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Linguística I - Conteúdo Online

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LINGUÍSTICA I
AULA 1 – LÍNGUA E LINGUAGEM
Conversando Sobre Linguística e Linguagem
Bem, o título desta seção da nossa aula é ‘Conversando sobre Linguística e Linguagem’. Acredita-se que a linguagem seja a habilidade humana mais complexa: usamos a linguagem para compreender o mundo que nos cerca.
A criança começa a experimentar o mundo através de seus sentidos e depois consegue explorá-lo através da linguagem. O surpreendente em nossa capacidade para a linguagem é o fato de uma criança começar a usar a linguagem simbolicamente muito cedo. Quando ela fala ‘mama’, associa essa sequência sonora à mãe. Tanto faria se a sequência fosse ‘auau’, ‘papa’, pois essa associação é simbólica.
Linguística: definida de forma bem genérica, Linguística é o estudo científico da linguagem. Em nossa aula 3 trataremos, especificamente, dessa temática. O foco da nossa aula hoje é a conceituação de LINGUAGEM, objeto de estudo da Linguística. Em nossas aulas 3 e 4 trataremos da conceituação dessa ciência.
Linguagem: “O termo ‘linguagem’ apresenta uma notável flutuação de sentido, prestando-se aos usos mais diversos. Ele é comumente empregado para designar, indiferentemente, fenômenos tão afastados quanto a linguagem dos animais, a linguagem falada, a linguagem escrita, a linguagem das artes, a linguagem dos gestos.” 
LOPES, Edward. Fundamentos da linguística contemporânea. 18. ed. São Paulo: Cultrix, 2001.
Ingedore V. Koch, em A inter-ação pela linguagem (2001, p. 9), nos mostra três interessantes concepções da linguagem humana.
Linguagem como apresentação (“espelho”) do mundo e do pensamento.
“[...] o homem representa para si o mundo através da linguagem e, assim sendo, a função da língua é representar (= refletir) seu pensamento e seu conhecimento de mundo.”
Linguagem como instrumento (“ferramenta”) de comunicação.
“[...] considera a língua como um código através do qual um emissor comunica a um receptor determinadas mensagens. A principal função da linguagem é, neste caso, a transmissão de informações.”
Linguagem como forma (“lugar”) de ação ou interação.
“[...] encara a linguagem como atividade [...]; como lugar de interação que possibilita aos membros de uma sociedade a prática dos mais diversos tipos de atos, que vão exigir dos semelhantes nações e/ou comportamentos, levando ao estabelecimento de vínculos e compromissos anteriormente inexistentes.”
Quando se fala em linguagem, geralmente se refere a uma capacidade humana, mas encarada como um sistema de comunicação, temos outras espécies se comunicando, não é mesmo? O uso de sons articulados não é uma propriedade básica da linguagem humana e é possível que os guinchos dos golfinhos, a dança das abelhas etc. representem sistemas semelhantes à linguagem humana.
Linguagem, Linguagem Verbal, Linguagem Não Verbal.
Se olharmos o conceito de linguagem de forma bem abrangente, teremos linguagem como todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de comunicação.
Linguagem verbal: língua em que os sinais utilizados para atos de comunicação são as palavras.
Linguagem não verbal: aquela que utiliza para atos de comunicação outros sinais que não as palavras. 
Exemplos. Um sinal de trânsito é um exemplo de linguagem não verbal. Por quê? As cores vermelho, amarelo e verde do sinal comunicam ideias diferentes: parar, diminuir a velocidade ou seguir adiante.
Conversando Sobre a Linguagem Não Verbal
No tempo em que ainda não havia a escrita, os homens usavam a pintura para comunicar suas ideias. Quando pensamos na comunicação de uma ou mais ideias, esse uso de linguagem não verbal, em alguns casos, carece de precisão. 
Você acha que o desenho possui uma única interpretação? Provavelmente sua resposta foi ‘Não’. Vamos pensar sobre o que esse desenho quer significar? O que essas pessoas estão fazendo?
1. Saíram para passear?
2. Estão fugindo?
3. Estão se exercitando?
4. Apenas fizeram esse desenho para enfeitar a parede?
Essas e outras interpretações acontecem pela imprecisão desse tipo de gravura. Muitos estudiosos afirmam que a linguagem verbal, ou seja, a linguagem que utiliza palavras para comunicar ideias, foi criada para resolver o problema causado pela imprecisão de certas gravuras na transmissão da mensagem.
Linguagem Não Verbal: Os Gestos
A Enciclopédia Mirador possui um extenso verbete que trata da linguagem. No item 6, intitulado Formas não verbais da linguagem humana, trata-se da linguagem dos gestos, tão importante à nossa capacidade de comunicação.
Os gestos reforçam ou completam a manifestação verbal. Em geral, são inconscientes, mas podem ser portadores de um conteúdo preciso como os acenos de cabeça que significam ‘sim’ e ‘não’; com a mão para chamar alguém; com o indicador colocado sobre os lábios para pedir silêncio, etc.
Os gestos constituem um sistema e substituem, de forma permanente ou não, a linguagem falada, como é o caso da LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais).
As Múltiplas Leituras de um Texto: Unindo Linguagem Verbal e Não Verbal
Você já pensou nos tipos de conhecimento que você aciona quando observa uma propaganda como a que temos ao lado? Em muitas propagandas, se não em sua maioria, temos que observar o verbal e o não verbal de modo a construir o significado.
Ícone, Índice e Símbolo
Mais adiante, trataremos mais profundamente de Charles Sanders Peirce (1839-1914) e do que é a Semiótica. Por enquanto, interessa-nos a conceituação de ícone, índice e símbolo, por Peirce, e tratada por Ernani Terra, em Linguagem, língua e fala de forma bem objetiva.
Do grego eikón, imagem. “Nos ícones, que são uma espécie de signo criado pelos homens com a finalidade de estabelecer comunicação, ocorre uma relação necessária entre a imagem e o conceito que ela representa, razão pela qual têm sido largamente utilizados como uma espécie de linguagem universal”. (1997, p. 30). 
André Valente, em A linguagem nossa década dia, afirma que “[...] a relação icônica tem como traço principal a similaridade. São signos icônicos as maquetes, as estátuas, as fotografias, as caricaturas.” (VALENTE, p. 15).
Você já pensou nos tipos de conhecimento que você aciona quando observa uma propaganda como a que temos ao lado? Em muitas propagandas, se não em sua maioria, temos que observar o verbal e o não verbal de modo a construir o significado.
Há alguns ícones que possuem o mesmo significado, independentemente do país em que estejamos.
E o que dizer de algo como :-), usado para indicar que a pessoa está alegre? Este também é um tipo de ícone que foi criado pelo homem para exprimir emoções.
“A nuvem escura, indicando chuva, e a fumaça, indicando fogo, são signos naturais (ou índices) e não se prestam como elemento de comunicação, pois, na sua produção, não há intervenção do homem.” (TERRA, 1997, p. 30).
