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A escravidão no Brasil - indígena e africana

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HISTÓRIA E 
CULTURA AFRICANA, 
AFRO-BRASILEIRA E 
INDÍGENA 
Celiane Ferreira da Costa 
Kate Rigo
A escravidão no Brasil: 
indígena e africana
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Identificar os impactos históricos e econômicos da colonização por-
tuguesa no Brasil.
  Analisar as diferentes relações estabelecidas entre portugueses e 
indígenas no Brasil.
  Descrever a origem do tráfico de escravos africanos no Brasil.
Introdução
A diversidade cultural caracteriza a história do Brasil. O território nacional 
originalmente foi povoado por grupos indígenas distintos que possu-
íam sistemas sociais, culturais e linguísticos heterogêneos. Quando os 
portugueses chegaram por aqui, de acordo com Cunha (1992), estima-
-se que havia 6 milhões de pessoas segmentadas em mil diferentes 
grupos indígenas. Ou seja, a recorrente contraposição entre descoberta 
e ocupação deixa de ter sentido e abre espaço para uma história mais 
integrativa, que considera os múltiplos agentes que contribuíram para 
a formação de um país gigante pela própria natureza territorial, cultural 
e social.
Neste capítulo, você vai conhecer os aspectos gerais do processo de 
ocupação e colonização portuguesa no Brasil e o impacto de tal processo 
no desenvolvimento colonial. Além disso, você vai estudar o choque 
cultural entre os habitantes nativos do Brasil e os portugueses. Por fim, 
vai ver um panorama do processo de tráfico e escravidão africana em 
terras brasileiras.
1 A colonização portuguesa no Brasil colonial
Compreender o processo de ocupação europeia no território brasileiro no 
século XVI é uma tarefa que requer o conhecimento do contexto vigente e 
das características culturais que diferenciavam seus protagonistas, na época 
conhecidos como os “civilizados” e os “selvagens”. Pensar nessas interações 
que geraram confrontos e adaptações auxilia a perceber melhor o Brasil 
contemporâneo.
Colonização na América portuguesa
No século XV, as monarquias europeias desafi avam-se a expandir seus ter-
ritórios para além de suas terras e almejavam encontrar espaços para além 
da linha do mar. Nesse contexto, os portugueses lançaram-se às grandes 
navegações. Em 1415, conquistaram a cidade de Ceuta, no norte da África, 
importante entreposto comercial que reunia mercadorias vindas de diversas 
regiões da África e do Oriente. Essa conquista marca o início da expansão 
marítima portuguesa.
Os espanhóis, assim como os portugueses, buscavam um novo caminho para chegar 
às Índias. Em 1492, o navegador genovês Cristóvão Colombo, apoiado pela coroa 
espanhola, iniciou uma viagem cujo objetivo era chegar ao Oriente navegando 
sempre a oeste, até dar a volta no globo. Mas, em vez de descobrir um novo caminho 
para as Índias, Colombo chegou a um novo continente, a América. Portugal e Espanha 
passaram a disputar as novas terras. A disputa foi resolvida com a assinatura do 
Tratado de Tordesilhas, em 1494. O tratado estabelecia uma linha imaginária a 370 
léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. As terras que ficassem entre Cabo Verde e a 
linha imaginária seriam de Portugal, e as terras a oeste da linha imaginária ficariam 
para a Espanha.
Durante anos, a historiografia oficial descreveu a chegada dos portugueses 
à América como um acaso, levando à clássica e ultrapassada discussão: des-
coberta ou ocupação? Acreditava-se que a frota comandada por Cabral teria 
se perdido e se desviado da rota original. Depois de navegar alguns dias, os 
marinheiros teriam avistado um monte, que chamaram de Monte Pascal, e, 
A escravidão no Brasil: indígena e africana2
no dia 22 de abril de 1500, os portugueses teriam descoberto o Brasil. Essa 
versão, que segundo Silva (2016, p. 11) é “[...] ensinada desde que sentamos 
pela primeira vez num banco de escola”, foi divulgada durante muitos anos 
no Brasil. Fato é que, durante a viagem que buscava um novo caminho para 
chegar às Índias, em 1498, Vasco da Gama registrou em suas anotações a 
suspeita de que haveria terras a oeste do continente africano. Com essa viagem, 
comandada por Vasco da Gama, os portugueses estabeleceram o monopólio 
do comércio com as Índias. Vasco da Gama retornou a Portugal no final de 
agosto de 1499, e a viagem foi tão lucrativa, que o rei de Portugal tratou de 
organizar uma nova expedição.
Seis meses depois, “[...] mais exatamente a 9 de março de 1500”, outra frota 
composta de 13 velas partiu com destino ao Oriente (HOLANDA, 2003, p. 
