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Resumo da Parte II do livro MORFOLOGIA URBANA e Desenho da Cidade Autoria de José Manuel Ressano Garcia Lamas Por Alfredo José de Oliveira Coelho Arquiteto Professor da Unime Itabuna Bahia Setembro 2017 2.1 A MORFOLOGIA URBANA Nas séries iniciais do ensino de português estudamos análise morfológica, que se dedica ao estudo da estrutura e a classificação das palavras em função do seu uso, colocando as classes gramaticais em evidência: substantivo, verbo, advérbio, pronome, numeral, preposição, conjunção, interjeição, artigo e adjetivo. No urbanismo, segundo LAMAS (2014) “a morfologia urbana supõe a convergência e a utilização de dados habitualmente recolhidos por outras disciplinas diferentes – economia, sociologia, história, geografia, arquitetura, etc. – a fim de explicar um fato concreto: a cidade como fenômeno físico e construído.” Conhecer o meio urbano torna necessário instrumentos de leitura que permitam organizar e estruturar os elementos apreendidos, e uma relação objeto-observador. Três Pontos Destacados Pelo Autor: • A morfologia urbana é o estudo da forma do meio urbano nas suas partes físicas exteriores, ou elementos morfológicos, e na sua produção e transformação no tempo. Porém um estudo morfológico não se ocupa do processo de urbanização: fenômenos sociais, fenômenos econômicos e outros que movem a urbanização; • Um estudo da morfologia urbana ocupa-se da divisão do meio urbano em partes e da articulação destes entre si com o conjunto que definem. O que remete para a necessidade de identificação e clarificação dos elementos morfológicos, quer em ordem à leitura ou análise do espaço quer em ordem à sua concepção ou produção; • Um estudo do morfológico deve ter em conta os níveis ou momentos de produção do espaço urbano. Deve também identificar os níveis de produção da forma urbana e as suas interrelações. 2.2 A FORMA URBANA A aparência exterior é o conceito geral de uma forma. Assim a “forma urbana” é uma noção correspondente a aparência de uma coleção de elementos arquitetônicos que se ligam por relações espaciais entre si, compondo o meio urbano e, tendo a arquitetura como a chave principal de leitura e interpretação correta da cidade tal como uma estrutura espacial. Forma Urbana pede ser definida como: - Aspecto de realidade ou modo como se organizam os elementos morfológicos que constituem e definem o espaço urbano, relativamente à materialidade dos aspectos de organização funcional quantitativa e dos aspectos qualitativos e figurativos. A forma física é um dado real que predomina em qualquer descrição de uma cidade tendo o mapa como a sua fotografia. Quanto a Materialização Consideramos os Aspectos: • Aspectos quantitativos: - todos os aspectos da realidade urbana que podem ser quantificáveis e que se referem a uma organização quantitativa: densidades, superfícies, fluxos, coeficientes volumétricos, dimensões, perfis etc. utilizados para controlar aspectos físicos da cidade; • Aspectos de organização funcional: - relacionam-se com as atividades humanas: habitar, instruir-se, tratar-se, comerciar, trabalhar etc. e também com o uso de uma área, espaço ou edifício (residencial, escolar, industrial) ou seja, o tipo de uso do solo. Uso que é destina e uso que dele se faz; • Aspectos qualitativos: - ao tratamento dos espaços, ao conforto e à comodidade do utilizador. Nos edifícios poderão ser a insonorização, o isolamento térmico, a correta insolação etc., e no meio urbano poderão ser características como estado dos pavimentos, a adaptação ao clima, a acessibilidade, etc. Estes aspectos poderão ainda serem quantificáveis através de parâmetros; • Aspectos figurativos: - os aspectos figurativos relacionam-se essencialmente com a comunicação estética. Forma e Contexto Qualquer forma deve satisfazer um conjunto de critérios designados por contexto. Estes contextos podem englobar critérios funcionais, econômicos, tecnológico até jurídico- administrativo. A forma urbana deve constituir solução para o conjunto de problemas. Historicamente os elementos morfológicos urbanos são os mesmos: ruas, praças, edifícios, fachadas, monumentos