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manifestacoes culturais IV

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Manifestações 
Culturais Esportivas II
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Ivan Luis dos Santos 
Revisão Textual:
Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento
O Currículo da Educação Física em Ação: 
Os Esportes “Em Cena na Escola”
• O Voleibol “Em Cena”
• O Tênis em Cena
 · Analisar duas experiências pedagógicas que tematizaram o voleibol 
e o tênis, respectivamente;
 · Localizar princípios e procedimentos curriculares colocados em ação 
para a tematização do vôlei e do tênis.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
O Currículo da Educação Física em Ação: 
Os Esportes “Em Cena na Escola”
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: 
Os Esportes “Em Cena na Escola”
Contextualização
Cotidianamente, professores atuantes em redes públicas e privadas da Educação 
Básica tematizam as práticas esportivas em suas escolas a partir dos princípios e 
procedimentos didáticos que edificam a proposta cultural da Educação Física. Mui-
tas dessas práticas são publicadas na forma de relatos de experiência. Um relato de 
experiência diz respeito aos registros das atividades de ensino realizadas no decorrer 
de um determinado período letivo. Documentam “cenas” da trajetória pedagógica 
que, por sua vez, externam as intenções educativas, os procedimentos adotados 
no desenvolvimento das atividades e as reflexões sobre os efeitos do processo nos 
alunos. Não se tratam de narrativas sobre ações bem sucedidas, uma vez que tam-
bém intercambiam atividades e procedimentos que não transcorreram conforme o 
esperado ou que não alcançaram os objetivos propostos. Portanto, os relatos de 
experiência diferem radicalmente do “faça como eu faço”. Eles fundamentam-se 
na tentativa de compreender o que levou os seus autores (professores) a tomarem 
determinadas decisões e como elas refletiram nos alunos. Não por outro motivo, 
nessa unidade, convidamos você a conhecer um pouco das cenas que fizeram parte 
de duas tematizações: a tematização do voleibol, de autoria da professora Jacqueline 
Martins; a tematização do tênis, assinada pelo professor Leandro Souza. Ao (re)ler 
estas experiências pedagógicas, procure reconhecer: os critérios que os professores 
adotaram para a escolha do tema a ser estudado pelas turmas; os objetivos traça-
dos; os conteúdos trabalhados, bem como se deu a seleção desses conteúdos; as 
atividades de ensino propostas pelos professores (de que maneira elas ajudaram os 
alunos a lerem, interpretarem e ressignificarem a manifestação esportiva estuda-
da?); as formas de registro e avaliação do processo; como se deu o aprofundamento 
e ampliação dos conhecimentos; o que foi problematizado; dentre outras questões 
as quais o convidamos você a (re)formular ao longo de toda a leitura.
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O Voleibol “Em Cena”
Apresentaremos a seguir a experiência pedagógica realizada pela professora 
Jacqueline Martins (MARTINS, 2009) que tematizou o voleibol com as turmas do 
5° ano, numa escola da rede pública paulista, durante o ano de 2008. Conta-nos a 
professora que, todos os anos, em sua escola, antes do início do período letivo, o 
corpo docente, a coordenação pedagógica e a direção definem coletivamente qual 
será o tema do projeto político-pedagógico da instituição.
“Tal tema serve como referência para a seleção de conteúdos, objetivos 
e para a elaboração de ações didático-pedagógicas no âmbito dos 
componentes curriculares das diferentes áreas. [...] No ano de 2008, 
foram eleitos dois grandes temas, que se constituíram em dois grandes 
projetos: Projeto Olimpíadas e o Projeto Eleições. A escolha dos projetos 
baseou-se na importância que esses dois eventos teriam durante o ano de 
2008, visto que a mídia explora bastante esses acontecimentos em nossa 
sociedade”. (MARTINS, 2009, p. 1)
Assim sendo, em busca de integrar o componente curricular Educação Física 
ao projeto Olimpíadas e intencionando ampliar os conhecimentos dos alunos para 
além do que é transmitido nos meios de comunicação, isto é, o esporte apenas 
como um espetáculo a ser praticado por atletas, jovens e saudáveis, a professora 
Jacqueline elegeu os esportes coletivos como temas que contemplariam as 
discussões propostas nas aulas de Educação Física daquele ano.
A professora iniciou o trabalho com um mapeamento acerca dos conhecimentos 
que alunos acumulavam sobre os esportes coletivos. Esse mapeamento foi feito 
através de um questionário em que os alunos responderam as seguintes questões: 
o que é um esporte coletivo? Quais esportes coletivos vocês conhecem? Qual 
esporte coletivo você costuma praticar? Escolha um dos esportes coletivos que 
você conhece e escreva o que você sabe sobre ele? Qual esporte coletivo você 
gostaria de estudar aqui na escola durante as aulas de educação física?
“Após analisar as respostas dos questionários, percebemos que os alunos 
costumam praticar essas modalidades esportivas em outros espaços fora da escola 
e que possuem um conhecimento muito superficial a respeito dessas modalidades” 
(MARTINS, 2009, p. 2). Para a escolha da manifestação esportiva a ser tematizada, 
a professora Jacqueline colocou no quadro (lousa) o nome dos esportes mais citados 
pelos alunos e, coletivamente, procedeu uma nova análise dos dados, considerando 
os temas esportivos que já haviam sido estudados pelas turmas nos anos anteriores. 
Consideradas essas condições, o voleibol foi eleito como tema da cultura corporal 
a ser investigado.
A partir da escolha do Voleibol como tema, a professora realizou um levanta-
mento acerca dos conhecimentos que os grupos possuíam sobre aquele esporte. 
