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Lógica e conversação - H. P. Grice

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10 de Novembro de 2016 Filosofia da linguagem
Lógica e conversação
Herbert Paul Grice
Tradução de Matheus Silva
É um lugar-comum da lógica filosófica que há, ou aparenta haver, divergências no significado
entre, por um lado, ao menos alguns do que devemos chamar de instrumentos formais — ¬,
∧, ∨, ⊃, (∀x), (∃x), (∃!x) (quando a esses é dada uma interpretação padrão de dois valores)
— e, por outro lado, o que são �dos como seus análogos ou contrapartes na linguagem
natural — expressões tais como não, e, ou, se, todo, alguns (ou ao menos um), o. Alguns
lógicos podem durante algum tempo ter pretendido reivindicar que de fato não há tais
divergências; mas tais reivindicações, se foram feitas de todo, foram feitas de alguma
maneira irrefle�da, e aqueles que são suspeitos de fazê-las foram sujeitos a um tratamento
bastante rude.
Aqueles que concederam que tais divergências existem concordam, no principal, com um ou
outro dos dois grupos rivais, que eu irei chamar de grupos formalista e informalista. Um
esboço de uma posição formalista que não é incomum pode ser apresentado da seguinte
maneira: à medida em que os lógicos estão preocupados com a formulação de padrões
muito gerais de inferência válida, os instrumentos formais possuem uma decisiva vantagem
sobre suas contrapartes naturais. Visto que seria possível construir em termos de
instrumentos formais um sistema de fórmulas muito gerais, um número considerável das
quais podem ser consideradas como, ou estão aproximadamente relacionadas a, padrões de
inferência cuja expressão envolve alguns ou todos os instrumentos: tal sistema pode
consis�r de certo conjunto de fórmulas simples que pode ser aceitável se os instrumentos
têm o significado que tem sido atribuídos a eles, e um número indefinido de fórmulas
adicionais, muitas das quais são menos obviamente aceitáveis e cada uma das quais pode
ser demonstrada como aceitável se os membros do conjunto original são aceitáveis. Nós
temos, assim, uma maneira de lidar com padrões de inferência que são aceitáveis de modo
dúbio, e se, como é algumas vezes possível, nós podemos aplicar um procedimento de
decisão, nós temos uma maneira ainda melhor. Além disso, de um ponto de vista filosófico,
a posse desses elementos nos significados de suas contrapartes naturais, que eles não
par�lham com seus instrumentos formais correspondentes, deve ser considerada como uma
imperfeição da linguagem natural; os elementos em questão são excrescências indesejáveis.
Visto que a presença desses elementos tem a consequência de que ambos os conceitos com
os quais eles aparecem não podem ser precisamente/claramente definidos, e que ao menos
algumas afirmações que as envolvem não podem, em algumas circunstâncias, ser atribuído
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bruna
Destacar
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um valor de verdade defini�vo; e o caráter indeterminado desses conceitos é não apenas
objetável sem si mesmo, mas também mantêm aberto o caminho para a meta�sica – nós
não podemos estar certos de que nenhuma dessas expressões da linguagem natural está
“carregada” metafisicamente. Por essas razões, as expressões, tal como usadas na
linguagem natural, não podem ser consideradas como aceitáveis em defini�vo, e podem vir
a ser, defini�vamente, não inteiramente inteligíveis. O caminho adequado é conceber e
começar a construir uma linguagem ideal, incorporando os instrumentos formais, as frases
que serão claras, determinadas em valor de verdade, e cer�ficadamente livre de implicações
meta�sicas; as fundações da ciência serão agora filosoficamente seguras, uma vez que as
afirmações do cien�sta serão exprimíveis (embora não necessariamente presentemente
exprimidas) com essa linguagem ideal. (Eu não desejo sugerir que todos os formalistas
aceitarão a totalidade desse esboço, mas eu penso que todos aceitarão ao menos alguma
parte dele).
Frente a isso, um informalista pode replicar da seguinte maneira. A demanda filosófica por
uma linguagem ideal se baseia em certas suposições que não devem ser concedidas; essas
são, a de que o padrão de medida principal para avaliar a adequação da linguagem é sua
habilidade de servir as necessidades da ciência, a de que uma expressão não pode ser
garan�da como totalmente inteligível a menos que uma explicação ou análise do seu
significado tenha sido fornecida, e a de que qualquer explicação ou análise deve assumir a
forma de uma definição precisa que é a expressão/asserção de uma equivalência lógica. A
linguagem serve muitos propósitos importantes além daqueles da inves�gação cien�fica;
nós podemos saber perfeitamente bem o que uma expressão significa (e assim a for�ori que
ela é inteligível) sem conhecer a sua análise, e o fornecimento de uma análise pode consis�r
(e usualmente consiste) na especificação, tão generalizada quanto possível, das condições
que contam a favor e contra a aplicabilidade da expressão que está sendo analisada. Mais
do que isso, embora seja sem dúvida verdade que os instrumentos formais são
especialmente susce�veis de tratamento sistemá�co pelos lógicos, ainda persiste a questão
de que há muitos argumentos e inferências, expressados na linguagem natural e não em
termos desses instrumentos, que são, contudo, reconhecidamente válidos. Portanto, deve
exis�r um lugar para uma lógica não simplificada, e mais ou menos assistemá�ca, das
contrapartes naturais desses instrumentos; essa lógica pode ser auxiliada e guiada por uma
lógica simplificada de instrumentos formais, mas não pode ser suplantada por ela. De fato,
não apenas as duas lógicas diferem, mas algumas vezes elas entram em conflito; regras que
valem para um instrumento formal podem não valer para a sua contraparte natural.
Agora, sobre a questão geral do lugar da reforma da linguagem natural na filosofia eu não
terei, neste ar�go, nada a dizer. Eu irei me limitar à disputa em sua relação com as alegadas
divergências apresentadas no início. Eu não tenho, mais do que isso, nenhuma intenção de
entrar na disputa como representante de cada um dos concorrentes. Eu pretendo, ao invés,
defender a suposição comum dos concorrentes de que as divergências de fato existem é
(falando de uma maneira geral) um equívoco comum, e que o equívoco surge de uma
atenção inadequada à natureza e importância das condições que governam a conversação.
Eu irei, por consequência, con�nuar imediatamente para inves�gar na direção das condições
gerais que, de uma maneira ou outra, aplicam-se à conversação como tal, independente do
seu conteúdo. Eu começo com uma caracterização da noção de “implicatura”.