etc. As diferenças estão no modo como estes elementos estão posicionados, organizados e articulados entre si de modo a constituir o espaço urbano. Por necessidade de respostas a situações diferentes, se houver mudanças no contexto haverá mudança na forma também. Forma e Função A forma deve se relacionar com a função de modo que permita o desenvolvimento eficaz e harmônico das atividades a que se destinam, diferentes funções exigem diferentes formas. Na arquitetura três princípios básicos estão sempre presentes: função, construção e arte – e é na cidade que cada um deles assume um peso relevante no processo de criação e alterações urbanas, entre duas posições extremas no processo: a posição “funcionalista”, na qual uma forma física corresponde logicamente aos fins funcionais e “beleza”, onde o belo é uma questão inerente a todo o sistema bem resolvido. Porém, na prática, a expressão, “FORM FOLLOWS FUNCTION (A Forma Segue a Função)”, enfatiza esta posição; - a outra posição que devota “o antifuncionalismo”, na qual a beleza da forma sobrepuja a função, de modo independe por outros objetivos, para criar a emoção ou o embelezamento da estrutura. Neste caso função se adapta à forma, ou a mesma função pode coexistir e processar-se em formas diferentes, “FUNCTION FOLLOWS FORM”. Qualquer equipamento urbano deve funcionar atendendo ao fim que foi planejado, independentemente de sua beleza estética, por exemplo um cinema, um teatro ou um parque infantil, antes de tudo, deve estar centrado no funcionamento do programa. Em matéria de qualidade o perfeito funcionamento é um dos principais itens e, a estética funcionalista deve estar presente na decoração, no projeto de interiores, no desenho industrial etc. As considerações morfológicas das cidades foram anuladas pela organização funcionalista, o zoneamento e a atribuição de uma função exclusiva a cada parcela do território se tornaram métodos universais do urbanismo, produzindo cidades pouco estimulantes, sem lugar para a surpresa, e a emoção. O funcionalismo foi uma teoria urbanística e arquitetônica, mas antes de tudo, uma estratégia de representação desenhada e construída, traduziu-se mais pela imagem estética, gráfica e espacial do que por uma correlação exata da forma com a função. Entretanto uma mesma função pode existir convenientemente em formas distintas e, a reutilização de antigos edifícios permite obter excelentes resultados no âmbito da utilização, do estético e da qualidade ambiental. A concepção da forma tem motivações mais complexas e profundas, não se esgota na correspondência à uma, duas ou mais funções. A função é um dos critérios do contexto, entre tantos outros, com a importância e a hierarquia própria dada pela visão cultural subjacente à concepção arquitetônica e urbanística, com estatuto de necessidades, mas não de suficiência, uma vez que pode ser manipulada com maior ou menor liberdade. Segundo o autor: “A cidade e o espaço urbano têm usos e não deviam entender-se com se os não tivessem”. Forma e Figura A forma arquitetônica de um fenômeno é, por um lado, a maneira como as partes ou estratos se encontram dispostos no objeto, e também tem o poder de explicitar e evidenciar esta disposição. Os dois aspectos sempre estiveram juntos. A forma tem poderes de comunicação estética dispostos em diferentes níveis, pois não existe objeto sem forma. Somente através da figura podemos descobrir o sentido do fenômeno e reconstruir a totalidade e, a pluralidade dos seus elementos construtivos e das suas proposições. Segundo GREGOTTI “A estrutura da concepção projetual, (o que caracterizaa obra arquitetural) é de natureza eminentemente figurativa”. Figurativos são os aspectos da forma que se comunicam por meio dos sentidos. À figura é atribuído poder de comunicação estética da forma, ou seja, o modo como se organizam as diferentes partes que constituem a forma. É pela figura ou pela mensagem figurativa que a arquitetura e a arte urbana se revelam. Toda ação que humaniza a paisagem pode conter objetivos e valores estéticos que se comunicam através dos sentidos ou da percepção. O homem urbano está sujeito a