Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Uma Palavra F Indice Prefácio .................................................................. 5 Uma Palavra aos Moços - J.C. Ryle.........................7 Capítulo 1 - Razões Para Exortar os Moços.............. 9 Capítulo 2 - Perigos que os Moços Enfrentam...... 23 Capítulo 3 - Conselhos Gerais aos Moços............. 39 Capítulo 4 - Regras Específicas Para os Moços.... 55 Capítulo 5 - Encorajamentos Finais...................... 71 Prefácio Eu gostaria muito que na adolescência eu tivesse encontrado os escritos de J.C.Ryle. Pois, ao mesmo tempo em que seus livros são atrativos a todas as idades e estágios da experiência cristã, a franqueza da sabedoria bíblica e a profunda preocupação pastoral, encontradas neles, os tornam especialmente úteis para os estágios de formação da vida. J.C.Ryle escreveu sobre a vida cristã de forma a unir uma exatidão espiritual perscrutadora com um equi líbrio maravilhosamente saudável. Este livro, Uma Palavra aos Moços, ilustra essas qualidades. Ele está repleto de conselhos confiáveis e, com uma combinação rara de seriedade e bondade, diz exatamente as coisas que precisamos ouvir. Os moços, para os quais o livro foi escrito, o acharão de valor inestimável. Mas todos os cristãos, homens ou mulheres, jovens ou velhos, podem lê-lo e dele receber benefícios duradouros. E uma obra digna de ser lida e amplamente divulgada; fará um grande bem espiritual a todo leitor. Sinclair B. Ferguson Professor de Teologia Sistemática Seminário Teológico de Westminster Filadélfia, PA. Uma Palavra aos Moços Escrevo esta pequena obra em benefício dos moços. Quando o apóstolo Paulo escreveu a sua epístola a Tito, na qual falava do dever deste como ministro, men cionou os moços como um grupo que requer atenção especial. Depois de discorrer sobre os homens idosos, as mulheres idosas e as jovens, ele acrescenta este vigoroso conselho: “Quanto aos moços, de igual modo, exorta-os para que, em todas as cousas, sejam criteriosos” (Tt 2.6). Estou seguindo o conselho do após tolo. Proponho-me a oferecer aos moços algumas palavras de afáveis e oportunas exortações. Estou envelhecendo, mas há poucas coisas das quais me lembro tão bem quanto'os dias^da minha juventude. Tenho a mais precisa lembrança das alegrias e tristezas, das esperanças e lágrimas, das tentações e dificuldades, dos julgamentos errôneos e afetos mal colocados, dos erros e das aspirações que fazem parte da vida do jovem. Serei muito grato, se apenas puder dizer algo que mantenha o moço no caminho certo e o preserve de faltas e pecados, os quais podem prejudicar o seu bem-estar, agora e na eternidade. Há quatro coisas que me proponho a fazer: pri meiro, mencionarei alguns motivos gerais por que os moços precisam ser exortados; segundo, destacarei alguns perigos específicos sobre os quais eles precisam ser alertados; terceiro, darei alguns conselhos gerais e instarei para que sejam aceitos por eles; quarto, estabe 8 Uma Palavra Aos Moços lecerei algumas regras específicas de conduta, as quais vigorosamente os aconselho a seguir. Tenho algo a dizer sobre cada um desses pontos; oro a Deus para que o que for dito possa causar algum bem a sua alma, caro leitor. John Charles Ryle Razões Para Exortar os Moços Inicialmente, quais são os motivos gerais por que os moços, em especial, devem ser exortados? Procurarei mencionar alguns deles. (1) Existe o triste fato de serem poucos os moços, em qualquer lugar, que demonstram espiritualidade genuína. Falo isso sem acepção de pessoas. E digo-o a respeito de todos - os de elevada ou baixa posição, ricos ou pobres, educados ou simples, eruditos ou incultos, da cidade ou do campo; não faz diferença. Tremo ao observar quão poucos jovens são guiados pelo Espírito, quão poucos estão no caminho estreito que conduz à vida, quão poucos estão colocando seus corações nas coisas que são do alto, que estão tomando a cruz e seguindo a Cristo. Digo isso com toda a tristeza; mas creio, diante de Deus, que estou dizendo nada mais que a verdade. Moço, você faz parte de um dos maiores e mais importantes grupos na população de seu país. Porém, como e em que situação se encontra a sua alma eterna? Em qualquer lugar que indaguemos, veremos com tristeza que a resposta será sempre a mesma! Perguntemos a qualquer fiel ministro do evangelho e observemos o que ele nos dirá. Segundo o seu cálculo, quantos jovens solteiros participam da ceia do Senhor? Quais são os mais negligentes quanto ao uso dos meios 10 Uma Palavra aos Moços da graça,1 os mais irregulares na freqüência aos cultos dõmínicais, os mais difíceis de serem atraídos aos estu dos bíblicos e às reuniõesjde oração e sempre os mais desatentos nas pregações? Que parte de sua congrega ção mais o preocupa? Quais são os “Rúbens” pelos quais ele tem as mais profundas “esquadrinhações do cora ção”? (Jz 5.16 - a rc ). Quais, no seu rebanho, são os mais difíceis de conduzir, os que requerem constantes alertas e reprimendas, os que lhe causam mais temor pelas suas almas e que parecem os mais incorrigíveis? Acredite, sua resposta sempre será: os moços. Perguntemos aos pais, em qualquer igreja de nossa nação, e vejamos o que geralmente eles têm a dizer. Quem, em sua família, causa mais dor e trabalho? Quem precisa de mais vigilância e, com mais freqüência, traz preocupações e dasapontamentos? Quais os primei ros a se desviarem do que é certo, e os últimos a se lembrarem dos avisos e dos bons conselhos? Quais os mais difíceis de serem mantidos dentro das normas e dos limites? Quais os que, com mais freqüência, caem no pecado, envergonham a família, entristecem seus amigos, amargam a velhice de seus parentes e fazem os de cabelos brancos padecerem de tristeza? Acredite, a resposta freqüentemente será: os moços. Perguntemos aos juizes e aos delegados de polícia e observemos o que nos responderão. Quem mais fre qüenta as choperias e danceterias? Quem são os que menos guardam o dia do Senhor? Quem promove ajun tamentos tumultuosos e reuniões de rebeldia? Quem é mais enredado pelo alcoolismo e tem mais tendência a perturbar a paz, roubar, assaltar e fazer coisas semelhan tes? Quem povoa as celas e penitenciárias? Que faixa etária mais requer incessante cuidado e vigilância? Acre dite, eles imeditamente apontarão para o mesmo grupo e dirão: os moços. Voltemo-nos para os ricos e observemos os comentários que eles farão. Em uma família, os filhos Razões Para Exortar os Moços 11 sempre desperdiçam o tempo, a saúde e o dinheiro na procura egoísta por.prazeres. Em outra, os filhos não buscam ter uma profissão específica, mas gastam o tempo mais precioso de suas vidas em fazer nada. Em uma outra, exercem a profissão como um mero esporte, sem atentar para as responsabilidades nela envolvidas. Em outra, ainda, os filhos estão sempre envolvendo-se em maus relacionamentos, trapaceando, entrando em ílívidas, associando-se a más companhias e, assim, man tendo seus amigos em constante preocupação. Lamentavelmente, não se previne essas coisas com posição social, diplomas, riquezas e cultura. Se a verdade fosse dita, pais ansiosos, mães com os corações despe daçados e irmãs amarguradas poderiam contar fatos tristes sobre esses filhos. Apesar de terem tudo o que este mundo pode oferecer, muitas famílias trazem, em seu meio, algum nome que nunca é mencionado ou que é citado apenas com desgosto e vergonha. Talvez seja o nome de algum filho, irmão, primo ou sobrinho que vive a seu próprio modo e, desta forma, serve de tristeza a todos os que o conhecem. São poucas as famílias abastadas que não trazem em si algum espinho de desgosto, alguma mancha nas páginas de felicidade, alguma constante fonte de dor e ansiedade; e, geralmente, namaioria das vezes, a ver dadeira causa de tudo isso não são os moços? O que dizer diante disso? O que vimos são fatos óbvios que nos encaram de frente; fatos com os quais esbarramos por toda parte; fatos que não podem ser negados. Que coisa horrível! Quão pavoroso é este pen samento - sempre que encontro um moço, encontro alguém que com toda a probabilidade é um inimigo de Deus, viajando pelo caminho largo que conduz à destrui ção; alguém desqualificado para o céu! Com toda certeza, á vista desses fatos, você não ficará admirado de que eu o exorte desta maneira. Na verdade, você deverá admitir que há uma causa justa para as minhas preocupações. 