Esse levantamento foi registrado pela professora e pelos alunos em seus cadernos 
de educação física. “Surgiram algumas regras do voleibol de quadra, algumas brin-
cadeiras de voleibol (3 corta), e o nome de alguns movimentos como saque, cortada 
e bloqueio” (MARTINS, 2009, p. 3).
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UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: 
Os Esportes “Em Cena na Escola”
Relata a professora Jacqueline que, durante a realizaçãoda conversa sobre os co-
nhecimentos a respeito do voleibol, o aluno Gabriel, que possuía um grande conhe-
cimento sobre o tema, comentou que sua avó praticava a modalidade adaptada para 
a terceira idade e que por isso ele sabia bastante a respeito. Mencionou, ainda que 
ele a acompanhava em alguns treinos. “Perguntei então aos demais alunos de onde 
eles conheciam aquelas informações sobre o voleibol, e a maioria respondeu que 
conheciam o esporte da televisão e das brincadeiras de rua” (MARTINS, 2009, p. 3).
A professora, então, contando com as sugestões (participação) dos alunos, 
elaborou uma lista contendo as diferentes formas de se jogar o vôlei. Foram listadas 
diversas manifestações do voleibol no seu formato “esportivizado” e, também, as 
brincadeiras relacionadas à prática voleibol.
Nesse momento e, levando em consideração todo o exercício dialógico que 
caracterizou o mapeamento, a professora selecionou alguns objetivos:
• Ampliar os conhecimentos acerca do voleibol, para que os alunos possam 
refletir a respeito de suas práticas e entendê-las enquanto componente da 
cultura corporal;
• Construir suas próprias práticas esportivas adaptando as regras às condições 
do grupo e do espaço escolar;
• Conhecer os significados dessas práticas na sociedade contemporânea;
• Saber apreciar, refletir e entender essas práticas aprendendo a respeitar os 
colegas e as diversidades com relação ao desempenho técnico e as capacidades 
físicas de cada um.
O trabalho teve sequência com a vivência da brincadeira do “3 corta”, uma vez 
que a maioria dos alunos possuía algum conhecimento acumulado com tal brinca-
deira. Surgiram diversas formas de se brincar de “3 corta”. “Após vivenciarmos 
todas as formas apresentadas – o que perdurou por algumas aulas – cada classe 
criou as suas regras para esta brincadeira” (MARTINS, 2009, p. 3). Produziu-se, 
portanto, novos significados às formas de se jogar o “3 corta”, partindo daquelas 
que foram incialmente compartilhadas, com base nas próprias experiências cultu-
rais de cada sujeito.
Figura 1 – Alunos vivenciando e ressignificando o “3 corta”
Fonte: MARTINS, 2009
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Destaca a professora que,
“Mesmo com essas ressignificações, que também tinham como objetivo 
melhorar a participação dos alunos nas atividades, alguns alunos reclama-
vam que a brincadeira não dava muito certo porque era difícil rebater a 
bola. Após essa reclamação, alguns alunos apresentaram como solução, 
trocar a bola, colocando uma bola mais leve. Realizamos então a brinca-
deira com outros tipos de bola, e a brincadeira ficou melhor”. (MARTINS, 
2009, p. 3)
Com a intenção de aprofundar os conhecimentos 
sobre o voleibol, a professora Jacqueline apresentou 
um vídeo referente a um jogo de voleibol gravado da 
televisão. Sugeriu ao alunos que, ao longo da expo-
sição, observassem o funcionamento do jogo: o rodí-
zio, as regras, as “gírias”, os movimentos, as informa-
ções que continham no placar, o jogador que usava 
uma camisa de outra cor. Por vezes, a professora 
interrompeu o vídeo para explicações, esclarecimen-
tos, abertura para novos questionamentos etc. “Após 
essa atividade, registramos no caderno todas as infor-
mações acumuladas para nos ajudar nos momentos 
das vivências práticas” (MARTINS, 2009, p. 4).
Ao propor a vivência do jogo de voleibol, a profes-
sora Jacqueline o fez de maneira com que os alunos 
pudessem experimentar os elementos observados e 
registrados a partir do vídeo: seis contra seis, com 
rodízio, saque atrás da linha de fundo, etc.
Figura 2 – Alunos assistindo 
ao vídeo (jogo de voleibol) e 
registrando as informações
Fonte: MARTINS, 2009
Figura 3 – Vivência do jogo de voleibol na quadra da escola
Fonte: MARTINS, 2009
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UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: 
Os Esportes “Em Cena na Escola”
“Porém, o jogo não aconteceu muito bem por causa das dificuldades dos alunos 
em rebater a bola, não tinham força para que a bola ultrapassasse a rede, e o 
jogo ficou muito ‘chato’” (MARTINS, 2009, p. 4). Por conta dessas dificuldades, a 
professora propôs que os alunos procedessem mudanças: nas regras, na quantidade 
de participantes em cada equipe, nas demarcações da quadra (por exemplo, o local 
do saque), no número máximo de toques na bola, no sistema de pontuação, dentre 
outras. Conta Jacqueline que, nesse momento, “[...] cada turma criou as suas 
adaptações, de acordo com as necessidades do grupo”. (MARTINS, 2009, p. 4)
Durante as vivências, os alunos citavam, recorrentemente, alguns termos téc-
nicos e gírias do voleibol, exatamente como ouviram durante a narração do vídeo 
assistido. Atenta a isso, a professora solicitou aos alunos que realizassem uma pes-
quisa sobre esses termos e gírias, com a finalidade de garantir o aprofundamento 
desses conhecimentos sobre o voleibol. Durante duas aulas, professora e alunos 
debruçaram-se na discussão dos dados das pesquisas. Estas, também “trouxeram 
uma série de elementos sobre outras formas de manifestação do voleibol [...] então, 
passamos a estudar o voleibol de praia” (MARTINS, 2009, p. 5).