sons, cheiros, calor, luz estímulos visuais, climáticos e outros que atuam sobre os seus sistemas perceptivos pelos quais enviam mensagens organizadas e tratadas pelo cérebro gerando conhecimento do meio urbano. Os valores estéticos só são comunicáveis através dos sentidos e que, apesar das características da forma não se resumirem aos aspectos sensoriais, estes são determinados na sua compreensão. Classificação dos Sistemas Sensoriais: Sistema de Orientação: respeita o equilíbrio vertical e também as cimas de cima para baixo, de esquerda para direita, etc., que permitem ao homem orientar-se na cidade. É como um - condicionamento do sentido, que numa cidade dependerá fundamentalmente dos sistemas de referência: marcas ou monumentos, zonas ou bairros, etc. Sistema visual: É através da visão que se constrói a parte mais importante da imagem da cidade, no entanto, o sistema de observação do espaço urbano, pressupõe o movimento e a apreensão do espaço em sequência visual. Sistema táctil: Aqui se incluem todas as percepções térmicas e de fricção com a atmosfera: o vento, as correntes de ar, o calor, o frio, que também são importantes na vivência, compreensão e caracterização da cidade. Sistema olfativo: Este sistema pertence essencialmente à experiência da cidade, embora seja um fator de menor controlo e incidência no desenho da forma urbana, tal como tem sido analisada. 2.3 PRODUÇÃO E FORMA DA CIDADE E PRODUÇÃO E FORMA DO TERRITÓRIO O Território como Suporte da Arquitetura A expressão território designa a extensão da superfície terrestre na qual vive um grupo humano, ou melhor, o espaço construído pelo homem, em oposição ao que poderíamos designar por espaço natural, e que não terá sido humanizado. A paisagem mundial, atualmente é o resultado da ação do homem sobre os espaços físicos, de modo que tanto a paisagem rural quanto a urbana são resultantes desta ação, a qual influenciam não só na figura da paisagem, como no clima e modo de exploração e utilização das áreas afetadas é diferença entre estas áreas. Na maioria dos espaços físicos tanto o espaço rural quanto o espaço urbano, se diferenciam apenas pelo uso. Alargamento da Noção de Forma Urbana O Sitio e o Espaço Geográfico A forma humana não pode ser desligada do seu suporte geográfico, ou seja, o território preexistente constitui sempre um elemento determinante na criação arquitetônica. Em alguns casos o sitio contem o potencial gerador das formas construídas, conforme o traçado, a expressão do lugar. Aldo Rossi, em Arquitetura da Cidade refere-se ao sítio, o designando como “locus”, porém para o autor, locus não é propriamente o sítio geográfico, mas na conclusão ele concorda ao dizer que: “não se pode falar de forma urbana sem lhe associar o suporte geográfico, porque a forma urbana é indissociável do seu sitio e do território”. Os limites da cidade Na atualidade é muito difícil determinar os limites espaciais da cidade que é formada, em relação ao meio geográfico e social, por um conjunto de construções cujos habitantes trabalham em maioria no seu interior. A cidade antiga em geral era pequena. A forma urbana antigamente ligava-se a um sitio, atualmente se liga a um território. Acidade passa a ser um conjunto de formas inter-relacionadas, deixando de ter uma forma definida e marcada. Os meios de transportes tiveram grande influência nesta nova configuração urbana. A arquitetura terá necessariamente de se orientar para uma concepção da paisagem como conjunto total construído. A Paisagem como Objeto Estético, a Paisagem como Arquitetura e a Estética da Paisagem Natural Um terceiro ponto consiste em considerar a morfologia urbana como uma parte da morfologia do território, considerar a construção de toda a paisagem humanizada como ação arquitetural. A paisagem humanizada e a paisagem natural adquiriram qualidades figurativas, foram carregadas com atributos de beleza, capazes de provocar a emoção estética, permite então considerar que as operações sobre a paisagem são também do domínio arquitetônico- urbanístico. A Forma Urbana e Forma do Território Alargando a noção de forma urbana a todo o território se poderá utilizar a noção de FORMA DO TERRITÓRIO e, assim o campo de estudo da morfologia será a totalidade do território como lugar de transformações produzidas pelo homem, ou assim dizendo todo território como lugar de intervenção da arquitetura. Pode-se falara da produção morfológica da cidade ou de produção morfológica de território ou de morfologia urbana, indistintamente, os conteúdos são idênticos. 