12 Uma Palavra aos Moços (2) A morte e o julgamento estão diante dos moços, assim como dos outros; mas quase todos eles parecem esquecer-se disso. Moço, está lhe ordenado morrer uma só vez (Hb 9.27). Não importa o quanto você esteja saudável e forte agora, o dia de sua morte talvez esteja muito próximo. Tenho visto a enfer midade atingir jovens e velhos. Tenho feito funerais de jovens e de idosos. Nos cemitérios eu leio nomes de pessoas da mesma idade que a sua. Tenho lido que, com exceção da infância e da velhice, morrem mais pessoas entre os treze e vinte e três anos que em qual quer outra fase da vida.2 Mesmo assim, você vive como se estivesse certo, no momento, de que jamais morrerá. Você pensa em atender a estas exortações amanhã? Lembre-se das palavras do sábio Rei Salomão: “Não te glories do dia de amanhã, porque não sabes o que trará à luz” (Pv 27.1). “As coisas importantes, amanhã”, disse um cético a alguém que o alertara de um perigo iminente; mas o amanhã dele nunca chegou. O amanhã é o dia do diabo, mas o hoje é o dia de Deus. Satanás não se importa com a espiritualidade de suas intenções, ou com a santidade de suas resoluções, contanto que sejam para amanhã. Oh! não dê lugar ao diabo quanto a isso! Diga-lhe: “Não, Satanás! Será hoje, hoje mesmo!” Não são todos os homens que chegam à idade de patriarcas como Isaque e Jacó. Muitos filhos morrem antes de seus pais. Davi teve de chorar a morte de dois dos seus filhos mais queridos; Jó perdeu todos os dez filhos em um só dia. A sua sorte pode ser como a daqueles jovens; e quando a morte chama, é inútil falar em amanhã - você tem de ir imediatamente. Você pensa que haverá um tempo mais apropri ado, no futuro, para considerar essas coisas? Assim também pensaram Félix e os atenienses, aos quais Paulo pregara; mas esse tempo nunca chegou (At 17.32-34; 24.24-27). O inferno está repleto de suposições tolas e fantasiosas como essas. É melhor fazer o que é certo Razões Para Exortar os Moços 13 enquanto você pode. Não deixe na incerteza nada que é eterno. Não corra o risco, quando se trata de sua alma. Acredite, a salvação de uma alma não é coisa irrelevante. Todos precisam de uma “grande” salvação, quer sejam moços ou velhos; todos precisam nascer de novo, ser lavados no sangue de Cristo e santificados pelo Espírito. Feliz é o homem que não deixa essas coisas na incerteza e que não descansa até que tenha o testemunho do Espírito, em seu interior, testificando ser ele filho de Deus. Moço, seu tempo é curto. Seus dias são como a medida de um palmo, como uma sombra, como um vapor, como um conto ligeiro. Seu corpo não é de bronze. Isaías 40.30 diz que até mesmo “os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem”. A sua saúde pode lhe ser tirada em um instante; é preciso só uma queda, uma febre, uma inflamação, uma hemorragia e o verme se alimentará de sua carne. Há apenas um passo entre você e a morte. Esta noite sua alma poderá ser requerida. Você está indo, rapidamente, pelo caminho de toda a terra; em breve você partirá. A sua vida é plena de incertezas, mas sua morte e seu julgamento são perfeitamente certos. Você, também, terá de ouvir o soar da trombeta do arcanjo e estar diante do grande trono branco. Você, também, deverá obedecer aquele chamamento que Jerônimo3 dizia sempre vibrar em seus ouvidos: “Levantai-vos, vós os mortos, e vinde ao julgamento”. Eis o que diz o próprio Juiz: “Certa mente venho sem demora” (Ap 22.20). Eu não posso, não ouso, não o deixarei sossegado. Quem dera você guardasse no coração as palavras do pregador: “Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas estas cousas Deus te pedirá conta” (Ec 11.9). E espantoso que, com tal exortação, qualquer homem possa permanecer descuidado e indiferente. Certamente, ninguém é tão tolo 14 Uma Paloura aos Moços quanto aqueles que se contentam em viver despreparados para a morte. Sem dúvida, a descrença dos homens é a coisa mais impressionante no mundo. E com razão que a profecia mais cristalina, na Bíblia, começa com estas palavras: “Quem creu em nossa pregação?” (Is 53.1). E com razão que o Senhor Jesus disse: “Quando vier o Filho do homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lc 18.8). Moço, eu temo que isto seja dito sobre você na corte celestial: “Ele deliberadamente não creu”. Temo que você passe de súbito deste mundo e acorde tarde demais, para constatar que a morte e o juízo são realida des. Temo por tudo isso; portanto o exorto. (3) O que os moços virão a ser depende, muito provavelmente, daquilo que são no mo mento; ainda assim, parece que se esquecem disso com muita facilidade. A juventude é o estágio embrionário da maturidade; o período de formação, no curto espaço da vida humana; a época decisiva, na exis tência de um homem. Pelo broto julgamos a árvore; pela flor julgamos o fruto; pela florada julgamos a safra; pelo amanhecer julgamos o dia; e, de modo geral, pelo caráter do jovem podemos julgar o que ele virá a ser na idade adulta. Moço, não se deixe enganar. Não pense que pode deliberadamente servir a si mesmo e a seus prazeres, no início da vida, e depois servir a Deus tranqüilamente, no final de sua existência. Não pense que pode viver como Esaú e morrer como Jacó. E zombaria agir assim com Deus e com sua alma. E um terrível desprezo supor que você pode oferecer ao mundo e ao diabo o vigor da sua juventude, deixando para o Rei dos reis as sobras de sua vida e os restos de suas forças. Isso é uma terrível tolice, e pode ser que você descubra,~ para o seu desespero, que tal coisa de fato não pode ser feita. Eu me aventuro a afirmar que você está contando com um arrependimento tardio. Você não sabe o que está fazendo. Está pensando nos fatos sem levar Deus Razões Para Exortar os Moços 15 em consideração. O arrependimento e a fé são dádivas de Deus; dádivas que Ele freqüentemente retém, depois de serem oferecidas em vão durante muito tempo. Admito nunca ser tarde para o verdadeiro arrependimento; mas, ao mesmo tempo, advirto-lhe que o arrependimento tardio poucas vezes é verdadeiro. Concordo que um ladrão penitente foi convertido na última hora de vida, para que nenhum homem venha a se desesperar; mas digo-lhe que apenas um dos ladrões foi convertido nessa condi ção, para que ninguém presuma o mesmo para si (Lc 23.39-43). Admito estar escrito que Jesus “pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus” (Hb 7.25); mas notifico-lhe que o mesmo Espírito também escreveu: “Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a minha mão, e não houve quem atendesse... também eu me rirei na vossa desventura, e, em vindo o vosso terror, eu zombarei” (Pv 1.24,26). Acredite-me, você verá que não é coisa fácil vol tar-se para Deus no momento que achar conveniente. É verdadeiro o que disse o pastor Leighton: “O caminho do pecado é morro abaixo; o homem não consegue parar quando quer”.4 Convicções sérias e desejos santos não são como os servos do centurião,prontos a ir e vir, à sua vontade (Mt 8.9); antes, são como o boi selvagem do livro de Jó; não lhe obedecerão nem atenderão o seu comando (Jó 39.10). Conta-se que Aníbal, um famoso general do passado, quando poderia ter tomado a cidade de Roma, contra a qual guerreava, não quis fazê-lo; e, finalmente, quando ele quis, já não pôde mais. Atente bem, para que o mesmo não lhe aconteça em relação à vida eterna. For que estou dizendo tudo isto? Digo-o por causa do poder dos hábitos. A experiência me diz que os cora ções das pessoas dificilmente mudam, se não mudarem enquanto elas são jovens. Na verdade, poucos homens são convertidos em sua velhice. Os hábitos têm raízes profundas. O pecado, uma vez que você permita que se 16 Uma Palavra aos Moços aninhe em seu coração, não o deixará, mediante um pedido seu. O costume acaba se tornando uma segunda natureza, como o cordão de três dobras, difícil de ser rompido (Ec 4.12). O profeta declara, apropriadamente: “Pode acaso o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal” (Jr 13.23). Os hábitos são como pedras que rolam pela montanha; quanto mais ligeiras elas rolam, mais incontrolável é o seu curso. E, à semelhança das árvores, os hábitos se fortalecem com o passar do tempo. Um garoto consegue envergar um carvalho, quando este é ainda tenro, mas cem homens não conseguem desarraigá-lo, quando se torna uma árvore adulta. Na nascente do Rio Tâmisa, uma criança pode brincar de rolar na água; mas, nas proximidades do encontro do rio com o mar, pode navegar o maior navio que existe. Assim acontece com os hábitos: quanto mais antigos, mais fortes eles ficam; quanto mais tempo prenderem a alma, mais difícil de serem eliminados. Eles crescem, à medida que crescemos; e se fortalecem, à medida que nos desenvolvemos. O hábito nutre o peca do. Cada pecado cometido atenua o temor e o remorso, endurece o coração, abranda o aguilhão da consciência e aumenta nossa inclinação para o mal. Talvez você, moço, pense que estou enfatizando muito esse ponto. Mas não diria isso, se, como eu, tivesse visto tantos velhos à beira da sepultura, totalmente insensíveis, cauterizados, calejados, apáticos, endurecidos como a pedra inferior do moinho. Creia, você não pode ficar neutro quanto aos interesses de sua alma. Ou bons ou maus hábitos diariamente se fortalecem em seu coração. A cada dia que passa, ou você se aproxima mais de Deus ou se distancia dEle. A cada ano que você continua sem arrepender-se e converter-se, o muro divisório entre você e o céu aumenta e se avoluma; e o abismo a ser cruzado se aprofunda e se alarga. Oh! eu insisto! Você deve temer o endurecimento causado pela Razões Para Exortar os Moços 17 permanência no pecado! Agora é o tempo aceitável. Não espere até a sua velhice, ou a força do hábito será tamanha que, se você não busca o Senhor enquanto jovem, provavelmente, nunca irá buscá-Lo. E isso que eu temo; portanto o exorto. (4) O diabo faz um esforço especial para destruir as almas dos moços; mas, eles parecem não saber disso. Satanás sabe muito bem que você constituirá a próxima geração; então, sem perda de tem po, logo emprega todo artifício para tomar posse de sua vida. Eu não quero que você fique ignorante de suas artimanhas. Você faz parte do grupo para o qual ele exibe todas as suas tentações favoritas. Ele arma a rede com o maior cuidado, a fim de emaranhar o seu coração; guar nece as iscas de suas armadilhas com os bocados mais doces, para tê-lo em seu poder; expõe com a maior habilidade a sua mercadoria diante dos seus olhos, no intuito de levá-lo a comprar seu veneno adocicado e a comer suas iguarias amaldiçoadas. Você é o grande alvo do seu ataque. Que o Senhor repreenda a Satanás e livre a sua vida das mãos dele! Jovem, tome cuidado para não ficar preso nos laços de Satanás. Ele