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TCC ANA MARIA P DA SILVA

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FACULDADE EVANGÉLICA DO PIAUÍ - FAEPI 
 
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
ANA MARIA PEREIRA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
NEGLIGÊNCIA FAMILIAR CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE: 
UM ESTUDO ANALÍTICO E REFLEXIVO DO PONTO DE VISTA DO 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERESINA-PI 
MAIO 2020 
 
 
ANA MARIA PEREIRA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NEGLIGÊNCIA FAMILIAR CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE: 
UM ESTUDO ANALÍTICO E REFLEXIVO DO PONTO DE VISTA DO 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Coordenação do 
Curso de Serviço Social da Faculdade 
Evangélica do Piauí – FAEPI como requisito 
parcial para a obtenção do título de bacharel em 
Serviço Social, sob a orientação do Profº Esp. 
Bento Alves da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERESINA-PI 
MAIO 2020 
 
 
ANA MARIA PEREIRA DA SILVA 
 
 
NEGLIGÊNCIA FAMILIAR CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE: 
UM ESTUDO ANALÍTICO E REFLEXIVO DO PONTO DE VISTA DO 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
 
Monografia apresentada à Coordenação do 
Curso de Serviço Social da Faculdade 
Evangélica do Piauí – FAEPI como requisito 
parcial para a obtenção do título de bacharel em 
Serviço Social, sob a orientação do Profº Esp. 
Bento Alves da Silva 
 
 
 
 
Aprovada em ______/_______/_______ 
 
 
Banca Examinadora 
 
____________________________________________________ 
Prof. Esp. Bento Alves da Silva 
Orientador 
 
______________________________________________________ 
Prof. (ª) Esp./Ms./Dr(ª). 
Examinador 
 
 
TERESINA-PI 
MAIO 2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. 
Mais do que inteligência, precisamos de afeição e 
doçura. Sem essas virtudes a vida será de violência e 
tudo estará perdido. 
CHARLES CHAPLIN
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho, aos meus filhos e ao meu 
esposo por compreender minha ausência em 
vários momentos da vida, durante o meu curso 
de Serviço Social. A Deus fonte de vida e 
inspiração e pela a oportunidade de realização 
deste sonho: Minha formação superior. Aos 
meus pais, meus irmãos e colegas de sala de 
aula em especial a toda equipe da faculdade 
FAEPI. 
5 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus fonte de vida inspiração, aos professores e demais familiares pela dedicação, 
amor e carinho a mim concedido e especial a minha irmã Jesus e meu cunhado Batista 
pelo acolhimento em sua residência. 
Aos meus pais José e Francisca Santana, por me ensinarem a importância do 
conhecimento para a minha formação pessoal e profissional; 
Aos meus irmãos e demais familiares, pelo amor, carinho, paciência e incentivo 
nessa realização de minha formação superior; 
Aos amigos pessoais, de curso e demais colegas, por estarmos sempre 
compartilhando saberes; 
O meu muito obrigado, aos professores da FAEPI em especial ao meu 
orientador Prof.º Bento Alves da Silva pela compreensão, paciência, disponibilidade 
de tempo dado a minha pessoa e por colaborar com a correção minuciosa deste 
trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
RESUMO 
 
 
O trabalho aqui apresentado visa fazer uma análise e reflexão sobre a negligência 
familiar contra crianças e adolescentes. Neste sentido definiu-se o problema da 
pesquisa, casos de negligência familiar que ocorrem com mais frequência com 
crianças e adolescentes. Assim tem-se como objetivo geral: Analisar a negligência 
familiar contra criança e adolescente a partir de estudo analítico e reflexivo. Como 
objetivos específicos: Identificar a negligência familiar contra criança e adolescente; 
conhecer os efeitos decorrentes da negligencia familiar contra criança e adolescente; 
conhecer o contexto social das famílias em situação de vulnerabilidade. A pesquisa 
foi realizada a partir de uma abordagem qualitativa, de cunho baseado em 
levantamento bibliográfico que se baseia em autores como: Lobo (2004), Lago (2003), 
Yazbek (2007) e Godinho (2011), além de: periódicos, revistas, sites, dentre outros. 
Por fim, as considerações finais, que expressam as razões, desafios de realizar a 
pesquisa, resultados e satisfação do trabalho realizado em relação ao TCC, que nos 
vislumbrou a descoberta do respeito mútuo e assim percebermos o importante papel 
do Assistente Social na luta pela garantia dos direitos da criança e do adolescente, 
ocupando o seu papel de implementador de ações preventivas e educativas junto as 
famílias em situação de violência doméstica. 
 
Palavras-chaves: Adolescente. Criança. Família. Negligência. Violência domestica. 
 
7 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The work presented here aims to analyze and reflect on family neglect against children 
and adolescents. In this sense, the research problem was defined, cases of family 
negligence that occur more frequently with children and adolescents. Thus, the general 
objective is to: Analyze family neglect against children and adolescents from an 
analytical and reflective study. As specific objectives: To identify family neglect against 
children and adolescents; to know the effects of family neglect against children and 
adolescents; to know the social context of vulnerable families. The research was 
carried out from a qualitative approach, based on a bibliographic survey that is based 
on authors such as: Lobo (2004), Lago (2003), Yazbek (2007) and Godinho (2011), in 
addition to: journals, magazines , sites, among others. Finally, the final considerations, 
which express the reasons, challenges to carry out the research, results and 
satisfaction of the work carried out in relation to the TCC, which saw the discovery of 
mutual respect and thus we perceive the important role of the Social Worker in the 
struggle for guarantee of the rights of children and adolescents, playing their role of 
implementing preventive and educational actions with families in situations of domestic 
violence. 
 
Keywords: Adolescent. Kid. Family. Negligence. Domestic violence. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
LISTA DE SIGLAS 
ANCED – Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do 
Adolescente 
CEB´s – Comunidades Eclesiais de Bases 
CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente 
CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito 
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social 
CRCA - Centro de Referência da Criança e do Adolescente 
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social 
DNCr – Departamento Nacional da Criança 
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente 
FUCABEM – Fundação Catarinense do Bem-estar do menor 
FUNABEM – Fundação Nacional do Bem Estar do Menor 
LBA – Legião Brasileira de Assistência 
MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome 
MNMMR – Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua 
OIT – Conferência Internacional do Trabalho 
ONU – Organização das Nações Unidas 
PNAS – Política Nacional de Assistência Social 
PNBEM – Política Nacional de Bem-Estar do Menor 
SAM – Serviço Nacional de Assistência a Menores 
SEAS – Secretaria de Estado de Assistência Social 
SUAS – Sistema Único de Assistência Social 
SUS – Sistema Único de Saúde 
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância 
 
 
 
9 
 
 
SUMARIO 
1 INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------------------------- 
2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE FAMÍLIA BRASILEIRA -------------------------------- 
 2.1 Situação histórica da criança e do adolescente no Brasil ----------------------------- 
 2.2 A família em situação de Vulnerabilidade Social ----------------------------------------- 
 2.2.1 A Vulnerabilidade Social -------------------------------------------------------------------- 
 2.2.2 VulnerabilidadeSocial dentro do meio Familiar -------------------------------------- 
 2.3 O Contexto da negligencia Familiar contra criança e adolescente ------------------ 
 2.3.1 Identificação da Negligência para um Desenvolvimento Sadio ----------------- 
3 TIPOLOGIA DA NEGLIGÊNCIA FAMILIAR CONTRA CRIANÇA E 
ADOLESCENTE (CONCLUÍDO) -------------------------------------------------------------------- 
 3.1 Violência Psicológica ---------------------------------------------------------------------------- 
 3.2 Violência física ------------------------------------------------------------------------------------ 
 3.3 Violências e Exploração Sexual -------------------------------------------------------------- 
 3.4 Exploração do trabalho infantil ---------------------------------------------------------------- 
4 UMA ANÁLISE E REFLEXÃO DO PONTO DE VISTA DO ESTATUTO DA 
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE- ECA ---------------------------------------------------------- 
 4.1 base legal do ECA -------------------------------------------------------------------------------- 
 4.1.1 Os Conselhos de Direitos e os Conselhos Tutelares ------------------------------ 
 4.1.2 Os fundos da Criança e do Adolescente ---------------------------------------------- 
 4.1.3 A Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescen 
 te – ANCED ------------------------------------------------------------------------------------------- 
 4.1.4 Funções do Conselho Tutelar ------------------------------------------------------------ 
 4.2 Dever do estado e da família em relação à criança e ao adolescente (Caracte 
 rísticas dos Conselhos Tutelares) ----------------------------------------------------------------- 
 4.3 Direito da Criança e do adolescente--------------------------------------------------------- 
CONSIDERAÇÕES FINAIS -------------------------------------------------------------------------- 
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS --------------------------------------------------------------- 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
A negligência familiar contra a criança e adolescente é uma realidade mundial, 
e precisa ser vista por toda a sociedade, haja vista que a criança e o adolescente 
estão em processo de construção de sua identidade, por isso torna-se necessário 
amplia as pesquisas sobre a temática, para que se tenha encaminhamentos reflexivos 
sobre o papel do assistente social diante desses aspectos relacionados a negligência 
familiar. 
A estrutura do trabalho inicia com um breve entendimento sobre o termo 
família brasileiro, uma abordagem histórica de família no contexto brasileiro e a família 
em situação de vulnerabilidade social. A negligência familiar contra a criança e 
adolescente é uma realidade mundial que precisar ser vista por toda a sociedade. 
Nesse sentido, durante todo o processo metodológico da pesquisa, 
procuramos uma abordagem crítica sobre o tema negligência familiar contra criança 
e adolescente: Um estudo analítico e reflexivo do ponto de vista do ECA, para que 
pudessem ser desveladas as contradições presentes na situação de negligência 
praticada contra criança e adolescentes no âmbito familiar. 
Para os profissionais oriundos de diferentes bases teóricas, práticas e 
orientações, resta o desafio de se colocarem em favor da prática profissional e 
principalmente, a favor do público alvo, as diferenças que as constituem. 
Considerando essas reflexões, esperamos ter contribuído através deste trabalho 
sobre algumas especificidades do serviço social e o desafio no contexto negligência 
a partir de uma abordagem qualitativa, de cunho bibliográfico 
O presente trabalho compreende os seguintes capítulos: O primeiro apresenta 
um breve entendimento sobre a família brasileira. O segundo capítulo aborda as 
tipologias da negligencia familiar contra criança e adolescente. No terceiro capitulo, 
apresentamos a uma análise e reflexão do ponto de vista do estatuto da criança e 
adolescente ECA. E no quarto capítulo enfatizamos o dever do estado e da família em 
relação a criança e o adolescente. a metodologia da pesquisa com enfoque na 
pesquisa qualitativa, bibliográfica. 
Portanto espera-se, que essa pesquisa contribua para que a sociedade de um 
modo geral possa identificar os casos de negligência familiar contra criança. 
11 
 
