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Ciencia Politica Ficha de Estudo

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Política e Ciência Política
O que é Política:
A tradição do pensamento ocidental olha o objeto política a partir de duas perspectivas que podem ser contraditórias. 
Por um lado, política, derivada da ideia de polis, se refere ao fato de que a organização do modo de vida humano não pertence ao reino da necessidade, isto é, não deriva de imperativos naturais determinantes. Ao contrário, a polis e sua organização são o resultado de contingências, alternativas possíveis, da decisão humana e, portanto, fruto da liberdade que temos de nos autodeterminar individual e coletivamente. A política trata de nossas escolhas (não necessárias e não determinadas) sobre nossa vida conjunta, sobre as formas do bem viver juntos.
Por outro lado, política remete a ideia de poder, governo, decisão, administração e controle. Refere-se à percepção de que a organização coletiva da vida humana invariavelmente implicou no estabelecimento de hierarquias de comando estáveis no tempo, em seu sentido mais básico, a divisão entre governantes e governados. Nesse sentido, política se relaciona com os sentidos e formas da dominação, como esta se estabelece, se solidifica, permanece ou soçobra.
Assim, a ideia de política expressa prima face uma ambivalência entre os termos liberdade e dominação. O desafio, portanto, é discutir formas de aproximação entre esses núcleos conceituais contraditórios que definem nossa própria percepção de política.
Algumas pistas podem nos ajudar a entender esse processo. Nenhuma forma de dominação no campo das relações humanas é necessária ou natural, portanto, partilha da situação de contingência e de alternativas. Por outro lado, a estabilidade da dominação no tempo, que é a dominação que interessa à política, depende da sustentação, ou melhor, da legitimação dos dominados. Se é estranho dizer que a dominação surge da liberdade de escolha de diferentes formas de vida possíveis, em especial quando pensamos nos contextos reais em que as dominações se constroem, não podemos nunca perder de vista que os regimes políticos e as formas de organização humanas mudam com o tempo e pelas mãos dos próprios seres humanos, o que indica que elas não são necessárias ou determinadas e que nós, de maneira mais ou menos consciente, optamos por novas alternativas de vida conjunta, nas quais as relações de dominação aparecem.
A construção dessa organização, da polis, é um artifício humano. Como toda construção humana, e dado o contexto de contingência dos assuntos humanos, é temporária e falha. Sua construção precisa ser estabelecida elegendo opções de valores também contingentes, não absolutos, frequentemente contraditórios e nunca plenamente conciliáveis. 
É por isso que a política expressa com evidência as maiores injustiças, fraquezas e vícios de nossa condição humana, que aparece na corrupção e nos mais variados defeitos das constituições políticas; mas também é na política que a expressão do novo, da esperança, do inconformismo, do desejo de mudar o mundo e de buscar por outros valores encontra eco como aquela condição exclusivamente e distintamente humana de viver no mundo.
A política, portanto, se estabelece no reino da liberdade, mas ninguém disse que viver em meio a contingências e alternativas seria fácil. Ela expressa o campo de disputa humano pelas alternativas de boa vida, a temporalidade limitada dessas escolhas, nosso caráter de seres históricos, bem como a fragilidade de todas as construções humanas.
Como tal, a política se refere às decisões mais importantes sobre como e com quais valores e desejos iremos viver em conjunto e por isso ela diz respeito à estrutura organizacional e de poder mais elevada nas sociedades humanas. A política reivindica para si a última razão e a última instância do poder de determinar o curso das ações dentro das sociedades humanas, tendo em vista os diferentes valores sociais.
Ciência Política
A Ciência Política é uma das formas de apreciar a política como objeto de reflexão. A forma especificamente moderna. A Ciência Política aborda a política de acordo com os protocolos e procedimentos próprios da ciência moderna, em contraponto, por exemplo, com o pensamento filosófico ou mesmo com o senso comum.
Pensar cientificamente a política significa produzir análises e conhecimentos que sejam passíveis de serem comparados, verificados, confirmados (ainda que temporariamente), falseados e comunicados de maneira intersubjetiva. Portanto, pensar cientificamente um objeto exige a aplicação de metodologias de maneira disciplinada, com um nível de complexidade razoável, cumprindo requisitos exigentes na formulação de hipóteses, em como testa-las e em como atingir conclusões válidas, ainda que estas sejam sempre provisórias.
Significa dizer que a constituição da Ciência Política passa pelo objeto política (referido no tópico acima) e a metodologia de abordagem desse objeto. A abordagem científica determinará especialização, que fará não só da Ciência Política uma ciência “autônoma”, como trará para dentro da própria disciplina o desenvolvimento de “especialidades”, de ramos internos que se estabelecem a partir de perguntas e hipóteses específicas sobre a realidade política. 
Apesar do caráter científico, a Ciência Política tem relação com outras formas de pensar a política e com outras disciplinas que também pensam a política ou com ela se relacionam, como a filosofia, a história, a sociologia, a antropologia, a economia e o próprio direito.
Para que serve a Ciência Política no curso de Direito ou sobre a Política e o Direito.
Direito e Política possuem íntima relação. A ordem jurídica é filha direta da decisão política, como instituição que cristaliza e organiza as decisões fundamentais sobre os valores e estruturas de poder deliberadas. 
Ao mesmo tempo, o direito é chamado a justificar a estrutura política deliberada. Em especial no contexto moderno, o direito é o elemento de legitimação do poder político. É o direito que diz quem manda, porque manda e porque devemos obedecer, e é ele que em última instância conserva e defende a manutenção da ordem colocada. O direito é o instrumento institucional mais importante na persuasão do dominado de que a situação de dominação deve persistir, e que ele deve obedecer. É por isso que a definição de direito envolve a ideia de uma tecnologia da dominação e da diminuição da complexidade das alternativas de ação possíveis.
Finalmente, o direito dá forma ao exercício da política, é sua moldura própria. O direito determina como o poder deve ser exercido e se o mesmo é feito de forma diferente, diz-se do poder que foi exercido de maneira arbitrária, de maneira ilegal. O Direito determina a legalidade da política.
