Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Disposições gerais acerca dos crimes contra a Administração Pública 1º - Extraterritorialidade Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro I - os crimes: c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; Para os crimes contra a Administração Pública, o legislador previu uma extraterritorialidade incondicionada, fazendo com que o agente se submete a lei brasileiro, ainda que o crime seja cometido no estrangeiro. 2º – Progressão de regime Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. § 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais O STF entendeu que o §4º do artigo 33 é constitucional (EP 12 ProgReg-AgR/DF). Vale ressaltar, no entanto, que, mesmo sem previsão expressa, deve ser permitido que o condenado faça o parcelamento do valor da dívida. 3º – Sujeitos do Crimes Nos crimes funcionais (aqueles praticados por funcionários públicos) o sujeito ativo é o funcionário público. Cumpre ressaltar que o Código Penal ainda faz uso da expressão “funcionário público”, a qual, após a https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ edição da Constituição de 88, foi substituída pelo termo servidor público. O sujeito passivo é a Administração em geral. O particular lesado também poderá ser vítima nos crimes funcionais, contudo, ele será sempre vítima secundária. A vítima primária é a Administração. Qual o conceito de funcionário público para fins penais? Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. a) interpretação legislativa: o artigo 327 consagra um caso de interpretação autêntica, literal ou legislativa. O direito penal realizou a interpretação do conceito de funcionário público em atenção ao princípio da taxatividade, não se sujeito ao conceito administrativista. b) funcionário público típico ou propriamente dito (Art. 327, “caput”): o “caput” do artigo 327 consagra o conceito de funcionário público típico ou propriamente dito, que, para fins penais, é aquele que exerce cargo, emprego ou função pública, ainda que transitoriamente ou sem remuneração. Cumpre esclarecer que: 1º exerce cargo público o servidor público estatutário; 2º exerce emprego o empregado público celetista; https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ 3º já a função pública é o exercício de um dever para com a Administração Pública. Nesse sentido, é possível que haja função sem cargo público, mas todo cargo público tem uma função. Função Pública X Encargo Público (“munus publicum”) Não se pode confundir função pública com encargo público. Na função pública o agente presta um dever para com a Administração, sendo, assim, considerado funcionário público para fins penais. Já no encargo público, o agente presta um favor para a administração, não sendo considerado funcionário público para fins penais. Exercem encargo público, estando, portanto, fora do conceito de funcionário público para fins penais, os tutores e curadores dativos, os inventariantes judiciais e o administrador judicial da falência. Em relação ao defensor dativo, o STJ tem entendido que ele se equipara a funcionário público para fins penais (RHC 33. 133/SC e HC 264.459/SP). c) Funcionário público atípico ou por equiparação (Art. 327, §1º): o §1º do artigo 327 traz as hipóteses de equiparação ao funcionário público. A primeira parte do dispositivo equipara a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal (autarquias, fundações, empresas públicas e sociedade de economia mista). A segunda parte faz menção as hipóteses de destatização (a qual não se confunde com a privatização, onde tudo se transfere a iniciativa privada, inclusive o patrimônio) em que a administração apenas transfere a exploração e a concessão de determinado serviço, mas o patrimônio continua a lhe pertencer. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Para que haja a equiparação, contudo, é preciso que a empresa contratada ou conveniada execute atividade típica da Administração Pública. O funcionário dos Correios pode ser considerado funcionário público para fins legais? Depende. Aqueles que são empregados da Empresa Pública de Correios e Telégrafos – ECT são considerados funcionários públicos para fins penais. Contudo, aqueles que são funcionários de empresas franqueadas não são considerados funcionários públicos para fins penais (STJ – CC 27.074/PR). 