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Direito da Criança, Adolescente e Estatuto do Idoso 3 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a APRESENTAÇÃO Caro aluno, Seja bem-vindo à disciplina de Direito da Criança, do Adolescente e Estatuto do Idoso. Esta disciplina traz em sua ementa a discussão de alguns temas atuais e importantes para a formação do psicólogo que são: Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Doutrina de Proteção Integral da Criança, Políticas Públicas de Atendimento e Medidas de Proteção, além do estudo do Estatuto do Idoso e novas perspectivas para a terceira idade. Temos como objetivos específicos nesta disciplina: 1. Conhecer a legislação nacional e suas implicações para a prática do psicólogo atuante em políticas públicas. 2. Fazer interlocução, eticamente orientada, com profissionais de outra formação com a possibilidade de trabalho em equipe multiprofissional. 3. Realizar discussões teoricamente orientadas com o objetivo de desenvolver e aprimorar o conhecimento dos direitos humanos das crianças, dos adolescentes e dos idosos. 4. Saber identificar os limites e as possibilidades de atuação do psicólogo a partir da aplicação das políticas públicas relacionadas à criança, ao adolescente e ao idoso. O conteúdo programático a ser estudado será: Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto do Idoso, Direitos Fundamentais da Criança e do Adolescente, Direitos Fundamentais do Idoso, Conselhos de Direitos, Políticas de Atendimento às Crianças e aos Adolescentes, Políticas de Atendimento aos Idosos e os Crimes e Infrações à Criança, ao Adolescente e ao Idoso. O programa da disciplina está distribuído em 8 módulos e deve ser estudado ao longo do semestre letivo. Os módulos 1 a 4 apresentam a temática da avaliação NP1 e módulos 5 a 8, da NP2. A bibliografia básica e complementar que estudaremos nesta disciplina será: BÁSICA CARVALHO, M. C. N. (org.). Psicologia e Justiça: Infância, Adolescência e Família. Curitiba: Juruá. 2012. HABIGZANG, L. F.; KOLLER, S. H. (ORG.) Violência contra crianças e adolescentes: teoria, pesquisa e prática. Porto Alegre: Artmed. 2012. SHINE, S. (org.) Avaliação Psicológica e Lei: adoção, vitimização, separação conjugal, dano psíquico e outros temas. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2014. 4 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a COMPLEMENTAR CAVALCANTE, C. V. A importância da sociologia da infância e as práticas pedagógicas: a criança como sujeito histórico e de direitos. Caderno de artigos: infâncias, adolescências, juventudes e famílias – desafios contemporâneos. 1. ed. Goiânia: Gráfica e Editora América, 2014 – Publicação Conanda. CURY, M. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado: comentários jurídicos e sociais. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. MOREIRA, M. R. A. O lugar da família nas políticas sociais públicas. Direitos da Criança e do Adolescente: defesa, controle democrático, políticas de atendimento e formação de conselheiros em debate. RN: EDUFRN, 2014. Publicação Conanda. VEIGA JUNIOR, C. L. Comentários ao Estatuto do Idoso. São Paulo: LTR, 2006. TEXTOS E ARTIGOS CIENTÍFICOS LISBOA, C.; BRAGA, L. L.; EBERT, G. O fenômeno bullying ou vitimização entre pares na atualidade: definições, formas de manifestação e possibilidades de intervenção. Contextos Clínicos, 2 (1), p. 59-71. 2009 MENDES, M. R. S. S.; et al. A situação social do idoso no Brasil, uma breve consideração. Acta Paul. Enfermagem. 18(4): 422-426. 2005. TRINDADE, J. M. B. O abandono de crianças ou a negação do óbvio. Rev. bras. Hist., São Paulo, v. 19, nº 37, p. 35-58, set. 1999. Vale ressaltar que é importante que você leia o material recomendado para cada aula, isso será primordial para o sucesso do seu aprendizado nesta disciplina. Bons estudos! 5 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a DIREITO DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E ESTATUTO DO IDOSO Unidade I MÓDULO 1 Neste módulo vamos estudar a história da infância e a questão do abandono das crianças, principalmente no Brasil. Nossa bibliografia de hoje será: CAVALCANTE, Claudia V. A importância da sociologia da infância e as práticas pedagógicas: a criança como sujeito histórico e de direitos. Caderno de artigos: infâncias, adolescências, juventudes e famílias – desafios contemporâneos. 