43). Após um desvio intencional, a expedição comandada por Pedro Álvares 
Cabral chegou ao litoral sul da Bahia. Era o dia 22 de abril de 1500. A partir 
dessa data, os portugueses entram em contato com um novo grupo étnico e 
cultural: os indígenas. A esquadra permaneceu nas novas terras até o início 
de maio, quando partiu para as Índias, destino inicial de sua viagem.
Organização da ocupação do território brasileiro
O encontro de um novo território, a partir da expedição de Pedro Álvares 
Cabral, não despertou tanto interesse no rei de Portugal. “Na verdade, Portugal 
auferia enormes lucros decorrentes da carreira nas Índias e da exploração do 
litoral africano, não se dispondo, assim, a transferir recursos, homens e navios 
para a ocupação da Nova Terra” (SILVA, 2016, p. 31–32). O rei de Portugal 
preferiu investir no comércio com as Índias, e as terras descobertas por Cabral 
fi caram em segundo plano. Portanto, inicialmente, a coroa portuguesa não fez 
grandes investimentos nas terras do novo mundo.
O interesse português nas novas terras, ainda que escasso, pode ser per-
cebido pelas expedições exploradoras. “Já em 1501 e 1503, Portugal mandara 
expedições, ditas ‘exploratórias’” (SILVA, 2016, p. 32). Essas expedições tive-
ram como resultado a confirmação das primeiras suspeitas dos portugueses: 
as terras eram vastas, com uma fauna riquíssima, mas sem sinal de ouro. Os 
exploradores, porém, verificaram a existência abundante de pau-brasil, uma 
árvore que, embora não alcançasse o mesmo valor das especiarias das Índias, 
poderia render lucros para Portugal.
Do pau-brasil, extraía-se uma tinta vermelha, muito cobiçada na Europa 
para tingir tecidos e pintar manuscritos. A madeira, por ser dura e resistente, 
era utilizada na construção civil e na fabricação de embarcações. A exploração 
3A escravidão no Brasil: indígena e africana
do pau-brasil foi feita por meio de escambo, um regime de troca de merca-
dorias ou serviços que não envolve dinheiro. Fausto (2009, p. 17) descreve a 
exploração do pau-brasil, veja:
As árvores não cresciam juntas em grandes áreas, mas se encontravam disper-
sas. À medida que a madeira foi se esgotando no litoral, os europeus passaram a 
recorrer aos índios para obtê-la. O trabalho coletivo, especialmente a derrubada 
de árvores, era uma tarefa comum na sociedade tupinambá. Assim, o corte do 
pau-brasil podia integrar-se com relativa facilidade aos padrões tradicionais 
da vida indígena. Os índios forneciam a madeira e, em menor escala, farinha 
de mandioca, trocadas por peças de tecido, facas, canivetes e quinquilharias.
Os lucros gerados com a extração do pau-brasil chamaram a atenção de outros 
países. A França não reconhecia o Tratado de Tordesilhas pois achava injusto 
que as novas terras fossem divididas apenas entre portugueses e espanhóis. Para 
os franceses, o possuidor de uma terra era quem a ocupasse primeiro. Logo, os 
franceses começaram a frequentar o litoral brasileiro e a explorar o pau-brasil.
Já em 1504 são assinaladas suas incursões. Nesse ano, com efeito, o navio 
Espoir, sob o mando do capitão Paulmier de Gonneville, de Honfleur, al-
cançou nosso litoral, à altura, segundo parece, de Santa Catarina, onde seus 
homens permaneceram por um semestre. Durante a viagem de regresso, o 
navio ainda escalou em outro ponto, provavelmente na região de Porto Seguro 
(HOLANDA, 2003, p. 106).
Os franceses chegaram a se estabelecer no território brasileiro em dois 
momentos diferentes: entre 1555 e 1560, na Guanabara;e entre 1612 e 1615, 
no Maranhão.
Leia o artigo de Renato Pereira Brandão “As Relações Étnicas na Conquista da Guanabara: 
índios e o domínio do Atlântico Sul”, disponível no link a seguir.
https://qrgo.page.link/QS2oF
A escravidão no Brasil: indígena e africana4
A presença constante dos franceses no litoral brasileiro fez com que Portugal 
organizasse duas expedições guarda-costas, ambas comandadas por Cristóvão 
Jacques, uma em 1516 e a outra em 1526. As duas expedições tinham como 
objetivo expulsar os invasores franceses. As expedições, no entanto, não 
conseguiram impedir o avanço dos estrangeiros, pois a costa litorânea era 
muito extensa para ser patrulhada. “O remédio para tal situação estaria em 
povoar a terra do Brasil. O próprio Cristóvão Jaques propusera-se a trazer mil 
colonos” (HOLANDA, 2003, p. 107).
