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Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação LINGUÍSTICA IV Flávia de Freitas Berto possui bacharelado e licenciatura em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (2010). Concluiu o mestrado no programa de Pós-graduação em Linguística e Língua Portuguesa da Unesp/ FCL-Ar em 2013, período em que trabalhou no estudo da língua juruna, nas áreas de Morfologia, Lexicologia e Lexicografia. Atualmente é doutoranda em Linguística e Língua Portuguesa pela mesma Instituição, atuando principalmente nos seguintes temas: Documentação Linguística, Tipologia Linguística, Sintaxe Funcional, articulação de cláusulas, línguas do tronco tupi. E-mail: flaviafberto@gmail.com Claretiano – Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br Flávia de Freitas Berto Batatais Claretiano 2015 LINGUÍSTICA IV © Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP) Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli • Simone Rodrigues de Oliveira Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni • Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa: Eduardo de Oliveira Azevedo • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami de Souza • Wagner Segato dos Santos Videoaula: José Lucas Viccari de Oliveira • Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 410 B461L Berto, Flávia de Freitas Linguística IV / Flávia de Freitas Berto – Batatais, SP : Claretiano, 2015. 116 p. ISBN: 978-85-8377-384-9 1. Filosofia da linguagem. 2. Pragmática. 3. Semiótica 4. Teorias do texto. 5. Análise do discurso. I. Linguística IV. CDD 410 INFORMAÇÕES GERAIS Cursos: Graduação Título: Linguística IV Versão: fev./2015 Formato: 15x21 cm Páginas: 116 páginas SUMÁRIO CONTEúDO INTRODUTóRIO 1. APRESENTAÇÃO ............................................................................................... 9 2. GLOSSáRIO DE CONCEITOS ............................................................................ 17 3. EsquEma dos ConCEitos-ChavE ............................................................... 19 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 21 unidadE 1 – FILOSOFIA DA LINGUAGEM E SEUS OBJETIVOS 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 25 2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 25 2.1. LINGUAGEM, PENSAMENTO E MUNDO ................................................ 26 2.2. A LINGUAGEM IDEAL .............................................................................. 30 2.3. A LINGUAGEM COMUM ......................................................................... 38 3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 47 3.1. LINGUAGEM, PENSAMENTO E MUNDO ................................................ 48 3.2. A LINGUAGEM IDEAL .............................................................................. 48 3.3. A LINGUAGEM COMUM ......................................................................... 49 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 50 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 51 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 52 unidadE 2 – PRAGMáTICA E A TEORIADOS ATOS DE FALA 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 55 2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 56 2.1. DO PRAGMATISMO À PRAGMáTICA LINGUÍSTICA ............................... 56 2.2. IMPLICATURAS E MáxIMAS CONVERSACIONAIS ................................. 66 3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 69 3.1. DO PRAGMATISMO À PRAGMáTICA LINGUÍSTICA ............................... 69 3.2. IMPLICATURAS E MáxIMAS CONVERSACIONAIS ................................. 69 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 71 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 73 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 73 unidadE 3 – SEMIóTICA E TEORIAS DO TExTO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 77 2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 78 2.1. SIGNO E SIGNIFICAÇÃO .......................................................................... 78 2.2. PERCURSO GERATIVO DE SENTIDO ....................................................... 87 3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 93 3.1. SIGNO E SIGNIFICAÇÃO .......................................................................... 93 3.2. PERCURSO GERATIVO DE SENTIDO ....................................................... 94 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 94 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 96 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 96 unidadE 4 – INTRODUÇÃO À ANáLISE DO DISCURSO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 99 2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 101 2.1. SEMIOLOGIA, DISCURSO E IDENTIDADE ............................................... 101 2.2. LÍNGUA, DISCURSO E SOCIEDADE ......................................................... 102 3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 109 3.1. SEMIOLOGIA, DISCURSO E IDENTIDADE ...............................................109 3.2. LÍNGUA, DISCURSO E SOCIEDADE ......................................................... 110 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 111 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 112 6. E-REFERÊnCia .................................................................................................. 114 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 114 7 CONTEÚDO INTRODUTÓRIO Conteúdo Questões da Pragmática; objeto de estudo e história dos estudos pragmáti- cos. Introdução à análise do discurso. As materialidades discursivas. Semio- logia, discurso e identidade. Sociolinguística. Língua, discurso e sociedade: concepções de língua e linguagem. Semiótica.Teorias do texto. Bibliografia Básica FIORIN, José Luiz (Org.). Introdução à lingüística. II. Princípios de análise. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2004. ILARI, Rodolfo; GERALDI, João Wanderley. Semântica. 3. ed. São Paulo: ática, 1987. (Edição Princípios). LYONS, John. Linguagem e lingüística: uma introdução. Tradução de Marilda Winkler Averbug e Clarisse Sieckenius de Souza. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. Bibliografia Complementar BALDINGER, Kurt. Teoria semántica: hacia una semántica moderna. Madrid: Alcalá, 1970. BRÉAL, Michel. Essai de sémantique: science des significations. 6. ed. Paris: Hachette, 1925. BORBA, Francisco S. Uma gramática de valências para o português. São Paulo: ática, 1996. CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. 2. ed. São Paulo: ática, 1988. CARVALHO, José G. Herculano. Teoria da linguagem: natureza do fenômeno lingüístico e a análise das línguas. v. 2. Coimbra: Atlântica, 1974. CHOMSKY, Noam. Sintactic structures. Haia: Mouton, 1957. DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de português jurídico. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2000. DUBOIS, Jean et al. Dicionário de lingüística. São Paulo: Cultrix, 1978. GUIRAUD, Pierre. A semântica. Tradução e adaptação de Maria Elisa Mascarenhas. 4. ed. São Paulo: Difel, 1986. LEECH, Geoffrey. Semantics. Harmondsworth: Penguin, 1975. 8 © LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO LOBATO, Lúcia Maria Pinheiro. A semântica na lingüística moderna: o léxico. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. LOPES, Edward. Fundamentos da lingüística contemporânea. 14. ed. São Paulo: Cultrix, 1995. LYONS, John. Semântica. I. Tradução de Wanda Ramos. Lisboa: Presença, 1980. MARQUES, Maria Helena Duarte. Iniciação à semântica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990. MARTINET, André. Elementos de lingüística geral. 6. ed. Tradução de Jorge Morais- Barbosa. São Paulo: Martins Fontes, 1975. PALMER, F. R. A semântica. Tradução de Ana Maria Machado Chaves. Lisboa: Edições 70, 1979. POTTIER et al. Estruturas lingüísticas do português. 3. ed. São Paulo: Difel, 1975. ROCA-PONS, J. El lenguaje. 2. ed. Barcelona: Teide, 1975. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. 20. ed. Tradução de Antônio Chelini et al. São Paulo: Cultrix, 1995. Original: Cours de linguistique general. Paris: Payot, 1916. SANCHEZ MARQUEZ, Manuel J. Gramática moderna del español: teoria y norma. 2. ed. Buenos Ayres: EDIAR, 1982. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. O aspecto verbal no português: a categoria e sua expressão. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 1985. ULLMANN, Stephen. The Principles of semantics. Glasgow: Blackwell. ______. Semântica: uma introdução à ciência do significado. 4. ed. Tradução de J. A. Osório Mateus. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1977. É importante saber Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes: Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de saber. Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente sele- cionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibilizados em sites acadêmicos confiáveis. São chamados "Conteúdos Digitais Integradores" por- que são imprescindíveis para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referên- cia. Juntos, não apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementa- res) e a leitura de "navegação" (hipertexto), como também garantem a abrangência, a densidade e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigatórios, para efeito de avaliação. 9© LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 1. APRESENTAÇÃO Prezado aluno, seja bem-vindo! Você está iniciando o seu estudo de Linguística IV, no qual obterá as informações necessárias para o embasamento teórico da sua futura profissão e para as atividades que virão. Antes de consultar as unidades do seu material didático mediacional, acompanhe esse breve panorama sobre o desenvolvimento das ideias linguísticas, para que você possa, assim, compreender o contexto das teorias e conceitos que serão abordados nas próxi- mas unidades e o que eles representam no desenvolvimento das reflexões sobre a linguagem. História do pensamento sobre a linguagem A tradição ocidental de reflexão sobre a linguagem surge entre os milênios III e II a.C., na Grécia, quando babilônios e egíp- cios já possuíam tradições embrionárias, e chineses, indianos e árabes possuíam tradições bem estabelecidas sobre a linguagem (AROUx, 1998). Para alguns (MARTINS, 2007; WEEDWOOD, 2002), o pen- samento ocidental sobre a linguagem é mais tardio, tendo início com Platão, entre os séculos 5º e 4º a.C. Como a maior parte da ideias linguísticas contemporâneas tem origem nas reflexões gregas do século 5º a.C, começaremos por aí. Nesse período, as reflexões sobre a linguagem estavam ligadas à filosofia e, por- tanto, não constituíam um campo de conhecimento autônomo. No Crátilo, Platão discute se a linguagem tem origem na necessidade ou no costume, ou seja, se as palavras estão rela- cionadas à natureza ou à convenção. Essa obra expõe a ideia de que o Legislador, que criou as coisas no mundo, teve acesso às 10 © LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO ideias, ou seja, às formas verdadeiras, para criar a linguagem. Portanto, as palavras correspondem às realidades a que se re- ferem. Se algumas delas parecem mostrar o contrário é porque não foram bem formadas no início ou foram corrompidas pelo tempo. Assim, a linguagem para Platão diz respeito à natureza, passando para o campo da convenção devido a um erro originá- rio ou aos efeitos do tempo. Aristóteles destaca que a relação entre as palavras e coisas são indiretas, sendo que os signos es- critos derivam dos signos falados, os quais derivam das impres- sões da alma, que, por sua vez, são derivadas da aparência das coisas reais (WEEDWOOD, 2002). Nos séculos 3º e 2º, os estoicos e comentadores de Aristóte- les afirmam ainda que entre as impressões da alma e a fala havia mais um intermediário: o conceito, que é a noção elaborada pe- las pessoas sobre as impressões. São os estoicos que elaboram a diferença entre enunciados significativos dirigidos por um pensa- mento racional (logos) e enunciados articulados que não formam necessariamente um significado (léxis) (WEEDWOOD, 2007), uma distinção que será retomada por diversos linguistas e filósofos posteriores. As ideias gregas sobre gramática e linguagem foram a base da linguística latina. No entanto, os pensadores latinos afirma- ram a autossuficiência da frase como unidade significativa mais importante, enquanto para os gregos importava mais a expres- são de um significado em um contexto comunicativo. Veremos mais à frente que entre as definições de Frege está o contexto e, nas unidades posteriores, a importância que o contexto comuni- cativo adquire na análise Linguística.Na Idade Média, de acordo com Weedwood (2002), as gramáticas do Latim tiveram um caráter essencialmente prático, 11© LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO pois seu objetivo era ensinar o uso correto da língua franca dos eruditos europeus, sendo difundidas nas universidades e algu- mas com explicações em línguas vernáculas. A etimologia do pe- ríodo estava ligada à lógica e ao Latim, com preocupações essen- cialmente semânticas. Aroux (1998) lembra que a concepção de gramática grega foi transferida para o Latim e as gramáticas lati- nas serviram como modelo para as línguas vernáculas europeias, que, por sua vez, foram aplicadas a outras línguas do mundo por meio da Linguística. A reprodução desse modelo na análise de línguas de características diferentes produziu uma série de equí- vocos, já que nem todas as línguas possuem as mesmas funções e as codificam da mesma maneira. Esse processo de transferên- cias das gramáticas do Grego e do Latim para as ciências da lin- guagem ocorreu de modo parecido com domínio da matemática de Galileu e Descartes nas ciências naturais. O Renascimento marca uma mudança fundamental na for- ma como a linguagem passa a ser vista na tradição ocidental. É nesse período que surge o dicionário monolíngue, no qual, di- ferentemente das listas de palavras da Antiguidade ou da Idade Média, o falante encontra informações sobre sua própria língua. Essas informações também se referem à língua, sem ter como objetivo fornecer conhecimentos sobre os seres do mundo. É no Renascimento também que surgem as gramáticas modernas de línguas vernáculas, que são instrumentos que permitem "com- preender ou produzir os enunciados de uma língua natural" (AROUx, 1998, p. 12) e demonstrar que essas línguas também possuíam regularidades e regras como o Latim (WEEDWOOD, 2002). Segundo Weedwood (2002), a preocupação com as pro- priedades do mundo físico, característica da Idade Moderna (o 12 © LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO período pós-Renascimento), e o contato mais intenso com as tra- dições linguísticas árabe, hebraica e bizantina, também, levaram a uma maior atenção à morfologia, fonética e fonologia das lín- guas. Outra novidade desse período foi o conhecimento de uma maior diversidade de línguas a partir das Grandes Navegações e através de viajantes e missionários. Além das gramáticas do La- tim e das línguas vernáculas europeias, os estudiosos europeus passam a ter acesso a gramáticas de línguas como o japonês e o tupi e se interessam em categorizar e catalogar a diversidade das línguas do mundo. Nos séculos 17 e 18, surgem estudos sobre a filiação das línguas, que permitem nos séculos posteriores o desenvolvimento de teorias a respeito de uma origem comum, "proto-línguas", para diversos grupos de línguas. No século 19, com o contato dos europeus com as gramáticas do sânscrito, principalmente devido à colonização da Índia, há um grande de- senvolvimento dos métodos de análise linguística e nos meios para comprovar as teorias da linguística histórica, por exemplo, a fonética e o conceito de raiz. Se a diversidade das línguas do mundo levou os estudiosos europeus a se dedicar aos estudos das suas histórias e particularida- des, houve também uma grande preocupação com a universalidade do fenômeno linguístico. A partir do século 17, surgem a teoria da Língua Natural de J. Boehme, a língua artificial de J. Wilkins, a Gra- mática Geral de Port-Royal, a teoria da linguagem de Locke e dos enciclopedistas franceses, a teoria da linguagem de Herder etc., que foram tentativas, ligadas à filosofia, de estabelecer relações entre a linguagem e os processos mentais, de encontrar a origem da lingua- gem e buscar regularidades universais em todas as línguas. O século 19 assistiu ao desenvolvimento da filologia com- parativa, que, por meio de análises comparativas das seme- lhanças fonéticas entre cognatos de várias línguas e da análise 13© LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO das mudanças fonéticas dessas línguas, estabelece princípios evolutivos das mudanças linguísticas e de parentesco entre as línguas. É nesse momento que W. Jones desenvolve a teoria do indo-europeu, J. Grimm elabora as leis de mudança fonética das línguas germânicas e os neogramáticos defendem suas teorias da evolução das línguas. No século 19, a língua também passa a ser considerada um importante elemento da identidade dos povos, principalmente a partir da obra de W. von Humboldt, que, influenciado por Herder, relacionava língua e caráter nacional, ideia que será importante no século 20 para linguísticas relati- vistas, como o norte-americano B. Whorf. Humboldt também desenvolveu a ideia de que a língua é dinâmica, sendo antes um conjunto de regras que permite a criação de enunciados do que uma coleção desses últimos. Além disso, o filósofo e linguista alemão defendia que havia uma diferença entre a língua inter- na (significados, gramática, regras etc.) e língua externa (os sons moldados pela língua interna). As ideias de Humboldt foram im- portantes para o desenvolvimento posterior das teorias de lin- guistas como Saussure e Chomsky. No século 20, consolidam-se as ciências da linguagem, so- bre as quais apresentamos um panorama a seguir. As ciências da linguagem A linguística, herdeira das discussões sobre a linguagem dos períodos anteriores, mantém uma certa tensão entre o cará- ter universalista ou particularista na abordagem das línguas e da linguagem (WEEDWOOD, 2002). Na linguística moderna, convi- vem tanto teorias formais e abstratas sobre a linguagem, como o estruturalismo de F. de Saussure e a teoria da gramática gera- tiva de N. Chomsky, quanto abordagens que consideram a língua 14 © LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO como atividade social e que se preocupam com seu uso, como as teorias pragmáticas da linguagem e o funcionalismo linguístico. Há também teorias linguísticas que se dedicam tanto a aspectos particulares da linguagem quanto teorias que tentam estabe- lecer conhecimentos mais gerais, firmando pontes com outras ciências humanas e com a filosofia. Uma das correntes de pensamento linguístico mais influen- te do século 20 foi o estruturalismo. Sua versão