Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
fupef SÉRIE DIDÁTICA N0 02/01 EDIÇÃO REVISADA E AMPLIADA (2002) Márcio Pereira da Rocha Eng. Florestal, Professor Adjunto CURITIBA – 2002 FUNDAÇÃO DE PESQUISAS FLORESTAIS DO PARANÁ FUPEF DO PARANÁ PRESIDENTE DO CONSELHO CONSULTIVO Prof. Jose Sidney Flemming PRESIDENTE DO CONSELHO EDITORIAL Dr.Jorge Luis Monteiro de Matos DIRETORIA EXECUTIVA Dr. Anadalvo Juazeiro dos Santos – Diretor Cientifico Dr. Jorge Luis Monteiro de Matos - Diretor Administrativo Dr. Flávio Felipe Kirchner Diretor Financeiro EMPRESAS ASSOCIADAS Cia. Paranaense de Energia – COPEL Empreendimentos Florestais Agloflora Ltda Inpacel – Indústria de Papel Arapoti S/A Indústria Andrade Latorre S/A Klabin do Paraná Agro-Florestal S/A Manasa- Madeireira Nacional S/A Mobasa – Modo Battistela Reflorestamento S/A Orsa Celulose e Papel S/A Pisa Florestal S/A Rigesa - Celulose, Papel e Embalagens Ltda Swedish Match do Brasil S/A Indústrias João José Zattar S/A Wosgrau Participações Ind. Com. Ltda ENDEREÇO: Rua Pref. Lothário Meissner, 3400 – Campus III UFPR - Jd. Botânico 80210-170 – Curitiba – Paraná Fone: 41- 360-4222 – Fax: 41- 360-4221 NOTA: O conteúdo da presente publicação é de inteira responsabilidade dos autores. As afirmações e opiniões, bem como a menção de qualquer produto, equipamento ou técnica, não implicam em sua recomendação por parte da FUPEF. Edição Revisada (2002) 5a Tiragem: 20 exemplares i SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 01 1.1 DEFINIÇÃO DE UMA SERRARIA......................................................... 04 1.2 CLASSIFICAÇÃO DE SERRARIAS...................................................... 04 2. OPERAÇÕES DE DESDOBRO DA MADEIRA....................................... 06 2.1 DESDOBRO PRINCIPAL...................................................................... 06 2.2 DESDOBRO SECUNDÁRIO................................................................. 07 2.2.1 RESSERRAGEM................................................................................ 07 2.2.2 REFILO OU CANTEAGEM................................................................. 08 2.2.3 DESTOPO........................................................................................... 08 2.2.4 REAPROVEITAMENTO..................................................................... 08 3. MÁQUINAS PARA SERRAR MADEIRA................................................. 10 3.1 SERRAS ALTERNATIVAS OU DE QUADRO...................................... 10 3.1.1 SERRA COLONIAL ............................................................................ 10 3.1.2 SERRA FRANCESA........................................................................... 11 3.1.3 SERRA ALTERNATIVA HORIZONTAL............................................. 13 3.1.4 SERRA ALTERNATIVA TISSOT........................................................ 15 3.2 SERRAS DE FITA................................................................................. 15 3.2.1 SERRA FITA SIMPLES...................................................................... 16 3.2.2 SERRA FITA DE CORTE DUPLO...................................................... 20 3.2.3 SERRA FITA DUPLA OU GEMINADA............................................... 20 3.2.4 SERRA FITA TANDEM....................................................................... 22 3.2.5 SERRA FITA QUÁDRUPLA............................................................... 23 3.2.6 SERRA FITA HORIZONTAL.............................................................. 24 3.2.7 SERRA FITA DE RESSERRA OU REAPROVEITAMENTO.............. 26 3.3 SERRAS CIRCULARES........................................................................ 28 3.3.1 SERRAS CIRCULARES SIMPLES.................................................... 31 3.3.2 SERRA CIRCULAR DUPLA OU GEMINADA.................................... 32 3.3.3 SERRA CIRCULAR MÚLTIPLA......................................................... 33 3.3.4 SERRAS CIRCULARES DE DOIS EIXOS......................................... 36 ii 3.3.5 SERRAS CIRCULARES MÚLTIPLAS DE CORTES EM CURVA..... 39 3.3.6 EQUIPAMENTOS DE PERFILAGEM................................................. 39 3.4 SERRAS DESTOPADEIRAS................................................................ 43 4. PLANEJAMENTO PARA A INSTALAÇÃO DE UMA SERRARIA......... 46 4.1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 46 4.2 FATORES A SEREM OBSERVADOS QUANTO À LOCALIZAÇÃO DA SERRARIA....................................................................................... 46 4.2.1 FONTE DE MATÉRIA PRIMA........................................................... 46 4.2.2 MÃO DE OBRA DISPONÍVEL............................................................ 47 4.2.3 MERCADO CONSUMIDOR E ORIGEM DAS TORAS....................... 48 4.2.4 TRANSPORTE E VIAS DE COMUNICAÇÃO.................................... 48 4.2.5 TAXAS E IMPOSTOS......................................................................... 49 4.2.6 FATORES RELACIONADOS AO TERRENO.................................... 49 4.3 ESTUDOS PARA A INSTALAÇÃO PROPRIAMENTE DITA DA SERRARIA............................................................................................. 50 4.4 DIVISÃO DE UMA SERRARIA.............................................................. 51 4.4.1 PÁTIO DE TORAS .............................................................................. 51 4.4.2 LOCAL PARA MAQUINÁRIO............................................................ 52 4.5 LAYOUT DA SERRARIA....................................................................... 53 4.5.1 DISTÂNCIA ENTRE OS EQUIPAMENTOS....................................... 53 4.5.2 DISTRIBUIÇÃO DOS EQUIPAMENTOS............................................ 53 4.5.3 DEFINIÇÃO DA ÁREA COBERTA..................................................... 54 4.5.4 SEÇÃO DE MANUTENÇÃO DE SERRAS......................................... 54 4.5.5 PISO DA SERRARIA.......................................................................... 54 4.5.6 PÁTIO DE TORAS .............................................................................. 55 4.5.7 CLASSIFICAÇÃO, CÂMARAS DE SECAGEM E DEPÓSITO DE MADEIRA SERRADA......................................................................... 55 4.5.8 EXEMPLOS DE LAYOUT................................................................... 55 4.6 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE UMA SERRARIA...................... 60 4.6.1 RENDIMENTO.................................................................................... 60 4.6.2 EFICIÊNCIA........................................................................................ 61 5. TÉCNICAS DE SERRARIAS................................................................... 62 5.1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 62 iii 5.2 TÉCNICAS CONVENCIONAIS DE SERRARIAS.................................. 62 5.2.1 PÁTIO DE TORAS .............................................................................. 62 5.2.2 DESDOBRO PRINCIPAL................................................................... 62 5.2.3 DESDOBRO SECUNDÁRIO.............................................................. 63 5.2.4 USO DAS TÉCNICAS CONVENCIONAIS......................................... 63 5.3 TÉCNICAS MODERNAS DE SERRARIAS........................................... 64 5.3.1 PÁTIO DE TORAS .............................................................................. 64 5.3.2 DESDOBRO PRINCIPAL................................................................... 65 5.3.3 DESDOBRO SECUNDÁRIO.............................................................. 65 5.3.4 USO DAS TÉCNICASMODERNAS................................................... 66 6. SISTEMAS DE DESDOBRO................................................................... 67 6.1 CONTRAÇÕES...................................................................................... 67 6.2 CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS DE DESDOBRO.......................... 67 6.2.1 SISTEMAS DE DESDOBRO EM RELAÇÃO AOS ANÉIS DE CRESCIMENTO E RAIOS LENHOSOS............................................. 68 6.2.1.1 CORTE TANGENCIAL.................................................................... 68 6.2.1.2 CORTE RADIAL.............................................................................. 70 6.2.1.3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS CORTES TANGENCIAL E RADIAL................................................................ 73 6.2.2 SISTEMAS DE DESDOBRO EM RELAÇÃO AO EIXO LONGITUDINAL DA TORA............................................................... 74 6.2.2.1 CORTE PARALELO AO EIXO LONGITUDINAL DA TORA........... 74 6.2.2.2 CORTE PARALELO À CASCA....................................................... 75 6.2.3 CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO A CONTINUIDADE DOS CORTES... 76 6.2.4 DESDOBRO DE TORAS COM DEFEITOS........................................ 77 7. MANUTENÇÃO DE SERRAS.................................................................. 78 7.1 DENTES DE SERRAS........................................................................... 78 7.1.1 ELEMENTOS DOS DENTES.............................................................. 78 7.1.2 CARACATERÍSTICAS DOS DENTES DE SERRA............................ 81 7.2 TRAVAMENTO DAS LÂMINAS............................................................ 84 7.2.1 TRAVAMENTO POR TORÇÃO.......................................................... 