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FANON RESUMO

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Ricardo Henrique Diniz Klever RA: 21092315
					Resumo
Os Condenados da Terra
Frantz Fanon é martinicano de ascendência africana, foi soldado na África do Norte o que explica seus enunciados carregados de sentimento. Estudou filosofia, literatura, medicina e se especializou em psiquiatria, o que o fez agregar estudos interessantes sobre a saúde mental dos ex-colonizados, bem como analises marxistas profundas da história. Fanon em seu livro Os Condenados da Terra trata puramente o conflito entre colono branco e colonizado negro. Mostrando as situações que ocorrem desde a chegada dos europeus no continente africano, até o pós-descolonização, contextualizando o mundo colonial e seu funcionamento, para explorar o processo de expulsão dos colonos. Ele os descreve com ódio e defende a violência como único meio possível de expulsá-los. 
Como forma de obter a dominação, os colonos destroem a psique do colonizado criando diversos estigmas neles. Repetem inúmeras vezes que os negros são animais, sujos, desorganizados, criminosos, inimigos dos valores, são o mal absoluto. Provocam neles próprios, dúvidas sobre seu caráter, até se sentirem culpados, e internalizarem a inferioridade. Passam a admirar os europeus por suas qualidades, por serem diferentes. Estes os fazem trabalhar por pouco, os chamam preguiçosos, os prendem, matam. Fazem questão de provar sua suposta superioridade a todo tempo. Não se referem aos habitantes do território como extensão do seu país, só a terra é. No sentido de que lhe é subordinada. A população é indigente e sua cultura é marca disso, precisa transformar suas crenças e costumes em algo a ser repugnado. Ela necessita ser destruída, substituída pela europeia que talvez os salve. Será uma nação ajoelhada e acuada, até que por motivos internos e internacionais, acorde. Descubra que sua condição, os maus tratos que sofre, o mercado ao qual é condicionado, não é culpa sua, nem de deus. Mas, sim, do colono a quem tanto teme. Será maltratada até que entenda que seu coração bate igual ao do colono, perca o medo de enfrentá-lo, não trema mais a sua presença.
Embora deixe claro seu ódio à presença dos brancos na África, me pareceu que sua maior crítica era aos próprios negros - aqueles que não fossem da massa, tribal, camponês, a elite. Ele os diferencia em classes como elites intelectuais, econômicas, lumpen-proletariat e as massas. Critica a primeira por não se aproximarem das massas, não as ajudarem a se organizar, não as levar a sério e explorar seu potencial para a revolução política só após anos de humilhação; descreve-os através da visão das massas como vendidos, traidores, individualistas, e é assim que ele, também, acredita que sejam. Essa elite é mimada pelo regime. É distante dos camponeses, é individualista. Só aproxima deles quando já estão fazendo acontecer a revolução. Querem garantir seu protagonismo na decisão no futuro do país, através de negociações com os estrangeiros. Após a descolonização, volta a ignorá-los - a não ser que precise de seu trabalho árduo, aí, então, os explorará tanto quanto os colonos faziam, enxugarão suas capacidades e converteram o lucro somente para os seus. Alimentará a burocracia e a corrupção.
A massa é o oposto dessa elite. Fanon mostra que o futuro do país está nas mãos dela. Conta de maneira aprofundada como todo o ódio da exploração física e mental se acumula em seu corpo, não importando quantas catarses místicas, religiosas, até de lutas contra outras tribos, nunca são suficientes. A “desentoxicação” deve ser feita com o uso da força, mas contra o colono. Quando a oportunidade de se descolonizar surgir, toda essa angústia se transformará em violência - os livrará do sentimento de inferioridade, será o exorcismo do mal da colonização. Só se liberta através da violência, as negociações da elite são corrompidas.  Esta burguesia será um entrave a realização do conflito, o prolongará. Enquanto as massas vão buscar a força para enfrentar aqueles que os disseram que negros e índios só entendem dessa linguagem, as elites querem a negociação. Não querem perder o pouco que tem. Mas a massa não confia nela. O momento da luta para eles é tudo, não importa quanto sangue seja derramado, diferente das elites, não tem nada a perder na vida que levavam. Viver para eles era, simplesmente, não morrer.
Inclusive, atribui essa pobreza, esse destino, ao desenvolvimento que foi impedido de acontecer, pelos colonos. Europeus enriqueceram-se no território africano, explorando suas riquezas e sua força trabalhadora. Protesta contra a maneira com que saem na descolonização, impunes. Não se pode aceitar que sua retirada seja um acerto de contas. Isso é, mais uma vez, inferiorizar os colonizados. Na história, quando os alemães causaram danos a outros europeus, se exigiu que pagassem, pedissem perdão, devolvem-se elementos de sua cultura (telas, esculturas etc). Aos africanos deve-se também pagar pelo que lhes foi retirado, deviam cuidar de restaurar seus psicológicos, seus bolsos. Mas, a história pós-independência em 95% dos casos, não produz mudança imediata e ainda trazem outros problemas.
