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24
INSTITUTO MARANHENSE DE ENSINO E CULTURA – IMEC
CURSO DE DIREITO
KARLOS ALBERTO SOUSA CASTRO
 
 
 
 
O INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA COMO FERRAMENTA DE COMBATE À CRIMINALIDADE ORGANIZADA E SEUS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EQUIVALENTES
 
 
 
 
SÃO LUÍS 
2017
KARLOS ALBERTO SOUSA CASTRO
 
 
 
 
O INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA COMO FERRAMENTA DE COMBATE À CRIMINALIDADE ORGANIZADA E SEUS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EQUIVALENTES
 
 
Monografia apresentada ao curso de Direito do Instituto Maranhense de Ensino e Cultura – IMEC - São Luís - Ma como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, elaborada sob a orientação da Professora Amanda Silva Madureira. 
 
 
SÃO LUÍS 
2017
.
		Dedico este trabalho ao meu pai, à minha mãe, à minha esposa, meus filhos, irmã e sobrinhas. Assim como a todos os familiares e amigos, por serem as minhas fontes de inspiração e motivação em todos os momentos da minha vida.
Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo !
AGRADECIMENTOS
 	Primeiramente quero agradecer а Deus por permitir qυе tudo isso acontecesse, ао longo de minha vida, е não somente nestes anos como universitário, mаs que еm todos оs momentos é o maior mestre qυе alguém pode conhecer.
À minha família, pоr sua capacidade dе acreditar, investir e me levantar nos momentos de desanimo, fraqueza e dificuldades. Agradeço а minha mãе Fátima Castro, heroína que mesmo distante mе dеυ apoio e incentivo nаs horas difíceis, sеυ cuidado е dedicação fоі que deram еm alguns momentos, а esperança pаrа seguir. Agradeço ao meu pai João Alberto qυе apesar dе todas аs dificuldades e lutas que enfrentamos juntos, desde eu pequenininho, sempre mе fortaleceu е qυе pаrа mіm foi muito importante, sυа presença significou segurança е a certeza dе qυе não estou sozinho em nenhuma jornada.
À minha esposa Francilene Castro, inseparável companheira, melhor amiga, pessoa cоm quem аmо partilhar minhа vida. Cоm você sempre mе senti mais vivo dе verdade. Obrigado pelo carinho, pelа paciência е pоr sua capacidade dе me trazer pаz nа correria da vida e dе cada semestre. Peço também desculpas pelas vezes que fui grosseiro com você quando reclamava comigo no momento em que eu quis desanimar. Você foi fundamental !
Agradeço muito aos meus filhos Antônio Kayke e João Kayo, qυе embora nãо tivessem conhecimento disto, mаs iluminaram dе maneira especial оs meus pensamentos, mе levando а buscar sempre mais conhecimentos e que também muito sofreram com minha ausência devido a correria dos trabalhos tanto na vida profissional quanto acadêmica.
À minha irmã Nayana Castro e minhas sobrinhas Paula e Anna, pelo companheirismo, disposição para ajudar nos momentos de dificuldade e que por mais difícil que fossem as circunstâncias, sempre tiveram paciência e confiança em mim. Agradeço também pela convivência e amparo do dia-a-dia e pelo total cuidado e zelo pelos meus filhos quando eu e a mãe tínhamos que nos ausentar pra cumprir essa missão.
Аоs meus amigos, principalmente a “Galera do Cravinho” pеlаs alegrias, tristezas е dores compartilhadas. Cоm vocês, аs pausas entre υm parágrafo е outro dе produção se tornaram mais alegres e com bem menos stress.
À comunidade dа Igreja Nossa Senhora da Conceição no Anil, em especial ao Grupo do 48º ECC e do Terço dos Homens, pois fоі nesse meio qυе aprendi о valor dа minha fé, o valor da minha família, ser mais humano e nunca duvidar do agir de Deus em nossas vidas. 
Agradeço а todos оs professores pоr mе proporcionar о conhecimento e que com dedicação, presteza e competência conduzem sua profissão com maestria..А palavra mestre, nunca fará justiça аоs professores dedicados аоs quais sеm nominar terão оs meus eternos agradecimentos.
À minha orientadora Professora Amanda Madureira, pelo suporte nо pouco tempo qυе lhe coube, pelas suas correções е incentivos.
Enfim, a todos qυе direta оυ indiretamente fizeram parte dа minha formação, о mеυ muito obrigado.
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar a utilização do Instituto da Delação Premiada como ferramenta no combate ao Crime Organizado e seus princípios constitucionais pertinentes. A Delação Premiada esta presente no Direito Penal Brasileiro gerando muitas controvérsias, existem argumentos favoráveis e contrários acerca de sua utilização. Primeiramente concebido como forma de auxiliar o Estado na persecução penal aos crimes de maior lesividade e de difícil investigação, como os ligados ao Crime Organizado, posteriormente, por meio de legislação infraconstitucional, teve sua utilização estendida em relação aos crimes de qualquer natureza. Este estudo analisa a evolução do direito premial no Brasil e na legislação estrangeira, de onde foi importado para o Brasil, o conceito de delação premiada e o fenômeno criminalidade organizada e suas características, procurando-se evidenciar a aplicação do referido instituto no combate a essa modalidade criminosa. O presente trabalho procura mostrar os argumentos favoráveis e contrários a delação premiada, presente nas legislações dos diversos países. E por fim, investiga a constitucionalidade da delação premiada, bem como se fere ou não o principio da dignidade da pessoa humana, o principio da proporcionalidade da pena, dentre outros direitos assegurados ao cidadão pela constituição federal.
 PALAVRAS-CHAVES: Crime Organizado, Organizações Criminosas, Delação Premiada, Criminalidade, Prova, Investigação, Processo Penal.
ABSTRACT
The purpose of this paper is to analyze the use of the Awarded Award Institute as a tool to combat Organized Crime. The Awarded Delight is present in the Brazilian Criminal Law generating many controversies, there are favorable and contrary arguments about its use. Firstly conceived as a way of assisting the State in the criminal prosecution of the most harmful and difficult to investigate crimes, such as those related to Organized Crime, later, by means of infraconstitutional legislation, had its extended use in relation to crimes of any nature. This study analyzes the evolution of Brazilian and foreign law, from which the concept of an award-winning deed and the phenomenon of organized crime and its characteristics were imported into Brazil, and the application of the aforementioned institute in the fight against it was examined. criminal procedure. The present work seeks to show the arguments favorable and contrary to the awarding of the award, present in the legislations of the different countries. Finally, it investigates the constitutionality of the prize award, as well as violates the principle of the dignity of the human person, the principle of proportionality of the penalty, among other rights guaranteed to the citizen by the federal constitution.
KEYWORDS: Organized Crime, Criminal Organisms, Award Winning, Crime, Proof, Research, Criminal Procedure.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO	9
2. O FENÔMENO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA	11
2.1 Alegações iniciais	11
2.2 O Conceito de crime organizado	11
2.3 A origem das organizações criminosas	12
2.4 Características fundamentais do crime organizado	14
2.5 As consequências do crime organizado	17
2.6 O crime organizado e o mundo globalizado	17
3. O INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA	19
3.1 A origem da delação premiada	19
3.2 A delação premiada e sua aplicação no sistema jurídico brasileiro	20
3.3 Definição e conteúdo jurídico	22
3.4 Legislação Correspondente	24
3.5 Valor probatório da delação premiada	28
3.6 Mecanismos utilizados na delação premiada	29
3.7 Colocações favoráveis	31
3.8 Colocações contrárias	33
3.9 A delação premiada na maior operação contra corrupção no Brasil	35
4. A DELAÇÃO PREMIADA E OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS	37
4.1 A delação premiada e o princípio da dignidade da pessoa humana	37
4.2 A delação premiada e o princípio da proporcionalidade da pena	38
4.3 A delação premiada e o direitoa não incriminação e do direito ao silêncio	41
4.4 A delação premiada e a garantia do contraditório	42
4.5 Do ônus da prova em processo penal	44
4.6 Perspectiva ética da delação premiada	45
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS	48
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	50
 
INTRODUÇÃO
No que diz respeito à criminalidade, o maior desafio contemporâneo concentra-se em alcançar maneiras eficazes de reprimir o crime organizado. Vivemos numa sociedade sinalizada pela globalização, que ao mesmo tempo em que oferece subsídios para um intenso fluxo econômico, político, social e cultural, recrudesce o fenômeno da criminalidade organizada. 