A professora iniciou o trabalho com o voleibol de praia também com a 
apresentação de um vídeo (contendo trechos de jogos de campeonatos nacionais e 
internacionais). A partir desse elemento disparador, Jacqueline pediu para que os 
alunos fossem anotando as diferenças entre o vôlei de quadra e o vôlei de praia.
“Surgiram as seguintes diferenças: número de participantes, número de 
sets, número de pontos, roupas, espaço onde é praticado. Muitos alunos 
afirmaram que quando iam a praia costumavam jogar o vôlei com seus 
amigos e familiares, mas nunca com rede e quadra como visto no vídeo. 
Por não possuir na escola nenhum espaço com areia que possibilitasse 
uma vivencia mais próxima do vôlei de praia, apenas adaptamos as regras 
do vôlei para uma quadra menor, com apenas dois jogadores e com um 
número de pontos menor”. (MARTINS, 2009, p. 5).
Durante as vivências, os alunos, em especial os meninos, insistiam em tentar 
defender a bola com os pés, dizendo que, “na praia, também se jogo assim”. “[...] 
Como já tínhamos listado o futevôlei dentre as manifestações do voleibol, na aula 
seguinte, trouxe imagens de mulheres praticando esta modalidade” (MARTINS, 
2009, p. 6). Conta-nos a professora que, ao exibir as imagens dessa prática 
esportiva, alguns alunos ficaram surpresos com o fato das mulheres também 
jogarem o futevôlei.
Ao encaminhar as vivências com o futevôlei, devido às condições do grupo 
e dos espaços da escola, a professora sugeriu que estas acontecessem com um 
maior número de pessoas em cada equipe, para melhorar o andamento do jogo. 
Durante esse processo, notava-se que muitas meninas mantinham mais afastadas, 
“[...] talvez, pela pouca intimidade com os movimentos vindos do futebol. Então, 
tentamos utilizar diferentes tipos de bola, para que a realização do jogo ficasse 
melhor”. (MARTINS, 2009, p. 5)
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Figura 4 – Vivência do jogo de futevôlei na quadra da escola
Fonte: MARTINS, 2009
Nesses momentos estiveram presentes nas aulas questões relacionadas a partici-
pação das mulheres em esportes tidos como masculinos. Muitos meninos acredita-
vam que por causa das dificuldades das meninas nas práticas elas deveriam ficar de 
fora da atividade. “Com um olhar atento a esses acontecimentos, realizamos então 
discussões a respeito dessas questões de preconceito de gênero dentro das práticas 
esportivas”. (MARTINS, 2009, p. 5) 
Dando continuidade ao desenvolvimento da tematização do voleibol, a profes-
sora Jacqueline retomou a fala do aluno Gabriel sobre a prática de vôlei da sua 
avó. Pediu para que ele contasse aos demais colegas das turmas como “funcio-
nava” o voleibol adaptado à terceira idade, uma vez que acompanhava muitos 
treinos in loco.
Durante a sua explicação, “[...] o Gabriel demonstrou conhecere gostar bastante 
dessa prática e então fomos realizá-la também, tal como nos contou” (MARTINS, 
2009). O vôlei adaptado à terceira idade possui regras bem próximas daquelas do 
voleibol de quadra, contando com uma grande particularidade: a bola não pode 
ser rebatida, mas sim agarrada pelos atletas. Após algumas aulas de apresentações 
(pelo Gabriel) e vivências do jogo vôlei adaptado, a professora decidiu escrever um 
bilhete para a avó do Gabriel, convidando-a para que fosse até a escola contar 
suas experiências enquanto praticante dessa manifestação esportiva.
“Ela (avó do Gabriel) optou por entrar em contato – via telefone – comigo. 
Após conversarmos, e a pedido dela, liguei para o seu professor de vôlei. 
Com este último, levantei a possibilidade da realização de uma visita de 
toda a equipe da terceira idade na escola, para que fizessem um jogo 
demonstrativo. [...] Achei interessante que essa visita ficasse para o final 
do semestre, como atividade de fechamento. Tal fato, ratificaria a ideia 
inicial desta tematização em mostrar que o voleibol não é só aquele que 
passa na televisão e nas Olimpíadas. [...] que a prática do voleibol pode 
ser de todos, desde a criança, o jovem, os adultos, os atletas, os idosos e 
as pessoas com deficiências”. (MARTINS, 2009, p. 6)
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UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: 
Os Esportes “Em Cena na Escola”
Com a confirmação da visita, a professora Jacqueline elaborou junto aos alunos 
um roteiro com perguntas, de maneira a subsidiar a conversa (entrevista) com os 
atletas da terceira idade. “[...] as questões giravam em torno das dificuldades que 
eles possuíam para praticar os esportes, com qual idade eles começaram a jogar, 
porque escolheram o voleibol, quais outras atividades eles faziam no seu dia a dia 
[...]”. (MARTINS, 2009, p. 6)
É bem verdade que, com o passar das aulas, foram aflorando outras questões 
relacionadas aos idosos: “dificuldades de locomoção, dos preconceitos que eles 
sofrem na sociedade, sobre o que era ser ‘velho’ para a sociedade” (MARTINS, 
2009, p. 6). Foi, então, que a professora Jacqueline optou por apresentar aos 
alunos a modalidade do voleibol sentado.
