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Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação
LINGUÍSTICA IV
Flávia de Freitas Berto possui bacharelado e licenciatura em Letras 
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 
Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (2010). Concluiu o 
mestrado no programa de Pós-graduação em Linguística e Língua 
Portuguesa da Unesp/ FCL-Ar em 2013, período em que trabalhou no 
estudo da língua juruna, nas áreas de Morfologia, Lexicologia e 
Lexicografia. Atualmente é doutoranda em Linguística e Língua 
Portuguesa pela mesma Instituição, atuando principalmente nos 
seguintes temas: Documentação Linguística, Tipologia Linguística, 
Sintaxe Funcional, articulação de cláusulas, línguas do tronco tupi.
E-mail: flaviafberto@gmail.com
Claretiano – Centro Universitário
Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000
cead@claretiano.edu.br
Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006
www.claretianobt.com.br
Flávia de Freitas Berto
Batatais
Claretiano
2015
LINGUÍSTICA IV
© Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma 
e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o 
arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação 
Educacional Claretiana.
CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL
Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia 
Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori 
Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia 
Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli • Simone 
Rodrigues de Oliveira
Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus 
Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni 
• Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa: Eduardo de Oliveira Azevedo • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de 
Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami de 
Souza • Wagner Segato dos Santos
Videoaula: José Lucas Viccari de Oliveira • Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso
Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
410 B461L 
 
 Berto, Flávia de Freitas 
 Linguística IV / Flávia de Freitas Berto – Batatais, SP : Claretiano, 2015. 
 116 p. 
 
 ISBN: 978-85-8377-384-9 
 
 1. Filosofia da linguagem. 2. Pragmática. 3. Semiótica 4. Teorias do texto. 
 5. Análise do discurso. I. Linguística IV. 
 
 
 
 
 
 
 CDD 410 
 
INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: Linguística IV 
Versão: fev./2015
Formato: 15x21 cm
Páginas: 116 páginas
SUMÁRIO
CONTEúDO INTRODUTóRIO
1. APRESENTAÇÃO ............................................................................................... 9
2. GLOSSáRIO DE CONCEITOS ............................................................................ 17
3. EsquEma dos ConCEitos-ChavE ............................................................... 19
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 21
unidadE 1 – FILOSOFIA DA LINGUAGEM E SEUS OBJETIVOS
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 25
2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 25
2.1. LINGUAGEM, PENSAMENTO E MUNDO ................................................ 26
2.2. A LINGUAGEM IDEAL .............................................................................. 30
2.3. A LINGUAGEM COMUM ......................................................................... 38
3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 47
3.1. LINGUAGEM, PENSAMENTO E MUNDO ................................................ 48
3.2. A LINGUAGEM IDEAL .............................................................................. 48
3.3. A LINGUAGEM COMUM ......................................................................... 49
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 50
5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 51
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 52
unidadE 2 – PRAGMáTICA E A TEORIADOS ATOS DE FALA
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 55
2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 56
2.1. DO PRAGMATISMO À PRAGMáTICA LINGUÍSTICA ............................... 56
2.2. IMPLICATURAS E MáxIMAS CONVERSACIONAIS ................................. 66
3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 69
3.1. DO PRAGMATISMO À PRAGMáTICA LINGUÍSTICA ............................... 69
3.2. IMPLICATURAS E MáxIMAS CONVERSACIONAIS ................................. 69
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 71
5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 73
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 73
unidadE 3 – SEMIóTICA E TEORIAS DO TExTO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 77
2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 78
2.1. SIGNO E SIGNIFICAÇÃO .......................................................................... 78
2.2. PERCURSO GERATIVO DE SENTIDO ....................................................... 87
3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 93
3.1. SIGNO E SIGNIFICAÇÃO .......................................................................... 93
3.2. PERCURSO GERATIVO DE SENTIDO ....................................................... 94
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 94
5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 96
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 96
unidadE 4 – INTRODUÇÃO À ANáLISE DO DISCURSO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 99
2. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 101
2.1. SEMIOLOGIA, DISCURSO E IDENTIDADE ............................................... 101
2.2. LÍNGUA, DISCURSO E SOCIEDADE ......................................................... 102
3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 109
3.1. SEMIOLOGIA, DISCURSO E IDENTIDADE ...............................................109
3.2. LÍNGUA, DISCURSO E SOCIEDADE ......................................................... 110
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 111
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 112
6. E-REFERÊnCia .................................................................................................. 114
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 114
7
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
Conteúdo
Questões da Pragmática; objeto de estudo e história dos estudos pragmáti-
cos. Introdução à análise do discurso. As materialidades discursivas. Semio-
logia, discurso e identidade. Sociolinguística. Língua, discurso e sociedade: 
concepções de língua e linguagem. Semiótica.Teorias do texto.
Bibliografia Básica
FIORIN, José Luiz (Org.). Introdução à lingüística. II. Princípios de análise. 3. ed. São 
Paulo: Contexto, 2004.
ILARI, Rodolfo; GERALDI, João Wanderley. Semântica. 3. ed. São Paulo: ática, 1987. 
(Edição Princípios).
LYONS, John. Linguagem e lingüística: uma introdução. Tradução de Marilda Winkler 
Averbug e Clarisse Sieckenius de Souza. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.
Bibliografia Complementar
BALDINGER, Kurt. Teoria semántica: hacia una semántica moderna. Madrid: Alcalá, 1970.
BRÉAL, Michel. Essai de sémantique: science des significations. 6. ed. Paris: Hachette, 1925.
BORBA, Francisco S. Uma gramática de valências para o português. São Paulo: ática, 1996.
CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. 2. ed. São Paulo: ática, 1988.
CARVALHO, José G. Herculano. Teoria da linguagem: natureza do fenômeno lingüístico 
e a análise das línguas. v. 2. Coimbra: Atlântica, 1974.
CHOMSKY, Noam. Sintactic structures. Haia: Mouton, 1957.
DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de português jurídico. 8. ed. São 
Paulo: Atlas, 2000.
DUBOIS, Jean et al. Dicionário de lingüística. São Paulo: Cultrix, 1978.
GUIRAUD, Pierre. A semântica. Tradução e adaptação de Maria Elisa Mascarenhas. 4. 
ed. São Paulo: Difel, 1986.
LEECH, Geoffrey. Semantics. Harmondsworth: Penguin, 1975.
8 © LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
LOBATO, Lúcia Maria Pinheiro. A semântica na lingüística moderna: o léxico. Rio de 
Janeiro: Francisco Alves, 1977.
LOPES, Edward. Fundamentos da lingüística contemporânea. 14. ed. São Paulo: Cultrix, 1995.
LYONS, John. Semântica. I. Tradução de Wanda Ramos. Lisboa: Presença, 1980.
MARQUES, Maria Helena Duarte. Iniciação à semântica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
MARTINET, André. Elementos de lingüística geral. 6. ed. Tradução de Jorge Morais-
Barbosa. São Paulo: Martins Fontes, 1975.
PALMER, F. R. A semântica. Tradução de Ana Maria Machado Chaves. Lisboa: Edições 
70, 1979.
POTTIER et al. Estruturas lingüísticas do português. 3. ed. São Paulo: Difel, 1975.
ROCA-PONS, J. El lenguaje. 2. ed. Barcelona: Teide, 1975.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. 20. ed. Tradução de Antônio 
Chelini et al. São Paulo: Cultrix, 1995. Original: Cours de linguistique general. Paris: 
Payot, 1916.
SANCHEZ MARQUEZ, Manuel J. Gramática moderna del español: teoria y norma. 2. ed. 
Buenos Ayres: EDIAR, 1982.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. O aspecto verbal no português: a categoria e sua expressão. 
Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 1985.
ULLMANN, Stephen. The Principles of semantics. Glasgow: Blackwell.
______. Semântica: uma introdução à ciência do significado. 4. ed. Tradução de J. A. 
Osório Mateus. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1977.
É importante saber
Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:
Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá 
ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias 
à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais conceitos, 
os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento 
ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de 
saber.
Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente sele-
cionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibilizados em 
sites acadêmicos confiáveis. São chamados "Conteúdos Digitais Integradores" por-
que são imprescindíveis para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referên-
cia. Juntos, não apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementa-
res) e a leitura de "navegação" (hipertexto), como também garantem a abrangência, 
a densidade e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de 
estudo obrigatórios, para efeito de avaliação.
9© LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
1. APRESENTAÇÃO
Prezado aluno, seja bem-vindo!
Você está iniciando o seu estudo de Linguística IV, no qual 
obterá as informações necessárias para o embasamento teórico 
da sua futura profissão e para as atividades que virão. Antes 
de consultar as unidades do seu material didático mediacional, 
acompanhe esse breve panorama sobre o desenvolvimento das 
ideias linguísticas, para que você possa, assim, compreender o 
contexto das teorias e conceitos que serão abordados nas próxi-
mas unidades e o que eles representam no desenvolvimento das 
reflexões sobre a linguagem. 
História do pensamento sobre a linguagem
A tradição ocidental de reflexão sobre a linguagem surge 
entre os milênios III e II a.C., na Grécia, quando babilônios e egíp-
cios já possuíam tradições embrionárias, e chineses, indianos e 
árabes possuíam tradições bem estabelecidas sobre a linguagem 
(AROUx, 1998).