4º Causa de aumento de pena Art. 327. (...) § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. Dá análise do §2º, tem-se que o legislador esqueceu-se das autarquias. Presidente, governador e prefeito, quanto autores de crimes funcionais, são alcançados pela causa de aumento de pena?: Parte da doutrina entende que a causa de aumento de pena em tela não se aplica aos cargos eletivos, já que seus ocupantes exercem cargos temporários, não se confundido com os servidores ocupantes de cargo em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da Administração Direta. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Essa posição, contudo, não é adotada pelo STF, que entendeu que as referidas autoridades exercem função de direção da Administração Direta, sendo alcançadas pela causa de aumento de pena (Inq 1.769/PA e Inq 2.606/PA). 5º Classificação dos crimes funcionais a) Crime funcional próprio: a conduta só é criminosa quando praticada por funcionário público. Faltando tal qualidade ao agente, o fato passa a ser tratado como um indiferente penal. É hipótese de atipicidade absoluta (Ex: prevaricação, art. 319, CP). É possível que um terceiro, não funcionário público, responda por crime funcional?: Sim, como coautor ou partícipe. É que o art. 30 do CP diz que as circunstâncias de caráter pessoal, quando elementares ao crime, comunicam-se a todos os que se envolveram no fato. Para isso, contudo, é preciso que o terceiro saiba da qualidade de funcionário público do outro. b) Crime funcional impróprio: a conduta é criminosa mesmo que não praticada por funcionário público. Contudo, desparecendo tal qualidade, o fato deixa de configurar crime funcional, ajustando-se como crime comum. É hipótese de atipicidade relativa (Ex: peculato furto, art. 312, §1º, CP). https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Peculato Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Peculato culposo § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. 1º – Objetividade jurídica: o crime de peculato tutela a moralidade e o patrimônio da Administração Pública. 2º – Sujeito Ativo: cuida-se de crime próprio, que só pode ser cometido por funcionário público. O particular, sabendo da qualidade de funcionário público do agente, concorre, de qualquer modo, para o evento, responde como partícipe ou coautor do delito. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ O prefeito pode ser sujeito ativo do crime de peculato?: O prefeito ou seu substituto tem suas condutas reguladas pelo Decreto-Lei 201/67, o qual prevê uma série de crimes funcionais próprios. Assim, o prefeito não responde pelo crime do artigo 312 do CP. Diretor de sindicato pode responder por crime de peculato?: Em que pese o diretor de sindicato não seja considerado funcionário público para fins penais e sindicato não faça parte da Administração Pública, o art. 552 da CLT equiparou os atos que importem em dilapidação do patrimônio de sindicato ao crime de peculato (equiparação objetiva): Art. 552 - Os atos que importem em malversação ou dilapidação do patrimônio das associações ou entidades sindicais ficam equiparados ao crime de peculato julgado e punido na conformidade da legislação penal Com a CF/88, a doutrina passou a defender a não recepção desse artigo, já que a própria Constituição veja a interferência do Poder Público a interferência e intervenção na organização sindical. O STJ, contudo, tem decisão no sentido de que o Art. 552 da CLT foi recepcionado pela Constituição (CC 31.354/SP). Em relação a competência para julgamento, o STJ entendeu que o mero fato de se exigir que os sindicatos se registrem no Ministério do Trabalho, não significa que há https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ interesse da União para julgamento da causa. Assim, em regra, compete a Justiça Estadual o julgamento da causa. 3º Sujeito passivo: é o Estado, lesado em seu patrimônio material e moralmente. Ademais, se o bem apropriado pertencer a um patrimônio, ele também será considerado vítima secundária do time. 4º Conduta: a conduta dependerá da espécie de crime de peculato praticado. Isso porque, a doutrina divide o crime de peculato em peculato próprio (gênero que abrange o peculato-apropriação e o peculato-desvio) e peculato impróprio, também chamado de peculato-furto. a) Peculato próprio ou peculato propriamente dito (Art. 312, “caput”). O peculato próprio encontra-se previsto no “caput” do artigo 312, o qual previu duas figuras distintas: 1º peculato-apropriação; 2° peculato-desvio: 1º Peculato-apropriação: encontra-se previsto na primeira