 
2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE FAMÍLIA BRASILEIRA 
A evolução da família, sobretudo nas sociedades ocidentais, embasou-se na 
consanguinidade entre seus integrantes, ou seja, na ascendência de seus integrantes, 
gerando grupos familiares provenientes de um patriarca. Aos poucos, essa estrutura 
foi modificada para estruturas familiares menores, constituídos a partir da união entre 
homens e mulheres. Esse padrão de estrutura familiar remanesce, sendo adotados 
pelas legislações ocidentais atuais, como no Brasil, país formado com base nos 
princípios da Igreja Católica Apostólica Romana. 
Na organização jurídica da família hodierna é mais decisiva a 
influência do direito canônico. Para o cristianismo, deve a família 
fundar-se no matrimônio, elevado a sacramento por seu fundador. A 
Igreja sempre se preocupou com a organização da família, 
disciplinando-a por sucessivas regras no curso dos dois mil anos de 
sua existência, que por largo período histórico vigoraram, entre os 
povos cristãos, como seu exclusivo estatuto matrimonial. 
Considerável, em consequência, é a influência do direito canônico na 
estruturação jurídica do grupo familiar. 
No Brasil Império apenas o casamento católico era conhecido, uma vez que era 
a religião oficial do país. Deste modo, somente poderiam casar-se as pessoas que 
seguissem a religião católica. A princípio, esta exigência não gerava constrangimento, 
já que a população brasileira era predominantemente católica. Esta situação foi 
alterada com o aumento populacional resultante, principalmente, da imigração que fez 
aumentar a população de não católicos. 
 Os indivíduos que tinham outras concepções religiosas, isto é, aqueles que não 
praticavam o catolicismo, estavam proibidos de contraírem o matrimônio. O 
casamento como entidade familiar foi mantida pelas legislações imperiais, sendo, 
porém, acrescentado os não católicos, reconhecendo-se em 1861, como casamento 
civil as demais uniões religiosas (WALD, 2002). 
 Percebe-se que a Igreja detinha o monopólio das leis referentes ao matrimônio, 
determinava as leis e atribuía condições. As regras do casamento seguiam os 
preceitos do Concílio de Trento de 1563 e das Constituições do Arcebispo da Bahia. 
Por muito tempo, a Igreja Católica foi titular dos direitos matrimoniais; pelo Decreto de 
3 de novembro de 1827 os princípios do direito canônico regiam todo e qualquer ato 
nupcial, com base nas disposições do Concílio Tridentino e da Constituição do 
Arcebispado da Bahia. (DINIZ, 2008). 
12 
 
 
No período colonial, com a chegada dos colonizadores, era comum as 
relações amorosas entre os europeus e as índias, que não era tido como família, visto 
que os europeus se baseavam na doutrina da Igreja Católica, que via tais fatos como 
desobediência aos preceitos religiosos. Com a relutância dos indígenas em serem 
escravizados, a alternativa achada pelo rei português foi trazer mão de obra africana, 
ocasião na qual os negros se estabeleceram provocando uma intensa miscigenação; 
acontecimento importante na cultura, crença e comportamento de todos os povos, 
entretanto considerado imoral pelo catolicismo. 
Somente depois da metade do século XVIII, com a instituição da Lei do 
Marquês de Pombal, o casamento entre índios e brancos foi permitido, devido a 
extinção da escravidão indígena (CHIAVENATO, 1999). Desta maneira, a família se 
desenvolveu no Brasil, produto de uma combinação de raças e culturas, sob o controle 
repressor da igreja católica. No Brasil colonial e imperial, apenas era válido o 
casamento segundo o ritual católico. Para Simões (2007, p. 179)Com a Lei n. 1.144 de 11/09/1861, o Estado passou a admitir o 
casamento segundo o rito religioso dos próprios nubentes. O Decreto 
n.119-A de 17/01/1890 estabeleceu a separação entre a igreja e o 
Estado, que se tornou laico ou não confessional. 
Conforme o mesmo autor depois da Proclamação da República e o Estado 
laico, a Constituição de 1891 adotou o casamento civil diante da autoridade leiga e 
em seguida a Constituição de 1934 até o presente, é que foi admitido o casamento 
religioso com efeitos civis, desde que seja por meio de prévia habilitação. 
O Estado ainda sofria influência da igreja católica, mas aos poucos começou 
a afasta-se das intervenções da igreja e passou a instruir a família conforme o aspecto 
social; a organização familiar passou de simples agente complementar do Estado, 
para componente essencial da sociedade. Até a proclamação da Carta Magna de 
1988, o quadro era totalmente restrito, uma vez que somente os grupos gerados 
através do casamento eram considerados como familiar proposto pelo Código Civil de 
1916 que, perante a influência francesa, criava os critérios matrimonias. 
Segundo esta mesma perspectiva, evidencia-se a Lei do Divórcio, que 
conferia à parte responsável pela separação, diversas punições, mencionando que de 
qualquer forma o vínculo familiar constituído pelo matrimônio teria que ser preservado. 
Era, necessariamente, “o sacrifício da felicidade pessoal dos membros da família em 
nome da manutenção do vínculo de casamento” (CHIAVENATO, 1999.p.04). Assim 
13 
 
 
sendo, o Estado acreditava que a família surgia exclusivamente apoiada no 
casamento. Os grupos de indivíduos ligados sem esse modelo não eram encarados 
como família e, em virtude disso, não contavam com a proteção do governo. 
No entanto, a Constituição Federal de 1988, trouxe consequências 
expressivas a respeito dessas concepções, através dos princípios constitucionais 
especificados que incidiram essencialmente no Direito de Famílias. O artigo 1°, III, da 
Constituição Federal, reconhece o princípio da dignidade do ser humano, e é 
considerado como ponto de mudança do modelo de família; num único dispositivo 
espancou séculos de hipocrisia e preconceito (VELOSO, 2005). 
A Constituição Federal de 1988 priorizou a família como pilar da sociedade 
aceitando suas novas configurações, determinando novos valores sociais, apoiado na 
valorização do indivíduo, além de garantir tratamento prioritário às crianças e aos 
adolescentes, baseado na igualdade e dignidade do indivíduo. A partir desse 
momento, ocorreram diferentes reformas jurídicas, como por exemplo: a igualdade 
atribuída aos homens e mulheres, sendo igualitária a proteção de ambos e incluindo 
os filhos provenientes ou não do casamento ou de adoção; o divórcio, como processo 
de dissolver o casamento civil e, a equiparação, quanto aos direitos assegurados à 
família gerada através do casamento, bem como à formada pela união estável e às 
monoparentais. 
Segundo Pereira união estável é: (...) a relação afetivo-amorosa entre um 
homem e uma mulher, não-adulterina e não-incestuosa, com estabilidade e 
durabilidade, vivendo sob o mesmo teto ou não, constituindo família sem o vínculo do 
casamento civil. A família monoparental é formada por um dos pais, seja ele solteiro, 
separado, divorciado ou viúvo, e seus filhos. Para Leite (2007, p. 61), a família 
monoparental se configura “quando a pessoa considerada (homem ou mulher) 
encontra-se sem cônjuge, ou companheiro, e vive com uma ou várias crianças. Assim 
Souza (apud FACHIN, 2011, p. 7) reitera que “o grande número de famílias não 
matrimonializadas, oriundas de uniões estáveis, ao lado de famílias monoparentais, 
denota a abertura de possibilidades às pessoas, para além de um único modelo de 
família”. 
No campo familiar, ressalta-se a conquista feminina com o acesso da mulher 
no mercado de trabalho, tendo, além disso, igualdade de direitos na vida pública, 
dessa forma o homem passa a dedica-se as tarefas domésticas, proteção e educação 
14 
 
