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Manifestações Culturais Esportivas II Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Ivan Luis dos Santos Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento O Currículo da Educação Física em Ação: Os Esportes “Em Cena na Escola” • O Voleibol “Em Cena” • O Tênis em Cena · Analisar duas experiências pedagógicas que tematizaram o voleibol e o tênis, respectivamente; · Localizar princípios e procedimentos curriculares colocados em ação para a tematização do vôlei e do tênis. OBJETIVO DE APRENDIZADO O Currículo da Educação Física em Ação: Os Esportes “Em Cena na Escola” Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: Os Esportes “Em Cena na Escola” Contextualização Cotidianamente, professores atuantes em redes públicas e privadas da Educação Básica tematizam as práticas esportivas em suas escolas a partir dos princípios e procedimentos didáticos que edificam a proposta cultural da Educação Física. Mui- tas dessas práticas são publicadas na forma de relatos de experiência. Um relato de experiência diz respeito aos registros das atividades de ensino realizadas no decorrer de um determinado período letivo. Documentam “cenas” da trajetória pedagógica que, por sua vez, externam as intenções educativas, os procedimentos adotados no desenvolvimento das atividades e as reflexões sobre os efeitos do processo nos alunos. Não se tratam de narrativas sobre ações bem sucedidas, uma vez que tam- bém intercambiam atividades e procedimentos que não transcorreram conforme o esperado ou que não alcançaram os objetivos propostos. Portanto, os relatos de experiência diferem radicalmente do “faça como eu faço”. Eles fundamentam-se na tentativa de compreender o que levou os seus autores (professores) a tomarem determinadas decisões e como elas refletiram nos alunos. Não por outro motivo, nessa unidade, convidamos você a conhecer um pouco das cenas que fizeram parte de duas tematizações: a tematização do voleibol, de autoria da professora Jacqueline Martins; a tematização do tênis, assinada pelo professor Leandro Souza. Ao (re)ler estas experiências pedagógicas, procure reconhecer: os critérios que os professores adotaram para a escolha do tema a ser estudado pelas turmas; os objetivos traça- dos; os conteúdos trabalhados, bem como se deu a seleção desses conteúdos; as atividades de ensino propostas pelos professores (de que maneira elas ajudaram os alunos a lerem, interpretarem e ressignificarem a manifestação esportiva estuda- da?); as formas de registro e avaliação do processo; como se deu o aprofundamento e ampliação dos conhecimentos; o que foi problematizado; dentre outras questões as quais o convidamos você a (re)formular ao longo de toda a leitura. 8 9 O Voleibol “Em Cena” Apresentaremos a seguir a experiência pedagógica realizada pela professora Jacqueline Martins (MARTINS, 2009) que tematizou o voleibol com as turmas do 5° ano, numa escola da rede pública paulista, durante o ano de 2008. Conta-nos a professora que, todos os anos, em sua escola, antes do início do período letivo, o corpo docente, a coordenação pedagógica e a direção definem coletivamente qual será o tema do projeto político-pedagógico da instituição. “Tal tema serve como referência para a seleção de conteúdos, objetivos e para a elaboração de ações didático-pedagógicas no âmbito dos componentes curriculares das diferentes áreas. [...] No ano de 2008, foram eleitos dois grandes temas, que se constituíram em dois grandes projetos: Projeto Olimpíadas e o Projeto Eleições. A escolha dos projetos baseou-se na importância que esses dois eventos teriam durante o ano de 2008, visto que a mídia explora bastante esses acontecimentos em nossa sociedade”. (MARTINS, 2009, p. 1) Assim sendo, em busca de integrar o componente curricular Educação Física ao projeto Olimpíadas e intencionando ampliar os conhecimentos dos alunos para além do que é transmitido nos meios de comunicação, isto é, o esporte apenas como um espetáculo a ser praticado por atletas, jovens e saudáveis, a professora Jacqueline elegeu os esportes coletivos como temas que contemplariam as discussões propostas nas aulas de Educação Física daquele ano. A professora iniciou o trabalho com um mapeamento acerca dos conhecimentos que alunos acumulavam sobre os esportes coletivos. Esse mapeamento foi feito através de um questionário em que os alunos responderam as seguintes questões: o que é um esporte coletivo? Quais esportes coletivos vocês conhecem? Qual esporte coletivo você costuma praticar? Escolha um dos esportes coletivos que você conhece e escreva o que você sabe sobre ele? Qual esporte coletivo você gostaria de estudar aqui na escola durante as aulas de educação física? “Após analisar as respostas dos questionários, percebemos que os alunos costumam praticar essas modalidades esportivas em outros espaços fora da escola e que possuem um conhecimento muito superficial a respeito dessas modalidades” (MARTINS, 2009, p. 2). Para a escolha da manifestação esportiva a ser tematizada, a professora Jacqueline colocou no quadro (lousa) o nome dos esportes mais citados pelos alunos e, coletivamente, procedeu uma nova análise dos dados, considerando os temas esportivos que já haviam sido estudados pelas turmas nos anos anteriores. Consideradas essas condições, o voleibol foi eleito como tema da cultura corporal a ser investigado. A partir da escolha do Voleibol como tema, a professora realizou um levanta- mento acerca dos conhecimentos que os grupos possuíam sobre aquele esporte. Esse levantamento foi registrado pela professora e pelos alunos em seus cadernos de educação física. “Surgiram algumas regras do voleibol de quadra, algumas brin- cadeiras de voleibol (3 corta), e o nome de alguns movimentos como saque, cortada e bloqueio” (MARTINS, 2009, p. 3). 