Por conta dos atos criminosos que encontramos em nossa sociedade, a justiça criminal com a intenção de facilitação e colaboração para a descoberta de novos delitos institui uma forma, que por algumas pessoas é rejeitada e por outras é aceita, que podemos denominar como uma “troca de favores”, onde os próprios agentes dos crimes, infiltrados neles, delatam sobre o caso, colaborando com a investigação, ou seja, denunciando os outros criminosos, para que em troca obtenha benefícios relacionados à sua pena, instituto esse conhecido como a Delação Premiada.
Este instrumento jurídico dá maior autonomia ao Ministério Público, uma vez que o órgão poderá fazer acordo com o acusado com o intuito de obter informações sobre o delito, em troca de benefícios que será dado pelo Estado. Deve ser destacado que tal proposta de delação, não é exclusivo do Ministério Público, podendo também ser pedido pela polícia e até mesmo pela defesa do acusado.
Neste contexto é que emerge o enfoque do presente trabalho, qual seja, a demonstração do Instituto da delação premiada como ferramenta de combate à criminalidade organizada.
Com a atual situação política pela qual o Brasil está passando, esse instrumento está sendo muito utilizado. O acordo tem sido o principal meio empregado pela força-tarefa da Operação Lava Jato, liderada pela Polícia Federal, que foi iniciada investigando apenas alguns doleiros envolvidos em desvios de dinheiros da Petrobras, e atualmente é considerada uma das maiores operações contra a corrupção no país.
	Os acordos de delação premiada deram impulso às investigações. Em pouco tempo, a polícia prendeu executivos acusados de participação do sistema. Os acusados pelo desvio de dinheiro da Petrobras tinham se comprometido, por meio de acordo, a devolver cerca de R$ 447 milhões aos cofres públicos, valor esse que seria o maior já recuperado pelo governo em ações contra corrupção. No entanto, a Operação Lava Jato teve seu ápice quando chegou às duas maiores empreiteiras do país Odebrecht e Andrade Gutierrez. Recentemente, aproximadamente 40 acordos de delações foram firmadas, no entanto algumas delas estão sob análise.
	A delação premiada é um meio pelo qual o Estado busca obter informação e assim a investigação pode ser reduzida. Desta forma, discutimos também nessa pesquisa monográfica, a constitucionalidade da tal instituto, uma vez que o acusado atua ao lado da justiça para punir os demais comparsas, em outras palavras, pretende-se analisar a sua adequação frente à integração ao ordenamento jurídico brasileiro, sob a ótica constitucional, especificamente, quanto aos princípios ligados ao devido processo legal.
2. O FENÔMENO DA CRIMINALIDADE ORGANIZADA 
2.1 Alegações Iniciais
		Ao pesquisar sobre o fenômeno da Criminalidade Organizada, percebemos que as principais organizações mafiosas do mundo, fixadas em 23 (vinte e três) países, incluindo o Brasil, chegam a movimentar por ano, aproximadamente, US$ 1,3 Trilhão, ou seja, quase o dobro da riqueza produzida no Brasil durante o período de um ano. Com essa lucratividade, é que o crime organizado tem se fortalecido e se transformado na 8ª (oitava) maior economia do mundo. 
	Como se apresenta como uma atividade com alta lucratividade e rentabilidade, onde os envolvidos estão sempre numa constante busca pelo poder, Pacheco (2011), comenta que os tipos de práticas são variados e extensos: Armas; obras de arte; animais em extinção, drogas proibidas, tecnologia nuclear, minérios, todo tipo de produtos falsificados e inúmeros outros. Como consequência natural do engrandecimento das atividades ilícitas, ocorre a destruição da riqueza nacional e o enfraquecimento da sociedade.
	Entre os tipos das práticas ilícitas do Crime Organizado, a que supera e torna-se a mais efetuada é o tráfico de drogas, que é considerada a mais costumeira prática de crime organizado. Por outro lado, os crimes de colarinho branco vêm tornando-se uma das maiores formas de expressão do crime organizado, mas como é praticado sem o uso de violência, não chama tanto a atenção da opinião pública sendo assim tolerado por vários seguimentos da sociedade brasileira.
2.2 O Conceito de crime organizado
	No Mundo, o Crime Organizado teve sua definição legal em meados de 2000, logo apos a Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado, realizada na Itália, especificamente na cidade de Palermo, o que viria em pouco tempo, ser inicializada no Brasil por meio de simples decreto, (CUNHA E PINTO, 2014, p. 13). 
	Na Convenção foi estabelecido o conceito de organização criminosa, no art. 2º, ficando definido como “grupo estruturado de três ou mais pessoas, existentes há algum tempo e atuando com o objetivo de cometer ilícitos graves, com o intuito de obter benefícios econômicos e morais”. 
	Mais adiante, esta definição foi reconhecida no Brasil por intermédio do Decreto nº 5.015/2004, de março de 2004, que diz: para efeitos da presente Convenção, entende-se por: a) Grupo criminoso organizado, grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuam concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material. (BRASIL, 2004). 
	Nos dias de hoje, o Crime Organizado é conceituado pela Lei 12.850/13, lei que veio com a finalidade não só conceituar a modalidade criminosa, como também dispor sobre investigação criminal, meios de obtenção de prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal adotado. Dessa forma foi colocada uma nova definição de Organização Criminosa nos seguintes termos da referida lei:
Art. 1o Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.
§ 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
	Nota-se que a estrutura criminosa nesse momento passa a ser definida com a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas, que não cometem apenas crimes, como também cometam outros ilícitos penais onde as penas máximas seja superior a 4 (quatro) anos ou de caráter transnacional. 
	Durante muito tempo, o legislador preferiu a definição que abrangia só “crimes”, mas, essa definição não abrangia as Contravenções Penais. Dessa forma, os grupos que coordenam e operam o “jogo do bicho” não poderiam ser considerados Organização Criminosa. A partir da modificação da definição de Organização Criminosa, trazida pela Lei nº 12.850/13, a palavra Infração Penal deu uma ênfase maior ao conceito e luta contra este tipo de modalidade criminosa.
2.3 A Origem das organizações criminosas 
	Abordar um tema tão grande e interessante, não teria sentido se não falássemos das origens do Crime Organizado e das suas associações, sendo que varias delas, intituladas como criminosa, nasceram dentro de manifestações populares, o que tornou fácil a sua aceitação dentro da sociedade, utilizando-se dos abusos exercidos peloEstado contra as classes menos favorecidas, onde podemos citar, por exemplo, a conhecida Máfia, que se originou como manifestação de resistência contra o Rei de Nápoles (TENÓRIO E LOPES, 1995, p. 22). 
	O que chama a atenção é quando um indivíduo torna-se deste grupo, ele não mais pensa e nem age de forma individual, e sim sempre em grupo. O fato de agir sempre conforme o grupo não é somente das organizações criminosas, como também são de grupos lícitos envolvidos em qualquer sociedade, onde podemos citar como exemplo alguns movimentos religiosos que sempre existirão enquanto existir a presença de um líder supremo. Partindo desse pressuposto, Anjos (2002. p. 60), acrescenta:
	“Neste sentido, concebe-se o nascimento do grupo a partir de um ato de amor espontâneo por parte do personagem central, que exerce o poder de persuasão sobre os outros membros, pelo uso das palavras; da força; da submissão, da identificação e da imitação dentre outros fatores que dão surgimento à origem do grupo organizado, pois o grupo surge a partir daquele que exerce a liderança e reúne, então, indivíduos semelhantes. Na mesma linha de raciocínio encontram-se as origens do poder, que podem ser atribuídas às organizações através da submissão, quando acentua que, na via da estruturação subjetiva das relações sociais, o poder tende a encarnar-se entre os homens que se identificam entre si, e essas relações são reproduzidas pela regra da ambivalência, isto é, do amor e ódio”.
 
	Deste modo, observamos que as práticas criminosas no sentido organizado são tão antigas quanto a própria história das nações, pois como Pacheco (2007, p. 58), faz alusão em sua obra que: “o crime é o fator que compõe a convivência social desde os mais distantes tempos”. 
	Em relação a Organização Criminosa mais antiga, De Lima (2014, p. 473) comenta em sua obra que a Máfia Italiana é a mais famosa , e ainda acrescenta que sua organização era comparada a uma família, primeiramente a sua atividade era voltada ao contrabando e à extorsão, daí, começaram a atuar no tráfico de drogas e como consequência a lavagem de dinheiro para que fosse justificada a alta lucratividade. Mais adiante, a Máfia passou a ter atuação na política, financiando campanhas eleitorais e comprando votos. 
	A Máfia foi transformada em diversas outras organizações, ganhando mais notoriedade, as mais conhecidas como “Cosa Nostra”, de origem siciliana; a N’drangheta, de Cabrália; e a “Camorra”, de origem napolitana, esta última sendo reconhecifda como a maior organização criminosa da Europa. 