 
dos filhos, deixando de ser responsável unicamente pela subsistência da família. De 
acordo com Dalbério (2007, p.46): 
Essa nova dimensão na qual o homem deve assumir tarefas 
domésticas cria em muitos deles uma situação de revisionismo de 
todas as ideologias que dizem respeito ao machismo. É obvio que 
muitos ainda não estão entendendo essa nova situação, vivem como 
se a mulher ainda devesse prestar-lhe todos os serviços e ainda lhe 
ajudasse na manutenção das despesas familiares. Carregam ainda 
em consciência as visões burguesas de família, cujo modelo o homem 
tem direitos, por manter a família (Dalbério 2007, p.46). 
É importante frisar que, a mulher, antes inferior, teve sua capacidade 
reconhecida em relação à sua condição de cônjuge. Portanto, a família passou a ser 
atribuída como prioridade o ser humano, sendo categoricamente inconstitucional 
infringir direitos a respeito da sua dignidade; o conceito de “família-instituição” foi 
trocado para “família-instrumento” do desenvolvimento da pessoa humana, protegida 
de acordo com interesse de seus componentes, com igualdade bem como 
solidariedade entre eles (FARIAS, ROSENVALD, 2011). 
Nesse contexto, o Código Civil de 2002 teve a regulamentação e o 
reconhecimento jurídico da união estável e da família monoparental. As mudanças na 
instituição familiar surgiram a partir do esforço pela legalização da união homoafetiva, 
que apesar de não está prevista na Constituição Federal, encontra-se respaldada pelo 
princípio da isonomia e é uma realidade da sociedade moderna que já foi reconhecida 
pela doutrina e pela jurisprudência. Esse cenário transformou-se com a Lex 
Fundamentallis de 1988, refletindo igualmente no Código Civil de 2002, tornando-se 
pluralizada, democrática, igualitária substancialmente, hétero ou homoparental, 
biológica ou socioafetiva, com unidade socioafetiva e caráter instrumental (FARIAS, 
ROSENVALD, 2011). 
Além da ampliação do conceito de família colocado pela Constituição Federal 
de 1988, o Supremo Tribunal Federal, compreendeu que as uniões entre 
homossexuais deveriam ser classificadas como famílias, obtendo a mesma proteção 
do Estado dedicada aos casais unidos pelos vínculos da união estável (LÔBO, 2004). 
Deste modo, o conceito de família foi se adequando a realidade colocada pela 
sociedade, do mesmo jeito que a legislação teve que se adaptar a estas modificações, 
já que os casamentos ditos tradicionais estão cada vez mais difíceis e menos estáveis, 
tendo como consequência filhos de pais divorciados ou solteiros, elevando a 
quantidade de famílias onde os pais e as mães adquirem a mesma função, entretanto 
15 
 
 
a mulher assume a tutela e a incumbência da educação de seus filhos. Nessa 
perspectiva, Souza (apud, DIAS, 2005, p. 39) expõe que: 
Agora o que identifica a família não é nem a celebração do casamento 
nem a diferença de sexo do par ou envolvimento de caráter sexual. O 
elemento distintivo da família, que a coloca sob o manto da 
juridicidade, é a presença de um vínculo afetivo a unir as pessoas com 
identidade de projetos de vida e propósitos comuns, gerando 
comprometimento mútuo. Cada vez mais, a idéia de família se afasta 
da estrutura do casamento. 
Em vista disso, a família foi ganhando novos contextos, procurando a união 
estabelecida através do afeto, à configuração foi transformada e a função do pai e da 
mãe foi mudando. A instituição familiar evoluiu e continua evoluindo, pois não há mais 
lugar para a família patriarcal onde imperava o abuso de poder, a hierarquia, o 
autoritarismo assim como a predominância pelo interesse patrimonial. 
2.1 Situação histórica da criança e do adolescente no Brasil 
Neste subtópico busca-se caracterizar o estudo da trajetória dos direitos 
infanto-juvenis ao longo dos tempos, destacando o Estatuto da Criança e do 
Adolescente no caso brasileiro, a partir do referencial teórico aqui mostrado.No período do Brasil Colônia, os anos entre 1500 a 1800, o que conduzia as 
crianças e os adolescentes era a soberania paternal. Os pais detinham o direito de 
designar sobre a profissão e o casamento dos seus filhos. Nesse período, segundo 
Guimarães (2014, p. 18), não havia: 
Um sistema legal formalizado. O Estado brasileiro não intervia no 
contexto familiar, somente no fim deste período foram criadas leis para 
coibir castigos muito fortes que os pais davam em seus filhos. O que 
se destacava neste contexto era a caridade de igrejas para impetrar 
os bons costumes e o controle social para as condutas das crianças. 
No tocante à origem dos direitos fundamentais, há registros entre a 
Declaração de Direitos do Povo da Virgínia, de 1776, e a Declaração dos Direitos do 
Homem, proclamada em 2 de outubro de 1789, na França. E, “[...] posteriormente, a 
aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proferida em 1948, pela 
Assembléia (sic) Geral das Nações Unidas, deu um novo rumo aos direitos 
fundamentais” (GIUSTI, 2012). 
Para Prates (2011, p. 12) comenta que: 
É apenas no século XX que a criança e o adolescente começam a 
ganhar espaço no sistema legislativo, ou seja, quando iniciam as 
16 
 
 
preocupações com a tutela dos interesses desses menores. Tanto é 
que, no ano de 1924, foi adotada pela Assembleia da Liga das Nações, 
a Declaração de Genebra dos Direitos das Crianças, a qual, embora 
não tenha sido o suficiente para o verdadeiro reconhecimento 
internacional dos direitos das crianças, não deixou de ser um 
“pontapé” inicial para que isso ocorresse. 
No entanto, os direitos infanto-juvenis passaram a ser reconhecidos 
universalmente, por meio da Declaração Universal dos Direitos da Criança, no ano de 
1959. Esse documento, conforme Amin (2008 apud PRATES, 2011, p. 12): 
Estabeleceu, dentre outros princípios: proteção especial para o 
desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual; educação gratuita e 
compulsória; prioridade em proteção e socorro; proteção contra 
negligência, crueldade e exploração; proteção contra atos de 
discriminação. 
As crianças e os adolescentes passaram um grande período na história 
brasileira, sem terem o devido amparo judicial e político, constando poucos registros 
e referências até o início do século XX (SANTIAGO, 2014). 
A partir da situação de agravamento da questão social, no ano de 1927 
instituiu-se o primeiro Código de Menores de Mello Mattos. Ataíde e Silva (2014) 
revelam que esse código regia: 
A Doutrina da Situação Irregular e atuava de forma moralista e 
repressiva, de modo que crianças e adolescentes vítimas de 
abandono, maus-tratos, em situação de miserabilidade ou infratores 
eram consideradas em Situação Irregular e seriam assistidas por este 
código. 
Entre 1930 e 1945, a assistência à infância era uma questão de defesa 
nacional. Rizzini (1995 apud SILVEIRA, 2003, p. 25) aponta que o então presidente 
Getúlio Vargas “expressava as grandes preocupações das elites da época com 
relação à assistência à infância, tais como a defesa da nacionalidade e a formação de 
uma raça sadia de cidadãos úteis”. 
Em 1940, o Departamento Nacional da Criança (DNCr) articulou o 
atendimento às crianças, combinando orientação higienista com campanhas 
educativas, serviços médicos e assistência privada (SILVEIRA, 2003). E em 1941, 
surgiu o Serviço Nacional de Assistência a Menores (SAM), instituição vinculada ao 
Ministério da justiça e aos juizados de menores, para: 
Orientar e fiscalizar educandários particulares, investigar os “menores” 
para fins de internamento e ajustamento social, proceder exames 
médico-psico-pedagógicos, abrigar e distribuir os “menores” pelos 
17 
 
 
estabelecimentos, promover a colocação de “menores”, incentivar a 
iniciativa particular de assistência a “menores” a estudar as causas do 
abandono. (SILVEIRA, 2003, p. 26). 
Silveira acrescenta que, em 1942, a Legião Brasileira de Assistência (LBA), 
por iniciativa da Sra. Darcy Vargas, apareceu para gerar serviços de assistência 
social, em particular às famílias dos brasileiros convocados na guerra. Juntamente 
com o DNCr garantia “ estímulo às creches, auxílio aos idosos, a doentes e grupos de 
lazer, propondo-se a favorecer o reajustamento das pessoas, moral ou 
economicamente desajustadas, proteger a maternidade e a infância” (SILVEIRA, 
2003, p. 26). 
Na década de 1950, período do governo Kubitschek, originaram-se 
estratégias abarcando a saúde da criança, a participação da comunidade, através do 
DNCr, apoiado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pela 
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), com o 
estabelecimento de Centros de Recreação. Nesse período, o Serviço Nacional de 
Assistência a Menores foi apontando como um sistema desumano, ineficaz e 
perverso, além da superlotação e falta de cuidados de higiene (SILVEIRA, 2003). Para 
Costa (1990 apud SILVEIRA, 2003, p. 28) “[...] essa mentalidade cristalizou-se no 
SAM com resultados que a imprensa dos anos 50 divulgou por todo o país. O 
estabelecimento menorista era chamado de ‘sucursal do inferno’ e ‘escola do crime’, 
entre outras coisas”. 
Em 1961, o presidente Jânio Quadros, sugeriu a extinção do SAM criando a 
Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), aprovada pelo Congresso 
em primeiro de novembro de 1964, durante o contexto da ditadura militar (SILVEIRA, 
2003). Para Rizzini (1995 apud SILVEIRA, 2003, p. 28), “[...] a mudança de uma 
estratégia repressiva para uma estratégia integrativa e voltada para a família tem um 
novo ordenamento institucional dentro de um governo repressivo [...]”. 
As diretrizes da Política Nacional de Bem-Estar do Menor (PNBEM) foram 
efetivadas pela FUNABEM na esfera federal e os órgãos estaduais executores, 
FEBEM’s. Em Santa Catarina, passou a ser chamada de FUCABEM (Fundação 
Catarinense do Bem-estar do menor) (SILVEIRA, 2003). A PNBEM voltava-se para 
famílias que apresentavam “situação de baixa renda, de pouca participação no 
consumo de bens materiais e culturais, de incapacidade de trazer a si os serviços de 
habitação, saúde, educação e lazer” (RIZZINI, 1995 apud SILVEIRA, 2003, p. 30). 
18 
 