84 7.2.2 TRAVAMENTO POR RECALQUE..................................................... 85 7.2.3 ESTELITAGEM................................................................................... 87 iv 7.3 AFIAÇAO DAS SERRAS...................................................................... 88 7.3.1 CARACATERÍSTICAS DOS DENTES APÓS A AFIAÇÃO............... 88 7.4 TENSIONAMENTO DAS LÂMINAS...................................................... 88 7.4.1 TENSÃO INTERNA DAS SERRAS DE QUADRO............................. 88 7.4.2 TENSÃO INTERNA DAS SERRAS CIRCULARES........................... 88 7.4.3 TENSIONAMENTO INTERNO DAS SERRAS DE FITA.................... 90 7.4.4 DESEMPENAMENTO......................................................................... 93 7.5 EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS PARA MANUTENÇÃO DE SERRAS........................................................................................... 94 7.5.1 SERRA FITA....................................................................................... 94 7.5.2 SERRA CIRCULAR............................................................................ 95 7.6 PRINCIPAIS DEFEITOS NAS SERRAS E SUAS CAUSAS................. 95 7.6.1 SERRA FITA....................................................................................... 95 7.6.2 SERRA CIRCULAR............................................................................ 98 8. PROJETOS DE INDÚSTRIAS MADEIREIRA......................................... 101 8.1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 101 8.2 LOCALIZAÇÃO DA INDÚSTRIA........................................................... 103 8.3 ARRANJO FÍSICO................................................................................. 104 8.4 INSTALAÇÕES DA INDÚSTRIA........................................................... 105 8.5 O AMBIENTE NA INDÚSTRIA.............................................................. 107 8.6 SEGURANÇA NA INDÚSTRIA.............................................................. 108 8.7 EDIFICAÇÕES INDUSTRIAIS............................................................... 109 9. PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO............................... 110 9.1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 110 9.2 EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA DE ORGANIZAÇÃO DA EMPRESA... 111 9.2.1 Estrutura em linha............................................................................. 111 9.2.2 Estrutura em “staff” ou de apoio..................................................... 111 9.3 ORGANIZAÇÃO DE UMA EMPRESA DE PORTE MÉDIO.................. 112 v 9.4 TIPOS DE PRODUÇÃO E FLUXO DE INFORMAÇÕES E PRODUÇÃO........................................................................................ 113 9.4.1 Tipos de produção e tamanho da empresa.................................... 113 9.5 PLANEJAMENTO E CONTROLE NA INDÚSTRIA.............................. 114 9.5.1 Principais responsabilidades do PCP............................................. 115 9.5.2 Análise do PCP sob três pontos de vista....................................... 116 9.5.3 Tipos de PCP..................................................................................... 117 9.5.4 Pré-requisitos do PCP...................................................................... 117 9.5.5 Funções do PCP................................................................................ 118 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 120 TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 1 1. INTRODUÇÃO A madeira é um dos recursos mais versáteis disponíveis na natureza. Sua utilização pela humanidade, representa desde as primeiras civilizações, um papel muito importante quanto ao avanço e desenvolvimento das mesmas. Nas civilizações mais antigas, a madeira começou a ser utilizada como fonte de energia e para a fabricação de armas de caça. Posteriormente, passou a ser utilizada na construção de abrigos. Já na idade média, a madeira tornou-se a principal fonte de matéria prima na construção dos mais variados meios de transportes, desde pequenos carrinhos puxados a mão e carroças com tração animal, até às caravelas. Na forma de serrados, a madeira já era utilizada desde 6000 anos antes de Cristo, onde os antigos egípcios utilizavam tábuas e pranchões na confecção dos sarcófagos. Posteriormente os fenícios, normandos e romanos a utilizaram para a construção de embarcações, seguidos pelos portugueses e espanhóis, nas grandes navegações. Além destes usos, a madeira sempre foi utilizada pelas civilizações como uma forma de expressão da arte através das esculturas e instrumentos musicais. Com o desenvolvimento da humanidade, a madeira foi sendo cada vez mais estudada e compreendida, o que foi dando a ela usos mais adequados e nobres. Nos dias de hoje, em função do avanço de técnicas de utilização pode-se dizer que a madeira atingiu um alto grau de utilização, o que é compatível com o seu valor. Desta forma, a madeira hoje é matéria prima para grande variedade de produtos como laminados, compensados, chapas de madeira aglomerada, chapas de fibras, resinas, açúcares, taninos, celulose, papel, energia e madeira serrada. No que diz respeito ao desenvolvimento das serras para madeira, os egípcios utilizavam uma serra de bronze chamada serra de cova, a qual era movida a mão, para o desdobro de toras na obtenção de pranchões e tábuas (FIGURA 1). Os mesmo tipos de serras, porém em pequenas dimensões, eram utilizados para o desdobro dos pranchões ou tábuas em peças menores (FIGURA 2). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 2 FIGURA 1. FORMA DE DESDOBRO DE TORAS UTILIZADA PELOS ANTIGOS EGÍPCIOS. FONTE: WILLISTON, 1976. FIGURA 2. SERRA DE MÃO DE BRONZE E PLAINA MANUAL TÍPICAS UTILIZADAS PELOS EGÍPCIOS A 6000 ANOS ANTES DE CRISTO. FONTE, WILLISTON, 1976. Em 1555, surgiu a primeira serra de desdobrodotada de movimento alternativo. Esta serra era movida por um dente ou braço adaptado ao eixo de uma roda d’água. Na extremidade da serra havia um peso de chumbo, o qual possibilitava o movimento alternativo vertical (FIGURA 3). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 3 FIGURA 3. PRIMEIRA SERRA COM MOVIMENTO ALTERNATIVO, MOVIDA POR UMA RODA D’ÁGUA. Em 1660, foi construída uma serra alternativa mais eficiente, movimentada por bielas e manivelas, também adaptadas a uma roda d’água (FIGURA 4). FIGURA 4. EXEMPLOS DE SERRAS ALTERNATIVAS MOVIDAS POR SISTEMA DE BIELAS/MANIVELAS, ADAPTADOS A UMA RODA D’ÁGUA. Com a invenção da máquina a vapor por James Watt em 1778, as serras alternativas foram melhoradas, através da construção de um quadro contendo várias serras, permitindo a execução de cortes múltiplos (FIGURA 5). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 4 FIGURA 5. SERRA ALTERNATIVA MOVIDA A VAPOR. Em 1777, foi patenteada por Samuel Miller a primeira serra circular. Em 1880, Willian Newberry construiu as primeiras serras de fita. A partir daí, com o decorrer dos anos, as máquinas foram sendo aperfeiçoadas até o estágio atual, onde dispõe-se de grandes máquinas com altos rendimentos e ótima eficiência. Associados a estas máquinas, dispõe-se hoje, de eficientes sistemas automatizados para movimentação e transferência das peças durante as operações, além de uma variedade de equipamentos de leitura como raio laser, “scanners” e posicionadores de toras, que auxiliam num melhor aproveitamento da madeira. 1.1 DEFINIÇÃO DE SERRARIA Chama-se de serraria, o local onde toras são recebidas, armazenadas e processadas em madeira serrada, sendo posteriormente estocadas por um determinado período para secagem. No caso do Brasil, muitas vezes pode-se encontrar anexadas à serraria, ou mesmo no seu interior, unidades de beneficiamento. Porém, estas unidades nada têm a ver com a definição de serraria, ou seja, não são unidades de desdobro primário e sim unidades de usinagem de madeiras. 1.2 CLASSIFICAÇÃO DE SERRARIAS Para se classificar serrarias, existem na literatura diversas maneiras, as quais consideram tamanho, tipo de matéria prima, equipamentos utilizados e produtividade. Porém, a forma mais conveniente de se classificar uma serraria é TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 5 através da sua produção. Sendo assim, tem-se três tipos de serrarias: as pequenas, com um consumo de até 50 m3 de toras por dia ou turno; as médias, com consumo de 50 a 100 m3 de toras por dia ou turno e as grandes, com consumo acima de 100 m3 por dia ou turno. Pode-se dizer que das serrarias instaladas no Brasil, aproximadamente 65% são serrarias pequenas, 30% médias e apenas 5% serrarias de grande porte. As serrarias ainda podem ser classificadas como serrarias fixas ou móveis. As serrarias fixas, são aquelas instaladas em um local fixo e a matéria prima é deslocada até a mesma. As serrarias móveis são unidades compactas que podem ser transportadas até a floresta, e cuja vantagem é de que todo o resíduo fica no campo, ou seja, o que é transportado para fora da floresta é somente madeira serrada (FIGURA 6). Normalmente são unidades de pouca produtividade utilizadas por pequenos produtores rurais para atender suas necessidades eventuais. No caso de serrarias portáteis de maior porte, estas são de custo elevado, justificando-se o seu uso somente em áreas de difícil acesso. Também em função do custo elevado e de muitas vezes seu uso ser temporário, é muito comum a prática de locações nos países mais desenvolvidos. FIGURA 6. EXEMPLOS DE SERRARIAS MÓVEIS (WOOD-MIZER – E.U.A.; KARA – FINLÂNDIA). 