	Na Asia, mais especificamente no Japão, a organização criminosa chamada de Yakuza, tem em sua composição apenas homens, pois entendem que as mulheres não têm a mesma capacidade e força que os homens para lutar, (DE LIMA, 2014, p. 473). 
	No Brasil, o mesmo autor (2014, p. 473), mostra o cangaço como primeira manifestação de crime organizado no nosso país, onde aparecia a figura de Virgulino Ferreira da Silva, “O Lampião”, como líder do grupo que com o seu bando cometia os mais diversos modos de crimes e retiravam-se para a caatinga no sertão. 
	
2.4 Características fundamentais do crime organizado
	Para demonstrar as principais características do Crime Organizado, Capez (2010, p.237-238) aponta as seguintes características e em seguida comenta: 
-Previsão de acumulação de riqueza indevida: não é necessária que a riqueza seja efetivamente reunida, basta a previsão de seu acúmulo, o intuito de lucro ilícito ou indevido. 
-Hierarquia estrutural: a organização consiste sempre em uma ordem hierarquizada, em um poder disposto de modo vertical, dentro do qual ocorre um estreitamento cada vez maior, até se chegar ao comando central. É comum, nessas organizações, que os agentes das mais baixas posições desconheçam quem são os superiores de seu chefe imediato, o que torna mais difícil a identificação dos líderes. 
-Planejamento de tipo empresarial: a organização deve ter forma de recrutamento e pagamento de pessoal, programação de fluxo de caixa e estrutura contábil bem parecida com a de uma empresa legal. Aparentemente, funciona como uma empresa lícita e possui quase todas as características desta, dificultando a investigação. 
-Uso de meios tecnológicos sofisticados: as organizações possuem meios de telecomunicação, comunicação por satélite, gravadores capazes de captar sons a longa distância e uma série de outros recursos avançados que nem mesmo o Estado detém. 
-Divisão funcional de atividades: há uma especialização das atividades, nos moldes de organizações paramilitares. Os integrantes são recrutados, treinados e incumbidos de funções específicas, como se fossem soldados. 
-Conexão estrutural com o Poder Público: agentes do Poder Público passam a fazer parte da organização ou por ela são corrompidos, tornando-se complacentes com suas atividades. É comum tais organizações contribuírem maciçamente em campanhas eleitorais, criando fortes vínculos de mútua dependência com líderes governamentais. Cria-se, assim, uma barreira na qual o Estado não consegue penetrar. 
-A ampla oferta de prestações sociais: trata-se do chamado fenômeno do ‘clientelismo’. A negligência do Estado e das elites proporciona o surgimento de uma imensa camada de miseráveis, vivendo abaixo da condição da pobreza. Pessoas sem esperança e sem perspectivas que, por assim serem, nada têm a perder e tudo a ganhar. Aproveitando-se dessa situação de miséria humana, as organizações criminosas passam a atuar como prestadoras de serviços sociais, em substituição do estado ausente. Surge um ‘Estado’ dentro do Estado, o que permite a essas organizações obter legitimação popular e camuflar-se no meio da imensa multidão sem rosto. 
-Divisão territorial das atividades ilícitas: as organizações passam a atuar em territórios limitados, que são as suas áreas de influência. Essa divisão do espaço, às vezes, ocorre pelo confronto; às vezes, pelo acordo. 
-Alto poder de intimidação: as organizações conseguem intimidar até mesmo os poderes constituídos. Infundem medo e silêncio em toda a sociedade e, com isso, garantem a certeza da impunidade. 
-Real capacidade para a fraude difusa: aptidão para lesar o patrimônio público ou coletivo por meios fraudulentos, dificilmente perceptíveis. 
-Conexão local, regional, nacional ou internacional com outras organizações: em geral, as organizações estão interligadas, constituindo um poder invisível, quase indestrutível. 
	Generalizando, ao tipificar as características fundamentais do crime organizado, nota-se a dificuldade em identificar as singularidades de cada organização, dentre elas o seu modus operandi e a sua eficácia de versatilidade a modalidade de crimes por eles efetuados. 
	O Crime Organizado têm uma predisposição em não atuar somente em um único crime, pois, existe esta diferenciação das atividades, até mesmo crescendo em ramos que aos olhar de pessoas de médio entendimento, soam como atividades licitas. Pellegrini e Costa Jr (1999, p. 47) põe como exemplificação a conhecida Máfia Italiana Camorra, que lucram reciclando lixo. 	De acordo com a explicação do autor, Máfia Camorra é uma organização criminosa que apareceu em um núcleo urbano da Italia, conhecido como Campania. Cresceu durante o reino dos Bourbons em Nápoles, mas, criou forma criminosa no final da década de 60. Conforme os estudos realizados, hoje a Camorra é uma organização maleável formada de diversos núcleos de atuação.
	Outra máfia que atua no sul Italiano é a ‘Ndrangheta. Em 2007, essa organização foi incriminada por traficar lixo nuclear de Itália, Suíça, França, Alemanha e EUA nos anos 80 e 90. Alegando amor a sua terra, os mafiosos resolveram enviar o lixo para a Somália e enterrar na Calábria. De acordo com o Programa Ambiental da ONU, são vários os carregamentos de lixo tóxico e nuclear que as praias da Somália recebem, sem falar nos barris enferrujados que expõem o povo à radiação. 
	Entende-se que o Crime Organizado, utiliza ferramentas para disfarçar o interesse criminoso, como mostra o texto citado,onde a máfia domina o serviço público, prestando serviços abaixo da média do custo financeiro, descartando regras de profilaxia, ocasionando desastres ambientais e por consequência prejuízos ao erário público, que terão que suportar os gastos sociais e econômicos de suas práticas. Horta (2009, s.p), mostra a modalidade que usa a Organização Criminosa japonesa, conhecida por Yakuza, que modifica suas atividades, implantando integrantes na bolsa de valores com o intuito de conseguir informações importantes e privilegiadas para investirem: 
	Tomando por base esta visão de Crime Organizado, onde o mesmo encontra-se entrosados nos mais diferentes seguimentos da sociedade, não aparecendo somente nos ramos propriamente ilícitos, tem-se a necessidade de mostrar as características fundamentais que marcam o crime organizado. 	Primeiramente, é o grande acumulo de poder econômico pelos chefes e membros das organizações criminosas, assim como foi mostrado anteriormente, as organizações estão cada vez diversificando suas atividades no intuito de lucrarem, e ainda dão inicio a lavagem de dinheiro com o escopo de “legalizar” o lucro obtido de forma ilícita. 
	Podemos observar que as organizações estão cada vez mais bem organizadas, observam-se também os estatutos criados por estas organizações, com o propósito de estabelecer a ordem no Crime Organizado. Esta característica já foi mostrada nas organizações criminosas, mas, não se faz necessário buscar exemplos de organizações criminosas distante da realidade nacional, quando no país existe uma organização atuando em todo o país, e ainda realiza tarefas, tais como o roubo a bancos, extorsão mediante sequestro, tráfico de armas e drogas. O PCC, Primeiro Comando da Capital, organização criminosa oriunda do Estado de São Paulo, age em vários estados brasileiros, e é regulado de acordo com o seu próprio estatuto. 
	O Crime Organizado possui uma hierarquia entre seus integrantes, onde se tem um chefe, o qual lidera os demais integrantes em suas atividades, e os soldados, que são os integrantes que estão em hierarquia inferior, sendo estes os que executam as tarefas mais ousadas. Geralmente apenas estes são presos, podendo concluir que os integrantes ou cumprem o código ético e moral da organização, não entregando os demais membros, ou conforme explica Capez (2010, p.237-238), nas organizações criminosas os agentes das mais baixas posições não conhecem quem são os superiores de seu chefe imediato, o que torna difícil a identificação dos líderes. 
2.5 As consequências do crime organizado
 	O Crime Organizado gera consequências em quase todos os fragmentos da sociedade, começando pelo tráfico, até os crimes de contrabando, responsáveis pela entrada e saída de mercadorias proibidas sem nenhuma arrecadação tributária. Em relação às atividades de contrabando e descaminho, Tenório e Lopes (1995, p. 22), comentam: 
“O crime organizado é o maior problema de segurança pública do Brasil. Pela dilapidação de nossas riquezas e de nosso trabalho, em atividades criminosas de contrabando e descaminho, entre outras, responde por saída de mercadoria e produtos agrícolas sem qualquer registro ou pagamento de tributos. Ainda por exportação de minério, madeiras e produtos tropicais”.