2.4 DIMENSÕES ESPACIAIS NA MORFOLOGIA URBANA Pode-se estabelecer uma classificação das escalas ou dimensões do espaço urbano. A compreensão e concepção das formas urbanas ou do território são colocadas em diferentes níveis, diferenciados pelas unidades de leitura e de concepção. O homem vive num espaço humanizado, uma continuidade ambiental e diferentes unidades espaciais constituem a forma urbana ou territorial: ruas, praças etc. Jean Tricart, em seu Curso de Geografia Humana, define três escalas principais na paisagem urbana: escala da rua, escala do bairro e a escala da cidade inteira. Estas categorias estabelecidas permitem sistematizar o conhecimento do espaço urbano. Dimensão Setorial – Escala Rua É a menor unidade, ou porção de espaço urbano, com forma própria. Uma infinidade de elementos que organizados entre si, definem a forma urbana (edifícios, o traçado, estrutura verde, mobiliário urbano). Dimensão urbana – Escala Bairro Pressupõe uma estrutura de ruas, praças ou formas de escalas inferiores. Os elementos morfológicos têm de ser identificados com as formas a escalas diferentes e a análise da forma necessita do movimento e dos vários percursos (traçados e praças, quarteirões e monumentos, jardins e áreas verdes). Dimensão territorial – Escala Cidade A forma estrutura-se através da articulação de diferentes formas à dimensão urbana. A forma das cidades define-se pela distribuição dos seus elementos primários ou estruturantes (bairros, grande infraestrutura viárias e grandes zonas verdes). O desenho urbano – por necessidades da estrutura mental e operativa humana organiza a forma pela adição e composição dos elementos morfológicos, ou formas de escalas inferiores. Esta classificação pretende clarificar a leitura do território, articulando-a com os diferentes níveis de produção do espaço . 2.5 OS ELEMENTOS MORFOLÓGICOS DO ESPAÇO URBANO A identificação de elementos morfológicos pressupõe conhecer quais as partes da forma e o modo como se estruturam nas diferentes escalas identificadas. Nas cidades, o sentido figurativo, como obra de arte coletiva , provém dos objetos, as construções, e da suanarticulação com o espaço por eles definidos. Solo – O Pavimento É a partir do território existente e da sua topografia que se desenha ou constrói a cidade. O pavimento é um elemento de grande importância no espaço urbano, contudo de uma grande fragilidade e sujeito a inúmeras mudanças. Os edifícios – O Elemento Mínimo É através dos edifícios que se constitui o espaço urbano e se organizam os diferentes espaços identificáveis e com forma própria: a rua, a praça, o beco, a avenida, etc. Osedifícios agrupam-se em diferentes tipos, decorrentes da sua função e forma. Esta interdependência é um dos campos mais sólidos em que se colocam as relações entre cidade e arquitetura. O lote – A Parcela Fundiária O edifício não pode ser desligado do lote ou da superfície do solo que ocupa, este é a génese e fundamento do edificado. A forma do lote é condicionante da forma do edifício e consequentemente, da forma da cidade. O quarteirão – A Quadra O quarteirão é um conjunto contínuo de edifícios agrupados entre si em anel, ou sistema fechado e separado dos demais, é o espaço delimitado pelo cruzamento de três ou mais vias e subdivisível em lotes para construção de edifícios. O quarteirão agrega e organiza os outros elementos da estrutura urbana: o lote e o edifício, o traçado e a rua, e as relações que estabelecem com os espaços públicos, semipúblicos e privados. A fachada – O Plano Marginal A relação do edifício com o espaço urbano processa-se pela fachada. São as fachadas que exprimem as características distributivas, o tipo de edificado, as características e linguagem arquitetônica, um conjunto de elementos que irão moldar a imagem