Nesse sentido, a Ciência Política serve aos alunos de direito, primeiro para compreender conceitos e problemas básicos que são comuns a ambas disciplinas. Mas com maior razão, a Ciência Política ajuda a compreender o fundamento e a estrutura da ordem jurídica e, ao mesmo tempo, a dinâmica de interação entre o direito e as demais esferas da vida social. A Ciência Política olha para o direito do lado de fora, em suas dinâmicas de funcionamento não dogmáticas, não formais e não sistemáticas. A Ciência Política não navega o Direito por dentro, mas em suas extremidades e conexões com o mundo social. Nesse sentido, a compreensão do fenômeno jurídico em sua integralidade (e compreender é importante para operar) depende de contribuições que a própria Ciência Jurídica não pode dar e que são dependentes de outras disciplinas, dentre elas, a Ciência Política.
Outros recursos e bibliografia
Bobbio, N., Matteucci, N., Pasquino, G. Dicionário de Política. Verbete: Política. Brasília: Editora UNB, 1998.
Bobbio, N. A política. Norberto Bobbio – o filósofo e a política: antologia. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 2003.
Arendt, A. O sentido da política. O que é Política? Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
Assis, M. A Sereníssima República. Papéis Avulsos. São Paulo: Cia das Letras,2011.
Questões:
Disserte sobre as relações entre Política, Liberdade e Dominação.
Disserte sobre as relações entre Política e Direito.
Disserte sobre as relações entre Política e Moral.
Sobre a política, assinale a assertiva incorreta.
a) O homem é um animal naturalmente político e, portanto, as sociedades humanas aparecem como um imperativo exclusivamente biológico, não se relacionando em nada com a decisão ou vontade dos próprios homens de viverem em conjunto.
b) É comum definir a política pela busca do bem comum. Mas isso não revela o que a política é, mas como gostaríamos que ela fosse. Na prática, o bem comum não é um critério de demarcação suficiente para a política. 
c) A política se define pelo seu meio específico, qual seja, o uso da força. Uma força que é qualificada tanto pelo caráter de supremacia, quanto pela necessidade do reconhecimento da legitimidade de seu uso, ou seja, o uso da força legítima.
d) A política é um fenômeno social e, por essa razão, toda a ação política é também uma ação de natureza social. Mas a política não esgota o campo social e, portanto, nem toda ação social é uma ação política.
e) A política demarca a relação entre governantes e governados, uma relação cujo conteúdo é basicamente de hierarquia e dominação. 
Sobre as possíveis relações entre política e direito, assinale a assertiva correta.
a) O poder político é quem cria do direito. O direito é sempre dependente do poder político.
b) Uma vez que a ação política cria o direito, no sentido de que são os investidos do poder político quem legitimamente criam e impõem um determinado ordenamento jurídico à sociedade, o direito é incapaz de disciplinar a ação política. 
c) O direito é sempre fundacional em relação à política. A origem do poder político depende da imposição de uma base jurídica em um momento anterior.
d) A relação entre política e direito é dupla: primeiro, o fato de que o poder político cria o direito, assim, apenas numa sociedade política é possível encontrarmos o direito positivo aplicável contra todos; segundo, o fato de que o exercício do poder político é disciplinado pelo direito, nestes termos, as sociedades políticas regulamentam pelo direito a forma legítima de exercício do poder político, em contraponto às formas despóticas e arbitrárias.
e) Do ponto de vista da política, o problema da legalidade do exercício do poder do governante é irrelevante. Como o poder político é aquele que funda a ordem jurídica, a política não pode ser analisada sob o prisma da legalidade. Nesse sentido, as demandas sociais pela disciplina do exercício do poder político pelos governantes não se justifica.
Teoria das Formas de Governo – Maquiavel e Montesquieu
Forma de Governo:
A política tem como objeto central a relação de poder entre governantes e governados. Uma relação cujo conteúdo se volta para a autoridade e dominação dos governantes – ou seja, sua capacidade de comando soberano sobre os demais, baseado no meio específico da política que é a força/violência -, mas também para o aspecto estabilizador dessa relação de poder no tempo que é a legitimidade – ou seja – o vínculo de crença / consentimento dos governados nas instituições (sejam quais forem) que legitimam o poder do governante.
Nesses termos, a discussão sobre o poder político não pode ser voltada para as ações de curta duração ou demonstrações de força momentâneas, mas sobre processos de longo período. A institucionalização do poder político, sua organização e sua manutenção no tempo vem ganhar ao lado da discussão do poder político puro e simples importância de mesmo grau.
As Formas de Governo se estabelecem nesse registro e dizem respeito (i) a legitimação do poder; (ii) o processo de legalização ou institucionalização do poder político; (iii) sua organização ou seu tipo de constituição (que se observam na história); (iv) seu caráter prescritivo, ou seja, se o poder é bem ou mal exercido. Essencialmente, a discussão sobre as Formas de Governo diz respeito sobre como se dá a dinâmica da relação governante e governado, tanto seu caráter descritivo (ser) como prescritivo (dever ser).
Daí aparecem as tipologias das formas de governo que, por um lado, analisam sistematicamente os dados históricos sobre como os governos se organizam, nomeando os casos tipo, e de outro, hierarquizam as formas de governo como sendo melhores (ou preferíveis) que as demais opções existentes. Uma tipologia que é, portanto, sistemática e axiológica.
A discussão sobre as formas de governo é uma constante na reflexão política do pensamento ocidental, desde os tempos de Platão até a Ciência Política contemporânea. As variações são bastante significativas em cada autor, mas o esquema clássico estabelecido por Aristóteles e Políbio (e depois altamente redefinido e rediscutido) permanece uma referencia fundamental:
	
	
	Como?
	
	
	
	Bem
	Mal
	Quem?
	Um
	Monarquia
	Tirania
	
	Poucos
	Aristocracia
	Oligarquia
	
	Muitos
	Democracia
	Oclocracia
Com o tempo, a discussão axiológica deixou de ser considerada (talvez por refletir mais predileções subjetivas que critérios “científicos”) para dar lugar apenas ao eixo descritivo de sistematização, ainda que o termo tirania tenha sido preservado para definir formas pervertidas do poder político (ilegítimas, arbitrárias e não baseadas no arranjo institucional).