parte do art. 312, “caput”, que previu a conduta do agente que se apodera de coisa que tem sob sua posse legítima, passando arbitrariamente a comportar-se como se dono fosse (“uti dominus”). a) Elementos do peculato-apropriação https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Apropriar-se (significa inverter a posse, agindo arbitrariamente, como se dono fosse) o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel (para o direito penal, bem móvel é todo aquele pode ser transportado de um local para outro sem perder a identidade. É um conceito, portanto, distinto do direito civil), público ou particular (se o bem for particular, ele vai figurar como vítima secundária do crime) de que tem a posse em razão do cargo (a posse é pressuposto do crime). A expressão “posse” abrange a “mera detenção”?: 1ª Corrente: a expressão posse não abrange a “mera detenção”. Quando o legislador quer abrange detenção, ele o faz expressamente. Por exemplo, no art. 168 do Código Penal, que versa sobre apropriação indébita, o legislador expressamente previu a posse ou detenção. Dessa forma, a inversão indevida da detenção exercida por funcionário público configura peculato-furto (Art. 312, §1º, do CP) e não peculato-apropriação (Art. 312, “caput”, do CP). Essa é a corrente que prevalece. 2º Corrente: a expressão posse abrange a mera detenção, tendo o legislador redigido o artigo sem preocupação técnica. Dessa forma, a inversão indevida de detenção também configura peculato-apropriação. Diferencie posse em razão do cargo X posse por ocasião do cargo: para a configuração do crime de peculato- apropriação, a posse deve ser obtida em razão do cargo. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Com isso, o legislador quis dizer que posse da coisa deverá estar dentro das atribuições do agente no cargo, emprego ou função. Não haverá, assim, peculato se a entrega do bem tenha ocorrido tão somente por ocasião do cargo, não havendo qualquer vínculo com a competência funcional do agente. Não havendo relação direta entre a competência funcional do agente, a sua conduta configurá o crime de apropriação indébita. Por outro lado, se a posse da coisa foi obtida mediante engodo, ardil ou outro meio fraudulento, haverá estelionato. Por fim, se a posse da coisa for obtida por meio de violência ou grave ameaça, haverá roubo. 2º peculato-desvio: previsto na segunda parte do “caput” do art. 312, ocorrerá quando o funcionário público confere destinação diversa à coisa, em benefício próprio ou de outrem, com obtenção de proveito material ou moral, auferindo vantagem outra que não necessariamente econômica. Diferencie o peculato-desvio da apropriação irregular de verbas públicas: no peculato desvio, a conduta visa beneficiar o próprio agente ou a terceiro. Já no emprego irregular de verbas públicas (Art. 315, do CP), o desvio é feito em proveito da própria administração. b) peculato impróprio (Art. 312, §1º, CP) https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ O peculato impróprio ocorre não pela apropriação ou desvio, mas pela subtração da coisa sob guarda ou custódia da Administração. No peculato impróprio, o agente não possui a posse da coisa, contudo, vale-se da facilidade que a condição de funcionário público lhe concede, para subtrair (ou concorrer para que seja subtraída) a coisa do ente público ou particular sob custódia da Administração. Se o agente não for funcionário, ou sendo, não se utilize das facilidades que o cargo lhe proporciona, haverá crime de furto. 5º Tipo subjetivo: os crimes de peculato próprio e impróprio são punidos a título de dolo. Por fim, no caso de peculato-culposo (Art. 312, §2º, do CP), pune a conduta culposa do agente. Trata-se do único crime culposo da espécie de delitos funcionais. O agente que se apodera ou desvia um bem com ânimo de uso comete algum crime?: Para a doutrina, a resposta vai depender da natureza da coisa apoderada ou desviada. Sendo a coisa consumível ou fungível com o uso, haverá crime de peculato, já que nesses casos não haverá como a coisa retornar ao “status quo ante”. Se a coisa for infungível ou não consumível com o uso, haverá apenas mero ilícito civil e administrativo, já que a lei não previu punição para o mero uso. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Assim, em regra, não comete crime o agente que se utiliza de mão-de-obra pública (não há coisa, mas serviço) ou equipamentos pertencentes a administração (peculato de uso), com a nítida intenção de devolvê-los, podendo ele ser punido apenas nas esferas civis, administrativas e políticas. O STF (HC 108433 AgR) eo STJ (HC 94.168/MG), por exemplo, já tiveram oportunidade de decidir que é atípico o peculato de uso em situações envolvendo a utilização de veículo oficial para fins particulares. Excepcionalmente, contudo, no caso de prefeitos, o peculato de uso é crime, bem como o uso irregular de mão- de-obra e serviços públicos (Art. 1º, inciso II e §1º, do DL 201/67). 6º Consumação e tentativa: na modalidade peculato- apropriação, a consumação ocorre no momento que o funcionário público se apropria do dinheiro, valor ou bem imóvel de que tem a posse em razão do cargo, passando a agir como se dono fosse. Na modalidade peculato-desvio, a consumação ocorre no momento em que o agente dá à coisa destinação diversa daquela prevista em lei. Aqui, não é necessário que o agente vise o lucro, bem como se a vantagem pretendida foi efetivamente auferida. Por sua vez, no peculato-furto, consuma-se quando a coisa subtraída passa para o poder do agente, ainda que por um curto espaço de tempo, independentemente de deslocamento https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ ou posse pacífica (Teoria da Amotio ou da Apprehensio). Todas as três hipóteses admitem tentativa. Por fim, no peculato culposo, a consumação ocorrerá no momento em que se aperfeiçoa a conduta criminoso do terceiro, exigindo-se que haja um nexo causal entre a conduta do terceiro e do funcionário público, de maneira que este último tenha possibilitado a prática do crime pelo terceiro. Não se admite aqui tentativa. 7º Peculato Culposo (Art. 312, §2º, do CP) Ocorre peculato culposo quando o funcionário concorrer, de forma culposa, para, por meio de manifesta negligência, imprudência ou imperícia, criar condições favoráveis a prática do crime de peculato doloso por um terceiro. É o único crime culposo existente nos crimes funcionais. a) Causa de extinção da punibilidade Nos termos do §3º, o qual somente tem aplicação no peculato culposo, havendo a reparação do dano antes da sentença irrecorrível, extingue-se a punibilidade. Nos casos em que a reparação ocorrer depois da sentença irrecorrível, reduz-se a pena a metade. Qual o efeito da reparação do dano no peculato doloso?: Segundo a doutrina (Victor Eduardo Rios Gonçalves), se a reparação for feita antes do recebimento da denúncia, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida em de 1/3 https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ a 2/3. Trata-se de hipótese de arrependimento posterior (Art. 16, do CP). No caso de a reparação ocorrer após o recebimento da denúncia, mas antes da sentença de 1º grau, será aplicada a atenuante genérica do Art. 65, III, “b”, do CP, Por fim, caso a reparação ocorra em grau de recurso, poderá ser aplicada a atenuante inominada do Art. 66 do CP. 8º Peculato mediante erro de outrem Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Pune-se a conduta do agente que inverter, no exercício do seu cargo, a posse de valores recebidos por erro de terceiro. O bem apoderado, ao contrário do que ocorre no peculato apropriação, não está naturalmente na posse do agente, derivando de erro alheio. Ressalta-se que o erro da vítima deverá ser espontâneo, já que, se for provocado pelo funcionário, haverá crime de estelionato. Não é necessário que haja dolo no momento do recebimento da coisa, mas deve haver no momento em que o funcionário dela se apropria. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ O crime se consuma no momento em que o agente percebe o erro de terceiro e não o desfaz, agindo como se dono fosse. A doutrina admite a tentativa. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Concussão e Excesso de exação Concussão Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. 1º Objetividade jurídica: primeiramente, a norma tutela a moralidade administrativa. Subsidiariamente, protege-se o patrimônio do particular, constrangido pelo agente público. 2º Sujeito Ativo: é o funcionário público em sentido amplo. Poderá ser sujeito ativo tanto o funcionário público no exercício da função quanto aquele fora da função (férias, suspensão etc). Por fim, admite-se ainda que seja cometido por particular, que, embora nomeado para cargo público, ainda não assumiu a função, mas está na iminência de assumi-la. Por fim, a doutrina chama o sujeito ativo do crime de concussão de concussionário. 