europeia surge em 1916, com a publicação do Curso de Linguística Geral de F. de Saussure, que, para resumir brevemente, estabelecia duas dicotomias. A primeira é a oposição entre langue e parole, que respectivamente se referem ao sistema linguístico com as regu- laridades e padrões de formação em que se baseia a produção de enunciados em uma língua e os enunciados reais da língua. A segunda é a oposição entre forma e substância. A linguística estrutural influenciou estudos tanto fonológicos quanto sintá- ticos, além de ter influenciado o desenvolvimento do método estrutural em disciplinas como a antropologia, a teoria literária e a psicanálise. Outros representantes importantes do estrutu- ralismo europeu foram os linguistas da Escola de Praga, como N. Trubetzkoy e R. Jakobson, e da Escola de Copenhague, como L. Hjelmslev e J. Firth. O estruturalismo americano esteve muito ligado ao desen- volvimento da linguística nos Estados Unidos, onde havia centenas de línguas indígenas jamais descritas. Assim, a maior preocupa- ção dos linguistas americanos era desenvolver métodos de aná- lise de línguas pouco conhecidas e desvinculadas das categorias indo-europeias, já que muitas dessas línguas indígenas estavam desaparecendo antes mesmo de serem estudadas. Um dos prin- cipais representantes dessa abordagem foi F. Boas, linguista e an- tropólogo judeu-alemão radicado nos EUA. Seus discípulos, E. Sa- 15© LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO pir e L. Bloomfield, levaram adiante a linguística antropológica de Boas. Por sua vez, B. Whorf, aluno de Sapir, desenvolveu a teoria que ficou conhecida como "hipótese Sapir-Whorf", que defendia a determinação do pensamento e da percepção pela linguagem e, portanto, de que cada língua diferente determinava uma forma de pensamentoe de visão do mundo diferente. O trabalho de Bloom- field, por seu turno, defendeu uma perspectiva behaviorista da linguagem, ou seja, que renunciava a qualquer referência a cate- gorias mentais ou conceituais em nome da objetividade científica. Para Bloomfield, o significado, por exemplo, era somente a reação verbal a um estímulo. Na década de 1950, N. Chomsky desenvolve o conceito de gramática gerativa, que buscava criar meios de análise que levas- sem em conta os níveis superficiais e profundos dos enunciados. Se- gundo Chomsky, há uma diferença entre o conhecimento que cada pessoa tem das regras de uma língua, a competência, do uso dessa língua por essa mesma pessoa, o desempenho. Assim, o linguista americano defende que a linguística deve se ocupar não apenas dos usos da língua, através de enunciados registrados, mas também das suas regras subjacentes, pois "os falantes usam sua competência para ir muito além das limitações de qualquer corpus, sendo capa- zes de criar e reconhecer enunciados inéditos, e de identificar er- ros de desempenho" (WEEDWOOD, 2002, p. 133). Para Chomsky, a competência é um aspecto da capacidade psicológica humana. Sen- do assim, a linguística seria uma disciplina relacionada à psicologia e ao estudo do funcionamento da mente humana. Apesar de reformulada diversas vezes e de influenciar uma grande quantidade de trabalhos linguísticos contemporâneos, a gramática gerativa desencadeou uma série de reações que se tornaram abordagens importantes nas ciências da linguagem e que inspiraram, principalmente, abordagens funcionalistas e 16 © LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO pragmáticas da linguagem. De acordo com os funcionalistas, a língua desempenha diversas funções e sua estrutura é determi- nada, em grande parte, por essas funções (WEEDWOOD, 2002, p. 138). Na sintaxe funcional, considera-se que "a estrutura sin- tática da frase é em parte determinada pela função comunicativa dos vários constituintes e pelo modo como eles se relacionam com o contexto do enunciado" (WEEDWOOD, 2002, p. 143). Por fim, a pragmática, que será abordada em maiores de- talhes na Unidade 2, destaca o uso da língua pelos falantes. De- senvolvida nos seus primórdios por filósofos como J. Austin e H. Grice, enfatiza os fatores que regem as escolhas linguísticas na interação social e os efeitos dessas escolhas do falante sobre ou- tras pessoas, em vez de colocar o sistema abstrato da língua em evidência como fazem as correntes formalistas. Em uma pers- pectiva pragmática, portanto, leva-se em conta a língua nas in- terações sociais e o contexto extralinguístico dessas interações. Segundo S. Aroux (1998), a linguística, mais do que uma disciplina, é um conjunto de disciplinas científicas que se dedi- cam ao fenômeno da linguagem. Entre essas disciplinas estão a semântica, a fonética, a fonologia, a morfologia, a sintaxe, a semiótica/semiologia, a análise do discurso e a pragmática. Nas unidades seguintes, veremos os principais conceitos e problemas da pragmática, da semiótica, da semiologia e da análise do discurso. Além das disciplinas linguísticas, a lingua- gem também é objeto de interesse de campos de conhecimen- to interdisciplinares como a psicolinguística, a sociolinguística e a neurolinguística, além de possibilitar diálogos com outras disciplinas como a antropologia e a filosofia. 17© LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domí- nio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conheci- mento dos temas tratados. 1) Linguagem ideal: um sistema de regras e convenções que permitem certas combinações de símbolos que contam como frases significativas e bem formadas. Além disso, nessa concepção de linguagem, o signifi- cado de uma frase é determinado pelo significado das suas partes, as condições de verdade de uma frase declarativa é igual às condições de verdade dos seus constituintes (MIGUENS, 2007). 2) Linguagem ordinária ou comum: a linguagem nos seus contextos de uso, com suas ambiguidades, subjetivida- des, circularidades, comunicabilidade, componentes de uma língua natural. 3) Jogos de Linguagem: referem-se, segundo Wittgens- tein (1999), a tudo aquilo da linguagem que está próxi- mo dos jogos, como os padrões de ação, os equipamen- tos usados e mesmo os lugares onde as enunciações são feitas. 4) Enunciação: o ato de produzir enunciados, que são realizações linguísticas concretas 5) Atos de Fala: são manifestações intencionais que mo- dificam o mundo, mas são tipos especiais de ações, já que, por outro lado, são ações que só podem ser praticadas usando a linguagem, ou seja, são ações linguísticas. 18 © LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 6) Máxima Conversacional: o princípio geral que rege a comunicação é a cooperação, isto é, o falante sempre leva em conta o direcionamento da conversa em suas intervenções. Desse modo, sua contribuição conversa- cional corresponde ao que é exigido no momento da conversação, de acordo com a direção aceita na troca verbal na qual o falante está engajado. 7) Função semiótica: há uma função semiótica entre dois termos quando eles são solidários e não podem ser definidos um sem o outro. 8) Percurso Gerativo de Sentido: caminho de análise que corresponde às condições de produção e recepção do texto, dividida em três níveis: fundamental, narrativo e discursivo. 9) Gramática do Percurso Gerativo de Sentido: sintaxe e semântica do Percurso Gerativo de Sentido. Cada um dos níveis do Percurso possui uma gramática própria, indo do mais abstrato para o mais concreto, do mais simples ao mais complexo. 10) Semiologia: parte da Linguística que se encarrega das grandes unidades significantes do discurso. 11) Formação discursiva: aquilo que, numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determina o que pode e deve ser dito. 12) Materialidade discursiva: materialização de um discur- so, sendo que o discurso é a materialidade específica da ideologia e a língua é materialidade específica do discurso. 19© LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 3. EsquEma dos ConCEitos-ChavE Como você pode observar, o Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu conhecimento. Por exemplo, a Filosofia da Linguagem Ordinária inaugura a pos- sibilidade da análise e investigação da língua em contexto de uso, permitindo o surgimento de disciplinas como a Semiótica, a Pragmática Linguística, a Semiologia e a Análise do Discurso, que abandona a versão logicista da Filosofia da Linguagem e a compreende em sentido mais amplo. O desenvolvimento da Se- miologia, ou seja, o estudo dos signos na vida social indicado por Saussure ([1916] 2006), permitiu que a língua deixasse de ser do domínio do indivíduo e passasse a ser do interesse da Linguística pelo seu caráter social. 20 © LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO Figura 1 Esquema de Conceitos-chave de Linguística IV. 21© LINGUÍSTICA IV CONTEÚDO INTRODUTÓRIO 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUROUx, S. A filosofia da linguagem. Tradução de José Horta Nunes. Campinas: Editora da Unicamp, 1998. MARTINS, Helena. Três caminhos na filosofia da linguagem. In: BENTES, A. C.; MUSSALIN, F. Introdução à linguística: fundamentos epistemológicos. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2007. MIGUENS, S. Filosofia da linguagem: uma introdução. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2007. SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. Organizado por Charles Bally e Albert Sechehaye, coma colaboração de Albert Riedlinger. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, [1916] 2006. WEEDWOOD, B. História concisa da linguística. Tradução de Marcos Bagno. São Paulo: Parábola,2002. WITTGENSTEIN, L. Investigações filosóficas. Tradução de José Carlos Bruni. São Paulo: Nova Cultural, 1999. © LINGUÍSTICA IV 23 UNIDADE 1 FILOSOFIA DA LINGUAGEM E SEUS ObjETIVOS Objetivos • Identificar os principais conceitos e objetivos da filosofia da linguagem. • Refletir sobre o que é a linguagem a partir de diversas abordagens da his- tória da linguística e da filosofia. • Compreender o conceito de jogos de linguagem de Wittgenstein. Conteúdos • Panorama e conceito da filosofia da linguagem. • Principais conceitos e autores da filosofia da linguagem. • Conceito de jogos de linguagem de Wittgenstein. Orientações para o Estudo da Unidade Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir: 1) Não se limite ao conteúdo proposto nesta unidade; busque outras informa- ções em sites confiáveis e/ou nas referências bibliográficas, apresentadas ao final de cada unidade. Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engaja- mento pessoal é um fator determinante para o seu crescimento intelectual. 2) Busque identificar os principais conceitos apresentados; observe como di- ferentes autores em diferentes momentos pensaram sobre a linguagem e quais problemas os levaram a essas reflexões. 3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos nos Con- teúdos Digitais Integradores. © LINGUÍSTICA IV 25© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos 1. INTRODUÇÃO Em determinados momentos da história, a linguagem humana é submetida a práticas técnicas em algumas socieda- des, como a escrita, a codificação da retórica e as tentativas de descrevê-la. Problemas a respeito do que é a significação, qual a relação entre as palavras e as coisas e entre o pensamento e a linguagem ocuparam pensadores das mais diversas tendências, tanto na história da linguística quanto da filosofia. Nesta unidade, será apresentado um panorama da filoso- fia da linguagem, considerando as principais ideias que constitu- íram esse campo do conhecimento e que permitirão uma melhor compreensão das tradições e teorias linguísticas discutidas nas próximas unidades. Serão apresentados, portanto: 1) um breve histórico da reflexão sobre a linguagem na filo- sofia e nas ciências da linguagem na tradição ocidental; 2) os principais conceitos da filosofia analítica de Frege e Russell; 3) as reflexões de Wittgenstein sobre a linguagem como uso e jogos de linguagem; 4) as reflexões de Bakhtin sobre linguagem e ideologia; 5) uma breve apresentação das teorias de Maingueneau e Foucault, que serão abordadas na Unidade 3. 2. CONTEúDO BÁSICO DE REFERÊNCIA O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma su- cinta os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão integral é necessário o aprofundamento pelo estudo dos Conte- údos Digitais Integradores. 26 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos 2.1. linguagem, pensamento e mundo H. Martins (2007, p. 439-440) lembra que, desde o seu início, o pensamento sobre a linguagem se dedicou a perguntas como "As coisas têm uma essência fixa que nos transcende? Há verdades eternas? O homem pode ser sede de conhecimentos universalmente válidos?". Essas perguntas deram origens a vá- rias tentativas de respostas e a muitas outras perguntas. Porém, segundo Martins (2007, p. 442), para nos localizarmos entre es- sas várias respostas e perguntas, podemos identificar três pers- pectivas básicas sobre o que faz a linguagem: 1. "identifica parcelas da realidade"; 2. "representa acontecimentos mentais compartilhados entre falantes e ouvintes"; 3. "é usada ou vivenciada no fluxo das práticas e costumes de uma comunidade linguística, histórica e culturalmente determinada." Essas três perspectivas, que a autora chama, respectiva- mente, de realista, mentalista e pragmática não estão presentes apenas no discurso filosófico, mas também no senso comum sobre a linguagem (MARTINS, 2007). Por exemplo, quando fala- mos telefone, supomos que essa palavra identifica determinados objetos no mundo. Quando não encontramos as palavras certas para dizer uma ideia, consideramos que os significados são acon- tecimentos mentais a serem representados pela linguagem. Já quando falamos, por exemplo, beleza, percebemos que entre pes- soas de gerações e formações culturais diferentes pode haver uma grande diferença no seu emprego e significado. Mas, e se em vez de telefone, procurarmos pelos objetos no mundo identificados pelas palavras talvez, não ou fada? E se procurarmos pela ideia 27© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos expressa pela palavra cachorro? Ela parece dizer respeito a seres tão distintos quanto um Pastor Alemão e um Chiuahua? Como, apesar de identidades e formações tão diversas, somos capazes de entender o que os outros nos dizem e que entendam o que dize- mos? (MARTINS, 2007) Podemos, assim, dizer que a relação entre a linguagem, o pensamento e o mundo é a preocupação central da filosofia da linguagem. O que é filosofia da linguagem? Demos no item anterior uma definição dos problemas a que a filosofia da linguagem se dedica, mas, afinal, a filosofia da linguagem é uma teoria, um campo de conhecimento ou uma subdisciplina da Linguística ou da Filosofia? Qual a relação en- tre as ciências da linguagem e a filosofia da linguagem? S. Aroux (1998) apresenta uma série de definições possíveis para a filo- sofia da linguagem, que estão presentes em manuais, livros e disciplinas acadêmicas. Entre elas estão: 1) Reflexões sobre a natureza da linguagem anteriores à linguística positiva e autônoma. Portanto, inclui filóso- fos como Platão, Aristóteles e os pré-socráticos. 2) Reflexões de filósofos reconhecidos sobre a lingua- gem, como Platão, Heidegger, Nietzsche etc. 3) Reflexões sobre a natureza da linguagem e seu papel na experiência humana a partir de um ponto de vista estritamente filosófico, diferente da reflexão científica sobre esses problemas. 4) Discussões técnicas sobre os sistemas linguísticos ar- tificiais e abstratos, como os sistemas lógicos, levando em conta princípios universais e não a diversidade das 28 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos línguas naturais. Inclui-se aí a filosofia analítica, repre- sentada por Frege e Russell, por exemplo. 5) Discussões sobre a linguagem ordinária, em oposição aos modelos abstratos da lógica formal, especialmente na crítica à filosofia de Russell por Wittgenstein e as reflexões de Austin. 6) A linguística geral, que busca um número restrito de princípios firmes e seguros, baseados em uma ciência autônoma sobre as línguas e a faculdade da lingua- gem. Essa abordagem é defendida, por exemplo, por Hjelmslev. 7) A filosofia da linguística, que aborda questões surgidas nas ciências da linguagem a partir de uma abordagem filosófica, compreendida como separada do conheci- mento positivo, mas respeitando a validade dos co- nhecimentos positivos. A filosofia linguística é repre- sentada por autores como Cassirer, Henry e Chomsky. A abordagem adotada aqui irá considerar como filosofia da linguagem as reflexões filosóficas sobre a linguagem, especial- mente a partir do final do século 19 na tradição ocidental, que permitem compreender os princípios e problemas em questão nos debates da Linguística contemporânea e que serão aborda- dos nas unidades seguintes. Vamos nos centrar, portanto, na fi- losofia analítica e nas suas críticas. A filosofia da linguagem Trataremos nesta unidade dos conceitos da filosofia da lin- guagem que estabeleceram problemas aos quais os filósofos e linguistas contemporâneos têm se dedicado e que permitirão um panorama dos objetivos e questões fundamentais desse campo. 29© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos Seguindo Miguens (2007), podemos destacar três ideias funda- mentais que marcam a filosofia da linguagem contemporânea: 1) O princípio de arbitrariedade: segundo esseprincípio, a associação entre os sons, as marcas utilizadas para significar coisas e os significados é arbitrária, ou seja, não há relação intrínseca e necessária entre significa- dos e as manifestações físicas (sons, marcas etc.) que remetem aos significados e coisas. 2) O princípio fregeano do contexto: conforme esse prin- cípio, as palavras não significam isoladamente, apenas no contexto das frases. 3) O princípio da composicionalidade: segundo esse princípio, o entendimento do todo das frases depende do entendimento das suas partes. Além de seguirem esses princípios, do mesmo modo que as ciências da linguagem, as abordagens da filosofia da lingua- gem podem ser divididas, grosso modo, em duas categorias. A primeira enfatiza o caráter abstrato e sistemático da lin- guagem, dando prioridade à possibilidade da linguagem em per- mitir o conhecimento do que é verdadeiro e de métodos para sua análise que não dependam da linguagem comum. A essa abordagem chamaremos de filosofia da linguagem ideal e será representada pelas obras de Frege e Russell. A segunda abordagem diz respeito a uma análise do uso da linguagem pelos falantes vivendo no mundo, que chamare- mos de filosofia da linguagem comum e que será representada a seguir pelo pensamento de Wittgenstein, Bakhtin, Foucault e Maingueneau. 