tenta jogar poeira em seus olhos para impedir que você enxergue qualquer coisa em suas cores reais. Ele deliberadamente leva você a considerar o bem como mal e o mal como bem. Ele pinta, mascara e adorna o pecado, para levá-lo a apaixonar-se pelo pecado. Ao mesmo tempo que deforma, deturpa e ridiculariza a verdadeira religião, a fim de que você tenha aversão por ela. Exalta os prazeres da iniqüidade, mas oculta de você a dor que ela causa. Mostra-lhe a cruz e os sofrimentos que ela representa, mas mantém fora de suas vistas a coroa eterna. Tal como fez com Jesus, o diabo promete-lhe qualquer coisa, desde que você tão- somente o sirva. Até mesmo o ajuda a praticar uma religião qualquer, desde que você não reconheça o poder 18 Uma Palavra aos Moços da religião verdadeira. No início de sua vida, ele lhe diz: “E muito cedo para você servir a Deus”; e no final, ele diz: “Agora é tarde demais”. Oh! não se deixe enganar! Quão pouco você sabe sobre o perigo que corre, devido a esse pavoroso inimigo! E precisamente essa ignorância que me causa temor. Você é como um cego, andando em meio a buracos e armadilhas, e não vê os perigos que lhe cercam por todos os lados. O seu inimigo é poderoso. E chamado de “prín cipe do mundo” (Jo 14.30). Ele se opôs ao Senhor Jesus Cristo durante todo o ministério dEle. Tentou Adão e Eva a comer o fruto proibido, trazendo assim o pecado e a morte ao mundo. Tentou até mesmo Davi, o homem segundo o coração de Deus, fazendo com que seus últi mos dias fossem cheios de tristeza. Também tentou Pedro, o grande apóstolo, persuadindo-o a negar seu Senhor. Com toda a certeza, o intenso ódio desse inimigo não deve ser ignorado! O seu inimigo é incansável. Ele nunca dorme. Anda constantemente em derredor, rugindo como leão, buscando a quem possa devorar (1 Pe 5.8). Está sempre a rodear a terra e a passear por ela (Jó 1.7; 2.2). Você pode ser des cuidado com a sua alma, mas ele não é. Ele quer torná-la miserável, assim como ele; e o fará, se puder. Certamente que seu ódio intenso não deve ser ignorado! O seu inimigo é sagaz. Por milhares de anos ele tem lido um livro; este livro é o coração do homem. Portanto, deve conhecê-lo bem, e de fato o conhece; sabe de todas as suas fraquezas, enganos e loucuras. Tem armazenado um grande número de tentações, que causam males ao coração. Você nunca irá a um lugar onde ele não possa encontrá-lo. Vá à cidade, e lá ele estará. Dirija-se ao deserto, e ali também ele estará. Sente-se entre os beberrões e escarnecedores, e lá estará ele para lhe assistir. Ouça a pregação, e ele estará ao redor para distraí-lo. Certamente não deve ser ignorado um ódio tão intenso! Razões Para Exortar os Moços 19 Moço, esse inimigo faz grande esforço para con seguir a sua destruição; mesmo que você não perceba isso. A sua vida é o prêmio pelo qual ele mantém especial contenda. Ele vê de antemão que você será uma bênção ou uma maldição em seus dias. Assim, procura diligen temente obter entrada em seu coração o mais cedo possível, para que no final você venha a aumentar o reino dele. Ele compreende muito bem que estragar o botão é o modo mais seguro para arruinar a flor. Oh! que se abrissem os seus olhos como os do servo de Eliseu, em Dotã (2 Rs 6.15-17). Oh! se você apenas compre endesse o que Satanás está maquinando contra a sua paz! Eu preciso alertá-lo, preciso exortá-lo. Quer você ouça, quer não; eu não posso, não ouso, não o deixarei sossegado. (5) Os moços necessitam de exortação, por que, se começarem a servir a Deus agora, serão poupados de tristezas. O pecado é a causa de toda a tristeza, e nenhum outro tipo de pecado parece trazer ao homem tanta miséria e dor quanto os pecados da sua juventude. As tolices que ele cometeu, o tempo desper diçado, os erros praticados, as más companhias mantidas por ele, os males causados a si próprio, tanto no corpoquanto no espírito, as chances de felicidade jogadas fora, as oportunidades de ser útil que foram desprezadas; todas essas são coisas que freqüentemente amarguram a cons ciência de um ancião. Além disso, enegrecem o entardecer de seus dias e preenchem as últimas horas de sua vida com auto-reprovação e vergonha. Alguns homens poderiam contar-lhe sobre a pre matura perda da saúde, causada pelos pecados da juventude. A enfermidade maltrata os seus membros com dor, e a vida para eles é quase um tédio. O vigor de seus músculos está tão enfraquecido que um gafanhoto lhes parece um fardo. Seus olhos se escurecem precoce- mente, e sua força se abate. Sendo ainda dia, já se pôs o sol de sua saúde, e lamentam ver consumidos o seu corpo 20 Uma Palavra aos Moços e sua carne (Ec 12.1,2). Creia-me, esse é um cálice amargo para se beber. Outros poderiam dar tristes relatos sobre as con seqüências da ociosidade. Jogaram fora a áurea oportunidade da aprendizagem. Não quiseram obter sabedoria, na época em que a mente estava mais apta a receber o ensino e a memória mais preparada a reter o conhecimento. Agora é muito tarde! Já não têm tempo para sentar e aprender; não têm a mesma força, mesmo que tivessem o tempo disponível. O tempo perdido jamais pode ser readquirido. Esse, também, é um cálice amargo para se beber. Outros podem contar-lhe sobre os dolorosos enganos em suas decisões, que os fizeram sofrer durante toda a vida. Quiseram seguir os seus próprios caminhos. Não aceitaram conselhos. Fizeram alianças que resulta ram na sua completa infelicidade. Escolheram uma profissão com a qual eram inteiramente incompatíveis. Agora eles reconhecem tudo isso. Mas, infelizmente, seus olhos só se abriram quando o erro não podia mais ser reparado. Oh! esse é, igualmente, um cálice amargo para se beber! Moço, moço! gostaria que você conhecesse o conforto que há em uma consciência não sobrecarregada com uma longa lista de pecados próprios da mocidade. Esses pecados são feridas que traspassam o espírito; são um aguilhão que fere a alma. Seja misericordioso consigo mesmo. Busque o Senhor no início de sua vida e, assim, será poupado de muitas lágrimas amargas. Essa é a realidade que Jó parece ter experimen tado. Ele disse: “Pois decretas contra mim cousas amargas e me atribuis as culpas da minha mocidade” (Jó 13.26). Também Zofar, o amigo de Jó, referindo-se ao ímpio, disse: “Ainda que os seus ossos estejam cheios do vigor da sua juventude, esse vigor se deitará com ele no pó” (Jó 20.11). Davi, também, parece ter experimentado o mes- Razões Para Exortar os Moços 21 mo. Ele disse ao Senhor: “Não te lembres dos meus pecados da mocidade, nem das minhas transgressões” (SI 25.7). Beza,6 o grande reformador suíço, experimentou essa verdade de maneira tão intensa que, em seu testa mento, citou como misericórdia especial o fato de ter sido chamado, pela graça de Deus, a desprezar o mundo aos dezesseis anos de idade. Pergunte aos crentes, e penso que muitos deles lhe dirão coisas semelhantes. “Quem me dera pudesse viver minha juventude novamente!”, é o que provavel mente falarão. “Ah! se eu tivesse gasto os dias da minha mocidade de uma forma melhor!” “Oh! se eu não tivesse deixado os maus hábitos se arraigarem, de maneira tão forte, na primavera da minha existência!”7 Moço, quero poupá-lo de todos esses dissabores, se eu puder. O inferno é uma realidade que vem a ser descoberta tarde demais. Seja sábio. O que a juventude semear, _a velhice colherá. Não empregue a época mais preciosa da vida em coisas que não lhe trarão conforto nos seus dias finais. Antes, semeie para si mesmo em retidão; revolva o terreno do seu coração para não semear entre espinhos. No momento, você peca facilmente, tanto na prática quanto em palavras; mas tenha certeza, não demorará para você e o seu pecado se encontrarem, mesmo que você não queira que isso aconteça. As feridas antigas freqüentemente doem e causam sofrimento, mesmo tendo passado muito tempo após a sua cura e quando resta apenas uma cicatriz. Assim também será com os seus pecados. Milhares de anos após a morte de certos animais, têm sido encontradas as suas pegadas impressas nas rochas, as quais na época eram apenas argila úmida. Assim, também, poderá suceder com os seus pecados. Diz o ditado: “A experiência é uma escola muito cara, mas os tolos não aprendem em nenhuma outra”. 22 Uma Palavra aos Moços Meu desejo é que você escape da tristeza de ter que aprender na escola da experiência. Desejo levá-lo a evitar a desgraça certamente produzida pelos pecados da mocidade. Esse é o último motivo pelo qual eu o exorto. 1. Os meios da graça, de acordo com “O Breve Cate cismo”, são as ordenanças dadas por Deus, especialmente a Palavra, o batismo, a ceia do Senhor e a oração. 2. Embora não haja dúvidas de que as estatísticas exatas mudaram nos últimos 100 anos, permanece o fato que, a cada ano, multidões de moços e moças partem para a eternidade. 3. Jerônimo (345-420) foi um tradutor da Bíblia e um defensor do monasticismo. A sua mais famosa realização foi a tradução da Bíblia para o latim. Essa tradução é conhecida como Vulgata Latina. Por volta do Século XVIII tornou-se a versão oficialmente reconhecida e autorizada para a Igreja Católica, substituindo todas as outras traduções em latim. 4. Robert Leighton (1611-1684) graduou-se na Uni versidade de Edimburgo e foi arcebispo da Igreja Anglicana de Glasgow. Entre os seus escritos devocionais, há um notável comentário sobre 1 Pedro, o qual foi recomendado por C.H.Spurgeon, ao dizer: “E um dos favoritos de todos os homens espirituais”. 5. Das duas pedras do moinho, essa era a usada para triturar os grãos. Essa pedra era usada como figura, para descrever a condição de endurecimento do coração do homem. 