	Vendo que o Crime Organizado age em segmentos diversos, causando prejuízos incontáveis às vidas, manifestado no continuo recrutamento de seus membros, numa guerra incessante que o poder do Estado não reconhece, mesmo sofrendo as consequências com elevado gasto social e econômico ao país. 
	As Organizações Criminosas sempre estiveram presentes nas entidades públicas, mas sua nitidez vem aumentando no meio da administração pública do Brasil, aparecendo nas concorrências fraudulentas, obras superfaturadas, manipulação do orçamento público, etc.
2.6 O Crime organizado e o mundo globalizado 
	A globalização é um fenômeno que impulsionou não somente o mercado em si, mas também o Crime Organizado. Ao analisarmos o panorama politico, aparece como principal característica, a disponibilidade de mãos livres ao capital para que se refaça a eficácia da valorização apertada pelos Estados Nacionais. Observa-se que as redes feitas por grandes organizações criminosas e suas ramificações, como ocupações criminosas espalhadas em todo o mundo causam problemas a segurança, a economia, a política, e a sociedade num todo, tanto nacional como internacionalmente. 
	Tenório e Lopes (1995, p. 22), explanam um exemplo de globalização dentro das organizações criminosas, que é a Máfia, uma associação de bandidos nascida na Sicília e que, ramificada, veio a florescer nos Estados Unidos, e ainda aponta Al Capone como o grande nome deste acontecimento, que não aconteceu apenas na Máfia italiana, e pode ser facilmente observada nos dias de hoje nas facções criminosas do Brasil como, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), que aliados ao cartel mexicano Los Zetas agem na Bolívia por meio de clãs de traficantes nativos. (TERRA, 2010, s.p.).
2. O INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA
A Origem da delação premiada 
		Os relatos iniciais da delação premiada podem ser facilmente achados na Idade Média, onde o costume era diferenciar o valor da confissão conforme ela acontecia. Se a confissão era espontânea, o raciocínio era que ele estava voltado a faltar com a verdade em prejuízo de outra pessoa, diferente totalmente daquele que era torturado. Por isso, a confissão sob tortura tinha mais valor na época.
	Na Itália, a delação iniciou-se em meados de 70 no intuito de combater os terroristas, mas recebe um enfoque maior logo depois uma operação (operazione mani pulite) que tentava erradicar com os criminosos da “máfia”. Os delatores passaram a ser chamados de pentiti, e a partir daí esse assunto passou a fazer parte do Código Penal Italiano e em outras leis, como, por exemplo, a Lei nº 82 de 15 de março de 1991; que resultou da conversão do Decreto-Lei nº 8, de 15 de janeiro de 1991. Fixou-se dessa forma penas mais brandas para os co-autores de crimes como sequestro com finalidade terrorista, subversão da ordem democrática, e extorsão mediante sequestro, desde que atendidos os pré-requisitos legais.
		Há no direito italiano três modalidades de sujeitos colaboradores: O dissociado, que assume a prática dos ilícitos, faz de tudo para amenizar as consequências e não permite que sejam realizados novos crimes, o colaborador, que é aquele que faz tudo que fora acima descrito e ainda colabora no fornecimento de prova importantes para a resolução dos crimes e seus envolvidos. E por fim, o arrependido, que larga a organização criminosa e logo apos se entrega, dando as principais informações sobre as atividades das organizações criminosas, impedindo a prática de crimes para os quais a organização foi criada. Ainda podemos enfatizar que, em tudo que foi acima relacionado, sempre, a colaboração deverá acontecer antes da sentença condenatória.
	Nos países Norte Americanos, a delação premiada aparece como um modelo de mostrar resultados positivos à sua sociedade. Neste modelo, denominado como plea bargaining, o Ministério Público coleta e reune as provas dentro do inquérito policial e apartir disso, promove a acusação diante o judiciário. Quando aparece a chance de se fazer um acordo com o acusado, o Ministério Público possui liberdade para decidir pela continuação ou não da acusação.
	De acordo com alguns estudos realizados, de 80% a 95% dos crimes ocorridos nos Estados Unidos são solucionados pelo plea bargaining, e os promotores acreditam que a maioria dos casos são suscetíveis à aplicação deste sistema.
	O Direito colombiano também contemplou a delação premiada na sua legislação, como medidas processuais voltadas para o combate ao tráfico de drogas, procedimento conhecido como direito processual de emergência.
	De acordo com o Código de Processo Penal colombiano, os acusados que de forma espontânea delatarem os co-partícipes e, além disso, fornecerem provas eficazes, poderão ser beneficiadoscom liberdade provisória; diminuição da pena; substituição de pena privativa de liberdade; ou ainda a inclusão no programa de proteção às vítimas e testemunhas.
	Ao contrário do que acontece no direito brasileiro, a confissão não é requisito para que o co-autor seja beneficiado pelo instituto da delação premiada, portanto, existe a possibilidade de o acusado ser premiado apenas pelo fato de denunciar seu comparsa.
3.2 A Delação premiada e sua aplicação no sistema jurídico brasileiro
	No Brasil o Instituto da delação premiada apareceu no instante em que o país era uma colônia de Portugal. Foi em meados ano de 1789, na conhecida inconfidência Mineira (Mota, 1991ª, p. 8), na então ainda capitania de Minas Gerais onde o perseguido Coronel Joaquim Silveiro Reis, delatou todos os companheiros que estavam envolvidos em um esquema separatista liderado e idealizado por Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, com o intuito de manobrar as elevadas taxas de impostos da Coroa Portuguesa ao Brasil.
	O bem oferecido ao Coronel Silvério foram posses e nomeações, além de isenções fiscais. Naquele tempo Tiradentes assumiu sozinho a culpa, tornando inocentes todos os companheiros envolvidos, sendo mais tarde enforcado e esquartejado, devido tudo isso, Tiradentes é reconhecido como um mártir, em outras palavras, um herói pela história enquanto que o Coronel Silvério um dos maiores traidores.
	A História da legislação Penal no Brasil demonstra que houve a previsão da delação premiada ainda na época das ordenações Filipinas, em 11 de Janeiro de 1603, até o inicio da vigência do Código Penal Imperial no ano de 1830 (BITTAR, 2011. P. 89).
	Damásio de Jesus aponta que a delação era disciplinada no Titulo VI do Código Filipino no titulo que abordava o crime de" Lesa Majestade "e no Titulo CXVI havia previsão do beneficio ou perdão:
"O Título VI do ―Código Filipino‖, que definia o crime de ―Lesa Magestade‖ (sic), tratava da ―delação premiada‖ no item 12; o Título CXVI, por sua vez, cuidava especificamente do tema, sob a rubrica ―Como se perdoará aos malfeitores que derem outros á prisão‖ e tinha abrangência, inclusive, para premiar, com o perdão, criminosos delatores de delitos alheios". 
	Outro movimento que ganha destaque no cenário nacional é o do Regime Militar, a partir de 1964, em que a delação premiada era muito utilizada para descobrir as pessoas que não concordavam com aquele modelo de governo e, portanto, eram consideradas criminosas.
	Apesar de todos esses registros, a delação premiada propriamente dita passa a fazer parte do nosso ordenamento jurídico com a Lei dos Crimes Hediondos (nº 8.072/90), que trouxe como pressuposto o efetivo desmantelamento da quadrilha ou bando que tenha sido formada para fins de praticar crimes considerados hediondos; possibilitando assim uma diminuição de pena.
	Posteriormente as Leis 9.034/95,  9.269/96,  9.613/98,  9.807/99 e 11.346/2006, não modificam a essência deste instituto, diferenciando-se apenas alguns requisitos para concessão do prêmio conforme a Natureza do Crime. Existe uma peculiaridade no Art. 14 da Lei 9807/997, pois atribui a delação premiada a qualquer crime praticado em concursos de agentes, porém essa legislação carece de medidas concretas de segurança, vejamos:
"Artigo 14 - O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços ".
	A delação pode ocorrer durante a fase de inquérito policial ou mesmo na fase processual, quando já esta em curso a ação penal, porém, é mais comum ocorrer na fase inquisitiva, etapa em que o delator se faz mais útil, sendo capaz de fornecer ao órgão acusador mais elementos da materialidade e da autoria do crime para consubstanciar a denúncia.
	Por ser a delação um ato no qual, inevitavelmente, existe a figura da incriminação do delator e dos demais indivíduos envolvidos, temos alguns princípios que de certa forma seria uma medida de precaução a fim de evitar que ocorram violações aos elementos da prova e também garantir a proteção de quem está delatando. Princípio do contraditório, princípio da publicidade, princípio da individualização da pena, princípio da verdade real e o princípio de não produzir prova contra si.