A ameaça estrangeira fez com que a coroa portuguesa se conscientizasse 
de que era preciso iniciar o processo de colonização caso não quisesse 
perder o domínio do território. No entanto, a presença dos franceses no 
litoral brasileiro não foi o único motivo que fez Portugal decidir pela 
colonização. A entrada da França, da Inglaterra e da Holanda no comércio 
marítimo colocou Portugal numa situação de desvantagem, já que o país 
perdeu o monopólio do comércio com as Índias. Portugal buscava então 
uma nova fonte de riqueza.
Nesse período, notícias de que os espanhóis tinham encontrado ouro na 
América corriam pela Europa, aumentando o interesse de Portugal em iniciar 
a colonização. O rei de Portugal, D. João III, organizou então uma expedição 
colonizadora, comandada por Martim Afonso de Souza. Em 1530, Martim 
Afonso chegou ao Brasil com cinco navios e cerca de 400 homens, além de 
animais, plantas e peças para montar um engenho.
A expedição, sob comando de Martim Afonso de Souza [...] deveria expulsar os 
corsários, explorar o litoral até o rio da Prata, em busca de metais preciosos, e 
fundar o primeiro núcleo colonial. Assim, em 1532 fundou no litoral do atual 
estado de São Paulo a vila de São Vicente (SILVA, 2016, p. 33).
Como os portugueses não haviam encontrado ouro na nova terra, o rei de 
Portugal decidiu estimular a fixação de portugueses explorando uma ativi-
dade econômica que gerasse lucros e ao mesmo tempo garantisse a defesa da 
colônia. A solução foi a agricultura, e o produto escolhido para ser cultivado 
foi a cana-de-açúcar.
5A escravidão no Brasil: indígena e africana
A seguir, veja os fatores que contribuíram para a produção de açúcar no Brasil 
colonial:
  os portugueses conheciam o processo de produção, pois já cultivavam a cana nas 
ilhas de Madeira e Cabo Verde, no Atlântico;
  o clima e o solo brasileiros eram adequados para a produção da cana, ou seja, havia 
clima quente e úmido;
  o açúcar era considerado o ouro branco daquela época, pois era vendido a preços 
muito elevados.
Inicialmente, a ocupação do Brasil foi realizada por representantes da 
coroa portuguesa, com a finalidade de extrair riquezas e levá-las para Portu-
gal. Logo, não havia uma preocupação com o desenvolvimento estrutural do 
território. A religião era predominantemente católica, e as missões jesuíticas 
acompanharam o processo de ocupação e de integração com as comunidades 
indígenas nativas, fator que dificultou a multiplicidade religiosa. O idioma 
português foi inserido e adotado em todo o território, diferentemente do que 
ocorreu nos demais países da América Latina, que ficaram com o espanhol 
como idioma oficial. As particularidades destacadas são a chave para a com-
preensão do tema que você vai estudar a seguir: o processo de escravidão 
indígena e africana no território brasileiro colonial.
2 Relações entre indígenas e portugueses
O território encontrado pelos portugueses não era uma terra desabitada. Muito 
pelo contrário: era habitada por povos indígenas, com culturas, costumes, orga-
nizações sociais e línguas totalmente diferentes. Não é possível precisar quantos 
habitantes havia no território, mas se calcula que, em 1500, entre 3 e 6 milhões 
de indígenas estavam espalhados pelo Brasil. A população nativa se organizava 
em mais de mil povos que falavam aproximadamente 1.300 línguas distintas.
Os primeiros contatos entre indígenas e portugueses mostraram-se amistosos, 
apesar da estranheza de ambas as partes, conforme aponta Monteiro (1992, p. 130): 
Nas primeiras décadas do século XVI, a mera presença de navegadores e 
comerciantes europeus ao longo do litoral teve, na verdade, pouco impacto 
sobre os povos nativos do litoral, que recebiam os forasteiros com perplexi-
dade, porém amistosamente. 
A escravidão no Brasil: indígena e africana6
É possível imaginar o espanto dos indígenas ao ver embarcações tão grandes 
se aproximando do litoral e delas saltando homens completamente diferentes de 
todos os que eles já haviam visto. Os portugueses, por sua vez, também estra-
nharam os indígenas. Sobre o primeiro contato entre portugueses e indígenas, o 
escrivão que acompanhava a esquadra de Cabral, Pero Vaz de Caminha, escreveu:
Dali [da praia] avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou 
oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro. Então 
lançamos fora os batéis e esquifes [pequenas embarcações], e vieram logo todos 
os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor, onde falaram entre si. [...] E o 
Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. 
E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando 
aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, 
já ali havia dezoito ou vinte homens. [...] Eram pardos, todos nus, sem coisa 
alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas 
setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que 
pousassem os arcos. E eles os pousaram (BRASIL, [201-?], documento on-line).