Para alguns (MARTINS, 2007; WEEDWOOD, 2002), o pen-
samento ocidental sobre a linguagem é mais tardio, tendo início 
com Platão, entre os séculos 5º e 4º a.C. Como a maior parte 
da ideias linguísticas contemporâneas tem origem nas reflexões 
gregas do século 5º a.C, começaremos por aí. Nesse período, as 
reflexões sobre a linguagem estavam ligadas à filosofia e, por-
tanto, não constituíam um campo de conhecimento autônomo.
No Crátilo, Platão discute se a linguagem tem origem na 
necessidade ou no costume, ou seja, se as palavras estão rela-
cionadas à natureza ou à convenção. Essa obra expõe a ideia de 
que o Legislador, que criou as coisas no mundo, teve acesso às 
10 © LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
ideias, ou seja, às formas verdadeiras, para criar a linguagem. 
Portanto, as palavras correspondem às realidades a que se re-
ferem. Se algumas delas parecem mostrar o contrário é porque 
não foram bem formadas no início ou foram corrompidas pelo 
tempo. Assim, a linguagem para Platão diz respeito à natureza, 
passando para o campo da convenção devido a um erro originá-
rio ou aos efeitos do tempo. Aristóteles destaca que a relação 
entre as palavras e coisas são indiretas, sendo que os signos es-
critos derivam dos signos falados, os quais derivam das impres-
sões da alma, que, por sua vez, são derivadas da aparência das 
coisas reais (WEEDWOOD, 2002). 
Nos séculos 3º e 2º, os estoicos e comentadores de Aristóte-
les afirmam ainda que entre as impressões da alma e a fala havia 
mais um intermediário: o conceito, que é a noção elaborada pe-
las pessoas sobre as impressões. São os estoicos que elaboram a 
diferença entre enunciados significativos dirigidos por um pensa-
mento racional (logos) e enunciados articulados que não formam 
necessariamente um significado (léxis) (WEEDWOOD, 2007), uma 
distinção que será retomada por diversos linguistas e filósofos 
posteriores.
As ideias gregas sobre gramática e linguagem foram a base 
da linguística latina. No entanto, os pensadores latinos afirma-
ram a autossuficiência da frase como unidade significativa mais 
importante, enquanto para os gregos importava mais a expres-
são de um significado em um contexto comunicativo. Veremos 
mais à frente que entre as definições de Frege está o contexto e, 
nas unidades posteriores, a importância que o contexto comuni-
cativo adquire na análise Linguística.Na Idade Média, de acordo com Weedwood (2002), as 
gramáticas do Latim tiveram um caráter essencialmente prático, 
11© LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
pois seu objetivo era ensinar o uso correto da língua franca dos 
eruditos europeus, sendo difundidas nas universidades e algu-
mas com explicações em línguas vernáculas. A etimologia do pe-
ríodo estava ligada à lógica e ao Latim, com preocupações essen-
cialmente semânticas. Aroux (1998) lembra que a concepção de 
gramática grega foi transferida para o Latim e as gramáticas lati-
nas serviram como modelo para as línguas vernáculas europeias, 
que, por sua vez, foram aplicadas a outras línguas do mundo por 
meio da Linguística. A reprodução desse modelo na análise de 
línguas de características diferentes produziu uma série de equí-
vocos, já que nem todas as línguas possuem as mesmas funções 
e as codificam da mesma maneira. Esse processo de transferên-
cias das gramáticas do Grego e do Latim para as ciências da lin-
guagem ocorreu de modo parecido com domínio da matemática 
de Galileu e Descartes nas ciências naturais.
O Renascimento marca uma mudança fundamental na for-
ma como a linguagem passa a ser vista na tradição ocidental. É 
nesse período que surge o dicionário monolíngue, no qual, di-
ferentemente das listas de palavras da Antiguidade ou da Idade 
Média, o falante encontra informações sobre sua própria língua. 
Essas informações também se referem à língua, sem ter como 
objetivo fornecer conhecimentos sobre os seres do mundo. É no 
Renascimento também que surgem as gramáticas modernas de 
línguas vernáculas, que são instrumentos que permitem "com-
preender ou produzir os enunciados de uma língua natural" 
(AROUx, 1998, p. 12) e demonstrar que essas línguas também 
possuíam regularidades e regras como o Latim (WEEDWOOD, 
2002).
Segundo Weedwood (2002), a preocupação com as pro-
priedades do mundo físico, característica da Idade Moderna (o 
12 © LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
período pós-Renascimento), e o contato mais intenso com as tra-
dições linguísticas árabe, hebraica e bizantina, também, levaram 
a uma maior atenção à morfologia, fonética e fonologia das lín-
guas. Outra novidade desse período foi o conhecimento de uma 
maior diversidade de línguas a partir das Grandes Navegações e 
através de viajantes e missionários. Além das gramáticas do La-
tim e das línguas vernáculas europeias, os estudiosos europeus 
passam a ter acesso a gramáticas de línguas como o japonês e o 
tupi e se interessam em categorizar e catalogar a diversidade das 
línguas do mundo. Nos séculos 17 e 18, surgem estudos sobre 
a filiação das línguas, que permitem nos séculos posteriores o 
desenvolvimento de teorias a respeito de uma origem comum, 
"proto-línguas", para diversos grupos de línguas. No século 19, 
com o contato dos europeus com as gramáticas do sânscrito, 
principalmente devido à colonização da Índia, há um grande de-
senvolvimento dos métodos de análise linguística e nos meios 
para comprovar as teorias da linguística histórica, por exemplo, a 
fonética e o conceito de raiz.
Se a diversidade das línguas do mundo levou os estudiosos 
europeus a se dedicar aos estudos das suas histórias e particularida-
des, houve também uma grande preocupação com a universalidade 
do fenômeno linguístico. A partir do século 17, surgem a teoria da 
Língua Natural de J. Boehme, a língua artificial de J. Wilkins, a Gra-
mática Geral de Port-Royal, a teoria da linguagem de Locke e dos 
enciclopedistas franceses, a teoria da linguagem de Herder etc., que 
foram tentativas, ligadas à filosofia, de estabelecer relações entre a 
linguagem e os processos mentais, de encontrar a origem da lingua-
gem e buscar regularidades universais em todas as línguas.
O século 19 assistiu ao desenvolvimento da filologia com-
parativa, que, por meio de análises comparativas das seme-
lhanças fonéticas entre cognatos de várias línguas e da análise 
13© LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
das mudanças fonéticas dessas línguas, estabelece princípios 
evolutivos das mudanças linguísticas e de parentesco entre as 
línguas. É nesse momento que W. Jones desenvolve a teoria do 
indo-europeu, J. Grimm elabora as leis de mudança fonética das 
línguas germânicas e os neogramáticos defendem suas teorias 
da evolução das línguas. No século 19, a língua também passa 
a ser considerada um importante elemento da identidade dos 
povos, principalmente a partir da obra de W. von Humboldt, que, 
influenciado por Herder, relacionava língua e caráter nacional, 
ideia que será importante no século 20 para linguísticas relati-
vistas, como o norte-americano B. Whorf. Humboldt também 
desenvolveu a ideia de que a língua é dinâmica, sendo antes um 
conjunto de regras que permite a criação de enunciados do que 
uma coleção desses últimos. Além disso, o filósofo e linguista 
alemão defendia que havia uma diferença entre a língua inter-
na (significados, gramática, regras etc.) e língua externa (os sons 
moldados pela língua interna). As ideias de Humboldt foram im-
portantes para o desenvolvimento posterior das teorias de lin-
guistas como Saussure e Chomsky. 
No século 20, consolidam-se as ciências da linguagem, so-
bre as quais apresentamos um panorama a seguir.
As ciências da linguagem
A linguística, herdeira das discussões sobre a linguagem 
dos períodos anteriores, mantém uma certa tensão entre o cará-
ter universalista ou particularista na abordagem das línguas e da 
linguagem (WEEDWOOD, 2002). Na linguística moderna, convi-
vem tanto teorias formais e abstratas sobre a linguagem, como 
o estruturalismo de F. de Saussure e a teoria da gramática gera-
tiva de N. Chomsky, quanto abordagens que consideram a língua 
14 © LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
como atividade social e que se preocupam com seu uso, como as 
teorias pragmáticas da linguagem e o funcionalismo linguístico. 
Há também teorias linguísticas que se dedicam tanto a aspectos 
particulares da linguagem quanto teorias que tentam estabe-
lecer conhecimentos mais gerais, firmando pontes com outras 
ciências humanas e com a filosofia.
Uma das correntes de pensamento linguístico mais influen-
te do século 20 foi o estruturalismo. Sua versão europeia surge 
em 1916, com a publicação do Curso de Linguística Geral de F. 
de Saussure, que, para resumir brevemente, estabelecia duas 
dicotomias. A primeira é a oposição entre langue e parole, que 
respectivamente se referem ao sistema linguístico com as regu-
laridades e padrões de formação em que se baseia a produção 
de enunciados em uma língua e os enunciados reais da língua. 
A segunda é a oposição entre forma e substância. A linguística 
estrutural influenciou estudos tanto fonológicos quanto sintá-
ticos, além de ter influenciado o desenvolvimento do método 
estrutural em disciplinas como a antropologia, a teoria literária 
e a psicanálise. Outros representantes importantes do estrutu-
ralismo europeu foram os linguistas da Escola de Praga, como N. 
Trubetzkoy e R. Jakobson, e da Escola de Copenhague, como L. 
Hjelmslev e J. Firth.