6 2. OPERAÇÕES DE DESDOBRO DA MADEIRA Nas industriais de madeira serrada, as toras entram na serraria, sofrem o desdobro e outros processamentos até que as peças adquiram tamanho e forma desejados. Para tais operações, são utilizadas as serras. Estas serras são classificadas em serras principais e serras secundárias ou auxiliares. Para um bom desempenho das operações dentro de uma serraria, o que garante melhor rendimento, produto de melhor qualidade e redução dos riscos de acidentes, entre outros fa tores, é necessário que os responsáveis pelo gerenciamento da mesma conheçam e definam todas as operações executadas, desde a entrada das toras até a madeira serrada em suas dimensões finais. É muito importante também, o preparo das toras para a entrada na serraria. Este preparo envolve uma série de operações que são realizadas no pátio de toras como traçamento, descascamento e classificação, entre outras. Apesar deste preparo ser de fundamental importância para a correta condução das operações de desdobro na serraria, tratam-se de operações realizadas exclusivamente no pátio de toras, considerando-se operação de desdobro somente o traçamento ou destopo das toras no pátio. 2.1 DESDOBRO PRINCIPAL São chamadas de operações de desdobro principal, aquelas realizadas com equipamentos de grandes dimensões, os quais geralmente necessitam de muita energia para seu funcionamento. As serras principais têm a função de reduzir as dimensões das toras em peças de mais fácil trabalhabilidade que serão enviadas a equipamentos de menor porte para as operações secundárias. Nestas serras as toras são cortadas longitudinalmente e transversalmente (destopo). De acordo com suas características, as serras principais podem ser classificadas como serras alternativas ou de quadro, serras de fita, serras circulares e serras destopadeiras principais circulares ou de corrente, no caso de redução no comprimento das toras ou simples destopo das mesmas. 7 Nas operações principais as peças obtidas podem ser blocos, semi blocos, pranchões, pranchas, tábuas ou ainda toras de comprimentos menores, quando é realizado destopo principal ainda no pátio de toras. A transformação da tora em tábuas na própria serra de desdobro principal é comum em serrarias de pequeno porte, onde esta única máquina executa a maioria das operações de desdobro. Este procedimento torna o processo de desdobro lento e consequentemente pouco produtivo. Ao se utilizar uma máquina de desdobro principal para reduzir a tora em tábuas se está eliminando o conceito de desdobro principal, que é de reduzir as dimensões iniciais da tora para posteriores operações em outros equipamentos. Pode-se dizer que a finalidade das serras principais, excluindo-se as destopadeiras, é reduzir a altura de corte das peças, permitindo o uso de máquinas de menor porte nas operações secundárias. 2.2 DESDOBRO SECUNDÁRIO As operações de desdobro secundárias são aquelas realizadas logo após o desdobro principal e visam a redução das dimensões das peças ou o dimensionamento final das mesmas, seja no comprimento, na largura ou na espessura. As máquinas utilizadas no desdobro secundário são geralmente serras circulares. Porém, em algumas operações é muito frequente o uso de serras fitas de pequeno porte e serras alternativas ou de quadro. As operações secundárias subdividem-se em resserragem, reaproveitamento, refilo ou canteagem e destopo. 2.2.1 RESSERRAGEM A resserragem consiste numa operação de redução de espessura nas peças obtidas no desdobro principal. Normalmente, estas peças passam uma só vez na máquina de resserragem, onde se obtém outras peças com a espessura nominal final desejada. As peças que passam pela resserragem são blocos, semi-blocos, pranchões e pranchas. As máquinas utilizadas na resserragem podem ser serras alternativas ou de quadro, serras fitas e circulares simples ou múltiplas de um ou dois eixos. 8 Em muitas serrarias, são utilizadas serras circulares, principalmente as de dois eixos,pois normalmente as alturas de corte são grandes. Estas serras têm uma boa produtividade, mas têm o inconveniente de gerar grande quantidade de serragem. Isto se deve à maior espessura dos discos de serra em relação à serras de fita. Como os cortes de resserragem são realizados internamente na peça de madeira, a maior quantidade de serragem implica em maior perda de madeira. Em função da escassez cada vez maior de matéria prima, o que acarreta uma elevação do preço da mesma, as serrarias estão optando pela utilização de serras fitas horizontais, as quais muitas vezes geram menos da metade de serragem gerada pelas serras circulares. 2.2.2 REFILO OU CANTEAGEM As operações de refilo ou canteagem são aquelas realizadas com o intuito de regularizar as bordas laterais ou reduzir a largura de tábuas, pranchas ou pranchões, determinando a largura final das peças. Como os cortes executados são rasos, as serras mais indicadas são as circulares. Ainda por serem cortes rasos, as serras operam com grande velocidade de corte e os discos são de diâmetros pequenos o que permite aos mesmos ter pouca espessura, proporcionando pouca perda de madeira na forma de serragem. 2.2.3 DESTOPO As operações de destopo são realizadas para eliminar defeitos nas extremidades das tábuas ou para a obtenção de peças com comprimentos desejados. No caso do destopo secundário as máquinas utilizadas são exclusivamente serras circulares. 2.2.4 REAPROVEITAMENTO Chama-se de reaproveitamento, toda operação que visa desdobrar novamente peças já consideradas resíduo, como costaneiras e refilos. Porém, nem sempre desdobra-se peças de descarte da serraria. Em muitas opções de “layout”, são retiradas costaneiras com espessuras maiores para posteriormente serem 9 resserradas na máquina de reaproveitamento, permitindo maior produtividade na máquina de desdobro principal. Neste caso, as costaneiras não são descarte e sim, em função de um diagrama de corte proposto, peças que devem passar por uma operação secundária de desdobro. Para o reaproveitamento de costaneiras, o principal equipamento utilizado é uma serra fita de pequeno porte chamada de serra fita de reaproveitamento ou resserra de reaproveitamento, a qual tem a vantagem de menor geração de serragem. Já os refilos passam novamente na canteadeira, onde é diminuída a largura, em função da retirada de falhas laterais das peças. Do aproveitamento de refilos se obtém peças de larguras muito reduzidas, as quais podem servir como tabiques para a própria serraria, fabricação de cabos de vassoura, cabos de ferramentas, etc. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 10 3. MÁQUINAS PARA SERRAR MADEIRA As máquinas de serrar madeira podem inicialmente ser divididas em função da sua ferramenta cortante. Basicamente tem-se as serras que utilizam uma lâmina denteada e as serras que utilizam um disco denteado para serrar. No grupo das serras que utilizam lâminas para cortar a madeira, tem-se as serras alternativas ou de quadro e as serras fitas. O grupo das serras que utilizam um disco denteado é formado pelas serras circulares. 3.1 SERRAS ALTERNATIVAS OU DE QUADRO As serras alternativas são formadas essencialmente por um quadro de madeira ou de aço, dotado de movimento alternativo que resulta numa velocidade das lâminas variando de zero até uma velocidade máxima. Nas extremidades são presas uma ou várias lâminas de serra. Estas lâminas são colocadas ligeiramente inclinadas para frente ( 1 a 12mm), dependendo da altura do quadro, o que evita um esforço no sentido ascendente do quadro. O corte pode ser feito somente no sentido descendente quando os dentes da serra são vo ltados para baixo ou nos dois sentidos quando metade dos dentes está voltada para baixo e metade para cima. A altura das lâminas (H), varia conforme a altura máxima de corte, de acordo com a seguinte relação: H ≥ altura máxima de corte + amplitude de corte A inclinação ideal das lâminas é determinada na prática e a largura das lâminas varia de 0,22 a 0,24 X a altura de corte. A espessura varia de 1,6 a 2,0mm. 3.1.1 SERRA COLONIAL A serra colonial é composta por um quadro de madeira onde são fixadas as lâminas. A tora ou a peça a ser desdobrada é presa num carrinho que é TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 11 dotado de movimento sincronizado com o movimento do quadro e permite o avanço da peça a ser desdobrada contra as lâminas da serra (FIGURA 7). A principal finalidade da serra colonial é de transformar a tora em pranchões. Este tipo de serra ainda é encontrado no Brasil em serrarias artesanais, movidas a roda d’água e era indicada para toras de grandes diâmetros (1,00 a 1,50m). Foi muito utilizada no desdobro de toras de araucária, imbúia e outras espécies de grandes dimensões da região Sul. FIGURA 7. SERRA ALTERNATIVA COLONIAL. 3.1.2 SERRA FRANCESA Esta serra é um tipo aperfeiçoado da colonial. Trabalha com potência mais elevada e maior número de lâminas (30 ou mais). Devido à grande velocidade, há muita vibração do quadro. Por este motivo, é totalmente constituída de aço (FIGURAS 8 e 9). As lâminas também são ligeiramente inclinadas para a frente. São serras apropriadas para pequenas alturas de corte, devido ao pequeno curso do quadro. Esta serra é mais utilizada para a resserragem de madeiras nobres com elevada rentabilidade e boa precisão de corte. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 12 FIGURA 8. SERRA ALTERNATIVA FRANCESA (INDÚSTRIAS LINCK – ALEMANHA). FIGURA 9. SERRA ALTERNATIVA FRANCESA (INDÚSTRIA EWB – ESTERER WD GmbH & CO. – www.ewd.de - ALEMANHA). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 13 No Brasil, o uso de serras francesas é muito restrito. Em função disto não são fabricadas no país. Porém é um equipamento usado com frequência em países europeus como máquina de desdobro principal, para toras de pequenos diâmetros e em operações de resserragem de blocos e semi blocos. No QUADRO 1, pode-se observar algumas diferenças entre a serra colonial e a francesa. QUADRO 1. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS SERRAS ALTERNATIVAS COLONIAL E FRANCESA. CARACTERÍSTICA COLONIAL FRANCESA Velocidade angular do volante 110 a 130 RPM 240 a 340 RPM Curso do quadro 75 a 90 cm 30 a 60 cm Velocidade média das lâminas 2,75 a 3,90 m/s 2,4 a 6,8 m/s Avanço por corte 1 a 5 mm 2 a 20 mm Velocidade de corte 2 a 10 mm/s 8 a 110 mm/s Número de lâminas máximo de 6 até 30 ou mais Altura de corte toras de grandes diâmetros (1 a 1,5 m) baixa Tipo de madeira madeiras nobres madeiras nobres Tensão nas lâminas 12 a 15 Kg/cm2 12 a 15 Kg/cm2 Potência necessária 15 HP 50 a 90 HP 3.1.3 SERRA ALTERNATIVA HORIZONTAL A grande diferença deste tipo de serra alternativa, em relação à colonial e à francesa, está no movimento do quadro, que é no sentido horizontal (FIGURA 10). Possui uma única lâmina e a tora é presa num carrinho que se move horizontalmente na direção da lâmina. Como a serra colonial, este tipo de serra ainda existe em algumas serrarias centenárias e artesanais, onde foi muito utilizada para desdobro de toras com diâmetros de até 1,5 m, principalmente na região Sul, até aproximadamente 1950. Foi também muito utilizada no desdobro de madeiras duras, devido à pequena velocidade de corte. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 14 FIGURA 10. SERRA ALTERNATIVA HORIZONTAL. FONTE: TUSET & DURAN, 1979. No QUADRO 2, são apresentadas as principais características da serra alternativa horizontal. QUADRO 2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA SERRA ALTERNATIVA HORIZONTAL. CARACTERÍSTICA SERRA HORIZONTAL Velocidade angular do volante 120 a 135 RPMCurso do quadro 75 a 90 cm Velocidade média das lâminas 3 a 4 m/s Velocidade de corte 1 a 5 mm/s Número de lâminas uma Tipo de madeira madeiras duras e de grandes dimensões Potência necessária 10 a 20 HP TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 15 3.1.4 SERRA ALTERNATIVA TISSOT A serra de quadro do tipo tissot também é uma serra dotada de movimento alternativo vertical e difere das serras colonial e francesa quanto ao número de lâminas e pela maneira de aproximação do quadro. Como a serra horizontal, possui apenas uma lâmina e a peça a ser serrada aproxima-se externamente ao quadro. Foi utilizada também para desdobro de toras de grandes dimensões e madeira dura, principalmente no Estado de Santa Catarina. 3.2 SERRAS DE FITA A serra fita é constituída essencialmente de uma lâmina contínua de aço tensionada por dois volantes. Este equipamento tem como principais vantagens: a) a grande velocidade de corte, proporcionada pela forma da lâmina, que permite um corte contínuo a uma velocidade constante; b) pouca perda de madeira devido à pequena espessura das lâminas, proporcionando um fio de corte estreito; c) a versatilidade, pois com uma mesma máquina pode-se desdobrar toras de grandes e pequenos diâmetros e madeiras moles e duras, o que a faz a mais utilizada em serrarias com variação de diâmetros e espécies; d) têm possibilidade de boa produção com pouco consumo de energia; e) a velocidade de corte pode ultrapassar 150m/min., com potência variando de 20 a 300 HP. As lâminas têm espessura e largura variáveis de 0,8 x 100 mm até 3 x 415 mm o que resulta num fio de corte de 1,1 a 4,5 mm, para dentes travados por recalque e de 1,2 a 5,4 mm, para dentes travados por torção. As serras de fita têm como desvantagens a dificuldade de manutenção e montagem. Os diâmetros dos volantes variam de 0,80m a 2,00m. Podem eventualmente ser maiores em casos excepcionais. O volante inferior é mais pesado (100 a 600 Kg), pois é aplicado nele a força motriz. Este grande peso serve como um reservatório de energia cinética, o que impede que a lâmina perca velocidade quando forçada. O volante superior é muito mais leve. A distância entre os dois volantes pode ser regulada de acordo com o comprimento da lâmina, através do afastamento ou aproximação do volante superior como necessário. A serra de fita TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 16 possui um contra peso na extremidade de uma alavanca para o tensionamento ideal da lâmina, o que lhe dá a rigidez necessária para serrar. Além disso, este contra peso permite que o volante baixe ligeiramente quando a serra recebe um choque, aliviando momentaneamente o esforço, evitando o rompimento da serra. Quando a serra fita é utilizada em desdobro principal, a tora pode ser presa a um carrinho móvel que a leva de encontro à serra a uma velocidade de até 60 m/min, com controle automático ou manual (FIGURA 11). FIGURA 11. DIAGRAMA TRANSVERSAL DE UMA SERRA DE FITA COM CARRO PORTA TORAS. FONTE: MENDES (2002). Entre as muitas variações das serras de fita, as principais são: serra fita simples, serra fita simples de corte duplo, serra fita dupla ou geminada, serra fita tandem, serra fita quádrupla, serra fita de reaproveitamento e serra fita horizontal. 3.2.1 SERRA FITA SIMPLES Este tipo de serra é o mais difundido entre as pequenas serrarias para desdobro principal. Consiste de uma única máquina com um carro porta toras a qual executa um só corte a cada avanço do carro (FIGURA 12). No retorno do carro, a serra não corta, caracterizando o que se chama de recuo morto. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 17 FIGURA 12. SERRA FITA SIMPLES (METALÚRGICA SCHIFFER S.A.) Para desdobro de madeira tropical, onde existe uma grande variabilidade de espécies e dimensões das toras, o único equipamento capaz de executar com eficiência o desdobro principal é a serra fita. Na Amazônia, todas as serrarias dispõem deste equipamento com volantes de 2 m ou mais e carros capazes de comportar toras com mais de 2 m de diâmetro (FIGURA 13). FIGURA 13. SERRA FITA PARA DESDOBRO DE TORAS DE GRANDES DIÂMETROS, COM GARRAS DE AVANÇO INDEPENDENTES. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 18 O carro porta toras de uma serra fita normal dispõe de 3 ou 4 garras, onde a tora é fixada. Estas garras, chamadas também de gatos ou em inglês de “dogs”, afastam-se ou aproximam-se da serra em conjunto. Desta maneira, os cortes realizados na tora são paralelos ao seu eixo longitudinal. Nos grandes carros para desdobro de madeira tropical, as garras movimentam-se independentemente umas das outras (FIGURA 14). Consequentemente é possível avançar a tora de encontro com a serra em diagonal, o que permite a realização de cortes paralelos à casca. Este tipo de desdobro é muito realizado na obtenção de pranchões para a indústria de faqueados. FIGURA 14. CARRO PORTA TORAS COM TRÊS GARRAS DE AVANÇOS INDEPENDENTES. FONTE: MENDES(2002). Existem diversas adaptações e variações nas serras de fita, que visam a utilização da serra em casos especiais. Um exemplo característico é o uso de serra fita com barra de pressão para o desdobro de madeiras com fortes tensões de crescimento (FIGURA 15). Esta serra é muito utilizada para o desdobro de toras de eucalipto, onde a tora passa contra a serra e a peça serrada é pressionada por uma barra lateral, que tem a finalidade de auxiliar na redução de empenamentos e rachaduras. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 19 FIGURA 15. SERRA FITA SIMPLES COM BARRA DE PRESSÃO AUXILIAR PARA DESDOBRO DE MADEIRA COM TENSÃO DE CRESCIMENTO. Outro exemplo de variação nas seras de fita, são as serras que permitem cortes com variação de ângulo, as quais são muito úteis na produção de pranchões para obtenção de lâminas faqueadas (FIGURA 16). OPÇÕES DE ÂNGULOS FIGURA 16. SERRA FITA SIMPLES PARA DESDOBRO DE BLOCOS EM ÂNGULO. FONTE: EWB (2002). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 20 3.2.2 SERRA FITA DE CORTE DUPLO Este tipo de serra executa um corte no avanço do carro porta toras e um outro corte no retorno do carro (FIGURA 17). Para tal, a serra dispõe de dentes nas duas bordas. Este equipamento tem a vantagem de evitar o recuo morto do carro porta toras. Tem como desvantagens, a dificuldade de afiação da serras, pois a maioria dos equipamentos para afiação são adaptados para afiar serras com uma só borda denteada, não são indicadas para madeiras duras e têm a necessidade de um equipamento para manejar e retirar a peça cortada no retorno do carro. FIGURA 17. SERRA FITA DE CORTE DUPLO. FONTE: TUSET & DURAN, 1979. 3.2.3 SERRA FITA DUPLA OU GEMINADA A serra fita dupla ou geminada, consiste em duas serras de fita disposta uma de frente para a outra, o que permite a execução de dois corte simultâneos (FIGURAS 18 E 19). Este equipamento é utilizado em serrarias de TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 21 maior porte para a transformação de toras em semi-blocos ou blocos, para posterior resserragem em outros equipamentos. FIGURA 18. ESQUEMA TRANSVERSAL DE UMA SERRA FITA GEMINADA. FONTE: EWD (2002). FIGURA 19. SERRA FITA DUPLA OU GEMINADA (MOOSMAYER EQUIPAMENTOS LTDA). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 22 3.4 SERRA FITA TANDEM Esta serra é compostas por duas serras fitas simples, dispostas uma atrás da outra. A primeira serra é fixa e a segunda, posicionada logo após é móvel, deslocando-se para a frente dando a bitola desejada ao corte (FIGURAS 20 e 21). A tora vem de encontro à primeira serra a qual inicia um primeiro corte. Logo apósa tora sofre um segundo corte na segunda serra, proporcionando um corte duplo. Este equipamento é utilizado para a transformação de toras em pranchões, semi-blocos ou até blocos. No último caso, a serraria deverá dispor de duas serras tandem, a fim de se evitar o retorno da peça no fluxo da serraria. FIGURA 20. SERRA FITA TANDEM (METALÚRGICA TURBINA). FIGURA 21. EXEMPLOS DE CORTE NA SERRA FITA TANDEM. FONTE: EWD (2002). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 23 3.2.5 SERRA FITA QUÁDRUPLA Esta máquina consiste em dois pares de serras simples. Um par é disposto com as duas serras uma de frente para a outra. O segundo par de serras posiciona-se logo após o primeiro, também com uma serra de frente para a outra (FIGURAS 22, 23 e 24). Esta serra executa um corte quádruplo, onde pode-se obter um semi-bloco juntamente com dois pranchões ou duas tábuas. No caso de toras de pequenos diâmetros, pode-se obter a tora desdobrada diretamente em tábuas ou peças com espessuras finais, as quais serão enviadas para as operações de refilo e destopo. FIGURA 22. SERRA FITA DO TIPO QUÁDRUPLA. FONTE: TUSET & DURAN, 1979. FIGURA 23. SERRA FITA QUÁDRUPLA – VISTA LATERAL. FONTE: EWD (2002). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 24 FIGURA 24. CORTES REALIZADOS EM SERRA FITA QUÁDRUPLA. FONTE: EWD (2002). 3.2.6 SERRA FITA HORIZONTAL A serra fita horizontal é idêntica à vertical, porém é disposta na posição horizontal, executando um corte simples na tora ou peça a ser serrada (FIGURAS 25 e 26). Porém, apresenta algumas desvantagens quando utilizada como serra principal. No desdobro de toras grandes, tem-se uma perda de tempo calçando as mesmas, o que faz com que esta serra tenha produção inferior a uma serra vertical de tamanho equivalente. Há a necessidade de uma parada após cada percurso, para a retirada da peça cortada. FIGURA 25. ESQUEMA DE UMA SERRA FITA HORIZONTAL PARA DESDOBRO PRINCIPAL. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 25 FIGURA 26. SERRA FITA HORIZONTAL PARA DESDOBRO DE TORAS DE GRANDES DIÂMETROS. FONTE: KARA (2002). Em função de suas desvantagens, a serra fita horizontal foi pouco utilizada por um longo período nas serrarias. Porém, no desdobro de toras de reflorestamentos, que são de pequenas dimensões e com o crescente aumento do custo de matéria prima, tem se tornado um equipamento cada vez mais frequente nas serrarias, e atualmente, a maioria das indústrias fabricantes de máquinas para serraria, dispõe de algum modelo. Muitos “layouts” apresentam várias serras horizontais, todas em linhas, uma subsequente a outra. Neste sistema, uma tora, bloco ou semi bloco, passa nesta sequência de serras, sendo transformado em tábuas ao final do conjunto (FIGURA 27), proporcionando uma boa produtividade com melhor rendimento, em relação às serras circulares. FIGURA 27. SEQUÊNCIA DE QUATRO CABEÇOTES DE SERRAS DE FITA HORIZONTAIS PARA DESDOBRO DE TORAS DE PEQUENOS DIÂMETROS. FONTE: MILL – INDÚSTRIA DE SERRAS LTDA. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 26 3.2.7 SERRA FITA DE RESSERRA OU REAPROVEITAMENTO A serra fita de resserra ou reaproveitamento, é um equipamento frequentemente utilizado nas operações de desdobro secundário. Existem dois tipos mais utilizados, a serra fita com braço radial e a serra fita horizontal, muito utilizada no reaproveitamento de costaneiras. A serra fita com braço radial consiste numa serra fita simples com volantes de diâmetro pequeno, provida de uma mesa, um braço radial acionado e um anteparo com rolos (FIGURA 28). O braço radial pressiona a peça a ser serrada contra o anteparo com rolos e a leva de encontro a serra, proporcionando a precisão no corte. Esta serra é utilizada em operações de resserragem, para dar a espessura final das peças ou para o reaproveitamento de costaneiras. OPÇÕES DE OPERAÇÕES FIGURA 28. SERRA FITA DE REAPROVEITAMENTO OU RESSERRA (INDÚSTRIAS LANGER LTDA.) Um outro tipo de resserra consiste numa serra de fita com mesa, porém, com dois suporte laterais providos de rolos acionadas, sendo dispostos um de cada lado da lâmina (FIGURA 29). Este tipo de máquina pode ser utilizado tanto para reaproveitamento, como para outras operações de resserragem. Uma outra possibilidade para esta máquina, é a conjugação de duas máquinas, na forma de geminada, permitindo a realização de dois cortes simultâneos na peça (FIGURA 30). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 27 FIGURA 29. SERRA FITA DE RAPROVEITAMENTO COM ROLOS ACIONADOS LATERIAS. FONTE: EWD (2002). FIGURA 30. SERRA FITA GEMINADA PARA OPERAÇÕES DE RESSERRAGEM. FONTE: EWD (2002). A serra de fita horizontal é atualmente o equipamento mais utilizado para reaproveitamento de madeira de reflorestamento, principalmente costaneiras. Tem como vantagem sobre a resserra de reaproveitamento, a maior facilidade de apoio da costaneira ao passar pela serra. Enquanto que na resserra de reaproveitamento, a costaneira passa em pé apoiada entre o braço radial e um suporte com rolos, na serra fita horizontal a costaneira vai de encontro com a serra sobre correia transportadora ou cilindros acionados, apoiada pela sua superfície reta (FIGURA 31). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 28 FIGURA 31. DESDOBRO DE COSTANEIRAS EM SERRA FITA HORIZONTAL. FONTE; MENDES (2002). 3.3 SERRAS CIRCULARES As serras circulares são máquinas que sempre estarão presentes em qualquer tipo de serraria, seja ela pequena ou grande. Porém é muito importante que este equipamento seja utilizado nas operações adequadas, pois em função de utilizar discos de serras, a geração de serragem é muito maior que nas serras de fita. O fio de corte de uma serra circular pode facilmente atingir 5 mm ou mais, devido ao fato dos discos de serra serem muito espessos, proporcionando corte de 10 a 20 mm ou mais (FIGURA 32). São serras de simples instalação e boa produção de madeira serrada e seus dentes têm formas variadas, de acordo com a finalidade da serra. FIGURA 32. DISCO DE SERRA CIRCULAR PARA DESDOBRO PRINCIPAL DE TORAS DE ATÉ 60 CM DE DIÂMETRO. FONTE: WILLISTON, 1989. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 29 A FIGURA 33, apresenta o diagrama de corte na operação de resserragem de um semibloco e de um bloco em uma serra circular múltipla de dois eixos. Caso sejam serradas peças com 27 mm de espessura e o fio de corte seja de 5 mm, tem-se uma perda de aproximadamente 20% da madeira na forma de serragem. Na situação A da figura, no desdobro de um semibloco, tem-se os dois cortes mais externos que retiram as costaneiras e que não implicam em desperdício de madeira, pois o fio de corte posiciona-se para fora da madeira utilizável, ou seja, faz parte da costaneira. Os demais cortes são internos e transformam a madeira utilizável em serragem, afetando o rendimento . Na situação B, todos os cortes são realizados internamente na peça, reduzindo o rendimento da madeira utilizável. A – DESDOBRO DE SEMIBLOCO B – DESDOBRO DE BLOCO FIGURA 33. ESQUEMA DO DESDOBRO DE UM SEMIBLOCO EM SERRA CIRCULAR MÚLTIPLA DE DOIS EIXOS. FONTE: ROCHA (2002). Como as serras circulares são equipamentos que podem atingir maiores velocidades, tem-se a possibilidade de utiliza-las na configuração de dois eixos, a qual permite reduzir as dimensões dos discos de serra e, consequentemente suas espessuras, diminuindo a geração de serragem. Estes equipamentos transformam a tora em um semibloco ou bloco para posterior desdobro secundário. Na canteagem e destopo das peças, a serra circular é utilizada com muita eficiência, pois nestas operações são realizadoscortes com pequenas alturas, onde os discos de serras podem ser menos espessos, causando menor geração de resíduos. Além disso, a maioria dos cortes realizados são cortes externos à peça. Nestes casos, não existe preocupação com o rendimento, mas sim com a produção. Porém, em algumas situações, quando se realiza a redução nas larguras das peças, TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 30 dividindo-as em duas ou mais peças, os cortes realizados são internos, implicando em maior perda de madeira e consequentemente, redução do rendimento. As serras circulares, quando utilizadas como serras principais, não têm grande influência no rendimento quando são usadas para fazer cortes externos das costaneiras. Mas, quando utilizadas para cortes múltiplos, implicam em maior geração de serragem. São mais adequadas para toras de diâmetros pequenos e matéria prima de baixo custo, pois quanto maior for o diâmetro do disco, maior será a sua espessura, aumentando a produção de serragem. A homogeneidade dos diâmetros também é fator determinante no uso de serras circulares. Quando há variação de diâmetros, os equipamentos que mais se adaptam são as serras de fita, em função de sua versatilidade. É mais comum o uso de serras circulares em serrarias modernas, com diâmetros pequenos e homogêneos, as quais compensam o baixo custo da matéria prima e a grande perda em serragem com alta produtividade. Uma característica importante das serras circulares que deve ser observada com muita atenção é a velocidade periférica, a qual tem importância no rendimento, dando a capacidade de corte do equipamento. Se esta velocidade for inferior ou superior à velocidade ideal, não se obtém a máxima velocidade de corte. É a velocidade tangencial de qualquer dente da serra, expressa pela seguinte fórmula: 60 DN xxVp π= Onde: Vp = Velocidade periférica (m/s) D = Diâmetro do disco de serra N = Número de rotações por minuto A velocidade periférica ideal é observada através do número de marcas de dentes no corte executado. Tem-se como velocidade ideal 4 marcas por centímetro. Se este número for maior, diminui-se a velocidade de avanço das peças. Se for menor, aumenta-se esta velocidade. De modo geral, a velocidade periférica oscila entre 40 e 60 m/s, não podendo exceder 45 m/s para serras com dentes removíveis. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 31 O controle da velocidade de avanço, não só para as serras circulares, mas para qualquer equipamento de uma serraria, é de vital importância sob vários aspectos. Quando a velocidade de avanço é elevada, ocorre um desgaste excessivo das ferramentas cortantes e da própria máquina, acarretando em maior consumo de energia. Além disso, a qualidade da madeira serrada na maioria das vezes será prejudicada. Quando a velocidade de avanço for insuficiente, haverá desperdício de energia e o equipamento não estará sendo utilizado em sua capacidade ideal, o implica em queda na produção e aumento do custo da madeira serrada. 3.3.1 SERRA CIRCULAR SIMPLES A serra circular simples, consiste em uma mesa com um único disco de serra. Por ter uma altura de corte pequena, é muito utilizada em operações de refilo nas serrarias de pequeno porte (FIGURA 34). FIGURA 34. SERRAS CIRCULARES SIMPLES DE (INDÚSTRIAS LANGER LTDA.). As serras circulares de mesa simples, são ineficientes quanto à produção e precisão nas dimensões serradas. Porém, são máquinas muito comuns nas pequenas serrarias de todo o país. 3.3.2 SERRA CIRCULAR DUPLA OU GEMINADA Esta é uma serra provida de dois discos os quais proporcionam um corte duplo. Esta serra pode ainda ter um disco móvel, que permite a mudança de TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 32 bitola com facilidade. A serra circular geminada pode ser utilizada no desdobro principal de toras de pequenos diâmetros, transformando-as em semi-blocos ou blocos, no caso de uma linha composta por duas máquinas em sequência (FIGURA 35). É um equipamento muito utilizado também em operações de canteagem (FIGURA 36). Neste caso, com discos de diâmetros pequenos. FIGURA 35. SERRA CIRCULAR DUPLA PARA DESDOBRO PRINCIPAL DE TORAS DE PEQUENOS DIÂMETROS (INDÚSTRIAS KLÜPPEL LTDA.). FIGURA 36. SERRA CIRCULAR DUPLA REFILADEIRA. As serras circulares geminadas evoluíram muito em termos de dispositivos de ajuste, para um melhor aproveitamento das peças e aumento da produção. Numa serraria, podem ser instalados antes destas serras sistemas de varredura do perfil da peça, através de “scanners” ou raio laser (FIGURAS 37 e 38), definindo o melhor posicionamento dos discos no momento do corte. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 33 FIGURA 37. SISTEMAS DE “SCANNERS” PARA LEITURA DO PERFIL DE TORAS E PARA RETIRADA DE REFILOS DE TÁBUAS. FONTE: EWB (2002). FIGURA 38. SERRA CIRCULAR REFILADEIRA COM LEITURA A LASER. 3.3.3 SERRA CIRCULAR MÚLTIPLA A serra circular múltipla dispõe de mais de dois discos de serra, o que permite à mesma, a execução de vários cortes simultaneamente (FIGURA 39). As serras múltiplas têm também a opção de um disco ou conjuntos de discos móveis, o que permite mudanças de bitolas com rapidez e eficiência (FIGURAS 40, 41 e 42). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 34 FIGURA 39. SERRA CIRCULAR MÚLTIPLA (METALÚRGICA LUX). OPÇÕES DE OPERAÇÕES FIGURA 40. SERRA CIRCULAR MÚLTIPLA COM DISCOS MÓVEIS (MOOSMAYER EQUIPAMENTOS MADEIREIROS LTDA.). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 35 OPÇÕES DE CORTE FIGURA 41. SERRA CIRCULAR MÚLTIPLA COM DISCOS MÓVEIS (INDÚSTRIAS KLÜPPEL S.A.). FIGURA 42. SERRA CIRCULAR REFILADEIRA MÚLTIPLA. A – UM DISCO FIXO E UM DISCO MÓVEL. B – DOIS DISCOS MÓVEIS. C – UM DISCO FIXO E DOIS DISCOS MÓVEIS. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 36 3.3.4 SERRAS CIRCULARES DE DOIS EIXOS As serras circulares têm a opção em dois eixos, ou seja, funcionam com discos em um eixo inferior e um eixo sobreposto com discos coincidindo com os discos do eixo inferior (FIGURA 43). Tal conformação permite a redução nos diâmetros dos discos com aumento na altura de corte. Em função do menor diâmetro, os discos de serra podem ter menor espessura, o que reduz a perda de madeira na forma de serragem. Além disso, o desdobro realizado com dois eixos reduz a sobrecarga sobre os discos de serra, ou seja, o trabalho de serrar a madeira é dividido. Desta maneira, as serras circulares de dois eixos permitirão maiores velocidades de avanço, quando comparadas com serras de um só eixo e tamanhos equivalentes. FIGURA 43. EXEMPLO DA DISPOSIÇÃO DOS EIXOS EM SERRA CIRCULAR MÚLTIPLA DE DOIS EIXOS. A opção de dois eixos, geralmente é utilizada em serras circulares duplas ou múltiplas. Desta forma as serras passam a se chamar circular dupla de dois eixos ou circular múltipla de dois eixos. As serras circulares duplas de dois eixos são muito utilizadas no desdobro principal de toras de pequenos diâmetros, transformando-as em semi-blocos (FIGURA 44). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 37 FIGURA 44. SERRA CIRCULAR DUPLA DE DOIS EIXOS PARA DESDOBRO PRINCIPAL DE TORAS DE PEQUENOS DIÂMETROS (SAWQUIP INTERNATIONAL INC.) As serra circulares múltiplas de dois eixos, são mais frequentemente utilizadas em operações de resserragem (FIGURAS 45 e 46). Estas serras são comumente encontradas em serrarias na transformação de blocos ou semi-blocos em tábuas. As serras circulares múltiplas de dois eixos apresentam boa velocidades de avanço, porém com maior geração de serragem. FIGURA 45. SERRA CIRCULAR MÚLTIPLADE DOIS EIXOS (MOOSMAYER EQUIPAMENTOS MADEIREIROS LTDA.). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 38 FIGURA 46. SERRA CIRCULAR MÚLTIPLA DE DOIS EIXOS. (INDÚSTRIAS KLÜPPEL LTDA.) Existe ainda um tipo de serra circular de dois eixos que pode ser utilizada no reaproveitamento de costaneiras (FIGURA 47). Como a costaneira tem uma face curva, o que dificulta o posicionamento e fixação da peça no momento do desdobro, os eixos são dispostos verticalmente, de maneira que os discos de serra fiquem na posição horizontal. Esta conformação da serra permite um sistema de alimentação e fixação da serra mais eficiente. FIGURA 47. SERRA CIRCULAR DE DOIS EIXOS PARA CORTE HORIZONTAL E OPÇÃO DE DOIS CORTES SIMULTÂNEOS (INDÚSTRIAS KLÜPPEL LTDA.) TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 39 3.3.5 SERRAS CIRCULARES MÚLTIPLAS DE CORTES EM CURVA Pode-se dizer que as serras circulares de corte em curva, como são o que há de mais avançado na tecnologia de desdobro de toras com serras circulares. Estas máquinas são utilizadas para transformar toras em tábuas, acompanhando as curvaturas naturais da tora (FIGURA 48). Ao saírem, as tábuas apresentam-se curvadas, porém, com adequado empilhamento para secagem, as mesmas adquirem superfícies planas. Esta técnica de desdobro tem como principais vantagens maior rendimento, em função de um maior aproveitamento da tora e as peças serradas têm maior resistência mecânica, em função de que o corte, ao acompanhar as curvaturas da tora, proporciona uma maior quantidade de fibras inteiras. Sempre acompanhando uma serra de corte em curva, existe um equipamento de rastreamento da tora ou bloco que será serrado, com o objetivo de definir o posicionamento correto da peça em relação às serras visando o seu melhor aproveitamento. FIGURA 48. SERRA CIRCULAR MÚLTIPLA COM CORTE EM CURVA. FONTE: EWD (2002). 3.3.6 EQUIPAMENTOS DE PERFILAGEM Os equipamentos de perfilagem são utilizados na maioria das vezes em operações de desdobro primário. Realizam cortes duplos simultâneos e têm como vantagem sobre as serras de fita e circulares a características de que a costaneira retirada da tora é imediatamente transformada em cavacos (FIGURA 49). São conhecidos como picadores perfiladores, serras picadoras, ou ainda em inglês, como “chipper canter”. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 40 FIGURA 49. TECNOLOGIA DE DESDOBRO PRINCIPAL COM EQUIPAMENTOS DE PERFILAGEM. Quanto à tecnologia, o picador perfilador é dividido em duas categorias: do tipo que contém somente facas e do tipo conjugado de serras com facas. Os sistemas que apresentam somente facas apresentam ferramentas compostas com lâminas ou facas laterais do tipo calçadas ou removíveis, semelhantes a fresas de usinagem de madeiras. Estas facas laterais desbastam a tora, transformando a costaneira diretamente em cavacos (FIGURA 50). FIGURA 50. SISTEMA DE PERFILAGEM DA TORA COM FACAS LATERAIS (KEY KNIFE, INC., CANADA.) O outro tipo de tecnologia, é a utilização de duas serras laterais, as quais têm a finalidade de serrar a costaneira. logo atrás das serras, a costaneira que está sendo retirada, vai de encontro com estruturas cônicas que contêm facas em quantidades, disposições e ângulos pré-establecidos (FIGURAS 51 e 52). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 41 FIGURA 51. DISPOSITIVO DE SERRA E FACAS UTILIZADO NO PICADOR PERFILADOR. FIGURA 52. PICADOR PERFILADOR. FONTE: EWD (2002). O picador perfilador é um equipamento utilizado para desdobro principal, geralmente em serrarias que estão integradas com fábricas de chapas de partículas ou fábricas de celulose, pois o mesmo retira as costaneiras da tora e pica automaticamente as mesmas gerando cavacos de dimensões homogêneas. Como são realizados somente dois cortes no picador perfilador, as serrarias normalmente utilizam dois equipamentos deste tipo, sendo um instalado logo após o outro. No primeiro, são retiradas duas costaneiras, o semi-bloco é tombado, passando na sequência no segundo, onde são retiradas as outras duas costaneiras, resultando em um bloco final (FIGURA 53). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 42 FIGURA 53. SAÍDA DE UM BLOCO, DO SEGUNDO PICADOR PERFILADOR, DE UMA LINHA COMPOSTA DE DOIS PICADORES PERFILADORES Os picadores perfiladores podem ser utilizados também associados a serras de fita duplas ou quádruplas. Desta maneira, após passar no picador perfilador, onde são retiradas as costaneiras, o semibloco passa imediatamente em uma serra dupla ou em uma serra quádrupla, resultando em um semi-bloco central e duas tábuas laterais, no caso da serra dupla, ou quatro tábuas, no caso da serra quádrupla (FIGURA 54 e 55). A B FIGURA 54. LINHA DE SERRARIA COMPOSTA COM PICADOR PERFILADOR E SERRAS DE FITA PARA DESDOBRO PRINCIPAL. A – PICADOR PERFILADOR E SERRA FITA GEMINADA. B – PICADOR PERFILADOR E SERRA FITA QUÁDRUPLA. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 43 FIGURA 55. CONJUNTO DE PICADOR PERFILADOR E SERRA FITA QUÁDRUPLA. 3.4 SERRAS DESTOPADEIRAS As serras destopadeiras são na maioria das vezes serras circulares adaptadas a operações de destopo. Os principais tipos são pendular, radial e de braço articulado, mais utilizadas em pequenas serrarias (FIGURA 56). No caso das serrarias modernas, com alta produção, são utilizadas as destopadeiras de mesa duplas ou múltiplas. A destopadeira de mesa dupla, consiste em uma mesa contendo dois discos de serra diagonalmente opostos (FIGURA 57). Desta forma, a peça é transportada por correias, é destopada no primeiro disco para a regularização e retirada de defeitos do topo, logo após é jogada para o outro extremo da mesa através de rolos transversais acionados e é destopada pela segunda vez. Neste segundo destopo, o operador dispõe de vários “tops” na mesa, os quais permitem o bitolamento em vários comprimentos utilizados pela indústria. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 44 FIGURA 56. PRINCIPAIS SERRAS DESTOPADEIRAS. A – PENDULAR; B – RADIAL; C – DE BRAÇO ARTICULADO; D – DE MESA SIMPLES. FONTE: TUSET E DURAN, 1979. FIGURA 57. DESTOPADEIRA DE MESA DUPLA. (MOOSMAYER EQUIPAMENTOS MADEIREIROS LTDA.). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 45 A destopadeira de mesa múltipla contém vários discos de serra, o que permite a execução de vários cortes simultâneos, transformando a peça em várias peças de comprimentos pequenos (FIGURA 58). Esta máquina é muito utilizada em serrarias que produzem madeira serrada para fábricas de móveis, onde os comprimentos das peças são muitas vezes pequenos. FIGURA 58. SERRA DESTOPADEIRA DE MESA MÚLTIPLA. FONTE: TUSET & DURAN, 1979. No caso de destopo principal nos pátios das serrarias, é utilizada a destopadeira de corrente, a qual consta de um sabre contendo uma corrente, utilizando o mesmo princípio das motosserras ou então, o que é mais utilizada, a destopadeira circular de grande diâmetro (FIGURA 59). FIGURA 59. SERRA DESTOPADEIRA CIRCULAR DE TORAS (MOOSMAYER EQUIPAMENTOS MADEIREIROS LTDA.). TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 46 4. PLANEJAMENTO PARA A INSTALAÇÃO DE UMA SERRARIA 4.1 INTRODUÇÃO Para a instalação de qualquer empreendimento industrial, é necessário um planejamento criterioso, para que no futuro os investimentos realizados não se transformem em prejuízos, em virtude de várias condições adversas que podem ocorrer. No caso da instalação de uma serraria, a finalidade do planejamento tem primordial importância a fim de se determinar o melhor local, empregaro mínimo de pessoal, diminuir o custo de produção, obter o máximo rendimento da madeira e gerar produtos de alta qualidade competitivos no mercado. Para se atingir estas metas, a localização adequada de uma serraria é essencial, independente se a mesma é de pequeno ou grande porte. Em consequência disto, serrarias bem equipadas e bem assentadas, acabam tornando- se inviáveis economicamente, causando grandes prejuízos pelo fato de estarem mal localizadas. Portanto, antes da definição do melhor lugar para a instalação de uma serraria, deve ser realizado um estudo o mais detalhado possível, envolvendo o máximo de situações possíveis, envolvendo fatores, os quais determinarão a melhor área para a localização da nova serraria. 4.2 FATORES A SEREM OBSERVADOS QUANTO À LOCALIZAÇÃO DA SERRARIA 4.2.1 FONTE DE MATÉRIA PRIMA A matéria prima é um fator muito importante para o suprimento adequado de toras de determinadas qualidades e espécies a uma distância viável. Neste caso, é necessário primeiramente estabelecer o tamanho da serraria para que se possa determinar o volume anual de toras. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 47 Como ao iniciar todo empreendimento, o empresário espera crescimento, no caso da matéria prima, deve-se considerar também a possibilidade de aumento futuro da capacidade de produção. Partindo-se destas considerações, faz-se então um inventário das possíveis áreas de instalação. Após fixada a exigência imediata anual, levanta-se uma provável exigência no futuro. Logo após, pode-se passar à procura da área apropriada. Além de se conhecer o volume de madeira disponível em cada região é importante se saber como está sendo usada a madeira na região. deve-se obter informações sobre o número, tamanho, localização e exigências anuais de outras indústrias madeireiras existentes na região, as quais poderão competir no uso da madeira disponível. Além disso, as informações sobre as outras indústrias, fornecem ao empresário uma noção sobre os preços da matéria prima praticados na região. Após a escolha da macro-região, o madeireiro deve determinar o melhor local dentro desta área, ou seja, a micro-região, onde será instalada a serraria. Sempre que possível, a serraria deverá ser localizada próxima a uma área com grande suprimento de toras. Deste modo, a localização tende a um custo mínimo de transporte e obtenção de toras. No caso de serrarias portáteis, esta situação é facilmente resolvida, pois a mesma migra de acordo com o suprimento de toras na região, tendo a sua localização feita de modo a estar sempre próxima das áreas com bom estoque. 4.2.2 MÃO DE OBRA DISPONÍVEL A mão de obra disponível numa região é um fator importante no que diz respeito à localização de uma serraria. Se a mesma for bem localizada sob todos os aspectos, porém, não dispor de mão de obra qualificada e com salários compatíveis aos praticados pela indústria, poderão ocorrer sérios prejuízos. Deve-se também verificar a existência de outras indústrias, principalmente do setor florestal, em função da possibilidade de pagamento de melhores salários. Por exemplo, indústrias dos setores de laminação, celulose e papel, móveis, etc., com certeza têm a possibilidade de pagar melhores salários que uma serraria, em função do maior valor agregado de seus produtos. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 48 4.2.3 MERCADO CONSUMIDOR E ORIGEM DAS TORAS O ideal para uma serraria é que a mesma seja localizada próximo do mercado consumidor e da matéria prima. Porém, tal situação raramente é possível. Caso tal situação não seja possível, deve-se observar que toras são volumosas e pesadas e que a geração de resíduos em serrarias normalmente está próximo de 50%. Portanto, de cada 100 m3 de toras que entram em uma serraria é comum se ter aproximadamente 50 m3 de resíduos. Sendo assim, ao se transportar toras, se está também, transportando água e resíduos, além de possíveis toras defeituosas. Em função disto, na maioria das vezes é aconselhável a localização da serraria próxima da fonte de matéria prima, mesmo que esta fique longe do mercado consumidor. Raramente, a localização da serraria próxima do mercado consumidor é viável. Porém, isto dependerá da análise de diversos fatores, como custo da matéria prima e transporte da mesma, preço de venda do produto final, demanda, etc. 4.2.4 TRANSPORTE E VIAS DE COMUNICAÇÃO Não só a localização de uma serraria, mas de qualquer outra indústria, deve apresentar facilidade de transporte, tanto da fonte de matéria prima quanto até o mercado consumidor. Sempre que possível, é conveniente que a serraria seja localizada próximo a rios, para que seja utilizado o transporte fluvial. Neste caso é necessário um estudo da rede fluvial que corta a região e das condições de flutuabilidade das toras. O uso de transporte fluvial, além de extremamente econômico, protege a madeira contra agentes biodegradadores. No caso de serrarias deve-se considerar a possibilidade de transporte de toras e madeira serrada, o que requer uma certa estrutura das vias de acesso. Existindo estradas, é necessário se verificar as condições de suportar o tráfego pesado. Não havendo boas estradas, deve ser realizado um estudo da viabilidade da construção de vias de acesso. Em resumo, é realizado um estudo sobre a viabilidade econômica de uma remodelagem das estradas existentes ou da construção de novas estradas. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 49 Outro fator muito importante, é a possibilidade de se localizar a serraria próxima de estradas de ferro, o que também reduz em muito o custo de transporte. 