Buscar

ensaio 4 - ied

Prévia do material em texto

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito
Introdução ao Estudo do Direito I – DFD0114
Seminários
Turma 187.21
Tema 4 (22.04.2014) – Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen – parte I
Leitura Obrigatória: KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Cap. III.
Camila Pinheiro Batista. Nº USP: 8995680.
ENSAIO
	No terceiro capítulo de Teoria Pura do Direito, Hans Kelsen estabelece uma relação entre Direito e ciência. No contexto da obra, fica clara a diferenciação feita entre ciência natural e ciência social, ambas influenciadas por interesses políticos. Desenvolvendo sua Teoria Pura, Kelsen ressalta, como ponto principal, que ela seria purificada de toda ideologia política; logo a Teoria Pura de Kelsen não tem nenhum valor científico.
	Apesar desse distanciamento de valor científico, é mencionada a ciência jurídica. Essa ciência teria de apreender seu próprio objeto como norma jurídica ou conteúdo de uma norma; ressalta-se também a importância da observação do comportamento humano para elaborar tais normas. É válido, então, diferenciar norma jurídica e proposição jurídica. A proposição jurídica tem o caráter de juiz hipotético que enuncia o fato de que, dentro de certos pressupostos fixados pela ordem jurídica, devem intervir certas consequências. A norma jurídica, diferente da proposição, possui um caráter imperativo, e não de instrução.
	Diferencia-se também ciência causal e ciência normativa. A causalidade é vista como um princípio que governa a natureza independentemente de vontade humana, e se a ciência social pretende se diferenciar da natural, ela precisa descrever seu objeto sob a óptica de um princípio diferente do da causalidade. Apesar disso, a ciência social não pode ser tão distinta da natural; isso porque a primeira analisa comportamentos humanos, e esses podem derivar de causalidade em determinadas situações. Há exceção se a sociedade é compreendida como uma ordem normativa da conduta dos homens entre si: sendo assim, é possível contrapor a ciência social e a ciência natural – é o caso do Direito.
	Em função análoga à do princípio da causalidade nas leis naturais, aparece a imputação na descrição de uma ordem normativa da conduta dos homens entre si. No item 5, Kelsen compara as proposições jurídicas com as leis naturais em cima dessa analogia e define: imputação é a ligação entre pressuposto e consequência, ou melhor, a ligação entre o ilícito e a consequência do ilícito – princípio vigente desde os primitivos.
	No item 8, o autor fala da ciência social causal e da ciência social normativa. Toda ciência social estuda uma realidade social – caso do Direito – e com normas postas; sendo uma ciência social normativa, essas normas são postas por atos humanos e as relações humanas são criadas através delas. Nessa parte, surge a jurisprudência realística americana, que descreve o Direito como ciência de previsão; porém, essa jurisprudência realística se distingue das proposições jurídicas ao passo que faz afirmações de ser.
	A liberdade é um importante ponto do texto. Ela surge como condicionante de responsabilidade moral ou jurídica; o homem livre seria o homem imputável. Dizer que o homem não é livre é o mesmo que dizer que sua conduta é efeito de outros fatos que a precedem. Kelsen mostra quão difícil é separar a liberdade dos homens de um possível comportamento causal, e aí entra o problema de imputar os homens “livres”. Contrapondo as visões, conclui que os homens são imputáveis não por serem livres, mas porque as ordens morais e jurídicas prescrevem apenas condutas humanas.
	Para finalizar o capítulo, Kelsen propõe uma visão da teoria oposta à sua, ou seja: a teoria que nega o dever-ser. Segundo ele, a negação do dever-ser leva a conclusão de que a ciência jurídica só é possível como sociologia jurídica. Porém, a sociologia jurídica se contrapõe a Teoria Pura por relacionar apenas fatos da ordem do ser, enquanto a Teoria Pura estuda as normas jurídicas. Kelsen explicita a contraposição de sua teoria com a ciência jurídica tradicional de caráter ideológico, afirmando que sua teoria é realista – ou do positivismo jurídico.

Continue navegando