da cidade. O logradouro O logradouro constitui o espaço privado do lote não ocupado por construção, as traseiras, o espaço privado separado do espaço público pelo contínuo edificado. É através da utilização do desenho do logradouro que se faz parcialmente a evolução das formas urbanas do quarteirão até ao bloco construído. O traçado – A Rua O traçado é um dos elementos mais claramente identificáveis na forma de uma cidade, definindo as quadras. Assenta num suporte geográfico preexistente, regula a disposição dos edifícios e quarteirões, liga os vários espaços e partes da cidade, e confunde-se com o gesto criador. O traçado estabelece a relação mais direta de assentamento entre a cidade e o território. É o traçado (rua) que define o plano, intervindo na organização da forma urbana a diferentes dimensões. A praça A praça é um elemento morfológico das cidades ocidentais e distingue-se de outros espaços, que são resultado acidental de alargamento ou confluência de traçados. A praça pressupõe a vontade e o desenho de uma forma e de um programa. É um elemento morfológico identificável na forma da cidade e utilizável no desenho urbano na concepção arquitetônica. O monumento O monumento é um facto urbano singular, elemento morfológico individualizado pela sua presença, configuração e posicionamento na cidade e pelo seu significado. O monumento desempenha um papel essencial no desenho urbano, caracteriza a área ou bairro e torna-se polo estruturante da cidade. A árvore e a vegetação Caracterizam a imagem da cidade, têm individualidade própria, desempenham funções precisas: são elementos de composição e do desenho urbano, servem para organizar, definir e conter espaços. O mobiliário Urbano Situa-se na dimensão setorial, na escala da rua, não podendo ser considerado de ordem secundária, dado as suas implicações na forma e equipamento da cidade. É também de grande importância para o desenho da cidade e a sua organização, para a qualidade do espaço e comodidade. 2.6 EVOLUÇÃO DO TERRITÓRIO A cidade como qualquer organismo vivo, encontra-se em contínua modificação. O tempo é fundamental para compreender o território como objeto físico e também para posicionar a intervenção do arquiteto. A evolução das formas urbanas põe duas ordens de questões: A primeira relacionada com o desenvolvimento urbano, o estudo morfológico pressupõe a consideração do crescimento urbano, que é indissociável ao estudo das cidades; A segunda relativamente à reutilização de partes da cidade, as políticas de recuperação, reabilitação e restauro de áreas urbanas pressupõe diferentes usos e consequentes modificações da imagem e da forma. A evolução das cidades é um fato natural, a complicação está em estabelecer as necessidades e controle desta modificações. O Domínio das Transformações do Território Compete ao urbanismo a missão de dominar a evolução do território e os seus mecanismos de transformações, construindo, adaptando ou conservando o espaço. É fato que espaço não pode ser construído espontaneamente sem um planejamento e projetos e a sua implementação. O controle da cidade pressupõe a intervenção em todas as transformações, desde as fachadas, mobiliário urbano, os edifícios até as grandes infraestrutura, não bastando apenas controlar os aspetos gerais. Mecanismos das Transformações do Território Quando a forma se mostra inadaptadas ao contexto sobrevêm a necessidade de sua transformação. A permanência da mesma forma urbana foi possível porque o contexto no que essas formas foram produzidas não se modificou. Marcel Poète estabelece o conceito de persistência, que afirma que a análise histórica da cidade revela existirem elementos em contínua transformação e elementos que não se modificam totalmente e persistem, como os monumentos (portadores de valor histórico), traçados, vias e a estrutura fundiária. À escala da rua, as transformações são facilmente visíveis, desde a montra da loja ao mobiliário urbano, já à dimensão urbana, o tipo de modificações é mais lento e de maior profundidade, novas ruas, novos edifícios, etc. 2.7 NÍVEIS DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO A prática do planeamento