9 UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: Os Esportes “Em Cena na Escola” Relata a professora Jacqueline que, durante a realizaçãoda conversa sobre os co- nhecimentos a respeito do voleibol, o aluno Gabriel, que possuía um grande conhe- cimento sobre o tema, comentou que sua avó praticava a modalidade adaptada para a terceira idade e que por isso ele sabia bastante a respeito. Mencionou, ainda que ele a acompanhava em alguns treinos. “Perguntei então aos demais alunos de onde eles conheciam aquelas informações sobre o voleibol, e a maioria respondeu que conheciam o esporte da televisão e das brincadeiras de rua” (MARTINS, 2009, p. 3). A professora, então, contando com as sugestões (participação) dos alunos, elaborou uma lista contendo as diferentes formas de se jogar o vôlei. Foram listadas diversas manifestações do voleibol no seu formato “esportivizado” e, também, as brincadeiras relacionadas à prática voleibol. Nesse momento e, levando em consideração todo o exercício dialógico que caracterizou o mapeamento, a professora selecionou alguns objetivos: • Ampliar os conhecimentos acerca do voleibol, para que os alunos possam refletir a respeito de suas práticas e entendê-las enquanto componente da cultura corporal; • Construir suas próprias práticas esportivas adaptando as regras às condições do grupo e do espaço escolar; • Conhecer os significados dessas práticas na sociedade contemporânea; • Saber apreciar, refletir e entender essas práticas aprendendo a respeitar os colegas e as diversidades com relação ao desempenho técnico e as capacidades físicas de cada um. O trabalho teve sequência com a vivência da brincadeira do “3 corta”, uma vez que a maioria dos alunos possuía algum conhecimento acumulado com tal brinca- deira. Surgiram diversas formas de se brincar de “3 corta”. “Após vivenciarmos todas as formas apresentadas – o que perdurou por algumas aulas – cada classe criou as suas regras para esta brincadeira” (MARTINS, 2009, p. 3). Produziu-se, portanto, novos significados às formas de se jogar o “3 corta”, partindo daquelas que foram incialmente compartilhadas, com base nas próprias experiências cultu- rais de cada sujeito. Figura 1 – Alunos vivenciando e ressignificando o “3 corta” Fonte: MARTINS, 2009 10 11 Destaca a professora que, “Mesmo com essas ressignificações, que também tinham como objetivo melhorar a participação dos alunos nas atividades, alguns alunos reclama- vam que a brincadeira não dava muito certo porque era difícil rebater a bola. Após essa reclamação, alguns alunos apresentaram como solução, trocar a bola, colocando uma bola mais leve. Realizamos então a brinca- deira com outros tipos de bola, e a brincadeira ficou melhor”. (MARTINS, 2009, p. 3) Com a intenção de aprofundar os conhecimentos sobre o voleibol, a professora Jacqueline apresentou um vídeo referente a um jogo de voleibol gravado da televisão. Sugeriu ao alunos que, ao longo da expo- sição, observassem o funcionamento do jogo: o rodí- zio, as regras, as “gírias”, os movimentos, as informa- ções que continham no placar, o jogador que usava uma camisa de outra cor. Por vezes, a professora interrompeu o vídeo para explicações, esclarecimen- tos, abertura para novos questionamentos etc. “Após essa atividade, registramos no caderno todas as infor- mações acumuladas para nos ajudar nos momentos das vivências práticas” (MARTINS, 2009, p. 4). Ao propor a vivência do jogo de voleibol, a profes- sora Jacqueline o fez de maneira com que os alunos pudessem experimentar os elementos observados e registrados a partir do vídeo: seis contra seis, com rodízio, saque atrás da linha de fundo, etc. Figura 2 – Alunos assistindo ao vídeo (jogo de voleibol) e registrando as informações Fonte: MARTINS, 2009 Figura 3 – Vivência do jogo de voleibol na quadra da escola Fonte: MARTINS, 2009 11 UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: Os Esportes “Em Cena na Escola” “Porém, o jogo não aconteceu muito bem por causa das dificuldades dos alunos em rebater a bola, não tinham força para que a bola ultrapassasse a rede, e o jogo ficou muito ‘chato’” (MARTINS, 2009, p. 4). Por conta dessas dificuldades, a professora propôs que os alunos procedessem mudanças: nas regras, na quantidade de participantes em cada equipe, nas demarcações da quadra (por exemplo, o local do saque), no número máximo de toques na bola, no sistema de pontuação, dentre outras. Conta Jacqueline que, nesse momento, “[...] cada turma criou as suas adaptações, de acordo com as necessidades do grupo”. (MARTINS, 2009, p. 4) Durante as vivências, os