 
Na década de 1970, a assistência à criança e ao adolescente era voltada para 
a educação popular e o método Paulo Freire, visto que incentivavam o aprendizado 
da leitura e da escrita, oportunizando um despertar crítico e a consequente elaboração 
de um projeto coletivo de organização social (SILVEIRA, 2003). Conforme Gramsci 
(1989 apud SILVEIRA, 2003, p. 34), “[...] toda geração educa a nova geração, isto é, 
forma-a; a educação é a luta contra os instintos ligados às funções biológicas 
elementares, uma luta contra a natureza, a fim de dominá-la e de criar o homem ‘atual’ 
à sua época”. Quanto à PNBEM, a assistência passou a não ser vista como uma 
intimidação social, prevalecendo a concepção assistencialista. Percebia-se a criança 
e o adolescente como “carente” biopsicossocial e culturalmente (SILVEIRA, 2003). 
A partir da década de 1975, apareceram novos horizontes na esfera social, 
reivindicando direitos, apreciando o exercício social presentes no cotidiano popular. A 
PNBEM se dissipou frente às exigências sociais, contidas nas ponderações da 
FUNABEM, reconhecendo-se as falhas da política social existente. O fracasso do 
sistema FUNABEM vinculou-se à concepção híbrida do serviço de correção, 
repressão e assistencial, apontada por um sistema gestor centralizador e vertical, 
representando os estereótipos do cuidado voltado à criança e ao adolescente, como 
um “feixe de carências” (SILVEIRA, 2003). 
Verifica-se que, a partir da segunda metade da década de 1970, as políticas 
praticadas até então no sentido de melhor atender crianças e adolescentes sofreram 
fortes críticas e pressão por parte da população, a qual exigia mudanças no campo 
do atendimento aos menores. Esse fato levou a se instalar uma Comissão 
Parlamentarde Inquérito (CPI) no Congresso Nacional em 1975. Essa CPI apontou a 
existência de crianças e adolescentes abandonados em 87,17% dos municípios, e 
revelou uma significativa situação de pobreza como a fundamental razão declarada 
por 90,28% dos municípios para essa conjuntura de abandono (SILVEIRA, 2003). 
Em 1979, um novo caminho no tocante ao direito da criança e do adolescente 
foi estabelecido pela Lei nº 6.697/79, de 10 de outubro de 1979, que instituiu o Código 
de Menores. Ocorreu também, o Ano Internacional da Criança, marco que estimulou 
o surgimento de ações não oficiais em prol da criança e do adolescente envoltos em 
situações de exclusão social. Esse impulso, na opinião de Silveira (2003, p. 41), 
evidencia-se na: 
19 
 
 
Proliferação de programas de atendimento a crianças e adolescentes, 
numa perspectiva libertadora enquanto princípio, com práticas 
pedagógicas “alternativas”, ainda sob grande influência da teologia da 
libertação e das propostas pedagógicas do educador Paulo Freire. 
Na esfera social, multiplicaram-se ações de contendas e de represálias por 
parte de estudantes, do movimento popular e sindical, de mulheres, com a adesão de 
setores progressistas da Igreja Católica – Comunidade Eclesial de Base (CEB´s) e a 
Comissão de Justiça e Paz , da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Movimento 
de Direitos Humanos, do Movimento Feminino pela Anistia, entre outros. Nesse 
contexto, percebeu-se “[...] uma diversidade dos movimentos e grupos contestatórios, 
diversidade inerentes às condições e às especificidades que envolvem cada um deles 
e o marcante empenho, por parte destes, em manter sua autonomia” (SILVEIRA, 
2003, p. 41). 
Mediante esse contexto, verificou-se uma grande mobilização por parte de 
entidades não governamentais, mas que trabalhavam e batalhavam pelos cidadãos 
menos favorecidos, dentre eles as crianças e os adolescentes. 
Quanto aos movimentos, predominavam valores da justiça social e de 
solidariedade, entendidos por Sader (1995 apud SILVEIRA, 2003, p. 42) como “[...] o 
repúdio à forma instituída da prática política, encarada como manipulação, teve por 
contrapartida a vontade de serem ‘sujeitos da sua própria história’, tomando nas mãos 
as decisões que afetam suas condições de existência”. 
Permeando a década de 1985, os movimentos sociais se atinham às 
violações aos direitos humanos com maior intensidade e engajamento. Na esfera das 
crianças e dos adolescentes, multiplicavam-se as denúncias, os atos e os 
descontentamentos populares em prol da defesa de seus direitos. Houve reação 
contra as diretrizes jurídicas (Código de Menores) e políticas (Política Nacional de 
Bem-Estar do Menor) vivenciadas nesse período, sugerindo o fortalecimento 
democrático das políticas de atenção às crianças e aos adolescentes. Para tanto, 
surgiu o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), no ano de 
1985 (SILVEIRA, 2003). 
A MNMMR, segundo Silveira (2003, p. 48), é: 
Uma organização não-governamental (sic), autônoma e de 
voluntariado, que atua na defesa e promoção dos direitos das crianças 
e dos adolescentes de rua do Brasil, e constitui-se, desde sua criação, 
como uma rede de pessoas das mais variadas atividades com atuação 
unificada, (folder de divulgação do MNMMR). Seu surgimento está 
20 
 
 
vinculado às denúncias das diferentes formas de violência e de 
violações de direitos inerentes da pessoa, calcando-se na Declaração 
Internacional dos Direitos da Criança (SILVEIRA 2003, p. 48). 
 Nas décadas de 1970 e 1980, esse fato começou a tomar novos rumos. A 
conjuntura da sociedade brasileira passou por um processo de democratização, 
donde se levantaram questões pertinentes da cidadania e os direitos. 
2.2 A família em situação de Vulnerabilidade Social 
 2.2.1 A Vulnerabilidade Social 
 No que diz respeito à vulnerabilidade social, Carleto, Alves e Gontijo (2010) e 
Silva, Costa e Kinoshita (2014) apontam que a pobreza não seria o único motivo para 
a vulnerabilidade, mas também as relações sociais, as redes de suporte, as rupturas 
sócio relacionais, a população em situação de rua, ausência de moradia convencional, 
uso de drogas, violência, desemprego, entre outras. Portanto, a pessoa é considerada 
em situação de vulnerabilidade quando exposta a situações que atrapalham o 
desenvolvimento eficaz e que a impede de realizar com êxito a socialização, fatores 
esses que dificultam a possibilidade de superar desafios. 
 A vulnerabilidade social caracteriza-se como uma fragilidade do sujeito à riscos 
e como um obstáculo para os mesmos em exercerem as funções sociais na promoção, 
assistência ou defesa de direitos como cidadão, e pode limitar o potencial das pessoas 
de garantir a sobrevivência e proteção das crianças e dos adolescentes (CARLETO; 
ALVES; GONTIJO, 2010; SILVA; COSTA; KINOSHITA, 2014). 
 Assim, Conceição (2010) descreve que os espaços geográficos, a localização, 
a composição e a forma de um território influenciados pelos fatores socioeconômicos 
e culturais, caracterizam um contexto social de vulnerabilidade. 
 Desta forma, as dificuldades de acesso, a inexistência de recursos e serviços, 
a baixa infraestrutura de suporte e redes sociais são produtos e, ao mesmo tempo, 
elementos constituintes de hermenêutica dos processos das situações de rupturas e 
fragmentação das relações humanas por meio da divisão de classes, da segmentação 
de sistemas e ofertas de trabalho - o que dificulta uma reestruturação e inserção 
igualitária de diferentes parcelas da população e mantém os meios e situações de 
vulnerabilidades (CONCEIÇÃO, 2010, p.55). 
 Para Castel (1997), existem três eixos de trabalho - trabalho estável, trabalho 
precário e não trabalho - estes estão ligados diretamente a inserção relacional forte, 
fragilidade relacional e isolamento social. Separando, assim, a vulnerabilidade como 
21 
 
 
uma zona, relacionada ao trabalho precário e fragilidade dos apoios relacionais. A 
zona de vulnerabilidade pode ser caracterizada por duas classes de trabalho: 
pequenos trabalhadores independentes sem reservas econômicas e trabalhadores 
precários do campo ou da cidade que não recebem seus benefícios. Tornando-os 
instáveis, pois não possuem um trabalho fixo, além de serem considerados frágeis em 
sua inserção relacional (CASTEL,1997). 
 Conceição (2010) ressalta que famílias vulneráveis são propícias a rupturas de 
vínculos e afetos, uma vez que podem proporcionar cuidados precários básicos aos 
menores, que são fatores de risco para o desenvolvimento benéfico. 
 Segundo estudos de Siqueira (2010), a maior parte das famílias em situação 
de vulnerabilidade social possui baixa escolaridade, desenvolvem atividade informal 
de trabalho e/ou os pais são separados. 
 Com isso, Carleto, Alves e Gontijo (2010) também reforçam que, devido a 
situação de vulnerabilidade das famílias, é possível observar atrasos no 
desenvolvimento escolar infantil diante, muitas vezes, da necessidade de entrada 
precoce da criança no mundo do trabalho e de cuidado dos familiares, como idosos 
ou crianças mais novas, limitando e privando o desempenho ocupacional. 
 Conforme Oliveira, Flores e Souza (2012) relatam que a privação dos direitos 
como o de saneamento básico, moradia, alimentação, causam a situação de 
vulnerabilidade social e podem ser considerados como um fator de risco para 
problemas no desenvolvimento, pois afetam aspectos ambientais e biológicos 
interferindo em um desenvolvimento adequado para as crianças. 
 2.2.2 Vulnerabilidade Social dentro do meio Familiar 
 Ultimamente a família brasileira tem sofrido várias mudanças, em 
consequência dos eventos econômicos, sociais e demográficos. Essas 
transformações são percebidas nos níveis de reprodução da população, na redução 
da fertilidade e mortalidade, no aumento da expectativa de vida, ocasionado por 
melhores condições de vida e saúde, nos modelos de relacionamentoentre os 
integrantes da família, na função da mulher dentro e fora do ambiente doméstico, no 
crescimento das uniões consensuais, e outras (NASCIMENTO, 2006). 
 De acordo com o autor, mesmo com essas mudanças, a família segue sendo 
como espaço de convivência e troca de experiências; e simultaneamente um espaço 
de divergência e de tranquilidade, causado pela disposição de bens. A família é o 
22 
 
