hepaticus, Helicobacter pylori e Cytomegalovirus entre outros. 
 
O estudo das células T regulatórias em doenças auto-imunes 
 
As TREGS parecem ter importância na manutenção da tolerância e prevenção 
da auto-imunidade, principalmente pelo fato de que células auto-reativas 
podem ser detectadas na periferia, demonstrando que o mecanismo de seleção 
tímica, responsável pela eliminação dos clones de células T auto-reativas, é 
incompleto. Alguns estudos comprovam diretamente a relação das TREGS 
com o desencadeamento de doenças auto-imunes em animais, em que 
efetivamente há quebra da autotolerância. Além de suas propriedades 
fundamentais como a anergia diante da estimulação via TCR, inibindo a 
transcrição de IL-2 e a proliferação de células T CD4+ e células T CD8+ 
(fenótipos naive e de memória), parecem regular também células 
apresentadoras de antígenos, como linfócitos B e células dendríticas. 
 
Lindley e cols. (2005) realizaram um estudo avaliando a função supressora 
das TREGS em 21 pacientes com diabetes tipo I. Embora numericamente 
normais, encontraram-se alterações funcionais nessas células, pois as mesmas 
falharam em suprimir a proliferação de células CD4+CD25- co-cultivadas. As 
co-culturas apresentaram aumento de IFN-g e reduzidos níveis de IL-10 em 
relação aos controles normais, indicando falha das TREGS em produzir 
citocinas antiinflamatórias, bem como na supressão da produção de citocinas 
pró-inflamatórias. Esses estudos não são isentos de controvérsias, havendo 
relatos contraditórios de aumento e diminuição dos níveis de células 
CD4+CD25+ no diabetes mellitus. Provavelmente as discordâncias são 
decorrentes de variabilidades técnicas como seleção das janelas (gates) na 
análise por citometria de fluxo, nas variáveis relacionadas aos pacientes, como 
tempo de doença, número amostral, faixa etária, controles normais, entre 
outros. Entretanto, os autores estão em acordo quanto ao fato de que defeitos 
imunorregulatórios da célula T estão diretamente ligados à patogênese do 
diabetes tipo I. 
 
Putheti e cols. (2003), em estudo com 33 pacientes com esclerose múltipla, 
encontraram correlação entre elevadas proporções de TREGS com intenso 
processo inflamatório, caracterizado por imagens de ressonância magnética. 
Também foram documentados defeitos funcionais das TREGS na esclerose 
múltipla e na síndrome poliglandular auto-imune tipo II (APSII). Os 
resultados relativos a outras doenças auto-imunes são variáveis. As TREGS 
derivadas de pacientes com tireoidite e psoríase parecem apresentar 
capacidade supressiva reduzida (7% e 19%, respectivamente), enquanto 
aquelas derivadas de pacientes com doenças inflamatórias dos vasos e 
espondilite anquilosante apresentam forte capacidade supressiva (97% e 68%, 
respectivamente) (Viglietta e cols., 2004). Com relação à síndrome de 
Sjögren, um recente estudo não encontrou anormalidades numéricas nas 
TREGS em relação a doadores de sangue e a pacientes com lombalgia 
mecânica (Gottenberg e cols., 2005). 
 
Finalmente, vale salientar que as anormalidades das TREGS podem ser mais 
sutis do que antecipamos. Em pacientes com artrite reumatóide, encontrou-se 
que as TREGS foram incapazes de inibir a produção de TNF-a e IFN-g por 
células T efetoras e monócitos, mesmo com suas demais capacidades 
supressoras in vitro aparentemente normais (Ehrenstein et al., 2004). Nesse 
estudo, encontrou-se também que a falha das TREGS em inibir a produção de 
TNF-a e IFN-g pode ser restaurada pelo tratamento dos pacientes com 
monoclonais anti-TNF-a (infliximab). Esses resultados sugerem que esse 
tratamento aumenta o número ou a função de TREGS. Outros autores 
encontraram que as TREGS no líquido sinovial de pacientes com artrite 
reumatóide estão em número aumentado em relação ao que se observa no 
sangue periférico (Möttönen e cols.). Contudo, as células respondedoras do 
fluido sinovial parecem ser menos suscetíveis à indução da supressão, 
indicando a presença de mecanismos complexos de resistência à supressão no 
sítio inflamado. 
 
No lúpus eritematoso sistêmico, estudos recentes em modelos experimentais 
têm evidenciado deficiências funcionais nas células T regulatórias. Foi 
relatada uma redução no número de TREGS em modelos murinos BWF1 e 
SNF1. Mais recentemente, Monk e cols. (2005) relataram anormalidades sutis 
na função regulatória das células CD4+CD25+ e significante redução na 
sensibilidade à supressão das células CD4+CD25- em camundongos MRL/lpr. 
 
No lúpus eritematosos sistêmico em humanos, Crispin e cols. (2003) 
encontraram um defeito quantitativo nas TREGS dos pacientes com a forma 
ativa da doença em relação aos lúpicos com a forma inativa e controles 
normais. Outro estudo, realizado por Liu e cols. (2004), avaliou a proporção 
de TREGS em 94 pacientes lúpicos, 52 portadores de artrite reumatóidee 50 
controles normais, evidenciando significativa diminuição na proporção das 
células CD4+CD25+ no sangue periférico de pacientes com LES, o que não 
foi observado nos pacientes com artrite reumatóide. Esses resultados sugerem 
que a diminuição das TREGS pode ser uma característica específica da 
patogênese do LES. Os dados existentes desses dois estudos sobre a avaliação 
das TREGS no LES são relevantes e sugerem o envolvimento desta população 
celular nos mecanismos fisiopatológicos da doença. 
 
A partir do estudo das células com função regulatória, abrem-se novas 
perspectivas para o entendimento dos mecanismos de regulação periférica e 
fisiopatologia nas diferentes enfermidades auto-imunes. Uma vez delineados 
os mecanismos imunológicos básicos de imunorregulação haverá subsídios 
para a elaboração de abordagens futuras de intervenção nessas doenças.

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