alunos citavam, recorrentemente, alguns termos téc- nicos e gírias do voleibol, exatamente como ouviram durante a narração do vídeo assistido. Atenta a isso, a professora solicitou aos alunos que realizassem uma pes- quisa sobre esses termos e gírias, com a finalidade de garantir o aprofundamento desses conhecimentos sobre o voleibol. Durante duas aulas, professora e alunos debruçaram-se na discussão dos dados das pesquisas. Estas, também “trouxeram uma série de elementos sobre outras formas de manifestação do voleibol [...] então, passamos a estudar o voleibol de praia” (MARTINS, 2009, p. 5). A professora iniciou o trabalho com o voleibol de praia também com a apresentação de um vídeo (contendo trechos de jogos de campeonatos nacionais e internacionais). A partir desse elemento disparador, Jacqueline pediu para que os alunos fossem anotando as diferenças entre o vôlei de quadra e o vôlei de praia. “Surgiram as seguintes diferenças: número de participantes, número de sets, número de pontos, roupas, espaço onde é praticado. Muitos alunos afirmaram que quando iam a praia costumavam jogar o vôlei com seus amigos e familiares, mas nunca com rede e quadra como visto no vídeo. Por não possuir na escola nenhum espaço com areia que possibilitasse uma vivencia mais próxima do vôlei de praia, apenas adaptamos as regras do vôlei para uma quadra menor, com apenas dois jogadores e com um número de pontos menor”. (MARTINS, 2009, p. 5). Durante as vivências, os alunos, em especial os meninos, insistiam em tentar defender a bola com os pés, dizendo que, “na praia, também se jogo assim”. “[...] Como já tínhamos listado o futevôlei dentre as manifestações do voleibol, na aula seguinte, trouxe imagens de mulheres praticando esta modalidade” (MARTINS, 2009, p. 6). Conta-nos a professora que, ao exibir as imagens dessa prática esportiva, alguns alunos ficaram surpresos com o fato das mulheres também jogarem o futevôlei. Ao encaminhar as vivências com o futevôlei, devido às condições do grupo e dos espaços da escola, a professora sugeriu que estas acontecessem com um maior número de pessoas em cada equipe, para melhorar o andamento do jogo. Durante esse processo, notava-se que muitas meninas mantinham mais afastadas, “[...] talvez, pela pouca intimidade com os movimentos vindos do futebol. Então, tentamos utilizar diferentes tipos de bola, para que a realização do jogo ficasse melhor”. (MARTINS, 2009, p. 5) 12 13 Figura 4 – Vivência do jogo de futevôlei na quadra da escola Fonte: MARTINS, 2009 Nesses momentos estiveram presentes nas aulas questões relacionadas a partici- pação das mulheres em esportes tidos como masculinos. Muitos meninos acredita- vam que por causa das dificuldades das meninas nas práticas elas deveriam ficar de fora da atividade. “Com um olhar atento a esses acontecimentos, realizamos então discussões a respeito dessas questões de preconceito de gênero dentro das práticas esportivas”. (MARTINS, 2009, p. 5) Dando continuidade ao desenvolvimento da tematização do voleibol, a profes- sora Jacqueline retomou a fala do aluno Gabriel sobre a prática de vôlei da sua avó. Pediu para que ele contasse aos demais colegas das turmas como “funcio- nava” o voleibol adaptado à terceira idade, uma vez que acompanhava muitos treinos in loco. Durante a sua explicação, “[...] o Gabriel demonstrou conhecere gostar bastante dessa prática e então fomos realizá-la também, tal como nos contou” (MARTINS, 2009). O vôlei adaptado à terceira idade possui regras bem próximas daquelas do voleibol de quadra, contando com uma grande particularidade: a bola não pode ser rebatida, mas sim agarrada pelos atletas. Após algumas aulas de apresentações (pelo Gabriel) e vivências do jogo vôlei adaptado, a professora decidiu escrever um bilhete para a avó do Gabriel, convidando-a para que fosse até a escola contar suas experiências enquanto praticante dessa manifestação esportiva. “Ela (avó do Gabriel) optou por entrar em contato – via telefone – comigo. Após conversarmos, e a pedido dela, liguei para o seu professor de vôlei. Com este último, levantei a possibilidade da realização de uma visita de toda a equipe da terceira idade na escola, para que fizessem um jogo demonstrativo. [...] Achei interessante que essa visita ficasse para o final do semestre, como atividade de fechamento. Tal fato, ratificaria a ideia inicial desta tematização em mostrar que o voleibol não é só aquele que passa na televisão e nas Olimpíadas. [...] que a prática do voleibol pode ser de todos, desde a criança, o jovem, os adultos, os atletas, os idosos e as pessoas com deficiências”. (MARTINS, 2009, p. 6) 13 UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: Os Esportes “Em Cena na Escola” Com a confirmação da visita, a professora Jacqueline elaborou junto aos alunos um roteiro com perguntas, de maneira a subsidiar a conversa (entrevista) com os atletas da terceira idade. “[...] as questões giravam em torno das dificuldades que eles possuíam para praticar os esportes, com qual idade eles começaram a jogar, porque escolheram o voleibol, quais outras atividades eles faziam no seu dia a dia [...]”