Finalmente, pelo menos a partir de Maquiavel e com maior ênfase em Montesquieu, é preciso apontar o caso do Governo Misto. Ou seja, a ideia de uma constituição de governo que procure combinar aspectos positivos dos três tipos clássicos (monarquia, aristocracia e democracia). A análise de Montesquieu sobre o caso do governo monárquico inglês (classificado como um caso de governo misto), legará às modernas democracias a famosa divisão dos três poderes.
Maquiavel
Nicolau Maquiavel faz parte de um seleto grupo de pensadores clássicos na reflexão política e social, cuja importância e originalidade da contribuição são tão importantes quanto sua má fama. Maquiavelismo ainda expressa uma noção de perfídia, frieza e crueldade, tudo isso fruto direto dos conselhos dados por Maquiavel aos Médicis, sobre como dominar e conquistar territórios e sobre como manter o poder político. Tais conselhos foram expressos em um texto, cujo objetivo segundo alguns era apenas conseguir favores que lhe tirassem do exílio forçado, que se transformou num dos maiores clássicos do pensamento político de todos os tempos: “O Príncipe”.
Independente de suas intenções, é preciso fazer desde logo uma advertência importante, Maquiavel não escreveu somente O Príncipe. E se nesse livro um leitor desavisado poderia entender que as recomendações e lições dadas a um príncipe sobre o Estado e o governo fariam de Maquiavel um defensor de um arranjo monárquico (ou um principado, como diz o autor florentino) e, quem sabe para aqueles imbuídos de um visão excessivamente cristã, um arauto de uma tirania cruel, é preciso lembra-se do altamente republicano “Os discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”, focada na análise da constituição de Estado e governo romanos.
A verdade é que a primeira grande dificuldade na interpretação de Maquiavel vem de sua profunda originalidade em comparação à tradição do pensamento político clássico. Anoto os principais fatores: 1) sua concepção realista e histórica da política em contraponto ao discurso sobre como a política deveria ser; 2) sua concepção pluralista da realidade que entende que os valores e objetivos humanos nem sempre são conciliáveis, o que impõe escolhas trágicas para os seres humanos; 3) a compreensão de que a ação política e seu sucesso se submetem a critérios de análise muito diferentes da moralidade individual; 4) a compreensão da relação entre virtude política (virtude essa que para os padrões da moralidade cristã seria mais próxima de uma lista de graves pecados) e fortuna (ou o acaso), que aponta certos limites da ação do governante.
Maquiavel de uma maneira muito singeladescreve a natureza humana como falha e contingente, e que estas tendências conduziriam à anarquia e ao caos. Portanto a pergunta central de Maquiavel é como preservar a estabilidade dos arranjos de governo. Nesse sentido, interessa muito pouco à Maquiavel a discussão sobre a melhor forma de governo, ou como o governo deveria ser. Interessa, assumindo a falibilidade humana e provisoriedade e instabilidade das instituições, quais são as condutas reais que prolongam ou colocam em perigo os governos e Estados ao longo da história. O autor florentino acredita que a história possa dar lições sobre o futuro e o que nele fazer para conquista e manutenção do Estado.
Duas forças antagônicas e não conciliáveis existem no reino social. Os poderosos que pretendem dominar o povo e o povo que não pretende se deixar dominar. Disso resulta, quando a primeira força prevalece, os principados, e no outro caso, as repúblicas. Portanto a escolha de uma forma ou outra de governo não é uma questão de preferência, mas sim de situações concretas e, mais do que isso, a escolha de uma ou outra forma implica numa renúncia com relação a certos valores.
Nessa concepção realista, o sucesso daquele que pretende ser um governante depende da sorte, mas sobretudo de uma particular ideia de virtude.
Maquiavel não renega as virtudes cristãs de amor, fraternidade, mansidão etc. Apenas diz que na política estas virtudes são incompatíveis com a manutenção do Estado e do governo, e que para um governante tais virtudes na realidade se tornam vícios se o objetivo é a estabilidade institucional. Virtú significa sagacidade, altivez, coragem, estratégia e astúcia, vários destes em contraponto à tradição da moralidade convencional. Para Maquiavel um bom príncipe, provavelmente não será um bom cristão e um bom cristão não será um bom príncipe.
Nessa visão, governantes devem agir com base em uma ética de resultados (da responsabilidade), ou seja, o governante deve fazer o necessário para manter e fortificar o Estado e o governo. Um governante não será avaliado por suas intenções e valores, mas sim pelo resultado direto de suas ações: se o Estado e o governo se mantiveram e ampliaram sua estabilidade.
Isso não significa, portanto, que o príncipe deve ser “mau”, “imoral” ou corrupto para ter sucesso, significa que o príncipe deve desenvolver a capacidade de analisar as situações concretas e pautar suas ações não por valores intrínsecos, mas com foco nos resultados. É por isso que Maquiavel fará a fundamental distinção entre aparência e essência na arte da política, uma lição fundamental a todos aqueles que estranham a excessiva flexibilidade moral, o cinismo ou mesmo a hipocrisia do mundo da política. O incômodo que Maquiavel nos traz a partir de exemplos históricos é demonstrar como muitas vezes é mais eficiente para a manutenção da ordem política parecer “bom”, “honesto”, “virtuoso”, “leal” do que sê-lo.
A exibição desta virtude do governante é a única maneira de tentar seduzir e controlar o acaso, a Fortuna. Ou seja, a inevitabilidade do fim, da contingência e da limitação de todas as coisas humanas, incluindo o Estado, só podem ser prolongadas na arte de governar segundo a virtú. 
 
Montesquieu
Montesquieu pode ser circunscrito à mesma tradição de Maquiavel sobre vários aspectos. Ambos estão preocupados com analisar como os regimes políticos funcionam; para ambos a estabilidade de tais regimes é um problema central, também como em Maquiavel; o método de Montesquieu é uma imersão bastante detalhada nas lições fornecidas pela história.