O estruturalismo americano esteve muito ligado ao desen-
volvimento da linguística nos Estados Unidos, onde havia centenas 
de línguas indígenas jamais descritas. Assim, a maior preocupa-
ção dos linguistas americanos era desenvolver métodos de aná-
lise de línguas pouco conhecidas e desvinculadas das categorias 
indo-europeias, já que muitas dessas línguas indígenas estavam 
desaparecendo antes mesmo de serem estudadas. Um dos prin-
cipais representantes dessa abordagem foi F. Boas, linguista e an-
tropólogo judeu-alemão radicado nos EUA. Seus discípulos, E. Sa-
15© LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
pir e L. Bloomfield, levaram adiante a linguística antropológica de 
Boas. Por sua vez, B. Whorf, aluno de Sapir, desenvolveu a teoria 
que ficou conhecida como "hipótese Sapir-Whorf", que defendia 
a determinação do pensamento e da percepção pela linguagem e, 
portanto, de que cada língua diferente determinava uma forma de 
pensamentoe de visão do mundo diferente. O trabalho de Bloom-
field, por seu turno, defendeu uma perspectiva behaviorista da 
linguagem, ou seja, que renunciava a qualquer referência a cate-
gorias mentais ou conceituais em nome da objetividade científica. 
Para Bloomfield, o significado, por exemplo, era somente a reação 
verbal a um estímulo.
Na década de 1950, N. Chomsky desenvolve o conceito de 
gramática gerativa, que buscava criar meios de análise que levas-
sem em conta os níveis superficiais e profundos dos enunciados. Se-
gundo Chomsky, há uma diferença entre o conhecimento que cada 
pessoa tem das regras de uma língua, a competência, do uso dessa 
língua por essa mesma pessoa, o desempenho. Assim, o linguista 
americano defende que a linguística deve se ocupar não apenas dos 
usos da língua, através de enunciados registrados, mas também das 
suas regras subjacentes, pois "os falantes usam sua competência 
para ir muito além das limitações de qualquer corpus, sendo capa-
zes de criar e reconhecer enunciados inéditos, e de identificar er-
ros de desempenho" (WEEDWOOD, 2002, p. 133). Para Chomsky, a 
competência é um aspecto da capacidade psicológica humana. Sen-
do assim, a linguística seria uma disciplina relacionada à psicologia e 
ao estudo do funcionamento da mente humana. 
Apesar de reformulada diversas vezes e de influenciar uma 
grande quantidade de trabalhos linguísticos contemporâneos, a 
gramática gerativa desencadeou uma série de reações que se 
tornaram abordagens importantes nas ciências da linguagem 
e que inspiraram, principalmente, abordagens funcionalistas e 
16 © LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
pragmáticas da linguagem. De acordo com os funcionalistas, a 
língua desempenha diversas funções e sua estrutura é determi-
nada, em grande parte, por essas funções (WEEDWOOD, 2002, 
p. 138). Na sintaxe funcional, considera-se que "a estrutura sin-
tática da frase é em parte determinada pela função comunicativa 
dos vários constituintes e pelo modo como eles se relacionam 
com o contexto do enunciado" (WEEDWOOD, 2002, p. 143).
Por fim, a pragmática, que será abordada em maiores de-
talhes na Unidade 2, destaca o uso da língua pelos falantes. De-
senvolvida nos seus primórdios por filósofos como J. Austin e H. 
Grice, enfatiza os fatores que regem as escolhas linguísticas na 
interação social e os efeitos dessas escolhas do falante sobre ou-
tras pessoas, em vez de colocar o sistema abstrato da língua em 
evidência como fazem as correntes formalistas. Em uma pers-
pectiva pragmática, portanto, leva-se em conta a língua nas in-
terações sociais e o contexto extralinguístico dessas interações. 
Segundo S. Aroux (1998), a linguística, mais do que uma 
disciplina, é um conjunto de disciplinas científicas que se dedi-
cam ao fenômeno da linguagem. Entre essas disciplinas estão 
a semântica, a fonética, a fonologia, a morfologia, a sintaxe, 
a semiótica/semiologia, a análise do discurso e a pragmática. 
Nas unidades seguintes, veremos os principais conceitos e 
problemas da pragmática, da semiótica, da semiologia e da 
análise do discurso. Além das disciplinas linguísticas, a lingua-
gem também é objeto de interesse de campos de conhecimen-
to interdisciplinares como a psicolinguística, a sociolinguística 
e a neurolinguística, além de possibilitar diálogos com outras 
disciplinas como a antropologia e a filosofia.
17© LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e 
precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domí-
nio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conheci-
mento dos temas tratados.
1) Linguagem ideal: um sistema de regras e convenções 
que permitem certas combinações de símbolos que 
contam como frases significativas e bem formadas. 
Além disso, nessa concepção de linguagem, o signifi-
cado de uma frase é determinado pelo significado das 
suas partes, as condições de verdade de uma frase 
declarativa é igual às condições de verdade dos seus 
constituintes (MIGUENS, 2007). 
2) Linguagem ordinária ou comum: a linguagem nos seus 
contextos de uso, com suas ambiguidades, subjetivida-
des, circularidades, comunicabilidade, componentes 
de uma língua natural.
3) Jogos de Linguagem: referem-se, segundo Wittgens-
tein (1999), a tudo aquilo da linguagem que está próxi-
mo dos jogos, como os padrões de ação, os equipamen-
tos usados e mesmo os lugares onde as enunciações 
são feitas.
4) Enunciação: o ato de produzir enunciados, que são 
realizações linguísticas concretas
5) Atos de Fala: são manifestações intencionais que mo-
dificam o mundo, mas são tipos especiais de ações, 
já que, por outro lado, são ações que só podem ser 
praticadas usando a linguagem, ou seja, são ações 
linguísticas.
18 © LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
6) Máxima Conversacional: o princípio geral que rege a 
comunicação é a cooperação, isto é, o falante sempre 
leva em conta o direcionamento da conversa em suas 
intervenções. Desse modo, sua contribuição conversa-
cional corresponde ao que é exigido no momento da 
conversação, de acordo com a direção aceita na troca 
verbal na qual o falante está engajado.
7) Função semiótica: há uma função semiótica entre dois 
termos quando eles são solidários e não podem ser 
definidos um sem o outro. 
8) Percurso Gerativo de Sentido: caminho de análise que 
corresponde às condições de produção e recepção do 
texto, dividida em três níveis: fundamental, narrativo 
e discursivo.
9) Gramática do Percurso Gerativo de Sentido: sintaxe e 
semântica do Percurso Gerativo de Sentido. Cada um 
dos níveis do Percurso possui uma gramática própria, 
indo do mais abstrato para o mais concreto, do mais 
simples ao mais complexo. 
10) Semiologia: parte da Linguística que se encarrega das 
grandes unidades significantes do discurso.
11) Formação discursiva: aquilo que, numa formação 
ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada 
numa conjuntura dada, determina o que pode e deve 
ser dito. 
12) Materialidade discursiva: materialização de um discur-
so, sendo que o discurso é a materialidade específica 
da ideologia e a língua é materialidade específica do 
discurso.
19© LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
3. EsquEma dos ConCEitos-ChavE
Como você pode observar, o Esquema a seguir possibilita 
uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. 
Ao segui-lo, você poderá transitar entre um e outro conceito e 
descobrir o caminho para construir o seu conhecimento. Por 
exemplo, a Filosofia da Linguagem Ordinária inaugura a pos-
sibilidade da análise e investigação da língua em contexto de 
uso, permitindo o surgimento de disciplinas como a Semiótica, 
a Pragmática Linguística, a Semiologia e a Análise do Discurso, 
que abandona a versão logicista da Filosofia da Linguagem e a 
compreende em sentido mais amplo. O desenvolvimento da Se-
miologia, ou seja, o estudo dos signos na vida social indicado por 
Saussure ([1916] 2006), permitiu que a língua deixasse de ser do 
domínio do indivíduo e passasse a ser do interesse da Linguística 
pelo seu caráter social. 
20 © LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
Figura 1 Esquema de Conceitos-chave de Linguística IV. 
21© LINGUÍSTICA IV
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUROUx, S. A filosofia da linguagem. Tradução de José Horta Nunes. Campinas: 
Editora da Unicamp, 1998.
MARTINS, Helena. Três caminhos na filosofia da linguagem. In: BENTES, A. C.; 
MUSSALIN, F. Introdução à linguística: fundamentos epistemológicos. 3.ed. São Paulo: 
Cortez, 2007.
MIGUENS, S. Filosofia da linguagem: uma introdução. Porto: Faculdade de Letras da 
Universidade do Porto, 2007.
SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. Organizado por Charles Bally e Albert 
Sechehaye, coma colaboração de Albert Riedlinger. Tradução de Antônio Chelini, José 
Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, [1916] 2006.
WEEDWOOD, B. História concisa da linguística. Tradução de Marcos Bagno. São Paulo: 
Parábola,2002.
WITTGENSTEIN, L. Investigações filosóficas. Tradução de José Carlos Bruni. São Paulo: 
Nova Cultural, 1999.
© LINGUÍSTICA IV
23
UNIDADE 1
FILOSOFIA DA LINGUAGEM E SEUS 
ObjETIVOS
Objetivos
• Identificar os principais conceitos e objetivos da filosofia da linguagem.
• Refletir sobre o que é a linguagem a partir de diversas abordagens da his-
tória da linguística e da filosofia.
• Compreender o conceito de jogos de linguagem de Wittgenstein.
Conteúdos
• Panorama e conceito da filosofia da linguagem. 
• Principais conceitos e autores da filosofia da linguagem. 