. (MARTINS, 2009, p. 6) É bem verdade que, com o passar das aulas, foram aflorando outras questões relacionadas aos idosos: “dificuldades de locomoção, dos preconceitos que eles sofrem na sociedade, sobre o que era ser ‘velho’ para a sociedade” (MARTINS, 2009, p. 6). Foi, então, que a professora Jacqueline optou por apresentar aos alunos a modalidade do voleibol sentado. “Problematizamos sobre o que significa ser uma pessoa com deficiência em nossa sociedade, falamos sobre as ‘deficiências’, bem como sobre algumas modali- dades paraolímpicas”. Dentre as atividades de ensino propostas, a professora apre- sentou um vídeo com as imagens e jogo, propriamente dito, do voleibol sentado. “Os alunos vibraram com os lances, pois eles não imaginavam que pessoas que não andavam poderiam jogar o voleibol”. (MARTINS, 2009, p. 7) Ao propor situações de vivencias do voleibol sentado para as turmas, a profes- sora buscou fazer com que os alunos experimentassem alguns movimentos carac- terísticos do jogo. Figura 5 – Vivência do jogo de vôlei sentado na quadra da escola Fonte: MARTINS, 2009 Nas vivências do vôlei sentado, os alunos tiveram algumas dificuldades, “pois se movimentar sentado não era fácil, com o agravante que a nossa quadra é áspera 14 15 e isso dificultava ainda mais a movimentação dos alunos” (MARTINS, 2009, p. 7). Foi, então, que uma aluna sugeriu realizar o jogo sentado, mas, tal como no “jogo dos idosos”, a bola deveria ser agarrada ao invés de ser rebatida, para facilitar o andamento das partidas. A sugestão foi aceita pelo grupo e, como destaca a professora Jacqueline, “o andamento do jogo melhorou, mas ainda permaneciam as dificuldades inerentes ao deslocamento pelo espaço da quadra” (MARTINS, 2009, p. 7). Aproveitando-se dessa situação, a professora buscou problematizar com os alunos sobre a “posição de deficientes” assumida momentaneamente por eles durante as vivências do vôlei sentado, bem como sobre as dificuldades e superações percebidas. Problematizou, também, o fato da mídia só apresentar um “tipo” de voleibol que, por vezes, acaba induzindo as pessoas a acharem que a prática do voleibol é restrita aos atletas andantes. Aproximando-se da data combinada para a visita do time de voleibol de idosos da avó do aluno Gabriel, o técnico do time contatou a professora Jacqueline avisando-a que, não mais compareceriam, por conta de um campeonato a ocorrer no respectivo dia. “Como já havíamos preparado as questões para a entrevista, e havíamos pensado na atividade como o fechamento do projeto, fui em busca de outro time de voleibol de idosos para realizar a visita a escola. Conseguimos então agendar uma visita de uma equipe de vôlei de idosos do município de Vargem Grande um pouco distante da nossa escola, mas que se dispuseram a vir apresentar o esporte para os alunos, trazendo um time masculino e um time feminino”. (MARTINS, 2009, p. 7) No dia da visita, os horários das aulas (e intervalos) foram reorganizados, de maneira com que houvesse tempo suficiente para as todas as turmas do 5° ano participassem da atividade. Conta-nos a professora que, “[...] esperávamos apenas umas 12 pessoas, pois disseram que compa- receriam com duas equipes, mas fomos surpreendidos com a chegada de mais ou menos 40 idosos. [...] Segundo o técnico, professor Marcelo, todos idosos quiseram participar dessa atividade, pois nunca haviam sido convidados para ensinarem a modalidade a ninguém [...]”. (MARTINS, 2009, p. 8) Na quadra, os alunos das três turmas do 5° ano foram posicionados pela pro- fessora Jacqueline ao redor do espaço de jogo. Antes do jogo propriamente dito, os idosos se apresentaram para os alunos, realizaram aquecimento e alongamento, sob a regência do técnico. As partidas aconteceram entre equipes mistas, compos- tas exclusivamente pelos idosos. Num segundo momento, participaram os alunos, os professores e os funcionários da escola. 15 UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: Os Esportes “Em Cena na Escola” Figura 6 – Vivência do jogo de vôlei sentado na quadra da escola Fonte: MARTINS, 2009 Após a vivência do voleibol adaptado com os idosos, a professora Jacqueline conduziu todos para o pátio, onde os alunos (numa roda de conversa) puderam entrevistar os idosos, a partir das questões previamente elaboradas. Outras questões surgiram no momento. “Os idosos contaram momentos de suas vidas, fizeram recordações dos seus tempos de crianças, contaram como e porque entraram no esporte, quais são as atividades que eles realizam hoje nas suas vidas. Alguns dos depoimentos, apontaram aquele como o momento mais feliz de sua vida, pois nunca haviam entrado em uma escola para ensinar alguma coisa aos alunos, e que isso mostrava que os idosos não são velhos que não servem para mais nada”. (MARTINS, 2009, p. 9) Para finalizar o projeto, na aula seguinte a visita, a professora promoveu dis- cussões e pediu para que os alunos registrassem o que tinham mais gostado e aprendido com todo o projeto, incluindo a experiência com os idosos. Os alu- nos escreveram textos e fizeram desenhos que, posteriormente, compuseram um portfólio da turma. Durante toda a realização do projeto, os alunos e a professora realizaram regis- tros em seus cadernos de educação física, frutos de