“São objetos materiais (não linguísticos) que representam ideias abstratas. ”Símbolos resultam de uma convenção.” (TERRA, 1997, p. 30). Exemplo: Balança como símbolo da justiça. 
Segundo Valente (1997), “O símbolo opera por contiguidade instituída. [...] o símbolo tem caráter convencional; entretanto, não é gratuito. Existe uma ligação entre o significante e o significado. A ‘balança’, por conter a noção de ‘equilíbrio’, é símbolo da ‘Justiça’ A escolha do símbolo do cristianismo decorre do fato de Cristo ter sido crucificado. A bandeira que simboliza a ‘paz’ é branca porque esta cor nos remete à ideia de ‘quietude’, ‘mansidão’, ‘calma’, ‘tranquilidade’.”
Linguagem e Língua
Linguagem, língua e fala são três aspectos da comunicação humana.
Conversando com Platão Sobre a Linguagem
CRÁTILO - Em sua obra Crátilo, Platão (428-347 a.C.) nos apresenta um diálogo entre dois personagens Crátilo e Hermógenes, acerca do nome desse último. Crátilo considera que há um problema no nome de Hermógenes, pois essas palavras significa "filho de Hermes". Como Hermógenes estava com problemas financeiros, não justificava o nome que tinha.
Hermógenes, nesse diálogo, advoga em favor do convencionalismo e afirmaque não há relação entre os nomes e aquilo que eles representam: essa relação seria arbitrária. Crátilo, no entanto, acredita haver uma relação entre a coisa e seu nome, assumindo, portanto, uma posição conhecida como naturalista.
Platão reconhecerá o convencionalismo - um mesmo objeto terá nomes diferentes nas diversas línguas, mas afirmará que não se pode trocar o nome das coisas, pois isso prejudicaria a comunicação.
FEDRO - Em Fedro, Platão se referiu a linguagem como pharmakon, termo que originou a palavra pharmáco, daí a nossa palavra ‘pharmácia’, que possui três sentidos principais: remédio, veneno e cosmético. Platão considerava que a linguagem poderia ser um remédio para fortalecer o conhecimento porque é pelo diálogo que trocamos ideias, ouvimos opiniões, descobrimos e aprendemos coisas novas, com os outros remediando a ignorância. Também considerava que poderia ser um veneno que seduz e nos faz aceitar fascinados, o que lemos ou escutamos, sem mesmo indagar se tais palavras são verdadeiras ou falsas. A linguagem venenosa coloca quem a ouve à disposição de quem a expressa. Podemos nos defender deste veneno quando indagamos, pedimos prova e questionamos o que ouvimos. Nesse caso, aquele que utiliza a palavra para seduzir, inicia então um novo discurso, utilizando a palavra como um cosmético (maquiagem), tentando manter uma ilusão mascarada da verdade de uma forma paliativa.
AULA 2 – LINGUAGEM: CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM HUMANA
A Comunicação Humana
A atividade de comunicação é uma constante em qualquer escala da vida animal: todos os animais se comunicam de alguma forma em algum período de sua vida, seja por necessidade de sobrevivência seja por imperativos biológicos.
A comunicação é a função essencial da linguagem. Não existe comunidade sem comunicação. É necessário que seus integrantes levem a outros conteúdos de consciência formados em seu interior e que esses outros também os tornem seus, participando todos de uma realidade que é de um e de todos, e realizada por cada um e por todos.
Sem a linguagem, bem pouco os homens teriam em comum que pudesse originar uma sociedade. A linguagem é, portanto, o instrumento que determina uma sociedade e congrega seus membros.
Pode-se dizer que nada existe que não possa ser expresso, em qualquer língua que seja, exceção feita quando na experiência das pessoas nada corresponde à realidade que se quer comunicar.
Entretanto, há uma pergunta interessante a se fazer: os animais têm linguagem?
Certamente, se fizéssemos essa pergunta a um biólogo ou veterinário, eles diriam que sim. Mas, como o nosso ponto de vista é linguístico, precisamos considerar alguns aspectos da linguagem humana, antes de nos determos nesta resposta. Por isso, vamos verificar alguns traços característicos da linguagem humana:
Simbolização: a linguagem opera com elementos que representam a realidade. Por exemplo, a sequência fônica ‘gato’ representa a ideia de um determinado animal. A forma ‘amizade’ representa uma determinada forma do comportamento humano. Toda comunicação se faz com base nesse processo de simbolização, resulta que ele é totalmente arbitrário com relação ao que comunica: não há nenhuma relação direta entre a cadeia fônica e seu conteúdo significativo.
Articulação: em latim, a palavra articulus quer dizer ‘parte, subdivisão’. Assim, quando se diz que a língua é articulada considera-se que as unidades linguísticas podem ser divididas em unidades menores.  As línguas naturais se articulam em dois níveis diferentes: na primeira articulação, há unidades significativas, de natureza mórfica; na segunda articulação, há unidades distintivas, de natureza fônica.
Por exemplo, as palavras ‘as gatas’ podem ser segmentadas da seguinte forma: a- , artigo definido; -s morfema de plural; gat- radical que indica tratar-se de um felino de pequeno porte, -a, morfema de feminino e –s, morfema de plural. Todas essas unidades possuem matéria fônica e sentido. Assim, tem-se que na primeira articulação o enunciado pode ser dividido em unidades menores dotadas de sentido. 
No entanto, cada morfema pode articular-se em fonemas, unidades menores desprovidas de sentido como, por exemplo, o morfema gat- que pode subdividir-se em /g/ /a/ /t/.
Desse modo, chega-se à segunda articulação da linguagem em que as unidades têm apenas valor distintivo. Se /g/ for substituído por /p/, tem-se um outro radical que aparece na palavra pata. A dupla articulação da linguagem possibilita grande economia, pois com número limitado de fonemas forma-se um número infinito de unidades da primeira articulação.
Regularidade: as unidades linguísticas têm uma significação permanente capaz de repetir-se nas mesmas circunstâncias.  Embora as unidades linguísticas variem no tempo, no espaço e no meio social, essa variação não ultrapassa certos limites impostos já que pode-se utilizar uma unidade com novo sentido desde que haja relação com o primeiro significado.
Intencionalidade: os atos de comunicação humanos têm um propósito claro e definido.  A linguagem humana refere-se a alguma coisa, existente ou não.
Produtividade: a linguagem humana produz um número infinito de mensagens. Seria possível escrevermos TODAS as frases de uma língua? Nem vale a pena tentar, pois rapidamente descobriríamos que esse número de frases é ilimitado. Essa é uma importante diferença entre a linguagem humana e a linguagem animal: os animais produzem um número limitado de sinais.
Aí você pode pensar: “mas nós também temos, de certa forma, um número finito de símbolos…”
Sim, mas nós humanos podemos produzir um número infinito de enunciados a partir de um número finito de símbolos. 
Por mais que nossos cachorrinhos fiquem muito felizes quando chegamos a casa, eles não seriam capazes de discutir conosco como podemos organizar nossa semana de trabalho, por exemplo.