Mas um fator os diferencia bastante: Montesquieu faz sim uma diferenciação importante entre boas formas de governo e aquelas formas desvirtuadas e, nesse sentido, ele exibe uma preocupação central com a liberdade e em como evitar a tirania.
Montesquieu era um nobre francês, e no contexto da ascensão do absolutismo (e em como o absolutismo afetava também os privilégios nobiliários), o autor viu com extrema preocupação a concentração de poder e a tiranização da monarquia. O absolutismo significava uma monarquia cerceadora de liberdades, distinta do modelo de uma monarquia fundada na lei. Por outro lado, antecipando a Revolução Francesa, também viu riscos graves na radicalização do povo, arriscando a subversão de toda a ordem numa espiral de anarquia perigosa em favor de uma democracia despótica.
Dado esse contexto, a principal preocupação de Montesquieu será a discussão sobre mecanismos institucionais de moderação e estabilização do poder. É no governo inglês e na sua análise minuciosa que Montesquieu irá derivar e descrever mecanismos institucionais nesse sentido. A monarquia constitucional inglesa seria um típico caso de governo misto em que a interdependência e limitação recíproca entre instâncias distintas de poder levava a um equilíbrio importante no funcionamento do regime: poder contra poder gera moderação e estabilidade.
Embora seja atribuído à Montesquieu o feito da teoria da separação dos poderes – que do ponto de vista prático foi um feito construído pelo espírito dos norte-americanos na constituição do regime político dos Estados Unidos da América, e pela mão dos federalistas – a verdade é que antes da ideia de separação, o ponto fundamental é entender como construir mecanismos de freios e contrapesos. 
O ponto central é evitar a concentração de prerrogativas e construir mecanismos que permitam que o governo funcione de maneira interdependente, de maneira que múltiplos atores controlem porções significativas de poder.
Evitando tal concentração, três efeitos importantes podem ser derivados: 1) a distribuição do poder evita que atores possam levar a cabo decisões que suprimam liberdades, evitando a tirania ou o despotismo (formas pervertidas de governo); 2) a necessidade de interdependência gera necessidade de acordo entre os detentores de diferentes prerrogativas, portanto, gerando moderação; e 3) a moderação permite uma melhor harmonização dos vários interesses que reforça a estabilização do regime político.
Outros recursos e bibliografia
Sadek, M. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de virtú. IN: Os Clássicos da Política. Francisco C. Weffort Org. São Paulo: Editora Ática, 2003.
Albuquerque, J. A. Montesquieu: sociedade e poder. IN: Os Clássicos da Política. Francisco C. Weffort Org. São Paulo: Editora Ática, 2003.
Maquiavel, Nicolau. O príncipe. Várias edições.
Montesquieu, C. O espírito das leis. Várias edições.
Questões:
Ao príncipe é lícito violar pactos? Disserte sobre a possível resposta de Maquiavel e justifique.
Relacione o pensamento de Maquiavel com a Ética da Responsabilidade.
Quais as principais preocupações de Montesquieu como pensador político? Disserte sobre a teoria da separação dos poderes, considerando os principais interesses de Montesquieu sobre o tema.
Sobre as ideias políticas de Montesquieu e seus desdobramentos, é incorreto afirmar:
a) as grandes preocupações de Montesquieu são a estabilidade institucional e a moderação.
b) o despotismo é o regime em que prevalece a vontade de um só e cujo princípio é o medo ou o terror.
c) o regime monárquico inglês, onde o parlamento se contrapõe como um poder efetivo perante o rei, é severamente criticado por Montesquieu em contraponto ao elogio da centralização do poder nas mãos do rei no caso da monarquia francesa.
d) freios e contrapesos e a ideia do governo misto referem-se a perspectivas e soluções institucionais que pretendem equilíbrio e moderação dos poderes, estas características por sua vez, impedem o despotismo.
e) na visão de Montesquieu a república (democrática ou aristocrática) seria o governo do passado, e o despotismo o perigo do futuro. A monarquia constitucional com seus dispositivos de equilíbrio e de divisão de poder, o regime de governo preferível naquele contexto histórico. 
“Procure, pois, um príncipe ganhar e conservar o Estado; então os meios sempre serão considerados honoráveis e serão louvados por todos”. Combase na frase de Maquiavel em O Príncipe, assinale a assertiva correta. 
a) Para Maquiavel, para que os meios de preservação do Estado sejam honrosos, o príncipe deve observar os ditames da moralidade cristã. 
b) Para Maquiavel, o príncipe deve agir sempre contrariamente à moral. A manutenção do Estado, em qualquer circunstância, depende da adoção pelo príncipe de atos imorais para consecução de seus objetivos pessoais.
c) Segundo Maquiavel, um príncipe deve se valer de todos os meios necessários à preservação do Estado, incluindo o desrespeito aos pactos realizados com outros príncipes. 
d) Ao declarar que os fins justificam os meios, Maquiavel abriu a porta para que os políticos pudessem justificar atos imorais e de corrupção pelos benefícios de ordem pessoal e individual que tais atos poderiam trazer. Assim, um pensador como Maquiavel nunca se preocuparia com a corrupção na política.
e) Maquiavel é o primeiro pensador político a notar que moralidade opera com os mesmos critérios na esfera de conduta individual e também no plano político.
Democracia
Nome e importância:
A democracia é um termo central no imaginário e no linguajar político. Tanto assim, que nossa análise política frequentemente divide Estados, políticas, práticas e ideologias em democráticas e não democráticas (ou autoritárias). Hoje, em termos de Forma de Governo, faz menos sentido discutir monarquias ou aristocracias. A democracia se afirma como a única forma de governo legítima, de maneira que até governos autoritários tenderam a sustentar seu caráter “democrático” ou emular instituições típicas da democracia.
Nada obstante, essa é uma realidade consolidada apenas no séc. XX, e mais especialmente, apenas no último terço de século. A verdade é que a centralidade do termo democracia no linguajar político moderno termina por esconder uma série de fenômenos importantes para a teoria democrática: (i) o árduo e incompleto caminho do processo de democratização; (ii) a variabilidade de formas institucionais e do sentido de democracia; (iii) o fato de que a democracia é historicamente rara e institucionalmente frágil.