pesquisas, entrevistas, elabo- ração de textos e relatos das experiências práticas. Essa diversidade de formas de registros permitiu à Jacqueline avaliar continuamente o processo de ensino e, des- sa forma, (re)orientar a rota da tematização, incrementando conteúdos e atividades de ensino que respondessem aos discursos e representações postos em circulação pelas turmas. “[...] ao final, pudemos perceber que conseguimos atingir alguns dos objetivos propostos no início do trabalho. [...] acreditamos ainda que colaboramos efetivamente com aqueles propostos no projeto coletivo da escola para o ano de 2008, que diziam respeito às Olimpíadas e às 16 17 eleições. [...] Superamos, dessa forma, o péssimo legado histórico da educação física escolarficar restrita a colaborações inócuas, tais como realização de campeonatos, jogos e gincanas, quando da tratativa destes assuntos”. (MARTINS, 2009, p. 10) O Tênis em Cena Apresentaremos a seguir a experiência pedagógica realizada pela professor Leandro Souza (SOUZA, 2016) que tematizou o tênis com as turmas do 5° ano, numa escola da rede pública estadual paulista, localizada na periferia da cidade de São Paulo, de fevereiro a dezembro de 2015. Conta-nos o professor que, antes mesmo do início do ano letivo, realizou um mapeamento do entorno da escola, buscando reconhecer as práticas corporais existente na comunidade, bem como os espaços utilizados para tais. Na escola, nas primeiras semanas de aula, o professor deu continuidade ao “mapeamento geral” a partir um levantamento junto aos alunos sobre “quais práticas corporais (danças, lutas, ginásticas, esportes e brincadeiras) os educandos já haviam estudado nas aulas de Educação Física” e, também, sobre quais práticas nunca tinham trabalhado (SOUZA, 2016, p. 2). Após cruzar e analisar esses dados junto com os alunos e, considerando a ine- xistência de um projeto político-pedagógico efetivo (atualizado, discutido coletiva- mente, etc.) na instituição, o professor Leandro definiu como tema o Tênis, uma vez que: [...] “dentre as práticas corporais não vivenciadas na escola, o tênis foi o mais lembrado pelos alunos e, ao mesmo tempo, narrado como uma prática que não lhes pertencia, dado o seu caráter elitizado” (SOUZA, 2016, p. 3). Uma vez definido o tema de estudo, o professor encaminhou um mapeamento específico junto aos alunos, com o objetivo de conhecer quais eram os conheci- mentos acumulados em torno do tênis. “Para obter tais informações, perguntei aos educandos – O que você lembra quando a palavra é tênis?” Figura 7 – Registro do professor na lousa, a partir das repostas dos alunos a questão: O que você lembra quando a palavra é tênis? Fonte: SOUZA, 2016 17 UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: Os Esportes “Em Cena na Escola” A palavra “tênis” fez com que os educandos se lembrassem de: faixa na cabeça, calçado, raquete, bola, rede, internet, boné, uniforme, shorts, sofá, sweater (“roupas de rico”), quadra, TV, campo, Rio Open, Open 300, regras, saibro, bolinha, Guga, Feijão (jogadores brasileiros de tênis). “Enquanto os educandos citavam os nomes de alguns tenistas, um dos educandos questionou – Só homem que joga tênis?” (SOUZA 2016, p. 4). Concluída essa fase do mapeamento com os estudantes, o professor solicitou que eles desenhassem no caderno de Educação Física uma quadra de tênis. A partir dos desenhos, o professor planejou coletivamente algumas situações de vivência do tênis: “[...] reconhecemos os materiais disponíveis na escola; [...] definimos como seriam os jogos e suas regras (pontuação, tempo e espaço do jogo)” (SOUZA, 2016, p. 4-5). Figura 8 – Desenho elaborado por uma aluno e primeiras situações de vivência do tênis Fonte: SOUZA, 2016 Descreve o professor Leandro que, durante a vivência, os educandos contavam os pontos da seguinte forma - 1, 2 e 3, e, em seguida, entrava uma nova dupla para jogar. Na sequência, optaram por manter o vencedor na quadra. Quanto a dinâmica do jogo, instituíram como regra que a bolinha não poderia “quicar” mais do que duas vezes seguidas no chão. Após algumas aulas de vivências, e dadas as cenas registradas no diário de campo, o professor Leandro entendeu ser importante levar os alunos para a sala de vídeo, para que assistissem alguns trechos de jogos de tênis (previamente sele- cionados): “pedi aos educandos que observassem: o começo do jogo, a pontuação dos jogos, posicionamento dos/as jogadores/as, gestos realizados pelos atletas, participação dos árbitros e dos torcedores” (SOUZA, 2016, p. 6). Ao longo da atividade, outras questões surgiram por parte do alunos: “O jogador representa um time ou um país? Qual é o nome da pessoa que criou o tênis? O tênis surgiu como diversão? Quanto tempo dura um jogo de tênis? Se a raquete quebrar durante o jogo, o que acontece? Se o jogador se machucar e não conseguir mais jogar o que acontece? Tem diferença de pontos, quando a bola bate em lugares diferentes da quadra? Por que o jogador flexiona a perna no momento do saque?” (SOUZA, 2016, p. 7) 18 19 Mediante ao que fora observado nos vídeos, bem como das questões que emer- giram dos alunos, o professor Leandro propôs novas vivências com a modalidade. Para tal, sugeriu que os