6. Theodore Beza (1519-1605) foi um admirador, amigo, associado e sucessor de João Calvino em Genebra. Embora tenha estudado para ser um advogado, uma enfer midade fez com que seus pensamentos fossem voltados a Deus e à Fé Reformada. 7. No livreto intitulado A Dying Man’s Regrets (La mentos de um homem à beira da morte), Adolphe Monod (1802-1856) trata de vários assuntos relacionados aos re morsos sentidos no leito de morte. Nesse opúsculo, um dos mais destacados pregadores da França, no século passado, abre o coração nos seus últimos dias de vida e compartilha os seus lamentos pessoais. Perigos que os Moços Enfrentam Há alguns perigos específicos sobre os quais os moços devem ser alertados.(1) Um perigo específico para o moço é o pecado do orgulho. Bem sei que todas as pessoas estão diante de um perigo terrível. Velhos e jovens, não importa a idade, todos têm uma corrida a empreender, uma batalha a enfrentar, um coração pecaminoso a ser mortificado, um mundo a ser vencido, um corpo a ser mantido sob controle e o diabo a ser resistido. Bem podemos dizer: “Quem está capacitado para tanto?” (2 Co 2.16 - nvi). Entretanto, cada época da vida e cada circunstância têm suas ciladas e tentações peculiares; é bom conhecê-las. Quem é avisado se acautela. Se tão- somente eu puder persuadi-lo a vigiar contra os perigos que vou mencionar, estou certo de que estarei dando à sua alma aquilo que é essencial. O orgulho é o pecado mais antigo no mundo. Na verdade, veio a existir antes que o mundo fosse criado. Satanás e seus anjos caíram por causa do orgulho. Eles não ficaram satisfeitos com o seu primeiro estado. Assim, o orgulho abasteceu o inferno com os seus primeiros habitantes. O orgulho lançou Adão fora do paraíso. Ele não ficou satisfeito com o lugar que Deus lhe designara. Tentou elevar-se e caiu. Desta forma, o pecado, a tristeza 24 Uma Palavra aos Moços e a morte entraram neste mundo através do orgulho. Por natureza,o orgulho ocupa todos os corações. Nós nascemos orgulhosos. O orgulho faz com que fiquemos satisfeitos conosco mesmos, levando-nos a pensar que, como estamos, somos bons o suficiente. Ele tapa os nossos ouvidos a todo e qualquer conselho e leva-nos a rejeitar o evangelho de Cristo. Ele encaminha cada pessoa ao seu próprio modo de viver. Porém, não há outro lugar onde o orgulho reina com mais força do que no coração de um moço. Como é comum encontrarmos moços volunta riosos, arrogantes e sem paciência para ouvir conselhos! Como é freqüente não serem educados e corteses com os que estão à sua volta, por não se acharem valorizados e estimados como gostariam de ser. Com que freqüência não param, a fim de ouvir uma sugestão de alguém mais velho! Pensam que sabem tudo. São presunçosos quanto à própria sabedoria. Acham que os mais velhos, especial mente os seus familiares, são ignorantes, tolos e antiquados. Imaginam que não precisam de ensino ou instrução: já compreendem tudo. Dirigir-lhes qualquer palavra os torna quase irados. Como potrinhos, não suportam o menor controle exercido sobre eles. Precisam ser independentes e viver a sua própria vida. A seme lhança daqueles mencionados por Jó (12.2), esses moços demonstram pensar: Nós somos o povo, e conosco morrerá a sabedoria. Tudo isso é orgulho. Roboão foi um jovem desse tipo. Desprezou o conselho de experientes homens idosos, que haviam estado diante do seu pai Salomão, e deu ouvidos aos conselhos dos jovens de sua própria geração. Ele viveu colhendo as conseqüências de sua loucura (1 Rs 12). Infelizmente, há muitos semelhantes a ele. Também foi assim o filho pródigo, na parábola, o qual tomou a parte que lhe cabia da herança e partiu para viver por si mesmo. Não podia submeter-se a uma vida tranqüila, sob o teto do pai; mas precisava partir Perigos Que os Moços Enfrentam 25 para uma terra distante e ser dono de si mesmo. Assim como uma criança que se afasta da mãe e vagueia sozinho, aquele jovem logo sofreu por sua tolice. Final mente, depois que foi forçado a comer alfarrobas com os porcos, tornou-se mais sábio (Lc 15.11-19). Infeliz mente, há muitos semelhantes a ele. Moço, imploro-lhe com sinceridade, acautele-se do orgulho. Dizem que há duas coisas muito raras de serem vistas no mundo: uma é um moço que seja humilde, a outra é um velho satisfeito. Temo que essa afirmação seja, de fato, verdadeira. Não se orgulhe de suas habilidades, de suas forças, de seu conhecimento, de sua aparência ou de sua inteli gência. Não se orgulhe de si mesmo ou de qualquer dos seus talentos. Tudo isso é conseqüência de não conhecer a si mesmo e ao mundo. Quanto mais você envelhece e mais compreende as coisas, menos razão tem para ser orgulhoso. A ignorância e a inexperiência são o pedestal do orgulho; uma vez que esse pedestal seja removido, o orgulho logo desabará. Recorde-se de quantas vezes as Escrituras nos mostram a excelência de um espírito de humildade. Como somos intensamente exortados a não pensarmos de nós mesmos além do que devemos pensar! (Rm 12.3). Com que clareza somos informados que “se alguém julga saber alguma cousa, com efeito não aprendeu ainda como convém saber” (1 Co 8.2). Como a ordem é precisa: “Revesti-vos... de humildade” (Cl 3.12). E, ainda: “Cingi-vos todos de humildade” (1 Pe 5.5). Infelizmen te, muitos parecem não possuir nem um fragmento dessa vestimenta. Pense no grande exemplo deixado pelo Senhor Jesus Cristo, quanto a isso. Ele lavou os pés dos discípulos e lhes disse: “Como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15). Está escrito: “Jesus Cristo... sendo rico, se fez pobre por amor de vós” (2 Co 8.9); e, em outro lugar: “Antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de 26 Uma Palavra aos Moços servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reco nhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou” (Fp 2.7,8). Obviamente, ser orgulhoso é ser mais seme lhante ao diabo e ao Adão decaído do que a Cristo. Com certeza, ser como Cristo jamais será desprezível ou desonroso. Pense no homem mais sábio que já viveu; refiro- me, evidentemente, a Salomão. Veja como ele se considerou “uma criança”, alguém que não sabia como se conduzir (1 Rs 3.7). Havia nele um espírito bem diferente do que em seu irmão, Absalão, que se achava capacitado a qualquer coisa: “Ah! quem me dera ser juiz na terra! para que viesse a mim todo homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça” (2 Sm 15.4); diferente, também, de seu irmão Adonias, que “se exaltou e disse: Eu reinarei” (1 Rs 1.5). A humildade era o princípio da sabedoria de Salomão. Ele deixou escrito, por experiência própria: “Tens visto a um homem que é sábio a seus próprios olhos? Maior esperança há no insensato do que nele” (Pv 26.12). Moço, guarde no coração esses versículos citados; não confie demasiadamente em seu próprio discerni mento. Pare de confiar que você está sempre certo e os outros sempre errados. Desconfie de sua própria opinião, quando vê que ela é contrária à dos mais velhos e, especialmente, à opinião de seus pais. A idade traz experiência e, portanto, merece respeito. No livro de Jó, vemos que uma característica da sabedoria de Eliú foi o fato de ele ter esperado para falar a Jó, pois este era de mais idade do que ele (Jó 32.4). Então, Eliú disse: “Eu sou de menos idade, e vós sois idosos; arreceei-me e temi de vos declarar a minha opinião. Dizia eu: falem os dias, e a multidão dos anos ensine a sabedoria” (Jó 32.6,7). A modéstia e o silêncio são adornos graciosos nos jovens. Nunca se envergonhe de ser um aprendiz; Jesus o foi. Aos doze anos de idade, Ele foi encontrado no templo, “assentado no meio dos mestres, ouvindo- Perigos Que os Moços Enfrentam 27 os e interrogando-os” (Lc 2.46). Os homens mais sábios lhe dirão que continuam sendo aprendizes; e são humildes em reconhecer, depois de tudo, quão pouco realmente sabem. O grande Isaac Newton1 costumava dizer que não se considerava melhor do que uma criança que colhera algumas pedras preciosas às margens do mar do conhecimento. Moço, se você deseja ser sábio, se deseja ser feliz, lembre-se deste aviso: cuidado com o orgulhol (2) Um outro perigo para os moços é o amor aos prazeres. A juventude é a época em que as nossas paixões são mais fortes - e, como criança indisciplinada, clamam o mais alto possível para serem satisfeitas. E a época em que geralmente estamos no máximo do nosso vigor e saúde; a morte parece distante, e, gozar a vida parece-nos a coisa mais importante. É também o período da vida em que a maioria das pessoas têm poucos problemas ou ansiedades com que se ocupa rem. .Tudo isso colabora para que o jovem pense no prazer mais que em qualquer outra coisa. Eu sirvo às paixões e aos prazeres - seria a resposta sincera que muitos moços deveriam dar, se lhes fosse perguntado: A quem você serve? Moço, faltaria tempo, se eu fosse falar de todos os frutos produzidos pelo amor aos prazeres e de todas as maneiras pelas quais esse tipo de amor pode lhe prejudicar. Por que haveria de falar sobre bailes, bebedeiras, jogos de azar, teatro, danças e coisas seme lhantes? Poucos há que não conhecem em parte essas coisas, através de amarga experiência. E esses são apenas alguns exemplos. Tudo o que traz uma sensação de euforia momentânea, que faz naufragar o raciocínio, mantendo a mente num constante redemoinho, que agrada os sentidos e gratifica a carne é o tipo de coisa que agora exerce grande poder em sua vida. E esse poder provém do amor aos prazeres. Acautele-se! Não seja como aqueles mencionados por Paulo, que são 28 Uma Palavra