“Problematizamos sobre o que significa ser uma pessoa com deficiência em 
nossa sociedade, falamos sobre as ‘deficiências’, bem como sobre algumas modali-
dades paraolímpicas”. Dentre as atividades de ensino propostas, a professora apre-
sentou um vídeo com as imagens e jogo, propriamente dito, do voleibol sentado. 
“Os alunos vibraram com os lances, pois eles não imaginavam que pessoas que não 
andavam poderiam jogar o voleibol”. (MARTINS, 2009, p. 7)
Ao propor situações de vivencias do voleibol sentado para as turmas, a profes-
sora buscou fazer com que os alunos experimentassem alguns movimentos carac-
terísticos do jogo.
Figura 5 – Vivência do jogo de vôlei sentado na quadra da escola
Fonte: MARTINS, 2009
Nas vivências do vôlei sentado, os alunos tiveram algumas dificuldades, “pois se 
movimentar sentado não era fácil, com o agravante que a nossa quadra é áspera 
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e isso dificultava ainda mais a movimentação dos alunos” (MARTINS, 2009, p. 7). 
Foi, então, que uma aluna sugeriu realizar o jogo sentado, mas, tal como no “jogo 
dos idosos”, a bola deveria ser agarrada ao invés de ser rebatida, para facilitar 
o andamento das partidas. A sugestão foi aceita pelo grupo e, como destaca a 
professora Jacqueline, “o andamento do jogo melhorou, mas ainda permaneciam 
as dificuldades inerentes ao deslocamento pelo espaço da quadra” (MARTINS, 
2009, p. 7). Aproveitando-se dessa situação, a professora buscou problematizar 
com os alunos sobre a “posição de deficientes” assumida momentaneamente 
por eles durante as vivências do vôlei sentado, bem como sobre as dificuldades 
e superações percebidas. Problematizou, também, o fato da mídia só apresentar 
um “tipo” de voleibol que, por vezes, acaba induzindo as pessoas a acharem que a 
prática do voleibol é restrita aos atletas andantes.
Aproximando-se da data combinada para a visita do time de voleibol de idosos 
da avó do aluno Gabriel, o técnico do time contatou a professora Jacqueline 
avisando-a que, não mais compareceriam, por conta de um campeonato a ocorrer 
no respectivo dia.
“Como já havíamos preparado as questões para a entrevista, e havíamos 
pensado na atividade como o fechamento do projeto, fui em busca de outro 
time de voleibol de idosos para realizar a visita a escola. Conseguimos 
então agendar uma visita de uma equipe de vôlei de idosos do município 
de Vargem Grande um pouco distante da nossa escola, mas que se 
dispuseram a vir apresentar o esporte para os alunos, trazendo um time 
masculino e um time feminino”. (MARTINS, 2009, p. 7)
No dia da visita, os horários das aulas (e intervalos) foram reorganizados, de 
maneira com que houvesse tempo suficiente para as todas as turmas do 5° ano 
participassem da atividade. Conta-nos a professora que,
“[...] esperávamos apenas umas 12 pessoas, pois disseram que compa-
receriam com duas equipes, mas fomos surpreendidos com a chegada 
de mais ou menos 40 idosos. [...] Segundo o técnico, professor Marcelo, 
todos idosos quiseram participar dessa atividade, pois nunca haviam sido 
convidados para ensinarem a modalidade a ninguém [...]”. (MARTINS, 
2009, p. 8)
Na quadra, os alunos das três turmas do 5° ano foram posicionados pela pro-
fessora Jacqueline ao redor do espaço de jogo. Antes do jogo propriamente dito, 
os idosos se apresentaram para os alunos, realizaram aquecimento e alongamento, 
sob a regência do técnico. As partidas aconteceram entre equipes mistas, compos-
tas exclusivamente pelos idosos. Num segundo momento, participaram os alunos, 
os professores e os funcionários da escola.
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UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: 
Os Esportes “Em Cena na Escola”
Figura 6 – Vivência do jogo de vôlei sentado na quadra da escola
Fonte: MARTINS, 2009
Após a vivência do voleibol adaptado com os idosos, a professora Jacqueline 
conduziu todos para o pátio, onde os alunos (numa roda de conversa) puderam 
entrevistar os idosos, a partir das questões previamente elaboradas. Outras questões 
surgiram no momento.
“Os idosos contaram momentos de suas vidas, fizeram recordações dos 
seus tempos de crianças, contaram como e porque entraram no esporte, 
quais são as atividades que eles realizam hoje nas suas vidas. Alguns dos 
depoimentos, apontaram aquele como o momento mais feliz de sua vida, 
pois nunca haviam entrado em uma escola para ensinar alguma coisa aos 
alunos, e que isso mostrava que os idosos não são velhos que não servem 
para mais nada”. (MARTINS, 2009, p. 9)
Para finalizar o projeto, na aula seguinte a visita, a professora promoveu dis-
cussões e pediu para que os alunos registrassem o que tinham mais gostado e 
aprendido com todo o projeto, incluindo a experiência com os idosos. Os alu-
nos escreveram textos e fizeram desenhos que, posteriormente, compuseram um 
portfólio da turma.
Durante toda a realização do projeto, os alunos e a professora realizaram regis-
tros em seus cadernos de educação física, frutos de pesquisas, entrevistas, elabo-
ração de textos e relatos das experiências práticas. Essa diversidade de formas de 
registros permitiu à Jacqueline avaliar continuamente o processo de ensino e, des-
sa forma, (re)orientar a rota da tematização, incrementando conteúdos e atividades 
de ensino que respondessem aos discursos e representações postos em circulação 
pelas turmas.