alunos inserissem, inicialmente, as demarcações na quadra e incorporassem algumas sistemáticas de pontuação. Sobre esta última, um aluno fez a seguinte pergunta: Por que a pontuação do tênis não é igual à do futebol? “Registrei esta fala do aluno e, procurei pesquisar a respeito para entender melhor a origem deste sistema de pontuação” (SOUZA, 2016, p. 12). Dentre outras atividades de ensino propostas pelo professor, apareceram: leitura do livro de regras da Federação Paulista de Tênis (FPT). Nesse momento, os alunos entenderam, por exemplo, o posicionamento do jogador no momento do saque. “Ao lerem as regras, perceberam que no comentário da regra 8, o rece- bedor do saque pode se posicionar em qualquer local (dentro ou fora do espaço demarcado pelas linhas) desde que seja no seu espaço de jogo. [...] Entretanto, ao relembrarmos dos vídeos assistidos, entendemos que o re- cebedor na maioria das vezes se posiciona fora da quadra para ter maiores chance de receber o saque com sucessos”. (SOUZA, 2016, p. 14) Durante as aulas em que os alunos vivenciavam o tênis na quadra da escola, o professor solicitou uma pesquisa sobre a “origem do tênis”, mais especificamente, delegou aos grupos de trabalho “a observação dos seguintes elementos históricos: país/região de origem, ano, como eram os jogos, quem eram as pessoas que jogavam e por quais motivos o jogo foi criado” (SOUZA, 2016, p. 15). Os dados trazidos pelos alunos somaram-se àqueles resultantes das pesquisas produzidas pelo professor em torno dessa mesma temática. Confrontou-se o local de origem do tênis: Grécia antiga, França ou Inglaterra? “Nesse processo, conhecemos, por exemplo, que um dos precursores do tênis foi o jeu de paume (jogo da palma da mão), prática corporal originada por volta do século XII na França, apesar de alguns historiadores citarem diversas histórias de que o jeu de paume deriva de outros jogos do Grécia. [...] Contudo, por volta do ano de 1870 surge uma nova versão do tênis Grã- Bretanha: “o jogo de tênis real”. Este era jogado dentro dos mosteiros. [...] os nobres, ao apropriarem-se desta prática corporal passaram a oferece-la nos seus próprios quintais (gramados), como forma de entretenimento aos convidados (visitantes) que recebiam. [...] Jogado principalmente pela classe alta, o tênis manteve padrões de comportamentos controlados”. (SOUZA, 2016, p. 17-9) Percebendo o interesse e a motivação dos alunos por conhecer o Jeu de paume, o professor Leandro propôs situações de vivências, dando aos alunos possibilidades para ressignificação deste jogo. “Nos primeiros jogos, jogamos sem utilizar nenhum acessório ou implementos para as mãos e nas vivencias seguintes passamos utilizar luvas e outros objetos (chinelos, tênis e meias) como implementos. Conforme a história do jeu de paume, os jogos eram praticados de diversas formas – individual, duplas, trios, quartetos com e sem implementos nas mãos. Experimentamos algumas delas”. (SOUZA, 2016, p. 20) 19 UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: Os Esportes “Em Cena na Escola” Figura 9 – Vivência do Jeu de Paume na quadra da escola Fonte: SOUZA, 2016 Após algumas situações de vivências com o Jeu de Paume, o professor per- guntou aos educandos o que eles tinham achado de jogar sem as raquetes. [...] “Alguns alunos disseram que era melhor jogar sem a raquete,porque eles conse- guiam jogar melhor. Outros comentaram que jogar sem a raquete doía às mãos” (SOUZA, 2016, p. 20). Os dados históricos levantados pelo professor também ajudaram a desmistificar o formato do sistema de pontuação do tênis (questão que já havia sido posta por um aluno, ainda no início do projeto). Conta-nos Leandro que, ao etnografar o tênis deparou-se com um material bibliográfico dizendo que o sistema de pontuação no tênis – 15, 30, 40 e game – é uma herança da astronomia antiga que utilizava um “sextante” para medir a trajetória do sol. Dividido em quatro partes, múltiplos de 15°, o “sextante” corresponde à medida de uma circunferência (360°) dividida por seis. Por isso, um set tem seis games, sendo que a pontuação adotada nos princípios do tênis seguiu essa prática. “Foi nesse momento que os alunos me questionaram sobre o que seria um sextante. Então, como forma de ampliação dos conhecimentos, busquei uma imagem, um vídeo e um artigo de revista, os quais lemos em sala de aula” (SOUZA, 2016, p. 27). “Ratificando a ideia que as histórias são diversas e que, portanto, são discursos possíveis (provisórios) atuando para a produção da realidade, um aluno deparou-se com outras explicações sobre o sistema de pontuação. [...] A pesquisa do aluno Eduardo, por exemplo, revelou que, durante um 20 21 dado período, a cada ponto conquistado, o saque poderia ser realizado 15 jardas à frente. Desta forma, a pontuação corresponderia ao quantitativo de jardas avançadas durante o ‘serviço’. (SOUZA, 2016, p. 28) Após o retorno do recesso escolar (férias), o professor Leandro perguntou aos educandos se eles haviam praticado ou acompanhado algum jogo de tênis pela televisão. Muitos responderam, afirmativamente e, logo, foram contando detalhes daquilo que observaram ou experimentaram. Um dos alunos mencionou que, ao assistir um