aos Moços “antes amigos dos prazeres que amigos de Deus” (2 Tm 3.4). Se você deseja apegar-se aos prazeres deste mundo, lembre-se do que lhe digo: são essesos que matam a alma. Ceder aos desejos da carne e dos pen samentos é o meio mais seguro de se obter uma consciência cauterizada e um coração impenitente e duro. A princípio, ceder aos desejos parece inconseqüente, mas o impacto é sentido a longo prazo. Considere o que Pedro disse: “Exorto-vos... a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (1 Pe 2.11). Tais paixões destroem a paz que há na alma, quebrantam seu vigor, conduzem-na a um penoso cativeiro e fazem dela uma escrava. Considere o que Paulo disse: “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena” (Cl 3.5); “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências” (G15.24); “Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão” (1 Co 9.27). Antes do pecado, o corpo era uma perfeita habitação para a alma; contudo, agora está todo corrompido, desregrado e necessita de constante vigilância. Ele é um peso para a alma, não um companheiro útil; um estorvo, não uma ajuda. O corpo pode se tornar um servo muito útil, mas será sempre um péssimo senhor. Considere estas outras palavras de Paulo: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne, no tocante às suas concupiscências” (Rm 13.14). “Essas são palavras”, disse Leighton, “cuja simples leitura operou de tal modo em Agostinho, que ele foi transformado de um jovem imoral e vil em um fiel servo de Jesus Cristo”.2 Moço, desejo que o mesmo aconteça com você. Novamente, você deseja apegar-se aos prazeres deste mundo, lembre-se que eles são completamente uazios, fúteis e de modo algum satisfazem. Assim como os gafanhotos da visão em Apocalipse, esses prazeres Perigos Que os Moços Enfrentam 29 aparentam possuir coroas em suas cabeças; mas, do mesmo modo que tais gafanhotos, você verá que possuem ferrões - verdadeiros ferrões - em suas caudas (Ap 9.7-10). Nem tudo que reluz é ouro; nem tudo que é doce é bom; nem tudo que dá prazer mo mentâneo é prazer verdadeiro. Atire-se aos prazeres mundanos, se você desejar; porém, jamais seu coração se satisfará com eles. Sempre haverá uma voz interior, clamando como a sanguessuga: “Dá, dá!” (Fv 30.15). Há em seu coração um vazio que só Deus pode preencher, e nada mais. Assim como Salomão descobriu, por experiência própria, você tam bém descobrirá que os prazeres deste mundo não passam de um vão espetáculo - vaidade e vexação de espírito - como sepulcros caiados, com boa aparência externa mas cheios de corrupção e cinzas em seu interior. É melhor ser sábio a tempo. E melhor rotular com a palavra “veneno” todos os prazeres terrenos. Dentre eles, até mesmo o prazer mais legítimo deve ser usado com moderação. Qualquer um deles destrói sua alma, se você coloca neles o coração. Nessa altura não hesitarei em alertar a você e a todos os moços a recordarem-se do sétimo mandamento e a guardarem-se do adultério, da fornicação e de todo tipo de impureza. Temo que exista, freqüentemente, uma falta de franqueza ao se falar dessa parte da lei de Deus. Mas, quando vejo o modo como os profetas e os apóstolos lidaram com esse assunto, quando observo a maneira aberta com que os reformadores da igreja denunciam esses pecados, quando olho a quantidade de moços seguindo as pisadas de Rúbens, Amom, Hofni e Finéias, não posso, em sã consciência, ficar quieto. Duvido que o mundo se encontre em melhor situação por causa do silêncio excessivo que prevalece em rela ção a esse mandamento. De minha parte, penso que seria uma falsidade e uma cortesia sem fundamento bíblico dirigir-me aos moços e não falar deste pecado 30 Uma Palavra aos Moços que é, preeminentemente, o pecado peculiar do moço. A quebra do sétimo mandamento é o pecado que se sobrepõe a todos os outros e que, como disse Oséias, tira o entendimento (Os 4.11). E o pecado que deixa na alma márcas mais profundas do que qualquer outro que o homem pode cometer. E um pecado que extermina os seus milhares, em qualquer idade, e que arruinou não poucos dentre os santos de Deus, em épocas passadas. Ló, Sansão e Davi são desagradáveis provas desse fato. Esse é o pecado para o qual o homem ousa sorrir e o suaviza com nomes como diversão, fraqueza, impetu osidade. E, porém, o pecado com o qual o diabo especificamente se regozija, pois o diabo é o “espírito imundo”; e também é o pecado que Deus especifica mente abomina, declarando que “julgará os impuros e adúlteros” (Hb 13.4). Moço, eu insisto, se você ama a vida, fuja da imoralidade sexual (1 Co 6.18). “Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas cousas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência” (Ef 5.6). Fuja das ocasiões para esse pecado, da companhia daqueles que podem induzi-lo a pecar e de lugares onde você pode ser tentado a cair nesse pecado. Leia o que nosso Senhor disse a respeito, em Mateus 5.28. Seja santo como Jó, que disse: “Fiz aliança com meus olhos” (Jó 31.1). Fuja deconversas imorais. Essa é uma das coisas que nem sequer deve estar em nossos lábios. Não há como manusear o piche sem sujar as mãos. Fuja dos pensamentos imorais; resista-lhes, mortifique-os, ore a respeito, faça qualquer sacrifício, ao invés de ceder. Com muita freqüência, a imaginação é a incubadora onde é chocado esse pecado. Vigie os seus pensamentos, e pouco haverá que se temer quanto às suas ações. Considere o alerta que tenho lhe dado. Se tudo o mais for esquecido, não se esqueça dessa advertência. (3) Outro grande perigo para os moços é a falta de reflexão e ponderação. A falta de reflexão Perigos Que os Moços Enfrentam 31 é um simples motivo pelo qual milhares de almas tornam- se perdidas eternamente. Os homens não querem refletir, não querem olhar adiante, não querem olhar ao seu redor nem meditar sobre o curso de sua vida presente e as óbvias conseqüências do seu modo de viver; e, final mente acordarão para o fato que foram condenados por falta de reflexão sobre essas coisas. Moço, ninguém mais do que você corre perigo nessa área. Ao seu redor há perigos dos quais você sabe muito pouco; e assim se descuida quanto ao seu cami nhar. Você detesta a importunação de pensar calma e sobriamente; então toma decisões erradas e acaba colhendo tristezas. O jovem Esaú tinha necessidade do cozido de lentilhas do irmão e de vender-lhe o direito de primogenitura; ele não refletiu no quanto haveria de desejar esse direito um dia (Gn 25.27-34). Os jovens Simeão e Levi tinham necessidade de vingar sua irmã Diná e passar ao fio da espada os siquemitas; eles não ponderaram sobre o quanto de aborrecimento e preocupação trariam para suas casas e para seu pai, Jacó (Gn 34). Jó parecia temer especificamente essa falta de ponderação entre seus filhos. Está escrito que, “decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madru gada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração. Assim fazia Jó continuamente” (Jó 1.5). Acredite-me, este mundo não é um lugar onde nos damos bem, se não usamos o raciocínio; quanto mais nos assuntos referentes às nossas almas. “Não pense!”, sussurra Satanás. Ele sabe que um coração não- convertido é como os livros fiscais de um negociante desonesto - não resistirão a uma inspeção detalhada. “Considerai os vossos caminhos”, diz a Palavra de Deus. Pare e pense, considere os seus caminhos e seja sábio. E correto o provérbio espanhol: “A pressa vem do diabo”. 32 Uma Palavra aos Moços Assim como muitos homens se casam, na hora da pressa, e se arrependem, na hora da reflexão, assim também em um instante cometem erros quanto as suas almas; e, por isso, sofrem durante anos. Assim como o mau servo procede erroneamente e então diz: “Nunca me preocupeicom aquilo”, assim também o moço corre para o pecado e depois diz: “Não pensei nisso, não parecia que era pecado”. Não parecia pecado! O que você esperava? O pecado não vem a você e diz: “Eu sou o pecado”. Se fizesse isso, ele lhe causaria poucos males. O pecado sempre parece bom, agradável e desejável, ao ser cometido. Ó, jovem! adquira a sabedoria e a prudência! Lembre-se das palavras de Salomão: “Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam retos” (Pv 4.26). É sábio o que foi dito pelo Lorde Bacon:3 “Não faça nada de forma precipitada; aguarde um pouco mais e você acabará mais cedo”. Alguns alegarão, ouso afirmar, que estou pedindo algo exorbitante, que a juventude não é o período da vida em que a pessoa deve ser séria e ponderada. Eu respondo que, hoje em dia, há pouco risco de os jovens serem muito inclinados a isso. Conversas fúteis, gracejos, piadas e diversão excessiva são coisas muito comuns. Sem dúvida, há tempo para tudo; no entanto, ser cons tantemente leviano e frívolo é ser qualquer outra coisa, menos sensato. O que nos disse o mais sábio dos homens? “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete; pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em conside ração. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o dos insensatos na casa da alegria” (Ec 7.2-4). Matthew Henry4 conta a história de um grande estadista, do período elisabetano, que aposentou-se da vida pública em seus últimos anos e dedicou-se à séria reflexão. Seus amigos foram visitá- lo e lhe disseram que estava agindo com melancolia. Perigos Que os Moços Enfrentam 33 “Não”, respondeu ele, “estou agindo com seriedade; pois há seriedade em tudo, ao meu redor. Deus age com seriedade ao nos observar; Cristo age com seriedade ao interceder por nós; o Espírito age com seriedade ao contender conosco; as verdades de Deus são sérias; nossos inimigos espirituais são sérios em seus intentos para nos arruinar; a existência de pobres pecadores perdidos no inferno é uma séria realidade. Diante de tudo isso, por que eu e você não haveríamos de agir com seriedade também?”5 O, moço! aprenda a refletir! Aprenda a ponderar sobre as suas atitudes e sobre o seu destino final. Separe tempo para refletir calmamente. Medite em seu coração e aquiete-se. Lembre-se da minha advertência: não se perca meramente por falta de ponderação. (4) Um outro perigo para os moços é o menosprezo à vida espiritual. Esse é, também, um dos perigos específicos que você enfrenta. Sempre observo não haver quem demonstre tão pouco respeito para com a verdadeira religião quanto os moços. Em comparação a eles, não há quem se dedique tão pouco aos meios da graça, quem participe menos dos cultos quando presentes, quem utilize tão pouco as Escrituras e livros devocionais, quem cante tão pouco ou dê tão pouca atenção às pregações. Ninguém, mais do que eles, deixa de participar dos cultos de oração, de estu dos bíblicos ou de qualquer outra atividade semanal que serve de ajuda para a alma. Parece que os moços pen sam não necessitarem dessas coisas; talvez sejam boas para os homens e mulheres de mais idade, mas não para eles. Parece que eles se envergonham de dar a impressão de que se importam com as suas almas; parece que eles consideram como uma desgraça o fato de ir para o céu. Isso é um menosprezo à vida espiritual; é a mesma atitude que levou os rapazinhos de Betei a zombar do consagrado Eliseu (2 Rs 2.23). E eu lhe digo: Acautele-se, moço, desse tipo de atitude! Se compensa 34 Uma Palavra aos Moços ter uma religião verdadeira, também compensa tratá-la com seriedade. O menosprezo às coisas espirituais é o principal caminho que conduz à infidelidade para com Deus. Uma vez que o homem tenha começado a zombar e a fazer piadas sobre qualquer área da vida cristã, nunca me sur preendo ao saber que se tornou um incrédulo resoluto. Moço, você já se decidiu sobre esse assunto? Já visualizou com precisão o abismo que está à sua frente, se persistir em desprezar as coisas de Deus? Recorde-se das palavras de Davi: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus” (SI 14.1). O insensato, e somente ele, fala assim, mas sempre sem provas! Lembre-se, se já houve um livro cuja veracidade tem sido comprovada, do princípio ao fim, esse livro é a Bíblia. Ela tem resistido os ataques de todos os inimigos e de todos os que nela procuram alguma falta. “A palavra do S enhor é provada’ (SI 18.30). Tem sido provada de toda forma; e quanto mais é provada, mais evidentemente se comprova ser uma obra das mãos do próprio Deus. Em que você vai crer senão na Bíblia? Não há outra escolha, a não ser que você prefira acreditar em algo ridículo e absurdo. Esteja certo, ninguém é tão ingênuo quanto o homem que nega ser a Bíblia a Palavra de Deus;6 porém, se ela é a Palavra de Deus, cuide para não desprezá-la. Os homens podem lhe dizer que há coisas difíceis de serem entendidas na Bíblia. Se não fosse assim, ela não seria o livro de Deus. E, qual o problema com isso? Você não despreza os medicamentos por não compre ender tudo que seu médico faz por meio deles. Mas, o que quer que digam os homens, aquilo que é necessário para a salvação está dito de modo tão claro quanto a luz do dia. Esteja bem certo disto: os homens nunca rejeitam a Bíblia por não conseguirem entendê-la. Eles a enten dem muito bem; compreendem que ela condena os seus procedimentos, testemunha contra os seus pecados e os intima ao julgamento. Os homens tentam acreditar Perigos Que os Moços Enfrentam 35 que ela é falsa e inútil, porque não gostam de admitir a sua veracidade. O célebre Lorde Rochester,7 pondo sua mão sobre a Bíblia, afirmou: “A única grande objeção a este livro é levar uma vida perversa”. Robert South8 disse: “Os homens questionam a veracidade do cristianismo porque detestam a prática do mesmo”. Moço, quando foi que Deus falhou em cumprir sua palavra? Nunca! O que disse que faria, Ele sempre fez; o que falou, Ele sempre cumpriu. Ele falhou em cumprir sua palavra a respeito do dilúvio? Não! Porven tura Ele falhou em relação a Sodoma e Gomorra? Não! Falhou com a incrédula Jerusalém? Não! Falhou com os judeus, até o presente momento? Não! Ele nunca falhou em cumprir a sua palavra. Cuidado para não ser achado entre aqueles que desprezam a Palavra de Deus. Jamais zombe da religião bíblica. Não escarneça do que é sagrado. Não ridicularize os que são sinceros e zelosos com suas almas. Poderá chegar o tempo em que você considerará felizes os que lhe eram motivo de riso; uma hora em que o seu riso se tornará em tristeza e o seu escárnio em aflição. (5) Outro perigo para os moços é o temor pelas opiniões de outros. “Quem teme ao homem arma ciladas” (Pv 29.25). E triste observar o poder exercido pelo temor, na maioria das mentes; e, em especial, na mente dos jovens. Poucos parecem ter qualquer opinião própria ou capacidade de pensar por si mesmos. São como os detritos no mar, levados pelas ondas e pelas marés; o que outros pensam estar correto, eles também pensam; o que outros consideram errado, também eles. Não há no mundo muitos jovens que pensam por si mesmos. A maioria deles é como ovelhas - seguem um líder. Se o que estiver em voga for pertencer ao catolicismo romano, eles serão cató licos romanos; se ao islamismo, serão islamitas. Esses detestam a idéia de ir contra a atual corrente de pensa mento. Resumindo, a opinião em voga se torna a sua religião, o seu credo, a sua bíblia e o seu deus. 36 Uma Palavra aos Moços “O que os meus amigos vão_pensar ou dizer a meu respeito?” Tal pensamento corta pela raiz muitas das boas intenções. O temor de ser desprezado, escar necidoe ridicularizado impede^que muitos hábitos bons sejam adquiridos. Há muitas Bíblias cuja leitura poderia iniciar-se hoje mesmo, se os seus donos ousassem a isso. Muitos sabem que deveriam lê-las, mas têm receio: “O que as pessoas vão dizer?” Há joelhos que deveriam dobrar-se em oração, hoje mesmo, mas o temor ao ho mem é um impedimento: “Que dirão meus amigos, meu irmão, minha esposa, se me virem orando?” Que terrível escravidão é essa, e o quanto ela é comum! “Temi o povo” - disse Saul a Samuel; e assim transgrediu o mandamento do Senhor (1 Sm 15.24). “Receio-me dos judeus” - disse Zedequias, o infeliz rei de Judá; e assim desobedeceu o conselho dado a ele por Jeremias (Jr 38.19). Herodes teve receio do que os seus convidados pensariam dele; e, assim, fez aquilo que o entristeceu profundamente - decapitou João Batista (Mc 6.17-28). Pilatos temeu ofender os judeus; e, assim, efetuou o que ele tinha consciência de ser uma coisa injusta - entregou Jesus para ser crucificado. Se isso não é escravidão, então diga-me o que é. Meu jovem, quero que você seja liberto dessa escravidão. Desejo que não se importe com a opinião dos homens, quando o caminho do dever é claro. Acredite, é uma grande coisa ser capaz de dizer “Não!” Este era o ponto fraco do bom rei Josafá; ele era muito complacente e flexível em seu modo de agir com Aca be; desse modo lhe sobrevieram muitos de seus problemas (1 Rs 22.4). Aprenda a dizer “Não!” Que o medo de parecer uma pessoa desagradável não o torne incapaz de resistir. Quando os pecadores procurarem seduzir você, diga com determinação: Não consentirei (Pv 1.10). Considere como é irracional o temor ao homem. Como é de curta duração a inimizade humana e quão Perigos Que os Moços Enfrentam 37 pequeno é o mal que o homem lhe pode causar! “Quem,pois, és tu, para que temas o homem, que é mortal, ou o filho do homem que não passa de erva? Quem és tu que te esqueces do S en h or que te criou, que estendeu os céus e fundou a terra?.” (Is 51.12,13). Pense quão ingrato é esse temor! Ninguém realmente o achará uma pessoa melhor, por causa disso. O mundo sempre tem um respeito maior por aqueles que servem a Deus com destemor. Oh! quebre esses grilhões e atire-os fora! Jamais se envergonhe de deixar os homens saberem que o seu desejo é ir para o céu. Não veja como infelici dade o demonstrar ser um servo de Deus. Não tenha medo de fazer o que é certo. ^ Lembre-se das palavras do Senhor Jesus: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10.28). Tão- somente procure servir a Deus, e logo Ele pode fazer com que outros se agradem de você. “Sendo o caminho dos homens agradável ao S e n h o r , este reconcilia com eles os seus inimigos” (Pv 16.7). Moço, seja corajoso.9 Não se importe com o que o mundo pensa ou diz; você não permanecerá nele para sempre. Pode o homem salvar-lhe a alma? Não! No gran de e terrível Dia do Juízo, quem o julgará: o homem? Não! Pode ele lhe conceder uma boa consciência durante a vida, uma boa esperança na morte e uma boa resposta na manhã da ressurreição? Não! Não! Não! Nada disso o homem pode fazer. Então, “não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis por causa das suas injúrias. Porque a traça os roerá como a um vestido, e o bicho os comerá como à lã” (Is 51.7,8). Eis o que disse o bom Coronel Gardiner:10 “Temo a Deus; portanto, nada mais tenho a temer”. Imite-o, jovem! Estes são os avisos que eu lhe dou. Guarde-os no coração; eles são dignos de reflexão. Estarei muito enganado, se não forem imensamente necessários. Queira o Senhor que não lhe tenham sido dados em vão! 38 Uma Palavra aos Moços 1. Isaac Newton (1642-1727) foi um matemático e filósofo talentoso. 2. Agostinho (354-430) foi um famoso bispo da cidade de Hippo. O relato de sua conversão a Cristo pode ser visto na obra clássica Confessions (Confissões). 