3º Sujeito Passivo: é a Administração pública, juntamente com a pessoa constrangida, podendo ser essa pessoa um particular ou até mesmo outro funcionário público. 4º Conduta: a conduta típica se consubstancia no ato de exigir, para si ou para outrem, explicita ou implicitamente, vantagem indevida, abusando de sua autoridade pública como meio de coação (“metus publicae https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ potestatis”). Cuida-se de uma forma especial de extorsão, praticada por funcionário público. Qual a natureza da vantagem indevida?: Prevalece na doutrina que é qualquer tipo de vantagem, ainda que não seja de natureza econômica, como, por exemplo, vantagens sexuais ou morais. Para que haja a configuração da concussão faz-se necessário que o funcionário público tenha competência para a prática do mal prometido?: A doutrina entende que sim, assim, para a configuração da concussão o agente deve ter competência para a prática do mal prometido. Não possuindo competência para a prática do ato, mesmo que se trate de funcionário público, haverá a prática de outro crime (Em regra, extorsão). Nesse sentido, a doutrina entende que configura extorsão, e não concussão, o fato de o agente apenas simular a qualidade de funcionário público para a prática da exigência, quando, em verdade, não ostenta essa qualidade. No caso de o funcionário público que não exige ou solicita vantagem indevida, mas simula ser ela devida, cometerá o crime de estelionato (Ex: médico que simula ser devido um procedimento a ser pago pelo SUS). https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Qual crime comete o agente que solicita uma vantagem devida?: Dependerá da natureza da vantagem. Caso seja uma vantagem de natureza tributária, configurará crime de excesso de exação (Art. 316, §1º, do CP). Em possuindo a vantagem qualquer outra natureza que não a tributária, haverá abuso de autoridade. 5º Tipo subjetivo: é o dolo, consubstanciado na conduta de exigir vantagem indevida. 6º Consumação e tentativa: consuma-se com a exigência da vantagem indevida pelo agente (Crime formal). O recebimento da vantagem é mero exaurimento do crime, de forma que não cabe prisão em flagrante neste momento (STJ - HC 266.460/ES). A doutrina admite a tentativa (Ex: interceptação de carta contendo exigência de vantagem indevida). 7º Excesso de exação Excesso de exação Art. 316. (…) §1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. § 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ a) Sujeito ativo: é o funcionário público, ainda que não seja o encarregado da cobrança do tributo ou contribuição social. b) Conduta: o tipo previu duas condutas distintas: a) cobrança de tributo que oagente sabe (dolo direto) ou deveria saber (dolo indireto) indevido; b) cobrança de tributo devido por meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza. Qual crime comete o auditor fiscal que exige vantagem indevida?: nesse caso, a conduta não configura a concessão do art. 316, do Código Penal, mas sim a concussão da lei de crimes contra a ordem tributária, Lei 8.137/90 (Art. 3º, II). https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Corrupção Passiva Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 1º Objetividade Jurídica: protege-se a moralidade administrativa. 2º Sujeito Ativo: é o funcionário público, incluído aqui aquele que, apenas nomeado, embora não tenha entrado em exercício da função, atue criminalmente em função dela. Caso se trate de auditor-fiscal, o crime cometido será o da Lei 8.137/90. Qual o crime comete o militar que solicita vantagem indevida?: o Código Penal Militar – CPM, previu apenas duas condutas no crime de corrupção passiva (receber ou aceitar promessa vantagem indevida): Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, mas em razão dela vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de dois a oito anos. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Assim, o CPM não previu a conduta de solicitar a vantagem indevida. Dessa forma, caso o militar receba ou aceite promessa de vantagem indevida em razão do cargo, cometerá o crime do art. 308 do CPM, sendo a Justiça Militar competente para processar e julgar o fato. Já se ele solicita vantagem indevida, vai incidir no crime de corrupção passiva comum (Art. 317, do CP), estando sujeito a julgamento na Justiça Comum. Aumento da pena-base pelo fato de a corrupção passiva ter sido praticada por Promotor de Justiça: O fato de o crime de corrupção passiva ter sido praticado por Promotor de Justiça no exercício de suas atribuições institucionais pode configurar circunstância judicial desfavorável na dosimetria da pena. Isso porque esse fato revela maior grau de reprovabilidade da conduta, a justificar o reconhecimento da acentuada culpabilidade, dadas as específicas atribuições do promotor de justiça, as quais são distintas e incomuns se equiparadas aos demais servidores públicos “latu sensu” (REsp 1.251.621/AM). 