30 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos 2.2. a linguagem ideal De acordo com Miguens (2007), há uma tradição na filo- sofia da linguagem que procura utilizar meios formais para in- vestigar a natureza das línguas naturais. Nessa tradição são fundamentais a noção de condições de verdade e a noção de ve- rocondicionalidade. Considerando que a linguagem é: • um sistema de regras e convenções que permitem cer- tas combinações de símbolos que contam como frases significativas e bem formadas;e • que o significado de uma frase é determinado pelo sig- nificado das suas partes, as condições de verdade de uma frase declarativa é igual às condições de verdade dos seus constituintes. Desse modo, conhecer o significado de uma frase é conhe- cer em que condições essa frase seria verdadeira, e conhecer uma linguagem é poder estabelecer dedutivamente as condições de verdade de qualquer frase dessa linguagem. Essa perspectiva é chamada por Miguens (2007) de filosofia da linguagem ideal e é representada pela filosofia analítica, que tem como alguns dos seus principais pensadores Frege e Russell. Fique atento aos conceitos de sentido e referência em Frege e de denotação de Russell. Observe como a obra desses autores influenciam as discussões atuais sobre a linguagem nos materiais sugeridos nos conteúdos digitais integradores. A filosofia analítica de Frege Um dos fundadores da filosofia analítica e, também, da fi- losofia da linguagem contemporânea e da lógica formal foi Got- 31© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos tlob Frege. Desde o século 17, com a obra de Descartes, uma das marcas da filosofia moderna é a preocupação com as possibili- dades do conhecimento. No entanto, perguntas do tipo "conhe- cemos alguma coisa?", ou seja, questões epistemológicas, são consideradas por Frege como secundárias em relação à pergun- ta "como funciona a linguagem?". Segundo o filósofo, antes de nos questionarmos se sabemos algo, devemos compreender o funcionamento da linguagem, que é como exprimimos o conhe- cimento. Para o autor, a linguagem natural é um meio de expres- são e do pensamento e de acesso ao conhecimento, ainda que muitas vezes seja um meio que antes obscurece do que esclare- ce o pensamento. Assim, a importância da linguagem para o conhecimento e o pensamento, aliada à sua ambiguidade e imprecisão exigem, para Frege, que se elabore uma escrita conceptual. Essa escrita conceptual é uma linguagem formal, isto é, um sistema lógico que permite que nos livremos da vagueza das línguas naturais e seria para a linguagem comum aquilo que o microscópio é para olho. Nas situações que exigem uma análise detalhada e preci- sa da linguagem, a linguagem comum não é suficiente, como a observação a olho nu para as análises microscópicas. Frege é, então, um dos fundadores da lógica moderna. É importante notar que, apesar de apontar a importância da lógica e da linguagem, a preocupação central da filosofia de Frege é com a realidade que é pensada por meio da linguagem. Para o autor, uma verdade analítica é aquela justificável somen- te por meio de leis lógicas e definições, daí a denominação do campo de conhecimento que inaugura como filosofia analítica. A seguir, você conhecerá alguns dos princípios e questões da filosofia de Frege. 32 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos Sentido e Referência Como já havia sido adiantadonesta unidade, Frege ela- bora um dos princípios fundamentais da filosofia da linguagem contemporânea e que, apesar de hoje parecer óbvio, causou uma verdadeira revolução conceptual. Trata-se do princípio do contexto. De acordo com esse princípio, as palavras significam apenas no contexto de frases, nunca isoladamente, ainda que o primeiro passo para a compreensão da estrutura lógica de uma frase seja a compreensão da estrutura das suas partes. Isso está relacionado com a própria estrutura do pensamento, que se ex- pressa em frases. Lembre-se de que a questão "qual o contexto mais im- portante na análise da linguagem?" é discutida por vários pen- sadores e escolas de pensamento. Platão considera a palavra, e sua etimologia, como fonte de significado, pois eram criações do Legislador. A tradição gramatical grega clássica considerava que os significados só faziam sentido no texto. A tradição lati- na, por sua vez, tomava a frase como unidade de significação autossuficiente. A filosofia analítica do final do século 19 e iní- cio do século 20 estabeleceu a proposição, ou seja, a frase que afirma uma verdade, como o contexto fundamental da signifi- cação. Como você verá no final desta unidade e nas unidades seguintes, para alguns autores contemporâneos o contexto de significação mais relevante pode ser o contexto do discurso, da enunciação, da comunicação etc. Vejamos esse princípio do contexto em ação observando um dos pontos mais importantes da filosofia de Frege. Um dos problemas enfrentados pelo autor, e posteriormente também por Russell, é a relação dos termos singulares com a realidade. 33© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos Os termos singulares são "expressões linguísticas que permitem identificar objetos particulares no mundo" (MIGUENS, 2007, p. 91). Entre esses termos estão os nomes próprios. Segundo Frege, existem dois tipos de entidades: funções e objetos. As funções são incompletas, dependendo de outras entidades para sua exis- tência. A categoria dos objetos inclui objetos físicos (como me- sas, cadeiras), entidades mentais (representações) e entidades abstratas não situadas no tempo e no espaço (como números, a verdade). Os nomes próprios nomeiam entidades dessa segunda categoria. No entanto, a relação entre os nomes próprios e os ob- jetos não é simples. Para demonstrar um dos problemas dessa relação, o problema da identidade, Frege propõe que se pense o seguinte: as frases "A estrela da manhã é a estrela da tarde" e "A estrela da manhã é a estrela da manhã" são diferentes, ou seja, as identificamos como duas frases. Porém, tanto "estrela da ma- nhã" quanto "estrela da tarde" são nomes para o planeta Vênus, ou seja, designam o mesmo objeto. Dito de outro modo, mesmo que a seja o mesmo que b, dizer que a=a não é o mesmo que di- zer que a=b. Como isso é possível? Esse problema da identidade com nomes próprios, conhecido como o quebra-cabeçade Frege, levou o autor a fazer uma distinção entre sentido e referência. Segundo Frege "o nome próprio exprime um sentido e de- signa uma referência" (apud MIGUENS, 2007, p. 94). Para ele, não é a referência que determina o sentido, mas o sentidoque determina a referência. No exemplo anterior, temos que a refe- rência tanto de "estrela da tarde" quanto de "estrela da manhã" é o planeta Vênus. Portanto, segundo Frege, quem determina "Vênus" são os sentidos de "estrela da tarde" e "estrela da ma- nhã". É assim que um objeto pode ser designado por mais de um nome próprio, pois mesmo que o objeto seja único, os sentidos 34 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos que fazem referência a ele e o determinam podem ser vários. Não há equivalência direta entre o sentido de uma frase e sua referência. Disso, segue a afirmação de Frege de que o sentido não é uma representação mental, mas na realidade fornece um critério de identificação da referência. Frege define que o pensamento é o sentido das frases, ou seja, o conteúdo que é expresso em um enunciado. A referên- cia é o seu valor de verdade. O autor defende que para adquirir conhecimento, o sentido de uma frase é tão importante quanto seu valor de verdade. É por isso que se o sentido de a é diferente do sentido de b, o sentido de a=a é diferente do sentido de a=b, mesmo que se refiram ao mesmo objeto no mundo. A relação entre pensamento e verdade, portanto, não é a relação entre o sentido e a referência, mas entre o sujeito e o predicado. Assim, a relação entre a e b é tão importante quanto a relação que a e b possuem com algum objeto no mundo. O atomismo lógico Para Russell, diferente de Frege, as questões epistemológi- cas são fundamentais para a reflexão sobre a linguagem. Segun- do o filósofo britânico, a análise lógica da linguagem permite que se observe a própria forma lógica, a qual corresponde à estrutura da realidade. Assim, a análise lógica da linguagem comum, cuja estrutura superficial não é clara, permite o acesso à estrutura profunda, e real, da linguagem e do mundo, já que esse último é formado por átomos lógicos. A ideia de atomismo lógico de Russell considera que os termos simples na linguagem correspondem a átomos lógicos. Os átomos lógicos, por sua vez, compõem os fatos, que podem ser expressos por proposições completamente analisadas. A es- 35© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos ses átomos correspondem dados dos sentidos, aos quais se têm acesso direto por meio do contato. Portanto, trata-se de uma teoria empirista do conhecimento, ou seja, ela considera que o acesso ao que existe no mundo se dá pelos sentidos, não apenas por processos mentais. Mas se o que existe no mundo pode ser acessado pelos sentidos, qual a importância da análise da linguagem e da lógica? Ou para dizermos em outros termos, qual é para Russell a rela- ção entre a linguagem, o pensamento e o mundo? Vamos, então, acompanhar a definição de cada um desses termos para Russell e observar a relação estabelecida entre eles. Para Russell, o conhecimento ocorre por contato. De acor- do com o princípio docontato "só podemos considerar que com- preendemos uma proposição se ela for inteiramente composta por constituintes com os quais estamos em contato" (MIGUENS, 2007, p. 108). E o contato se dá com dados dos sentidos ou com propriedades exemplificadas por dados dos sentidos. Por exem- plo, a propriedade de "ser vermelho": ainda que não seja dada pelos