• Conceito de jogos de linguagem de Wittgenstein.
Orientações para o Estudo da Unidade
Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:
1) Não se limite ao conteúdo proposto nesta unidade; busque outras informa-
ções em sites confiáveis e/ou nas referências bibliográficas, apresentadas 
ao final de cada unidade. Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engaja-
mento pessoal é um fator determinante para o seu crescimento intelectual.
2) Busque identificar os principais conceitos apresentados; observe como di-
ferentes autores em diferentes momentos pensaram sobre a linguagem e 
quais problemas os levaram a essas reflexões.
3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos nos Con-
teúdos Digitais Integradores.
© LINGUÍSTICA IV
25© LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
1. INTRODUÇÃO
Em determinados momentos da história, a linguagem 
humana é submetida a práticas técnicas em algumas socieda-
des, como a escrita, a codificação da retórica e as tentativas de 
descrevê-la. Problemas a respeito do que é a significação, qual a 
relação entre as palavras e as coisas e entre o pensamento e a 
linguagem ocuparam pensadores das mais diversas tendências, 
tanto na história da linguística quanto da filosofia.
Nesta unidade, será apresentado um panorama da filoso-
fia da linguagem, considerando as principais ideias que constitu-
íram esse campo do conhecimento e que permitirão uma melhor 
compreensão das tradições e teorias linguísticas discutidas nas 
próximas unidades. Serão apresentados, portanto:
1) um breve histórico da reflexão sobre a linguagem na filo-
sofia e nas ciências da linguagem na tradição ocidental; 
2) os principais conceitos da filosofia analítica de Frege e 
Russell;
3) as reflexões de Wittgenstein sobre a linguagem como 
uso e jogos de linguagem;
4) as reflexões de Bakhtin sobre linguagem e ideologia;
5) uma breve apresentação das teorias de Maingueneau 
e Foucault, que serão abordadas na Unidade 3.
2. CONTEúDO BÁSICO DE REFERÊNCIA
O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma su-
cinta os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão 
integral é necessário o aprofundamento pelo estudo dos Conte-
údos Digitais Integradores.
26 © LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
2.1. linguagem, pensamento e mundo
H. Martins (2007, p. 439-440) lembra que, desde o seu 
início, o pensamento sobre a linguagem se dedicou a perguntas 
como "As coisas têm uma essência fixa que nos transcende? Há 
verdades eternas? O homem pode ser sede de conhecimentos 
universalmente válidos?". Essas perguntas deram origens a vá-
rias tentativas de respostas e a muitas outras perguntas. Porém, 
segundo Martins (2007, p. 442), para nos localizarmos entre es-
sas várias respostas e perguntas, podemos identificar três pers-
pectivas básicas sobre o que faz a linguagem:
1. "identifica parcelas da realidade";
2. "representa acontecimentos mentais compartilhados entre 
falantes e ouvintes";
3. "é usada ou vivenciada no fluxo das práticas e costumes 
de uma comunidade linguística, histórica e culturalmente 
determinada."
Essas três perspectivas, que a autora chama, respectiva-
mente, de realista, mentalista e pragmática não estão presentes 
apenas no discurso filosófico, mas também no senso comum 
sobre a linguagem (MARTINS, 2007). Por exemplo, quando fala-
mos telefone, supomos que essa palavra identifica determinados 
objetos no mundo. Quando não encontramos as palavras certas 
para dizer uma ideia, consideramos que os significados são acon-
tecimentos mentais a serem representados pela linguagem. Já 
quando falamos, por exemplo, beleza, percebemos que entre pes-
soas de gerações e formações culturais diferentes pode haver uma 
grande diferença no seu emprego e significado. Mas, e se em vez 
de telefone, procurarmos pelos objetos no mundo identificados 
pelas palavras talvez, não ou fada? E se procurarmos pela ideia 
27© LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
expressa pela palavra cachorro? Ela parece dizer respeito a seres 
tão distintos quanto um Pastor Alemão e um Chiuahua? Como, 
apesar de identidades e formações tão diversas, somos capazes de 
entender o que os outros nos dizem e que entendam o que dize-
mos? (MARTINS, 2007) Podemos, assim, dizer que a relação entre 
a linguagem, o pensamento e o mundo é a preocupação central da 
filosofia da linguagem.
O que é filosofia da linguagem?
Demos no item anterior uma definição dos problemas a 
que a filosofia da linguagem se dedica, mas, afinal, a filosofia da 
linguagem é uma teoria, um campo de conhecimento ou uma 
subdisciplina da Linguística ou da Filosofia? Qual a relação en-
tre as ciências da linguagem e a filosofia da linguagem? S. Aroux 
(1998) apresenta uma série de definições possíveis para a filo-
sofia da linguagem, que estão presentes em manuais, livros e 
disciplinas acadêmicas. Entre elas estão:
1) Reflexões sobre a natureza da linguagem anteriores à 
linguística positiva e autônoma. Portanto, inclui filóso-
fos como Platão, Aristóteles e os pré-socráticos.
2) Reflexões de filósofos reconhecidos sobre a lingua-
gem, como Platão, Heidegger, Nietzsche etc.
3) Reflexões sobre a natureza da linguagem e seu papel 
na experiência humana a partir de um ponto de vista 
estritamente filosófico, diferente da reflexão científica 
sobre esses problemas.
4) Discussões técnicas sobre os sistemas linguísticos ar-
tificiais e abstratos, como os sistemas lógicos, levando 
em conta princípios universais e não a diversidade das 
28 © LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
línguas naturais. Inclui-se aí a filosofia analítica, repre-
sentada por Frege e Russell, por exemplo.
5) Discussões sobre a linguagem ordinária, em oposição 
aos modelos abstratos da lógica formal, especialmente 
na crítica à filosofia de Russell por Wittgenstein e as 
reflexões de Austin.
6) A linguística geral, que busca um número restrito de 
princípios firmes e seguros, baseados em uma ciência 
autônoma sobre as línguas e a faculdade da lingua-
gem. Essa abordagem é defendida, por exemplo, por 
Hjelmslev.
7) A filosofia da linguística, que aborda questões surgidas 
nas ciências da linguagem a partir de uma abordagem 
filosófica, compreendida como separada do conheci-
mento positivo, mas respeitando a validade dos co-
nhecimentos positivos. A filosofia linguística é repre-
sentada por autores como Cassirer, Henry e Chomsky.
A abordagem adotada aqui irá considerar como filosofia da 
linguagem as reflexões filosóficas sobre a linguagem, especial-
mente a partir do final do século 19 na tradição ocidental, que 
permitem compreender os princípios e problemas em questão 
nos debates da Linguística contemporânea e que serão aborda-
dos nas unidades seguintes. Vamos nos centrar, portanto, na fi-
losofia analítica e nas suas críticas.
A filosofia da linguagem
Trataremos nesta unidade dos conceitos da filosofia da lin-
guagem que estabeleceram problemas aos quais os filósofos e 
linguistas contemporâneos têm se dedicado e que permitirão um 
panorama dos objetivos e questões fundamentais desse campo. 
29© LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
Seguindo Miguens (2007), podemos destacar três ideias funda-
mentais que marcam a filosofia da linguagem contemporânea:
1) O princípio de arbitrariedade: segundo esseprincípio, 
a associação entre os sons, as marcas utilizadas para 
significar coisas e os significados é arbitrária, ou seja, 
não há relação intrínseca e necessária entre significa-
dos e as manifestações físicas (sons, marcas etc.) que 
remetem aos significados e coisas.
2) O princípio fregeano do contexto: conforme esse prin-
cípio, as palavras não significam isoladamente, apenas 
no contexto das frases.
3) O princípio da composicionalidade: segundo esse 
princípio, o entendimento do todo das frases depende 
do entendimento das suas partes.
Além de seguirem esses princípios, do mesmo modo que 
as ciências da linguagem, as abordagens da filosofia da lingua-
gem podem ser divididas, grosso modo, em duas categorias. 
A primeira enfatiza o caráter abstrato e sistemático da lin-
guagem, dando prioridade à possibilidade da linguagem em per-
mitir o conhecimento do que é verdadeiro e de métodos para 
sua análise que não dependam da linguagem comum. A essa 
abordagem chamaremos de filosofia da linguagem ideal e será 
representada pelas obras de Frege e Russell. 
A segunda abordagem diz respeito a uma análise do uso 
da linguagem pelos falantes vivendo no mundo, que chamare-
mos de filosofia da linguagem comum e que será representada 
a seguir pelo pensamento de Wittgenstein, Bakhtin, Foucault e 
Maingueneau. 
30 © LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
2.2. a linguagem ideal
De acordo com Miguens (2007), há uma tradição na filo-
sofia da linguagem que procura utilizar meios formais para in-
vestigar a natureza das línguas naturais. Nessa tradição são 
fundamentais a noção de condições de verdade e a noção de ve-
rocondicionalidade. Considerando que a linguagem é:
• um sistema de regras e convenções que permitem cer-
tas combinações de símbolos que contam como frases 
significativas e bem formadas;e
• que o significado de uma frase é determinado pelo sig-
nificado das suas partes, as condições de verdade de 
uma frase declarativa é igual às condições de verdade 
dos seus constituintes. 
Desse modo, conhecer o significado de uma frase é conhe-
cer em que condições essa frase seria verdadeira, e conhecer 
uma linguagem é poder estabelecer dedutivamente as condições 
de verdade de qualquer frase dessa linguagem. Essa perspectiva 
é chamada por Miguens (2007) de filosofia da linguagem ideal e 
é representada pela filosofia analítica, que tem como alguns dos 
seus principais pensadores Frege e Russell.