“[...] ao final, pudemos perceber que conseguimos atingir alguns dos 
objetivos propostos no início do trabalho. [...] acreditamos ainda que 
colaboramos efetivamente com aqueles propostos no projeto coletivo 
da escola para o ano de 2008, que diziam respeito às Olimpíadas e às 
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eleições. [...] Superamos, dessa forma, o péssimo legado histórico da 
educação física escolarficar restrita a colaborações inócuas, tais como 
realização de campeonatos, jogos e gincanas, quando da tratativa destes 
assuntos”. (MARTINS, 2009, p. 10)
O Tênis em Cena
Apresentaremos a seguir a experiência pedagógica realizada pela professor 
Leandro Souza (SOUZA, 2016) que tematizou o tênis com as turmas do 5° ano, 
numa escola da rede pública estadual paulista, localizada na periferia da cidade 
de São Paulo, de fevereiro a dezembro de 2015. Conta-nos o professor que, 
antes mesmo do início do ano letivo, realizou um mapeamento do entorno da 
escola, buscando reconhecer as práticas corporais existente na comunidade, bem 
como os espaços utilizados para tais. Na escola, nas primeiras semanas de aula, 
o professor deu continuidade ao “mapeamento geral” a partir um levantamento 
junto aos alunos sobre “quais práticas corporais (danças, lutas, ginásticas, esportes 
e brincadeiras) os educandos já haviam estudado nas aulas de Educação Física” e, 
também, sobre quais práticas nunca tinham trabalhado (SOUZA, 2016, p. 2).
Após cruzar e analisar esses dados junto com os alunos e, considerando a ine-
xistência de um projeto político-pedagógico efetivo (atualizado, discutido coletiva-
mente, etc.) na instituição, o professor Leandro definiu como tema o Tênis, uma 
vez que: [...] “dentre as práticas corporais não vivenciadas na escola, o tênis foi o 
mais lembrado pelos alunos e, ao mesmo tempo, narrado como uma prática que 
não lhes pertencia, dado o seu caráter elitizado” (SOUZA, 2016, p. 3).
Uma vez definido o tema de estudo, o professor encaminhou um mapeamento 
específico junto aos alunos, com o objetivo de conhecer quais eram os conheci-
mentos acumulados em torno do tênis. “Para obter tais informações, perguntei aos 
educandos – O que você lembra quando a palavra é tênis?”
Figura 7 – Registro do professor na lousa, a partir das repostas dos 
alunos a questão: O que você lembra quando a palavra é tênis?
Fonte: SOUZA, 2016
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UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: 
Os Esportes “Em Cena na Escola”
A palavra “tênis” fez com que os educandos se lembrassem de: faixa na cabeça, 
calçado, raquete, bola, rede, internet, boné, uniforme, shorts, sofá, sweater (“roupas 
de rico”), quadra, TV, campo, Rio Open, Open 300, regras, saibro, bolinha, Guga, 
Feijão (jogadores brasileiros de tênis). “Enquanto os educandos citavam os nomes 
de alguns tenistas, um dos educandos questionou – Só homem que joga tênis?” 
(SOUZA 2016, p. 4).
Concluída essa fase do mapeamento com os estudantes, o professor solicitou 
que eles desenhassem no caderno de Educação Física uma quadra de tênis. A partir 
dos desenhos, o professor planejou coletivamente algumas situações de vivência do 
tênis: “[...] reconhecemos os materiais disponíveis na escola; [...] definimos como 
seriam os jogos e suas regras (pontuação, tempo e espaço do jogo)” (SOUZA, 
2016, p. 4-5).
Figura 8 – Desenho elaborado por uma aluno e primeiras situações de vivência do tênis
Fonte: SOUZA, 2016
Descreve o professor Leandro que, durante a vivência, os educandos contavam 
os pontos da seguinte forma - 1, 2 e 3, e, em seguida, entrava uma nova dupla 
para jogar. Na sequência, optaram por manter o vencedor na quadra. Quanto a 
dinâmica do jogo, instituíram como regra que a bolinha não poderia “quicar” mais 
do que duas vezes seguidas no chão.
Após algumas aulas de vivências, e dadas as cenas registradas no diário de 
campo, o professor Leandro entendeu ser importante levar os alunos para a sala 
de vídeo, para que assistissem alguns trechos de jogos de tênis (previamente sele-
cionados): “pedi aos educandos que observassem: o começo do jogo, a pontuação 
dos jogos, posicionamento dos/as jogadores/as, gestos realizados pelos atletas, 
participação dos árbitros e dos torcedores” (SOUZA, 2016, p. 6). Ao longo da 
atividade, outras questões surgiram por parte do alunos:
“O jogador representa um time ou um país? Qual é o nome da pessoa 
que criou o tênis? O tênis surgiu como diversão? Quanto tempo dura um 
jogo de tênis? Se a raquete quebrar durante o jogo, o que acontece? Se 
o jogador se machucar e não conseguir mais jogar o que acontece? Tem 
diferença de pontos, quando a bola bate em lugares diferentes da quadra? 
Por que o jogador flexiona a perna no momento do saque?” (SOUZA, 
2016, p. 7)
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Mediante ao que fora observado nos vídeos, bem como das questões que emer-
giram dos alunos, o professor Leandro propôs novas vivências com a modalidade. 
Para tal, sugeriu que os alunos inserissem, inicialmente, as demarcações na quadra 
e incorporassem algumas sistemáticas de pontuação. Sobre esta última, um aluno 
fez a seguinte pergunta: Por que a pontuação do tênis não é igual à do futebol? 
“Registrei esta fala do aluno e, procurei pesquisar a respeito para entender melhor 
a origem deste sistema de pontuação” (SOUZA, 2016, p. 12).
