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RESUMO-Abordagens Clássicas da sociologia do direito

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A Sociologia como só passou a existir a partir do séc. XIX, quando já havia a aceitação do direito natural, era analisado como dado, intrínseco às relações humanas, tanto de amizade quanto de dominação hierárquica. O direito era problematizado necessariamente através de uma noção abstrata e indeterminada de liberdade, com normas imprescindíveis ao convívio, substancialmente determinadas e funcionais, como em um contrato social. O direito natural já havia preparado a interpretação sociológica do direito, como direito racional, e isso exatamente com o auxílio da categoria do contrato. O homem era abstraído como sujeito, e o contrato torna-se a categoria através da qual a dimensão sócia da vida humana pode ser pensada como possível e todas as suas configurações.
O direito natural e a sociologia concebem o direito e a sociedade como fenômenos inseparáveis entre si, sendo que a sociologia analisa essa relação de forma mais abstrata, mais variada, na medida em que pode aceitar a tese de que todas as sociedades devem ter uma ordem jurídica, mas não a tese de que existam normas jurídicas igualmente válidas para todas as sociedades. A Sociologia do Direito não leva em consideração se determinado direito ou norma deveria ser universalmente aceito como certo, pois assim não descreveria a realidade moral da sociedade, mas tão somente o ponto de vista do moralista.
	O distanciamento da visão introspectiva do direito e sua fundamentação moral caracteriza os esforços das abordagens clássicas à sociologia do direito. É possível reconhecer três premissas comuns à sociologia do direito: 1) O direito não é mais a sociedade em si, mas um produto dela. 2) Direito e sociedade são vistos como duas variáveis distintas porém dependentes entre si. 3) Hipóteses sobre a relação direito x sociedade podem ser empiricamente controláveis e observadas a partir da correlação entre as variáveis.
	Mas toda essa abordagem não é muito conclusiva, se mostra mais interessante fazer um resumo das principais teorias da sociologia clássica.
	A Teoria sociológica de Marx inova em tentar dar um sentido à sociedade fazendo uma análise econômica e não política, centrada na materialidade das necessidades humanas, no desenvolvimento histórico e dialético destas. As forças e condições de produção, enquanto meios de criação de bens teriam influência direta na satisfação dessas necessidades materiais, criando conflitos sociais resultantes da não satisfação dessas necessidades. O direito teria a função de pacificar esses conflitos, protegendo assim a propriedade. Mas se o direito está totalmente a serviço dos interesses da classe detentora dos meios de produção, a única forma de se alcançar o desenvolvimento social seria a revolução para modificar o direito vigente, permitindo a socialização da propriedade. Deste modo, o interesse classista seria substituído pela racionalidade. Resumindo, a doutrina marxista analisa a sociedade e o direito a partir das relações entre necessidade material e decisões e sentenças judiciais, mas o faz de forma unilateral, limitada e insuficiente para entender a complexidade sistêmica da sociedade.
A doutrina de Sir Henry Maine considera que o desenvolvimento do direito é um 
movimento do status para o contrato, conceitos que seriam a base da construção de um 
ordenamento jurídico e da distribuição de direitos e deveres dentro da sociedade. O status é determinante para as sociedades que valorizam a linhagem dos indivíduos, o que é característico da sociedade familiar e da estamental. 
Porém, ocorreu em meio a esse sistema, um desenvolvimento social, causado tanto pela circulação de capitais quanto pelo abandono de convenções sociais que outrora se mantinham vigentes devido à tradição de cada local. A sociedade passa a ser caracterizada por conceder uma liberdade maior às pessoas, principalmente ao permitir maior mobilidade social, enquanto o direito era aplicado como ferramenta para garantir a manutenção do próprio sistema socioeconômico liberal. Nas sociedades mais complexas o direito passa por uma adaptação, uma busca por formas de legitimação não mais relacionadas à tradição ou à moral. 
	Uma geração depois de Maine, Émile Durkeim rompe com a lógica do contrato social e concentra-se em fazer uma análise puramente sociológica da sociologia do direito. Analisa-se a divisão segmentária ou a divisão funcional da sociedade, a primeira menos complexa, distinguiria os indivíduos em famílias, enquanto a última tem maior complexidade, organizando a sociedade nos termos de divisão do trabalho, separando a sociedade em diferentes sistemas parciais que desempenham funções específicas no âmbito da sua organização. Enquanto na fase segmentária o direito se baseia em sanções repressivas, na fase funcional a tendência é substituí-las por sanções restitutivas, tornando possível a reparação dos danos causados, muito mais útil socialmente do que a vingança pública praticada com o fim de reprimir as ofensas às normas. Durkeim também defende que a relação entre a estrutura social sistêmica e o direito é verificável empiricamente. Apesar de importante, a doutrina de Durkeim analisa o direito delimitando-o apenas em um aspecto, que é a elasticidade das sanções conforme a gravidade da consequência da conduta ilícita. 