Fique atento aos conceitos de sentido e referência em 
Frege e de denotação de Russell. Observe como a obra desses 
autores influenciam as discussões atuais sobre a linguagem 
nos materiais sugeridos nos conteúdos digitais integradores.
A filosofia analítica de Frege
Um dos fundadores da filosofia analítica e, também, da fi-
losofia da linguagem contemporânea e da lógica formal foi Got-
31© LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
tlob Frege. Desde o século 17, com a obra de Descartes, uma das 
marcas da filosofia moderna é a preocupação com as possibili-
dades do conhecimento. No entanto, perguntas do tipo "conhe-
cemos alguma coisa?", ou seja, questões epistemológicas, são 
consideradas por Frege como secundárias em relação à pergun-
ta "como funciona a linguagem?". Segundo o filósofo, antes de 
nos questionarmos se sabemos algo, devemos compreender o 
funcionamento da linguagem, que é como exprimimos o conhe-
cimento. Para o autor, a linguagem natural é um meio de expres-
são e do pensamento e de acesso ao conhecimento, ainda que 
muitas vezes seja um meio que antes obscurece do que esclare-
ce o pensamento. 
Assim, a importância da linguagem para o conhecimento e 
o pensamento, aliada à sua ambiguidade e imprecisão exigem, 
para Frege, que se elabore uma escrita conceptual. Essa escrita 
conceptual é uma linguagem formal, isto é, um sistema lógico 
que permite que nos livremos da vagueza das línguas naturais e 
seria para a linguagem comum aquilo que o microscópio é para 
olho. Nas situações que exigem uma análise detalhada e preci-
sa da linguagem, a linguagem comum não é suficiente, como a 
observação a olho nu para as análises microscópicas. Frege é, 
então, um dos fundadores da lógica moderna.
É importante notar que, apesar de apontar a importância 
da lógica e da linguagem, a preocupação central da filosofia de 
Frege é com a realidade que é pensada por meio da linguagem. 
Para o autor, uma verdade analítica é aquela justificável somen-
te por meio de leis lógicas e definições, daí a denominação do 
campo de conhecimento que inaugura como filosofia analítica.
A seguir, você conhecerá alguns dos princípios e questões 
da filosofia de Frege.
32 © LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
Sentido e Referência
Como já havia sido adiantadonesta unidade, Frege ela-
bora um dos princípios fundamentais da filosofia da linguagem 
contemporânea e que, apesar de hoje parecer óbvio, causou 
uma verdadeira revolução conceptual. Trata-se do princípio do 
contexto. De acordo com esse princípio, as palavras significam 
apenas no contexto de frases, nunca isoladamente, ainda que o 
primeiro passo para a compreensão da estrutura lógica de uma 
frase seja a compreensão da estrutura das suas partes. Isso está 
relacionado com a própria estrutura do pensamento, que se ex-
pressa em frases. 
Lembre-se de que a questão "qual o contexto mais im-
portante na análise da linguagem?" é discutida por vários pen-
sadores e escolas de pensamento. Platão considera a palavra, 
e sua etimologia, como fonte de significado, pois eram criações 
do Legislador. A tradição gramatical grega clássica considerava 
que os significados só faziam sentido no texto. A tradição lati-
na, por sua vez, tomava a frase como unidade de significação 
autossuficiente. A filosofia analítica do final do século 19 e iní-
cio do século 20 estabeleceu a proposição, ou seja, a frase que 
afirma uma verdade, como o contexto fundamental da signifi-
cação. Como você verá no final desta unidade e nas unidades 
seguintes, para alguns autores contemporâneos o contexto de 
significação mais relevante pode ser o contexto do discurso, 
da enunciação, da comunicação etc.
Vejamos esse princípio do contexto em ação observando 
um dos pontos mais importantes da filosofia de Frege. Um dos 
problemas enfrentados pelo autor, e posteriormente também 
por Russell, é a relação dos termos singulares com a realidade. 
33© LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
Os termos singulares são "expressões linguísticas que permitem 
identificar objetos particulares no mundo" (MIGUENS, 2007, p. 
91). Entre esses termos estão os nomes próprios. Segundo Frege, 
existem dois tipos de entidades: funções e objetos. As funções 
são incompletas, dependendo de outras entidades para sua exis-
tência. A categoria dos objetos inclui objetos físicos (como me-
sas, cadeiras), entidades mentais (representações) e entidades 
abstratas não situadas no tempo e no espaço (como números, a 
verdade). Os nomes próprios nomeiam entidades dessa segunda 
categoria.
No entanto, a relação entre os nomes próprios e os ob-
jetos não é simples. Para demonstrar um dos problemas dessa 
relação, o problema da identidade, Frege propõe que se pense o 
seguinte: as frases "A estrela da manhã é a estrela da tarde" e "A 
estrela da manhã é a estrela da manhã" são diferentes, ou seja, 
as identificamos como duas frases. Porém, tanto "estrela da ma-
nhã" quanto "estrela da tarde" são nomes para o planeta Vênus, 
ou seja, designam o mesmo objeto. Dito de outro modo, mesmo 
que a seja o mesmo que b, dizer que a=a não é o mesmo que di-
zer que a=b. Como isso é possível? Esse problema da identidade 
com nomes próprios, conhecido como o quebra-cabeçade Frege, 
levou o autor a fazer uma distinção entre sentido e referência.
Segundo Frege "o nome próprio exprime um sentido e de-
signa uma referência" (apud MIGUENS, 2007, p. 94). Para ele, 
não é a referência que determina o sentido, mas o sentidoque 
determina a referência. No exemplo anterior, temos que a refe-
rência tanto de "estrela da tarde" quanto de "estrela da manhã" 
é o planeta Vênus. Portanto, segundo Frege, quem determina 
"Vênus" são os sentidos de "estrela da tarde" e "estrela da ma-
nhã". É assim que um objeto pode ser designado por mais de um 
nome próprio, pois mesmo que o objeto seja único, os sentidos 
34 © LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
que fazem referência a ele e o determinam podem ser vários. 
Não há equivalência direta entre o sentido de uma frase e sua 
referência. Disso, segue a afirmação de Frege de que o sentido 
não é uma representação mental, mas na realidade fornece um 
critério de identificação da referência.
Frege define que o pensamento é o sentido das frases, ou 
seja, o conteúdo que é expresso em um enunciado. A referên-
cia é o seu valor de verdade. O autor defende que para adquirir 
conhecimento, o sentido de uma frase é tão importante quanto 
seu valor de verdade. É por isso que se o sentido de a é diferente 
do sentido de b, o sentido de a=a é diferente do sentido de a=b, 
mesmo que se refiram ao mesmo objeto no mundo. A relação 
entre pensamento e verdade, portanto, não é a relação entre o 
sentido e a referência, mas entre o sujeito e o predicado. Assim, 
a relação entre a e b é tão importante quanto a relação que a e b 
possuem com algum objeto no mundo.
O atomismo lógico
Para Russell, diferente de Frege, as questões epistemológi-
cas são fundamentais para a reflexão sobre a linguagem. Segun-
do o filósofo britânico, a análise lógica da linguagem permite que 
se observe a própria forma lógica, a qual corresponde à estrutura 
da realidade. Assim, a análise lógica da linguagem comum, cuja 
estrutura superficial não é clara, permite o acesso à estrutura 
profunda, e real, da linguagem e do mundo, já que esse último é 
formado por átomos lógicos.
A ideia de atomismo lógico de Russell considera que os 
termos simples na linguagem correspondem a átomos lógicos. 
Os átomos lógicos, por sua vez, compõem os fatos, que podem 
ser expressos por proposições completamente analisadas. A es-
35© LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
ses átomos correspondem dados dos sentidos, aos quais se têm 
acesso direto por meio do contato. Portanto, trata-se de uma 
teoria empirista do conhecimento, ou seja, ela considera que o 
acesso ao que existe no mundo se dá pelos sentidos, não apenas 
por processos mentais.
Mas se o que existe no mundo pode ser acessado pelos 
sentidos, qual a importância da análise da linguagem e da lógica? 
Ou para dizermos em outros termos, qual é para Russell a rela-
ção entre a linguagem, o pensamento e o mundo? Vamos, então, 
acompanhar a definição de cada um desses termos para Russell 
e observar a relação estabelecida entre eles.
Para Russell, o conhecimento ocorre por contato. De acor-
do com o princípio docontato "só podemos considerar que com-
preendemos uma proposição se ela for inteiramente composta 
por constituintes com os quais estamos em contato" (MIGUENS, 
2007, p. 108). E o contato se dá com dados dos sentidos ou com 
propriedades exemplificadas por dados dos sentidos. Por exem-
plo, a propriedade de "ser vermelho": ainda que não seja dada 
pelos sentidos, alguns dos nossos dados do sentido possuem a 
"propriedade de ser vermelho". Desse modo, os átomos lógicos 
que compõem o mundo, segundo Russell, são entidades espaço-
temporais concretas, propriedades e relações.
A estrutura real da linguagem é revelada, de acordo com 
Russell, pela análise lógica. Nessa estrutura, os elementos já não 
são mais analisáveis e, assim, correspondem à realidade extralin-
guística. À estrutura da linguagem analisada, ou seja, à estrutura 
da linguagem comum parafraseada em uma linguagem logica-
mente perfeita, corresponde a realidade do mundo. Portanto, a 
análise lógica, ao revelar a estrutural real da linguagem, revela 
o mundo. Mas, então, o que significa essa análise lógica a que a 
36 © LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
linguagem deve ser submetida? Vamos ver o método de Russell 
por meio da sua discussão sobre a referência e a denotação.