Com o objetivo de atender a outras necessidades comunicativas, os seres humanos inventaram a escrita, tornando-se uma ferramenta fundamental, principalmente, em contextos em que se exigia um alcance maior no tempo e no espaço. Desse modo, podemos saber hoje o que se escreveu há milhares de anos, assim como as nossas ideias, registradas, podem atingir a um grande número de pessoas.  
Vale lembrar que nem todas as línguas do mundo apresentam um sistema de escrita. São as chamadas línguas ágrafas.
Segundo os dados de Terra (1997), há em torno de 3 mil línguas sem tradição escrita. Este fato, de modo algum, desvaloriza a importância das línguas. Não devemos considerar uma língua superior à outra somente pela ausência da escrita. Cada língua possui suas particularidades e seus estágios de desenvolvimento.
Quando a escrita foi inventada, os indivíduos já faziam uso da linguagem oral como forma de comunicação:
“Escrevemos para resolver problemas que a fala, a linguagem oral, não consegue resolver. Podemos até dizer que o homem inventou a escrita, há milhares de anos, quando só a conversa não conseguia dar conta de todas as suas necessidades” (FARACO e TEZZA, 2003, p.10).
Elementos da Comunicação e Funções da Linguagem
Samira Chalhub (1990) explica-nos como surgiu essa visão dos elementos da comunicação.
“O psicólogo austríaco Karl Bühler compusera esse modelo 
[o modelo da comunicação] de forma triádica, apontando três fatores básicos: o destinador (mensagens de caráter expressivo), o destinatário (mensagens de caráter apelativo) e o contexto (mensagens de caráter comunicativo). Roman Jakobson, no ensaio Linguística e poética, amplia essas funções de três para seis, complementando o modelo de Bühler [...].
Assim, seguindo o modelo de Jakobson, para haver comunicação (humana, é claro!), é preciso que alguns elementos estejam envolvidos no processo de interação. São eles:
Os elementos da comunicação são: emissor ou destinador e receptor ou destinatário.
Emissor ou destinador: é aquele que emite a mensagem. Pode ser uma pessoa, um grupo, uma empresa, uma instituição.
Receptor ou destinatário: é aquele a quem se destina a mensagem. Pode ser uma pessoa,um grupo ou mesmo um animal, como um cão, por exemplo.
OBS.: evidentemente que, em um diálogo, emissor e receptor alternam-se a todo momento, bem como a mensagem.
Código: é formado por um conjunto de sinais, organizados em torno de regras, e deve ser de conhecimento dos envolvidos no ato da comunicação. São exemplos de códigos a língua, oral ou escrita, gestos, código Morse, sons etc.
Canal: é o meio físico ou virtual, que deve assegurar que a mensagem seja tanto enviada quanto recebida. Além disso, o canal para garantir a comunicação, não deve apresentar ruídos.
Mensagem: é o objeto da comunicação e é formada pelo conteúdo das informações transmitidas pelos interlocutores.
Contexto ou referente: é o contexto, a situação a que a mensagem se refere. Esse contexto pode se constituir tanto pelo texto quanto pela situação, nas circunstâncias de espaço e tempo em que se encontra o destinador da mensagem.
Funções da Linguagem
As funções da linguagem organizam-se em torno de um emissor (quem fala) que envia uma mensagem (referente) a um receptor (quem recebe), usando um código, que flui através de um canal (suporte físico).
Referencial ou denotativa: o que (referente) 
Samira Chalhub, em Funções da linguagem, nos diz que a melhor forma de se caracterizar a função referencial é separar aspectos conotativos de aspectos denotativos da linguagem. Não vamos nos alongar aqui nesta discussão, mas devemos observar as palavras da autora: “a linguagem denotativa seria, então, construída em bases convencionais [...], produzindo informações definidas, claras, transparentes, sem ambigüidades” (1990, p.11).
Exemplo: 
“Ler por prazer é o X da questão. Há quem leia, por exemplo, apenas para se informar, dedicando regularmente algumas horas de seu precioso tempo a jornais e revistas - como você, caro leitor, está fazendo neste exato momento. Trata-se de um hábito mais que saudável, a ser preservado e disseminado, e de suma importância na chamada "sociedade da informação" em que vivemos.”
Função emotiva ou expressiva: o quem 
O objetivo nesta função é expressar emoções, sentimentos, estados de espírito. O que importa são as impressões do emissor, daí o registro em primeira pessoa. Samira Chalhub afirma que “A função emotiva implica, sempre, uma marca subjetiva de quem fala, no modo como fala” (1990, p. 18).
Função conativa ou apelativa: para quem (receptor) 
“Quando a mensagem está orientada para o destinatário, trata-se da função conativa. Esta palavra tem sua origem no termo latino conatum, que significa tentar influenciar alguém através de um esforço. A função conativa é também chamada de apelativa, numa ação verbal do emissor de se fazer notar pelo destinatário, seja través de uma ordem, exortação, chamamento ou invocação, saudação ou súplica” (CHALHUB, 1990, p. 22). O objetivo é convencer o receptor a realizar determinado comportamento.
Função Fática: onde (canal) 
Segundo Chalhub (1990, p. 28), o objetivo da função fática é estabelecer, manter ou prolongar o contato (através do canal) com o receptor, ou até mesmo para testar se a comunicação está se realizando. As expressões usadas nos cumprimentos, ao telefone e em outras situações apresentam este tipo de função. Veja um exemplo de função fática: observem que a pessoa que faz o anúncio testa o canal, tenta perceber se as pessoas estão prestando atenção.
Função Metalinguística: com o que (código)
Nesta função, o objetivo é o uso do código para explicar o próprio código. Veja como André Valente, em A linguagem nossa de cada dia, explica a função metalinguística.
“Palavras que explicam palavras, cinema que fala de cinema, teatro de teatro, poesia de poesia, quadrinhos de quadrinhos, tudo isso constitui metalinguagem ou função metalinguística” (1987, p. 95).
Veja o texto Poesia, de Carlos Drummond de Andrade, presente em Valente (1987, p. 111)
Gastei uma hora pensando um verso
Que a pena não quer escrever.
No entanto, ele está cá dentro
Inquieto e vivo.
Ele está cá dentro
E não quer sair.
Mas a poesia deste momento
Inunda minha vida inteira.
Função Poética: como (mensagem) 
O objetivo é dar ênfase à elaboração da mensagem. O emissor constrói seu texto de maneira especial, realizando um trabalho de seleção e combinação de palavras, de ideias ou de imagens, de sons e/ ou de ritmos. Explora-se bastante a conotação.
Importante! Chalhub (1990) nos diz que as funções da linguagem não existem isoladas em cada texto. Embora uma delas acabe predominando, elas convivem, mesclam-se, entrecruzam-se o tempo todo, obtendo de suas combinações os mais diferentes efeitos. No último exemplo, temos a combinação das funções poética e emotiva.
Viu, agora, como a linguagem humana é complexa? Sem mencionar ainda o fato de que além de falarmos, escrevemos... coisa que nenhuma outra espécie faz.