A democracia, pelo menos tal como pensamos nela hoje, é assim uma conquista bastante recente – basta ver o número de viradas autoritárias durante o séc. XX e o fato de que o próprio sufrágio universal (todos os adultos de um Estado estando aptos a participar do processo político) se consolidou apenas neste mesmo século – e só pode ser entendida num contexto de processo e transformação. Enquanto várias correntes política tentam se apropriar do termo democracia, essa vai se construindo paulatinamente, em meio a avanços e retrocessos, sempre inspirada muito mais na prática real do que seguindo uma ou outra teoria.
Defesa
A defesa do regime democrático se dá não só por aspectos normativos, mas também práticos. Enquanto pode se dizer que o regime democrático é aquele em que se apela para a defesa da liberdade e da igualdade, do ponto de vista prático, tem se averiguado os melhores índices de bem-estar social (IDH) e desenvolvimento econômico (PIB e PIB per capita) justamente em regimes democráticos. Por outro lado, o regime democrático tem proporcionado tempos mais prolongados de paz e segurança interna aos Estados, mas também no plano internacional, entre os Estados. Finalmente, do ponto de vista dos indivíduos, a democracia é o regime melhor capaz de ampliar o leque de escolhas de vida de cada uma das pessoas.
História
Democracia é um termo muito marcado pela historicidade. Isso quer dizer que democracia significa coisas bastante diferentes ao longo do tempo. Além disso, a democracia não tem uma linearidade e continuidade no tempo. Ao contrário, a história da democracia é marcada por novas experimentações e interrupções repentinas, por longos períodos de descontinuidade e por nascimentos independentes. Como dissemos anteriormente, o fenômeno democrático, ainda que importante, é relativamente frágil.
Para fins didáticos, vale ressaltar três momentos importantes para experiência democrática na história. 
O primeiro momento, classificamos como fontes remotas da democracia e são marcados pelas experiências grega e romana, onde podemos destacar o nascimento da ideia de republica e da soberania popular, bem como os primeiros experimentos de instituições de freios e contrapesos, o governo misto.
O segundo momento, apontamos as experiências autônomas constituídas na Europa do Norte, que legaram as primeiras formas de representação e parlamento mais parecidas com as que nós conhecemos hoje. Enquanto no mundo antigo do primeiro período imperava o modo de eleição por sorteio e a democracia só era capaz de se estabelecer em territórios limitados da própria polis, no caso da Europa do Norte, a escolha de representantes se dava por meio do voto e, através de uma sucessiva rede de assembleias locais e regionais, foi possível a construção de um sistema de representação mais abrangente. Assim, a experiência da Europa do Norte foi essencial para nos legar o modelo de governo representativo.
Finalmente, um terceiro momento é identificado no limiar do mundo moderno, associando à nova linguagem dos direitos dos homens, à consolidação do Estado Moderno e às experiências de governo pós-revolucionárias na Inglaterra, França e principalmente nos EUA. Nesse terceiro momento, a experiência democrática nos legou a centralidade dos direitos humanos e o império da lei (Estado de Direito).
Notem que em cada momento a democracia tem suas próprias características e significados, de modo que cada momento histórico da democracia tem sua própria singularidade.
A construção prática da Democracia, experiência e bricolagem.
A democracia moderna tal como a experimentamos hoje é resultado de práticas e uma combinação institucional não convencional e não livre de tensões internas. As instituições basilares da democracia moderna derivam das fontes históricas apontadas acima e como elas mesmas são resultados de experiências autônomas, nem sempre a combinação institucional prima por coerência interna. 
Assim, a democracia deve ser pensada antes como uma experiência de bricolagem, uma combinação estabelecida na prática e não baseada em teorias coerentes e fechadas. Essas características expressam ao mesmo tempo a riqueza da tradição democrática, seus múltiplos significados e possibilidade, mas também as contradições e tensões internas do regime.
Podemos apontar as seguintes instituições como sendo as basilares do regime democrático moderno:
Soberania Popular
República
Instituições de freios e contrapesos
Governo Representativo
Império da Lei
Direitos Humanos
Poliarquia
Diante da especificidade da democracia moderna, Robert Dahl, um cientista político dos EUA, sugeriu um novo nome para esse regime, com a pretensão de diferenciá-lo de suas formas anteriores, e ressaltar a peculiaridade da democracia moderna.
Primeiro, o autor destaca que a democracia só pode ser entendida como um processo contínuo. Dois eixos são importantes para explicar esse processo, a contestação pública – a possibilidade de oposição ao governo constituído de maneira livre – e a participação – o estabelecimento de eleições livres, regulares e idôneas em que os opositores podem concorrer com o governo estabelecido.
Assim, por um lado, a democratização relaciona-se aos processos históricos que permitem o aparecimento de oposições livres com capacidade de contestar o governo. Por outro lado, é também o processo pelo qual o fenômeno eleitoral se tornou universal como prática e inclusivo de todos os cidadãos.
No fim, o ponto comum na história da democracia é o fato de que os regimes dependem de duas condições básicas: (i) os cidadãos precisam partilhar de uma lógica de igualdade, isto é, precisam compartilhar uma noção de que dividem um mesmo mundo e que cada um tem o mesmo direito de participar e opinar; (ii) pluralismo, isto é, sociedades capazesde conviver com noções de vida e valores diferentes.
Bibliografia
Dahl, R. Sobre a Democracia. Brasília: Editora da UNB, 2001.
_________. Poliarquia. São Paulo: Editora da USP, 2005.
Questões:
Discuta as fontes histórica das instituições democráticas relacionando-as com suas instituições.
Disserte sobre as instituições basilares da democracia.
Compare a democracia antiga e a democracia moderna no que se refere às suas instituições.
Sistema Político 
Introdução
Uma poliarquia é um regime complexo e formado historicamente através de experimentações institucionais variadas. Além disso, não existe um único caminho, linear e progressivo, para o processo de democratização. Ao contrário, a democratização está sempre em curso, sempre imperfeita e se inicia a partir de circunstâncias diversas tomando caminhos também diferentes.