	Podemos verificar sua natureza jurídica a partir do momento que o indivíduo preenche os requisitos mencionados acima, podendo ele ter a diminuição de sua pena ou até mesmo o perdão judicial, o que não exclui o crime, uma vez que só há a extinção do jus puniendi, ou seja, o direito de punir do Estado, devido à colaboração voluntária ou espontânea que o réu prestou nas investigações.
	Cabe dizer que o Estado, ao adotar o uso da delação premiada, não está atestando a sua ineficiência na persecução criminal, mas sim aperfeiçoando os instrumentos que possui para alcançar o mais rápido possível à verdade real, na qual se beneficiaria tanto o acusado quanto à sociedade.
 Definição e conteúdo jurídico
Delatar, conforme Piragibe e Malta (1988, p. 273) quer dizer:
“Denunciar alguém como autor de uma infração quando denunciante é pessoa não incumbida de participar de repressão penal, nem é legitimamente interessada na acusação, e procura algum proveito indefensável. Tem, portanto, sentido pejorativo: Alcaguetar”.
	No quesito jurídico, a delação é o ato de incriminar outra pessoa, sendo este parceiro no ato ilícito praticado. A delação é denominada premiada por ser incentivada pelo legislador, que procurando a verdade no processo, da como brinde ao delator, a concessão de benefícios. Dessa forma, não se estará diante do instituto da delação premiada se não existir no delator vontade em alguma recompensa imediata proposta pelo legislador.
 A natureza jurídica do instituto abordado já foi e ainda continua sendo motivo para muitas controvérsias, pois é entendida por alguns, como um acordo de interesses realizado entre o MP e o acusado. Por outra via, existe quem entende possuir, o instituto, a natureza de perdão judicial.
 Todavia, a maioria entende que a delação possui cunho jurídico de meio de prova, sendo tal entendimento pacificado pelo que diz o art. 3 da lei 12.850/13. Entretanto, consiste em um meio de prova extraordinário, que se diferencia dos outros meios existentes em nosso ordenamento jurídico pátrio, uma vez que não se confunde com o testemunho e nem com a confissão:
	O testemunho, nos dizeres de Nestor Távora (2013 p. 451):
 “Testemunha é a pessoa desinteressada que declara em juízo o que sabe sobre os fatos, em face das percepções colhidas sensorialmente”.
 
		No testemunho não há confissão da autoria dos fatos. Assim, a prova obtida através de testemunho é uma informação adquirida por meio de pessoa diferente dos sujeitos envolvidos no processo, que tem dentre os seus deveres a obrigação de depor e o compromisso com a verdade.
	Por outro lado a confissão é quando o suposto autor da infração assume a participação nos fatos que lhe são apontados, perante a autoridade policial ou judiciária. Para que a confissão seja válida, requer-se o preenchimento de alguns pontos, que podem ser formais, sendo ela espontaneidade, o carácter expresso, a personalidade, o juízo competente e a saúde mental de quem confessa, e intrínsecos, como a clareza, a verossimilhança, a coincidência e a persistência. 
 	 Devemos dar maior ênfase aos pontos da personalidade e da espontaneidade, por serem os pontos que mais se destoam da delação. Quanto à personalidade, a confissão trata-se de ato personalíssimo, devendo ser realizado pelo próprio acusado ou réu. Já a espontaneidade, segundo afirma Renato Brasileiro de Lima (2014, p. 649): 
“Não pode haver qualquer forma de constrangimento físico e/ou moral para que o acusado confesse a prática do fato delituoso.”
	Portanto, frise-se, confessar é o livre reconhecimentoda autoria da imputação ou dos fatos objeto da investigação.
 Deste modo, apesar da delação não estar colocada entre as demais provas previstas no código de Processo Penal, este instituto deve ser vista e reconhecida como tal, por se uma ferramenta para a construção do convencimento do magistrado, onde o delator além de assumir sua participação, mostra as outras pessoas envolvidas na infração.
3.4 Legislação correspondente
	
	Como citado anteriormente, a delação premiada aparece no ordenamento jurídico brasileiro desde as ordenações Filipinas, que ficou em vigor de 1603 até a entrada em vigor do Código Criminal do Império em 1830, onde tinha duas visões sobre a delação premiada, uma no título “do crime da Lesa Majestade” e outra no título “como se perdoará aos malfeitores, que derem outra á prisão”.
 É importante observar que aquele que participa do delito de “Lesa Majestade” e que não seja o mentor da empreitada criminosa, delatar antes que o rei tome conhecimento do fato delituoso ou da possibilidade desta ciência por ele, como recompensa ganhará o perdão, desde que a informação repassada venha a desbaratar o ilícito penal. Através deste mecanismo, Joaquim Silvério dos Reis, um dos componentes da inconfidência Mineira, fez a entrega do movimento organizado á Coroa entregando ainda o nome de todos os participantes, terminando no enforcamento de Joaquim José da Silva Xavier, apelidado de Tiradentes. 
 O instituto da delação premiada teve maior enfoque no cenário nacional no período do regime militar, onde foi utilizada para descobrir quem não concordava com o regime ditatorial imposto, em busca de penas mais brandas ou quantias em dinheiro. Outros, delatavam com o intuito de estar em consonância com regime.
 No entanto, mesmo com muitos registros de delações na época do Regime Militar, a delação premiada só foi inserida no ordenamento jurídico do Brasil pela Lei dos crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90), sendo destinada para os crimes de extorsão mediante sequestro e naqueles semelhantes aos hediondos praticados por bandos ou quadrilhas, em que se tinha a necessidade de possibilitar o seu desbaratamento ou tornar fácil a liberação da pessoa sequestrada, para que o delator pudesse gozar do benefício de diminuição da pena de 1 (um) a 2/3 (dois terços).
	Depois disso, o instituto da delação recebeu destaque em outros diplomas, como a lei dos crimes contra a ordem Tributária, econômica e as relações de consumo (lei nº 8.137/90), podendo o agente confessar de forma espontânea e mostrar toda a trama ilícita e delituosa, para que sua pena fosse reduzida de 1 (um) e 2/3 (dois terços).
 Mas a frente, foi prevista na antiga Lei do Crime Organizado (Lei nº 9.034/95), hoje revogada, que liberava a delação de forma espontânea para os crimes realizados em forma organizada, para muitos se estendendo a quadrilha ou bando, pois a lei não deixou definida o que era organização criminosa, para efeitos da minorante, que diminuía de 1 (um) a 2/3 (dois terços) da pena. Fernando Capez (2011) preceitua que:
	“Não basta que o ato de colaborar esteja na esfera de vontade do agente, exigindo-se também que tenha partido dele a iniciativa de colaborar, sem anterior sugestão ou conselho de terceiro.” 
, só assim, seria a colaboração considerada espontânea.
 Mais um regulamento que merece ênfase é a lei de proteção a vítimas e testemunhas (Lei nº 9.807/99), que no seu segundo capítulo 2 “a proteção aos réus colaboradores” possibilita ao magistrado, observando os requisitos, conceder o perdão judicial ao delator, não reincidente, que tenha colaborado voluntaria e eficazmente com a investigação, caso a colaboração resulte na identificação dos demais coautores e partícipes; na localização da vítima com sua integridade física preservada ou; a recuperação total ou parcial do produto do crime, devendo analisar, ainda, as circunstâncias Art. 59 do Código Penal.
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
 Em relação ao réu reincidente, conforme a citada lei, este terá direito somente a redução da pena de 1 (um) e 2/3 (dois terços), caso sua colaboração voluntária seja eficaz com a investigação e apresente os mesmos resultados que abrangem o delator primário.
 A Lei nº 11.334/06 (Lei de drogas) revogando a lei anterior, que tinha dispositivos que beneficiavam o delator, com o não oferecimento da ação Penal, agora permite apenas a dininuição no mesmo quantum que é aplicado pelos demais diplomas, se cumpridos os mesmos requisitos da Lei de Proteção a Vítimas e Testemunha.
 O instituto da delação premiada está respaldada, na Lei nº 9.601/98, que versa sobre os delitos de lavagem de dinheiro, que com as modificações realizadas pela (Lei nº 12.683/12) deixou a possibilidade, da delação resultar na isenção da pena ao delator ou, ainda, na substituição da pena por medidas restritiva de direitos para definidos tipos penais e com requisitos menos complexos do que os requeridos pela Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas. 
 Até nesse momento, a delação premiada tinha como fatores semelhantes: a participação do delator na pratica da infração, a colaboração espontânea, a efetividade das informações prestadas e a relevâncias nas declarações, assim como a minorante de um a dois terços. Porem, de forma especifica para os crimes de lavagem de dinheiro concede-se a isenção da pena ou da substituição por pena restritiva de direitos. Acredita-se que trata-se de uma opção política, não vinculada ao perfil dos agentes dos delitos previstos pela referida lei.