1. ed. Goiânia: Gráfica e Editora América, 2014. Publicação Conanda. TRINDADE, Judite Maria Barboza. O abandono de crianças ou a negação do óbvio. Rev. bras. Hist., São Paulo, v. 19, nº 37, p. 35-58, Set. 1999. ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ A história das crianças na trajetória da humanidade sempre foi traçada e marcada por abandonos, descompromissos, não cuidado e até sofrimento. Diversos historiadores trazem dados que nos auxiliam a compreender como a humanidade, ao longo de sua história, foi construindo a relação com esse grupo – as crianças – e de qual modo favoreceram o olhar a respeito do tema nos dias atuais. No entanto é importante ter a consciência de que a criança deve ser compreendida como sujeito histórico e de direito, e que é impossível generalizar a infância, pois ela é constituída por “várias” infâncias e todas elas determinadas pelos contextos onde ela é construída. Observando a questão sócio-histórica que constitui a história da infância, é preciso que se conheça um breve histórico do conceito de criança e infância. Na Idade Média, a criança até os sete anos era considerada incapaz de se expressar com racionalidade e, portanto, a infância era sinônimo de “irracionalidade”. Em contrapartida, logo após essa idade era dado um “salto” na compreensão de quem era essa criança e ela passava a ser vista como um pequeno adulto e dela se esperava comportamentos compatíveis. Já na Idade Moderna, a Igreja Católica entra em cena e passa a controlar a educação das crianças com o objetivo de criar adultos respeitosos e responsáveis. Surgem aqui as escolas/instituições religiosas 6 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I de ensino. Ainda com o objetivo de controlar a criança e moldar o adulto, a Idade Contemporânea é marcada pelo aprimoramento na maneira de organizar e oferecer educação à sociedade. A idade passa a ser o critério utilizado como regulador da organização da sociedade. Agora, os sujeitos são divididos por “faixas etárias”: crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Retornando a ideia de construção do conceito da infância, Ariés (1981) pesquisou muito e concluiu que o “sentimento de infância” surgiu apenas na Modernidade no século XVII. O mundo das crianças era separado do mundo dos adultos e elas não podiam fazer parte dele em hipótese alguma pelo fato de que elas não eram “capazes” de pensar. Vale destacar que outros estudos já demonstram que havia uma diferença entre crianças “ricas” e crianças “pobres”. Os meninos de famílias mais abastadas eram destinados a aprenderem sobre etiqueta e artes com seus preceptores, enquanto que os outros aprendiam de tudo a partir da convivência com seus familiares e, é claro, a partir da convivência próxima com eles. Um grande problema observado com essas crianças eram os maus tratos e a negligência. O sentimento materno não existia e perder um filho não era visto comoalgo ruim e, às vezes, poderia ser visto como algo bom... No Brasil, destacam-se experiências semelhantes a essas, tais como: violência, exclusão, abuso sexual e maus-tratos que crianças e adolescentes foram expostos desde a vinda dos exploradores portugueses. A caminho do Brasil Colônia, crianças e adolescentes órfãos eram recrutados em Portugal para trabalhar nas naus transoceânicas, onde prestavam variados tipos de serviços. Na época da escravidão, as crianças já eram incorporadas ao trabalho escravo a partir dos sete ou oito anos. Aqui, surgem as histórias de abandono e transferência de responsabilidade de crianças para outras famílias. No Brasil, desde a época da Colônia até o Império, as crianças abandonadas eram chamadas de “expostos” ou “enjeitados”. Esses eram em sua maioria recém-nascidos e deixados nas igrejas e nos conventos, nas chamadas “rodas dos expostos”. As rodas eram mantidas pelas Santas Casas de Misericórdia e traziam uma tradição incorporada da Corte Portuguesa e sua prática baseava-se nas práticas caritativas ligadas aos costumes e aos ensinamentos cristãos. Após receber os devidos cuidados, a criança era abrigada ou encaminhada às famílias estéreis. As que permaneciam no abrigo, a partir dos sete anos eram encaminhadas para uma colocação como aprendiz em “casas de família”. Com o passar dos anos surgiram dificuldades para manter as Santas Casas e também surgiram novas ideologias como a medicina higienista e, com isso, extinguiram