O homem possui algo essencial à manutenção dos povos e do conhecimento: cultura. Por isso, somos tão complexos! Como manifestamos toda essa complexidade? Pela linguagem, e a oralidade, sozinha, não é suficiente para eternizarmos tudo isso. Por isso, a escrita promoveu diversas mudanças em nossa sociedade e tornou-se algo socialmente muito valoroso.
Agora que vimos e analisamos alguns traços importantes da linguagem humana, podemos refletir um pouco acerca da pergunta que fizemos anteriormente. Você se lembra dela? Não?! Então vamos repeti-la: Os animais têm linguagem?
Para início de conversa, vamos ver o que nos diz LANGACKER (1980, p. 28): 
“Podemos observar que os sistemas de comunicação animal são fechados, enquanto que as línguas são abertas. Sempre que as abelhas se comunicarem, só serão capazes de usar variantes da mesma mensagem – a direção em que se encontra o néctar e a que distância. Os macacos não podem se comunicar livremente sobre qualquer coisa para a qual não disponham de um sinal específico e, mesmo quando o têm, as possibilidades são extremamente restritas.
As pessoas, por outro lado, podem falar sobre qualquer coisa que possam observar ou imaginar. Além disso, o que podemos dizer sobre qualquer assunto é praticamente ilimitado. Esta grande flexibilidade tem na maior parte sua origem na estrutura gramatical complexa das línguas humanas” (LANGACKER, 1980, p. 28).
Bem, isso nos leva a crer que a linguagem animal é, dentre outras coisas:
Linguagem Animal:
Características Linguagem Animal: a linguagem é incipiente; utilizada somente para fins de sobrevivência das espécies; não determina a formação de uma comunidade; pobre, pois não é capaz de promover comunicações minimamente mais complexas.
Ato de Manifestação: a partir do que vimos até agora, é possível observar que, na linguagem animal, cada ato de manifestação constitui um todo não analisável, não divisível em unidades passíveis de ocorrer em outros atos conservando seu valor.
Comportamento: os animais herdam as formas de comportamento que pretendem ser de ‘linguagem’, como herdam as condições e impulsos que conduzam à autoconservação e à reprodução.
Meios de Comunicação: entendemos linguagem como sendo qualquer forma de comunicação. Nesse sentido, é pertinente dizer que todos os animais, sejam eles racionais ou não, apresentam a sua forma de comunicação, de acordo com características típicas de cada espécie. A linguagem animal é instintiva. Limita-se a questões ligadas à sobrevivência da espécie, como abrigo e comida. Cada espécie tem a sua forma de comunicar, mas, em termos de complexidade, a linguagem dos outros animais não é tão complexa quanto à linguagem humana. A dança das abelhas e o som produzido pelos golfinhos são modos de comunicar restritos a questões relacionadas à preservação de cada espécie como abrigo e comida.
Linguagem Humana:
Por outro lado, a linguagem humana é um fenômeno universal e uno na essência, mas diverso em sua realização concreta. Cada grupo social se utiliza de um instrumento particular de comunicação, com características e combinações próprias – a ‘língua’ ‘ que, por sua vez, apresenta variações de indivíduopara indivíduo – o ‘idioleto’. As formas de comportamento de manifestação animal são as mesmas para todos os indivíduos da mesma espécie.
Atividade Cultural: entendemos linguagem como algo que se refere especificamente à capacidade humana de se comunicar, ou seja, a linguagem é entendida como sendo uma capacidade exclusivamente humana. Dentro dessa perspectiva, acreditamos que, em termos de complexidade, nada é compara à nossa linguagem. A linguagem humana é uma atividade cultural. É universal. Faz parte das relações sociointeracionais. É diversa em sua realização concreta.
AULA 3 – LINGUÍSTICA: O ESTUDO CIENTÍFICO DA LINGUAGEM
O Que É e o Que Não É Linguística?
“Dada nossa tradição escolar, há uma tendência em se identificar o estudo da linguagem com o estudar da gramática. A Linguística, no entanto, distingue-se da gramática tradicional e da normativa. Ela não tem, como esta gramática, o objetivo de prescrever normas ou ditar regras de correção para o uso da linguagem. Para a Linguística, tudo o que faz parte da língua interessa e é matéria de reflexão. Mas não é qualquer espécie de linguagem que é objeto de estudo da Linguística: só a linguagem verbal, oral ou escrita.” (1999, p. 10)
(ORLANDI, Eni P. O que é linguística. São Paulo: Brasiliense, 1999.)
A Linguística, como a ciência que estuda a linguagem, oferece uma base teórica para uma grande variedade de aplicações: tratamento de perturbações da fala, como a afasia ou problemas de leitura, luta contra o analfabetismo em muitos países do mundo, desenvolvimento da produção e reconhecimento das linguagens computacionais inspiradas em modelos humanos, aprendizagem de línguas estrangeiras.
A definição clássica afirma que “Linguística é a ciência que estuda a linguagem verbal humana, oral ou escrita”. Atualmente, já cuida também da não verbal. Por lidar com algo referente ao homem, a Linguística envolve aspectos, tais como biologia, neurofisiologia, psicologia, sociologia entre outros.
Linguística e Gramática Tradicional
“Hoje em dia, é comum fazer uma distinção bem nítida entre a linguística como ciência autônoma, dotada de princípios teóricos e de metodologias investigativas consistentes, e a Gramática Tradicional, expressão que engloba um espectro de atitudes e métodos encontrados no período do estudo gramatical anterior ao advento da ciência linguística. A tradição, no caso, tem mais de 2000 anos de idade, e inclui o trabalho dos gramáticos gregos e romanos da antiguidade clássica, os autores do Renascimento e os gramáticos prescritivistas do século XVIII.”
(WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. São Paulo: Parábola, 2002. p. 10)
O que é Gramática Tradicional?
É a teoria Linguística ocidental iniciada pelos gregos, em Alexandria, no século III a.C. com o objetivo de preservar a pureza da língua grega. Um dos nomes mais famosos é Dionísio da Trácia.
A Gramática Tradicional e sua derivada, a Gramática Normativa, são doutrinas e não ciências: estabelecem o que é certo ou errado a partir de um ponto de vista.
Gramática Tradicional e Gramática Normativa são a mesma coisa?
Não. A Gramática Normativa é a gramática de uma língua codificada sob a forma de um livro e que estabelece as regras e normas do que é considerada a forma correta em relação à escrita e à fala. A Gramática Normativa também é chamada de Gramática Prescritiva, já que ela prescreve esse conjunto de normas.
Como surgiu a Gramática Tradicional?
Maria Helena de Moura Neves, em A gramática: história, teoria e análise, e ensino, apresenta-nos em seu primeiro capítulo ‘uma incursão pela história da gramática’. Nele, após passar pela visão platônica dos estudos da linguagem, a autora chega ao período helenístico e traz a figura do philólogos (p. 20) e do gramatikós (p. 21).
Profissionais da linguagem
Antes de aprofundarmos nossa discussão sobre Linguística, vamos conhecer três profissionais. Vejamos como esses profissionais trabalham com a linguagem.