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Implicatura
Suponha que A e B estão falando sobre um amigo comum, C, que agora está trabalhando
em um banco. A pergunta B como C está progredindo no seu trabalho, e B responde: Oh,
muito bem, eu acho; ele gosta dos seus colegas, e ele ainda não foi preso. Neste momento,
A pode perfeitamente perguntar o que B estava insinuando, o que ele estava sugerindo, ou
mesmo o que ele �nha em mente ao dizer que C ainda não está preso. A resposta pode ser
quaisquer coisas tais como C é o �po de pessoa que provavelmente pode entregar-se à
tentação fornecida por sua ocupação; que os colegas de C são realmente muito
desagradáveis e desleais, e assim por diante. É possível, é claro, que seja completamente
desnecessário para A fazer essa pergunta para B, se a resposta para essa pergunta é, no
contexto, clara antecipadamente. É claro que qualquer coisa que for insinuada, sugerida,
significada, etc., nesse exemplo, é dis�nta do que B disse, que foi simplesmente que C ainda
não foi preso. Eu pretendo introduzir, como termos de arte, o verbo implicitar1 e os
substan�vosrelacionados implicatura (Cf. implicitando) e implicatum (Cf. o que é
implicitado). O obje�vo dessa manobra é evitar ter que, em cada ocasião, escolher entre
este ou aquele membro da família dos verbos para o qual implicitar deve fazer o trabalho
geral. Eu devo, pelo menos por enquanto, ter de assumir em uma medida considerável uma
compreensão intui�va do significado de dizer em tais contextos, e uma habilidade de
reconhecer verbos par�culares como membros da família com a qual implicitar está
associado. Eu posso, contudo, fazer uma ou duas observações que podem ajudar a clarificar
a mais problemá�ca dessas suposições, nomeadamente, a que está associada com o
significado da palavra dizer.
No sen�do em que estou usando a palavra dizer, tenho em mente o que alguém disse como
estando relacionado de perto com o significado convencional das palavras (a frase) que ele
proferiu. Suponha que alguém tenha proferido a frase Ele está preso a um vício. Dado um
conhecimento da língua portuguesa, mas não o conhecimento das circunstâncias da
afirmação, alguém saberia algo sobre o que o falante disse, sob a suposição de que ele
estava falando o português corrente, e falando literalmente. Alguém saberia que ele disse
acerca de alguma pessoa masculina par�cular ou animal X, que durante o momento da
afirmação (qualquer que tenha sido), ou (1) que x foi incapaz de libertar-se de certo �po de
traço de mau caráter ou (2) alguma parte da pessoa X foi presa em certo �po de ferramenta
ou instrumento2 (uma explicação aproximada, é claro). Mas para uma iden�ficação
completa do que o falante havia dito alguém precisaria saber (a) a iden�dade de X, (b) o
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momento da afirmação, e (c) o significado, na ocasião par�cular da afirmação, da expressão
está preso a um vício [uma decisão entre (1) e (2)]. Essa breve indicação do meu uso de dizer
deixa em aberto se um homem que diz (hoje) Harold Wilson é um grande homem e outro
que diz (também hoje) O Primeiro Ministro Britânico é um grande homem, se cada um sabe
que os dois termos singulares têm a mesma referência, disseram a mesma coisa3. Mas
qualquer que seja a decisão a que se chega sobre essa questão, o instrumento que eu estou
prestes a fornecer será capaz de explicar quaisquer implicaturas que possam depender da
presença de um ao invés de outro desses termos singulares na frase proferida. Essas
implicaturas seriam meramente relacionadas com diferentes máximas.
Em alguns casos o significado convencional das palavras usadas determinará o que é
implicitado, além de ajudar a determinar o que é dito. Se eu digo (presunçosamente), Ele é
um inglês: ele é, portanto, bravo, eu certamente me comprome�, em virtude do significado
das minhas palavras, com ser o caso de que a sua bravura é uma consequência de (segue-se
de) ele ser um inglês. Mas embora eu tenha dito que ele é um inglês, e dito que ele é bravo,
eu não quero dizer que eu DISSE (em um sen�do favorecido) que eu disse que se segue de
ele ser um inglês que ele é bravo, embora eu tenha certamente indicado, e assim
implicitado, que isso é assim. Eu não quero dizer que a minha afirmação dessa frase seria,
rigorosamente falando, falsa, caso a consequência em questão falhe em ser válida. Portanto,
algumas implicaturas são convencionais, diferentemente daquela com a qual introduzi essa
discussão da implicatura.
Eu pretendo representar certa subclasse de implicaturas não convencionais, que eu
denominarei de implicaturas conversacionais, como sendo essencialmente associadas com
certas caracterís�cas gerais do discurso; assim o meu próximo passo é tentar dizer quais são
essas caracterís�cas.
O que se segue pode fornecer uma primeira aproximação a um princípio geral. Nossas
trocas de conversa não consistem normalmente de uma sucessão de observações
desconexas, e não seriam racionais se o fossem. Elas são caracteris�camente, em algum
grau pelo menos, esforços coopera�vos; e cada par�cipante reconhece neles, em alguma
medida, um obje�vo comum ou grupo de obje�vos, ou pelo menos uma direção
mutuamente aceita. Esse obje�vo ou direção pode ser fixado desde o início (e.g., por uma
sugestão inicial de uma questão para discussão), ou pode desenvolver-se durante a troca;
ele pode ser razoavelmente definido, ou ele pode ser tão indefinido quanto a deixar uma
liberdade realmente considerável para os par�cipantes (como numa conversação casual).
Mas em cada momento, alguns movimentos conversacionais seriam excluídos como
conversacionalmente inadequados. Nós podemos então formular o esboço de um princípio
geral que é aquilo que se espera que os par�cipantes (ceteris paribus) deverão observar,
nomeadamente: faça sua contribuição conversacional tal como é exigida, no momento em
que ocorre, de acordo com o obje�vo ou direção aceita da troca conversacional em que
você está envolvido. Alguém poderia chamar isso de Princípio da Cooperação.
Sob a suposição de que algum princípio geral semelhante é aceitável, alguém poderia talvez
dis�nguir quatro categorias sob uma ou outra das quais entrarão determinadas máximas e
submáximas mais específicas, das quais as que se seguem permi�rão, em geral, resultados
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em acordo com o Princípio da Cooperação. Repe�ndo Kant, eu denomino essas categorias
de Quan�dade, Qualidade, Relação e Modo4. A categoria de Quan�dade diz respeito à
quan�dade de informação a ser fornecida, e sob a qual entrarão as seguintes máximas:
Faça sua contribuição tão informa�va quanto for exigido (para os obje�vos atuais da conversa).1. 
Não faça sua contribuição mais informa�va do que é exigido.2. 