esse tipo de acolhimento às crianças abandonadas. Durante o século XVII, surge o sentimento de apego pelas crianças e a educação desponta como meio de se conseguir o controle da infância. Aqui, a relação entre adultos e criança é modificada e aparece no adulto a preocupação em proteger a criança, considerada pela sociedade como um sujeito fraco e dependente de cuidados. A palavra de ordem é controle do corpo, da mente das crianças por meio de uma rígida disciplina infantil, tanto no seio familiar quanto na escola. As famílias passam a ter um olhar diferenciado para seus filhos e preocupam-se com os cuidados necessários a todos eles e não apenas a alguns e, principalmente, os primogênitos. 7 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a DIREITO DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E ESTATUTO DO IDOSO Essa nova sociedade e essa nova família veem surgir uma nova criança que conquista seu lugar em vários espaços, seja nas ruas, nas instituições e, principalmente, no núcleo familiar. A sociedade contemporânea preocupa-se com a criança, com seu desenvolvimento e com seu futuro. A escola é organizada para receber as crianças cada vez mais cedo, substituindo a casa, o lar e a família como espaço de convivência para a criança. Assim, a criança é considerada um sujeito histórico e de direitos, uma categoria social específica que atua a partir de suas especificidades, de sua visão de mundo, em suas experiências e em suas relações com os adultos. As crianças vivem suas experiências de formas muito particulares e dependem de diferentes lugares históricos, culturas e movimentos sociais em que estão inseridos. Dessa forma, a construção do saber é um processo individual e próprio de cada um. Instaura-se a necessidade das “escolas”, abrangendo os vários locais de aprendizado, onde mesmo as creches e os jardins de infância assumem um papel importante na difusão dos hábitos, sejam de higiene ou de nova sociabilidade de convívio e educação para a vida pública. MÓDULO 2 Neste módulo vamos estudar o quanto a sociedade evolui sua visão e sua concepção da infância e da adolescência, transformando o antigo Código de Menores no atual e importante Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990). Nossa bibliografia de estudo será: SILVA, Patricia R. da M. A meninice e a institucionalização da situação de rua: práticas institucionais, discurso e subjetividade. In: Shine, S. (org.) Avaliação Psicológica e Lei: adoção, vitimização, separação conjugal, dano psíquico e outros temas. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2014. p. 113-156. Bons estudos! Em 1927, surge no Brasil a primeira compilação de leis específicas para a criança e o adolescente – o Código de Menores. Em sua versão inicial, o Estado tinha uma função obrigatoriamente punitiva e, com isso, não se fazia diferença entre o tratamento penal oferecido a crianças, jovens e adultos; ou seja, não havia distinção entre as decisões do Poder Judiciário. Essa Lei inicial de 1927 foi modificada em 1979 e, nessa segunda versão, havia uma diferença de visão e conceito entre a “infância abandonada”, considerada sem valor e com poucas perspectivas futuras, e a “infância perigosa”, população que necessitava da intervenção do Estado. Em ambos os Códigos havia uma filosofia higienista, correcional e disciplinar. Em todos, o teor havia uma visão de que o “menor” era uma ameaça social à sociedade como um todo. O termo “menor” era usado para as crianças e os adolescentes pobres das cidades que, por não estarem sob a autoridade dos seus pais e tutores, eram chamados pelos juristas de abandonados ou carentes, e considerados vadios, libertinos e perigosos. 8 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I O termo “menor” e as suas várias classificações – abandonado, delinquente, desviado, de rua... – foram naturalmente incorporados na linguagem para além do círculo jurídico. O Código de Menores criou um sistema de assistência social e jurídica que perdurou até 1979, ano em que foi promulgada uma lei que estava centrada na Doutrina da Situação Irregular, segundo a qual os menores são objeto de medidas judiciais. Eles eram considerados vítimas da omissão ou da transgressão da família em seus direitos básicos. Na década de 1980 começa a surgir um movimento de defesa das crianças; que, em 1985, culminou com a criação