Referir e denotar
Afirmamos anteriormente que, para Russell, o conhecimen-
to é possível pelo contatocom os dados do sentido. No entanto, é 
importante ressaltar que esses dados dos sentidos são diferentes 
dos objetos físicos. Nomes próprios na linguagem comum, como 
"João", "Maria" ou "Ribeirão Preto" não representam dados dos 
sentidos. Esses últimos são representados por termos simples, ou 
seja, nomes analisados logicamente. Os nomes próprios permitem 
o acesso a objetos físicos apenas de modo indireto ou por des-
crição. Portanto, nomes próprios na linguagem comum não per-
mitem um conhecimento confiável como os termos analisados. 
Segundo, Russell, apenas o nome "João" não garante a existência 
daquilo que ele indica.
Por considerar que os conceitos de sentido e referência 
criados por Frege não são suficientes, Russell criou a Teoria das 
Descrições Definidas. De acordo com essa teoria, denotar e refe-
rir estabelecem relações distintas e alguns nomes próprios são 
na realidade descrições. Comecemos pelo segundo ponto para 
compreendermos o primeiro.
Considere a seguinte frase: "Aristóteles é um filósofo co-
nhecido". O nome próprio "Aristóteles", apesar de na linguagem 
comum poder ser considerado como um nome próprio, esconde 
uma descrição. "Aristóteles" poderia ser substituído por "o dis-
cípulo de Platão", "o autor da Poética", "o grande filósofo gre-
go" etc. O mesmo acontece se disséssemos que "Brasília é uma 
cidade grande". "Brasília" poderia ser substituído por "a capital 
do Brasil", "a cidade onde mora o Presidente da República" etc. 
37© LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
Seguindo esse raciocínio, os nomes próprios na linguagem não 
são termos simples que se referem diretamente a objetos que 
existem, mas escondem descrições que permitem uma referên-
cia apenas indireta a esses objetos. 
Observe agora o próximo exemplo, que chamaremos de 
frase A, adaptado de um exemplo dado pelo próprio Russell: "O 
autor de Dom Casmurro é carioca". Na linguagem comum, trata-
-se de um sujeito (O autor de Dom Casmurro) e do seu predicado 
(é carioca),afirmando que Machado de Assis era carioca. No en-
tanto, para Russell, uma frase é a abreviação de uma construção 
complexa com diversos quantificadores. Essa frase, na realidade, 
abrevia três afirmações, das quais nenhuma se refere especifica-
mente a Machado de Assis. As três afirmações são: 
1) pelo menos uma pessoa foi o autor de Dom Casmurro;
2) no máximo uma pessoa foi o autor de Dom Casmurro;
3) quem quer que tenha sido o autor de Dom Casmurro, 
era carioca (no material digital integrador você poderá 
conferir a notação lógica sugerida por Russell para ex-
pressar essas três afirmações).
Observe que se em A, "o autor de Dom Casmurro" parecia 
se referir a uma pessoa existente, Machado de Assis, após ser 
analisada logicamente vemos que nenhuma das afirmações a-c, 
abreviadas por A, se referem a uma pessoa em particular. Assim, 
Russell demonstra que nomes próprios não se referem, apenas 
denotam. Apenas termos singulares que se mantém após a aná-
lise lógica se referem a objetos existentes.
A diferença semântica entre denotar e referir está, portan-
to, nas diferentes relações que estabelecem entre o sentido de 
uma frase específica e objeto existente a que está relacionada. 
As descrições definidas, escondidas sob nomes próprios na lin-
38 © LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
guagem comum, referem-se de forma indireta aos objetos, de-
notando-os quando os termos dos seus predicados (no caso de 
A, as afirmação de a a c) se relacionam com objetos existentes. 
Os termos singulares, ou seja, os nomes próprios logicamen-
te, se referem a objetos existentes. Assim, nomes próprios na 
linguagem comum podemse relacionar a seres não existentes 
como "Papai Noel" ou "fadas" e fazerem sentido mesmo assim. 
Já termos singulares só fazem sentido se se referirem a objetos 
existentes. 
Observe como a análise da linguagem proposta por Rus-
sell se relaciona com a busca da possibilidade de conhecimen-
to do mundo por meio da linguagem e o papel que a diferen-
ça entre a linguagem formal (a lógica) e as línguas naturais (a 
linguagem comum) desempenha nessa proposta. Veja como a 
Teoria das Descrições Definidas responde aos problemas re-
lacionados à possibilidade do conhecimento segundo a visão 
que Russell propõe sobre o que é o mundo, o que é a lingua-
gem e o que é o pensamento.
2.3. a linguagem comum
Diferentemente dos pensadores apresentados na seção 
anterior "Filosofia da linguagem ideal", alguns pensadores de-
fendem que a abordagem lógica oculta características importan-
tes das línguas naturais (MIGUENS, 2007). De acordo com esses 
pensadores, que elaboraram uma filosofia da linguagem co-
mum(filosofia da linguagem ordinária), o ponto fundamental da 
análise da linguagem é que não se pode falar de noções como re-
ferência e verdade abstraindo-se o uso e o contexto. Essa é uma 
perspectiva inaugurada por Wittgenstein em Investigações Filo-
39© LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
sóficas, também desenvolvidas nas obras de J. Austin e P. Grice, 
e que tem alimentado boa parte das reflexões contemporâneas 
sobre a linguagem. A seguir, acompanharemos a discussão de 
Wittgenstein a respeito da filosofia da linguagem ordinária, ob-
servando a aproximação que esse pensador faz entre linguagem 
e atividade com o conceito de jogos de linguagem. Além disso, 
serão apresentadas algumas ideias sobre perspectivas discursi-
vas sobre a linguagem e da filosofia da linguagem de Bakhtin.
A linguagem como uso nas Investigações Filosóficas de 
Wittgenstein
A obra de Wittgenstein pode ser dividida, de modo geral, 
em duas partes: a primeira representada pelo Tractatus Logi-
co-Philosophicus, publicado na década de 1920, e que inspirou 
posteriormente o positivismo lógico; a segunda é representada 
pelas Investigações Filosóficas, elaborada durante a década de 
1930, mas publicada postumamente na década de 1950. Trata-
remos aqui da segunda fase da obra de Wittgenstein, que repre-
senta uma ruptura com o modo como a linguagem foi considera-
da na filosofia analítica. De acordo com Miguens (2007, p. 144), 
entre as principais afirmações contidas nessa obra estão:
1) o significado é o uso; 
2) não há uma essência da linguagem;
3) a linguagem não tem uma função central que seria a função 
representativa; o significado não é algo absolutamente de-
terminado antes de acontecer pensamento/linguagem; 
4) conceitos são semelhanças de família e não 'áreas clara-
mente delimitadas';
5) a lógica não revela a essência da linguagem nem tem que 
existir apenas uma lógica; a lógica é antes um jogo de lin-
guagem com determinado propósito;
40 © LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
6) 'jogo' e 'regras' são noções essenciais para compreender o 
significado e a compreensão;
7) é impossível seguir regras privadamente; significar é uma 
prática pública de seguir-regras;
8) assim sendo, mente, inteligência e querer-dizer não são 'coi-
sas dentro da cabeça das pessoas'.
Podemos observar que as propostas de Wittgenstein se 
afastam bastante das que vimos anteriormente com Frege e 
Russell. Em vez de considerar a linguagem de um ponto de vis-
ta abstrato e ideal, Wittgenstein propõe que a observemos no 
seu uso e como um instrumento para propósitos determinados. 
Além disso, temos com Wittgenstein uma filosofia que abre es-
paço para o pluralismo na linguagem, uma vez que se não há 
uma linguagem privilegiada para se ter acesso ao mundo, cada 
linguagem é apenas mais uma forma de perspectivar esse mun-
do (MIGUENS, 2007, p. 128-129). Dos pontos expostos anterior-
mente, vamos acompanhar com mais detalhes a aproximação 
que o autor faz entre os jogos e a linguagem com o conceito de 
jogos de linguagem, e que demonstra o funcionamento da filo-
sofia nas Investigações Filosóficas.
Jogos de linguagem
Wittgenstein não oferece uma definição dos jogos de lin-
guagem, mas dá exemplos de como esses jogos funcionam e faz 
comparações que esclarecem sua natureza. Acompanhemos al-
guns desses exemplos.
Logo no início de As Investigações Filosóficas, Wittgenstein 
(1999) apresenta o seguinte exemplo de uso da linguagem: se 
uma pessoa pede que alguém faça compras e lhe dá uma lista 
onde está escrito "cinco maçãs vermelhas", o comerciante que 
41© LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
recebê-la pode procurar por cada significado correspondente às 
palavras da lista e, assim, encontrar os objetos a que esses sig-
nificados estão relacionados. Se as palavras são significados que 
designam objetos, esse procedimento deveria ser bem-sucedi-
do. Porém, Wittgenstein (1999) descreve que se o comerciante 
do exemplo procurar a gaveta onde estão as "maçãs", a cor cor-
respondente a "vermelho" em uma tabela de cores e o numeral 
correspondente a "cinco" em uma sequência de numerais (que 
ele pode ter até mesmo decorado), isto é, procurar os objetos 
correspondentes a cada significado, ele não estará fazendo nada 
além de agir segundo certas instruções. O comerciante usaria as 
palavras para encontrar as "cinco maçãs vermelhas" e fazer sua 
venda.