(A segunda máxima é disputável; pode ser dito que ser excessivamente informa�vo não é
uma transgressão do Princípio Da Cooperação, mas meramente um desperdício de tempo.
Contudo, pode ser respondido que tal excesso de informa�vidade pode estar confundindo
de tal modo que torna propenso o levantamento de questões de interesse secundário; e
pode haver também um efeito indireto, de tal modo que os ouvintes possam ser enganados
como resultado de pensar que há algum obje�vo par�cular em fornecer o excesso de
informação. Seja isso como for, há talvez uma razão diferente para duvidar da admissão da
segunda máxima, nomeadamente, que o seu efeito será assegurado por uma máxima
posterior, que diz respeito à relevância).
Sob a categoria de Qualidade entra uma supermáxima – “Tente fazer com que sua
contribuição seja verdadeira” – e duas máximas mais específicas:
Não diga o que você acredita ser falso.1. 
Não diga aquilo para o qual lhe faltam indícios adequados.2. 
Sob a categoria de Relação eu coloco uma única máxima, nomeadamente, “Seja per�nente”.
Embora a própria máxima seja concisa, sua formulação esconde um número de problemas
que me preocuparam muito: questões sobre quais �pos diferentes e focos de per�nência
podem haver, como esses mudam no curso de uma troca conversacional, como fazer
concessões em consideração do fato de que tais temas de conversação são modificados
legi�mamente, e assim por diante. Eu considero o tratamento de tais questões
excessivamente di�cil, e espero regressar a elas em um trabalho posterior.
Finalmente, sob a categoria de Modo, que eu entendo não como referindo (como as
categorias prévias) ao que é dito, mas, de preferência, ao como o que é dito deve ser dito,
eu incluo a supermáxima – “Seja claro” – e várias máximas tais como:
Evite a obscuridade de expressão.1. 
Evite a ambiguidade.2. 
Seja breve (evite prolixidade desnecessária)3. 
Seja organizado.4. 
É óbvio que a observância de algumas dessas máximas é uma questão de menor urgência
que a observância de outras; um homem que se expressoucom indevida prolixidade será,
em geral, mais aberto a um Explicação moderado do que seria um homem que disse algo
que acredita ser falso. De fato, pode dar a impressão de que a importância de pelo menos a
primeira máxima da Qualidade é tal que não deveria ser incluída em um esquema do �po
que estou construindo; outras máximas entram em operação apenas sob a suposição de que
essa máxima da Qualidade é sa�sfeita. Embora isso possa ser correto, no que diz respeito à
geração de implicaturas ela parece desempenhar um papel que não é totalmente diferente
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das outras máximas, e será conveniente, por agora pelo menos, considerá-la como um
membro da lista de máximas.
Há, é claro, toda espécie de outras máximas (esté�cas, sociais, ou morais em caráter), tais
como “Seja educado”, que também são normalmente observadas por par�cipantes em
trocas de conversa, e estas podem também gerar implicaturas não convencionais. As
máximas conversacionais, contudo, e as implicaturas conversacionais associadas a elas, são
especialmente associadas (eu espero) com obje�vos par�culares que a fala (e, assim, a troca
de conversa) é adaptada para servir e é primariamente empregada para servir. Eu tenho
apresentado as minhas máximas como se esse obje�vo fosse a troca de informação
maximamente efe�va; essa especificação, é claro, é muito restrita, e o esquema precisa ser
generalizado para permi�r obje�vos gerais como influenciar ou dirigir as ações de outros.
Como um dos meus obje�vos declarados é considerar o ato de conversar como um caso
especial de uma variedade de comportamento intencional, e o que é mais importante,
racional, pode valer a pena observar que as expecta�vas ou pressuposições específicas
associadas com pelo menos algumas das seguintes máximas possuem seus análogos no
âmbito das transações que não são trocas de conversas. Eu listo brevemente um desses
análogos para cada categoria conversacional.
Quan�dade. Se você está me ajudando a consertar um carro, eu espero que a sua contribuição
não seja nem maior ou menor do que a exigida. Se, por exemplo, em um momento par�cular
eu precisar de quatro pregos, eu espero que me dê quatro, ao invés de dois ou seis.
1. 
Qualidade. Eu espero que suas contribuições sejam sinceras e não fingidas. Se eu precisar de
açúcar como um ingrediente no bolo que você está me ajudando a fazer, eu não espero que
você me passe sal; se eu preciso de uma colher, eu não espero que você me passe uma colher
de men�ra feita de borracha.
2. 
Relação. Eu espero que a contribuição de um parceiro seja apropriada para as necessidades
imediatas em cada momento da transação. Se eu estou misturando ingredientes para o bolo, eu
não espero que me seja passado um bom livro, ou mesmo um pano de forno (embora isso
possa ser uma contribuição apropriada em um momento posterior).
3. 
Modo. Eu espero que um parceiro torne claro qual contribuição ele está fazendo e execute sua
realização com razoável eficiência.
4. 
Essas analogias são relevantes para o que eu considero uma questão fundamental sobre o
Princípio da Cooperação e suas máximas concomitantes, nomeadamente, quais são as bases
para a suposição de que parecemos fazer, e sobre a qual (eu espero) irá tornar-se visível que
o grande alcance das implicaturas depende, de que os falantes em geral ( ceteris paribus e
na ausência de indicações em contrário) procederam do modo como esses princípios
prescreveram. Uma resposta estúpida, mas sem dúvida adequada em certo nível, é que é
apenas um fato empírico bem reconhecido que as pessoas se comportam dessas maneiras;
elas aprenderam a fazer isso na infância e não perderam essa habilidade; e, além disso,
envolveria uma boa dose de esforço para fazer um desvio radical do hábito. É muito mais
fácil, por exemplo, dizer a verdade do que inventar men�ras.
Eu sou, contudo, racionalista o bastante para querer encontrar uma base que está por baixo
desses fatos, ainda que elas possam ser inegáveis; eu gostaria de ser capaz de pensar no
�po comum de prá�ca conversacional não meramente como algo que todos ou a maioria de
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fato seguem, mas como algo que é razoável seguirmos, que nós não devemos abandonar.
