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Prescrição e Decadência

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PRESCRIÇÃO
Prescrição é a perda da PRETENSÃO, mediante a inércia do titular do direito. Devem-se observar três requisitos: A violação de um direito; o surgimento da pretensão e os prazos prescricionais previstos em lei.
Quando há prescrição, a parte que tinha a pretensão, perde o direito de cobrar judicialmente o devedor.
A prescrição é uma defesa do DEVEDOR, agindo como forma de seguro do negócio jurídico, evitando assim que o devedor fique eternamente em dívida com o credor.
Ex.: João deixa de pagar o aluguel de um imóvel para José, violando um direito. A partir desse momento, José tem a pretensão de cobrar judicialmente este valor de João. O prazo previsto para que José não perca sua pretensão, está previsto na lei; neste caso no CC/02: Art. 206, § 3, inc I. O prazo é de três anos.
A prescrição inicia assim que nasce a pretensão, conforme Art. 189 CC/02. Os prazos prescricionais estão nos Arts. 205 e 206 do CC/02 ou podem estar também em legislação específica.
A EXCEÇÃO é a defesa que cabe contra uma pretensão em um processo judicial. Ex.: uma pessoa cobra judicialmente a outra, que exerce como exceção a compensação da dívida, ou seja, alega que o credor tem uma dívida com ele no mesmo valor e que estas dívidas devem ser compensadas. Outro exemplo de exceção é a do contrato não cumprido, quando a parte que é cobrada alega que não pagará a divida por que o contrato não foi cumprido. O Art. 190 do CC/02 diz que a exceção prescreve no mesmo prazo que a pretensão.
Como a pretensão beneficia o devedor, este pode de forma EXPRESSA OU TÁCITA renunciar a prescrição, desde que não haja prejuízo a terceiros, conforme Art. 191 do CC/02. A renúncia de forma expressa é aquela clara, que não deixa dúvidas quanto a vontade do devedor de renunciar a prescrição. A renúncia tácita ocorre quando o devedor age de maneira incompatível de alegar a prescrição em sua defesa.
Exemplo de renúncia expressa: João deve dinheiro a José, e mesmo tendo prescrita a pretensão de José cobrar a dívida judicialmente, João, mesmo sabendo que o prazo está prescrito, assina um termo se comprometendo a pagar a dívida. Tal renúncia não deixou dúvidas quanto a vontade de João em pagar a dívida.
Exemplo de renúncia tácita: João deve dinheiro a José, e após a prescrição da dívida, João pede que José parcele essa dívida em 5 vezes. Tal ação de João é incompatível com quem quer alegar prescrição em sua defesa, foi uma renúncia a prescrição de forma tácita.
O devedor que fez o pagamento da dívida mesmo após a prescrição, NÃO tem o direito de cobrar este valor de volta, uma vez que quando ocorre a prescrição o credor perde apenas a pretensão de cobrar judicialmente a dívida, não perdendo o direito de recebê-la.
Quando ocorre renúncia a pretensão, o fiador (terceiro) NÃO responderá mais pela dívida.
Os prazos de prescrição não podem ser alterados (para mais ou para menos) conforme acordo entre as partes, conforme o Art. 192 do CC/02. Por se tratar de uma matéria de interesse público que traz segurança para o negócio jurídico.
Diz o Art. 193 do CC/02: A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita.
Deste modo, a prescrição pode ser alegada em qualquer instância, desde que o processo ainda não tenha sido transitado em julgado, para não ferir a coisa julgada.
A prescrição PODE ser reconhecida de ofício pelo juiz.
A prescrição não pode ser alegada pela primeira vez nos tribunais superiores, pois a admissibilidade do recurso especial e extraordinário exige que toda matéria tenha sido apreciada nas instâncias ordinárias.
Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm o direito de regresso contra aqueles que derem causa a prescrição ou não a alegarem oportunamente conforme Art. 195 do CC/02.
Ex.: João que tem 17 anos recebe de herança de sua mãe um automóvel segurado, vindo este a envolver em um acidente. Seu pai, que é seu representante legal, deixa prescrever o prazo para cobrar os valores da seguradora. Nesse caso, João pode entrar com uma ação de regresso e cobrar de seu pai (que deu causa a prescrição) os valores.
Ex. 2: O síndico de um condomínio (que é seu representante legal) deixa prescrever uma dívida de aluguel de um salão de festas do próprio condomínio. Neste caso, o condomínio como pessoa jurídica, pode entrar com uma ação de regresso contra o síndico.
Do mesmo modo, os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas podem entrar com ação de regresso contra aqueles que não alegaram a prescrição oportunamente.
Ex.: O condomínio é cobrado por uma dívida de 15 anos de IPTU. o síndico (representante legal) paga toda a dívida, inclusive aqueles que já estavam prescritos, deixando de alegar de forma oportuna a prescrição. Deste modo, o condomínio tem o direito de regresso a esses valores.