 Finalizando, temos a já mencionada Lei 12.850/13, que é a Lei de Combate às Organizações Criminosas que concede o uso da delação premiada para os crimes cometidos por organizações criminosas, tornando-se a mais importante legislação que trata sobre o instituto da delação premiada, observando o real tratamento relacionado ao tema. A lei do crime organizado disciplinou pela primeira vez o estilo de aplicação da delação premiada e do seu conteúdo total, observemos:
Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas;
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.
§ 1o Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.
§ 2o Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).
§ 3o O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período,até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.
§ 4o Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público poderá deixar de oferecer denúncia se o colaborador:
I - não for o líder da organização criminosa;
II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo.
§ 5o Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.
§ 6o O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor.
§ 7o Realizado o acordo na forma do § 6o, o respectivo termo, acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu defensor.
§ 8o O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto.
§ 9o Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de polícia responsável pelas investigações.
§ 10. As partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor.
§ 11. A sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia.
§ 12. Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial.
§ 13. Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações.
§ 14. Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.
§ 15. Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o colaborador deverá estar assistido por defensor.
§ 16. Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador.
Valor probatório da delação premiada
	O instituto da delação premiada tendo por base sua natureza jurídica do meio de prova tem a finalidade mostrar a veracidade de uma afirmação ou de um fato ocorrido. Seu objetivo é formar a convicção do juiz para que se tenha um resultado jurisdicional adequado.
 O sistema adotado no ordenamento jurídico brasileiro para que a prova tenha mais valor é o da persuasão racional livre ou do convencimento motivado, em que o magistrado não está ligado a qualquer norma antes determinada de avaliação das provas dos autos, tendo assim ampla discricionariedade. Dessa forma, qualquer que seja nenhuma prova tem valor absoluto, apenas relativo, devendo o juiz fundamentar, em que fundamentou o seu convencimento.
 A lei que combate o crime organizado, em seu artigo 4, parágrafo 16, prevê a regra de valorização da delação, enfatizando que nenhuma sentença condenatória deverá ser proferida com embasamento somente nas informações do delator. Nota-se que essa norma de valoração limita o livre convencimento do juiz na medida em que mostra a necessidade de se conseguir outras formas de prova para que um caso seja aceito como verdadeiro. 
 É uma regra de colaboração, em que a essência da delação deve achar a concordância, em outras palavras, que irão afirmar, que a declaração seja do ponto de vista objetivo e relativo aos fatos narrados ou do ponto de vista subjetivo, às pessoas envolvidas.
 Assim, a legislação não mostra a natureza do meio de prova que irá corroborar com o conteúdo da delação, o que nos deixa a pensar que todo meio de prova poderá ser aceito. Ressalvemos o uso de outra delação com conteúdo parecido, levando em consideração o descrédito valorativo dado a mesma. Devido a opção política, a delação premiada precisa de outra prova para que consiga respaldar uma condenação, por ser inferior ou insuficiente. Dessa forma, esta prova necessita de outra natureza, uma condenação não deverá se embasar em delações cruzadas.
Mecanismos utilizados na delação premiada
	Ressaltamos que a delação premiada não se confunde com a colaboração premiada, sendo esta ultima, um gênero da que se encontra o tipo delação. A colaboração premiada reúne, além da delação, mais quatro tipos, de acordo com a leitura dos incisos do artigo 4 da lei 12.850/13: colaboração reveladora da estrutura e do funcionamento da organização; colaboração preventiva; colaboração para localização e recuperação de ativos, e por fim a colaboração para liberação de pessoas.
 A colaboração premiada poderá ocorrer em qualquer tempo ou fase da persecução penal, não apenas na fase do processo em si, como pode aparecer também na fase investigativa e em fase de execução penal.
 Conforme mostra a referida lei, a delação pode ser solicitada pelas partes, sendo requerida de modo espontâneo e pelo próprio réu ou pelo seu advogado constituído, ainda, o promotor pode pedir ao acusado que diga o que sabe sobre os companheiros e o delegado de polícia durante a fase de investigação.
 A partir do momento que um réu requerer o benefício, quem faz a avaliação é o Ministério Público, logo após o juiz analisa se poderá dar ou não a oportunidade ao réu de delatar os seus comparsas e conseguir sua recompensa. Em muitas situações, o próprio magistrado sugere a delação premiada ou o réu solicita o benefício ao Juiz durante as audiências. Assim, o magistrado não deve se envolver nas negociações, para a formalização do acordo de colaboração, deve permanecer alheio. Apenas o promotor, delegado de polícia e o colaborador - acompanhado de seu advogado - são partes para efetivar o acordo, na essência do parágrafo 6º do artigo 4 da lei em estudo.
§ 6o O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor.
	 O colaborador pode obter como recompensa ao final do julgamento a diminuição de sua pena em até 2/3 (dois terços), a substituição por restritiva de direitos ou o perdão judicial. Apesar disso tudo, nota-se a mitigação do princípio da obrigatoriedade da ação penal, daí o promotor poderá não oferecer denúncia ao colaborador, mas apenas se este não for o líder da organização criminosa e que seja o primeiro a prestar a colaboração de forma efetiva.
 	Portanto, para que isso aconteça o magistrado deverá observar e tomar a decisão se as informações cedidas pelo réu auxiliaram ou não nas investigações, na resolução do crime e na prisão de outros. Considerando que todas as informações cedidas foram importantes, o magistrado cede o benefício. Mas, caso observe que o réu mentiu, ele não reduz a pena e ainda o processa por delação mentirosa, prevista no art.19 do mesmo diploma legal.
Art. 19. Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a justiça, a prática de infração penal a pessoa que sabe ser inocente, ou revelar informações sobre a estrutura de organização criminosa que sabe ser inverídica.
 	 Falando da colaboração depois do julgamento, o réu poderá ter a pena reduzida em sua metade admitindo a progressão de regime, ainda que não estejam presentes os requisitos objetivos fundamentais. Caso ocorra antes do oferecimento da denúncia, o Ministério Público poderá suspender o processopor até 6 (seis) meses, até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, ou deixar de oferecer denúncia.
 A legislação, em seu parágrafo 1º do artigo 4º, os critérios para que o magistrado escolha qual o benefício utilizará com o colaborador, sendo eles: a natureza, personalidade do colaborador, a repercussão social do fato criminoso, as circunstâncias a gravidade e; a eficácia da colaboração.
§ 1o Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.
 Se as negociações forem positivas e tenham êxito, as declarações do colaborador serão salvas e será feito um termo de Acordo de Colaboração Premiada, onde assinarão todas as partes e, daí, enviado ao magistrado para ser homologado. Os requisitos do termo estão dispostos no artigo 6º da Lei, e deverá ainda ser tratado com sigilo. Apenas depois de homologada, a delação passará a produzir efeitos na esfera jurídica.
Art. 6º. O termo de acordo de colaboração premiada deverá ser feito por escrito e conter:
I- o relato da colaboração e a previsão de seus resultados;
II- as condições da proposta do Ministério Público
III- a declaração de aceitação do colaborador e seu defensor;
IV- as assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de polícia, do colaborador e de seu defensor; 
V- a especificação das medidas de proteção ao delator e à sua família se for o caso.
 Caso não atendam aos requisitos legais, aos aspectos formais, poderá o magistrado não aceitar a homologação do acordo, indeferindo-o, ao requerer sua adequação ao caso concreto, existindo esta possibilidade. Assim, se na posteriori for detectada algum tipo de vício no acordo homologado, este será anulado por completo, desconsiderando-o como se nunca tivesse existido.
	Finalizando, vale a pena frisar que o delator somente transmite as informações que quer, podendo limitar o conteúdo de sua delação, tem obrigação de dizer a verdade e não omitir as informações que prometeu revela. E ainda, não necessita mostrar provas, mas é obrigatório que no desenrolar das investigações da polícia consiga confirmar que as informações são verídicas.
	De fato é que todo esse processo de introdução da delação premiada no sistema jurídico brasileiro protagonizou e protagoniza inflamados debates entre os jurisconsultos. Para muitos, além de antiético, ele não encontra respaldo na dogmática do sistema jurídico penal brasileiro e para outros ele é desnecessário, porque já existe no sistema brasileiro a figura da atenuante genérica previsto inclusive no Código Penal. Contudo, outra corrente de doutrinadores entende que o referido instituto encontra-se de acordo com o ordenamento jurídico e atende aos preceitos insculpidos na constituição.