Há algum tempo, eu fui atraído pela idéia de que a observância do Princípio da Cooperação
e as máximas, em uma troca de conversa, pode ser pensada como uma questão quase
contratual, com análogos de fora do domínio do discurso. Se você passar por perto quando
eu es�ver me debatendo com o meu carro enguiçado, eu tenho sem dúvida algum grau de
expecta�va de que você irá oferecer ajuda, mas uma vez que se junta a mim no conserto
sob a capota, minhas expecta�vas se tornam mais fortes e assumem formas mais variadas
(na ausência de indicações de que você é meramente um introme�do incompetente); e
trocas de conversa parecem exibir, caracteris�camente, certas caracterís�cas que
conjuntamente dis�nguem transações coopera�vas:
Os par�cipantes têm algum obje�vo comum imediato, como consertar um carro; seus obje�vos
úl�mos podem, é claro, serem independentes e até mesmo estarem em conflito – cada um
pode querer consertar o carro com o obje�vo de ir embora com ele e deixar os outros
abandonados. Em trocas de conversa caracterís�cas, há um obje�vo comum mesmo se, como
em uma conversa sobre o muro, há um obje�vo de segunda-ordem, nomeadamente, que cada
parte deve, por enquanto, iden�ficar a si mesma com os interesses conversacionais transitórios
da outra.
1. 
As contribuições dos par�cipantes devem ser compa�veis, mutuamente dependentes.2. 
Há algum �po de compreensão (que pode ser explícito, mas que é frequentemente tácito) de
que, outras coisas permanecendo iguais, a transação deve con�nuar em um modo apropriado a
menos que ambas as partes concordem que ela deve terminar. Você não simplesmente dá o
fora ou começa a fazer outras coisas.
3. 
Mas ainda que bases quase contratuais tais como essas possam ser aplicadas a muitos
casos, há também muitos �pos de trocas, como discu�r e escrever cartas, nas quais ele falha
em encaixar confortavelmente. Em todo o caso, alguém sabe que o falante que é
imper�nente ou obscuro decepcionou principalmente não sua audiência, mas a si mesmo.
Assim eu gostaria de ser capaz de mostrar que a observância do Princípio da Cooperação e
das máximas é razoável (racional) do seguinte modo: que qualquer um que se importe com
os obje�vos que são centrais para a conversação/comunicação (tais como dar e receber
informação, influenciar e ser influenciado por outros) devem ser presumidos como
possuindo um interesse, dadas as circunstâncias adequadas, na par�cipação das trocas de
conversa que serão proveitosas apenas sob a suposição de que elas são conduzidas em
acordo geral com o Princípio da Cooperação e suas máximas. Se qualquer conclusão como
essa pode ser alcançada, eu estou incerto; de qualquer modo, eu estou razoavelmente
seguro de que não posso alcançá-la até a�ngir um esclarecimento considerável sobre a
natureza da per�nência e das circunstâncias em que ela é exigida.
Agora é o momento de demonstrar a relação entre o Princípio Da Cooperação e as máximas,
de um lado, e implicatura conversacional de outro.
Um par�cipante em uma troca de conversa pode falhar em sa�sfazer a máxima de vários
modos, que incluem os seguintes:
Ele pode discretamente e sem ostentação violar a máxima; neste caso, em algumas
circunstâncias ele será propenso a enganar.
1. 
Ele pode optar por não par�cipar do funcionamento de ambos da máxima e do Princípio da2. 
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Cooperação; elepode dizer, indicar, ou admi�r tornar óbvio que ele não está disposto a
cooperar do modo que a máxima exige. Ele pode dizer, por exemplo, Eu não posso dizer mais;
meus lábios estão selados.
Ele pode ter de enfrentar um conflito: ele pode ser incapaz, por exemplo, de sa�sfazer a
máxima da Quan�dade (Seja tão informa�vo quanto exigido) sem violar a segunda máxima da
Qualidade (Tenha indícios adequados para o que você diz).
3. 
Ele pode menosprezar a máxima; isto é, ele pode ostensivamente falhar em sa�sfazê-la. Sobre a
suposição de que o falante é capaz de sa�sfazer a máxima e fazer isso sem violar outra máxima
(por causa de um conflito), ele não está optando por não par�cipar, e não está, devido à
ostentação da sua ação, tentando enganar, o ouvinte se depara com um problema menor: como
pode o ato dele ter dito o que disse ser reconciliado com a suposição de que ele está
observando o Princípio da Cooperação de um modo geral? Essa é uma situação que
caracteris�camente dá origem a uma implicatura conversacional; e quando uma implicatura
conversacional é gerada deste modo, eu devo dizer que a máxima está sendo explorada.
4. 
Eu estou agora em uma posição adequada para caracterizar a noção de implicatura
conversacional. Um homem que ao (por, quando) dizer (ou fingindo como se dissesse) que p
implicitou que q, pode ser considerado como tendo implicitado conversacionalmente que q,
dado que (1) era de se esperar que ele es�vesse observando as máximas conversacionais,
ou pelo menos o Princípio da Cooperação; (2) a suposição de que ele está consciente de
que, ou pensa que, q é exigido com o obje�vo de dizer ou fingir como se dissesse p (ou
fazendo isso naqueles termos) consistente com a pressuposição; e (3) o falante pensa (e
esperaria que o ouvinte pense que o falante pensa) que está ao alcance da competência do
ouvinte compreender, ou compreender intui�vamente, que a pressuposição mencionada
em (2) é exigida. Aplique isso ao meu exemplo inicial, à observação de B de que C ainda não
foi preso. Em uma circunstância apropriada A pode raciocinar da seguinte maneira: “(1) B
aparentemente violou a máxima “Seja per�nente” e assim pode ser considerado como
tendo menosprezado uma das máximas associadas à perspicuidade, embora eu não tenha
qualquer mo�vo para supor que ele está optando por não par�cipar do processo do
Princípio da Cooperação; (2) dadas as circunstâncias, eu posso considerar sua irrelevância
apenas como aparente se, e somente se, eu supor que ele pensa que C é potencialmente
desonesto; (3) B sabe que eu sou capaz de compreender o passo (2). Assim B implicita que C
é potencialmente desonesto”.
A presença de uma implicatura deve ser capaz de ser demonstrada; mesmo se pode de fato
ser intui�vamente compreendida, ao menos que a intuição seja subs�tuída por um
argumento, a implicatura (se está presente de todo) não irá contar como uma implicatura
conversacional. Para saber se uma implicatura conversacional está presente, o ouvinte irá
confiar nos seguintes dados: (1) o significado convencional das palavras usadas, juntamente
com a iden�dade de quaisquer referências que possam estar envolvidas; (2) o Princípio da
Cooperação e suas máximas; (3) o contexto, linguís�co ou outro, da afirmação; (4) outros
itens do conhecimento de fundo; e (5) o fato (ou suposto fato) de que todos os itens
relevantes que entram sob os tópicos anteriores estão disponíveis para ambos os
par�cipantes e ambos os par�cipantes sabem ou assumem que isso seja o caso. Uma regra
geral para saber se uma implicatura conversacional pode ser dada é a seguinte: “Ele disse
que p; não há razão para supor que ele não está observando as máximas, ou pelo menos o
Princípio da Cooperação; ele não pode estar fazendo isso a menos que tenha pensado que
q; ele sabe (e sabe que eu sei que ele sabe) que eu posso perceber a suposição de que ele
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pensa que q é exigido; ele não fez nada para me impedir de pensar que q; ele quer que eu
pense, ou pelo menos está disposto a me permi�r pensar, que q; e assim ele implicitou que
q”.