No dia 26 de abril de 1500, Cabral mandou rezar uma missa para celebrar a 
chegada e simbolizar a incorporação daquelas terras aos domínios portugueses. Os 
portugueses não levaram em consideração que as terras descobertas já eram habi-
tadas por outros povos. Para os conquistadores europeus, os indígenas faziam parte 
da natureza e poderiam ser “humanizados” por meio da conversão e do batismo.
Você pode acessar a carta escrita por Pero Vaz de Caminha nos links a seguir.
  Versão manuscrita
https://qrgo.page.link/Xu4mo
  Versão transcrita
https://qrgo.page.link/aKNVm
Organização dos povos indígenas
Pesquisas linguísticas apontam que antes da chegada dos portugueses eram 
faladas cerca de 1.300 línguas diferentes por aqui. Estudos mostram que 
7A escravidão no Brasil: indígena e africana
algumas dessas línguas têm uma origem comum, ou seja, fazem parte de um 
mesmo tronco linguístico. Os quatro troncos linguísticos a que pertence a 
maioria das línguas faladas pelos indígenas no Brasil são: arawak, karib, tupi 
e jê. Existem também grupos menores, com distribuição mais compacta, além 
de línguas isoladas, desligadas de famílias (URBAN, 1992).
De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE) realizado em 2010, existem cerca de 274 línguas indígenas faladas 
no Brasil (SEGUNDO..., 2012). As demais línguas se perderam ao longo dos 
mais de 500 anos desde a chegada dos portugueses. Afinal, grande parte 
dos povos indígenas desapareceu por conta de “[...] epidemias, extermínio, 
escravização, falta de condições para sobrevivência e aculturação forçada” 
(GASPAR, 2012, documento on-line).
O termo “índio” originalmente expressava uma visão preconceituosa por parte do 
conquistador. Ao longo do tempo, porém, ele foi ressignificado. Hoje, documentos 
oficiais, entidades indígenas e estudiosos utilizam esse termo para se referir aos povos 
nativos do Brasil e seus descendentes, com seus diferentes modos de vida e identidades 
culturais. De acordo com Collet, Paladino e Russo (2014), pode-se considerar que o 
termo perdeu o sentido pejorativo e foi ressignificado.Mas essa ideia ainda não é 
unânime. Portanto, o termo mais correto para se referir aos povos que habitam o Brasil 
desde antes da chegada dos portugueses é “indígena”.
Os indígenas que habitavam o território brasileiro se organizavam em 
diferentes tipos de comunidades. Alguns viviam em pequenos grupos, com 
algumas centenas de indivíduos, dedicando-se à caça e à coleta, sendo essas 
atividades divididas por idade e sexo. Havia também os grupos maiores, 
que chegavam a reunir de 2 a 3 mil pessoas que falavam a mesma língua 
e dominavam um espaço territorial delimitado. Além disso, havia grupos 
ainda maiores, com 10 mil pessoas ou mais. Esses grupos eram integrados 
por várias aldeias e contavam com chefes locais, membros dessas comuni-
dades que obedeciam ao comando de uma autoridade maior, escolhida por 
todos os grupos.
Analisar a sociedade e os costumes indígenas é uma tarefa muito complexa, 
pois se trata de uma cultura diferente, cuja história carrega muitos preconceitos. 
Por se tratar de povos ágrafos, ou seja, povos que não utilizavam a escrita, não 
A escravidão no Brasil: indígena e africana8
há registros escritos sobre a sua organização anterior à chegada dos portu-
gueses. De acordo com Fausto (1995, p. 38), “[...] isso se reflete, em maior ou 
menor grau, nos relatos escritos por cronistas, viajantes e padres, especialmente 
jesuítas”, que perpetuaram uma imagem preconceituosa dos indígenas. As 
pesquisas arqueológicas auxiliam a historiografia na tentativa de entender 
como os indígenas se organizavam. Muitas tradições, costumes e lendas são 
utilizados para o estudo desses povos. Essas tradições orais, transmitidas dos 
mais velhos para os mais novos, são dados importantes para pesquisas que 
buscam entender melhor a organização dos indígenas antes de 1500.