O Filólogo: Segundo Câmara Jr., em seu Dicionário de Linguística e Gramática, a filologia “Hoje, designa, estritamente, o estudo da língua na literatura, distinto, portanto, da linguística” (1986, p. 117).
O linguista: Estuda a linguagem humana. Sem prescrever normas ou definir padrões em termos de julgamento de correto-incorreto, pode documentar uma língua tal como ela se manifesta no momento da descrição (Sociolinguística), estudar o processamento da linguagem (Psicolinguística e Neurolinguística) e observar a relação entre línguas e cultura (Etnolinguística) etc.
O gramático: Elabora o conjunto de regras do que se considera o uso correto da língua. Essas regras são codificadas em um livro chamado ‘Gramática Normativa’ e esse olhar prescritivo começou com os gregos e sua Gramática Tradicional.
Linguística X Filologia
“De fato, a distinção entre linguística e filologia tinha que ver, no século XIX, e em grande medida ainda tem, com questões de atitude, ênfase e objetivo. O filólogo se preocupa primordialmente com o desenvolvimento histórico das línguas tal como se manifesta em textos escritos e no contexto da literatura e da cultura associada a eles.
O linguista, embora possa se interessar por textos escritos e pelo desenvolvimento da língua através do tempo, tende a priorizar as línguas faladas e os problemas de analisá-las em um dado período de tempo.” (WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. São Paulo: Parábola, 2002. p. 10)
Para Finalizar: Mais um Tipo de Gramática
Depois de conversarmos sobre Linguística, Gramática Tradicional e Gramática Normativa, fica uma pergunta: nas aulas 1 e 2 conversamos sobre língua, linguagem, fala e escrita. Nessas aulas, estabelecemos que um indivíduo aprende sua língua no convívio e que ele pode não frequentar uma escola e, ainda assim, saberá as regras de sua língua.
Vocês podem estar se perguntando: essas regras não são um tipo de gramática? São sim. Chamamos de gramática internalizada o conjunto de regras que o indivíduo internaliza durante o processo de aquisição.
“Existem duas maneiras básicas de olhar para a linguagem (ou a língua) e suas manifestações. Uma é a do guardião, outra, a do curioso. À primeira, costuma-se chamar de atitude normativa. À outra, em de uma certa tradição, fundamentalmente do século XX, de descritiva.” 
(POSSENTI, Sírio. É o ponto de vista que... In: A cor da língua e outras croniquinhas de linguista. Campinas, SP: Mercado de Letras: Associação de leitura do Brasil – ALB, 2001. p. 59)
A tradição citada por Sírio Possenti tem início com a publicação do Curso de Linguística Geral, do suíço Ferdinand de Saussure.
Como a Linguística Procede?
A Linguística é empírica: análise os dados a partir de um corpus.
Como ciência as análises da Linguística não se baseiam em julgamentos de valor, e sim na explicação dos fatos.
A Linguística elabora uma gramática que descreve os fatos da língua: não é uma questão de certo e errado, e sim uma questão de uso.
Exemplo: Avalie as respostas possíveis para a pergunta “Você conhece o João?” em termos de preenchimento do objeto direto.
a) Eu o conheço desde criança. 
b) Eu conheço ele desde criança.
c) Eu conheço Ø desde criança.
Escolaridade do falante: Se o fenômeno do preenchimento do objeto direto fosse estudado, após coleta de dados, seria feita uma análise na tentativa de descobrir, por exemplo, a escolaridade do falante que utiliza uma ou outra estrutura:
Você conhece o João?
Eu o conheço desde criança. (Uso do pronome oblíquo = forma prescrita)
b) Eu conheço ele desde criança.
(Uso do pronome ele como acusativo = forma marcada?)
c) Eu conheço Ø desde criança. 
(Uso da categoria vazia: forma não marcada)
d) Eu conheço o João desde criança.
(Uso de sintagma nominal: forma não marcada)
Por Que a Diferença de Tratamento a Um Mesmo Fenômeno?
Gramática Normativa X Linguística
Gramática Normativa
Tem caráter ideológico (Gramática Prescritiva).
Aponta como deve ser.
As formas apresentadas são dotadas de prestígio.
Trabalha comnoções de certo e errado.
Segue o modelo proposto pela Gramática Tradicional.
Linguística
Tem caráter científico (Gramática Descritiva).
Aponta como é. 
Trabalha com a adequação ao ambiente.
AULA 4 – ESTUDOS PRÉ-SAUSSURIANOS SOBRE LÍNGUA
As discussões linguísticas dos filósofos gregos aconteceram, em grande parte, pelo interesse que eles tinham em relacionar linguagem, pensamento e realidade. Por isso, houve discussões acerca da relação entre as palavras e aquilo que elas designavam: haveria uma relação direta ou a relação seria arbitrária?
a) Naturalistas. Platão (427-347 a.C.) encaixava-se nesse grupo que considerava haver relação entre a forma da palavra e o referente (relação entre 'essência' e 'aparência'). Segundo os naturalistas, era preciso buscar a etimologia das palavras para descobrir o seu verdadeiro significado. 
Etymo (grego) - verdadeiro; verdadeiro significado (a análise das partes da palavra levaria à descoberta do verdadeiro significado; da ideia original).
b) Convencionalistas: Aristóteles (384-322 a.C.) fazia parte desse grupo que acreditava que a forma da palavra é resultado da convenção social.
Estoicos: não se preocupavam com a língua em si mesma: consideravam a língua como expressão do pensamento e dos sentimentos.  São os primeiros a tratar as questões linguísticas de modo mais concreto: diferenciavam a dicotomia significante x significado;  trataram da fonética, da etimologia, entre outros temas.
Período Alexandrino: criação da primeira grande biblioteca na colônia grega de Alexandria (séc. III a.C.). A cidade de Alexandria se torna centro de pesquisa literária e linguística porque há, pela primeira vez, grande volume de obras reunidas em mesmo lugar.
Dionísio da Trácia (segunda metade do século III a.C.): primeira descrição da língua grega e primeira descrição gramatical publicada no mundo ocidental. Essa gramática servirá de base para a elaboração de diversas outras ao longo de nossa história e, por 13 séculos, foi a base para os estudos gramaticais em várias línguas.  Em sua gramática, Dionísio afirma que a gramática é o espaço para que seja apresentado o suo que poetas e prosadores fazem da língua.
Segundo dados da Enciclopédia Mirador Internacional, “sua gramática começa pela definição de gramática e suas funções. Trata-se, em seguida, de acentos, sinais de pontuação, letras e sílabas, mas nada diz sobre regras de sintaxe ou sobre estilo. Essencialmente destinada à escola primária, manteve-se em uso no mundo de fala grega até o século XII” (1995, p. 6863)
Como ele trabalhou?
Colhia material nos clássicos gregos para justificar sua descrição (atitude empírica: conhecimento prático).
Qual foi seu principal objetivo? Apreciação adequada da literatura grega clássica (não se preocupou com sintaxe).
Como a Tradição Gramatical Grega Chegou aos Nossos Dias?