Exemplos de implicatura conversacional
Eu apresentarei agora um número de exemplos, que eu dividirei em três grupos.
GRUPO A: Exemplos nos quais nenhuma máxima é violada ou pelo menos não é claro
que alguma máxima seja violada
A está ao lado de um carro obviamente imobilizado e é abordado por B; a seguinte conversa
acontece:
(1)
A: Eu estou sem gasolina.
B: Há um posto na esquina.
(Explicação: B estaria infringindo a máxima “Seja per�nente” a menos que ele pense, ou
pense que é possível, que o posto esteja aberto e tenha gasolina para vender; assim ele
implicita que o posto é ou pelo menos poderia estar aberto, etc.).
Nesse exemplo, diferentemente do caso da observação Ele não foi preso ainda, a associação
não mencionada entre a observação de B e a observação de A é tão óbvia que, mesmo se
alguém interpretar a supermáxima de Modo, “Seja perspicaz”, como se aplicando não
apenas à expressão daquilo que é dito, mas também à associação daquilo que é dito com
observações adjacentes, parece não haver qualquer razão para considerar essa
supermáxima como infringida nesse exemplo. O próximo exemplo é talvez um pouco menos
claro a esse respeito:
(2)
A: Smith não parece ter uma namorada hoje em dia.
B: Ele tem feito muitas visitas à Nova Iorque ul�mamente.
B implicita que Smith tem, ou pode ter, uma namorada em Nova Iorque. (Uma explicação é
desnecessária em vista daquela apresentada no exemplo anterior).
Em ambos os exemplos o falante implicita aquilo que se espera que ele acredite para
preservar a suposição de que ele está observando a máxima da Relação.
GRUPO B: Exemplos em que uma máxima é violada, mas sua violação deve ser explicada
pela suposição de um conflito com outra máxima
A está planejando com B um i�nerário para um feriado na França. Ambos sabem que A quer
ver seu amigo C, se essa visita não envolvesse uma prolongação muito grande da sua
viagem:
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(3)
A: Onde C vive?
B: Em algum lugar do Sul da França.
(Explicação: Não há razão para supor que B está optando por não par�cipar do
funcionamento do Princípio da Cooperação e suas máximas; sua resposta é, como ele bem
sabe, menos informa�va do que é exigido para sa�sfazer as necessidades de A. Essa infração
da primeira máxima da Quan�dade pode ser explicada apenas pela suposição de que B é
consciente de que para ser mais informa�vo diria algo que infringisse a segunda máxima da
Qualidade. “Não diga aquilo para o qual lhe falta indícios adequados”, assim B implicita que
ele não sabe em que cidade C vive).
GRUPO C: Exemplos que envolvem exploração, isto é, um processo em que a máxima é
menosprezada com o obje�vo de gerar uma implicatura conversacional por meio de algo
semelhante a uma figura de retórica.
Nesses exemplos, embora alguma máxima seja violada no nível do que é dito, o ouvinte está
autorizado a supor que a máxima, ou ao menos o Princípio Da Cooperação como um todo, é
observado no nível do que é implicitado.
(1a) A menosprezando a primeira máxima de Quan�dade
A está escrevendo uma carta de recomendação sobre um pupilo que é um candidato para
um emprego de filosofia, e sua carta se lê como se segue: “Caro senhor, o domínio de inglês
do Sr. X é excelente, e sua frequência nos tutoriais tem sido regular. Atenciosamente, etc”..
(Explicação: A não pode estar optando por não par�cipar, visto que se não es�vesse sendo
coopera�vo, porque escreveria afinal? Ele não pode ser incapaz, devido à ignorância, de
dizer mais, uma vez que o homem é seu pupilo; além disso, ele sabe que mais informação
do que estaé necessária. Ele deve, por esse mo�vo, estar desejando expressar uma
informação que ele é relutante em descrever. Essa suposição é sustentável apenas se ele
pensa que o Sr. X não é bom em filosofia. Isto, então, é o que ele está implicitando).
Exemplos extremos de menosprezo da primeira máxima da Quan�dade são fornecidos por
afirmações de tautologias óbvias como Mulheres são mulheres e Guerra é guerra. Eu
gostaria de manter que ao nível do que é dito, em meu sen�do preferido, tais observações
são totalmente desinforma�vas e assim, nesse nível, não podem senão infringir a primeira
máxima da Quan�dade em qualquer contexto conversacional. Elas são, é claro, informa�vas
no nível do que é implicitado e a iden�ficação do ouvinte de seu conteúdo informa�vo
nesse nível é dependente de sua habilidade de explicar a seleção do falante dessa tautologia
óbvia em par�cular.
(1b) Uma infração da segunda máxima da Quan�dade, “Não dê mais informação do que
é exigido”, sob a suposição de que tal máxima deve ser admi�da
A quer saber se p, e B oferece voluntariamente não apenas a informação de que p, mas a
informação para demonstrar que é certo que p, e que o indício para ser o caso de que p é
assim-e-assim e tal-e-tal.
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A volubilidade de B pode ser involuntária, e se é assim considerada por A pode surgir na sua
mente uma dúvida sobre se B é certo como ele disse que é (“Parece-me que a senhora
protesta demais”). Mas se isso for pensado como voluntário, seria um modo indireto de
expressar que é em algum grau controverso se p ou não p. É, contudo, discu�vel que tal
implicatura poderia ser explicada por referência à máxima da Relação sem invocar uma
suposta segunda máxima da Quan�dade.
(2a) Exemplos em que a primeira máxima da Qualidade é menosprezada
Ironia. X, com quem A �nha relações próximas até agora, revelou um segredo de A para um
rival de negócios. A e a sua audiência ambos sabem disso. A diz X é um bom amigo.
(Explicação: É perfeitamente óbvio para A e sua audiência que o que A disse ou fingiu ter
dito é algo que ele não acredita, e a audiência sabe que A sabe que isso é óbvio para
audiência. Assim, a menos que as afirmações de A sejam inteiramente despropositadas, A
deve estar tentando expressar outra proposição além da que ele propôs diretamente. Essa
deve ser alguma proposição obviamente relacionada; a proposição mais obviamente
relacionada é a contraditória da única que ele propôs diretamente).