 	Já Weber parte da premissa de que a racionalidade é o aspecto fundamental 
do desenvolvimento da sociedade europeia, analisada por um método empírico-histórico 
Nesse processo o direito abandona normas materiais de conteúdo meramente ético e passa a adotar normas formais e abstratas, mais adequadas ao processo jurídico. Ao mesmo tempo, se formaria uma tendência oposta ao formalismo do direito, o instrumentalismo das formas processuais, de modo a tornar o direito mais elástico, adaptável a situações imprevisíveis. A função principal do direito seria garantir certa previsibilidade ao ambiente social, sem a qual não seriam realizáveis medidas de bem-estar social. 
Parsons considera que as teorias de Durkeim e Weber servem como ponto de partida para uma sociologia geral do direito, na qual se reconhece nas normas a regulamentação antecipada das ações das pessoas no âmbito da sociedade. Durkeim não vai além do reconhecimento de uma realidade social autônoma do dever-ser normativo, em conformidade com ele (comportamento normal) ou contra ele (anomia). Já Weber define a ação como tendo referência no sujeito, isto é, necessariamente como escolha subjetiva, não totalmente limitada à necessidades materiais. A teoria de Parsons , ao unir o realismo normativo de Durkeim com o subjetivismo do sentido de Weber, vai mais longe do que as teorias em que se baseia e alcança um grau de abstração mais elevado. Sua tese central é que agir no âmbito da sociedade significa prever de forma recíproca o comportamento do outro, com base nas normas válidas. A estrutura do sistema social é baseada em expectativas normativas, mas elas não são esclarecidas na teoria de Parsons. 
Eugen Ehrich, contemporâneo de Weber e Durkeim, era um jurista que discordava do puro uso da exegese na interpretação do direito, para ele o direito é o conjunto de comportamentos no âmbito das organizações sociais e, portanto, surge do próprio convívio social, enquanto o direito positivo escrito teria uma função secundária.
Ao contrário de outros juristas, como von Jhering, Philipp Hech ou Roscoe Pound, o quais se contentavam com uma ciência do direito sociologizante que ressaltasse os interesses na interpretação das normas, Ehrlich busca, em sua "Fundamentação da sociologia do direito"(1913), fundamentar a ciência do direito no seio da sociologia jurídica. O direito é, para ele, a organização fática do comportamento em corporações sociais, surgindo na vida social, e por isso que a acentuação fixa-se na própria sociedade, nas suas mudanças fáticas. Considerava o direito elaborado pelos juristas em conceitos e preceitos, e o direito posto pelo Estado como um fenômeno secundário, derivado e fracamente verbalizado. Na aplicação do direito dos juristas ou do Estado,ocorrendo dúvidas, recorreria ao direito faticamente vivenciado, ao direito primário da sociedade.
          Isso chamou a atenção de juristas, mas não, em especial, de sociólogos. Sociologicamente, é óbvio que o direito é direito na sociedade e com ela se modifica. Daí não se pode ter um ponto de contraposição ao direito dos juristas ou ao direito estatal, que só são compreensíveis no contexto social e nunca externo a ele. O que Ehrlich trata, partindo do ângulo ultrapassado de um desligamento entre sociedade e Estado, é uma diferenciação de papéis e sistemas na sociedade. Mas a sua pesquisa permaneceu insuficiente teoricamente, e o seu conceito de direito, obscuro.
          Assim sendo, percebe-se que o direito não é determinado por si mesmo ou a partir de normas ou princípios superiores, e sim por sua referência à sociedade. E essa referência não é tida no sentido tradicional de uma hierarquia de fontes do direito, mas é entendida como uma correlação sujeita a modificações evolutivas, que pode ser experimentalmente verificada como uma relação de causa e efeito.
          Isso e outros problemas atinentes às abordagens clássicas da sociologia jurídica levaram Luhmann a afirmar que "...os motivos desse fracasso (o fato de a sociologia do direito não ter tido nenhuma abordagem no sentido de uma teoria sociológica da positividade do direito) da sociologia clássica do direito frente a esse que poderia ter sido seu problema mais importante e atual estão à mão. Eles se localizam-se na insuficiência de suas bases teóricas, no estágio de desenvolvimento da teoria social então disponível. Se ela tivesse formulado o problema da adaptação do direito à crescente complexidade da sociedade, então ela teria podido reconhecer a função e a inevitabilidade da positivação do direito..."

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