O Art. 196 diz que: A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor. 
Tal artigo é válido tanto para causa mortis quanto para ato entre vivos.
Ex. de causa mortis: Maria é credora de uma dívida de mil reais que prescreve em dez anos. Após 7 anos do início do prazo prescricional, Maria falece sem que tenha feito nenhuma cobrança dessa dívida. Seus herdeiros agora têm 3 anos para entrar com ação judicial e cobrar a dívida, ou seja, não se inicia novo prazo.
Ex. de ato entre vivos: O banco Alfa é credor de 1 milhão de reais de um cliente, dívida esta que prescreverá em 3 anos. Sem que tenha feito a cobrança dessa dívida em 2 anos, o banco Alfa é vendido para o banco Delta (que passa a ser o seu sucessor), que terá agora 1 ano para realizar a cobrança judicialmente.
Os Arts. 196 a 201 do CC/02 dispõem sobre as causas de impedimento e de suspensão da prescrição. A diferença é que, O IMPEDIMENTO OCORRE QUANDO O PRAZO AINDA NÃO COMEÇOU A CORRER, como um exemplo o Art. 196. inc I, que diz que não ocorre prescrição entre cônjuges, na Constancia da sociedade conjugal. Nesse caso, mesmo que o marido tenha uma dívida com a esposa que prescreveria em 3 anos, esse prazo só começará a ser contado se houver o divórcio entre as partes.
Já A SUSPENSÃO OCORRE QUANDO O PRAZO PRESCRICIONAL JÁ COMEÇOU A CORRER.
Ex.: João deve mil reais a Maria, dívida esta que prescreve em 3 anos. Após 2 anos do fato, Maria e João se casam. Durante o período do matrimônio, o prazo prescricional está suspenso, sendo que se estes se divorciarem o prazo continua a correr apenas com o tempo restante, 1 ano. Ou seja, quando há suspensão, o prazo não volta do começo, mas sim de onde parou quando foi suspenso.
O Art. 197 trata das relações entre familires, tuteladas e curateladas. Já o 198 fala sobre a condição que a pessoa se encontra, como por exemplo, o servidor público servindo o país no estrangeiro terá seu prazo prescricional impedido ou suspenso devido a condição em que se encontra. 
O Art. 199 diz que também não corre a prescrição:
I-pendendo condição suspensiva.
A pretensão só surge quando um direito é violado, sendo assim, se houver uma condição ainda pendente, não há que se falar em perda de direito e nem em prazo prescricional.
Ex.: Uma pessoa compra um quadro de um pintor, e fica acordado que o valor será pago assim que o pintor lhe entregar o quadro. Enquanto o pintor não fizer a entrega do quadro, não corre prazo prescricional, que só começará a correr quando o quadro for entregue, o seja, a condição para que ocorra o pagamento ser efetuada.
II-não estando vencido o prazo.
A prescrição só começa a correr após o prazo acordado for vencido.
Ex.: João empresta mil reais a Pedro para que este lhe pague no prazo de um ano. O prazo prescricional para João fazer a cobrança, só começará a contar após o prazo que ele deu para que Pedro lhe pagasse.
III-pendendo ação de evicção.
A ação de evicção está prevista nos Arts. 447 a 457 do CC/02. Ocorre a evicção quando uma pessoa que adquiriu um bem, perde a posse ou propriedade desse bem, por decisão judidical para um terceiro (que não é o vendedor).
Ex.: Maria compra um terreno de João. Pedro (terceiro) ajuíza uma açãoreivindicatória contra Maria alegando que João não poderia ter vendido o imóvel para Maria, pois o imóvel lhe pertence. Enquanto essa ação estiver pendente o prazo para prescrição de Maria cobrar seus direitos de João está suspenso.
O Art. 200 determina que quando uma ação cível se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não ocorrerá a prescrição no cível antes da respectiva sentença penal definitiva.
É válido ressaltar que essa regra SÓ SE APLICA quando a ação cível DEPENDER da sentença penal para ser resolvida, nesse caso o prazo prescricional só começará a contar a partir da data do trânsito em julgado, e não da data dos fatos.
Ex.: João é atropelado por um motorista em alta velocidade e vem a óbito. O motorista que atropelou João não foi identificado, sendo que se abrirá um processo criminal para apurar os fatos, ficando o prazo prescricional impedido de começar, sendo que a ação cível depende do resultado do processo criminal para começar.
Quando a AÇÃO CÍVEL NÃO DEPENDE DA CRIMINAL, o prazo prescricional CORRE NORMALMENTE.