A escravização dos povos indígenas
Como você já viu, a primeira riqueza explorada pelos portugueses na América 
foi o pau-brasil, extraído a partir do escambo com os indígenas, que foram 
vistos pelos europeus como potencial grupo para suprir demandas de mão de 
obra. Com o passar do tempo, o recrutamento do trabalho indígena esbarrou 
em dois entraves: a resistência indígena e o confl ito de interesses da Igreja 
Católica, representada na América pelos missionários jesuítas. A Igreja apos-
tava na conversão e na catequização dos indígenas para angariar fi éis, o que 
gerou muitos confl itos com os colonos. Os portugueses dispunham de duas 
maneiras de conseguir a mão de obra indígena:
[...] através do escambo ou através da compra de cativos. Na primeira forma 
de recrutamento, os portugueses ofereciam ferramentas, espelhos e bugigan-
gas aos chefes indígenas, na expectativa de estes orientarem mutirões para 
as lavouras europeias. Embora útil na derrubada da mata para preparo das 
roças, esta forma mostrou-se inadequada, esbarrando na aparente inconstância 
dos índios. Na segunda forma de recrutamento, os portugueses procuravam 
fomentar a guerra indígena, com o intuito de produzir um fluxo significativo 
de cativos que, ao invés de sacrificados, seriam negociados com os europeus 
como escravos (MONTEIRO, 1992, p. 130).
Essa última justificativa apresentada por Monteiro (1992) era conhecida 
como “resgate”. Os portugueses compravam prisioneiros capturados em guerra 
para escravizá-los. Como justificativa, alegavam que a compra e a escravização 
do prisioneiro o salvavam da morte no ritual de antropofagia.
Conforme a ocupação portuguesa do território avançava, as relações com 
os indígenas iam se tornando mais difíceis. O crescimento, ainda que lento, 
da produção açucareira, sobretudo a partir da década de 1540, aumentava a 
demanda pela mão de obra indígena. De acordo com Marquese (2006), a mão de 
9A escravidão no Brasil: indígena e africana
obra indígena foi amplamente utilizada na montagem dos engenhos de açúcar. 
Parte dos indígenas era recrutada nos aldeamentos jesuíticos e trabalhava sob 
regime assalariado, mas a maioria deles era submetida à escravidão.
Os indígenas praticavam a agricultura de subsistência, plantando somente o 
necessário para a sobrevivência do seu povo e não visando a lucros com a venda 
dos produtos. Para os indígenas, não fazia sentido plantar em grandes quantidades. 
Esse fator de dissonância cultural provocou a resistência de muitos povos indígenas 
à escravidão e o enfrentamento às ordens dos portugueses. Nas guerras contra os 
indígenas, os portugueses usavam armas de fogo, causando a morte de muitos deles.
Mas não foram as guerras contra os portugueses a maior causa da mortan-
dade dos indígenas. Povos inteiros foram dizimados ao entrarem em contato 
com doenças trazidas pelos portugueses. Doenças como gripe, sarampo, 
tuberculose e varíola foram responsáveis pela morte de milhares de indígenas.
Isso acontecia porque os indígenas não possuíam imunidade para combater 
essas doenças. Quando um indígena ficava doente, com gripe, por exemplo, a 
doença se espalhava na forma de epidemia e atingia os demais indígenas da aldeia. 
Após 1560, com a ocorrência de várias epidemias no litoral brasileiro (como 
sarampo e varíola), os escravos índios passaram a morrer em proporções 
alarmantes, o que exigia reposição constante da força de trabalho nos en-
genhos. Na década seguinte, em resposta à pressão dos jesuítas, a Coroa 
portuguesa promulgou leis que coibiam de forma parcial a escravização de 
índios (MARQUESE, 2006, p. 111).
Uma lei de 1570 tentava coibir a escravização indígena. De acordo com 
Fausto (1995, p. 50), leis assim “[...] continham ressalvas e eram burladas com 
facilidade”, pois os indígenas eram escravizados em decorrência de “guerras 
justas”, ou seja, “guerras consideradas defensivas, ou como punição pela 
prática da antropofagia”. Na prática, os portugueses utilizaram o princípio da 
guerra justa para legitimar a escravidão e estimularam guerras contra povos 
até então pacíficos com o objetivo de escravizá-los.
Mesmo com a tentativa de coibir a escravização indígena, ela continuou a 
ser praticada na região da capitania de São Vicente e também em regiões mais 
afastadas do litoral, como no Vale Amazônico, onde a mão de obra indígena 
era empregada na exploração das chamadas “drogas do sertão” (pimenta, 
castanha-do-pará, urucum, cravo, anil e cacau). A captura e a escravização 
de indígenas no norte da América portuguesa foram práticas comuns até o 
século XVIII. Um decreto oficial de 1757 proibiu a escravização de indíge-
nas na América portuguesa, medida que impulsionou o lucrativo tráfico de 
escravos africanos.
A escravidão no Brasil: indígena e africana10
3 Da África para o Brasil: o tráfico de escravizados
A escravidão ocorre desde a História Antiga. Gregos, romanos e mesopo-
tâmicos utilizavam a prática escravista. A forma mais comum de se tornar 
escravo era sendo prisioneiro de guerra, mas havia também a escravidão por 
dívidas. Na África, a escravidão também remonta à Antiguidade e decorria 
de motivos semelhantes: punição por crimes, dívidas ou derrotas em guerra. 