Nesse quadro, é de se assumir que, portanto, existem múltiplas formas de organização e funcionamento das democracias modernas (poliarquias). Essa multiplicidade de formas é resultado de experiências e escolhas no que diz respeito à organização da chefia de governo e Estado, das legislaturas, dos tribunais, da forma de escolha dos representantes, da estrutura do Estado.
Essas variações são elas mesmas objeto de estudo da Ciência Política e do Direito e é a interação destas múltiplas variáveis dentro de um quadro global que podemos nomear de Sistema Político.
Sistema Político, portanto, é o conjunto de escolhas institucionais e organização de uma democracia moderna e sua dinâmica interna de funcionamento e interação.
Majoritário ou Consensual?
Mesmo sendo composta de múltiplas variáveis, determinadas escolhas institucionais permitem avaliar um certo sentido geral para a organização das poliarquias. O contraste entre um modelo majoritário e um modelo consensual de democracia advém desse apontamento de sentido geral.
Uma forma bastante simples e eficiente de se entender a democracia é que esta resulta da vontade popular. Não sendo possível aferir de maneira precisa a vontade popular, elegeu-se a ideia de maioria como aquela mais aproximada do que seria a vontade popular. Assim o modelo majoritário de democracia é aquele em que as instituições estarão voltadas para consolidar uma maioria forte e dotá-la imediatamente de capacidade de decisão política.
A alternativa a esse modelo responde de forma um pouco diferente. A preocupação não está na formação da maioria, mas na qualificação dela, ou seja, de que forma é possível construir uma maioria que de fato represente o maior número de pessoas possível. Não se trata, portanto, de qualquer maioria, mas de uma maioria bastante qualificada e da construção de um processo político que permita um inclusão efetiva das minorias na decisão política final. Portanto, o modelo consensual de democracia é menos preocupado com a dotação de capacidade de decisão imediata uma vez formada a maioria, e mais preocupado com o processo de formação de consenso antes da tomada de decisão.
A diferenciação entre modelo majoritário e consensual, no entanto, não é dicotômica, mas sutil e fluida. Move-se num gradiente entre sistemas perfeitamente majoritários e perfeitamente consensuais (ambos quase inexistentes do ponto de vista prático, pois a maioria das democracias modernas combina opções dos dois polos).
Como veremos, as opções institucionais nos subsistemas do sistema político é que ajudarão a qualificar a direção mais geral do sistema como um todo, como sendo mais tendente à forma majoritária (preocupada com a decisão), ou ao contrário, mais tendente à forma consensual (preocupada com o processo de formação do consenso).
Para efeitos do nosso curso, embora as variáveis sejam mais amplas, escolheremos os seguintes subsistemas para discussão.
Sistema de Governo – relacionado à chefia do poder executivo e sua relação com o legislativo
Sistema Partidário – relacionado à forma de organização partidária dentro das casas legislativas e sua relação com o executivo.
Sistema Eleitoral – relacionado à forma em que o sistema transforma preferências populares em votos.
Forma de Estado – relacionado à forma com que constitucionalmente se organiza o poder central em contraponto ao poder local.
Sistema de Governo
Há dois tipos mais puros (e comuns) na organização do executivo e sua relação com o legislativo: o presidencialismo e o parlamentarismo.
A diferença básica entre ambos está nas seguintes variáveis:
1 – Dependência da confiança do legislativo: no parlamentarismo o chefe de governo (comumente chamado de primeiro-ministro) e o seu gabinete (ministérios) podem ser destituídos a qualquer momento se o legislativo votar a desconfiança ou censura do governo. No presidencialismo o chefe de governo é eleito por um período determinado de tempo (mandato) e em circunstâncias normais, não pode ser afastado pelo legislativo.
2 – Eleição direta ou indireta: no presidencialismo o presidente é eleito diretamente pelo voto popular (ou um colégio eleitoral também popularmente eleito). No parlamentarismo, o chefe de governo (e frequentemente seu ministério ou gabinete) é eleito pelo legislativo e resulta de negociações entre os partidos dentro do parlamento.
3 – Ministério ou Gabinete: no parlamentarismo o executivo é colegiado, ou seja, tanto o primeiro ministro como os demais ministros são escolhidos de maneira autônoma e tomam decisões de maneira, em geral, colegiada (com maior ou menor predominância do primeiro ministro). No presidencialismo, em geral o presidente é quem escolhe seu ministério e é ele o responsável direto pela tomada última de decisões (podendo inclusive demitir e nomear ministros). Por isso, o ministério ou gabinete no presidencialismo é unipessoal. 
A grande maioria das democracias modernas toma a escolha de um dos tipos puros (presidencialismo ou parlamentarismo), mas do ponto de vista teórico, dadas a variações dicotômicas entre presidencialismo e parlamentarismo, formas híbridas são possíveis. A Suíça sempre surge como um exemplo quase isolado de forma híbrida (o modelo diretivo). Ele é presidencialista num aspecto: os conselheiros têm um mandato fixo de quatro anos; e parlamentarista em dois: o gabinete é colegiado e eleito pelo parlamento.
Outro caso interessante é a existência de regimes em que convivem presidente e primeiro-ministro, os sistemas semipresidencialistas ou semiparlamentaristas. Complexidades à parte, a diferença desses sistemas reside muito mais na distinção entre chefia de governo (comanda de fato a administração e organização política) e chefia de Estado (função de representação internacional e poder simbólico ou cerimonial), do que no funcionamento intrínseco desses regimes, que no fundo continuam operando como presidencialismo ou parlamentarismo.
 
Sistema Partidário
Eleições livres, regulares e competitivas são condição para existência de poliarquias. Por outro lado, dentro dos legislativos e na disputa política, grupos aliados e adversos competem pela formação de maiorias na tomada de decisões. Nas democracias modernas, os competidores por votos, na disputa eleitoral, mas também os portadores de mandato no embate legislativo, passaram a se organizar em grupos mais estáveis, a eles chamamos partidos políticos.
Um partido político é uma organização livremente formada para dois objetivos básicos: (1) competir nas eleições e conquistar mandatos e cargos públicos em disputa; (2) disputar posições de poder na formação de políticas públicas dentro do parlamento, seja do lado do governo, seja na oposição.