Isso porque as elites estenderão sua comunicação com a ex-metrópole. O que, embora Fanon caracterize como egoísmo, eu acredito ser justificável como fruto do próprio regime colonial. Ainda que sejam mais capazes de imaginar e entender o sistema colonial como um todo, não quer dizer que o façam. São mais ilustrados que a massa, mas assim o são porque foram educados pela Europa, uma Europa que condena sua existência e destino como inferior, perder o que se tem, gera medo. A elite valoriza é a presença ocidental em suas terras. Ademais, se o autor diz que as elites invejam o colono, a alienação do individualismo ocorre porque a presença desse colono gera mimetismo, vão procurar ter vantagens sob qualquer circunstância quando ocuparem o lugar da metrópole. A posição do livro é que a descolonização deve ser uma substituição de homens por outra “espécie” de homens. Não se pode haver transição. Quando a elite propõe que não haja rompimentos e sim uma comunicação e laços econômicos, ela entrava isso.
A diferença, em alguns casos, da dominação poderá ser reduzida ao simples fato de o país ter um líder, um presidente que seja recebido pelo presidente do país explorador por causa da posição de adoração da elite pelo estrangeiro. Durante o auge da descolonização, os burgueses atuam como mediadores deles e da massa, ajudam os europeus a não perderem a luta só porque foram expulsos. A proximidade que cria com as massas é principalmente para ter algum controle sobre ela. Poder dizer para o estrangeiro que elite e europeus devem se juntar contra esse povo terrorista, que não discute valores e não negocia – diferente deles, que também querem a descolonização, ocupar o lugar dos colonos. Mas, não querem perder as tecnologias, os engenheiros, administradores.
Dizem aos europeus que devem fazer um acordo com a elite negra, sem sangue, antes que percam o controle sob as massas – sua influência era através da religião, do convencimento de que elite e povo eram iguais. Usavam dos meios de comunicação para enganá-los e acalmá-los. Diziam que elites internacionais deviam se unir para evitar que a nação africana convirja ao comunismo ou ateie fogo em tudo. O que não diziam, é que na verdade torciam para o conflito durar mais para terem mais tempo de barganha e discussão de reformas nos salários, nas liberdades de associação e imprensa. Assim, garantiam suas regalias. Elas, são educadas, pensam e agem como aprenderam com esses brancos estabelecerão laços políticos, econômicos com eles, permitindo que sua influência esteja no governo, quase que como se esses jamais houvessem saído. O ex-colono continuará usando termo do autor, a “fazer” o ex-colonizado, malgrado o ímpeto da descolonização tenha sido criar novos homens.
Quando os brancos apareceram, mataram sincreticamente a sociedade autóctone, provocaram letargia cultural. A vida africana só ressurgirá se adubadacom a morte do colono. As massas não querem nem negociar, nem competir com o colono, querem o lugar dele. Isso, na minha visão, pode ser dito da maneira com que as massas se sentem, porque na realidade não planejam suas ações em longo prazo. Elas agem como sentem necessário agir e a descolonização é um processo histórico, portanto, não é transparente a si mesma. As massas sabem o que não querem, mais do que o que querem. Não querem mais ser descritas e tratadas como animais, desumanizadas, reguladas pela religião, com complexo de frustração, de colonizado. Assim, deixam de ser espectador das humilhações que o colono lhe causa e vão ser atores da sua reconstrução, com armas nas mãos e sem pretensão de parar antes de conseguirem.
        A força para tanto, e a descoberta de que ela poderia, depois de anos de dominação, ser esse ator, vem de diversos fatores. Na história de cada país, o estopim é diferente, mas no cenário em geral pode-se listar como três impulsionadores desse fenômeno, a criação da Organização Nações Unidas (ONU), que servirá de defesa da soberania e autodeterminação dos povos; a emergência de superpotências no pós Guerra Fria, que não possuíam colônias e eram a favor da liberdade das colônias - incentivando-as a libertarem-se; e o movimento de Bandung que foi criado com fins a julgar as práticas imperialistas e desumanas dos colonos, com um tribunal de descolonização. Essa nova tendência mundial ameaçava o status quo dos europeus, em alguns casos se traduziu em respostas violentas, outros nem tanto. Mas, o resultado mais comum era os colonos agirem, em meio à bipolaridade mundial, para que se perdessem a colônia, que não perdessem para o socialismo.