 
espaço que assegura a seus membros sobrevivência, desenvolvimento e proteção 
integral. 
Além da relevância da família como espaço privilegiado de convivência e 
socialização, é importante salientar, como expõe Goldani (2002), que as intensas 
transformações políticas e econômicas, e os problemas gerados pelo mercado 
mundial levam os indivíduos e famílias a vivenciarem episódios de vulnerabilidade 
social, e apesar dos governos tentarem harmonizar suas economias, as reforma são 
demoradas e complexas, o que aumenta os deveres da família como estrutura de 
proteção social para redução das situações de vulnerabilidades sofridas por seus 
integrantes. 
Os trabalhos produzidos a respeito da vulnerabilidade social revelam que seu 
conceito é heterogêneo devido às inúmeras situações que podem atingir indivíduos, 
famílias e, conforme Nery (2009) compreende diferentes aspectos, entre os quais: a 
dos bens materiais, a sociodemográfica, a ambiental e a afetivo-relacional. As 
primeiras pesquisas vistas na literatura apresentam as vulnerabilidades somente 
baseada na perspectiva econômica, pois se baseiam em análises da capacidade de 
mobilidade social, começando da hipótese de que o aspecto econômico interfere na 
diminuição de oportunidades, o que influencia, justamente, nas possibilidades de 
acesso a bens e serviços. 
No Brasil, seguramente, a pobreza é uma das principais vulnerabilidades que 
afetam as famílias. Conforme Godinho (2011), no Brasil, a pobreza é resultado de um 
sistema histórico de desigualdades sociais, que se refere à nossa trajetória da gênese 
da civilidade, da cidadania, da economia nacional e das relações de poder, que 
originaram as situações que vivenciamos atualmente, nas relações de trabalho, no 
trato com o que é coletivo, nas diferenças sociais e na falta de políticas públicas 
eficientes. 
Yazbek (2007) esclarece que a pobreza, além da falta de renda, provoca uma 
situação de submissão, pela ausência de poder de mando, de decisão, criação e 
direção. Dessa forma, a submissão faz parte da classe dos dominados, dos sujeitos à 
exploração e à exclusão social, econômica, política e cultural, portanto, consiste em 
um processo de internalização das condições reais sofrida por estes indivíduos. Além 
disso, a situação de submissão está relacionada a um cenário de necessidades 
objetivas e subjetivas, assim, “não se reduz às privações materiais, alcançando 
diferentes planos e dimensões da vida do cidadão.” (COUTO; YAZBEK; RAICHELIS, 
23 
 
 
2010, p. 40). Alguns autores trazem o discurso de que uma grande quantidade da 
população que não é classificada como pobre quando se considera sua renda, mas 
pode ser vista como vulnerável. 
De acordo com Carneiro (2009, p. 170), “nem todos os que se encontram em 
situação de vulnerabilidade são pobres - situados abaixo de alguma linha monetária 
da pobreza - nem todos os pobres são vulneráveis da mesma forma”. Contudo, a 
vulnerabilidade não pode ser considerada apenas pela pobreza. 
 Para Kaztman (2000, pg.7) a vulnerabilidade pode ser compreendida como 
“a incapacidade de uma pessoa ou de um domicílio para aproveitar-se das 
oportunidades, disponíveis em distintos âmbitos socioeconômicos, para melhorar sua 
situação de bem-estar ou impedir sua deterioração”. O autor acredita que a 
vulnerabilidade seria resultante da falta de sincronismo do acesso as estruturas de 
oportunidade ofertadas pelo mercado, pela sociedade e pelo Estado e os 
trabalhadores dos domicílios que deveriam usufruir dessas oportunidades. 
Fundamentado nessa concepção, Busso (2001, p. 25) enfatiza que: 
O enfoque da vulnerabilidade tem como potencialidade contribuir para 
identificar indivíduos, grupos e comunidades que por sua menor 
dotação de ativos e diversificação de estratégias estão expostos a 
maiores níveis de risco por alterações significativas nos planos sociais, 
políticos e econômicos que afetam suas condições de vida individual, 
familiar e comunitária (Busso 2001, p. 25). 
Percebe-se que o reconhecimento dos indivíduos e das famílias em 
vulnerabilidade social é importante para a elaboração de pesquisas sociais, sendo 
base para ações de políticas públicas sociais, pois, conforme Goldani (2002), a 
maioria das famílias no Brasil depara-se com um cenário difícil de vulnerabilidades, 
que faz com que seus integrantes não tenham disponíveis os serviços de educação, 
trabalho e segurança. 
De acordo com Carvalho; Almeida, (2003), a pobreza, o desemprego e a falta 
de expectativas têm levado uma parcela considerável de jovens para a criminalidade, 
o que colabora para o crescimento de conflitos, como a violência doméstica e nas 
ruas, situações que comprometem o convívio e a estrutura familiar. De acordo com a 
Política Nacional de Assistência Social-PNAS (2004) à condição de vulnerabilidade e 
às situações de riscos é vista como: 
“famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de 
afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades 
estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem 
pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e ou no 
24 
 
 
acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; 
diferentes formas de violência advindas do núcleo familiar, grupos e 
indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho 
formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de 
sobrevivência que podem representar risco pessoal e social”. (PNAS, 
2004, p. 33). 
Quando se examina a idéia de vulnerabilidade social pelo ponto de vista da 
PNAS (2004), verifica-se que a pobreza é reconhecida como uma das condições que 
a caracterizam, porém o conceito de pobreza não se limita apenas à falta de renda, 
visto que esta é desencadeadora de diferentes aspectos das necessidades humanas, 
deste modo, é preciso investigá-la como um fenômeno complexo. 
 No entanto, apesar da constatação da necessidade de políticas públicas 
dirigidas a família, é evidente que não basta à lei; é necessário produzir normas, 
modelos e instrumentos para que o direito passe do papel para a promoção efetiva. 
Há muitas responsabilidades na área da assistência social para que esse processo 
avance, partindo do acesso a informações explícitas aos usuários dos CRAS, dos 
Centros de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), dos serviços 
oferecidos e dos beneficiários de programas, no intuito de informar ao usuário o 
significado de cada uma dessas atenções, assim como a forma de atenção que lhe 
vier a ser proporcionada (BRASIL, 2013). 
2.3 O Contexto da negligencia Familiar contra criança e adolescente 
 De acordo com o dicionário Aurélio, negligencia significa: "Desleixo descuido, 
desatenção, menosprezo, preguiça, indolência". Palavras um tanto quanto vagas e 
com significados dependentes de valores culturais e pessoais. 
A exemplo de estudos científicos internacionais sobre o fenômeno da negligencia da 
familiar voltado a criança e ao adolescente que não compartilham de uma definição 
comum, segue as concepções de AZEVEDO e GUERRA, (1998, p. 72): 
É um padrão de comportamento constante e um estado inadequado 
da paternagem e ou maternagem quando comparada As normas da 
comunidade; Grave omissão que coloque em risco o desenvolvimento 
da criança; consiste em falha ao cuidar das necessidades de uma 
criança, falha raramente proposital, tratando-se de uma inabilidade de 
comportamento dos pais; É quando os pais deixam crianças mais 
novas sem supervisão por extensos períodosde tempo, fornecem 
cuidados e alimentação inadequados para criança; Situação na qual o 
responsável pela criança seja deliberadamente, seja por total falta de 
atenção, permite que ela experimente sofrimento e/ou ainda não 
preencher para ela os requisitos geralmente considerados essenciais 
25 
 
 
para o desenvolvimento das capacidades físicas e emocionais de um 
ser humano AZEVEDO e GUERRA, (1998, p. 72). 
 Ainda conforme acima, pode-se juntar também que a negligencia pode ser 
caracterizada ainda "como uma das formas de violência que consistem em não dar a 
criança aquilo que necessita, quando isto é essencial ao seu desenvolvimento sadio" 
( Assis 1985). 
 A negligência pode se apresentar como moderada ou severa, para 
compreendermos melhor faz-se necessário entender sobre o assunto modalidades de 
negligência, conformas as que seguem abaixo: 
1) médica - necessidade de saúde de uma criança quando não estão sendo 
preenchidas; 
2) educacional - os pais não providenciam o substrato necessário para a frequência à 
escola; 
3) higiênica - quando a criança vivência precárias condições de higiene; 
4) de supervisão - a criança deixada sozinha, sujeita a riscos; 
5) física - não há roupas adequadas, não recebe alimentação suficiente. Para tanto as 
descrições e fundamentações das mesmas ficará para momento oportuno dentro 
desse trabalho. 
 2.3.1 Identificação da Negligência para um Desenvolvimento Sadio 
 Para Gil (1979) o alto índice de maus tratos contra a criança e a adolescente 
em nossa sociedade mostra que os pais negligentes geralmente escolhem um bode 
expiatório. As crianças conhecidas como "bebes mal tratados" recebem as mais 
variadas formas de violência, os maus tratos As crianças afetam infinitamente, e a 
negligência segundo o autor citado é a forma de violência mais praticada embora as 
idades variam, pois a maioria das vítimas tem menos de três anos e a metade das 
crianças maltratadas acabam morrendo de maus tratos e negligencia, independente 
de classe social. Os pais que maltratam são provenientes de todos os níveis de classe, 
grupo cultural, religioso. Pode-se dizer que ela pode decorrer de vários fatores e 
diferentes modalidades e/ou ainda isoladas ou combinadas. 
Morais Apud Barudy (1997) nos fala que: 
"As crianças dependem, diz a autora, biologicamente, 
psicologicamente e socialmente dos pais e não há outra alternativa a 
não ser aceitar a situa cão como legitima, Para as vítimas fica o pacto 
do silêncio como forma de fidelidade ao agressor o que impede as 
crianças e adolescentes a expressão de sua dor e de seu sofrimento”. 
26 
 