sentidos, alguns dos nossos dados do sentido possuem a "propriedade de ser vermelho". Desse modo, os átomos lógicos que compõem o mundo, segundo Russell, são entidades espaço- temporais concretas, propriedades e relações. A estrutura real da linguagem é revelada, de acordo com Russell, pela análise lógica. Nessa estrutura, os elementos já não são mais analisáveis e, assim, correspondem à realidade extralin- guística. À estrutura da linguagem analisada, ou seja, à estrutura da linguagem comum parafraseada em uma linguagem logica- mente perfeita, corresponde a realidade do mundo. Portanto, a análise lógica, ao revelar a estrutural real da linguagem, revela o mundo. Mas, então, o que significa essa análise lógica a que a 36 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos linguagem deve ser submetida? Vamos ver o método de Russell por meio da sua discussão sobre a referência e a denotação. Referir e denotar Afirmamos anteriormente que, para Russell, o conhecimen- to é possível pelo contatocom os dados do sentido. No entanto, é importante ressaltar que esses dados dos sentidos são diferentes dos objetos físicos. Nomes próprios na linguagem comum, como "João", "Maria" ou "Ribeirão Preto" não representam dados dos sentidos. Esses últimos são representados por termos simples, ou seja, nomes analisados logicamente. Os nomes próprios permitem o acesso a objetos físicos apenas de modo indireto ou por des- crição. Portanto, nomes próprios na linguagem comum não per- mitem um conhecimento confiável como os termos analisados. Segundo, Russell, apenas o nome "João" não garante a existência daquilo que ele indica. Por considerar que os conceitos de sentido e referência criados por Frege não são suficientes, Russell criou a Teoria das Descrições Definidas. De acordo com essa teoria, denotar e refe- rir estabelecem relações distintas e alguns nomes próprios são na realidade descrições. Comecemos pelo segundo ponto para compreendermos o primeiro. Considere a seguinte frase: "Aristóteles é um filósofo co- nhecido". O nome próprio "Aristóteles", apesar de na linguagem comum poder ser considerado como um nome próprio, esconde uma descrição. "Aristóteles" poderia ser substituído por "o dis- cípulo de Platão", "o autor da Poética", "o grande filósofo gre- go" etc. O mesmo acontece se disséssemos que "Brasília é uma cidade grande". "Brasília" poderia ser substituído por "a capital do Brasil", "a cidade onde mora o Presidente da República" etc. 37© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos Seguindo esse raciocínio, os nomes próprios na linguagem não são termos simples que se referem diretamente a objetos que existem, mas escondem descrições que permitem uma referên- cia apenas indireta a esses objetos. Observe agora o próximo exemplo, que chamaremos de frase A, adaptado de um exemplo dado pelo próprio Russell: "O autor de Dom Casmurro é carioca". Na linguagem comum, trata- -se de um sujeito (O autor de Dom Casmurro) e do seu predicado (é carioca),afirmando que Machado de Assis era carioca. No en- tanto, para Russell, uma frase é a abreviação de uma construção complexa com diversos quantificadores. Essa frase, na realidade, abrevia três afirmações, das quais nenhuma se refere especifica- mente a Machado de Assis. As três afirmações são: 1) pelo menos uma pessoa foi o autor de Dom Casmurro; 2) no máximo uma pessoa foi o autor de Dom Casmurro; 3) quem quer que tenha sido o autor de Dom Casmurro, era carioca (no material digital integrador você poderá conferir a notação lógica sugerida por Russell para ex- pressar essas três afirmações). Observe que se em A, "o autor de Dom Casmurro" parecia se referir a uma pessoa existente, Machado de Assis, após ser analisada logicamente vemos que nenhuma das afirmações a-c, abreviadas por A, se referem a uma pessoa em particular. Assim, Russell demonstra que nomes próprios não se referem, apenas denotam. Apenas termos singulares que se mantém após a aná- lise lógica se referem a objetos existentes. A diferença semântica entre denotar e referir está, portan- to, nas diferentes relações que estabelecem entre o sentido de uma frase específica e objeto existente a que está relacionada. As descrições definidas, escondidas sob nomes próprios na lin- 38 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos guagem comum, referem-se de forma indireta aos objetos, de- notando-os quando os termos dos seus predicados (no caso de A, as afirmação de a a c) se relacionam com objetos existentes. Os termos singulares, ou seja, os nomes próprios logicamen- te, se referem a objetos existentes. Assim, nomes próprios na linguagem comum podemse relacionar a seres não existentes como "Papai Noel" ou "fadas" e fazerem sentido mesmo assim. Já termos singulares só fazem sentido se se referirem a objetos existentes. Observe como a análise da linguagem proposta por Rus- sell se relaciona com a busca da possibilidade de conhecimen- to do mundo por meio da linguagem e o papel que a diferen- ça entre a linguagem formal (a lógica) e as línguas naturais (a linguagem comum) desempenha nessa proposta. Veja como a Teoria das Descrições Definidas responde aos problemas re- lacionados à possibilidade do conhecimento segundo a visão que Russell propõe sobre o que é o mundo, o que é a lingua- gem e o que é o pensamento. 2.3. a linguagem comum Diferentemente dos pensadores apresentados na seção anterior "Filosofia da linguagem ideal", alguns pensadores de- fendem que a abordagem lógica oculta características importan- tes das línguas naturais (MIGUENS, 2007). De acordo com esses pensadores, que elaboraram uma filosofia da linguagem co- mum(filosofia da linguagem ordinária), o ponto fundamental da análise da linguagem é que não se pode falar de noções como re- ferência e verdade abstraindo-se o uso e o contexto. Essa é uma perspectiva inaugurada por Wittgenstein em Investigações Filo- 39© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos sóficas, também desenvolvidas nas obras de J. Austin e P. Grice, e que tem alimentado boa parte das reflexões contemporâneas sobre a linguagem. A seguir, acompanharemos a discussão de Wittgenstein a respeito da filosofia da linguagem ordinária, ob- servando a aproximação que esse pensador faz entre linguagem e atividade com o conceito de jogos de linguagem. Além disso, serão apresentadas algumas ideias sobre perspectivas discursi- vas sobre a linguagem e da filosofia da linguagem de Bakhtin. A linguagem como uso nas Investigações Filosóficas de Wittgenstein A obra de Wittgenstein pode ser dividida, de modo geral, em duas partes: a primeira representada pelo Tractatus Logi- co-Philosophicus, publicado na década de 1920, e que inspirou posteriormente o positivismo lógico; a segunda é representada pelas Investigações Filosóficas, elaborada durante a década de 1930, mas publicada postumamente na década de 1950. Trata- remos aqui da segunda fase da obra de Wittgenstein, que repre- senta uma ruptura com o modo como a linguagem foi considera- da na filosofia analítica. De acordo com Miguens (2007, p. 144), entre as principais afirmações contidas nessa obra estão: 1) o significado é o uso; 2) não há uma essência da linguagem; 3) a linguagem não tem uma função central que seria a função representativa; o significado não é algo absolutamente de- terminado antes de acontecer pensamento/linguagem; 4) conceitos são semelhanças de família e não 'áreas clara- mente delimitadas'; 5) a lógica não revela a essência da linguagem nem tem que existir apenas uma lógica; a lógica é antes um jogo de lin- guagem com determinado propósito; 40 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos 6) 'jogo' e 'regras' são noções essenciais para compreender o significado e a compreensão; 7) é impossível seguir regras privadamente; significar é uma prática pública de seguir-regras; 8) assim sendo, mente, inteligência e querer-dizer não são 'coi- sas dentro da cabeça das pessoas'. Podemos observar que as propostas de Wittgenstein se afastam bastante das que vimos anteriormente com Frege e Russell. Em vez de considerar a linguagem de um ponto de vis- ta abstrato e ideal, Wittgenstein propõe que a observemos no seu uso e como um instrumento para propósitos determinados. Além disso, temos com Wittgenstein uma filosofia que abre es- paço para o pluralismo na linguagem, uma vez que se não há uma linguagem privilegiada para se ter acesso ao mundo, cada linguagem é apenas mais uma forma de perspectivar esse mun- do (MIGUENS, 2007, p. 128-129). Dos pontos expostos anterior- mente, vamos acompanhar com mais detalhes a aproximação que o autor faz entre os jogos e a linguagem com o conceito de jogos de linguagem, e que demonstra o funcionamento da filo- sofia nas Investigações Filosóficas. Jogos de linguagem Wittgenstein não oferece uma definição dos jogos de lin- guagem, mas dá exemplos de como esses jogos funcionam e faz comparações que esclarecem sua natureza. Acompanhemos al- guns desses exemplos. Logo no início de As Investigações Filosóficas, Wittgenstein (1999) apresenta o seguinte exemplo de uso da linguagem: se uma pessoa pede que alguém faça compras e lhe dá uma lista onde está escrito "cinco maçãs vermelhas", o comerciante que 41© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos recebê-la pode procurar por cada significado correspondente às palavras da lista e, assim, encontrar os objetos a que esses sig- nificados estão relacionados. Se as palavras são significados que designam objetos, esse procedimento