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18/09/2017 1 TOXICOLOGIA DE MEDICAMENTOS Prof. Dr. Wilson Roberto Malfará “O impulso para consumir medicamentos é uma das características que diferenciam o ser humano dos animais” (Sir Willian Osler) Duncan BB & Schmidt MI, 1996 Haynes RB, 1993 CONDUTAS BASEADAS EM EVIDÊNCIAS “Estima-se que apenas metade das intervenções médicas atualmente disponíveis foram avaliadas com metodologia sistematizada de bom nível. Entre estas, menos da metade mostrou-se efetiva.” “Existe uso racional quando os pacientes recebem os medicamentos apropriados à sua condição clínica, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período de tempo adequado e ao menor custo possível para eles e sua comunidade.” OMS, Conferência Mundial Sobre Uso Racional de Medicamentos, Nairobi, 1985. USO RACIONAL PRINCÍPIOS DE USO DE MEDICAMENTOS Indicação apropriada Esquema de administração adequado Paciente em condições de receber o tratamento proposto Ausência de contra-indicações e menor possibilidade de efeitos adversos Dispensação correta, incluindo informação adequada para o paciente Seguimento do paciente USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS (1985) 18/09/2017 2 15% da população consome mais de 90% da produção farmacêutica. 25-70% do gasto em saúde nos países em desenvolvimento correspondem a medicamentos, comparativamente a menos de 15% nos países desenvolvidos. 50-70% das consultas médicas geram prescrição medicamentosa. 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou usados inadequadamente. 75% das prescrições com antibióticos são errôneas. Brundtland, Gro Harlem. Global partnerships for health. WHO Drug Information 1999; 13 (2): 61-64. Somente 50 % dos pacientes, em média, tomam corretamente seus medicamentos. Cresce constantemente a resistência da maioria dos microrganismos causadores de enfermidades infecciosas prevalentes. Aos dois anos de idade, algumas crianças receberam aproximadamente 20 aplicações medicamentosas injetáveis. A metade dos consumidores compra medicamentos para tratamento de um só dia. 53% de todas as prescrições de antibióticos nos USA são feitas para crianças de 0 a 4 anos. Brundtland, Gro Harlem. Global partnerships for health. WHO Drug Information 1999; 13 (2): 61-64. = POR QUÊ TANTOS FÁRMACOS SÃO PRESCRITOS? POR QUÊ TANTAS PESSOAS SE AUTOMEDICAM ? Principal causa de notificações aos Centros de Intoxicação Incidência: 40-68% das notificações Principal “causa mortis” nos grandes centros urbanos – 64% (AAPCC-1999) Analgésicos/antitérmicos, anti-inflamatórios (340) Antidepressivos/estimulantes (153/121*) Drogas cardiovasculares (127) Depressores do SNC (110) *91 por cocaína e heroína - Circunstância o“Overdose” acidental ou intencional o Associação/Interação o Reação Adversa - Epidemiologia oSexo oIdade: < 12 a. (3,5%), 13-19 a. (6,1%), 20-59 a. (70,3%), >60 a. (18,1%) Causas frequentemente não-evidentes o Interações o Multi-associação o Desconhecimento/erro médico o Sobreposição à doença de base o Medicamentos OTC 18/09/2017 3 SINITOX, 2002 INTOXICAÇÕES AGUDAS Casos registrados no Brasil, 2002 (SINITOX-MS) agente % Medicamentos 27,27 Agrotóxicos/Uso agrícola 7,43 Agrotóxicos/Uso doméstico 2,99 Produtos Veterinários 1,28 Raticidas 5,74 Domissanitários 8,70 Cosméticos 0,90 Produtos Químicos Industriais 6,19 Metais 1,11 Drogas de abuso 2,73 Plantas 2,30 Alimentos 