 
 A sociedade brasileira ficou chocada ao assistir através dos telejornais e 
Programa do Ratinho, do SBT, com a exibição de cenas repugnantes de um adulto 
torturando uma menina de três anos a ponto de obriga-la a comer as próprias fezes, 
em seguida os pais tomam conhecimento da tragédia do bebê paulista (Brenda), a 
menina sofria torturas de espancamento e a mãe negligente se omitiu de socorre-la, 
Brenda tinha sido internada em cinco hospitais diferentes sem que ninguém se 
dispusesse a denunciar a situação. 0 pediatra Joao Márcio Mainenti, último a cuidar 
de Brenda, procurou a polícia e infelizmente Brenda veio a óbito. 
 Nas famílias negligentes e omissas, ou os adultos, mais especificamente os 
pais, apresentam comportamentos contínuos que refletem a ausência ou a 
insuficiência dos cuidados que destinam as suas crianças. Um contexto de pobreza e 
de isolamento social geralmente está em torno do sistema familiar, contexto este que 
coincide na maior parte do tempo com muitas outras carências apresentadas na 
história de vida dos pais. 
 Os pais negligentes são adultos que não se ocupam de seus filhos nas suas 
necessidades físicas, psicológicas e sociais, e a não ocupação ou deficiência podem 
ser o resultado de três dinâmicas que se entrelaçam: a biológica, a cultural e a 
contextual, dinâmicas essas que são diferentes, mas as conseqüências para as 
vitimas podem ser idênticas (Morais Apud Barudy, 1998). 
 As quais veremos detalhadamente no capitulo a seguir. 
 
27 
 
 
3 TIPOLOGIA DA NEGLIGÊNCIA FAMILIAR CONTRA CRIANÇA E 
ADOLESCENTE 
A negligência é caracterizada por omissões quanto ao cuidado e proteção 
infantil, revela-se na falta de provimento de alimentos, roupas, cuidados escolares e 
médicos e de outros que são indispensáveis ao desenvolvimento da criança. As 
omissões de cuidados pelos responsáveis correspondem à higiene, estímulos e 
condições para frequentar a escola, para a oferta de medicamentos, entre outros. 
(BRASIL, 2006). A negligência é o tipo mais frequente de maus tratos e inclui a 
negligência física, a emocional e a educacional. 
Negligência Física: Acontece quando o responsável não oferece os cuidados 
necessários para manter o desenvolvimento da criança, incluindo a falta de 
alimentação adequada, não prestação de serviços médios, vestuários impróprios, má 
higiene e situações de abandono ou vigilância a essas crianças. 
Negligência Emocional: acontece quando o responsável ignora, não atende 
as necessidades emocionais da criança, como carinho, proteção, há uma privação de 
afeto e suporte emocional para que a criança se desenvolva plenamente. 
Negligência Educacional: Quando não são proporcionadas as condições para 
formação moral e intelectual da acriança, como a privação da escolaridade ou faltas 
frequentes sem justificativa, consumo de álcool e drogas que são hábitos que 
interferem no desenvolvimento psíquico da criança e adolescente. 
Para que se possa refletir a respeito da família e negligência é preciso, mesmo 
que de maneira sucinta, discorrer sobre a violência doméstica, já que a negligência é 
apontada como um tipo de violência que acontece na família. Segundo Guerra (2011, 
p.32), esse tipo de violência caracteriza “(...) todo ato ou omissão praticado por pais, 
parentes ou responsáveis contra crianças e/ou adolescentes que – sendo capaz de 
causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima (...)”. A violência doméstica é 
considerada um crime, pois os agentes da violência são aqueles que deveriam cuidar 
e assegurar o direito de desenvolvimento da criança e do adolescente. Portanto, a 
violência doméstica, como o próprio nome evidencia, compreende a violência 
praticada por pessoas próximas ou íntimas e que convivem no mesmo espaço 
doméstico, podendo acontecer entre parceiros, pais e filhos, e outros, pressupondo 
uma dominação de um para com o outro. Além disso, é uma forma clara de negar a 
alguém a possibilidade de viver com igualdade, liberdade e respeito (RAZERA et 
al,2014). 
28 
 
 
São observados quatro tipos de violência doméstica: Psicológica, Física, 
Sexual e a negligência. Veremos suas definições a seguir. 
 3.1 Violência Psicológica 
Essa violência, designada como tortura psicológica, é a forma mais subjetiva 
de maus tratos, sendo o modelo mais comum de dominação dos adultos sobre as 
crianças e adolescentes e estar relacionado aos outros tipos de violência. A violência 
psicológica é um dos recursos mais usados pelos responsáveis para dominação das 
crianças, por isso mesmo menos registrado (BRAUN, 2002). A violência psicológica 
se caracteriza por comportamentos de pais ou responsáveis que demonstram 
desinteresse ou agressão à criança ou adolescente, comprometendo sua 
autoimagem, autoestima, provocando-lhe sofrimento emocional (ABRANCHES e 
ASSIS, 2011; SILVA, 2009). Este tipo de violência é considerada a questão principal 
da negligência e do abuso infantil, sendo ainda a que causa mais prejuízos ao 
desenvolvimento infantil. Ainda conforme as autoras, a violência psicológica embora 
presente e mais frequente que os demais abusos são pouco diagnosticados, em 
virtude, da falta de definição e conceitos os quais auxiliaria no processo de detecção 
e prevenção da mesma. 
 3.2 Violência física 
A violência física é definida como o usoda força física contra a criança 
praticada pelo adulto. Esse tipo de violência pode provocar lesões leves e ainda a 
morte, podendo ser bastante nociva tanto no plano físico quanto no plano afetivo da 
vítima. É com certeza a forma de violência cujo reconhecimento se torna mais fácil, 
em razão do dano que provoca à vítima. Segundo Brasil (2006) a violência física 
possui manifestações que são mais passíveis de identificação, frente aos danos 
visíveis que provoca. É caracterizada como uma ação violenta com uso de força física, 
de maneira intencional ou não acidental, realizada pelos responsáveis ou pessoas 
próximas das crianças, que pode ocasionar dor, ferimento, ou até a morte, deixando 
marcas ou não no corpo. O Ministério da Saúde (2002) descreve que este tipo de 
violência tem sido atribuído à condição de pobreza em que vivem suas famílias, que 
necessitam da participação dos filhos para complementar a renda familiar. 
 3.3 Violências e Exploração Sexual. 
No Brasil, a violência sexual é apontada, desde tempos atrás, como uma das 
principais causas de morbimortalidade, despertando desde então, no setor da saúde, 
uma grande preocupação com essa temática que, progressivamente, deixa de ser 
29 
 
 
considerada um problema exclusivo da área social e jurídica para ser também incluída 
no universo da saúde pública. 
Para alguns pesquisadores da área de saúde mesmo com a falta de 
integração e escassez de dados é possível inferir que as várias modalidades de 
violência ocorridas no ambiente familiar podem ser responsáveis por grande parte dos 
atos violentos que compõem o índice de morbimortalidade (Minayo, 1994). 
Embora seja um fenômeno que ocorre desde a Antigüidade, a violência sexual 
doméstica, em especial aquela dirigida à criança e ao adolescente, passou a ser mais 
discutida no meio científico a partir dos anos 80 conforme (Santos,1987; Azevedo & 
Guerra, 1988; 1989; 1995; Marques, 1986; Minayo, 1993; Saffioti, 1997). 
Em vista a essa nova nuance, é também nessa década que começam a surgir 
os primeiros programas específicos para atendimento dessa problemática, previsto no 
artigo 87, inciso III, lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e Adolescente, como o Centro 
Regional de Atenção aos Maus-Tratos na Infância primeiro em São José do Rio Preto 
(SP) implantado em outubro de 1988, conforme modelo do CRAMI – Campinas, criado 
em 1985. Desde então, o conhecimento sobre essa forma de violência vem sendo 
ampliado e sua gravidade reconhecida, ainda que os dados globais sobre sua 
magnitude não estejam devidamente dimensionados. 
No Brasil, a padronização para registrar situações de violência sexual familiar 
é fragmentada, o que provoca prejuízo para uma rotina clara e eficaz, ocasionando 
deficiências nos procedimentos a serem seguidos pelos profissionais e instituições, 
pois além disso, há carência de políticas públicas eficazes que viabilizem a criação e, 
principalmente, a manutenção de programas preventivos e de tratamento, necessários 
para promover o aprimoramento e evolução de técnicas eficazes no enfrentamento 
dessa problemática. 
Devido a fatores como medo, falta de credibilidade no sistema legal e o 
silêncio cúmplice que envolve as vitimizações sexuais, as mesmas são de difícil 
notificação. Nos Estados Unidos, as denúncias junto às autoridades legais 
apresentam taxas varáveis de 16 a 32%, com cerca de 300 a 350 mil pessoas com 
idade de até 12 anos ou mais vitimizadas anualmente, e igual número de vítimas com 
idade abaixo de 12 anos. No Brasil, inexistem dados globais a respeito do fenômeno, 
estimando-se que menos de 10% dos casos chegam às delegacias. 
De acordo com Saffioti, 1997: 
30 
 