Outro exemplo usado para discutir a ideia de que as pala-
vras servem para que as pessoas indiquem objetos umas para 
as outras está no trecho em que o filósofo pede ao leitor que 
imagine a seguinte situação: o construtor A e seu ajudante B es-
tão construindo um prédio com pedras. À disposição deles estão 
blocos, colunas, lajes e vigas. Para que a construção funcione e B 
possa lhe dar os materiais na ordem necessária, A grita as pala-
vras correspondentes a cada material e B lhe traz o que precisa. 
É um tipo de comunicação útil para essa situação e para o objeti-
vo dos envolvidos nela. Porém, esse tipo de linguagem pode ser 
útil para determinadas situações, mas não esgota todos os usos 
possíveis da linguagem. Para Wittgenstein (1999), pode-se dizer 
que movimentar coisas seguindo determinadas regras (como o 
comerciante e os construtores dos exemplos com as maçãs e os 
materiais de construção) é o mesmo que jogar, pois assim funcio-
nam os jogos de tabuleiro, por exemplo. Porém, nem todo jogo 
é um jogo de tabuleiro. 
42 © LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
Quando uma criança está aprendendo sua língua materna, 
com os pais ou um professor, ela repete o que o professor diz 
e cria representações mentais a partir daquilo que o professor 
mostra ou aponta enquanto pronuncia os sons correspondentes 
àquela palavra. Ela não está usando as palavras para um objetivo 
parecido com os do comerciante e dos construtores, ela está no-
meando coisas. Trata-se de outro jogo de linguagem. 
Ainda que as palavras possam ser parecidas no seu funcio-
namento, estrutura, etc., como defende uma concepção forma-
lista como a de Frege e Russell, por exemplo, elas podem possuir 
funções muito distintas. Wittgenstein (1999) compara as palavras 
com as alavancas dentro da cabine de uma maquinista. Apesar das 
alavancas serem todas parecidas, algumas são acionadas puxan-
do, abaixando ou levantando, girando etc., e executam ações di-
ferentes. Com as palavras aconteceria o mesmo. Ainda que sejam 
parecidas na superfície, funcionam de modos diferentes e para 
fins diferentes. 
Wittgenstein (1999) lembra que, no entanto, a mesma pa-
lavra ou expressão ainda pode indicar coisas diferentes. No caso 
dos construtores A e B, por exemplo, se A diz "Cinco lajotas" para 
B, ele pode estar fazendo um comunicado, uma afirmação, ou 
fazendo uma pergunta, dependendo do tom em que as palavras 
são ditas, suas expressões faciais ou outros elementos acresci-
dos à situação. Ainda assim, mesmo queas expressões faciais, o 
tom e tudo o mais fosse mantido, "cinco lajotas" poderia indicar 
diversas intenções, que não estão nas palavras por si só. Essas 
intenções podem ser chamadas de papéis que desempenham no 
jogo de linguagem. Esses papéis se alteram, são abandonados, 
criam-se etc. Os jogos de linguagem, para Wittgenstein (1999), 
possuem uma imensa variedade, da qual é difícil até mesmo pre-
ver a extensão. 
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UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
De acordo com David Stern (2006), que foi aluno de Witt-
genstein, o termo jogos de linguagem é aplicado pelo autor em 
praticamente qualquer atividade que envolva a linguagem e a in-
teração humana, como, por exemplo, dar ordem e segui-las; des-
crever um objeto ou dar suas medidas; construir um objeto a partir 
da sua descrição; relatar um evento; especular sobre um evento; 
formar e testar uma hipótese; criar uma história e contá-la; atuar; 
resolver charadas; contar uma piada; traduzir de uma língua para 
outra; pedir, agradecer, xingar, cumprimentar, rezar etc.
Como o autor considera os jogos de linguagem uma forma 
de vida, tanto a linguagem quanto as atividades que envolvem 
o seu uso são consideradas de modo amplo. Os jogos de lingua-
gem, portanto, dizem respeito não apenas a enunciar palavras, 
mas a tudo aquilo que está próximo disso, como os padrões de 
ação, os equipamentos usados e mesmo os lugares onde essas 
enunciações são feitas. D. Stern (2006) chama atenção para o 
fato de que a linguagem para Wittgenstein não é um cálculo sis-
temático feito a partir de regras bem definidas, mas uma ativi-
dade prática que, mesmo que envolva regras, não é determina-
da por elas. Além disso, a aproximação entre jogos e linguagem 
significa, antes do que afirmar que a linguagem é um jogo, uma 
tentativa de estabelecer uma comparação entre a linguagem e 
os jogos, destacando, assim, que a linguagem é uma atividade, 
que é diversa e que possui certo conjunto de regras. 
O uso da palavra jogo, "Spiel" no original em alemão, por 
Wittgenstein é discutido pelo filósofo. De acordo com J. Taylor 
(1995), ao contrário da concepção clássica, segundo a qual deve-
ria haver uma categoria de fronteiras claras que delimita o que 
são e o que não são jogos, de acordo com uma lista de critérios e 
propriedades dos membros dessa categoria, Wittgenstein enfatiza 
sua utilidade na comunicação. Ele dá o seguinte exemplo: o que 
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UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
há em comum entre os Jogos Olímpicos, jogos de cartas, jogos de 
tabuleiro, jogos de bola (como futebol, basquete, vôlei etc.)? O 
que há de comum entre o basquete e o truco? Poderíamos dizer 
que jogos têm em comum a competição. Porém, jogos não são 
sempre competitivos: quando alguém joga Paciência ou se uma 
criança está arremessando uma bola na parede não está jogan-
do contra ninguém. Poderíamos dizer também que todos os jogos 
exigem habilidades semelhantes, mas as habilidades necessárias 
para praticar tênis e xadrez, por exemplo, são muito distintas. Ou 
ainda, o que há de comum entre a amarelinha, por exemplo, e es-
ses outros jogos? Para Wittgenstein, o que torna todos esses jogos 
parte da categoria jogo é uma semelhança de família. 
Do mesmo modo que reconhecemos pessoas da mesma famí-
lia por terem algumas ligações e semelhanças que não sabemos enu-
merar exatamente, reconhecemos algumas atividades comojogos. 
Sabemos que algo é ou não um jogo se nos é dado um exemplo a ser 
comparado com outrosjogos que conhecemos. A aproximação entre 
linguagem e jogos no conceito de jogos de linguagem é desse tipo. 
Desse modo, diferentemente dos modelos lógicos abstratos, os jogos 
de linguagem destacam o uso da linguagem comum e a aproximação 
a casos concretos desse uso. Essa abordagem permite que se observe 
como a linguagem funciona, em vez de como deveria funcionar.
Observe a diferença entre as concepções de linguagem 
da filosofia analítica e da filosofia de Wittgenstein. Fique aten-
to a que elementos envolvidos no uso da linguagem são re-
levantes para Frege e Russell, por um lado, e para Wittgens-
tein, por outro. Note, também, como o que a filosofia analítica 
considera como o problema da filosofia da linguagem não é o 
mesmo que o considerado por Wittgenstein.
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UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
Língua e ideologia em Bakhtin
A obra de Bakhtin, contemporâneo de Wittgenstein, tam-
bém exerceu grande influência sobre o pensamento linguístico e 
filosófico do século 20. Essa influência se mantém no pensamen-
to contemporâneo. A obra do pensador soviético, de recepção 
tardia no Ocidente, antecipou várias das ideias desenvolvidas 
pela sociolinguística, pela análise do discurso e pela pragmáti-
ca linguística. Bakhtin critica duas tendências fundamentais da 
tradição ocidental de reflexão sobre a linguagem (WEEDWOOD, 
2002): a primeira diz respeito ao subjetivismo idealista, ou seja, 
a ideia de que a língua é uma atividade mental que tem como 
fonte o psiquismo individual; a segunda se refere ao objetivismo 
abstrato, que afirma que a língua é um sistema de regras abstra-
to e que ignora a produção individual dos falantes em favor da 
construção de um construto teórico abstrato e homogêneo. 
O autor propõe, então, que a língua seja considerada como 
uma atividade social, baseada nas necessidades da comunica-
ção. Bakhtin destaca a fala ea enunciação, que não podem ser 
separadas das suas condições de comunicação e das estruturas 
sociais a que estas últimas estão relacionadas. 
Todo signo linguístico é, para Bakhtin, um signo ideológi-
co,isso significa que este está relacionado a estruturas sociais 
e relações de poder. Desse modo, o autor considera que "a 
variação é inerente à língua e reflete variações sociais" (WEE-
DWOOD, 2002, p. 152). As mudanças da língua, portanto, não 
seguem apenas uma dinâmica interna, mas a uma dinâmica que 
diz respeito ao mundo social. Além disso, segundo a filosofia 
da linguagem de Bakhtin, a língua só é possível no diálogo, ou 
seja, na comunicação. Por isso, a linguagem sempre diz respei-
to a um processo social, e não a atividades individuais. Mesmo 
46 © LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
que de modo potencial, sempre temos um interlocutor. Mesmo 
as atividades mentais possuem um "horizonte social", ou seja, 
um destinatário socialmente definido. Se, como afirma Bakhtin, 
a linguagem condiciona o pensamento, a consciência também 
é condicionada pela ideologia. Isso porque mesmo a mente é 
construída socialmente.