0,63 Animais Peç./Serpentes 7,04 Animais Peç./Aranhas 4,70 Animais Peç./Escorpiões 8,61 Outros animais Peç./Venenosos 3,55 Animais não Peçonhentos 5,79 Desconhecido 2,08 Outro 1,31 75.212 casos 100 Exposições tóxicas a medicamentos idade ≤ 6 anos. Maior toxicidade (CCI/UNICAMP, 1994-2005) 275 134 116 81 41 23 15 14 13 Derivados da imidazolina Antieméticos Haloperidol Salicilatos Anfetamina Fenobarbital Carbamazepina Bloqueador do canal de cálcio Antidepressivo tricíclico TOXICOLOGIA DE MEDICAMENTOS sinais e sintomas concentração plasmática dose ? ? Confirmar a intoxicação avaliar a gravidade da intoxicação avaliar a velocidade de eliminação sinais e sintomas concentração plasmática dose ? ? Confirmar a intoxicação avaliar a gravidade da intoxicação avaliar a velocidade de eliminação Objetivos Específicos • Identificar as principais intoxicações por medicamentos, as circunstâncias de exposição e os grupos etários; • Conhecer a disposição, os mecanismos de ação e os espectros de efeitos dos fármacos; • Conhecer os principais métodos de diagnóstico e tratamento das intoxicações por medicamentos; • Aplicar e difundir as informações adquiridas, visando melhorar a assistência à saúde da população e a prevenção das intoxicações. Intoxicação por medicamentos Importância do tema • 30,4% dos casos registrados de exposição humana a substâncias tóxicas (SINITOX, 2000) • 42,5% das exposições humanas registradas pelo CCI/SP em 2001 (n = 4050) e 2002 (n = 4331) 18/09/2017 4 < 1 1-4 5-9 10-14 15-19 20-29 30-39 40-49 50-59 ≥ 60 Sistema nervoso central Analgésicos/antipiréticos/antiinflamatórios Sistema respiratório Sistema cardiovascular Hormonais Nutrientes Antimicrobianos Outros Intoxicações por medicamentos – CCI/SP, 2001 Distribuição por grupo etário e ação terapêutica acidente individual ocupacional uso terapêutico prescrição médica erro de administração automedicação abstinência abuso tentativa de suicídio tentativa de aborto violência/homicídio outra ignorada Sistema nervoso central Analgésicos/antipiréticos/antiinflamatórios Sistema respiratório Sistema cardiovascular Hormonais Nutrientes Antimicrobianos Outros Intoxicações por medicamentos – CCI/SP, 2001 Distribuição por circunstância e ação terapêutica 0 100 200 300 400 500 600 700 800 benzodiazepínicos desconhecido fenobarbital antidepressivos cíclicos hormônio gonadotrófico fenotiazínicos carbamazepina vitaminas antibacterianos paracetamol anti-histamínico diclofenaco anti-hipertensivos dipirona salicilatos haloperidol anti-sépticos antieméticos antidepressivos ISRS antiespasmódicos nafazolina estimulantes centrais salbutamol outros antiepiléticos diuréticos Intoxicações por medicamentos – CCI/SP, 2001 Distribuição por grupo farmacológico ou nome genérico TOXICOLOGIA DE MEDICAMENTOS Sinais vitais e exame físico Histórico Análise Toxicológica de Urgência Sinais vitais e exame físico Histórico Análise Toxicológica de Urgência reconhecimento da intoxicação TOXICOLOGIA DE MEDICAMENTOS Remoção do medicamento não absorvido Emese xarope de ipeca (20 - 30 min) apomorfina (1 - 3 min) Adsorvente carvão ativado Catártico sulfato de magnésio citrato de magnésio sulfato de sódio Lavagem gástrica 1 - 2 L (alíquotas 200 - 300 mL) ANTÍDOTOS medicamento antídoto paracetamol N-acetilcisteína codeina naloxone digoxina anticorpos Fab isoniazida piridoxina metadona naloxone benzodiazepínicos flumazenil 18/09/2017 