Tal como os objetivos apontados acima, a formação histórica dos partidos também tem conexão clara com estes fatos. Partidos se formaram (e se formam) de dentro para fora dos parlamentos – quando a predominância do jogo de influência política intraparlamentar é mais relevante – ou de fora para dentro dos parlamentos, quando determinados grupos alinhadosa interesses políticos perseguem uma organização mais efetiva para a disputa eleitoral.
A mesma dicotomia também parcialmente se reflete nos tipos de partidos. Chama-se partido de massa aquele em que a participação da militância e a produção de lideranças a partir dessa militância ideologicamente alinhada é essencial para a existência do partido, inclusive para fins de administração e financiamento. Chama-se partido de quadros aquele formado por notáveis, cuja força eleitoral se concentra muito menos numa extensa militância ideologicamente organizada e mais no próprio carisma de sua figuras proeminentes. 
Os partidos políticos têm como funções: o recrutamento de competidores eleitorais; a formação de candidatos competitivos; a estruturação da campanha dos candidatos; a caracterização de narrativas, discurso e ideologia; a consolidação de uma plataforma de políticas públicas; o assessoramento; e direcionamento dos candidatos eleitos no exercício de seus mandatos. Embora frequentemente se critique os partidos políticos na atualidade pela falta de programas ou excessivo interesse fisiológico, é importante notar que até hoje não se desenvolveram outros tipos de organização no âmbito da sociedade capazes de substituir de forma consistente os partidos políticos nas suas funções. Ainda não se consegue conceber uma democracia moderna na inexistência de partidos políticos.
Os sistemas partidários se definem basicamente pelo número relevante de partidos dentro do parlamento. E o número de partidos é essencial para definir o tipo de padrão governamental e de relacionamento entre partidos e entre o parlamento e o executivo. Assim, em um parlamento com vários partidos, o governo provavelmente necessitará construir (ou nascer a partir de) uma coalizão (que poderá ser mais ou menos ampla) de partidos com múltiplos interesses. Por outro lado, quando há um ou um grupo de partidos predominante, é possível se cogitar de governos unipartidários ou de coalizões quase hegemônicas. 
Classificação dos Sistemas Partidários segundo Sartori
	
	Critério Numérico
	Lógico de Funcionamento
	Sistemas não concorrenciais (não democráticos)
	Monopartidários
Hegemônicos
	Hegemonia pragmática
Hegemonia ideológica
	Sistemas Concorrencias
	Partido Predominante
Bipartidários
Multipartidários limitados
Multipartidários extremos
Pulverizado
	
Pluralismo moderado (centrípeto)
Pluralismo polarizado
(centrífugo)
Bibliografia
Lijphart, A. Modelos de Democracia: desempenho e padrões de governo em 36 países. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
Pasquino, G. Curso de Ciência Política. Parede: Principia, 2010. 
Questões:
Disserte sobre o sistema de governo nas democracias modernas apontando suas especificidades. Aponte a relação entre sistema de governo e separação de poderes, em especial, a separação de poderes entre executivo e legislativo.
Relacione sistema partidário e padrão de governo (governos de coalizão ou governos unipartidários).
Discuta as diferenças e consequências entre um multipartidarismo limitado e extremos.
Sistema Eleitoral
Sistema eleitoral é o nome que se dá ao conjunto de normas e instituições que disciplinam a participação política através do voto e a transformação dos votos, isto é, das preferências dos eleitores, em mandatos, cargos no governo.
O sistema eleitoral é parte essencial da democracia moderna justamente por isso. Estando assentada sob o pilar da representação (as democracias modernas são todas representativas, ainda que institutos de participação direta estejam previstos nas constituições), os mecanismos que transformam a vontade expressa do eleitorado, a soberania popular, em mandatos e, por consequência, em governos, são definitivamente dos mais importantes e decisivos para o funcionamento das poliarquias.
Um passo anterior à análise do sistema eleitoral é compreender que como condição básica, o sistema eleitoral precisa garantir eleições regulares, livres e competitivas. Regulares, pois numa democracia a consulta periódica à soberania popular e o revezamento de poder devem ser a regra. Livres pois ao eleitor deve ser dado o direito e a proteção, não só de definir o voto com base em seu próprio juízo (portanto, protegido de abusos da autoridade, do poder econômico e de outras influências indevidas), mas também a possibilidade de livremente se informar e formar sua opinião. Competitivas pois os candidatos precisam ter tratamento isonômico. Isso não significa uma igualdade absoluta na competição eleitoral, mas significa a existência de regras mínimas que permitam uma competição justa, em que os recursos (especialmente os financeiros e econômicos) sejam razoavelmente controlados para se evitar abusos e distorções no próprio processo eleitoral (donde os debates sobre o financiamento de campanhas eleitorais surge).
O aspecto central para compreender a dinâmica do sistema eleitoral é que ele encara o desafio de transformar a vontade difusa de uma infinidade de eleitores de um país em um número reduzido de mandatos que darão feição ao governo, oposição e outros grupos independentes. Vale dizer, o sistema eleitoral funciona como um filtro das preferencias eleitorais e, para tal, o mecanismo central dos sistemas eleitorais é jogar votos fora para determinar o vencedor da eleição. Assim, é preciso desde logo compreender que os sistemas eleitorais não são neutros em relação às preferencias, isto é, apenas por conta das regras eleitorais um conjunto idêntico de votos do eleitorado pode resultar em governos totalmente diferentes.
Há duas grandes famílias de sistemas eleitorais e elas estão relacionadas a essa questão, bem como às famílias majoritária e consensual de democracias modernas. O ponto fundamental é a desproporcionalidade ou o grau da mesma em cada um dos tipos de sistema eleitoral. Por desproporcionalidade deve-se entender a diferença existente entre o perfil global das preferências dadas nas urnas em comparação com os candidatos efetivamente eleitos (quão distante ou desproporcional o perfil dos candidatos eleitos é quando comparado ao perfil da totalidade dos votos). A desproporcionalidade é a medida de quanto o sistema eleitoral aproveita ou desconsidera um número maior de votos. Todo o sistema eleitoral será desproporcional por ter que jogar preferencias fora, mas sistemas eleitorais majoritários serão mais desproporcionais e sistemas de representação proporcional serão menos desproporcionais.