Ex.: Um detento é assassinado em sua cela e família decide processar o Estado pela sua morte. Nesse caso se abrirá um processo para descobrir quem foi o responsável pelo assassinato, mas como a família está processando o Estado, que era o responsável pela segurança do detento, a ação cível não dependerá do resultado do processo criminal, neste caso o prazo prescricional contará a partir da data dos fatos.
A suspensão da prescrição é um direito personalíssimo. Somente a pessoa beneficiada em lei pode invocar esse benefício em seu favor, este é o princípio da intangibilidade. Por isso o Art. 201 diz que suspensa a prescrição para um dos credores solidários, só se aproveitam os outros se a obrigação for INDIVISÍVEL.
Ex.: João, José e Maria são credores solidários e devem receber um carro. Durante o prazo da prescrição, José que é funcionário público vai servir a união no estrangeiro. Como nesse caso a obrigação a ser recebida (um carro) é indivisível, o prazo também é suspenso para os demais credores solidários. Porém tal suspensão não ocorre se a obrigação for divisível, como por exemplo, um montante em dinheiro.
O Art. 202 do CC/02 fala sobre a interrupção da prescrição. Quando o titular do direito demonstra que não está sendo negligente ao realizar atos previstos na lei com a intenção de exercer o seu direito, o prazo de prescrição se interrompe e começa a contar do zero novamente. Porém, a interrupção da prescrição só poderá ocorrer uma vez e os atos podem vir tanto do credor como do devedor.
Ex.: João tem uma dívida de aluguel com José que prescreve em três anos. Decorrido um ano, João assina um termo reconhecendo esta dívida. A partir desse momento, o prazo de prescrição é interrompido e volta a ser contado integralmente a partir do momento em que João assinou o termo.
Ler Art. 202 para saber as causas de interrupção da prescrição.
A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado, inclusive por terceiros. Ex.: O Ministério público pode interromper a prescrição em favor do cidadão junto ao INSS ou em casos do direito do consumidor, o sindicado em favor do sindicado, a esposa em favor do marido, etc. (art. 203).
O alcance das causas suspensivas e interruptivas está previsto no Art. 204.
Pressupõe a existência de mais dum credor ou de mais de um devedor. Em regra estas causas são pessoais, aproveitando apenas o credor que agiu e de outro lado prejudicando apenas o devedor demandado (Art. 204 caput). Excepcionalmente, em caso de obrigação solidária a interrupção efetuada contra um devedor atinge os demais, bem como a interrupção efetuada por um dos credores aproveita aos outros. Esta exceção está no Art. 204 § 1°, se justificando pelo fato da obrigação solidária ser vista na relação jurídica de forma unitária, em que pese internamente possuir mais de uma parte.
O Art. 204 §2° prevê que a interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores, isto porquê o herdeiro está fora do todo unitário previsto na obrigação solidária.
O Art. 204 §3° traz modalidade do princípio da gravitação jurídica ao prever que a interrupção produzida contra o devedor principal prejudica o fiador. 
DECADÊNCIA
Decadência é a perda do Direito potestativo (aquele que a pessoa pode exercer sem a concordância da outra) pois não obedeceu a prazo estipulado em lei ou fixado em um negócio jurídico. A pessoa não pode ser negligente e deixar passar muito tempo para requerer os seus direitos.
Alguns direitos potestativos tem prazo para serem exercidos e outros não.
Ex. de direitos potestativos que não tem prazo: Divórcio, demissão.
Ex de direitos potestativos que tem prazo: Anulação de um contrato, anulação do casamento do menor sem o consentimento do representante legal.
Todos os prazos previstos no CC/02 EXCETO os prazos previstos nos Arts. 205 e 206 são prazos de decadência.
O prazo de decadência começa a correr assim que nasce o direito.
Em regra, os prazos de decadência são peremptórios, os seja, não sofrem impedimento, suspensão ou interrupção (Art. 207 CC/02). Porém há algumas exceções, como o previsto no Art. 26 §2º inc I do CDC, onde o prazo de decadência não corre quando o consumidor faz uma reclamação comprovadamente formulada e não recebe a resposta do fornecedor. Também não corre o prazo de decadência para os absolutamente incapazes (art. 208 CC/02).
Existem dois prazos de decadência: a decadência legal (prazo fixado em lei) e a decadência convencional (prazo fixado entre as partes). A decadência legal, por se tratar de assunto de interesse público NÃO pode ser renunciado (Art. 209 CC/02). Já a decadência convencional, por tratar de interesse particular poderá ser renunciado.
O juiz só deverá reconhecer de ofício a decadência quando for legal (Art. 210 CC/02). Quando a decadência for convencional o juiz NÃO poderá reconhecer de ofício, apenas quando uma das partes se manifestar (Art. 211 CC/02). A decadência pode ser alegada ou conhecida em qualquer grau de jurisdição.

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