Os escravizados podiam desenvolver atividades variadas, como o trabalho 
doméstico, a agricultura, a mineração e o artesanato. A esse tipo de escravidão 
se dava o nome de “escravidão doméstica”. Essa dinâmica se altera com a 
presença dos árabes no continente africano.
Desde que os árabes ocuparam o Egito e o norte da África, entre o fim do 
século VII e a metade do século VIII, a escravidão doméstica, de pequena es-
cala, passou a conviver com o comércio mais intenso de escravos. A escravidão 
africana foi transformada significativamente com a ofensiva dos muçulmanos. 
Os árabes organizaram e desenvolveram o tráfico de escravos como empreen-
dimento comercial de grande escala na África. Não se tratava mais de alguns 
poucos cativos, mas de centenas deles a serem trocados e vendidos, tanto dentro 
da própria África quanto no mundo árabe e, posteriormente, no tráfico transa-
tlântico para as Américas, inclusive para o Brasil (ALBUQUERQUE, 2006).
Em 1482, os portugueses construírama feitoria de São Jorge da Mina, na 
Costa do Ouro (atual Gana). De lá, eles conseguiram interceptar quase todo o 
ouro transportado pelo deserto do Saara. De posse do ouro, eles negociavam 
vantagens nos mercados africanos e, com os lucros, obtinham mercadorias 
sofisticadas que não existiam em Portugal. De acordo com estimativas apre-
sentadas por Albuquerque (2006, p. 25), “[...] entre 1500 e 1535, os portugueses 
levaram para o castelo de São Jorge entre dez e doze mil escravos”.
São Jorge da Mina foi a principal fonte de lucros para os portugueses até 
o início do comércio com as Índias. Foi nessa feitoria que se concentrou o 
embarque de escravizados para a América até o século XVII, quando o local 
foi tomado pelos holandeses.
Os portugueses tentaram monopolizar o comércio de escravos, atividade 
altamente lucrativa, mas aos africanos comerciantes de escravos não interessava 
ter compromissos exclusivos com Portugal. Afinal, franceses, holandeses e 
ingleses também haviam demonstrado muito interesse no comércio de escravos. 
Por isso, não se pode entender a prosperidade do tráfico de escravos sem levar 
em consideração a combinação de interesses entre europeus e africanos. É bem 
verdade que as nações europeias tentaram manter o controle sobre as regiões 
11A escravidão no Brasil: indígena e africana
produtoras de escravos, mas o tráfico africano era um negócio complexo e 
envolvia a participação e cooperação de uma cadeia extensa de participantes 
especializados, que incluía chefes políticos, grandes e pequenos comercian-
tes africanos. Há estimativas de que 75 por cento das pessoas vendidas nas 
Américas foram vítimas de guerras entre povos africanos (ALBUQUERQUE, 
2006, p. 26).
Os lucros advindos do comércio de escravos estimularam a guerra entre os 
africanos. Pequenas aldeias afastadas do litoral eram atacadas. Aprisionados, 
seus habitantes eram levados até os mercados de escravos no litoral, onde 
eram trocados por fumo de rolo, produzido na Bahia, e, principalmente, por 
armas de fogo, que garantiam o poder de dominação dos comerciantes de 
escravos africanos. Os europeus introduziram na África o sentido comercial 
da escravidão. Assim, as guerras entre povos africanos foram intensificadas 
com o objetivo de capturar cativos para serem trocados com os traficantes 
de escravos europeus.
Segundo alguns pesquisadores, o termo “escravo” naturaliza a situação do cativo 
como alguém que se acomodou a uma condição estabelecida desde sempre. Por 
isso, o termo mais correto seria “escravizado”. Ele permite perceber que a pessoa foi 
escravizada e que não nasceu como escrava. Neste capítulo, são usados os dois termos 
porque, apesar da diferença semântica entre eles, o termo “escravo” foi ressignificado 
pelo uso e pelas pesquisas realizadas sobre a escravidão, que atribuíram um novo 
sentido a essa palavra. É o caso dos estudos de Alencastro (1998) e Marquese (2006).
A economia açucareira e os africanos escravizados
Você viu anteriormente que o plantio da cana-de-açúcar foi escolhido pelos 
portugueses para iniciar o processo de ocupação do Brasil. Segundo Alencastro 
(1998, p. 199), “[...] os engenhos são concebidos como uma estrutura ambiva-
lente, sendo ao mesmo tempo unidades de produção e unidades fortifi cadas 
de ocupação territorial”. O cultivo da cana e a produção do açúcar no Brasil 
se desenvolveram com base no sistema do plantation, caracterizado por:
  latifúndio — por ser um produto muito lucrativo, a cana era plantada 
em grandes propriedades;
A escravidão no Brasil: indígena e africana12
  monocultura — nessas grandes propriedades, cultivava-se apenas a cana;
  mão de obra escravizada — para garantir ainda mais lucros, a mão de 
obra empregada nos latifúndios era composta por escravos.