Dentre outras atividades de ensino propostas pelo professor, apareceram: leitura 
do livro de regras da Federação Paulista de Tênis (FPT). Nesse momento, os alunos 
entenderam, por exemplo, o posicionamento do jogador no momento do saque.
“Ao lerem as regras, perceberam que no comentário da regra 8, o rece-
bedor do saque pode se posicionar em qualquer local (dentro ou fora do 
espaço demarcado pelas linhas) desde que seja no seu espaço de jogo. [...] 
Entretanto, ao relembrarmos dos vídeos assistidos, entendemos que o re-
cebedor na maioria das vezes se posiciona fora da quadra para ter maiores 
chance de receber o saque com sucessos”. (SOUZA, 2016, p. 14)
Durante as aulas em que os alunos vivenciavam o tênis na quadra da escola, o 
professor solicitou uma pesquisa sobre a “origem do tênis”, mais especificamente, 
delegou aos grupos de trabalho “a observação dos seguintes elementos históricos: 
país/região de origem, ano, como eram os jogos, quem eram as pessoas que 
jogavam e por quais motivos o jogo foi criado” (SOUZA, 2016, p. 15).
Os dados trazidos pelos alunos somaram-se àqueles resultantes das pesquisas 
produzidas pelo professor em torno dessa mesma temática. Confrontou-se o local 
de origem do tênis: Grécia antiga, França ou Inglaterra?
“Nesse processo, conhecemos, por exemplo, que um dos precursores 
do tênis foi o jeu de paume (jogo da palma da mão), prática corporal 
originada por volta do século XII na França, apesar de alguns historiadores 
citarem diversas histórias de que o jeu de paume deriva de outros jogos 
do Grécia. [...] Contudo, por volta do ano de 1870 surge uma nova 
versão do tênis Grã- Bretanha: “o jogo de tênis real”. Este era jogado 
dentro dos mosteiros. [...] os nobres, ao apropriarem-se desta prática 
corporal passaram a oferece-la nos seus próprios quintais (gramados), 
como forma de entretenimento aos convidados (visitantes) que recebiam. 
[...] Jogado principalmente pela classe alta, o tênis manteve padrões de 
comportamentos controlados”. (SOUZA, 2016, p. 17-9)
Percebendo o interesse e a motivação dos alunos por conhecer o Jeu de paume, 
o professor Leandro propôs situações de vivências, dando aos alunos possibilidades 
para ressignificação deste jogo.
“Nos primeiros jogos, jogamos sem utilizar nenhum acessório ou 
implementos para as mãos e nas vivencias seguintes passamos utilizar luvas 
e outros objetos (chinelos, tênis e meias) como implementos. Conforme 
a história do jeu de paume, os jogos eram praticados de diversas formas 
– individual, duplas, trios, quartetos com e sem implementos nas mãos. 
Experimentamos algumas delas”. (SOUZA, 2016, p. 20)
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UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: 
Os Esportes “Em Cena na Escola”
Figura 9 – Vivência do Jeu de Paume na quadra da escola
Fonte: SOUZA, 2016
Após algumas situações de vivências com o Jeu de Paume, o professor per-
guntou aos educandos o que eles tinham achado de jogar sem as raquetes. [...] 
“Alguns alunos disseram que era melhor jogar sem a raquete,porque eles conse-
guiam jogar melhor. Outros comentaram que jogar sem a raquete doía às mãos” 
(SOUZA, 2016, p. 20).
Os dados históricos levantados pelo professor também ajudaram a desmistificar 
o formato do sistema de pontuação do tênis (questão que já havia sido posta por um 
aluno, ainda no início do projeto). Conta-nos Leandro que, ao etnografar o tênis 
deparou-se com um material bibliográfico dizendo que o sistema de pontuação 
no tênis – 15, 30, 40 e game – é uma herança da astronomia antiga que utilizava 
um “sextante” para medir a trajetória do sol. Dividido em quatro partes, múltiplos 
de 15°, o “sextante” corresponde à medida de uma circunferência (360°) dividida 
por seis. Por isso, um set tem seis games, sendo que a pontuação adotada nos 
princípios do tênis seguiu essa prática. “Foi nesse momento que os alunos me 
questionaram sobre o que seria um sextante. Então, como forma de ampliação dos 
conhecimentos, busquei uma imagem, um vídeo e um artigo de revista, os quais 
lemos em sala de aula” (SOUZA, 2016, p. 27).
“Ratificando a ideia que as histórias são diversas e que, portanto, são 
discursos possíveis (provisórios) atuando para a produção da realidade, um 
aluno deparou-se com outras explicações sobre o sistema de pontuação. 
[...] A pesquisa do aluno Eduardo, por exemplo, revelou que, durante um 
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dado período, a cada ponto conquistado, o saque poderia ser realizado 15 
jardas à frente. Desta forma, a pontuação corresponderia ao quantitativo 
de jardas avançadas durante o ‘serviço’. (SOUZA, 2016, p. 28)
Após o retorno do recesso escolar (férias), o professor Leandro perguntou aos 
educandos se eles haviam praticado ou acompanhado algum jogo de tênis pela 
televisão. Muitos responderam, afirmativamente e, logo, foram contando detalhes 
daquilo que observaram ou experimentaram. Um dos alunos mencionou que, 
ao assistir um jogo, notou que o jogador – o qual não se lembrava do nome – 
“colocava (passava) a mão na bunda, no cabelo e depois cheirava, antes de realizar 
o saque”. O professor perguntou a turma se saberiam explicar o real motivo 
daquilo que fora observado. “Os educandos levantaram diversas hipóteses: coceira, 
hemorroidas, mania, gesto feio e sem educação. Neste momento é perceptível 
notar as diferentes leituras que os educandos fazem sobre os gestos esportivos, 
bem como, os significados” (SOUZA, 2016, p. 30-1).