4.2.5 TAXAS E IMPOSTOS A instalação de serrarias em zonas urbanas, geralmente implica em impostos bem mais elevados. Porém, existe a vantagem da indústria estar mais próximo do consumidor, facilitando a colocação dos seus produtos no mercado. Desta forma, é necessário estudar qual a melhor possibilidade: impostos mais caros com menor custo de transporte ao consumidor ou impostos menores com maior custo de transporte ao consumidor. 4.2.6 FATORES RELACIONADOS AO TERRENO Após a seleção de algumas micro-regiões viáveis à instalação da serraria, devem ser estudas algumas características relacionadas ao terreno. O mesmo deverá apresentar uma série de condições básicas, como a melhor ligação com rodovias ou se possível com ferrovias, deverá ser seco e plano e sua maior dimensão deverá ser na direção do vento dominante, a fim de que todas as construções sofram ação do mesmo no sentido de suas larguras, as quais são dimensões menores que os comprimentos. A relação entre largura e comprimento varia de 3:1 a 4:1. A extensão do terreno será em função do volume de toras, da necessidade de estocagem de toras e da saída rápida ou armazenamento dos produtos. Além destes fatores, o terreno deverá apresentar uma extensão de 20 a 25% a mais que a calculada, visando-se eventualidades futuras como aumento da produção, aumento do período de armazenamento ou aumento do período de estocagem das toras. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 50 4.3 ESTUDOS PARA A INSTALAÇÃO PROPRIAMENTE DITA DA SERRARIA Após a definição do local ou micro-região, é indispensável a realização de um estudo sobre diversos fatores como o capital disponível para o investimento, dados sobre a matéria prima (quantidade, espécies, dimensões das toras e dimensões dos produtos para o mercado, a disponibilidade de operários, seus conhecimentos técnicos, padrão de vida e salários, escolha de maquinário compatível com o capital e as operações a serem realizadas, o que de preferência deve ser de fabricação nacional, poisfacilita a manutenção e reposição de peças e escolha da força motriz (eletricidade, Diesel ou vapor). Além desses fatores, deve ser realizado um levantamento topográfico do terreno e um nivelamento do mesmo, procurando-se aproveitar as inclinações naturais, as quais proporcionam maior facilidade em algumas fases das operações, como por exemplo, o pátio de toras estar um nível superior à entrada das toras na serraria. Após tais procedimentos é realizada uma avaliação a fim de se determinar a localização do edifício dentro do terreno, o que será em função do clima (temperaturas médias anuais, insolação, ventos dominantes e chuvas dominantes). Em relação às temperaturas médias anuais, estas são de suma importância, pois determinarão a forma, o tipo de construção e o material utilizado para a construção. A insolação irá determinar a disposição dos pátios e do edifício, para um melhor aproveitamento das horas de sol. O ventos dominantes devem ser na direção do maior eixo da serraria, principalmente quando a força motriz é oriunda de caldeiras, a fim de se prevenir incêndios. No caso das chuvas dominantes, a serraria deve estar na direção das mesmas, o que impede a entrada da chuva na área de trabalho, caso não hajam paredes laterais. É muito importante se ter em mente que na maioria das vezes não é possível uma situação ideal, onde todos os fatores analisados sejam favoráveis. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 51 Sendo assim, é importante uma avaliação criteriosa, para que se possa optar pelas melhores condições possíveis. 4.4 DIVISÃO DE UMA SERRARIA Uma serraria bem planejada basicamente deve possuir um pátio de toras, um local para maquinário, um local para classificação e secagem da madeira serrada e um depósito de madeira serrada. É conveniente que todas as dependências da serraria sejam dispostas em linha reta, visando uma maior economia do trabalho. 4.4.1 PÁTIO DE TORAS O pátio de toras, normalmente é constituído de quatro partes: uma ligação com as vias de transporte, local para descarregamento, local para classificação e preparo das toras e depósito de toras já classificadas. O pátio deve ter forma retangular, com o maior comprimento na mesma direção do restante da serraria. A largura e o comprimento são variáveis, dependendo de fatores relacionados às instalações, do volume de produção e do período de estocagem das toras. Em regiões com água em abundância, o pátio de toras pode ser em água, o que é uma boa forma de proteger as toras do ataque de fungos xilófagos. Porém, esta opção dependerá das espécies utilizadas pela serraria, pois as mesmas devem boas condições de flutuação. Quando o pátio for em terra firme, este deverá apresentar algumas características importantes: deve ser seco, não apresentar declives acima de 5%, possibilitar que seja um nível um pouco superior ao da serraria, ter boa comunicação com rodovias e as toras não devem ser descarregadas em contato direto com o solo. Em serrarias maiores as estradas no pátio devem apresentar duas vias, para uma maior facilidade de movimentação de máquinas e veículos. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 52 4.4.2 LOCAL PARA MAQUINÁRIO O edifício que abrigará todo o maquinário de desdobro da serraria não deve apresentar colunas interiores, pois estas prejudicam as operações. Deverá ainda ser disposto no mesmo nível do pátio de toras ou levemente inferior. Em relação ao tamanho do prédio, as dimensões dependerão do maquinário utilizado, das dimensões das toras e do volume de produção da serraria. As dimensões mais comuns variam de 25 a 60 m de comprimento por 6 a 12 m de largura. O prédio onde se encontra o maquinário é basicamente constituído pelos seguintes setores: - Setor de maquinário principal: onde se encontram as serras para desdobro de toras. Em todas as máquinas deve haver uma pequena mesa ou bancada para anotação de dados de produção e colocação de ferramentas usadas na máquina. - Setor de maquinário secundário: local onde se encontram instaladas as máquinas de desdobro secundário e de reaproveitamento, como resserras, canteadeiras, destopadeiras, etc. - Sala de afiação: local onde são executadas todas as operações de manutenção e afiação das ferramentas cortantes. É muito importante que a iluminação na sala de afiação seja abundante. - Casa de força: deve localizar-se separadamente da indústria e ser preferencialmente construída com material não inflamável. - Escritório ou gerência: instalado em local que permita uma visão completa de todas as operações realizadas na indústria. Se possível deve ter amplas janelas ou paredes de vidro e estar num plano mais elevado que o da indústria. - Vestiário e refeitório: são indicados somente para grandes serrarias e devem ter uma área de aproximadamente 1m2 por operário. TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 53 4.5 LAYOUT DA SERRARIA Definidos os equipamentos necessários para a produção desejada, deve ser feito um estudo criterioso sobre a forma de disposição e localização deste equipamentos. Para um bom fluxo de produção, os equipamentos devem estar dispostos em linha reta, evitando-se ao máximo mudanças de fluxo em ângulos e que se evite o retrocesso das peças no fluxo. 4.5.1 DISTÂNCIA ENTRE OS EQUIPAMENTOS O principal fator que irá determinar a distância entre os equipamentos é o comprimento das toras a serem desdobradas e consequentemente das pecas serradas. Portanto, a distância mínima entre os equipamentos deverá ser o dobro do comprimento máximo das toras. No caso de serrarias com pouca automação, esta distância permite um breve acúmulo de peças. Caso haja interrupção nas operações do equipamento subsequente. Já no caso de serrarias automatizadas, esta distância propicia ao controlador do processo, um pequeno intervalo de tempo para que o mesmo possa interromper o fluxo produtivo sem causar danos aos equipamentos. Distâncias muito longas entre os equipamentos também não são convenientes. Pois no caso de serrarias pouco automatizadas, provocam um aumento de mão de obra, diminuem a eficiência e aumentam os riscos de acidente. No caso das serrarias automatizadas, longas distâncias aumentam o consumo de energia e de desgaste e consumo de equipamentos de transporte, podendo também diminuir a produção ou eficiência da serraria. 4.5.2 DISTRIBUIÇÃO DOS EQUIPAMENTOS Este aspecto deve ser cautelosamente observado, pois é muito importante, a fim de se facilitar o manuseio ou transporte das peças dentro da área de operação. Desta forma, evita-se que o acúmulo das peças entre os equipamentos TÉCNICAS E PLANEJAMENTO EM SERRARIAS – Márcio Pereira da Rocha 54 prejudique o fluxo normal de processamento, reduzindo as possibilidades de acidentes, principalmente quando as serrarias são pouco automatizadas. 4.5.3 DEFINIÇÃO DA ÁREA COBERTA Na maioria das vezes, este aspecto é observado de forma incorreta. Normalmente, em um barracão já construído, são colocados na forma mais adequada possível, todos os equipamentos necessários para uma serraria executar suas operações. O procedimento correto é, após a definição das posições e distâncias dos equipamentos, se projetar o edifício. As estruturas para a cobertura devem ser suspensas nas duas laterais do prédio, evitando-se a colocação de pilares na área interna da serraria, o que prejudica o bom andamento das operações. Para se facilitar o manuseio das toras do pátio até a máquina de desdobro principal, a dimensão maior do prédio deverá estar disposta paralelamente à rampa de retirada das toras. 4.5.4 SEÇÃO DE MANUTENÇÃO DE SERRAS Se a serraria executar as operações
Compartilhar