Os romanos tomam conhecimento dos estudos gregos sobre gramática e esses princípios foram utilizados por gramáticos latinos como:
Varrão (116 a 27 a.C.): foi o primeiro gramático latino importante. Escreveu De língua latina, composto por 25 livros. Atualmente, restam seis livros inteiros e fragmentos de alguns dos restantes.  Entre seus estudos, há importantes observações: a) as palavras mudam de significado (Hostis: “estrangeiro” passou a significar “inimigo”); b) as línguas apresentam maior número de distinções lexicais com relação aos setores da cultura mais importantes.
Por exemplo, temos Equus – cavalo/ Equa = égua, mas havia uma única palavra para indicar o masculino e o feminino de corvo (Corvus); c) diferença entre formação derivacional e flexional: 
Flexão: grande generalidade; quase não apresenta omissões (“variação natural” - declinatio naturalis);  derivação:  natureza facultativa; menos ordenada (“variação  voluntária” - Declinatio voluntaria) Ovis “ovelha” - ovile “redil” / sus “porco” - suile “pocilga”. Mas: Bos “boi” → Bubile.
Prisciano (500 d. C.) publicou 18 livros, com cerca de 1000 páginas.
 Não distinguiu flexão e derivação (ignorou Varrão). 
- Descrição sintática: verbos ativos (transitivos); verbos passivos; verbos neutros (intransitivos).
- Subordinação: pronomes relativos qui, quae, quod relacionavam um verbo ou uma oração a outro verbo ou oração principal. 
Idade Média
O que temos na primeira parte da Idade Média?
• Grande influência da Igreja: nobreza e clero no alto da pirâmide social;  mercadores, artífices / servos  (maioria).
• Igreja – progresso pessoal dependia do conhecimento do latim, mas para muitos o latim era língua estrangeira.
• Surgem livros didáticos sobre latim porque surge a necessidade de se aprender latim: língua escrita da erudição, do ensino, da diplomacia e da Igreja.
• O que se tem na segunda parte da Idade Média (1100 até o fim do período)?  É o período da filosofia escolástica (1200-1350).
R. H. Robins, em Pequena história da linguística, fala-nos sobre o trabalho de Alexandre de Villedieu (1200): sua obra Doctrinale foi um manual de gramática latina que contém 2.645 versos e que apresentou um latim mais próximo da língua franca do que da língua dos autores clássicos descritos por Prisciano.
A Filosofia Escolástica
Segundo Robins (1979), a filosofia escolástica surge devido a uma conjuntura interessante: temos homens intelectualmente capazes, um período de maior tranquilidade durante a Baixa Idade Média, o conhecimento das obras dos autores gregos, possível após a tomada de Constantinopla, em 1204.
Os filósofos escolásticos consideravam que estudar a língua é um meio de analisar a realidade: 
1) Quais os princípios universais que unem um signo ao espírito humano?
2) Quais os princípios universais que ligam o signo à coisa?
Durante o período da filosofia escolástica, tem-se as ‘gramáticas especulativas’, também chamadas De Modis Significandi (“Sobre os modos de significar”) e, por isso, esses gramáticos foram chamados de modistae (“modistas”).
Segundo os princípios dos gramáticos especulativos, a mente abstrai o modī essendī (modo de ser) das coisas e a língua permite que essa abstração seja comunicada pelo modī significandī (modo de significar). Robins (1979, p. 64) nos apresenta também Tomás de Erfurt e seu sistema sintático: para que uma frase seja aceitável as palavras devem:
1) poder associar-se sintaticamente;
2) estar adequadamente flexionadas;
3) ser colocáveis.
Exemplo:
a) Capa preta
b) *capa categórica		(b) é inadequada
Para Tomás de Erfurt, existiriam pseudo-orações, ou seja, orações cujas palavras não seriam ‘colocáveis’:
*A pedra ama o menino. A sinceridade admira o João.
Do Renascimento Até a Gramática Comparada
1453: tomada de Constantinopla (capital do Império do Oriente pelos turcos): ida para a Itália, local de textos de sábios gregos e manuscritos clássicos.
1492: Colombo descobre a América (ampliam-se os horizontes linguísticos): conhecimento de outras línguas não europeias (“o descobrimento de Babel”). Esse conhecimento será agregado ao adquirido durante a segunda parte da Idade Média, no período conhecido como Baixa Idade Média, em que se travou conhecimento com o trabalho gramatical dos árabes e judeus.
1547, 1560 e 1639: publicação de gramáticas do nahualt (México), do quíchua (Peru) e do guarani (Brasil).
Séc. I: invenção do papel na China no séc. I d.C. e invenção da imprensa durante o Renascimento: difusão da cultura e estímulo ao estudo das línguas estrangeiras e das línguas clássicas (grande número de textos impresso, de gramáticas e de dicionários.)
Séc. XIV: Dante. No início do séc. XIV, Dante publica De vulgari eloquentia no qual apelou para o cultivo de um vernáculo comum. O livro foi escrito em uma língua vernácula que se tornou uma variedade literária do italiano e que mais tarde se tornou a língua oficial da península.  Dante considerava as línguas orais aprendidas na infância mais importantes que o latim escrito (língua segunda aprendida na escola).
Séc. XV e Séc. XVI: com o nascimento dos Estados Nacionais, surge um sentimento patriótico e tem-sea ascensão das línguas vernáculas europeias no período pós-medieval. Como havia um grande número de dialetos, uma das variedades da língua falada em território nacional é escolhida para língua oficial e codificada sob a forma da gramática desse novo Estado Nacional. No séc. XV, tem-se as primeiras gramáticas em italiano e espanhol e no séc. XVI – primeira gramática do francês.
1534: em 1534, Lutero imprime a Bíblia em alemão; posteriormente, há publicação em outras línguas vernáculas da Europa. Dessa forma, o latim diminui sua importância e abre-se espaço para novos estudos sobre a linguagem como é o caso da Gramática de Port Royal (nos séculos XVII e XVIII, as reflexões sobre a natureza da linguagem, assim como as análises de sua estrutura, deram continuidade às propostas gregas. A chamada Gramática de Port Royal, publicada em 1660, retoma de forma rigorosa a visão aristotélica da linguagem como reflexo da razão e busca construir, tendo como base a lógica, um esquema universal de linguagem, que estaria subjacente a todas as línguas do mundo” (MARTELOTTA, 2010, p.46)). 
Desde a antiguidade, os homens estudavam as línguas. No período conhecido como PRÉ-LINGUÍSTICA, segundo Camara Jr. (1986), houve os seguintes estudos:
Estudo do certo e do Errado: nesse tipo de estudo, não há uma visão científica da linguagem, já que a preocupação maior é estabelecer a diferença entre o que é considerado certo e o que é considerado errado. O modo de falar das classes superiores é considerado correto e há preocupação em se passar esse modo de falar de uma geração para outra.
Estudo da Língua Estrangeira: através do contato entre comunidades com línguas diferentes, tem-se um estudo com a comparação entre diferentes sistemas linguísticos. Após a Pré-Linguística, temos o período conhecido como PARALINGUÍSTICA e que é representado por estudos que não entraram no domínio da linguagem.