deveria ser bem-sucedi- do. Porém, Wittgenstein (1999) descreve que se o comerciante do exemplo procurar a gaveta onde estão as "maçãs", a cor cor- respondente a "vermelho" em uma tabela de cores e o numeral correspondente a "cinco" em uma sequência de numerais (que ele pode ter até mesmo decorado), isto é, procurar os objetos correspondentes a cada significado, ele não estará fazendo nada além de agir segundo certas instruções. O comerciante usaria as palavras para encontrar as "cinco maçãs vermelhas" e fazer sua venda. Outro exemplo usado para discutir a ideia de que as pala- vras servem para que as pessoas indiquem objetos umas para as outras está no trecho em que o filósofo pede ao leitor que imagine a seguinte situação: o construtor A e seu ajudante B es- tão construindo um prédio com pedras. À disposição deles estão blocos, colunas, lajes e vigas. Para que a construção funcione e B possa lhe dar os materiais na ordem necessária, A grita as pala- vras correspondentes a cada material e B lhe traz o que precisa. É um tipo de comunicação útil para essa situação e para o objeti- vo dos envolvidos nela. Porém, esse tipo de linguagem pode ser útil para determinadas situações, mas não esgota todos os usos possíveis da linguagem. Para Wittgenstein (1999), pode-se dizer que movimentar coisas seguindo determinadas regras (como o comerciante e os construtores dos exemplos com as maçãs e os materiais de construção) é o mesmo que jogar, pois assim funcio- nam os jogos de tabuleiro, por exemplo. Porém, nem todo jogo é um jogo de tabuleiro. 42 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos Quando uma criança está aprendendo sua língua materna, com os pais ou um professor, ela repete o que o professor diz e cria representações mentais a partir daquilo que o professor mostra ou aponta enquanto pronuncia os sons correspondentes àquela palavra. Ela não está usando as palavras para um objetivo parecido com os do comerciante e dos construtores, ela está no- meando coisas. Trata-se de outro jogo de linguagem. Ainda que as palavras possam ser parecidas no seu funcio- namento, estrutura, etc., como defende uma concepção forma- lista como a de Frege e Russell, por exemplo, elas podem possuir funções muito distintas. Wittgenstein (1999) compara as palavras com as alavancas dentro da cabine de uma maquinista. Apesar das alavancas serem todas parecidas, algumas são acionadas puxan- do, abaixando ou levantando, girando etc., e executam ações di- ferentes. Com as palavras aconteceria o mesmo. Ainda que sejam parecidas na superfície, funcionam de modos diferentes e para fins diferentes. Wittgenstein (1999) lembra que, no entanto, a mesma pa- lavra ou expressão ainda pode indicar coisas diferentes. No caso dos construtores A e B, por exemplo, se A diz "Cinco lajotas" para B, ele pode estar fazendo um comunicado, uma afirmação, ou fazendo uma pergunta, dependendo do tom em que as palavras são ditas, suas expressões faciais ou outros elementos acresci- dos à situação. Ainda assim, mesmo queas expressões faciais, o tom e tudo o mais fosse mantido, "cinco lajotas" poderia indicar diversas intenções, que não estão nas palavras por si só. Essas intenções podem ser chamadas de papéis que desempenham no jogo de linguagem. Esses papéis se alteram, são abandonados, criam-se etc. Os jogos de linguagem, para Wittgenstein (1999), possuem uma imensa variedade, da qual é difícil até mesmo pre- ver a extensão. 43© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos De acordo com David Stern (2006), que foi aluno de Witt- genstein, o termo jogos de linguagem é aplicado pelo autor em praticamente qualquer atividade que envolva a linguagem e a in- teração humana, como, por exemplo, dar ordem e segui-las; des- crever um objeto ou dar suas medidas; construir um objeto a partir da sua descrição; relatar um evento; especular sobre um evento; formar e testar uma hipótese; criar uma história e contá-la; atuar; resolver charadas; contar uma piada; traduzir de uma língua para outra; pedir, agradecer, xingar, cumprimentar, rezar etc. Como o autor considera os jogos de linguagem uma forma de vida, tanto a linguagem quanto as atividades que envolvem o seu uso são consideradas de modo amplo. Os jogos de lingua- gem, portanto, dizem respeito não apenas a enunciar palavras, mas a tudo aquilo que está próximo disso, como os padrões de ação, os equipamentos usados e mesmo os lugares onde essas enunciações são feitas. D. Stern (2006) chama atenção para o fato de que a linguagem para Wittgenstein não é um cálculo sis- temático feito a partir de regras bem definidas, mas uma ativi- dade prática que, mesmo que envolva regras, não é determina- da por elas. Além disso, a aproximação entre jogos e linguagem significa, antes do que afirmar que a linguagem é um jogo, uma tentativa de estabelecer uma comparação entre a linguagem e os jogos, destacando, assim, que a linguagem é uma atividade, que é diversa e que possui certo conjunto de regras. O uso da palavra jogo, "Spiel" no original em alemão, por Wittgenstein é discutido pelo filósofo. De acordo com J. Taylor (1995), ao contrário da concepção clássica, segundo a qual deve- ria haver uma categoria de fronteiras claras que delimita o que são e o que não são jogos, de acordo com uma lista de critérios e propriedades dos membros dessa categoria, Wittgenstein enfatiza sua utilidade na comunicação. Ele dá o seguinte exemplo: o que 44 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos há em comum entre os Jogos Olímpicos, jogos de cartas, jogos de tabuleiro, jogos de bola (como futebol, basquete, vôlei etc.)? O que há de comum entre o basquete e o truco? Poderíamos dizer que jogos têm em comum a competição. Porém, jogos não são sempre competitivos: quando alguém joga Paciência ou se uma criança está arremessando uma bola na parede não está jogan- do contra ninguém. Poderíamos dizer também que todos os jogos exigem habilidades semelhantes, mas as habilidades necessárias para praticar tênis e xadrez, por exemplo, são muito distintas. Ou ainda, o que há de comum entre a amarelinha, por exemplo, e es- ses outros jogos? Para Wittgenstein, o que torna todos esses jogos parte da categoria jogo é uma semelhança de família. Do mesmo modo que reconhecemos pessoas da mesma famí- lia por terem algumas ligações e semelhanças que não sabemos enu- merar exatamente, reconhecemos algumas atividades comojogos. Sabemos que algo é ou não um jogo se nos é dado um exemplo a ser comparado com outrosjogos que conhecemos. A aproximação entre linguagem e jogos no conceito de jogos de linguagem é desse tipo. Desse modo, diferentemente dos modelos lógicos abstratos, os jogos de linguagem destacam o uso da linguagem comum e a aproximação a casos concretos desse uso. Essa abordagem permite que se observe como a linguagem funciona, em vez de como deveria funcionar. Observe a diferença entre as concepções de linguagem da filosofia analítica e da filosofia de Wittgenstein. Fique aten- to a que elementos envolvidos no uso da linguagem são re- levantes para Frege e Russell, por um lado, e para Wittgens- tein, por outro. Note, também, como o que a filosofia analítica considera como o problema da filosofia da linguagem não é o mesmo que o considerado por Wittgenstein. 45© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos Língua e ideologia em Bakhtin A obra de Bakhtin, contemporâneo de Wittgenstein, tam- bém exerceu grande influência sobre o pensamento linguístico e filosófico do século 20. Essa influência se mantém no pensamen- to contemporâneo. A obra do pensador soviético, de recepção tardia no Ocidente, antecipou várias das ideias desenvolvidas pela sociolinguística, pela análise do discurso e pela pragmáti- ca linguística. Bakhtin critica duas tendências fundamentais da tradição ocidental de reflexão sobre a linguagem (WEEDWOOD, 2002): a primeira diz respeito ao subjetivismo idealista, ou seja, a ideia de que a língua é uma atividade mental que tem como fonte o psiquismo individual; a segunda se refere ao objetivismo abstrato, que afirma que a língua é um sistema de regras abstra- to e que ignora a produção individual dos falantes em favor da construção de um construto teórico abstrato e homogêneo. O autor propõe, então, que a língua seja considerada como uma atividade social, baseada nas necessidades da comunica- ção. Bakhtin destaca a fala ea enunciação, que não podem ser separadas das suas condições de comunicação e das estruturas sociais a que estas últimas estão relacionadas. Todo signo linguístico é, para Bakhtin, um signo ideológi- co,isso significa que este está relacionado a estruturas sociais e relações de poder. Desse modo, o autor considera que "a variação é inerente à língua e reflete variações sociais" (WEE- DWOOD, 2002, p. 152). As mudanças da língua, portanto, não seguem apenas uma dinâmica interna, mas a uma dinâmica que diz respeito ao mundo social. Além disso, segundo a filosofia da linguagem de Bakhtin, a língua só é possível no diálogo, ou seja, na comunicação. Por isso, a linguagem sempre diz respei- to a um processo social, e não a atividades individuais. Mesmo 46 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos que de modo potencial, sempre temos um interlocutor. Mesmo as atividades mentais possuem um "horizonte social", ou seja, um destinatário socialmente definido. Se, como afirma Bakhtin, a linguagem condiciona o pensamento, a consciência também é condicionada pela ideologia. Isso porque mesmo a mente é construída socialmente. Observe como os contextos de enunciação são tratados por Bakhtin e Wittgenstein. Bakhtin chama atenção para o caráter social e ideológico da linguagem, acrescentando aos elementos relevantes para o pensamento sobre a linguagem a reflexão sobre relações de poder dentro de estruturas sociais. Foucault e o discurso Uma das principais questões presentes na obra de M. Fou- cault é investigação da "emergência de conceitos, instituições e técnicas que caracterizam a cultura e as formas de vida moderna ocidentais" (MIGUENS, 2007, p. 246). Assim, Foucault dedicou- -se, por exemplo, à pesquisa de como determinados indivíduos na sociedade moderna passaram a ser classificados como loucos (e certas práticas e condutas classificadas como loucura) e um conjunto de conhecimentos, práticas e instituições foram criadas para tratar desses indivíduos, ou de como o controle de si foi objeto de técnicas e conceitos na história da sexualidade moder- na, ou ainda como se constituíram as ciências humanas moder- nas. Foucault praticou um tipo de filosofia, que tem inspiração em Nietzsche, arqueológica, ou seja, que "procura especificar as condições que tornaram historicamente possível falar de uma determinada maneira acerca de um determinado assunto (por exemplo a loucura, ou a sexualidade) (MIGUENS, 2007, p. 246). 47© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos A arqueologiade Foucault é feita mediante a investigação de práticas discursivas, que são regras, determinadas no tempo e no espaço, e que definem a condições do discurso em uma determi- nada época, socialmente, economicamente, geograficamente e lin- guisticamente (PAVEAU; SAFARTI, 2006). Essas práticas discursivas são anônimas e históricas, e mantêm relações entre si e fenômenos não-discursivos, segundo Foucault. Voltaremos às teorias do discur- so e à obra de M. Foucault com mais detalhes na Unidade 3. A linguística enunciativa de Maingueneau Para D. Maingueneau, a enunciação desempenha um pa- pel fundamental na relação entre a língua e o mundo (PAVEAU; SAFARTI, 2006). Você conhecerá melhor as ideias de Mainguene- au e da linguística enunciativa nas próximas unidades, mas entre as principais reflexões do autor sobre a linguagem e que diz res- peito à relação entre linguagem, pensamento e mundo, estão: 1) os gêneros discursivos limitam a enunciação de várias for- mas, não sendo a enunciação, portanto, limitada apenas pela apropriação que o indivíduo faz da língua; 2) a enunciação ocorre na interação, dependendo, assim, de mais de um indivíduo; 3) a enunciação nem sempre está a cargo do indivíduo que fala (PAVEU; SAFARTI, 2006). 3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição necessária e indispensável para você compreender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade. 48 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos 3.1. linguagem, pensamento e mundo Confira nos textos e no vídeo a seguir algumas informações complementares sobre a relação entre filosofia e ciências da lin- guagem, que não foram abordadas nesta unidade. • NETO, José Borges. História da linguística no Brasil. Dispo- nível em: <http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/ edicoesanteriores/4publica-estudos-2005/4publica-es- tudos-2005-pdfs/1-convidado-borges.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014. • NEVES, Maria Helena de Moura. A linguística na gra- mática. Disponível em: <http://www.youtube.com/ watch?v=6w3UWaOEjHo>.Acesso em: 28 mar. 2014. • RODRIGUES, Rômulo da Silva Vargas. Saussure e a defi- nição da língua como objeto de estudos. Disponível em: <http://www.revel.inf.br/files/artigos/revel_esp_2_ saussure_e_a_definicao_de_lingua.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014. 3.2. a linguagem ideal Nos textos a seguir, você encontrará alguns detalhes sobre o trabalho de Russell e Frege, além de alguns dos exemplos uti- lizados pelos próprios autores nas suas obras para discutir seus conceitos. • COSTA, Jaaziel de Carvalho. A teoria das descrições de Russell a partir de On Denoting: uma explanação. Dis- ponível em: <http://www.revistafundamento.ufop.br/ Volume1/n2/vol1n2-9.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014. 49© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos • BARBOSA, Marinalva Vieira. A relação entre sentido e referência a partir do olhar de Frege. Disponível em: <http://www.primeiraversao.unir.br/atigos_pdf/nume- ro130Marinalva.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014. • COSTA, Claudio F. Teorias descritivistas dos nomes pró- prios. Disponível em: <http://www.ufpel.edu.br/isp/ dissertatio/revistas/30/08.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014. • Entrevista de Bertrand Russell à BBC em 1959. Disponível em: <http://www.youtube.com/ watch?v=Ut7drCi2mts>. Acesso em: 28 mar. 2014. 3.3. a linguagem comum Veja os textos a seguir e observe algumas leituras possíveis das teorias de Wittgenstein e Bakhtin, além da possibilidade de relação entre as ideias dos dois autores. • AQUINO, Fernando Lopes de. Conceitos e semelhanças de família em Wittgenstein: uma leitura das Investiga- ções Filosóficas. Disponível em: <http://www.marilia. unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Kinesis/fernando- lopesdeaquino50-61.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014. • SILVA, Renata. Linguagem e ideologia: embates teó- ricos. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ld/ v9n1/a08v9n1.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014. • NASCIMENTO, Maria Eliza Freitas do; SANTOS, Ivanaldo. Bakhtin e Wittgenstein: teorias em diálogo. Disponível em: <http://www.theoria.com.br/edicao0310/ bakhtin_e_wittgenstein.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014. 50 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seudesempenho. Se encontrar dificuldades em res- ponder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas. 1) As afirmações a seguir dizem respeito às questões pertinentes à filosofia da linguagem, exceto: a) A filosofia da linguagem pode ser feita por filósofos, linguistas ou qual- quer um que se proponha a refletir sobre a linguagem. b) A filosofia da linguagem se dedica ao estudo da escrita correta de acor- do com as regras gramaticais. c) A filosofia da linguagem pode investigar o funcionamento das lingua- gens formais e das linguagens naturais. d) A filosofia da linguagem pode abarcar perspectivas mentalistas, realis- tas e pragmáticas da linguagem. 2) Qual das afirmações a seguir sobre as ciências da linguagem está incorreta? a) É diferente da filosofia da linguagem, pois se dedica ao estudo da di- versidade das línguas. b) Seu desenvolvimento é resultado do encontro de diversas tradições. c) Estruturalismo, relativismo e pragmatismo se referem a abordagens das ciências da linguagem. d) A linguística é uma ciência autônoma, mas capaz de estabelecer pon- tes com outras ciências e a filosofia. 3) A partir das ideias de Frege sobre a linguagem apresentadas nesta unida- de, pode-se afirmar que: a) O sentido é que garante a existência do mundo. b) A linguagem deve ser a principal questão para a filosofia. c) A análise da linguagem só é possível com uma escrita conceptual. d) Uma palavra possui o mesmo significado em qualquer frase. 4) Uma das principais questões da filosofia da linguagem diz respeito às re- lações entre linguagem, pensamento e mundo. Segundo Russell, qual o papel da linguagem formal para o conhecimento do mundo? a) É capaz de revelar a estrutura do mundo. b) Esconde descrições sob nomes próprios. 51© LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos c) Permite uma representação concisa da realidade. d) É abstrata demais para o uso. 5) Em As Investigações Filosóficas, Wittgenstein afirma que a linguagem: a) é a estrutura que delimita o conhecimento do mundo. b) é apenas um jogo. c) é uma atividade humana. d) possui uma essência que deve ser investigada pelo filósofo. Gabarito Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au- toavaliativas propostas: 1) b. 2) a. 3) c. 4) a. 5) c. 5. CONSIDERAÇÕES Nesta unidade, você viu como as relações entre a lingua- gem, o pensamento e o mundo foram tratadas por diferentes tradições. Além disso, você pôde acompanhar como autores fun- damentais da filosofia da linguagem do final do século 19 e do século 20 abordaram problemas envolvendo as possibilidades de conhecimento através da linguagem, o funcionamento da lingua- gem e os métodos para a análise da linguagem. Agora, você está preparado para acompanhar as discus- sões centrais propostas pela Linguística contemporânea, poden- do avaliar quais os problemas e concepções da linguagem estão 52 © LINGUÍSTICA IV UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos em jogo em cada uma das propostas teóricas e metodológicas que você irá estudar. Não se esqueça de consultar os Conteúdos Digitais Integradores e estudá-los, pois eles contêm detalhes, exemplos e explicações complementares aos apresentados aqui e o auxiliarão na compreensão e fixação do conteúdo. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUROUx, S. A filosofia da linguagem. Tradução de José Horta Nunes. Campinas: Editora da Unicamp, 1998. MARTINS, H. Três caminhos na filosofia da linguagem. In.: BENTES, A. C.; MUSSALIN, F. Introdução à linguística:fundamentos epistemológicos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2007. MIGUENS, S. Filosofia da linguagem:
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