3. Francis Bacon (1561-1626) foi um estadista inglês e filósofo. 4. Matthew Henry (1662-1714) foi um expositor bíblico que escreveu um dos mais úteis comentários sobre toda a Bíblia. 5. Uma indicação trágica da atitude moderna quanto a esse assunto está contida no mote do Instituto Internacional do Humor: “Não existe nenhuma evidência de que a vida é coisa séria”. 6. Não é isso o que acontece quando se fala em criação e evolução? As Escrituras declaram, sem equívoco, que Deus criou o mundo pelo poder de sua própria palavra. O Senhor tornou em loucura a assim chamada sabedoria do mundo (1 Co 3.18-20); portanto, ela está pronta a argumentar que o glorioso e complexo universo aconteceu por mero acaso. 7. John W. Rochester (1647-1680) foi um assistente da corte real inglêsa. 8. Robert South (1634-1716) foi um ministro anglicano, cujos sermões foram denominados de “Clássicos da Teologia Inglesa”. Procurava sempre pregar com clareza, simplicidade e fervor. 9. Veja nas Escrituras os seguintes versículos que utilizam linguagem idêntica: Deuteronômio 31.6,7,23; Josué 1.6,9,18; Salmo 27.14. 10. Cel. James Gardiner (1687-1745) foi um consa grado pregador, convertido de forma notável, enquanto lia o livro de Thomas Watson: Heauen Taken by Storm (O Céu Tomado à Força). Conselhos Gerais aos Moços Desejo agora dar alguns conselhos gerais aos moços. (1) Procure obter uma compreensão clara sobre a malignidade do pecado. Moço, se você tão simplesmente soubesse o que é o pecado e o que ele tem efetuado, não estranharia que eu o exortasse dessa maneira. Você não enxerga o pecado em suas verdadei ras cores. Por natureza, seus olhos são cegos para ver a culpa e o perigo que ele encerra; por isso, não consegue entender o que me faz ficar tão preocupado com a sua vida. Não deixe o diabo ser bem sucedido em persuadi-lo de que o pecado não passa de um assunto insignificante e sem importância. Pense, por um instante, sobre o que a Bíblia diz a respeito do pecado. Note como ele habita_natural- mente no coração de cada homem e de cada mulher (Ec 7.20; Rm 3.23); como corrompe nossos pensa mentos, palavras e ações, continuamente (Gn 6.5; Mt 15.19); como nos torna inteiramente culpados e abomináveis aos olhos de um Deus que é Santo (Is 64.6; Hc 1.13); como nos deixa completamente sem espe rança de salvação, se olharmos para nós mesmos (SI 143.2; Rm 3.20). Observe como neste mundo o fruto do pecado é a vergonha e no mundo vindouro o seu salário é a morte (Rm 6.21,23). Reflita com calma em tudo isso. Eu lhe digo: não é mais triste estar morrendo 40 Uma Palavra aos Moços de câncer, sem o saber, do que estar vivo e não estar ciente dessas coisas. Pense na tremenda mudança que o pecado ocasionou em toda a nossa natureza. O homem não é mais o que era, quando Deus o formou do pó da terra.' Era reto e sem pecado, ao ser formado pelas mãos de Deus (Ec 7.29). Como tudo o mais, no dia de sua criação ele era “muito bom” (Gn 1.31). E, o que é o homem agora? Ele é uma criatura caída, arruinada; um ser que mostra inteiramente as marcas da corrupção. Seu coração é como *o de Nabucodonozor, degenerado e mundano, ligado à terra e não ao céu (Dn 4). Seus sentimentos são como uma família em desordem e sem liderança, cheios de extravagância e confusão. Seu entendimento é como uma luz enfraquecida, impotente para guiá-lo, não sabendo discernir entre o que é bom e o que é mau. Sua vontade é como um navio sem leme, atirado para cá e para lá pelos seus desejos, apresentando firmeza apenas quanto a escolher qualquer outro caminho que não seja o de Deus. Ora, que desastre é o homem, comparado com o que ele poderia ter sido. É possível compreender bem as figuras utilizadas pelo Espírito - cegueira, surdez, enfermidade, sono, morte - quando quer retratar o homem do modocomo este está. Lembre-se que o homem se encontra desse modo devido ao pecado. Pense, também, no quanto custou para ser feita a expiação pelo pecado, para prover redenção e perdão aos pecadores. O próprio Filho de Deus teve de vir ao mundo e tomar sobre Si a nossa natureza,_a fim de pagar o preço da nossa redenção e livrar-nos da maldição da lei, jnqual fora transgredida. Teve de sofrer petò pecado, Aquele que estava no princípio com o Pai e pelo qual todas as coisas foram criadas - o justo pelos injustos. Teve de morrer como um malfeitor, antes que o cami nho para o céu se abrisse a quem quer que fosse. Olhe para o Senhor Jesus Cristo sendo açoitado, zombado, Conselhos Gerais aos Moços 41 insultado, desprezado e rejeitado pelos homens. Con- temple-0 derramando o seu sangue na cruz do Calvário. Ouça-O a clamar em agonia: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46). Note como o sol se escureceu e as rochas se fenderam com o que presenciaram. Considere, então, a extensão da maldade e da culpa do pecado. Pense no que o pecado já tem feito sobre a terra: lançou Adão e Eva para fora do Éden; trouxe o dilúvio sobre o mundo antigo; fez com que caísse fogo sobre Sodoma e Gomorra; afundou Faraó e seu exército no Mar Vermelho; destruiu as sete nações ímpias de Canaã; dispersou as doze tribos de Israel pela face da terra. Sozinho, o pecado fez tudo isso. Pense, ainda, em toda a miséria e tristeza que o pecado já causou e continua causando, até o mo mento. Morte, dores, contendas, doenças, intrigas, divisões, inveja, ciúmes, malícia, falsidade, fraudes, engano, violência, opressão, roubo, egoísmo, crueldade, ingratidão - todos esses são frutos do pecado; o pecado produz tudo isso. Na verdade, é o pecado que tanto tem arruinado e desfigurado a face da criação de Deus. Moço, reflita nessas coisas e não ficará admirado por ser exortado desse modo. Se você simplesmente pensasse nesses frutos, certamente romperia com o pecado para sempre. Você brincaria com o veneno? Divertir-se-ia com o inferno? Tomaria o fogo nas mãos? Acolheria em seu coração o inimigo mais fatal? Conti nuaria a viver como se de modo algum importasse em ter ou não os seus pecados perdoados? Continuaria indiferente quanto a ter domínio sobre o pecado ou ser dominado por ele? Oh! desperte para a necessidade de compreender o perigo e a malignidade do pecado! Lem bre-se que Salomão afirmou que “os loucos”, e somente esses, “zombam do pecado” (Pv 14.9). Portanto, ouça o pedido que lhe faço hoje: ore para que Deus lhe mostre a verdadeira perversidade do pecado. 42 Uma Palavra aos Moços Se deseja ter sua alma salva, desperte agora e ore. (2) Procure conhecer melhor o Senhor Jesus Cristo. Na verdade, esta é a essência da vida espiritual. E a pedra fundamental do cristianismo. En quanto você não reconhecer essa necessidade, os meus conselhos e admoestações lhe serão inúteis; e seus esforços, quaisquer que sejam, serão em vão. Um relógio sem a mola principal é tão imprestável quanto uma vida religiosa desprovida de Cristo. . , Entretanto, não desejo ser mal compreendido. O que quero dizer não é meramente ter conhecimento do nome de Cristo - é conhecer a sua misericórdia, graça e poder; é conhecê-Lo não por ouvir falar dEle. mas por prová-Lo no coração. Desejo que O conheça pela fé; e, como diz Paulo, que conheça “o poder da sua ressurreição”, conformando-se “com ele na sua morte” (Fp 3.10). Espero que você possa dizer sobre Ele: “Ele é a minha paz e minha força, minha vida e meu consolo, meu médico e meu pastor, meu Salvador e meu Deus”. Por que encaro esse assunto com tanta seriedade? Faço isso porque somente em Cristo reside “toda a plenitude” (Cl 1.19); só nEle há o suprimento de tudo quanto nossas almas necessitam. Por nós mesmos somos criaturas pobres e vazias - sem retidão nem paz, sem vigor nem consolo, sem coragem nem paciência; sem forças para perseverar, prosseguir ou progredir neste mundo iníquo. Só em Cristo podemos encontrar graça., paz, sabedoria, retidão, santificação e redenção. E à medida em que vivemos na dependência de Cristo que nos tornamos cristãos fortes. Será apenas quando o nosso “eu” for nada e Cristo for toda "a nossa confiança que executaremos grandes feitos (Dn 11.32). Só então estaremos armados para a batalha da vida e venceremos. Só então estaremos prontos para a jornada da vida e prosseguiremos avante. Viver em Cristo, obter dEle todas as coisas, fazer tudo na força de Cristo e estar sempre olhando para Ele - esse é o verdadeiro segredo do pro Conselhos Gerais aos Moços 43 gresso espiritual. “Tudo posso naquele que me fortalece”, disse Paulo (Fp 4.13). Jovem, apresento-lhe, nesse dia, Jesus Cristo como o tesouro de sua alma; e convido você a iniciar sua caminhada em direção a Ele, se deseja correr de tal modo a alcançar o prêmio. Que ir a Cristo seja o seu primeiro passo. Você quer consultar os amigos? Ele é o melhor amigo: “Amigo mais chegado do que um irmão” (Pv 18.24). Você se acha indigno por-causa dos seus pecados? Não tema; o sangue de Cristo nos purifica de todo pecado. Ele diz: “Ainda que os vossos pecados são como a escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que são vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã” (Is 1.18). Sente-se fraco e incapaz de segui- Lo? Não tema; Ele lhe dará poder para que você se torne um filho de Deus. Dar-lhe-á o Espírito Santo para habitar em sua vida e o selará para Ele mesmo. Também lhe concederá um novo coração e colocará em seu interior um novo espírito. Encontra-se perturbado ou afligido por alguma debilidade espiritual? Não tema; não há espírito maligno que Jesus não possa expulsar; não há enfermidade da alma que Ele não possa curar. Tem dúvidas e temores? Deixe-os de lado. Cristo