Por conta desta e de outras falas que se remetiam a personagens dos tênis, o 
professor Leandro optou por problematizar as iden tidades dos jogadores (tenistas), 
de maneira a permitir uma análise dos processos sócio-histórico-políticos envol-
vidos nesta produção. Para tal, lançou mão das seguintes questões: Quais são os 
jogadores de tênis que você conhece? Como são? O que sabem deles?
Figura 10 – Registros feitos na lousa pelo professor, a partir das respostas dos alunos
Fonte: SOUZA, 2016
Dentre outras observações realizadas pela turma, a aluna Manuele fez a seguinte 
colocação: “Professor, o estranho é que todas as vezes que eu assisto os jogos 
só vejo pessoas brancas. Olho na quadra, na arquibancada e não vejo ninguém 
negro. Só existe jogador de tênis branco?”. Sensível a esta colocação, o professor 
Leandro devolveu a questão de Manuele para o restante dos alunos. O aluno Pedro 
respondeu: “[...] conheço um jogador negro com cabelo de capoeira ou rastafári 
que, inclusive, venceu o Rafael Nadal”. (SOUZA, 2016, p. 32). Ao final dessa aula, 
o professor anunciou que tentaria trazer o jogo citado por Pedro para que todos 
pudessem conhecê-lo.
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UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: 
Os Esportes “Em Cena na Escola”
“Optei por levar dois vídeos, referentes aos seguintes jogos - Dustin 
Brown x Rafael Nadal e Safarova x Wozniacki. [...] Ao assistir os vídeos, 
os educandos puderam ver os jogadores, bem como outros personagens 
do tênis (árbitros, gandulas, torcedores, narradores e técnicos) e apontar 
algumas diferenças entre o jogo masculino e feminino, além de perceber 
a presença de atletas negros”. (SOUZA, 2016, p. 34)
As observações sobre os vídeos feitas pelos alunos destacaram as características 
físicas e estratégias de jogo utilizadas pelos atletas. Também surgiram questões, tais 
como: “Os gestos que os jogadores fazem têm nome? Por que as mulheres jogam 
de vestido? Por que o Nadal e Brown jogaram de roupa branca? É tudo branco 
nesse negócio!” (SOUZA, 2016, p. 35). Diante destes fatos, o professor, num 
primeiro momento, optou por aprofundar os conhecimentos sobre os “golpes” do 
tênis para que, posteriormente, voltasse a problematizar a (não/pouca) presença 
do negro nessa manifestação cultural esportiva.
O professor entregou um texto que ilustrava os golpes mais utilizados no tênis, 
bem como, descrevia as suas formas de execução. Então, “pedi que, com base no 
texto e nos vídeos assistidos, todos experimentassem alguns golpes livremente. 
[...] Ao longo das vivências os alunos reproduziam alguns deles e criavam muitos 
outros” (SOUZA, 2016, p. 36).
Leandro propôs o confronto dos nomes dos golpes anunciados no texto com 
aqueles criados pelos alunos. “Nas aulas subsequentes realizamos algumas partidas 
utilizando os golpes. [...] Enquanto alguns jogavam, outros alunos eram convidados 
a ler o jogo e a identificar os golpes” (SOUZA, 2016, p. 39). Tudo era registrado 
no caderno de Educação Física e, a seguir, discutido coletivamente. Por exemplo, 
os registros elucidaram que os golpes mais presentes nas partidas entre os alunos 
eram o forehand e o backhand, o que mereceu um aprofundamento sobre ambos.
Com o objetivo de retomar a problematização sobre a identidade do negro no 
tênis, sobretudo, a partir dos questionamentos anteriormente postos pelos alunos, 
o professor Leandro sugeriu uma investigação a respeito da vida dos atletas Dustin 
Brown e Rafael Nadal, mais especialmente, sobre o percurso de ambos no acesso 
ao profissionalismo.
“Os educandos apontaram que Dustin Brown foi quem encontrou mais 
dificuldades para chegar ao profissionalismo quando comparado ao 
Rafael Nadal. Segundo eles, ao pesquisarem as trajetórias percorridas por 
cada atleta foi possível perceber como elas são tão diferentes. [...] Rafael 
Nadal nasceu em 1986, na Espanha, em uma família rica, esportista e 
conhecida pela mídia, devido seus tios serem jogadores de futebol e de 
tênis. Nadal começa a jogar entre 3 e 4 anos de idade; aos 5 anos ele 
passa a treinar no clube com seu tio; aos 12 anos já tinha conquistado seus 
primeiros títulos (europeu e espanhol); jogou o primeiro jogo na categoria 
profissional no ano de 2002. [...] Brown é atleta de dupla nacionalidade 
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(alemão-jamaicano). Nascido em 1984, na Alemanha; filho de mãe 
alemã e pai jamaicano, aos 8 anos de idade escolhe o tênis como seu 
esporte preferido. Aos 11 anos, vai morar na Jamaica, onde sem recursos 
financeiros passa a treinar em quadras públicas da cidade; Brown recebeu 
quase nenhum investimento da Confederação Jamaicana de Tênis, fato 
que, em 2004, o força a voltar para a Alemanha para conseguir pontuação 
no ranking; a bordo de uma van (Komby), Brown viaja pela Europa, com 
a intenção de participar de diversos torneios, acumulando pontos para 
ranking sem, no entanto, poder gastar muito dinheiro; torna-se jogador 
profissional somente em 2010 (SOUZA, 2016, p. 42-4).