 
Nas vitimizações sexuais, além das lesões físicas e genitais sofridas, 
as crianças e adolescentes tornam-se mais vulneráveis a outros tipos 
de violência, aos distúrbios sexuais, ao uso de drogas, a prostituição, 
à depressão e ao suicídio. As vítimas enfrentam ainda, a possibilidade 
de adquirirem doenças sexualmente transmissíveis, o vírus da 
imunodeficiência humana (HIV) e o risco de uma gravidez indesejada 
decorrente do estupro. 
 Diante dessa magnitude de acontecimentos, a violência sexual adquiriu caráter 
endêmico, convertendo-se num complexo problema de saúde pública cujo 
enfrentamento torna-se um grande desafio para a sociedade. 
De acordo com Azevedo & Guerra (1995) 
Ao organizar a sociedade, os seres humanos utilizam vários eixos de 
hierarquização, estabelecendo regras culturais, sociais, éticas e legais 
para reger o comportamento de indivíduos na coletividade, e assim as 
regras de autoridade, gênero e idade são fatores de grande 
importância na análise das relações sociais e interpessoais da 
violência sexual dentro do espaço doméstico ou fora do mesmo. 
 Contudo a regra da autoridade determina o domínio do mais forte sobre o mais 
fraco, enquanto que a de gênero, regula as relações entre homens e mulheres. A regra 
de idade, de um lado rege as relações entre crianças e adolescentes e, do outro, as 
relações entre adultos detentores do poder e desses sobre os primeiros, socialmente 
excluídos do processo decisório. Na violência sexual doméstica, as vitimizações 
ocorrem no território físico e simbólico da estrutura familiar onde o homem 
praticamente possui o domínio total. 
 Conforme assim, ela é definida por Deslandes (10, p. 13), como 
"Todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual cujo 
agressor esteja em estágio de desenvolvimento psicossexual mais 
adiantado que a criança ou o adolescente com o intuito de estimulá-
las sexualmente ou utilizá-las para obter satisfação sexual". 
 Desta forma dentro do espaço doméstico, por um processo de domínio e poder 
estabelecido pelas regras sociais, agressores com laços consanguíneos ou de 
parentescos perpetram o tipo de violência sexual chamada de intrafamiliar. 
Atualmente, a noção de cidadania requer que os membros da sociedade, 
reconhecidos como cidadãos de acordo com um marco legal democraticamente 
estabelecido, possuam o direito à liberdade, à participação, à garantia da vida, à 
sobrevivência e ao bem-estar, rompendo antigos padrões societários, na década de 
90, o Brasil realiza um importante avanço no campo dos direitos humanos, aprovando 
o Estatuto da Criança e do Adolescente. 
31 
 
 
 A partir de então, esses passaram a ser juridicamente considerados como 
sujeitos de direitos e não mais menores incapazes, objetos de tutela, de obediência e 
de submissão, tendo como paradigma os recentes avanços da normativa internacional 
e possuindo como conteúdo o melhor da experiência acumulada pelo movimento 
social brasileiro, o ECA é um instrumento que colabora decisivamente na identificação 
dos mecanismos e exigibilidade dos direitos constitucionais da população infanto-
juvenil. Privilegia-se nele, um espaço para a denúncia e o ressarcimento e qualquer 
fato que viole os direitos das crianças e adolescentes, ainda que à revelia dos 
mesmos. 
 Para os dias atuais, a sociedade e o Estado brasileiros promovem o 
enfrentamento dos diversos tipos de violência, assegurando às crianças e 
adolescentes o pleno exercício de seus direitos constitucionais e estatutários. Nesse 
sentido, destacam-se os Conselhos Tutelares e do Centro de Referência da Criança 
e do Adolescente (CRCA). O Conselho Tutelar, órgão permanente e autônomo, não 
jurisdicional, tem como atribuição o atendimento direto de denúncias, o diagnóstico 
da realidade de violação de direitos, o monitoramento do Sistema de Garantia de 
Direitos e o atendimento direto de serviços, suprindo a falta de políticas públicas. 
 O CRCA desenvolve, em parceria com o Ministério Público, um programa que 
prioriza o atendimento de crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e 
social, segundo os preceitos estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente. Atualmente vem sendo observado alguns avanços não só na área da 
saúde,como também educação e segurança pública, o que provavelmente 
desencadeará novos processos e possibilidades de ações. No ano de 2000, foi 
promulgada a lei 10.498, de 5 de janeiro de 2000, que dispõe sobre a obrigatoriedade 
da notificação dos casos em que haja suspeita ou confirmação de maus-tratos contra 
criança e adolescente para os estabelecimentos de Educação, Saúde e Segurança 
Pública. 
 Em sintonia com esta determinação, o Ministério da Saúde publicou, no Diário 
Oficial da União, a portaria 1968, de 25 de outubro de 2001, que estabelece a 
obrigatoriedade da Notificação Compulsória para os profissionais dos 
estabelecimentos do Sistema Único de Saúde (SUS), criando a Ficha de Notificação 
Compulsória de Maus-Tratos Contra Criança e Adolescente, fundamentadas nos 
artigos 13 e 245 do Estatuto da Criança e Adolescente (Ministério da Saúde, 2001). 
32 
 
 
 Essas ações federais e estaduais são instrumentos fundamentais para o 
processo de conhecimento e visibilidade desse problema nos municípios, Estados e 
país, colaborando com trabalhos de pesquisa e, consequentemente, proporcionando 
melhoria na qualidade dos programas de intervenção. 
 3.4 Exploração do trabalho infantil 
 Desde os tempos antigos a criança desempenhava atividades no âmbito 
doméstico, colaborando na plantação e na colheita destinada à subsistência da família 
e comunidade, deixando aos adultos as atividades de maior complexidade e risco. 
Não se conhece naquele período, qualquer preocupação em garantir direitos e 
proteção à criança. Culturalmente aceito, o trabalho realizado era ensinado pelos pais, 
cujos ofícios iam passando de geração em geração. 
 Na Grécia, no Egito, em Roma, entre outros povos, os filhos de escravos eram 
obrigados a trabalhar para seus donos ou para terceiros, quando este assim o 
determinasse. No sistema feudal, que tem seu início na Europa a partir do século X, 
os servos e suas famílias, inclusive crianças, trabalhavam para os senhores no cultivo 
da terra, cujo produto obtido era parte do proprietário e parte do servo. Invernos 
rigorosos, moradias insalubres e alimentação precária, somavam-se às longas 
jornadas de trabalho. Tal situação rebatia no cotidiano dos trabalhadores provocando 
cansaço profundo e consequente baixa produtividade. Há que se ressaltar, os 
trabalhadores submetiam-se a essa vida em troca de proteção, embora precária. 
 Em decorrência da exploração dos senhores feudais sobre os servos e da 
implementação do comércio nas cidades, ocorre o êxodo dos trabalhadores rurais 
para os centros urbanos. O trabalho de caráter artesanal passa a suprir a necessidade 
do consumo de mercadorias pela nobreza. 
 São criadas neste período as Corporações de Ofício, organizações dos 
artesãos que tinham dentre seus objetivos a defesa de seus interesses. Delas faziam 
parte os mestres, donos das oficinas e das matérias primas, com comprovada aptidão; 
os companheiros, que eram trabalhadores assalariados; e os aprendizes (crianças e 
adolescentes), que deviam apresentar boa conduta e obediência ao seu mestre. A 
este cabia a transmissão de conhecimentos e a educação moral, impondo-lhes 
castigos quando necessário. 
 Cabe ressaltar aqui que o adolescente tinha sua iniciação aos doze anos, não 
havia remuneração pelo trabalho realizado e estava sujeito a uma jornada de trabalho 
33 
 
 
excessiva. O descontentamento e as revoltas constantes dos trabalhadores começam 
a colocar em xeque o sistema vigente. De acordo com Oliva (2005, P. 36): 
A demorada aprendizagem, a dificuldade cada vez maior de acesso à 
condição de mestre, o despotismo e uma série de outros problemas, 
dentre os quais o início da formação de novas corporações por 
companheiros rebelados (as companhias), com o fito de combater dos 
mestres, fizeram com que o regime entrasse definitivamente em 
declínio (OLIVA, 2005, p.36). 
 É a partir do século XVIII, com a descoberta das máquinas e da eletricidade 
que surgem as fábricas e uma nova modalidade de trabalhador, o assalariado. Essa 
mudança nas relações societárias e na economia chamada Revolução Industrial, vai 
marcar o mundo de forma significativa. 
 O trabalho infantil estava presente ainda nas atividades algodoeiras, nas minas 
e nas indústrias metalúrgicas, setores que exigiam o trabalho pesado sem segurança 
e que muitas vezes levavam a criança a adoecer e não raro à morte. Crianças eram 
retiradas de orfanatos para trabalhar em troca de comida e guarida. Muitas famílias 
pobres, sem outra alternativa de subsistência, ofereciam seus filhos para as indústrias 
em troca de salários precários. A criança trabalhava para complementação dos 
rendimentos, sendo em alguns casos o seu único provedor. 
 No caso brasileiro, o trabalho infantil também esteve presente. As crianças 
pobres sempre trabalharam. Desde o início da colonização, crianças negras e 
indígenas são incorporadas ao trabalho. Quando a Revolução Industrial chega ao 
Brasil, principalmente as indústrias têxteis passam a utilizar esse tipo de mão de obra, 
a custos bem mais baixos, como elemento de exploração e de acumulação de 
riquezas. Em “Pequenos Trabalhadores do Brasil”, Irma Rizzini ao discorrer sobre a 
história do trabalho infantil no Brasil, retrata a utilização da mão de obra infantil por 
grandes indústrias. 
 Levantamentos bibliográficos demonstram que a partir de 1894 demonstram 
que a indústria têxtil foi a que mais recorreu ao trabalho de menores e mulheres no 
processo de industrialização do país. Em 1894, 25% do operariado proveniente de 
quatro estabelecimentos têxteis da capital eram compostos por menores. Em 1912, 
9.216 empregados em estabelecimentos têxteis na cidade de São Paulo, 371 tinham 
menos de 12 anos e 2.564 tinham de 12 a 16 anos. Os operários de 16 a 18 anos 
eram contabilizados como adultos (RIZZINI, 2007, p.377). 
34 
 