3º sujeito passivo: o sujeito passivo primário é a Administração Pública e o secundário o particular, constrangido pelo agente e desde que não tenha praticado o crime de corrupção ativa. 4º Conduta: o tipo penal pune a conduta de solicita, receber ou aceitar promessa de vantagem indevida. Haverá corrupção ativa mesmo nos casos em que a vantagem indevida é entregue indiretamente ao funcionário público https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ (Ex: por meio de um familiar), contudo, é necessário que haja um nexo causal entre a vantagem indevida recebida e a atividade exercida pelo corrupto. Exatamente por isso mesmo que o agente receba, aceite ou solicite promessa indevida, caso ele não seja competente para a realização do ato comercializado, não haverá crime corrupção passiva, podendo sua conduta configurar outros delitos, como estelionato ou exploração de prestígio. a) Espécies de corrupção passiva 1º Corrupção passiva própria ou propriamente dita: tem finalidade a realização de um ato injusto (contrário ao ordenamento jurídico). 2º Corrupção passiva imprópria ou impropriamente dita: tem como finalidade a realização de um ato legítimo. 3º Corrupção passiva antecedente: a vantagem é dada ou auferida em razão de um ato a ser praticado no futuro. 4º Corrupção passiva subsequente: primeiro o agente pratica o ato para depois obter a vantagem indevida. O Artigo 317 pune as duas espécies de corrupção passiva: antecedente e subsequente. A Corrupção passiva depende da corrupção ativa?: o art. 317 do CP pune a conduta de solicitar, receber ou aceitar promessa. Já o artigo 333 pune a conduta de promete ou oferecer vantagem indevida. Tem-se, assim, que a corrupção ativa não pune a conduta de “dar” vantagem indevida, de forma que somente existirá crime de https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ corrupção ativa quando o particular oferece ou promete vantagem. Com base nesse raciocínio, se o particular der vantagem a um funcionário público é porque essa vantagem foi solicitada primeiro pelo funcionário. Assim, nos casos em que o particular dar a vantagem solicitada pelo funcionário público é considerado vítima do crime de corrupção passiva e não autor do crime de corrupção ativa. Dessa forma, a corrupção passiva e ativa não são crimes bilaterais, uma vez que não dependem, necessariamente, um do outro. Por fim, cumpre esclarecer que se o particular, ao receber a solicitação de vantagem indevida, resolver barganhá-la, pedindo para diminuir ou pagar parcelado, por exemplo, está cometendo crime de corrupção ativa, já que, nesse caso, estará oferecendo vantagem indevida. Núcleos do tipo Núcleos do tipo Corrupção passiva Corrupção ativa Solicitar Fato atípico Receber Oferecer Aceitar promessa Promete vantagem https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ A corrupção passiva e ativa é um exemplo típico de exceção à teoria monista ou unitária do concurso de pessoas (Art. 29, CP), adotada em nosso país. Inépcia da denúncia de corrupção ativa não leva à necessária rejeição da acusação quanto à corrupção passiva: O reconhecimento da inépcia da denúncia em relação ao acusado de corrupção ativa (art. 333 do CP) não induz, por si só, ao trancamento da ação penal em relação ao denunciado, no mesmo processo, por corrupção passiva (art. 317 do CP). Prevalece o entendimento de que, via de regra, os crimes de corrupção passiva e ativa, por estarem previstos em tipos penais distintos e autônomos, são independentes, de modo que a comprovação de um deles não pressupõe a do outro (STJ - RHC 52.465/PE). 5º Tipo subjetivo: pune-se somente a conduta dolosa, consistente em praticar uma das condutas previstas no tipo. 6º Consumação e tentativa: nos núcleos solicitar e aceitar promessa de vantagem indevida, o crime possui natureza formal, consumando-se mesmo nos casos em que a vantagem indevida não for recebida. Por seu turno, na modalidade receber, o crime possui natureza material, exigindo efetivo enriquecimento ilícito por parte do agente. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ A doutrina admite a tentativa apenas na conduta solicita, se formulada por meio escrito (Ex: carta interceptada). 7º Causa de aumento de pena Art. 317. (…) § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. A pena será aumentada em 1/3 se o corrupto retarda ou deixa de praticar ato de ofício ou o pratica com infração a dever funcional. Assim, a causa de aumento só incide na corrupção passiva própria. O legislador transformou aqui o que seria um mero exaurimento do crime em causa de aumento de pena. Cumpre esclarecer que, se a violação praticada pelo agente público constitui, per si, um novo crime, haverá concurso formal ou material (a depender do caso concreto) entre a corrupção passiva e a infração dela resultante. Nessa hipótese, contudo, a corrupção deixa de ser qualificadora, pois do contrário haveria “bis in idem”. 8º Corrupçãopassiva privilegiada Art. 317. (…) § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Haverá corrupção passiva privilegiada quando o agente pratica, deixa de praticar ou retarda de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem, não percebendo qualquer vantagem indevida. a) Corrupção passiva privilegiada X Prevaricação Na corrupção passiva privilegiada o agente cede diante de pedido ou influência de outrem. Não busca ele satisfação de interesse ou sentimento pessoal, mas influência externa. Já na prevaricação, o agente busca a satisfação de interesse ou sentimento pessoal, não cumprindo seus deveres administrativas de forma espontânea, sem a influência externa. https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Corrupção Ativa Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 1º Objetividade jurídica: tutela-se a probidade administrativa. 2º Sujeito Ativo: qualquer pessoa (crime comum). 3º Sujeito passivo: é a Administração Pública. 4º Conduta: o tipo pune a conduta do agente que oferece ou promete vantagem indevida a funcionário público, diretamente ou por meio de terceiros, para induzi-lo a praticar ou retardar um ato de ofício. Trata-se de crime de ação múltipla, possuindo dois núcleos alternativos: oferecer (apresentar) ou prometer (obriga-se a dar) a funcionário público vantagem indevida, com o fito de ver retardado ou omitido ou praticado ato funcional. Segundo a doutrina, em função de o tipo penal ter se utilizado da expressão “para determiná-lo”, o particular não comete crime de corrupção ativa quando oferece ou promete vantagem indevida, ou mesmo a entregue efetivamente, depois de o funcionário público já ter realizado a conduta desejada. Ao contrário da corrupção passiva, na corrupção ativa somente se pune a corrupção https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ antecedente (que visa a prática do ato), mas não a subsequente. Cumpre ressaltar que a doutrina possui entendimento de que o crime em análise pode ser praticado de forma escrita, oral ou mesmo por gestos. Contudo, não haverá crime se o particular se limitar a pedir que o funcionário público “dê um jeitinho” ou “quebre o seu galho”, já que nesses casos não há qualquer oferta de vantagem indevida ao funcionário. Por sua vez, em relação ao funcionário público, caso haja movido por esse tipo de solicitação, praticará o crime de corrupção passiva privilegiada (Art. 317, §2º, CP). Por fim, não haverá crime de corrupção ativa se o particular der (entregar) a vantagem indevida após solicitação do funcionário público. Só haverá crime se a corrupção partir do particular. 5º Tipo subjetivo: é o dolo, consubstanciado no fim especial de conseguir do servidor a pratica, retardamento ou omissão do ato de ofício. 6ºConsumação e tentativa: o crime se consuma no instante em que o funcionário público toma conhecimento da oferta ou de sua promessa, ainda que a recuse (Crime formal). A tentativa é admitida em sua forma escrita. 7º Causa de aumento de pena: https://www.instagram.com/direitodiretoblog/ Art. 333.(...) Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. Aumenta-se a pena em 1/3 se o servidor realiza a pretensão do particular corruptor. Bibliografia consultada para elaboração da apostila e indicada para aprofundamento do tema: – Código Penal para Concursos – Rogério Sanches Cunha. - Dos Crimes Contra os Costumes aos Crimes Contra a Administração - Victor Eduardo Rios Gonçalves. – Dizer o Direito (http://www.dizerodireito.com.br) https://www.instagram.com/direitodiretoblog/
Compartilhar