Metáfora. Exemplos como Você é o creme do meu café caracteris�camente envolvem
falsidade categorial, assim o contraditório do que o falante fez como se �vesse dito será,
estritamente falando, um truísmo; portanto, não pode ser isso que o falante está tentando
expressar. A suposição mais provável é que o falante está atribuindo a seu ouvinte alguma
caracterís�ca ou caracterís�cas a respeito das quais o ouvinte assemelha-se (mais ou menos
de uma maneira fantasiosa) à substância mencionada.
É possível combinar a metáfora e a ironia impondo ao ouvinte dois estágios de
interpretação. Eu digo Você é o creme no meu café, pretendendo que o ouvinte entenda
primeiro o interpretante5 de metáfora “Você é o meu orgulho e a minha alegria” e então o
interpretante de ironia “Você é a minha desgraça”.
Lítotes6. Sobre um homem que é sabido ter quebrado toda a mobília, alguém diz Ele estava
um pouco intoxicado.
Hipérbole. Toda garota bonita ama um marinheiro.
(2b) Exemplos em que a segunda máxima da Qualidade, “Não diga aquilo para o qual você
não tem indícios adequados”, é menosprezada talvez não sejam fáceis de encontrar, mas o
seguinte parece ser um exemplo. Eu falo sobre a esposa de X, Ela está provavelmente
enganando ele esta noite. Em um contexto apropriado, ou com um gesto apropriado ou tom
de voz, pode ser claro que eu não tenho qualquer razão adequada para supor que isso é o
caso. Meu parceiro, para preservar a suposição de que o jogo conversacional ainda está
sendo jogado, supõe que eu estou obtendo alguma proposição relacionada para a aceitação
da qual eu tenho alguma base razoável. A proposição relacionada pode bem ser a de que ela
está inclinada a trair o marido dela ou possivelmente que ela é o �po de pessoa que não irá
parar imediatamente com essa conduta.
(3) Exemplos em que uma implicatura é realizada por uma violação real, como dis�nta de
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aparente, da máxima da Relação são talvez raros, mas o seguinte parece ser um bom
candidato. Em uma elegante festa do chá, A diz Sra. X é um saco velho. Há um momento de
silêncio espantoso, e então B diz O tempo tem sido bastante delicioso nesse verão, não tem?
B evidentemente se recusou a tornar o que ele diz per�nente para a observação anterior de
A. Ele, por conseguinte, implicita que a observação de A não deve ser discu�da e, talvez
mais especificamente, que A cometeu uma gafe social.
(4) Exemplos em que várias máximas que entram sob a supermáxima “Seja perspicaz” são
menosprezadas
Ambiguidade. Nós devemos lembrar que nós estamos preocupados apenas com a
ambiguidade que é deliberada, e o falante tem em mente ou espera que isso seja
reconhecido por seu ouvinte. O problema que o ouvinte tem para resolver é porque um
falante deve, quando ainda está jogando o jogo conversacional, sair desse caminho para
escolher uma afirmação ambígua. Há dois �pos de casos:
(a) Exemplos em que não há qualquer diferença, ou qualquer diferença notável, entre duas
interpretações de uma afirmação ambígua em relação à sua falta de franqueza; nenhuma
interpretação é notavelmente mais sofis�cada, menos comum, mais obscura ou mais
ar�ficial do que outra. Nós podemos considerar os versos de Blake: “Nunca procure dizer o
teu amor, Amor que nunca dito pode ser”. Para evitar as complicações introduzidas pela
presença do modo impera�vo, eu irei considerar a frase relacionada, Eu procuro dizer o meu
amor, amor que nunca dito pode ser. Pode haver uma dupla ambiguidade aqui. O meu amor
pode referir ou a um estado de emoção ou a um objeto de emoção, e amor que nunca dito
pode ser pode significar ou “Amor que não pode ser dito” ou “Amor que se for dito não pode
con�nuar a exis�r”. Parcialmente por causa da sofis�cação do poeta e parcialmente por
causa do indício interno (de que a ambiguidade é man�da) parece não haver qualquer
alterna�va para supor que as ambiguidades são deliberadas e de que o poeta está
expressando o que ele diria se uma interpretação fosse intencionada de preferência à outra,
e vice-versa; embora o poeta sem dúvida não esteja explicitamente dizendo qualquer uma
dessas coisas, mas apenas transmi�ndo-as ou sugerindo-as (Cf. “Uma vez que ela [a
natureza] escolheu-te para o prazer das mulheres, meu seja o teu amor, e o uso do teu amor
de seu tesouro”).
(b) Exemplos em que uma interpretação é notavelmente menos direta que outra. Considere
a complexa frase do General Britânico que capturou a província de Sind e enviou de volta a
mensagem Peccavi. A ambiguidade envolvida (“Eu tenho Sind”/”Eu pequei”) é fonêmica,
não morfômica; e a expressão atualmente usada não é ambígua, mas uma vez que a
linguagem usada é estranha para o falante e o ouvinte, a tradução é exigida, e a
ambiguidade reside na tradução oficial em inglês na�vo7.
Quer a interpretante (“Eu pequei”) esteja sendo expressada ou não, parece que a
interpretante indireta deve ser expressada. Pode haver razões es�lís�cas para expressar por
meio de uma frase meramente a sua interpretante indireta, mas seria sem sen�do, e talvez
também es�lis�camente objetável, se dar ao trabalho de encontrar uma expressão que
comunique indiretamente que p, assim impondo à audiência o esforço envolvido emdescobrir essa interpretante, se essa interpretante for desnecessária no que diz respeito à
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comunicação. Se a interpretante direta também está sendo expressada parece depender de
se tal proposição conflitará com outras exigências conversacionais, por exemplo, será
per�nente, será algo que o falante poderia supostamente aceitar, e assim por diante. Se
essas exigências não são sa�sfeitas, então a interpretante direta não está sendo expressada.
Se elas são sa�sfeitas, então ela está. Se o autor de Peccavi pode ser naturalmente
presumido como pensando que cometeu algum �po de transgressão, por exemplo, ele
desobedeceu a suas ordens de capturar Sind, e se a referência a essa transgressão não será
relevante para os interesses presumidos da audiência, então ele estará transmi�ndo ambas
as interpretações; de outro modo ele estaria transmi�ndo apenas a interpretação não
direta.