A produção era voltada para o mercado externo. O sistema de plantation 
foi usado em outras regiões em diferentes épocas, como na Região Sudeste do 
Brasil, na produção do café, a partir do século XIX, bem como nas colônias 
do sul dos Estados Unidos, na produção de algodão. 
Como base do sistema do plantation, a mão de obra escravizada passa a ser 
uma necessidade dos portugueses. Após a segunda metade do século XVI, a 
resistência dos indígenas e a parca oferta de mão de obra promovem a busca 
de um novo grupo de escravos: os africanos.
Diversos fatores levaram à substituição do índio pelo africano. As epidemias 
dizimaram grande número dos que trabalhavam nos engenhos ou que viviam 
em aldeamentos organizados pelos jesuítas. A fuga dos índios para o interior 
do território provocou aumento dos custos de captura e transporte de cativos 
até os engenhos e fazendas do litoral (ALBUQUERQUE, 2006, p. 40).
Os portugueses praticavam o comércio de escravos na África desde meados 
do século XV, como você já viu. O número de africanos trazidos para a América 
na condição de escravos não é preciso. Segundo Albuquerque (2006), mais de 
11 milhões de escravos foram transportados para a América entre os séculos 
XVI e XIX. Esse número refere-se aos escravos que chegaram vivos à América, 
pois muitos não sobreviviam ao processo de captura e transporte até as colônias 
americanas. Desses 11 milhões, Albuquerque (2006) afirma que cerca de 4 mi-
lhões foram enviados para a América portuguesa. Devido a isso, “[...] nenhuma 
outra região americana esteve tão ligada ao continente africano por meio do 
tráfico como o Brasil. O dramático deslocamento forçado, por mais de três 
séculos, uniu para sempre o Brasil à África” (ALBUQUERQUE, 2006, p. 39).
Os primeiros africanos escravizados desembarcaram na Bahia em 1550. 
Conforme a economia açucareira ia se fortalecendo, aumentava o número 
de escravizados africanos que chegavam. Ainda segundo Marquese (2006), 
entre 1576 e 1600, cerca de 40 mil africanos desembarcaram nos portos bra-
sileiros. Entre 1601 e 1625, esse número triplicou: mais de 150 mil africanos 
escravizados desembarcaram na América portuguesa. Assim, no século XIX, 
a quantidade de africanos escravizados na América portuguesa era enorme. 
De uma população de quase 3,9 milhões de pessoas, quase 2 milhões eram 
escravas. Em algumas regiões, a quantidade de escravos era superior ao número 
13A escravidão no Brasil: indígena e africana
de pessoas livres. Em Campinas, São Paulo, em 1872, a população livre era 
de 8.281 pessoas, enquanto a população de escravos era de 13.685 pessoas 
(ALBUQUERQUE, 2006).
Considerando esses números, a sociedade da América portuguesa e do Brasil 
imperial (a partir de 1822) era caracterizada como uma sociedade escravista e 
racista. Nela, “[...] negros e mestiços, escravos, libertos e livres, eram tratados 
como ‘inferiores’ aos brancos europeus ou nascidos no Brasil” (ALBUQUER-
QUE, 2006, p. 68). Os africanos escravizados eram considerados mercadorias 
que poderiam ser vendidas, leiloadas, doadas e inclusive deixadas como herança.
A mão de obra dos africanos escravizados foi predominantemente empre-
gada nas plantações de cana e café, bem como na mineração. Nas fazendas, 
as condições de vida dos africanos eram muito duras. Alojados nas senzalas, 
ambientes mal iluminados e mal ventilados, eles dormiam amontoados sobre 
esteiras de palha. A alimentação dos escravos era composta basicamente de 
mandioca, feijão, milho, pão e água. Em épocas de colheita, eles chegavam 
a trabalhar 18 horas por dia.
Os escravos trabalhavam muito, descansam pouco e tinham uma alimen-
tação precária. Devido a esses fatores, a “vida útil” de um escravo era de 10 
anos. De acordo com Klein (1989, p. 18), a “[...] expectativa de vida dos escravos 
homens no Brasil, por exemplo, ficava pouco acima dos 25 anos”. Quando os 
escravos já estavam “velhos” ou doentes, alguns senhores os alforriavam, isto 
é, os libertavam, livrando-se assim da obrigação de sustentá-los.