do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua. Em 1988 foi criado o I Fórum Nacional Permanente de Entidades Não Governamentais de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, que mobilizou várias organizações, nas quais, juntas, elaboraram o projeto que resultou na criação da Lei 8069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. O ECA é baseado na Doutrina da Proteção Integral, em que crianças e jovens passaram a ser considerados não só sujeitos de direito, como também sujeitos em desenvolvimento. Sob esse novo paradigma, a responsabilidade por esses indivíduos passa a ser de todos: Estado, sociedade, estabelecimentos de atendimento, família, entre outros. Desse modo, cobra-se da família que, junto ao Estado e a sociedade civil, protejam suas crianças e seus adolescentes – verificando-se, entretanto, a necessidade de auxílio das famílias, haja vista a vulnerabilidade delas em oferecer condições mínimas de desenvolvimento a esses indivíduos. A partir do ECA, abandona-se a denominação “menor”, evitando-se a interpretação de sujeitos em condição inferior, contemplando crianças e adolescentes de modo geral e não mais direcionando a atenção para aquelas consideradas em situação de risco ou situação irregular. A partir da proposta da Proteção Integral, o Poder Judiciário passou a dispor dos serviços auxiliares da Justiça, equipes interprofissionais preocupadas com a elaboração e a execução das políticas direcionadas às crianças a aos adolescentes. Surge também o Sistema de Garantia de Direitos que inclui todos os órgãos, entidades e gestores públicos que têm interface com a defesa e a ampliação dos direitos da criança e do adolescente, entre eles estão: Ministério Público, Poder Judiciário, Secretarias de Estado responsáveis pela implementação das políticas sociais, Conselhos de Direitos e Tutelares,ONGs, Defensoria, entre outros. Tais entidades exercem funções de promoção e defesa dos direitos, bem como de controle institucional e social. MÓDULO 3 Nesse módulo vamos conhecer e estudar sobre o trabalho infantil. Esse tema tem despertado o interesse de vários pesquisadores da área da Psicologia, pois tem se mostrado como um fator determinante para a história futura e a identidade do trabalhador, como se dá sua entrada no mercado de trabalho. 9 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a DIREITO DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E ESTATUTO DO IDOSO Para um estudo mais aprofundado, sugerimos que você complemente seu estudo com esta literatura: AMAZARRAY, M. R.; KOLLER, S. H. Assédio Moral e Violência Psicológica: riscos sutis no processo de inserção dos jovens no mercado de trabalho. In: HABIGZANG, L. F.; KOLLER, S. H. (org.) Violência contra crianças e adolescentes – teoria, pesquisa e prática. Porto Alegre: Artmed. 2012. p. 137-147. DUTRA-THOMÉ, L.; TELMO, A. Q.; KOLLER, S. H. Trabalho e Violência: impactos na juventude brasileira. In: HABIGZANG, L. F.; KOLLER, S. H. (org.) Violência contra crianças e adolescentes – teoria, pesquisa e prática. Porto Alegre: Artmed. 2012. p. 147-159. Estatuto da Criança e do Adolescente – Capítulo V – Artigos 60-69. Bons estudos e bom trabalho! Para se discutir sobre o trabalho infantil é preciso compreendê-lo em sua essência. Esse é todo o trabalho realizado por pessoas que tenham menos da idade mínima permitida para trabalhar. Cada país tem sua regra e, no Brasil, o trabalho não é permitido sob qualquer condição para crianças e adolescentes entre zero e 13 anos. A partir dos 14 anos (segundo a legislação brasileira), pode-se trabalhar como aprendiz. Dos 16 aos 18 anos, as atividades laborais são permitidas desde que não ocorram das 22h às 5h e que não sejam insalubres ou perigosas e ainda não façam parte da lista das piores formas de trabalho infantil como o escravo, por exemplo. Quem é o menor aprendiz? A possibilidade de aprendizagem está presente no ECA e a contratação desse jovem implica em um contrato de trabalho com uma carga horária reduzida, inscrição em curso de ensino técnico e atividades específicas que não sejam prejudiciais ao desenvolvimento do adolescente e não interfiram nos estudos regulares. A Lei do Aprendiz é uma alternativa para que jovens – entre 14 e 24 anos incompletos – ingressem no mercado de trabalho de forma segura e com garantia dos direitos estabelecidos pela lei, como o acesso à educação. Essa necessidade de