organiza-se em níveis de atuação determinados pela própria natureza dos métodos, objetivos e conteúdo, e escala dos problemas e dimensão geográfica das intervenções. O ambiente físico é interdependente das condições e sistemas, através dos quais efetua a ação do homem no território, na produção do espaço. Podemos distinguir três níveis de produção do espaço: Nível de Planejamento (Programação - Planificação); Nível Urbanístico (O plano); Nível de Construção (O projeto). Nível de Planejamento O arranque de todo o planejamento é uma fase de determinação de objetivos socioeconómicos, embora o processo não desenvolva linearmente, a programação aparece como etapa preliminar das ações do urbanismo, na qual se fixa o programa a ser executado no futuro. Esta programação pode abranger uma rua, um bairro ou mesmo uma cidade inteira. Nível Urbanístico Trata-se de precisar os objetivos no espaço e no tempo e de espacializar com maior pormenor a execução dos propósitos anteriores, implica a definição das morfologias urbanas e a consideração das possibilidades físicas do território. É a fase do plano e do desenho, do trabalho sobre a forma urbana. No plano não pode haver vetores contraditórios, que seja do âmbito socioeconômico, do âmbito espacial ou mesmo administrativo. Nível de Construção Nesta fase executa-se a construção do território de acordo com os objetivos e programa definidos, é a fase de construção, preparada pelo projeto e concretizada na obra. São três níveis interligados, mas autônomos nenhum nível, anterior ou posterior poderá interferir em outro nível. Desde o início que as ações de planejamento (a cada nível) devem estar concatenadas num mesmo objetivo. A forma do território vai sendo determinada através da quantidades, das áreas a construir e a liberar do traçado da infraestrutura em articulação com a paisagem pré-existente. É claro que a arquitetura deve estar presente em todos os níveis (no processo urbanístico), embora não é um belo projeto arquitetônico que vai corrigir os erros de planejamento atuais ou de projetos anteriores. 2.8 URBANISMO E ARQUITETURA Para que ocorra forma no meio urbano os níveis de planejamento e de urbanismo, assim como o projeto, não são suficientes torna-se necessário o desenho para que exista a forma urbana; o desenho não deve ser dos edifícios ou fatos construídos, mas o desenho da estrutura, o desenho daquilo que une e relaciona os diferentes elementosda morfologia ou as diferentes partes da cidade. O que diferencia o urbanismo da arquitetura não é a dimensão espacial nem o escalão da intervenção, mas a ação político-administrativa a conduzir no tempo e no jogo de forças econômicas e sociais. O urbanismo implica a condução de um plano no tempo e no jogo de agentes e atores políticos, econômicos e sociais, também tem como objetivo a mediação e resolução dos conflitos entre os interesses públicos e privados que disputam a fruição do espaço urbano. O desenho urbano e o desenho de edifícios não são mais que dois momentos de uma mesma disciplina: a arquitetura, intervindo em diferentes momentos e com distintos processos, mas com um único instrumento fundamental: o desenho. 2.9 EPÍLOGO “O arquiteto não é nem poderia ser um espectador neutro das questões que lhe dizem respeito e nas quais se vai envolvendo e posicionando diariamente no exercício profissional, estirador e na atividade docente.” A prancha de madeira (onde são desenvolvidos os desenhos de engenharia ou arquitetura), de nossas pranchetas para desenho é chamada de estirador. Veja: https://www.olx.pt/moveis-casa-e-jardim/moveis-decoracao/q-estirador-de-desenho/ A parte dois, deste livro, teve como objetivo a discussão sobre a forma, (e figura) da cidade de modo que o desenho urbano esteja embasado no conhecimento da cidade e do território, das suas estruturas, espaços e formas, e dos processos de formação. Neste momento é utilizado o estatuto específico da arquitetura e do urbanismo é como estrutura e campo disciplinar de bases sólidas (ferramentas técnicas), que assentam a Morfologia Urbana e História. Mapa de Itabuna sem os rios_2017
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