Os escravos que trabalhavam na mineração enfrentavam uma realidade 
igualmente dura. Trabalhavam horas de pé, extraindo ouro no leito dos rios, 
com os pés na água, fato que frequentemente ocasionava tuberculosee outras 
doenças pulmonares. Nas minas subterrâneas, os escravos estavam sujeitos à 
asfixia e aos riscos de soterramento.
Alguns escravos eram destinados ao trabalho doméstico, ocupando-se de 
cozinhar, limpar a casa, lavar as roupas, servir as refeições e cuidar das crianças. 
Algumas escravas, além de cuidar, amamentavam os filhos do seu senhor. A 
situação de maus-tratos ocorria em todas as escalas, não havendo situação de escra-
vidão não violenta. No entanto, a interação entre as culturas europeias, indígenas 
e africanas marcou o povo brasileiro e oportunizou o desenvolvimento de uma 
identidade cultural múltipla e distinta daquelas das demais colônias portuguesas.
Movimentos de resistência africana
Além das duras condições de vida e de trabalho, os escravos eram frequen-
temente castigados. Os castigos físicos faziam parte do cotidiano e eram 
A escravidão no Brasil: indígena e africana14
aplicados para punir a desobediência e para servir de exemplo aos demais; 
por isso, os escravos eram castigados em público. Os principais castigos 
eram as chibatadas, mas também era comum manter os escravos algemados 
ou presos a correntes; e havia ainda as palmatórias. Com o intuito de não 
serem castigados, muitos escravos calavam-se diante do medo da punição e 
obedeciam às regras impostas por senhores e feitores.
Contudo, a prática da escravidão não foi isenta de resistência. Tanto indí-
genas quanto africanos criaram movimentos coletivos ou individuais de luta 
contra essa prática que supria sua liberdade e os desqualificava enquanto 
humanos.
A principal forma de resistência era a fuga, motivada pelo desejo de liber-
dade, o anseio maior de quem viveu a cruel experiência de ser escravizado. 
Todavia, fugir era perigoso e difícil, pois os escravos fugidos dependiam da 
ajuda de outras pessoas. Muitos escravos fugidos se juntavam e viviam em 
comunidades chamadas “quilombos”. Em algumas regiões do Brasil, esses 
agrupamentos de escravos fugidos recebiam o nome de “mocambos”.
Nos quilombos, os negros praticavam a agricultura de subsistência, criavam 
animais e caçavam nas regiões próximas. Muitos quilombos praticavam o 
comércio com vilas e cidades da região. A ideia de que os quilombos eram 
compostos apenas por negros é equivocada, pois “[...] um grande número de 
quilombos reunia não só escravos em fuga, mas também negros libertos, 
indígenas e brancos com problemas com a justiça” (ALBUQUERQUE, 2006, 
p. 120).
O quilombo mais conhecido é o de Palmares, inserido na região da Serra 
da Barriga, no atual estado de Alagoas. Não há fontes que atestem o número 
total de habitantes que viveram em Palmares. Segundo Marquese (2006, p. 
107), as fontes variam “[...] de um mínimo de 6 mil a um máximo de 30 mil 
pessoas”. Visto como grande ameaça à escravidão, o quilombo de Palmares 
foi atacado em diversos momentos até ser destruído, depois de vários anos de 
guerra, em fevereiro de 1694.
As marcas desse período ainda estão presentes. Os anos de escravidão 
representam um período obscuro da história brasileira, repleto de dor, separação 
e crueldade. O resultado do fluxo migratório forçado de africanos escravizados 
está presente hoje na composição demográfica do Brasil. O País tem a segunda 
maior população negra do mundo, inferior apenas à da Nigéria, na África. 
Segundo dados do Censo 2010 do IBGE, cerca de 97 milhões de brasileiros 
são pretos ou pardos. Os africanos constituem um grupo étnico que trouxe 
ao Brasil não apenas a força de seu trabalho, mas a beleza de suas vestes, o 
sabor de sua culinária, o ritmo de sua música e o encanto de suas religiões.
15A escravidão no Brasil: indígena e africana
Houve quilombos no Brasil durante todo o período de escravidão, que durou até 
1888. Muitos dos descendentes quilombolas, na atualidade, ainda vivem nos locais 
construídos por seus antepassados e lutam para garantir o direito à posse de suas terras. 
De acordo com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais 
Quilombolas (Conaq), não há um consenso acerca do número preciso de comunidades 
quilombolas no País. Dados oficiais da Secretaria Especial de Políticas de Promoção 
da Igualdade Racial (Seppir) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária 
(Incra) estimam que atualmente existam 2.847 comunidades certificadas no Brasil.
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A escravidão no Brasil: indígena e africana16
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17A escravidão no Brasil:indígena e africana

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