Estudo Filológico da Linguagem: busca compreender textos antigos, comparando-se textos do presente com textos do passado, através da literatura. Esse estudo ainda não é considerado ciência, pois não há busca por explicações.
Estudo Lógico da Linguagem: após a Pré-Linguística, temos o período conhecido como PARALINGUÍSTICA e que é representado por estudos que não entraram no domínio da linguagem. Nesse período, aconteceu o: Estudo lógico da linguagem. Estudo que mesclou filosofia e Linguística e que buscou descobrir a relação entre pensamento e linguagem.
Estudo Biológico da Linguagem: encara-se a linguagem como inerente ao ser humano e dependente de aspectos biológicos do corpo humano. Estudavam-se as características biológicas que permitem ao homem falar.
Como Surgem os Estudos Linguísticos?
O período LINGUÍSTICO começa antes da publicação do Curso de Linguística Geral. É preciso que se compreenda que Saussure não foi o inventor da Linguística, e sim o responsável pela mudança no foco dos estudos linguísticos. No início do século XIX, há o início dos estudos históricos, que podem ser considerados linguísticos.  Vejamos alguns fatos que antecedem essas pesquisas.
1. Descoberta do Sânscrito: no século XIX, publica-se a primeira gramática de sânscrito em inglês: Gramática de Pãnini, Astãdhyãyi (“Outro livros”) escrita entre 600 e 300 a.C. O objetivo dessa gramática era preservar da ação do tempo textos religiosos transmitidos oralmente desde 1200 a.C.
Os gramáticos hindus mostravam conhecimento sobre a língua, já que se preocupavam com: a natureza semântica da palavra e da frase; a arbitrariedade entre forma e significado; a variabilidade e extensibilidade do significado das palavras; a fonética hindu estudava processos de articulação; os segmentos (vogais e consoantes); as estruturas fonológicas.
Embora já se conhecessem alguns aspectos da gramática do sânscrito, a conquista da Índia, pelos ingleses, nos séculos XVIII, possibilitou o acesso a textos que facilitaram os estudos comparativos.
Perceberam-se semelhanças entre o sânscrito e algumas línguas da Europa, o que despertou interesse para o desenvolvimento de um estudo entre as línguas. Tenta-se mostrar que a mudança lingüística é um processo: 
a) regular: princípio de regularidade das mudanças; 
b) universal: todas as línguas evoluem;
c) constante: qualquer língua está em evolução contínua.
2. Sir William Jones: em 1786, Sir William Jones (1746-1796,), o juiz britânico, em uma palestra em Calcutá, na Royal Asiatic Society, apresentou o resultado de seus estudos sobre o sânscrito, antiguíssimo idioma sagrado dos Hindus. Ele concluiu que inúmeras palavras sânscritas eram parecidas com o latim, grego, alemão, inglês, e outros idiomas europeus.
A Gramática Comparada
No século XIX, surge a preocupação com o caráter histórico da língua porque nos séculos anteriores, os estudiosos conhecem outras línguas como as da América, da África, semíticas, entre outras. Isso, aliado ao fato de se trabalhar com a gramática do sânscrito, possibilitou o desenvolvimento do método comparativo, ou seja, o estudo do parentesco linguístico. Os estudos comparativos trouxeram a compreensão de que as línguas mudam com o passar do tempo, ao mesmo tempo em que essa observação foi feita através da análise de dados. Assim, tem-se um trabalho realizado através de investigações científicas.
Daí: Gramática Comparada ou Linguística Histórica – estudo das transformações pelas quais as línguas passavam (comparação de sucessivos estados de língua).
Os primeiros comparativistas estavam interessados em confrontar o Sânscrito com outras línguas Indo-europeias, especialmente o Grego e o Latim. 
A partir da descoberta do Sânscrito: 
1) interesse em identificar as famílias de línguas;
2) mostrar que a mudança linguística é um processo:   
a) regular: princípio de regularidade das mudanças; 
b) universal: todas as línguas evoluem;  
c) constante: qualquer língua está em evolução contínua.
Rasmus Rask (1787-1832), Jakob Grimm (1787-1863), Franz Bopp (1791-1867) são considerados os fundadores da linguística histórica científica.
Rasmus Rask: foi o primeiro a obter sucesso nas técnicas de comparação histórica entre língua com o livro Investigação, no qual estudou o escandinavo antigo. No entanto, como seu livro foi escrito em dinamarquês, língua pouco conhecida, Franz Bopp é considerado o fundador da Ciência Histórico-Comparativa da Linguagem (CÂMARA JR, 1990, p. 31).
Franz Bopp: Segundo Martelotta (2010, p. 49), Bopp é o fundador da gramática comparativa. 
Em 1816, chamou a atenção para as relações morfológicas entre o sânscrito, o latim, o grego, o persa e o germânico, em sua obra Sobre o sistema de conjugação da língua sânscrita, em comparação com a do grego, latim, persa e germânico.  
Jacob Grimm: as investigações de Rask foram retomadas pelo linguista alemão Jacob Grimm, que publicou um tratado em quatro volumes (1819-1822) intitulado Deutsch Grammatik (“Gramática  Alemã”). Nesse monumental trabalho, Grimm discute as alternâncias vocálicas do indo-europeu e contribuiu para o estabelecimento de certas correspondências fonéticas entre o sânscrito, o grego, o latim e o germânico.  
Os estudos comparativistas foram um método de comparação baseado em dados, ou seja, um método empírico que observou a mudança nas línguas. 
Esses estudos proporcionaram conhecimento acerca da história das línguas e sobre o papel dos indivíduos sobre essa mudança. Embora essa visão do papel do indivíduo não tenha sido aprofundada, ela foi importante para estudos posteriores e será retomada em outros momentos, mesmo que seja em tom de crítica.
AULA 5 – AS NOÇÕES DE LÍNGUA E FALA
Como Surgem os Estudos de Saussure?
Como vimos nas aulas anteriores, os estudos sobre língua partem da visão grega de uma gramática que reproduza o conhecimento dos escritores dos clássicos gregos, passa por visões filosóficas e estudos filológicos e chegando, no século XIX, por estudos comparativistas*, de abordagem histórica.  É nesse contexto de estudos que se insere Saussure. 
* A partir de 1870, começa-sea questionar o que é uma língua.
Percebeu-se que as analogias apresentadas pelos estudos comparativistas representam uma das possibilidades de se estudar o fenômeno lingüístico, já que a comparação seria apenas um meio para que se reconstituíssem os fatos.
Ainda que Saussure tenha realizado estudos históricos, critica-se na introdução do CLG (1995, p. 10) o fato de as investigações comparativistas terem sido limitadas porque: (1) fixaram-se nas línguas indo-europeias; (2) não buscou compreender o que significavam as analogias descobertas: 
“Foi exclusivamente comparativa, em vez de histórica. Sem dúvida, a comparação constitui condição necessária de toda reconstituição histórica. Mas, por si só, não permite concluir nada [...] considerava-se a língua como uma esfera à parte, um quarto reino da natureza [...]” (CLG, 1995, p. 10) 
O Ponto de Vista Cria o Objeto
Por considerar que há outras possibilidades de se estudar as línguas, Saussure afirma que ‘o ponto de vista cria o objeto (CLG, 1995, p. 15).