Vamos considerar três atributos como bons marcadores das diferenças entre essas duas famílias: a magnitude eleitoral - ou o número de cargos em disputa em um distrito eleitoral - , as fórmulas eleitorais - ou seja, o método de eleição utilizado - e a existência de cláusula de barreira - ou seja, a necessidade de por lei atingir algum patamar mínimo de representação para fazer jus a um mandato. Sistemas eleitorais majoritários irão naturalmente favorecer os grandes partidos e candidatos mais conhecidos e tenderão a produzir legislativos bipartidários (ou multipartidários com um número reduzido de partidos). Sistemas eleitorais proporcionais são, por outro lado, mais fidedignos às preferencias eleitorais, mitigando o favorecimento dos grandes partidos e candidatos mais conhecidos, e tendendo a produzir legislativos multipartidários. Contudo, todos os sistemas eleitorais sobrevalorizam as maiorias, subvalorizam as minorias e assim, ajudam a fabricar o governo e as maiorias parlamentares (o mundo do eleitor é sempre mais plural e difuso que o mundo do governo e dos parlamentos).
Representação Proporcional:
Magnitude Eleitoral > 2
Fórmulas Eleitorais: lista aberta, lista fechada, voto único transferível.
Cláusula de barreira: baixa ou inexistente.
Representação Majoritária
Magnitude Eleitoral = 1
Fórmulas Eleitorais: maioria simples, maioria absoluta, voto alternativo.
Sistemas Mistos: divisão dos mandatos em disputa, de maneira que parteda disputa ocorra pelo sistema proporcional e parte da disputa ocorra pelo sistema majoritário.
Forma de Estado
A Forma de Estado é uma variável que aponta para relação entre poder central e poder local dentro de um Estado, e qual a decisão constitucional de suas atribuições. As democracias modernas tem sua existência em Estados populosos e, em geral, com razoáveis extensões territoriais. Por isso, um dos componentes centrais do regime de divisão de poder e de freios e contrapesos se relaciona à forma com que poder central e poderes locais estão alinhados.
Na democracia de modelo majoritária esse alinhamento se dá pelo controle do governo central sobre os governos locais e, portanto, na tendência à centralização do poder – chamando-se essa estrutura de unitária. Na democracia de modelo consensual, o poder local tem autonomia em relação ao poder central, tendendo-se a uma descentralização do poder – chama-se essa estrutura de federação.
Contudo, a característica definidora do federalismo face à estrutura unitária não é em si a centralização ou descentralização, mas a autonomia constitucional dada aos detentores do poder local em detrimento do poder central. Autonomia constitucional do poder local quer dizer: 1) capacidade de autodeterminação eleitoral (governos locais são eleitos); 2) não subordinação constitucional (os entes da federação não são hierarquicamente inferiores à União); 3) autonomia financeira e orçamentária (capacidade de tributar, ter orçamento próprio e não vinculado); 4) autonomia legislativa (possuir competência legislativa designada constitucionalmente); 5) autonomia administrativa (capacidade de tomar decisões políticas, dentro da competência constitucional, de maneira autônoma).
É a combinação de todas essas características que, além de definir uma estrutura federativa, também determinará o maior ou menor grau de descentralização. De modo geral, estruturas unitárias de Estado são mais centralizadas, mas existem exemplos de Estados unitários razoavelmente descentralizados. Da mesma forma, estruturas federativas tendem a ser mais descentralizadas, mas também existem federações mais centralizadas.
Opções Institucionais do Brasil quanto ao seu sistema político
Sistema de Governo: presidencialista 
Sistema Partidário: multipartidário (multipartidarismo extremado).
Sistema Eleitoral: maioria absoluta para os cargos do executivo, maioria simples para senador, representação proporcional de lista aberta para deputados.
Forma de Estado: federativa.
Um diagnóstico comum do sistema político brasileiro, e sua característica como presidencialismo de coalizão (ou seja um presidencialismo que existe num contexto de multipartidarismo extremado, em que o presidente precisa formar uma coalizão com muitos partidos distintos entre si), é de que ele tem sérios problemas de governabilidade. Existe uma dificuldade imensa para se formar a base de sustentação do executivo, os partidos são pouco estruturados e fisiológicos (interesse meramente em cargos e valores orçamentário, não em programas), o sistema eleitoral tem baixa identificação entre eleitores e representantes), o sistema é muito descentralizado e muito consensual favorecendo não só paralisia decisória, mas também casos de corrupção.
Por outro lado, após a instituição da reeleição, todos os presidentes eleitos foram reeleitos (o que mostra um índice razoável de satisfação do eleitorado com sua opção política), inúmeras reformas constitucionais (que exigem quórum qualificado) foram aprovadas desde 1988, a grande maioria dos projetos aprovados é apontado pelo executivo (que é quem venceu as eleições para governar), o índice de sucesso na aprovação de projetos pelo executivo (número de projetos enviados em comparação aos aprovados) é alto e o presidente possui extensos poderes legislativos e de agenda em relação ao legislativo. Portanto, o Brasil seria governável, com índices de eficiência de aprovação de políticas semelhante a outros casos internacionais e alguns dos problemas de corrupção colocados na conta do sistema político o são por equívoco.
Esse é um debate em aberto e com importantes argumentos dos dois lados. Ele parece apontar para o caminho de proteger as conquistas de uma democracia de tipo consensual (como é brasileira) dada a imensa pluralidade e desigualdade da população do Brasil e a busca de reparos pontuais no sistema político, principalmente com vistas a tornar a representação mais forte junto ao eleitor e prevenir casos de corrupção.
Bibliografia
Lijphart, A. Modelos de Democracia: desempenho e padrões de governo em 36 países. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
Pasquino, G. Curso de Ciência Política. Parede: Principia, 2010. 
Palermo, V. Como se governa o Brasil? O debate sobre instituições políticas e gestão de governo. Dados [online]. 2000, vol.43, n.3, pp.521-557.

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