        Uma das maneiras de assegurar que isso acontecesse, também assegurando seu mercado e lucratividade, é dando às elites a extensão que já foi dito que elas queriam. Se o processo foge de seu controle, a ex-metrópole já tem conhecimento daquele povo – afinal, ela o fez -, e poderá desestabilizar aqueles que entravam seu sucesso. Pode nutrir as velhas confrarias e chefias, dividir o povo para enfraquecê-lo, reforçar ódios entre tribos. Influenciar os tomadores de decisões locais com as instruções que já lhes dera antes, mostrar seu mundo tecnológico e os convencer que tais avanços, sim, devem ser enaltecidos e a África não, porque é atrasada, porque não abre as portas para receber as “ajudas” que eles querem proporcionar.
        Seguindo a lógica que os europeus emprestam aos negros, a troco do sangue dos africanos, a burguesia se consolida após a descolonização, mas termina com um fim em si mesmo. Ela não tem objetivos fortes, foco, e nem dinheiro. O desenvolvimento do país será estagnado porque era produzido fora dele. Fanon propõe que não seria assim se a massa tivesse se reunido com as elites e ambas tivessem formado um Estado socialista. Arriscado ratificar esse pensamento, já que o socialismo requer uma distribuição de riquezas que os países saqueados pela ex-metrópole não possuíam.
Outra ideia do autor, importante pontuar por sua confusão é sobre a organização da frente revolucionária. Comumente as massas são frente de combate e excedendo-se nessa situação, serão negligenciadas no mundo colonial e após a descolonização. Em casos em que a massa consegue se organizar para formar um partido, não há negociação com o estrangeiro, este espera até que o outro se esgote para declarar o fim da luta. É difícil entender a posição do autor relacionada a essa possibilidade. Muitas vezes ele afirma que são raros esses casos e que a elite é sempre negligente e preguiçosa por não os ajudar. Outra vez, diz que o individualismo, a subjetividade e o consumismo da elite vão ser desmontados quando ela conhecer as assembleias das aldeias, as comissões do povo, as reuniões de célula e quarteirão, quando conhecer a noção de causa comum e destino nacional. Afirma que se unem de tal maneira que ou todos serão salvos ou todos serão massacrados.
Além dessas complicações, a história da descolonização, a meu ver, é muito complicada na projeção de um futuro próspero. Ao mesmo tempo em que não se deve lutar por uma descolonização em vão, tornando-se dependente de capital estrangeiro logo após a conquista, também não se pode fechar às potências, que embora sejam exploradoras, são fonte de inserção internacional, de comércio, importações. Os países africanos têm baixa complementaridade de produtos para permitirem-se fecharem-se num ciclo interno. O grande problema da África é a escassez natural, se, ainda desperdiçam orçamento e mão de obra com exército, para manter a soberania ameaçada de seus territórios, a situação tende a piora infinita.
A solução de Fanon é arriscar o não contato com o estrangeiro. Porque este depende dos africanos também. Sem a África, teriam menos mercado, os grupos financeiros e trustes internacionais disputariam os outros mercados até que fábricas fossem fechadas, houvesse desemprego e os proletariados ocidentais lutassem contra o regime capitalista. Os tomadores de decisão se dariam conta de que ajudando os Terceiro Mundo, poderiam voltar ao desenvolvimento. Nessa lógica socialista, também afirma que se devesse por todos os fatores políticos e econômicos no meio comum. Reformar o trabalho, jogar fora as formas ocidentais. Ademais, agora sem valor político, fala de reformar a cultura, porque essa criaria uma noção nacional, uma visão internacional, convenceria as mentes colonizadas da nova liberdade, das novas chances de se assumir sua personalidade africana, de fazer renascer da realidade colonial humilhante que tinha antes.
Libertação total para ele, só seria atingida quando reparados da personalidade da população. É preciso extirpar o imperialismo dos cérebros. Necessário acreditar que a despeito do que disseram e ainda digam, eles são humanos e não há nada errado com suas características biológicas. Devem esquecer as diferenças tribais a fim de unirem-se por um desenvolvimento maior. A criação de uma nova cultura completaria o ser. Enalteceria quem ele é, curaria seu complexo de inferioridade.
 	Aconteceria por etapas. As primeiras tentativas não os fazem bem quando percebem que sua maneira de produzir cultura é a que aprenderam com o próprio ocupante. Vão relembrar o que eram antes do ocupante, mas ainda a lembrança sozinha, não é uma cultura que os projete felicidade e união nacional. A melhor forma de cultura, descobriram, é a de combate. Se sua produção é imbuída das formas estrangeiras de acontecer, tudo bem. Parte da cultura será reconhecer isso e criticar, será se fazer ouvir sobre suas feridas e traumas. Aludirá ao passado e abrirá um futuro, assim, fazendo renascer nação e Estado.

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