cuidado se faz presente, pois o jovem brasileiro se desenvolve em um contexto marcado por diferenças de gênero, classe, escolaridade, etnia, entre outros. Vale ressaltar que a experiência de trabalho é importante na construção da identidade, podendo ser geradora de saúde, bem-estar e realização, assim como de sofrimento e/ou doença. Assim, a escolha e a vivência de uma atividade profissional precisam ocorrer em contexto protegido, nos quais os trabalhadores recebem suporte adequado para a realização de suas tarefas. Considerando que essa é uma situação importante a ser observada no adulto – para o jovem torna-se imprescindível –, uma vez que ele é compreendido como um sujeito em franco desenvolvimento. 10 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I O que devemos observar na atividade laboral do jovem e avaliar se ela é benéfica ou não é seu grau de interferência na escola, na vida social e familiar, na saúde e no desenvolvimento dessa criança ou desse adolescente. Essa é uma observação importante quando avaliamos o trabalho das crianças na carvoaria, por exemplo, que é um trabalho insalubre, escravo e que interfere diretamente em todos os aspectos de vida dessa criança, prejudicando de forma irreversível em seu histórico de vida. Elementos contextuais também acentuam a fragilidade dos jovens na sua relação com o trabalho, várias empresas estabelecem uma relação desleal de empregador X empregado, exigem do trabalho do jovem uma postura dócil e de servidão, o que garantirá o emprego que o jovem tanto precisa para ajudar sua família e ter uma melhor perspectiva de vida. Esse contexto fragiliza o jovem e pode ser identificado como uma forma de violência, fenômeno psicossocial dinâmico e complexo. Segundo Minayo (1994), nesse caso, a desigualdade, a alienação do trabalho e nas relações, o menosprezo de valores e normas em função do lucro, o consumismo e o culto à força são alguns dos fatores que contribuem para a delinquência; tirando e/ou não incentivando o adolescente a fazer parte do mercado de trabalho e buscando dinheiro e outras recompensas em outros meios. Outro problema que dificulta a entrada do jovem no mercado de trabalho é a exigência dos empregadores de experiência, educação e qualificação profissional. O desemprego e a mão de obra não valorizada têm se mostrado como mais um problema que a sociedade tem que enfrentar e que, por si só, viola direitos dos jovens e dos adultos. Diante desse panorama, vale considerar que a família, a sociedade e a escola continuam sendo importantes para o bom desenvolvimento dos jovens, das crianças e dos adolescentes; para que eles não se tornem uma isca fácil para um mercado de trabalho “desonesto” e que desrespeita. Que os jovens possam fazer boas escolhas e que elas valorizem e lhes proporcionem uma história de trabalho de sucesso. MÓDULO 4 Olá, caro aluno, Neste módulo vamos estudar sobre o assédio moral no trabalho, tema que vem ao encontro ao estudado anteriormente e que tem sido vivenciado por nossos adolescentes em início de carreira, de forma cada vez mais frequente e contundente. Como referência bibliográfica para esse estudo, temos: AMAZARRAY, M. R.; KOLLER, S. H. Assédio Moral e Violência Psicológica: riscos sutis no processo de inserção dos jovens no mercado de trabalho. In: HABIGZANG, L. F.; KOLLER, S. H. (org.) Violência contra crianças e adolescentes – teoria, pesquisa e prática. Porto Alegre: Artmed. 2012. p. 137-147. 11 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a DIREITO DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E ESTATUTO DO IDOSO DUTRA-THOMÉ, L.; TELMO, A. Q.; KOLLER, S. H. Trabalho e Violência: impactos na juventude brasileira. In: HABIGZANG, L. F.; KOLLER, S. H. (org.) Violência contra crianças e adolescentes – teoria, pesquisa e prática. Porto Alegre: Artmed. 2012. p. 147-159. Estatuto da Criança e do Adolescente – Capítulo V – Artigos 60-69. Bons estudos! Os jovens brasileiros têm entrado no mercado de trabalho cada vez mais cedo e é exatamente por essa questão que muitos deles sujeitam-se à excessivas cargas horárias de trabalho e tarefas insalubres, até mesmo salários abusivos. Como muitos deles precisam do emprego para seu sustento e o de seus familiares, submetem-se e aceitam uma categoria importante de violência que é o assédio moral. Seu conceito diz que essa é uma prática abusiva, de natureza psicológica que atenta contra a dignidade psíquica, que ocorre de forma repetitiva e prolongada e expõe o trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensa à dignidade ou à integridade psíquica, e que tenha por efeito excluir a posição do empregador no emprego ou deteriorar o ambiente de trabalho durante a jornada de trabalho e/ou no exercício de suas funções. As situações características de assédio moral são: 1. Atribuições complexas com prazos de cumprimento incompatíveis. 