5TRATAMENTO DA INTOXICAÇÃO Aumento da velocidade de eliminação medicamento pKa Vd L/kg diurese amitriptilina 9,4 40+ não anfetamina 9,8 0,60 ácida digoxina --- 7 - 10 não fenobarbital 7,4 0,75 alcalina fenitoina 8,3 0,60 não salicilato 3,2 0,1 - 0,3 alcalina Salicilatos SALICILATOS USOS Propriedades analgésicas, antitérmicas, anti-inflamatórias – Inibe a agregação plaquetária MECANISMOS DE AÇÃO – Inativação irreversível da enzima cicloxigenase – Inibição de prostaglandinas (dor) e tromboxanos (plaquetas) – Inibe a formação de TxA2 em plaquetas, o efeito persiste durante sua vida útil As Três Aspirinas Aspirina I Antitrombótica Cardiologista 80mg/dia Indetectável Cox-1 plaquetária Aspirina II Analgésica, antipirética Farmacêutico 325-650mg cada 4h < 2.5mg/dl [ mM ] Cox-1, Cox-2 Aspirina III Antiinflamatória Reumatologista 1,3g cada 4-6h > 20mg/dl [mM ] Cox-1, 2; transcrição de sinal Weissman, G. 2001 Hemorragias Gástricas 39 anos - deteção do efeito 20 anos - melhor adequação do tratamento Reação de hipersensibilidade * Reye’s síndrome - lesão hepática severa, encefalopatia 1:5 milhões de crianças COMMITTEE ON SAFETY OF DRUG OMS - DRUG MONITORING ORGANIZATION 18/09/2017 6 SALICILATOS - Ácido acetil salicílico - Ácido salicílico - Salicilato de metila Ação tóxica - Estimulação do S.N.C. (centro respiratório) - Diminuição de H+ - Alcalose respiratória - Aumento no metabolismo - Sudorese - Desidratação compensatória - Depressão vasomotora depressão respiratória CO2 pH sg acidose respiratória Ácido lático/ácido pirúvico acidose metabólica Hipoglicemia Cetoacidose metabólica Parada respiratória AÇÃO TÓXICA dose terapêutica dose tóxica tmax (h) 1 Até 24 pp (%) 94 (> 80 g/mL) Vd ClR (mL/min) 16 (pH 6,5) 64 (pH 7,5) t½ (h) 3 - 6 15 - 30 TOXICOCINÉTICA Biotransformação do A.A.S. Efeito do pH na eliminação Eliminação dependente da dose 18/09/2017 7 Dose Ingerida (mg/Kg) Severidade estimada > 150 Não são esperadas reações tóxicas 150 - 200 Intoxicação leve 200 - 300 Intoxicação moderada 300 - 500 Intoxicação grave > 500 mg ou 20 a 30 g em adultos Dose tóxica letal SALICILATOS – DOSE / CLÍNICA SINAIS E SINTOMAS Intoxicação leve : ardor na boca, esôfago ou abdomen, letargia, vômitos, diminuição na audição e vertigens Intoxicação moderada : hiperpnéia severa, letargia, excitabilidade, delírio, febre, sudorese, desidratação e agitação Intoxicação severa : hiperpnéia severa, coma, convulsões, cianose, edema pulmonar e falência respiratória EXAMES LABORATORIAIS • Triagem - teste rápido com reativo de trinder ou FeCl3 urina ou sangue Positivo : coloração violeta ou roxo • C.C.D. Triagem ou confirmatório • Espectrofotometria (aplicação do nomograma) Método de Kaye • Monitorização sanguínea : bicarbonato, cloretos, potássio, sódio, glicose e o pH Gravidade da Intoxicação Nomograma De Done Adaptado de Done A.K -Salicylate intoxication: significance of measurement of salicylate in blood in cases of acute ingestion. Pediatrics, v. 26, p. 800. SALICILATOS - TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS DE DESCONTAMINAÇÃO Lavagem gástrica e/ou CA até 1 h da ingestão Ingestão maciça: CA em doses repetidas TRATAMENTO DE SUPORTE Manter vias aéreas livres e assistência ventilatória Tratar coma, convulsões e hipertermia Tratar acidose metabólica com carbonato de cálcio IV, mantendo o pH sangüíneo em 7,45 Repor fluidos/eletrólitos c/ cuidado: edema pulmonar