jogo, notou que o jogador – o qual não se lembrava do nome – “colocava (passava) a mão na bunda, no cabelo e depois cheirava, antes de realizar o saque”. O professor perguntou a turma se saberiam explicar o real motivo daquilo que fora observado. “Os educandos levantaram diversas hipóteses: coceira, hemorroidas, mania, gesto feio e sem educação. Neste momento é perceptível notar as diferentes leituras que os educandos fazem sobre os gestos esportivos, bem como, os significados” (SOUZA, 2016, p. 30-1). Por conta desta e de outras falas que se remetiam a personagens dos tênis, o professor Leandro optou por problematizar as iden tidades dos jogadores (tenistas), de maneira a permitir uma análise dos processos sócio-histórico-políticos envol- vidos nesta produção. Para tal, lançou mão das seguintes questões: Quais são os jogadores de tênis que você conhece? Como são? O que sabem deles? Figura 10 – Registros feitos na lousa pelo professor, a partir das respostas dos alunos Fonte: SOUZA, 2016 Dentre outras observações realizadas pela turma, a aluna Manuele fez a seguinte colocação: “Professor, o estranho é que todas as vezes que eu assisto os jogos só vejo pessoas brancas. Olho na quadra, na arquibancada e não vejo ninguém negro. Só existe jogador de tênis branco?”. Sensível a esta colocação, o professor Leandro devolveu a questão de Manuele para o restante dos alunos. O aluno Pedro respondeu: “[...] conheço um jogador negro com cabelo de capoeira ou rastafári que, inclusive, venceu o Rafael Nadal”. (SOUZA, 2016, p. 32). Ao final dessa aula, o professor anunciou que tentaria trazer o jogo citado por Pedro para que todos pudessem conhecê-lo. 21 UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: Os Esportes “Em Cena na Escola” “Optei por levar dois vídeos, referentes aos seguintes jogos - Dustin Brown x Rafael Nadal e Safarova x Wozniacki. [...] Ao assistir os vídeos, os educandos puderam ver os jogadores, bem como outros personagens do tênis (árbitros, gandulas, torcedores, narradores e técnicos) e apontar algumas diferenças entre o jogo masculino e feminino, além de perceber a presença de atletas negros”. (SOUZA, 2016, p. 34) As observações sobre os vídeos feitas pelos alunos destacaram as características físicas e estratégias de jogo utilizadas pelos atletas. Também surgiram questões, tais como: “Os gestos que os jogadores fazem têm nome? Por que as mulheres jogam de vestido? Por que o Nadal e Brown jogaram de roupa branca? É tudo branco nesse negócio!” (SOUZA, 2016, p. 35). Diante destes fatos, o professor, num primeiro momento, optou por aprofundar os conhecimentos sobre os “golpes” do tênis para que, posteriormente, voltasse a problematizar a (não/pouca) presença do negro nessa manifestação cultural esportiva. O professor entregou um texto que ilustrava os golpes mais utilizados no tênis, bem como, descrevia as suas formas de execução. Então, “pedi que, com base no texto e nos vídeos assistidos, todos experimentassem alguns golpes livremente. [...] Ao longo das vivências os alunos reproduziam alguns deles e criavam muitos outros” (SOUZA, 2016, p. 36). Leandro propôs o confronto dos nomes dos golpes anunciados no texto com aqueles criados pelos alunos. “Nas aulas subsequentes realizamos algumas partidas utilizando os golpes. [...] Enquanto alguns jogavam, outros alunos eram convidados a ler o jogo e a identificar os golpes” (SOUZA, 2016, p. 39). Tudo era registrado no caderno de Educação Física e, a seguir, discutido coletivamente. Por exemplo, os registros elucidaram que os golpes mais presentes nas partidas entre os alunos eram o forehand e o backhand, o que mereceu um aprofundamento sobre ambos. Com o objetivo de retomar a problematização sobre a identidade do negro no tênis, sobretudo, a partir dos questionamentos anteriormente postos pelos alunos, o professor Leandro sugeriu uma investigação a respeito da vida dos atletas Dustin Brown e Rafael Nadal, mais especialmente, sobre o percurso de ambos no acesso ao profissionalismo. “Os educandos apontaram que Dustin Brown foi quem encontrou mais dificuldades para chegar ao profissionalismo quando comparado ao Rafael Nadal. Segundo eles, ao pesquisarem as trajetórias percorridas por cada atleta foi possível perceber como elas são tão diferentes. [...] Rafael Nadal nasceu em 1986, na Espanha, em uma família rica, esportista e conhecida pela mídia, devido seus tios serem jogadores de futebol e de tênis. Nadal começa a jogar entre 3 e 4 anos de idade; aos 5 anos ele passa a treinar no clube com seu tio; aos 12 anos já tinha conquistado seus primeiros títulos (europeu e espanhol); jogou o primeiro jogo na categoria profissional no ano de 2002. [...] Brown é atleta de dupla nacionalidade 22 23 (alemão-jamaicano). Nascido em 1984, na Alemanha; filho de mãe alemã e pai jamaicano, aos 8 anos de idade escolhe o tênis como seu esporte preferido. Aos 11 anos, vai morar na Jamaica, onde sem recursos financeiros passa a treinar em quadras públicas da cidade; Brown recebeu quase nenhum investimento da Confederação Jamaicana de Tênis, fato que, em 2004, o força a voltar para a Alemanha para conseguir pontuação no ranking; a bordo de uma van (Komby), Brown viaja pela