Obscuridade. Como eu exploro, para os propósitos da comunicação, uma deliberada e
evidente violação da exigência de que devo evitar a obscuridade? Obviamente, se o
Princípio da Cooperação deve operar, eu preciso ter a intenção de que o meu parceiro
entenda o que eu estou dizendo apesar da obscuridade que eu implicito na minha
afirmação. Suponha que A e B estão tendo uma conversação em presença de uma terceira
pessoa, por exemplo, uma criança, então A pode ser deliberadamente obscuro, embora não
muito obscuro, com a esperança de que B irá entender e a terceira pessoa não. Além disso,
se A espera que B veja que A está sendo deliberadamente obscuro, parece razoável supor
que, ao fazer a sua contribuição conversacional desse modo, A está implicitando que os
conteúdos da sua comunicação não devem ser implicitados para a terceira pessoa.
Falha em ser breve ou sucinto. Compare as observações:
(a) A Srta. X cantou “Lar Doce Lar”.
(b) A Srta. X produziu uma série de sons que correspondem aproximadamente com a
par�tura de “Lar Doce Lar”.
Suponha que um examinador tenha escolhido afirmar (b) ao invés de (a). (Explicação:
Porque ele selecionou esse palavreado sem sen�do no lugar do conciso e quase sinônimo
cantou? Presumivelmente, para indicar alguma notável diferença entre o desempenho da
Srta. X e aqueles em que a palavra cantar é usualmente aplicada. A suposição mais óbvia é
que o desempenho da Srta. X padece de algum defeito horrível. O examinador sabe que
essa suposição é o que é mais provável de surgir na mente, assim é isso que ele está
implicitando).
Implicatura conversacional generalizada
Eu tenho até agora considerado apenas casos do que eu poderia denominar de
“implicaturas conversacionais par�cularizadas” – isto é, casos em que uma implicatura é
expressada ao dizer que p em uma ocasião par�cular em virtude de caracterís�cas especiais
do contexto, casos em que não há espaço para a idéia de que uma implicatura desse �po é
normalmente expressada ao dizer que p. Mas há casos de implicaturas conversacionais
generalizadas. Às vezes alguém pode dizer que o uso de certas formas de palavras em uma
afirmação irá normalmente (na ausência de circunstâncias especiais) expressar tal-e-tal
implicatura ou �po de implicatura. Exemplos incontroversos são talvez di�ceis de encontrar,
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uma vez que é muito fácil considerar uma implicatura conversacional generalizada como se
fosse uma implicatura convencional. Eu ofereço um exemplo que eu espero que possa ser
razoavelmente incontroverso.
Qualquer um que use uma frase da forma x está se encontrando com uma mulher esta noite
irá normalmente implicitar que a pessoa a se encontrar era alguém diferente da esposa,
mãe, irmã, ou talvez até uma amiga platônica próxima de X. Similarmente, se eu fosse dizer
X entrou em uma casa ontem e encontrou uma tartaruga no lado de dentro da porta da
frente, meu ouvinte normalmente ficará surpreso se algum tempo depois eu revelar que a
casa era do próprio X. Eu posso produzir fenômenos linguís�cos similares envolvendo as
expressões o jardim, o carro, o colégio, e assim por diante. Às vezes, contudo, não haveria
normalmente essa implicatura (“Eu es�ve sentado em um carro toda a manhã”), e às vezes
uma implicatura reversa (“Eu quebrei um dedo ontem”). Eu estou predisposto a pensar que
alguém não daria ouvidos simpá�cos a um filósofo que sugerisse que há três sen�dos da
forma da expressão um X: um em que quer dizer aproximadamente “algo que sa�sfaz as
condições que definem a palavra X”, outro em que significa aproximadamente “um X (no
primeiro sen�do) que é apenas remotamente relacionado de certo modo com alguma
pessoa indicada pelo contexto”, e ainda outro no qual significa “um X (no primeiro sen�do)
que é relacionado aproximadamente de certo modo com alguma pessoa indicada pelo
contexto”. Não preferiríamos uma explicação do seguinte modo (que, é claro, pode estar
incorreta nos pormenores): quando alguém, por usar a expressão da forma um X, implicita
que X não pertence ou não está de outro modo in�mamente relacionado com alguma
pessoa iden�ficável, a implicatura está presente porque o falante falhou em ser específico
em uma maneira na qual ele poderia ser esperado como sendo específico, com a
consequência de que é provável supor que ele não está em posição de ser específico. Essa é
uma situação de implicatura familiar e é classificável como uma falha, por uma razão ou
outra, em sa�sfazer a primeira máxima da Quan�dade. A única questão di�cil é porque ela
deveria, em certos casos, ser presumida, independentemente da informação acerca dos
contextos par�culares de afirmação, essa especificação da proximidade ou afastamento da
associação entre uma pessoa par�cular ou objeto e uma pessoa adicional que é mencionada
ou indicada pela afirmação deva ser susce�vel de interesse. A resposta deve encontrar-se na
seguinte região: transações entre uma pessoa e outras pessoas ou coisas relacionadas de
perto com ela estão sujeitas a serem muito diferentes quanto a seus acompanhamentos e
resultados do mesmo �po de transações envolvendo apenas pessoas ou coisas relacionadas
remotamente; os acompanhamentos e resultados, por exemplo, da minha descoberta de
um buraco no meu teto são provavelmente muito diferentes dos acompanhamentos e
resultados da minha descoberta de um buraco no teto de outra pessoa. A informação, assim
como o dinheiro, é frequentemente dada sem que o doador saiba exatamente que uso a
pessoa que o recebe atribuirá a ele. Se alguém para quem a transação é mencionada a
examina novamente, provavelmente encontrará a si mesmo querendo as respostas de
questões adicionais que o falante pode não ser capaz de iden�ficar antecipadamente; se a
especificação apropriada for capaz de habilitar o ouvinte a responder uma variedade
considerável dessas questões para si mesmo, então há uma pressuposição de que o falante
deve incluí-la nessa observação; se não, então não há essa pressuposição.
Finalmente, nós podemos agora mostrar que, a implicatura conversacional sendo o que é,
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deve possuir certas caracterís�cas:
Uma vez que, para assumir a presença de uma implicatura conversacional nós temos que
assumir que pelo menos o Princípio da Cooperação está sendo observado, e uma vez que é
possível escolher não observar esse princípio, segue-se que uma implicatura conversacional
generalizada pode ser cancelada em um caso par�cular. Ela pode ser explicitamente cancelada,
por adição de uma cláusula que declara ou implicita que o falante tenha escolhido não observar
o Princípio, ou ela pode ser contextualmente cancelada, se a forma da expressão que é
usualmente expressadaé usada em um contexto que torna claro que o falante está escolhendo
não observar o Princípio.