3.7 Colocações favoráveis
	Em face da grande evolução das sociedades durante o tempo, o Estado necessita de novas formas de persecução penal mais eficientes e eficazes, para que possam garantir a paz social. Os favoráveis ao uso da delação tem a certeza que o efeito benéfico da medida atingiu tanto a sociedade quanto o acusado, que briga pela impunidade e pela diminuição da criminalidade.
 A delação é vista como um aperfeiçoamento dos instrumentos que o Estado possui para alcançar de forma mais rápida e da melhor maneira possível, a verdade processual. Essa aproximação do Estado á verdade mais próxima do real, que facilita o papel de punir na medida exata da reprovabilidade de suas condutas, é um dos argumentos mais repetidos pelos defensores do instituto. 
 A delação premiada agiliza condenações que sem o seu intermédio ficariam pouco prováveis. Reunir provas em processo envolvendo crime organizado, que se utilizam das novas tecnologias, é algo difícil, complexo, terminando na impossibilidade de perseguir certos crimes muito graves. Relacionando socialmente, é melhor dar benefícios a alguns números de participantes menos culpados e assim chegar aos principais.
 Além disso, com o instituto da delação premiada é possível à quebra da organização, pois se apenas alguns membros são presos eles podem de maneira fácil serem trocados, dando continuidade ás atividades do crime. O instituto extingue os meios pelos quais organizações realizam suas atividades criminosas e os recursos, por meio da apreensão de vários bens.
 Mais um ponto que podemos destacar é de que com a delação premiada consegue-se a confissão do réu, o que demonstra o enorme valor do instituto e sua eficácia, sendo proveitoso na persecução penal. Dessa forma, a delação está legitimada pelos princípios constitucionais da garantia da segurança do cidadão e da efetividade da Justiça. 
 Em relação à conduta do delator ser antiética, os juristas que são favoráveis ao instituto da delação premiada veem que o agente que se propõe a ajudar com as investigações assume atitude diferente de respeito e compromisso com os valores sociais imperantes. Agindo dessa forma, ele demonstra uma personalidade mais forte e capaz de se influenciar pelos valores das regras jurídicas que aparecem na sociedade. Pela colaboração com a justiça, adquire-se uma grande diminuição da periculosidade do delator, pois reduz as chances de que o delator cometa outros crimes danosos e mostra que o mesmo ainda tem a noção de sociedade.
3.8 Colocações contrárias
	O estado, com o intuito de buscar o princípio da verdade real e na vontade da busca da paz social, utiliza-se do instituto da delação premiada, que, mesmo revelando um importante meio de prova, vai de encontro aos princípios da constituição.
 Aqueles que têm posicionamento contrário ao instituto dizem que a delação atropela o princípio constitucional do contraditório, tendo em vista o sigilo de acordos. As provas que não são bem examinadas, não podem em hipótese alguma ser utilizadas para embasar uma decisão judicial.
	Fala-se que se a delação premiada fere o princípio da isonomia entre os praticantes do delito, assim, tanto a figura do delator quanto a figura do coautor, incidem no mesmo ilícito, estão juntos no mesmo delito, tomaram atitude e tiveram comportamento igualmente reprováveis, porém, devido a um auxilio na elucidação dos fatos ilícitos, recebe tratamento penal diferenciado.
 Vai de encontro, também, com o princípio da proporcionalidade da pena, que diz que uma pena deve ser sempre necessária, adequada e proporcional ao mal praticado pelo transgressor e aos fins visados pelo diretor penal. Segundo Cesare Beccaria (2012, p. 50): 
“Devem ser mais forte os obstáculos que afastam os homens dos delitos na medida em que estes são contrários ao bem comum e na medida dos impulsos que os levam a delinquir”. 
	Assim, a minoração da pena ou a sua inaplicação não implicará na prevenção do crime, nem na repressão, bem como não retribuirá o mal causado pela infração. 
	Existe, também, a chance de um confronto com o princípio da indisponibilidade da ação penal. Com efeito, a ação penal dada o interesse público na tentativa da paz social, é indisponível aos órgãos de persecução penal, sem falar que as vítimas perdem o direito de procurar justiça em desfavor dos colaboradores.
	A delação premiada é encarada como uma maneira de suprir a ineficácia do Estado. Fazem-se soluções na tentativa de trocar sua atuação que possui como dever a garantia da segurança jurídica mediante a violência do crime organizado. O uso do instituto pode diminuir o desenvolvimento do Estado no que versa sobre os procedimentos na persecução penal, uma vez que ele leva a responsabilidade da investigação ao próprio agente do delito. Por outro lado, ajuda no relaxamento das autoridades competentes para solucionar o crime, que tenderão a manter-se absolutamente inertes e sempre mais se tornarão dependentes da colaboração e da boa vontade do agente do ilícito. 
	Pergunta-se, também, se o instituto da delação é eficaz, quando se volta para a inabilidadedo Poder Politico para defender os que colaboram para o desmembramento de fatos ilícitos. Verdade que, o Brasil é altamente ineficiente no que tange a garantia e a segurança das testemunhas envolvidas no processo penal, o que também acontecerá com a proteção dos réus que colaboraram, e que muitas vezes, acabam sofrendo repressões duríssimas nos estabelecimentos prisionais repletos de componentes de organizações criminosas.
	A delação premiada mostra um paradoxo ao ordenamento jurídico, partindo do ponto vista que em diversos pontos a confiança é incentivada pelo legislador. Um exemplo disso são as circunstâncias agravantes que estão explicitas no artigo 61, inciso II, alínea c, do Código Penal, o qual determina agravamento de pena quando o agente comente o crime à traição, de emboscada, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido, bem como o artigo 155, paragrafo 4º, inciso II, do Código Penal, que qualifica o furto se o crime é cometido com abuso de confiança.
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido;
Art. 155 – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
	Finalizando, observa-se que a delação premiada se contrapõe ao modelo “garantista” visando o respeito às garantias, direitos e liberdades individuais, apontando para um modelo “eficientista”, com destaque na eficiência dos aparelhos estatais voltados para o tratamento penal. Esse pensamento baseia-se na ideologia de que o ordenamento deve priorizar soluções jurídicas que primem pela conduta leal e honesta, daqueles envolvidos, mesmo que, deva-se sacrificar o interesse público na persecução penal.
3.9 A delação premiada na maior operação contra a corrupção no brasil.
		A Operação Lava Jato é, sem dúvidas, a maior investigação contra a corrupção já presenciada no país. Foi dado início as investigações em março de 2014 ante a Justiça Federal de Curitiba, em que foram investigando uma rede criminosa liderada por doleiros que atuavam em vários Estados, a partir de então tal fato acarretou ao surgimento de um enorme sistema de corrupção na Petrobrás envolvendo várias empreiteiras, operadores financeiros e políticos.
	Anteriormente a chamada Operação Lava Jato, as autoridades já haviam dado início às investigações a uma rede de doleiros, no ano de 2009. O principal alvo dessa primeira investigação era o empresário Alberto Youssef, que movimentou bilhões de reais, usando empresas de "fachada". O empresário mantinha negócios com ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa e grandes empreiteiras. Em março de 2014 ambos foram presos, dando assim, efetivo início a Operação Lava Jato, além desses dois principais nomes, a lista de envolvidos nesse esquema se estende cada dia mais.
	Com tantos envolvidos, a delação premiada passou a ser um método de investigação essencial nesse caso. Após ser preso pela segunda vez, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, aceitou colaborar com as investigações em troca de redução de pena. Paulo Roberto Costa cita mais de 30 políticos envolvidos com esquema de corrupção. Além desse, mais envolvidos fizeram acordo de delação premiada, cujo o nome de maior importância, será o do empresário já citado, Alberto Youssef.
	Os acordos de delação premiada deram impulso às investigações. A polícia prendeu executivos acusados de participação do sistema. Os acusados pelo desvio de dinheiro da Petrobras tinham se comprometido, por meio de acordo de delação premiada, a devolver cerca de R$ 447 milhões aos cofres públicos, valor esse que seria o maior já recuperado pelo governo em ações contra corrupção. No entanto, a Operação Lava Jato teve seu ápice, quando se chegaram às duas maiores empreiteiras do país Odebrecht e Andrade Gutierrez.
	Recentemente, cerca de 40 acordos de delações foram firmados, no entanto estão sob análise. O Ministério Público Federal afirma ter provas de inconsistências e pretende cancelar algumas dessas.
4. A DELAÇÃO PREMIADA E OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
4.1 - A delação premiada e o principio da dignidade da pessoa humana
Um dos principais fundamentos da República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana, conforme mostra o artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
O principio da dignidade da pessoa humana fortalece a unidade aos direitos e garantias fundamentais, tendo um grandíssimo valor espiritual e moral referente à pessoa, que aparece na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz em sua tese a pretensão ao respeito por parte de outras pessoas. É um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve garantir, de modo excepcional, que façam limitações a principal função dos direitos fundamentais.