Europa, com a intenção de participar de diversos torneios, acumulando pontos para ranking sem, no entanto, poder gastar muito dinheiro; torna-se jogador profissional somente em 2010 (SOUZA, 2016, p. 42-4). Os alunos tinham como hipótese inicial a ideia de que a baixa incidência de negros no tênis poderia ser decorrente da falta de interesse destes para com a modalidade – por acharem o esporte chato. Ao problematizar esse discurso, dando a condição dos alunos compararem os percursos de vida de um tenista branco e de um negro, o professor Leandro abriu espaço para novas significações sobre os sujeitos praticantes do tênis, desconstruindo algumas representações, até então, naturalizadas. Saber a respeito da construção histórica dessa manifestaçãotambém foi determinante para o processo de desconstrução, tendo em vista a fala de um dos alunos, registrada pelo professor Leandro. Segundo este aluno, “o tênis aparece mais entre as pessoas brancas por causa de suas origens nos palácios, na alta sociedade. Isso se perpetua até os dias atuais” (SOUZA, 2016, p. 44). No decorrer do projeto, o professor Leandro convidou um técnico de tênis (indicado por uma professora-colega da própria escola de Leandro). “Preparamo- -nos, elaborando um roteiro de perguntas, a partir das dúvidas e curiosidades que ainda carregávamos sobre esta manifestação esportiva” (SOUZA, 2016, p. 45). “Na semana seguinte recebemos a visita do professor (de tênis) Dino que respondeu todas as questões propostas pelos educandos e se dispôs para conduzir algumas vivências. Além de contribuir com seus ricos comentários, o professor nos doou bolinhas de tênis para utilizarmos em nossas aulas”. (SOUZA, 2016, p. 47) Figura 11 – Alunos recebendo a visita do técnico de tênis (Dino) na escola Fonte: SOUZA, 2016 23 UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: Os Esportes “Em Cena na Escola” Ao longo de sua conversa com os alunos, Dino respondeu diversas questões, a respeito da prática esportiva “tênis”: Como você se tornou professor de Tênis? Por que você escolheu ser professor de tênis e não professor de Educação Física na escola? Nos locais em que você trabalha há pessoas negras e pobres que jogam tênis? Por que tem jogadores que fazem coisas estranhas antes de realizar o saque? Quais os nomes das batidas/golpes que os jogadores realizam no tênis? Como os técnicos orientam os jogadores durantes os jogos? Por que há poucos jogadores negros no tênis? Etc. Na aula posterior à visita, o professor Leandro voltou a conversar com as turmas no sentido de recordar algumas falas do professor Dino e, também, para saber mais a respeito da opinião dos alunos sobre a atividade encaminhada. “Os alunos se lembraram da problemática levantada por Dino, sobre a ausência de espaços públicos para a prática do tênis. Recordaram-se também, de alguns nomes de atletas nacionais os quais foram citados: Gustavo Kuerten, Fernando Meligeni, Maria Esther Bueno. [...] Aproveitei para disponibilizar algumas imagens destes atletas e, com elas, constituímos um mural de fotos. [...] Também assistimos o vídeo ‘o ponto de partida’ - documentário que mostra a origem e o funcionamento de um projeto social ‘Jogue Tênis’ e conta com os comentários de diversos atletas sobre a inserção da modalidade nos espaços públicos”. (SOUZA, 2016, p. 54) À pedido dos alunos, já no desfecho do ano letivo, o professor Leandro promo- veu alguns jogos amistosos de tênis entre as turmas da escola. Foram realizados jogos mistos “de simples” e “de duplas”. Figura 12 – Jogos amistosos de tênis entre as turmas da escola Fonte: SOUZA, 2016 Ao término do ano, o professor solicitou aos alunos um registro individual, em que poderiam expressar suas percepções a respeito da tematização do tênis. 24 25 Figura 13 A – Registro fi nal, produzido por um aluno, ao término da tematização do tênis Fonte: SOUZA, 2016 Figura 13 B – Registro fi nal, produzido por um aluno, ao término da tematização do tênis Fonte: SOUZA, 2016 25 UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: Os Esportes “Em Cena na Escola” Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Futebol e Copa do Mundo um Olhar Diferente https://goo.gl/L27wRL Educação Física no Maternal II: Sem essa de “Galinhão” https://goo.gl/Jk1VBN O Atletismo nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos https://goo.gl/i9QVQW Subiu, Arremessou e... Entre o arremesso e a cesta há muito que se investigar! https://goo.gl/QJDz1p Futebol Americano: Borrando Fronteiras https://goo.gl/1Wzs1u 26 27 Referências MARTINS, J. C. J. 1,2,3, Corta! Todos podem jogar vôlei? E.E. Alcides da Costa Vidigal. São Paulo, SP. In: Relatos de Experiência. Grupo de Pesquisas em Educação Física Escolar. Faculdade de Educação, USP/ SP, p. 1-10, 2009. Disponível em: < http://www.gpef.fe.usp.br/teses/jacque_09.pdf >. Acesso em fev. 2017. SOUZA, L. R. S. Tênis: um lob de direita. EE Heidi Alves Lazzarini. São Paulo, SP. In: Relatos de Experiência. Grupo de Pesquisas em Educação Física Escolar. Faculdade de Educação, USP/ SP, p. 1-59, 2016. Disponível em: < http://www. gpef.fe.usp.br/teses/Leandro_Souza_01.pdf>. Acesso em marc. 2017. 27
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