1. 
Na medida em que o cálculo de que uma implicatura conversacional está presente exige, além
da informação de fundo e contextual, apenas o conhecimento do que tem sido dito (ou o
compromisso convencional com a afirmação), e na medida em que o modo da afirmação não
desempenha qualquer papel no cálculo, não será possível encontrar outro modo de dizer a
mesma coisa, que simplesmente carece da implicatura em questão, exceto quando alguma
caracterís�ca especial da versão subs�tuída é ela mesma relevante para a determinação de
uma implicatura (em virtude de uma das máximas de Modo). Se nós denominarmos essa
caracterís�ca de inseparabilidade, alguém pode esperar uma implicatura conversacional
generalizada que seja expressada por uma locução familiar, não especial, como tendo um alto
grau de inseparabilidade.
2. 
Para falar aproximadamente, uma vez que o cálculo da presença de uma implicatura
conversacional pressupõe um conhecimento inicial da força convencional da expressão da
afirmação que exprime a implicatura, um implicatum conversacional será a condição que não é
incluída na especificação original da força convencional da expressão. Embora isso possa não
ser impossível para o que dá início à vida, por assim dizer, na medida em que uma implicatura
conversacional se torna convencionalizada, para supor que isso é assim em um dado caso iria
exigir jus�ficação especial. Portanto, inicialmente pelo menos, implicata conversacionais não
são partes do significado das expressões para o emprego das quais elas estão associadas.
3. 
Uma vez que a verdade de um implicatum conversacional não é exigida para a verdade do que é
dito (o que é dito pode ser verdade – o que é implicitado pode ser falso), a implicatura não é
expressada pelo que é dito, mas apenas por estar dizendo o que é dito, ou por “estar
expressando-o desse modo”.
4. 
Visto que, calcular uma implicatura conversacional é calcular o que foi suposto com o fim de
preservar a suposição de que o Princípio da Cooperação está sendo observado, e uma vez que
pode haver várias explicações específicas possíveis, uma lista que pode estar aberta, o
implicatum conversacional em tais casos será a disjunção de tais explicações específicas; e se a
lista dessas explicações está aberta, o implicatum terá justamente o �po de indeterminação que
muitas implicata atuais parecem de fato possuir.
5. 
Herbert Paul Grice
“Logic and Conversa�on” é a segunda parte das William James Lectures ministradas por H. P. Grice em Harvard, em
1967. O texto foi posteriormente publicado em Syntax and seman�cs: volume 3, speech acts, em 1975; e em sua
coletânea Studies in the way of Words, em 1989.
Notas
O termo introduzido no original é “implicate”. Como o próprio Grice explicará a seguir, ele se
usa desse termo para dis�nguir a implicação da implicatura de uma mera implicação lógica.
Assim, o verbo “implicate” é usado para referir aquilo que é implicado por uma implicatura, ao
1. 
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passo que o verbo “imply” é usado para referir a implicação na sua acepção costumeira de
implicação lógica. É digno de nota que “implicate” já se encontrava nos dicionários e tem sido
traduzida comumente por “implicitar”. O problema dessa escolha de tradução é que ela envolve
justamente a acepção da palavra “implicitar” que Grice pretendia evitar. Para manter a
dis�nção que Grice �nha em vista traduziremos o verbo “implicate” por “implicitar”. N. do T.↩
O exemplo de Grice não funciona quando é traduzido para o português. A expressão original do
exemplo é “He is in the grip of a vice”. Em inglês, “vice” pode significar tanto um vício moral
quanto um torno. Um torno é uma ferramenta montada sobre uma bancada ou mesa que o
ferreiro e o serralheiro usam para apertar as peças que querem limar. Assim, sem maiores
detalhes sobre o contexto de asserção, a expressão em inglês pode significar tanto que ele está
preso a um vício quanto que ele está preso a um torno. N. do T.↩
2. 
James Harold Wilson foi o primeiro ministro do Reino Unido nos períodos de 1964 a 1970 e
1974 a 1976. N. do T.↩
3. 
Em sua Crí�ca da Razão Pura, Kant lista quatro categorias com as quais alguém pode classificar
qualquer juízo: quan�dade, qualidade, relação e modalidade. É claro que as categorias nada
têm em comum com as máximas de Grice além do nome. As categorias não têm o mesmo
conteúdo das máximas e funcionam de modos muito diferentes: enquanto as categorias têm
como função classificar os juízos, as máximas têm como papel prescrever o que os falantes
devem fazer em uma troca conversacional. Outra diferença é que a úl�ma máxima de Grice -
Modo (“Manner”) - tem uma denominação dis�nta da úl�ma categoria de Kant - Modalidade
(“Modality”). Um modo de aproximar os dois termos é observar que “modality” pode ser
encarada grama�calmente como uma qualidade, atributo, ou circunstância que denota modo
(“manner”). É curioso que Grice tenha pegado emprestado de Kant a denominação das suas
máximas, pois o próprio Kant denominou as suas categorias a par�r de um emprés�mo da
lógica de Aristóteles. N. do T.↩
4. 
O termo no texto original é “interpretant”. Trata-se de um termo cunhado por Charles Sanders
Peirce (1839–1914) em sua teoria dos sinais. Um sinal resulta de uma relação entre o veículo do
sinal, o objeto e o interpretante. O veículo do sinal é o significador e pode ser uma afirmação,
um evento (um grito que é um sinal de socorro), etc. O objeto é qualquer coisa que for
significada ou representada pelo veículo do sinal. Por exemplo, um grito é o veículo do sinal, o
pedido de socorro é o seu objeto. O interpretante, ou pensamento interpretador, é o efeito
dessa relação sobre nós intérpretes e que resulta em nossa compreensão de como o sinal
representa o seu objeto. É o interpretante que nos permite compreender o significado do sinal
e entender que o grito é um pedido de socorro. N. do T.↩
5. 
Figura de retórica que consiste em usar uma expressão atenuada para fins retóricos. Em alguns
casos esse efeito é conseguido ao usar a negação com um termo ao invés de usar o antônimo
desse termo. Por exemplo, eu posso afirmar “O João não é nada tolo” para sugerir
precisamente o oposto, “O João é muito esperto”. N. do T.↩
6. 
As expressões em inglês são “I have Sind” e “I have sinned”. Na primeira frase o general afirma
que conquistou, está em posse de, Sind. Na segunda frase o general afirma que pecou. A
ambiguidade é fonêmica e ocorre apenas no inglês, pois “sin” (“pecar”) e Sind são pronunciadas
de maneira similar. N. do T.↩
7. 
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