diz: Venha a mim; e “o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37). Ele conhece bem o coração do jovem rapaz. Conhece as suas provações e tentações, suas dificuldades e lutas. Quando aqui viveu em carne, Ele foi como você - um jovem, em Nazaré. Por experiência própria conhece a mentalidade de um rapaz. Pode comover-se por causa das suas fraquezas, moço; pois Ele mesmo sofreu, ao ser tentado. Não haverá desculpas, certamente, caso você vire as costas para um Salvador e amigo como este. Ouça o pedido que hoje lhe faço: se você ama a vida, procure conhecer melhor a Jesus Cristo.1 (3) Nunca esqueça que nada é tão impor tante quanto sua alma. Sua alma é eterna; viverá 44 Uma Palavra aos Moços para sempre. O mundo e tudo o que ele contém há de passar; embora firme, sólido, belo e bem ordenado como é, o mundo terá o seu fim. “Os céus passarão com estrepitoso estrondo e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas (2 Pe 3.10). As obras dos governadores, pintores, arquitetos e outros são todas de vida curta; mas sua alma subsistirá, depois do fim de todas elas. Um dia, soará uma grande voz do céu, dizendo: “Feito está” (Ap 16.17). Mas o mesmo nunca será dito em relação à sua alma. Eu lhe peço, procure compreender que a sua alma é o que há de mais importante. E a parte da sua vida que deve sempre ser considerada em primeiro lugar. Nenhum lugar ou emprego será bom, se lhe trouxer prejuízo para a alma. Não merece a sua confiança qual quer amigo ou companheiro que considera uma coisa sem importância a preocupação que você tem com a sua alma. O homem que causa danos ao seu corpo, aos seus bens e à sua reputação traz prejuízos apenas tem porários. O verdadeiro inimigo é o que procura sempre prejudicar a sua alma. Pense por um instante. Por que você veio a este mundo? Não foi meramente para comer, beber e satisfazer os desejos da carne. Não foi simplesmente para vestir o corpo e seguirsuas paixões, aonde quer que elas o conduzam; ou apenas para trabalhar, dormir, rir, falar, alegrar-se e pensar em mais nada além do momento presente. Não! você veio por causa de um propósito melhor e mais elevado; foi colocado aqui para ser treinado para a eternidade.2 O seu corpo lhe foi dado apenas para servir de habitação a um espírito imortal. Tornar a alma uma serva do corpo, ao investe tornar o corpo um servo da alma é fazer como muitos fazem e significa fugir dos propósitos de Deus. Moço, Deus não faz acepção de pessoas. Ele não observa a vestimenta, o dinheiro, a classe social ou po Conselhos Gerais aos Moços 45 sição do homem. “O S enhor não vê como vê o homem” (1 S m 16.7). O mais pobre entre os santos, que tenha morrido em um lugar humilde, é mais nobre à vista de Deus do que o pecador mais rico, que tenha morrido em um palácio. Deus não olha para riquezas, diplomas, erudição, beleza ou coisas semelhantes a essas. Há, porém, uma coisa para a qual Ele olha: para a alma imortal. Ele avalia todos os homens por uma mesma norma, uma mesma medida, um mesmo teste e um mesmo critério, a saber, a condição de suas almas. Não esqueça essas coisas. De manhã, ao meio dia e à noite, tenha sempre em vista aquilo que diz res peito à sua alma. Ao levantar-se, a cada dia, deseje que ela prospere; ao deitar-se, a cada noite, verifique consigo mesmo se realmente ela tem feito progressos. Lembre- se de Zeuxis,3 o grande pintor da antiguidade. Quando lhe interrogaram sobre a razão de trabalhar tanto e se dedicar de tal forma a cada um de seus quadros, sua resposta foi simplesmente esta: “Eu pinto para a eterni dade”. Não se envergonhe de ser semelhante a ele. Contemple a sua alma imortal com os olhos do entendi mento; e, quando os homens lhe perguntarem a razão de viver com tal seriedade, responda-lhes à maneira de Zeuxis: ”Vivo de modo a importar-me com minha alma”. Acredite, rapidamente se aproxima o dia em que a alma será a única preocupação do homem, e a questão de real importância será esta: “A minha alma está perdida ou está salua?” (4) Lembre que é possível ser jovem e, mesmo assim, servir a Deus. Quanto a isso, temo os laços que Satanás arma para você. Temo que ele seja bem sucedido em encher a sua mente com a falsa idéia de que, na juventude, ser um cristão verdadeiro é coisa impossível. Tenho visto muitos que são levados por esse engano. Já ouvi o seguinte: “Você exige coisas impossí- veis, ao esperar tanta dedicação espiritual por parte dos jovens. Ã juventude não é época para seriedade. Nossos 46 Uma Palavra aos Moços desejos são fortes, e nunca foi tencionado que os tivés semos sob controle, como você quer que façamos. Deus tencionava que nos divertíssemos. Mais tarde haverá tempo jufiçiente para assuntos religiosos”. Esse tipo de conversa é encorajada demais pelo mundo, que está sempre pronto a ignorar os pecados cometidos pelos jovens. O mundo parece assumir que os moços devem procurar “entregar-se aos prazeres da mocidade”. O mundo tem por certo que os jovens devem ser irreligiosos e que é impossível seguirem a Cristo. Moço, faço-lhe esta simples pergunta: em qual parte da Palavra de Deus podè~ser encontrada qualquer coisa semelhante? Onde está o capítulo ou o versículo que dá base para esses comentários e argumentos mun danos? Porventura a Bíblia não fala sobre os velhos e sobre os jovens sem qualquer distinção? Acaso o pecado não será pecado, se for cometido por alguém aos vinte ou cinqüenta anos? Se, no Dia do Juízo, alguém disser: “Sei que pequei, mas na ocasião eu era jovem”, servirá isso como desculpa? Demonstre ter bom senso, eu peço, deixando de lado tais desculpas fúteis. Diante de Deus, você é responsável a partir do momento em que conhece o certo e o errado. Sei muito bem que há muitas dificuldades nos caminhos de um jovem. Admito-o inteiramente. Mas, sempre há dificuldades no caminho certo. O caminho para o céu é sempre estreito, quer para o jovem quer para o velho (veja o que Jesus disse, em Mateus 7.13,14). As dificuldades existem, mas Deus lhe dará graça para superá-las. Deus não é um mestre severo. Ao con trário de Faraó, Ele não exigirá que você produza tijolos sem lhe dar a palha (Ex 5.7-18). Ele cuidará para que o caminho do pleno dever nunca seja impossível. Ele jamais deu ordenanças aos homens, sem lhes conceder forças para cumpri-las.4 As dificuldades existem, mas muitos moços têm obtido vitória sobre elas, no passado; e você também pode obter. Moisés era um jovem com as Conselhos Gerais aos Moços 47 mesmas paixões que as suas; mas, veja o que foi dito sobre ele, nas Escrituras: “Pela fé Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus, a usufruir prazeres transitórios do pecado; por quanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contem plava o galardão” (Hb 11.24-26). DariieLera jovem quando começou a servir a Deus em Babilônia. Estava rodeado por tentações de todos os tipos. Havia poucos a seu lado e muitos contra ele. Ainda assim, a vida de Daniel era tão inculpável e coerente que nem mesmo os seus inimigos conseguiam achar nele falta alguma, a não ser que procurassem algo contra ele “na lei do seu Deus” (Dn 6.5). Esses que citei não são casos isolados. Há uma nuvem de testemunhas que eu poderia enumerar. Cer tamente me faltaria tempo para falar dos jovens Isaque, José, Josué, Samuel, Davi, Salomão, Obadias, Josias e Timóteo.5 Eles não foram anjos, mas homens; com corações que tinham a mesma natureza que o seu. Assim como você, também tinham obstáculos a enfrentar, paixões a mortificar, provações a suportar e tarefas difíceis de serem realizadas. Mas, embora sendo jovens, todos viram que era possível servir a Deus. Não irão todos eles se levantar no Dia do Juízo e condená-lo, se você persistir em dizer que isso não é possível? Jovem, tente servir a Deus. Resista o diabo, quando ele lhe sussurrar que isso é impossível. Tente servir a Deus, e esse mesmo Senhor Deus das promessas lhe dará forças nessa tentativa. Deus tem prazer em vir ao encontro dos que se esforçam em aproximar-se dEle. Ele virá ao seu encontro e lhe concederá as forças necessárias. Seja como o corajoso homem que o Pere grino viu na casa do Intérprete; prossiga com ousadia e diga: “Escreva o meu nome” (“O Peregrino”, John Bunyan6). Lembre das palavras de Jesus: “Buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Mt 7.7). São^vèrdadei- 48 Uma Palavra aos Moços ras, embora freqüentemente eu as ouça sendo repetidas por pessoas insensíveis. As dificuldades que, no início se parecem com grandes montes, se derreterão como a neve na primavera. Os obstáculos, que parecem gigan tescos à distância, serão reduzidos a nada, quando você corajosamente enfrentá-los. O leão em meio ao caminho, ao qual você teme, mostrar-se-á estar acorrentado. Se os homens cressem mais nas promessas divinas, nunca teriam receio de cumprir os seus deveres. Mas, lembre- se da pequena palavra - “tentar” - sobre a qual tenho insistido com você; e, quando Satanás disser: "Você não consegue ser um cristão enquanto é jovem”, responda- lhe: “Para trás de mim, Satanás: com a ajuda de Deus, eu tentarei”. (5) Determine fazer da Bíblia o seu guia e conselheiro, enquanto você viver. A Bíblia é a misericordiosa provisão, da parte de Deus. para a alma pecaminosa do homem. E o mapa pelo qual ele deve orientar o seu curso, se quiser alcançar a vida eterna. Ela contém, de forma riquíssima, tudo o que precisamos saber, a fim de sermos serenos, santos e felizes. Se o moço deseja saber o que fazer para iniciar bem a vida, então que ouça as palavras de Davi: “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu
Compartilhar