Os alunos tinham como hipótese inicial a ideia de que a baixa incidência de 
negros no tênis poderia ser decorrente da falta de interesse destes para com a 
modalidade – por acharem o esporte chato. Ao problematizar esse discurso, dando 
a condição dos alunos compararem os percursos de vida de um tenista branco e 
de um negro, o professor Leandro abriu espaço para novas significações sobre os 
sujeitos praticantes do tênis, desconstruindo algumas representações, até então, 
naturalizadas. Saber a respeito da construção histórica dessa manifestaçãotambém 
foi determinante para o processo de desconstrução, tendo em vista a fala de um dos 
alunos, registrada pelo professor Leandro. Segundo este aluno, “o tênis aparece 
mais entre as pessoas brancas por causa de suas origens nos palácios, na alta 
sociedade. Isso se perpetua até os dias atuais” (SOUZA, 2016, p. 44).
No decorrer do projeto, o professor Leandro convidou um técnico de tênis 
(indicado por uma professora-colega da própria escola de Leandro). “Preparamo-
-nos, elaborando um roteiro de perguntas, a partir das dúvidas e curiosidades que 
ainda carregávamos sobre esta manifestação esportiva” (SOUZA, 2016, p. 45).
“Na semana seguinte recebemos a visita do professor (de tênis) Dino 
que respondeu todas as questões propostas pelos educandos e se dispôs 
para conduzir algumas vivências. Além de contribuir com seus ricos 
comentários, o professor nos doou bolinhas de tênis para utilizarmos em 
nossas aulas”. (SOUZA, 2016, p. 47)
Figura 11 – Alunos recebendo a visita do técnico de tênis (Dino) na escola
Fonte: SOUZA, 2016
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UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: 
Os Esportes “Em Cena na Escola”
Ao longo de sua conversa com os alunos, Dino respondeu diversas questões, 
a respeito da prática esportiva “tênis”: Como você se tornou professor de Tênis? 
Por que você escolheu ser professor de tênis e não professor de Educação Física 
na escola? Nos locais em que você trabalha há pessoas negras e pobres que jogam 
tênis? Por que tem jogadores que fazem coisas estranhas antes de realizar o saque? 
Quais os nomes das batidas/golpes que os jogadores realizam no tênis? Como os 
técnicos orientam os jogadores durantes os jogos? Por que há poucos jogadores 
negros no tênis? Etc.
Na aula posterior à visita, o professor Leandro voltou a conversar com as turmas 
no sentido de recordar algumas falas do professor Dino e, também, para saber 
mais a respeito da opinião dos alunos sobre a atividade encaminhada.
“Os alunos se lembraram da problemática levantada por Dino, sobre 
a ausência de espaços públicos para a prática do tênis. Recordaram-se 
também, de alguns nomes de atletas nacionais os quais foram citados: 
Gustavo Kuerten, Fernando Meligeni, Maria Esther Bueno. [...] Aproveitei 
para disponibilizar algumas imagens destes atletas e, com elas, constituímos 
um mural de fotos. [...] Também assistimos o vídeo ‘o ponto de partida’ 
- documentário que mostra a origem e o funcionamento de um projeto 
social ‘Jogue Tênis’ e conta com os comentários de diversos atletas sobre 
a inserção da modalidade nos espaços públicos”. (SOUZA, 2016, p. 54)
À pedido dos alunos, já no desfecho do ano letivo, o professor Leandro promo-
veu alguns jogos amistosos de tênis entre as turmas da escola. Foram realizados 
jogos mistos “de simples” e “de duplas”.
Figura 12 – Jogos amistosos de tênis entre as turmas da escola
Fonte: SOUZA, 2016
Ao término do ano, o professor solicitou aos alunos um registro individual, em 
que poderiam expressar suas percepções a respeito da tematização do tênis.
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Figura 13 A – Registro fi nal, produzido por um aluno, ao término da tematização do tênis
Fonte: SOUZA, 2016
Figura 13 B – Registro fi nal, produzido por um aluno, ao término da tematização do tênis
Fonte: SOUZA, 2016
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UNIDADE O Currículo da Educação Física em Ação: 
Os Esportes “Em Cena na Escola”
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Leitura
Futebol e Copa do Mundo um Olhar Diferente
https://goo.gl/L27wRL
Educação Física no Maternal II: Sem essa de “Galinhão”
https://goo.gl/Jk1VBN
O Atletismo nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos
https://goo.gl/i9QVQW
Subiu, Arremessou e... Entre o arremesso e a cesta há muito que se investigar!
https://goo.gl/QJDz1p
Futebol Americano: Borrando Fronteiras
https://goo.gl/1Wzs1u
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Referências
MARTINS, J. C. J. 1,2,3, Corta! Todos podem jogar vôlei? E.E. Alcides da 
Costa Vidigal. São Paulo, SP. In: Relatos de Experiência. Grupo de Pesquisas 
em Educação Física Escolar. Faculdade de Educação, USP/ SP, p. 1-10, 2009. 
Disponível em: < http://www.gpef.fe.usp.br/teses/jacque_09.pdf >. Acesso em 
fev. 2017.
SOUZA, L. R. S. Tênis: um lob de direita. EE Heidi Alves Lazzarini. São Paulo, SP. 
In: Relatos de Experiência. Grupo de Pesquisas em Educação Física Escolar. 
Faculdade de Educação, USP/ SP, p. 1-59, 2016. Disponível em: < http://www.
gpef.fe.usp.br/teses/Leandro_Souza_01.pdf>. Acesso em marc. 2017.
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