2. Críticas insistentes e públicas ao funcionário. 3. Humilhação pública e tratamento rude.4. Insinuações maldosas a respeito da conduta sexual ou social do funcionário. Vale considerar que a dimensão do trabalho é importante na constituição da subjetividade do sujeito e vivenciar situações de assédio no início de sua carreira pode ser decisivo para o desenvolvimento de uma identidade distorcida do que é ser trabalhador. Muitos jovens são inseridos no mercado de trabalho por intermédio de programas de estágio ou de “menor aprendiz”, enquanto outros por meio de experiências negativas como o trabalho infantil. Quando efetivamente inseridos no mercado de trabalho, às vezes esses jovens podem encontrar um ambiente insalubre e permeado por relações laborais difíceis. Nesse sentido, tanto as dificuldades de inserção laboral como sua posição em situações laborais precárias configuram um dos principais componentes negativos da condição de vulnerabilidade na juventude. A violência psicológica no trabalho se caracteriza como uma forma sutil de agressão que, em geral, institui-se de modo insidioso e invisível nas relações de trabalho e compreende uma diversidade de 12 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade I comportamentos, tais como descritos anteriormente. Essas manifestações podem vir acompanhadas até de agressões físicas e de assédio sexual. Esse tipo de condição laboral contribui para que os jovens se orientem em direção a experiências profissionais desvinculadas de sentido e em formas degradantes, alienadoras e desprovidas de reais oportunidades de aprendizagem. Somando-se a questão da violência, observa-se o quanto é complicado para o jovem de uma classe econômica menos favorecida entrar no mercado e manter-se nele. Isso ocorre porque as exigências dos empregadores falam sobre experiência, a fluência em uma língua estrangeira, conhecimentos de informática e um Ensino Médio de qualidade. Além disso, o envolvimento do jovem com violência e criminalidade é fator que também dificulta sua inserção no mercado de trabalho, pois implica na falta de certificado de bons antecedentes, o que é uma exigência para se conseguir um emprego. Essa é uma condição que marginaliza e o afasta da possibilidade de ter uma história de sucesso no trabalho. Assim, o panorama do trabalho, para boa parte da juventude brasileira, não é caracterizado por ambientes seguros e promotores de saúde. Diante do assédio vivenciado dentro do ambiente de trabalho, a vítima fica sem reação e guarda consigo uma íntima relação com o medo (de perder o emprego, de não retornar ao mercado de trabalho, de ser humilhado, entre outros). As dificuldades de defesa daqueles que sofrem o assédio moral devem ser compreendidas a partir de aspectos relacionados às relações de poder, relações de poder físico (quando se observa violência física), de dependência econômica e psicológica (como baixa autoestima, personalidade comprometida e quadros depressivos). Os jovens estão mais propensos ao assédio moral à medida que tendem a ocupar posições de menor poder, seja nas organizações ou nas relações de trabalho informais. Existe uma tendência de possuírem menores condições de defesa diante das situações abusivas. Além disso, uma visão pouco crítica do mundo e de si próprio pode contribuir para que o jovem não perceba sua exposição a eventos dessa natureza. Os trabalhadores mais jovens, por estarem a menos tempo no mercado de trabalho e almejarem ascender na carreira, tendem a interpretar as práticas de assédio como comportamentos a serem tolerados, o que tende a ser modificado conforme suas experiências laborais forem ocorrendo e a maturidade também. Dessa forma, os jovens devem ser sensibilizados em relação a essas questões para que não se sujeitem vivenciar experiências de assédio no trabalho e saibam reivindicar seus direitos.
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