Lesões gástricas bloqueadores H2 ANTÍDOTOS: não há antídoto específico SALICILATOS - TRATAMENTO DE SUPORTE Monitorar pressão venosa central e função renal Pacientes hipocalêmicos: suplementação baseada no potássio e creatinina séricos Acidose pode mascarar hipocalemia Salicemia: indica gravidade e conduta Tetania em geral é devida à hipocalemia Convulsões: sério prognóstico Síndrome de Reye: dosar amônia sérica 18/09/2017 8 SALICILATOS - REMOÇÃO EXTRACORPÓREA Alcalinização urinária: tratamento obrigatório! Hemodiálise é efetiva inclusive na correção de distúrbios do equilíbrio acido - básico e de fluidos Carvão ativado em doses repetidas reduz a meia-vida plasmática do AAS, mas de forma não tão rápida quanto a hemodiálise SALICILATOS – Monitorização terapêutica Artrite Reumatóide (variação da dose de AAS) Crianças: 60 a 200 mg/kg.dia Adultos: 2,4 a 8 g/kg.dia Devido a esta diferença não existe relação entre DOSE ADMINISTRADA x CONCENTRAÇÃO SÉRICA e sim CONCENTRAÇÃO SÉRICA x EFEITO ANTIINFLAMATÓRIO Faixa terapêutica: 15-30mg% Faixa tóxica: > 30mg% Portanto é necessária individualização da dose com base nos valores de salicilemia e resposta clínica Diferenças interindividuais Estreita margem de segurança SALICILATOS – Método de análise MÉTODO DE TRINDER Método colorimétrico, no qual a [ác. salicílico] é diretamente proporcional a intensidade da coloração violeta do complexo formado entre o salicilato e os íons férrico*, em meio ácido, quantificado pela absorbância em 540 nm. * Oriundos do reagente TRINDER constituído de Fe(NO3)3 fonte de íons Ferro, ácido clorídrico e HgCl2 ppt proteínas e proporcionam meio ácido. SALICILATOS – Método de análise AMOSTRAGEM Plasma, soro e urina são os mais usados PROCEDIMENTO ANALÍTICO Transferir para 3 tubos de centrífuga: 1ml de soro ou plasma (amostra), 1ml do controle (plasma ou soro adicionado de AAS numa concentração de 20mg%, 1ml de branco de soro ou plasma (branco) Adicionar 5ml de Trinder , agitar e centrifugar (2000rpm/5min) Transferir o sobrenadante para outros 3 tubos Ler a absorbância (540nm) do produto colorido contra o branco Determinar a concentração por meio de curva de calibração Paracetamol PARACETAMOL (Acetaminofeno) AÇÃO TÓXICA HEPATOTOXICIDADE SINAIS E SINTOMAS Anorexia, náuseas e vômitos inespecíficos Aumento de ALT, AST e Bilirrubina Fatal em 4 dias se não tratado 18/09/2017 9 Paracetamol EXAMES LABORATORIAIS • Triagem - teste rápido com HCl, fenol ou cresol e NaOH Positivo : coloração azul • C.C.D. Triagem ou confirmatório • Espectrofotometria (aplicação do nomograma) Método de Epton & Grove • Monitorização sanguínea : ALT, AST e Bilirrubina Prognóstico da intoxicação Nomograma de Rumack & Mattew HNCOCH3 NCOCH3 Cit P- 450 Bile Via secundária Urina OH O UDPGA (52%) Hepatotóxico PAPS (42%) urina Intermediário reativo Via primária (N-Acetil-p-benzoquinoneimina) NOMOGRAMA DE RUMACK Paracetamol (g/mL) 400 1 - IMPROVÁVEL DANO HEPÁT. 200 2 2 - PROVÁVEL DANO HEPAT. 100 50 1 10 5 2 4 8 12 16 20 24 Horas após a ingestão Tratamento da intoxicação por paracetamol Administração de N-acetilcisteína Ingestão > 10 h Ingestão > 4h < 10 h não tratar > 100 g/ml < 100 g/ml N-acetilcisteína DL=140mg/kg DM=70 mg/kg/4h Ingestão > 10 h Ingestão > 4h < 10 h não tratar > 100 g/ml < 100 g/ml N-acetilcisteína DL=140 mg/kg DM=70 mg/kg/4h 18/09/2017 10 FIM
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