Esse princípio forma critério para a o desenvolvimento da ordem constitucional e condiciona a aplicação do direito positivo; é a partir dessa dignidade que se faz, quando necessária, a avaliação dos interesses da constituição. Através desse princípio, o Estado garante a funcionabilidade e o exercício da liberdade pessoal e do livre arbítrio. A dignidade da pessoa humana considera o homem como um ser desacompanhado, sujeito autônomo de decisão moral. Ele mostra que o bem comum deve se fazer através da livre opção dos membros do coletivo, da sua exclusiva decisão em face do bem ou do mal.
Fala-se que o instituto da delação premiada atinge o princípio da igualdade, por que concede o benefício da redução de pena apenas aos agentes de crimes hediondos e de organizações criminosas, não tendo chance os delinquentes de outras formas de ilícitos penais. Contudo, com o aparecimento da lei 9.807, de 13/7/1999, o instituto da delação premiada foi aumentada os crimes comuns e não somente em relação aos relacionados aos crimes organizados, terrorista e transnacional.
Grande parte da doutrina jurídica afirma que, ao usar-se da delação premiada, o Estado tem que fazer uma analise de adequação, ou seja, se a medida é honesta para o fim a que se coloca. Assim, o interesse deve continuar: a segurança pública ou a dignidade da pessoa humana, uma vez que o Estado começa a fazer negócios com o bandido a fim de tentar conseguir uma investigação criminal bastante eficaz, o que modifica o homem em um objeto de troca, tornando-o igual a uma mercadoria.
Entendimento este que não se sustenta, pois, a partir do momento que se fala que o bandido não tem obrigação de “negociar”. É uma atitude de começo pessoal por parte dele. A legislação que trata do “favor premial” coloca a característica indispensável para que a delação seja premiada: a ação voluntaria e/ou espontânea do agente, ou seja, não existe qualquer ação de violência em consonância ao sujeito. É respeitada livre arbítrio do indivíduo e a ultima decisão é dele, não se interpondo em seu ânimo em delatar ou não. Se delatar, receberá seu prêmio, se tornar efetivo o jus persequedi do Estado.
Contudo , cuida-se do direito constitucional ao silêncio que o preso tem, explicito no artigo 5º, inciso LXIII da Constituição Federal, uma vez que, como se falou, a atitude espontânea e/ou voluntaria é condição sine qua non para que a delação premiada seja executada, não se mexendo em seu ânimo em delatar ou não.
4.2 - A delação premiada e o princípio da proporcionalidade da pena
	Ao falarmos no princípioda proporcionalidade da pena, somos forçados a falar também do princípio da razoabilidade. Um dos primeiros juristas a falar em relação à proporcionalidade entre os delitos e as penas foi Cesare Beccaria, para quem:
“devem ser mais fortes os obstáculos que afastam os homens dos delitos na medida em que estes são contrários ao bem comum e na medida dos impulsos que os levam a delinqüir (...). Deve haver assim uma proporção entre os delitos e as penas”.
	Estrategicamente, o  princípio da razoabilidade presume a utilização de métodos lógicos para conseguir certo fim, ou seja, deve existir uma certa adequação racional entre meios e fins. Juridicamente, há razoabilidade quando valores como cooperação, solidariedade, paz, poder, segurança e ordem estão embasados na justiça, ou seja, são moderados quando usados em busca da aplicabilidade da justiça. Para que uma regra seja aprovada quanto a sua razoabilidade, deve se subordinar hierarquicamente à Constituição, ajustar seus preceitos aos intuitos que se pretende conseguir e dar soluções equiparadas com um mínimo de justiça.
	A proporcionalidade está relacionada à restrição aos direitos fundamentais. O princípio da proporcionalidade procura uma justiça detalhada no que tange a intervenção em direito fundamental quanto do controle de jurisdição de tal intervenção.
	O questionamento que se põe nos dias atuais não é mais apenas saber se o Estado pode ou não limitar direitos fundamentais, mas saber em que ponto essa limitação deve acontecer. O princípio da proporcionalidade no processo penal reporta-se a normatizar a relação indivíduo-Estado que, por um lado, tem interesse no funcionamento do jus puniendi para a realização do Direito Penal; de outro lado, o réu, titular de direitos e garantias individuais, que tem total interesse na preservação do jus libertatis. Esse princípio tem o objetivo, portanto, de equiparar a relação visivelmente contraditória de interesses, para parar tanto a violação dos direitos fundamentais do particular, como o comprometimento da função estatal no combate a criminalidade.
	Alguns Juristas e doutrinadores como Luís Roberto Barroso e José dos Santos Carvalho Filho veem que esses princípios são diferentes entre si somente pela origem, assim o princípio da razoabilidade apareceu no direito anglo-saxão (Common Law), como face material da cláusula do due process of law, enquanto o princípio da proporcionalidade foi trabalhado inicialmente através da doutrina e jurisprudência alemã (Civil Law), demonstrando estes doutrinadores que os conceitos dos dois são fundíveis.
	Nesse contexto, o princípio da individualização da pena explicita no artigo 59 do Código Penal e consagrado na Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XLVI, versa que "cada condenado receberá a reprimenda certa e determinada para prevenção e repressão do seu crime, cujo processo executório ficará também sujeito às regras do princípio individualizador".
Código Penal
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Constituição Federal
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
	Conforme isso, o delinquente delator que com seu comportamento fazer diminuir o poder lesivo do crime, dando informações quanto à localização de objetos e pessoas envolvidas, possibilitando ao Estado o cumprimento de seu jus persequendi de modo mais ágil e muito mais econômico, não pode receber a mesma pena que seu companheiro, que em nada auxiliou para a elucidação do crime.
	A aplicação da mesma pena a todos integrantes, sendo que um deles colaborou com a justiça, é sem proporcionalidade e demonstra ofensa à condição humana, de modo incondicional, na sua dignidade de pessoa. Existe um problema para que esse princípio possa ser utilizado, ou seja, não existe um critério que possa ser útil como meio de proporcionalidade. Esse tópico deve ser procurado em um juízo de adequação entre a gravidade do preceito condenatório e a quantidade de danos sociais do comportamento incriminado. 	E logicamente que aquele que auxiliou a justiça através do instituto da delação ocasionou uma menor danosidade na sociedade, razão pela qual deve ser diminuída sua pena em comparação a seus comparsas.
	A partir daí, questiona-se: é razoável que uma pessoa que diminuiu as consequências do crime por meio da delação, revelando toda a trama delituosa da organização criminosa, ocasionando o desmembramento do bando ou quadrilha, ajudando no esclarecimento de infrações penais e sua autoria,  a localização de bens, direito ou valores objetos do crime, a identidade dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa obtenha a mesma pena em relação àquele que em nada contribuiu? Percebe-se que não. Assim, dar-se resposta negativa ao problema de investigação se a delação premiada ferir o princípio constitucional da proporcionalidade da pena.
4.3 – A delação premiada e o direito a não incriminação e do direito ao silêncio
	 O princípios da inexigibilidade de autoincriminação, ou nemo tenetur se detegere, garante que ninguém pode ser induzido a produzir prova contra si mesmo, levando em consideração a dignidade humana. Assim, limita-se o poder do Estado na persecução penal, pois não se pode fazer com que o acusado produza ato tendente a servir de prova contra si própria.
	Utilizando a jurisprudência que já vem botando limites a tal princípio, como a possibilidade iminente do conduzido mostrar documentos falsos para conseguir burlar a sua identificação pela autoridade policial, pois já se vê, de forma repetida, pela tipificação da conduta e não aplicação do principio nemo tenetur se detegere.
	Tal princípio tem estrito elo com o direito ao silencio, previsto no artigo 5º, inciso LXIII, da Constituição Federal, que consiste no direito de permanecer calado, ficando proibido todo e qualquer meio de coerção para se conseguir a confissão ou para que ajude com quesitos que podem culminar na sua condenação.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
	Entretanto, os benefícios da lei oferecidos ao colaborador servem como estímulo para sua delação, que comporta a autoincriminação. Vale ressaltar que a confissão é um direito do investigado, está previsto no plano da liberdade de ação, conduta já premiada pelo ordenamento, que implica numa atenuante de pena, podendo ser um estimulo do legislador para a realização de tal pratica. Mesmo assim, se crê que é um comportamento voluntário, desde que o infrator seja esclarecido quanto ao seu direito ao silencio, sob pena de

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