Observe como os contextos de enunciação são tratados 
por Bakhtin e Wittgenstein. Bakhtin chama atenção para o 
caráter social e ideológico da linguagem, acrescentando aos 
elementos relevantes para o pensamento sobre a linguagem a 
reflexão sobre relações de poder dentro de estruturas sociais.
Foucault e o discurso
Uma das principais questões presentes na obra de M. Fou-
cault é investigação da "emergência de conceitos, instituições e 
técnicas que caracterizam a cultura e as formas de vida moderna 
ocidentais" (MIGUENS, 2007, p. 246). Assim, Foucault dedicou-
-se, por exemplo, à pesquisa de como determinados indivíduos 
na sociedade moderna passaram a ser classificados como loucos 
(e certas práticas e condutas classificadas como loucura) e um 
conjunto de conhecimentos, práticas e instituições foram criadas 
para tratar desses indivíduos, ou de como o controle de si foi 
objeto de técnicas e conceitos na história da sexualidade moder-
na, ou ainda como se constituíram as ciências humanas moder-
nas. Foucault praticou um tipo de filosofia, que tem inspiração 
em Nietzsche, arqueológica, ou seja, que "procura especificar as 
condições que tornaram historicamente possível falar de uma 
determinada maneira acerca de um determinado assunto (por 
exemplo a loucura, ou a sexualidade) (MIGUENS, 2007, p. 246). 
47© LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
A arqueologiade Foucault é feita mediante a investigação de 
práticas discursivas, que são regras, determinadas no tempo e no 
espaço, e que definem a condições do discurso em uma determi-
nada época, socialmente, economicamente, geograficamente e lin-
guisticamente (PAVEAU; SAFARTI, 2006). Essas práticas discursivas 
são anônimas e históricas, e mantêm relações entre si e fenômenos 
não-discursivos, segundo Foucault. Voltaremos às teorias do discur-
so e à obra de M. Foucault com mais detalhes na Unidade 3.
A linguística enunciativa de Maingueneau
Para D. Maingueneau, a enunciação desempenha um pa-
pel fundamental na relação entre a língua e o mundo (PAVEAU; 
SAFARTI, 2006). Você conhecerá melhor as ideias de Mainguene-
au e da linguística enunciativa nas próximas unidades, mas entre 
as principais reflexões do autor sobre a linguagem e que diz res-
peito à relação entre linguagem, pensamento e mundo, estão: 
1) os gêneros discursivos limitam a enunciação de várias for-
mas, não sendo a enunciação, portanto, limitada apenas 
pela apropriação que o indivíduo faz da língua;
2) a enunciação ocorre na interação, dependendo, assim, de 
mais de um indivíduo;
3) a enunciação nem sempre está a cargo do indivíduo que fala 
(PAVEU; SAFARTI, 2006).
3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES
Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição 
necessária e indispensável para você compreender integralmente 
os conteúdos apresentados nesta unidade.
48 © LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
3.1. linguagem, pensamento e mundo
Confira nos textos e no vídeo a seguir algumas informações 
complementares sobre a relação entre filosofia e ciências da lin-
guagem, que não foram abordadas nesta unidade. 
• NETO, José Borges. História da linguística no Brasil. Dispo-
nível em: <http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/
edicoesanteriores/4publica-estudos-2005/4publica-es-
tudos-2005-pdfs/1-convidado-borges.pdf>. Acesso em: 
28 mar. 2014.
• NEVES, Maria Helena de Moura. A linguística na gra-
mática. Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=6w3UWaOEjHo>.Acesso em: 28 mar. 2014.
• RODRIGUES, Rômulo da Silva Vargas. Saussure e a defi-
nição da língua como objeto de estudos. Disponível em: 
<http://www.revel.inf.br/files/artigos/revel_esp_2_
saussure_e_a_definicao_de_lingua.pdf>. Acesso em: 
28 mar. 2014.
3.2. a linguagem ideal
Nos textos a seguir, você encontrará alguns detalhes sobre 
o trabalho de Russell e Frege, além de alguns dos exemplos uti-
lizados pelos próprios autores nas suas obras para discutir seus 
conceitos.
• COSTA, Jaaziel de Carvalho. A teoria das descrições de 
Russell a partir de On Denoting: uma explanação. Dis-
ponível em: <http://www.revistafundamento.ufop.br/
Volume1/n2/vol1n2-9.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014.
49© LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
• BARBOSA, Marinalva Vieira. A relação entre sentido e 
referência a partir do olhar de Frege. Disponível em: 
<http://www.primeiraversao.unir.br/atigos_pdf/nume-
ro130Marinalva.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014.
• COSTA, Claudio F. Teorias descritivistas dos nomes pró-
prios. Disponível em: <http://www.ufpel.edu.br/isp/
dissertatio/revistas/30/08.pdf>. Acesso em: 28 mar. 
2014.
• Entrevista de Bertrand Russell à BBC em 1959. 
Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=Ut7drCi2mts>. Acesso em: 28 mar. 2014.
3.3. a linguagem comum
Veja os textos a seguir e observe algumas leituras possíveis 
das teorias de Wittgenstein e Bakhtin, além da possibilidade de 
relação entre as ideias dos dois autores.
• AQUINO, Fernando Lopes de. Conceitos e semelhanças 
de família em Wittgenstein: uma leitura das Investiga-
ções Filosóficas. Disponível em: <http://www.marilia.
unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Kinesis/fernando-
lopesdeaquino50-61.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014.
• SILVA, Renata. Linguagem e ideologia: embates teó-
ricos. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ld/
v9n1/a08v9n1.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014.
• NASCIMENTO, Maria Eliza Freitas do; SANTOS, Ivanaldo. 
Bakhtin e Wittgenstein: teorias em diálogo. Disponível 
em: <http://www.theoria.com.br/edicao0310/
bakhtin_e_wittgenstein.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014.
50 © LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para 
você testar o seudesempenho. Se encontrar dificuldades em res-
ponder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos 
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) As afirmações a seguir dizem respeito às questões pertinentes à filosofia 
da linguagem, exceto:
a) A filosofia da linguagem pode ser feita por filósofos, linguistas ou qual-
quer um que se proponha a refletir sobre a linguagem.
b) A filosofia da linguagem se dedica ao estudo da escrita correta de acor-
do com as regras gramaticais.
c) A filosofia da linguagem pode investigar o funcionamento das lingua-
gens formais e das linguagens naturais.
d) A filosofia da linguagem pode abarcar perspectivas mentalistas, realis-
tas e pragmáticas da linguagem.
2) Qual das afirmações a seguir sobre as ciências da linguagem está incorreta?
a) É diferente da filosofia da linguagem, pois se dedica ao estudo da di-
versidade das línguas.
b) Seu desenvolvimento é resultado do encontro de diversas tradições.
c) Estruturalismo, relativismo e pragmatismo se referem a abordagens 
das ciências da linguagem.
d) A linguística é uma ciência autônoma, mas capaz de estabelecer pon-
tes com outras ciências e a filosofia.
3) A partir das ideias de Frege sobre a linguagem apresentadas nesta unida-
de, pode-se afirmar que:
a) O sentido é que garante a existência do mundo.
b) A linguagem deve ser a principal questão para a filosofia.
c) A análise da linguagem só é possível com uma escrita conceptual.
d) Uma palavra possui o mesmo significado em qualquer frase.
4) Uma das principais questões da filosofia da linguagem diz respeito às re-
lações entre linguagem, pensamento e mundo. Segundo Russell, qual o 
papel da linguagem formal para o conhecimento do mundo?
a) É capaz de revelar a estrutura do mundo.
b) Esconde descrições sob nomes próprios.
51© LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
c) Permite uma representação concisa da realidade.
d) É abstrata demais para o uso.
5) Em As Investigações Filosóficas, Wittgenstein afirma que a linguagem:
a) é a estrutura que delimita o conhecimento do mundo.
b) é apenas um jogo.
c) é uma atividade humana.
d) possui uma essência que deve ser investigada pelo filósofo.
Gabarito 
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) b.
2) a. 
3) c.
4) a. 
5) c.
5. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você viu como as relações entre a lingua-
gem, o pensamento e o mundo foram tratadas por diferentes 
tradições. Além disso, você pôde acompanhar como autores fun-
damentais da filosofia da linguagem do final do século 19 e do 
século 20 abordaram problemas envolvendo as possibilidades de 
conhecimento através da linguagem, o funcionamento da lingua-
gem e os métodos para a análise da linguagem. 
Agora, você está preparado para acompanhar as discus-
sões centrais propostas pela Linguística contemporânea, poden-
do avaliar quais os problemas e concepções da linguagem estão 
52 © LINGUÍSTICA IV
UNIDADE 1 – FIlosoFIA DA lINgUAgEm E sEUs objEtIvos
em jogo em cada uma das propostas teóricas e metodológicas 
que você irá estudar. Não se esqueça de consultar os Conteúdos 
Digitais Integradores e estudá-los, pois eles contêm detalhes, 
exemplos e explicações complementares aos apresentados aqui 
e o auxiliarão na compreensão e fixação do conteúdo.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUROUx, S. A filosofia da linguagem. Tradução de José Horta Nunes. Campinas: 
Editora da Unicamp, 1998.
MARTINS, H. Três caminhos na filosofia da linguagem. In.: BENTES, A. C.; MUSSALIN, F. 
Introdução à linguística:fundamentos epistemológicos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
MIGUENS, S. Filosofia da linguagem:

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