 
4 UMA ANÁLISE E REFLEXÃO DO PONTO DE VISTA DO ESTATUTO DA 
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE- ECA 
 Os direitos do Menor ao longo da História, são fatos que a responsabilidade do 
menor foi alvo de constantes discussões, desde os tempos mais remotos, em todos 
os sistemas jurídicos. Admitia-se que o homem não poderia ser responsabilizado 
pessoalmente pela prática de um ato tido como contrário ao julgamento da sociedade, 
sem que para isso tivesse alcançado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental 
e social. Contudo, os menores passaram por exaustivos sacrifícios, inclusive tendo 
que pagar com a própria vida até garantir uma codificação de seus direitos mais 
fundamentais. 
 Assim, na Grécia Antiga, era costume popular que seres humanos fossem 
sacrificados se nascessem com alguma deformidade física. Seguindo-se ainda pela 
época antiga, se faz necessário lembrar a perseguição de Herodes, rei da Judéia, que 
mandou executar todas as crianças menores de dois anos, na tentativa de atingir 
Jesus Cristo, já então conhecido como o rei dos Judeus. Vê-se, assim, que a época 
do paganismo foi concentrada nas agressões e desrespeitos aos direitos 
fundamentais dos menores. 
 O marco histórico do início das garantias às crianças e adolescentes, foi o 
Cristianismo que conferiu direitos àqueles, com vistas ao seu bem-estar físico e 
material, o que hoje raramente ocorre, sobretudo nos países subdesenvolvidos, onde 
sobejam as condições de abandono e pobreza. 
 O Direito Romano exerceu grande influência sobre o direito de todo o ocidente, 
de onde se mantém a noção de que a família se organiza sob um forte poder do pai. 
Contudo, o caminhar dos séculos atenuou esse poder absoluto, que poderia matar, 
maltratar, vender ou abandonar os filhos. Ainda assim, o Direito Romano adiantou-se 
ao estabelecer de forma especifica uma legislação penal adotada aos menores, 
distinguindo os seres humanos entre púberes e impúberes. Para esses últimos era 
reservado o discernimento do juiz, porém tendo este a obrigação de aplicar penas 
bem mais moderadas.Já os menores de até 7 anos eram considerados infantes 
absolutamente inimputáveis. 
 Dentre as sanções atribuídas, destacam-se a obrigação de reparar o dano 
causado e o açoite, sendo, contudo, proibida a pena de morte, como se extrai da Lei 
das XLI Tábuas, assim explicada por MEIRA: (1972, p. 168-171): 
35 
 
 
TÁBUA SEGUNDADA: os julgamentos e dos furtos; Se ainda não 
atingiu a puberdade, que seja fustigado com varas, a critério do pretor, 
e que indenize o dano. TÁBUA SÉTIMA Dos delitos: Se o autor do 
dano é impúbere, que seja fustigado a critério do pretor e indenize o 
prejuízo em dobro (MEIRA 1972, p. 168-171). 
 A idade média, através dos Glosadores, suportou uma legislação que 
determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos pelos crimes por eles 
praticados na infância. O Direito Canônico ateve-se fielmente às diretrizes 
cronológicas de responsabilidade preestabelecidas pelo Direito Romano. No ano de 
1791, com a instituição do Código Francês, viu-se um lento avanço na repressão da 
delinquência juvenil com aspecto recuperativo, com o aparecimento das primeiras 
medidas de reeducação e o sistema de atenuação de penas. 
 De grande importância para a garantia dos direitos dos menores foi a 
Declaração de Genebra, em 1924. Foi a primeira manifestação internacional nesse 
sentido, seguida da não menos importante Declaração Universal dos Direitos da 
Criança, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1959, que 
estabelece dez princípios considerando a criança e o adolescente na sua imaturidade 
física e mental, evidenciando a necessidade de proteção legal. Contudo, foi em 1979, 
declarado o Ano Internacional da Criança, que a ONU organizou uma comissão que 
proclamou o texto da Convenção dos Direitos da Criança, no ano de 1989, obrigando 
aos países signatários a sua adequação das normas pátrias às internacionais. 
 Outro acordo moral em prol dos direitos da criança foram as Regras Mínimas 
de Beijing, adotado pela ONU em 1985. Consagrava-se, pois, uma das mais 
modernas legislações ligadas aos menores pelo mundo, qual fosse, a Lei 8069 de 17 
de julho de 1990, ou simplesmente Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 Juntamente com o Código de Menores e o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, o Estatuto da Criança e do Adolescente entrou em vigor em 13 de julho 
de 1990 substituindo o antigo Código de Menores, Lei Federal nº 6.697 de 10 de 
outubro de1979. Previa o Código de Menores em seu art. 99: “o menor de 18 anos, a 
que se atribua autoria de infração penal, será, desde logo, encaminhado à autoridade 
judiciária”. 
 Esta regra, do antigo Código, mudou. O ECA não fala mais em “menor” e sim 
em “criança e adolescente”, também não se fala mais em “infração penal”, utiliza-se o 
termo “ato infracional” e, por último, o Juiz não é mais a única autoridade competente 
para atuar perante a prática de um ato infracional, o Conselho Tutelar é a nova 
36 
 
 
autoridade administrativa que tem atribuição de se dedicar ao atendimento da criança 
e do adolescente. 
 O Código de Menores era uso meramente “judicial”, enquanto o Estatuto é uma 
lei “pedagógica”, civilizatória. Houve mudança e conteúdo, método, gestão. O Estatuto 
possui um enfoque garantista, emancipador, baseado nos direitos o cidadão. 
 O ECA não confere pena ao adolescente infrator. Levando em conta a situação 
de pessoa em formação e a inimputabilidade, confere medidas socioeducativas e, ou 
protetivas, uma vez que o grande objetivo é a ressocialização do adolescente. Seu 
objetivo principal é o pedagógico. Só o tratamento, a educação, a prevenção, são 
capazes de diminuir a delinquência juvenil. 
4.1 base legal do ECA 
 O Estatuto Da Criança e do Adolescente e a Doutrina da Proteção Integral teve 
seus avanços, em termo de norma e até mesmo político institucional são significativos 
quando se trata de garantia de direitos individuais, coletivos e das liberdades 
fundamentais das crianças e adolescentes, principalmente por prever instrumentos 
efetivos para sua concretização, como os Conselhos de Direitos, os Conselhos 
Tutelares, os Fundos da Criança e, ainda ação civil pública para responsabilização de 
autoridades que, por ação ou omissão, descumprirem o ECA. 
 É basicamente necessário considerar que o ECA ainda é desconhecido por 
boa parte da população e também entre inúmeros operadores do direito, o que 
seguramente é um empecilho a mais para que as substituições introduzidas por este 
instrumento legal sejam garantidas. Mudanças como, por exemplo, com as crianças 
e adolescentes sendo titular de direitos, a superação de uma prática assistencialista 
por uma ação socioeducativa e uma gestão descentralizada, com a efetiva 
participação popular. 
 Configura-se, então, um permanente distanciamento entre as normas e sua 
efetividade. Fica claro que a simples existência de uma lei não é suficiente para a 
transformação da sociedade ou para garantir automaticamente determinados direitos. 
As leis são instrumentos e alternativa para aqueles que demandam pelo direito na 
perspectiva de superação ou mesmo regulação de situações conflitantes. 
 Entretanto, a grande contradição encontra respaldo nas medidas 
socioeducativas contrapostas à noção de pena, que não se reflete na prática. Sobre 
o caráter pedagógico do modelo, o ECA é claro como quando, por exemplo no inciso 
37 
 
 
IV do art., 122 define a internação em estabelecimento educacional como medida 
socioeducativa, que de fato, nunca é efetivada, já que não existem condições 
concretas no país para isto, resultando em medidas cada vez mais repressivas em 
termos de segurança nesses ditos estabelecimentos educacionais. O que temos, 
então, é por um lado a doutrina da proteção integral e por outro uma prática repressiva 
que pauta a realidade brasileira, uma vez que o Estado não fornece conforto e 
proteção ao menor infrator. 
 Por fim têm-se os instrumentos para a proteção integral que a doutrina define 
que é a concepção sustentadora da normativa internacional a respeito dos direitos da 
infância e juventude no Brasil, considera que o Município é a melhor instância para o 
atendimento desses direitos, prevendo inclusive alguns instrumentos para definir e 
conduzir essa política. 
 4.1.1 Os Conselhos de Direitos e os Conselhos Tutelares 
 O art., 88, do ECA disciplina, em seu inciso II, a criação de Conselhos 
Municipais, Estaduais e Nacional. Estes Conselhos devem ser formados em cada 
Município, em cada Estado e ao nível Nacional, garantindo a participação paritária 
para os representantes da sociedade. Para que cada criança e adolescente atinjam 
seus direitos, a norma prevê a criação dos Conselhos Tutelares, que são órgãos que 
retiram dos juizados da infância e da juventude as funções de assistência social 
desjurisdicionalizando as questões sociais envolvendo crianças e adolescentes. 
Casos em que envolvam violação dos direitos de criança e adolescentes são 
encaminhados ao Conselho Tutelar que busca soluções, encaminhando ao Ministério 
Público, desenvolvendo trabalho junto à família e comunidade ou mesmo requisitando 
serviços públicos. As funções atribuídas a esse órgão serão abordadas no decorrer 
do trabalho. 
 4.1.2 Os fundos da Criança e do Adolescente 
 Cada Conselho de Direitos deve ter vinculado a si um fundo, como instrumento 
de captação de recursos. Este fundo financeiro se constituirá apartir de verbas 
públicas, de doações subsidiadas, de multas e dos impostos de renda de pessoas 
físicas e jurídicas. 
 Porém, no ano em que completa 26 anos, o Estatuto da Criança e do 
Adolescente ainda enfrenta dificuldades para fazer funcionar esses fundos cuja 
receita, de recursos públicos e privados, é empregada em programas sociais. Por falta 
38 
 
 
de credibilidade e divulgação do incentivo fiscal disponível, estima-se que, todo ano, 
milhões de reais deixam de ser investidos nesse tema.

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