“Outras ciências trabalham com objetos dados previamente e que podem considerar, em seguida, de vários pontos de vista; em nosso campo, nada de semelhante ocorre. Alguém pronuncia a palavra nu: um observador superficial será tentado a ver nela um objeto linguístico concreto; um exame mais atento, porém, nos levará a encontrar no caso, uma após outras, três ou quatro coisas perfeitamente diferentes, conforme a maneira pela qual consideramos a palavra: como som, como expressão duma ideia, como correspondente ao latim nūdum etc. Bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista, diríamos que é o ponto de vista que cria o objeto [...]”
O que isso significa? A ideia é de que um mesmo objeto pode ser estudado de pontos de vista diferentes, podem ser feitas perguntas diferentes sobre esse objeto que nos levarão a respostas diferentes acerca desse objeto. Por exemplo, podemos analisar o fonema /s/ na palavra ‘gatas’: 
a) do ponto de vista morfológico: morfema de plural; 
b) do ponto de vista fonético: consoante fricativa dental surda;
c) do ponto de vista fonológico: /s/ é um fonema e distingue significado quando consideramos o par sente/gente, já que opomos [s] a [Ȝ].
Saussure e a Mudança de Perspectiva
Em 2012, foi lançado o livro Compreender Saussure a partir de manuscritos de  Loϊc Depecker pela Editora Vozes. Nele, temos oportunidade de aprofundar nossos conhecimentos acerca de Saussure assim como podemos compreender como ele chegará aos fundamentos teóricos da Linguística moderna.
Em Escritos de linguística geral*, publicado pela Cultrix, em 2004, temos que “a linguagem é um fenômeno; é o exercício de uma faculdade que existe no homem. A língua (observe-se a importância dada À língua, determinada por um artigo definido, e aos indivíduos que a utilizam: essa é mais uma das mudanças de perspectiva introduzidas por Saussure) é o conjunto das formas concordantes que esse fenômeno assume em uma coletividade de indivíduos e em uma época determinada” (Apud DEPECKER, 2012, p. 32).
* Em um desses manuscritos recentemente acessíveis, As notas sobre a acentuação lituana, Saussure nos diz que o acento é apenas uma entre as muitas relações de oposição que temos em língua. Quando tratarmos da metáfora do jogo de xadrez, retornaremos a essa questão da oposição. Por agora, o que devemos considerar é a capacidade de observação de Saussure, a mudança de perspectiva que originará a Linguística como a conhecemos hoje.
Com a publicação do Curso de Linguística Geral (1916):
a Linguística ganha um objeto de estudo: a Língua
o estudo passa a ser sincrônico, ou seja, analisa-se estado de língua (não mais se cimparam sucessivos estados de língua)
estuda-se a linguagem humana dividida em língua e fala;
o considera-se que a língua não é só um conjunto de nomenclaturas, e sim um conjunto de signos linguístico: significante e significado.
muda-se o eixo temporal e passa-se a estudar a língua sincronicamente;
analisam-se os signos em termos de sua organização em torno de sintagmas e paradigmas.
Como Saussure Chega à Conclusão de que o Objeto de Estudo da Linguística é a Língua?
Em primeiro lugar, Saussure considera que é preciso deixar de lado o ponto de vista vigente na época de que a língua é um organismo vivo.  Depecker (2012, p. 35) nos mostra que, segundo Saussure, a língua não é uma vegetação, não é algo que exista sem a influência do homem.
“A cada instante a linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução; a cada instante ela é uma instituição atual e um produto do passado.” (CLG,  1995, p. 16)
O capítulo III do CLG tem por objetivo fixar o verdadeiro objeto da Linguística. Como Saussure faz isso? “O estudo da linguagem comporta, portanto, duas partes: uma, essencial, tem por objeto a língua, que é social em sua essência e independente do indivíduo; esse estudo é unicamente psíquico; outra, secundária, tem por objeto a parte individual da linguagem, vale dizer a fala, inclusive a fonação, e é psicofísica.” (CLG, 1995, p. 27)
A noção de língua como sistema é considerada, por muitos estudiosos, o mais importante conceito saussuriano. O sistema é superior ao indivíduo (supraindividual) e todo elemento linguístico deve ser estudado a partir de suas relações com outros elementos do sistema e de acordo com sua função.
A língua é o objeto de estudo da linguística, pois a linguística como ciência só pode estudar aquilo que é recorrente, constante e sistemático.
“A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro” (CLG, 1995, p. 16). Para Saussure, a distinção entre linguagem, língua e fala é essencial para que se defina o verdadeiro objeto de estudo da linguística: a língua.
A Faculdade da Linguagem
Para Saussure, “a língua é um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos” (CLG, 1995, p. 17).
Por que ‘faculdade da linguagem’?
Saussure afirma que, no conjunto ao qual corresponde a linguagem, podemos localizar a língua. No CLG (1995, p.19), ele postula que duas pessoas estão conversando e que no cérebro de cada uma delas há um conjunto de signos lingüísticos armazenados. Aí, temos um processo psíquico, seguido de um processo fisiológico: “[...] o cérebro transmite aos órgãos da fonação um impulso correlativo da imagem: depois, as ondas sonoras se propagam da boca de A até o ouvido de B: processo puramente físico. Em seguida o processo se prolonga em B numa ordem inversa: do ouvido ao cérebro, transmissão fisiológica da imagem acústica [...]”.
Vejamos o que nos diz Saussure sobre a língua. Recapitulemos os caracteres da língua:
1º. Ela é um objeto bem definido no conjunto heteróclito dos fatos da linguagem.
Pode-se localizá-la na porção determinada do circuito em que uma imagem auditiva vem associar-se a um conceito. Ela é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade. [...]
2º. A língua, distinta da fala, é um objeto que se pode estudar separadamente.
Não falamos mais as línguas mortas, mas podemos muito bem assimilar-lhes o organismo linguístico.
3º. Enquanto a linguagem é heterogênea, a língua, assim delimitada, é de natureza homogênea.
Constitui-se num sistema de signos onde, de essencial, só existe a união do sentido e da imagem acústica, e onde as duas partes do signo são igualmente psíquicas.
4º. A língua, não menos que a fala, é um objeto de natureza concreta, o que oferece grande vantagem para o seu estudo.
Os signos linguísticos, embora sendo essencialmente psíquicos, não são abstrações; as associações, ratificadas pelo consentimento coletivo e cujo conjunto constitui a língua, são realidades que têm sua sede no cérebro.” (CLG, 1995, p. 23)
Como Fica a Fala?
“A fala é, ao contrário, um ato individual de vontadee de inteligência [...]” (CLG, 1995, p. 22).  Por ser ‘individual’, Saussure considera que ela é heterogênea. Possui caráter privado: pertence ao indivíduo que a utiliza. Pessoas que falam a mesma língua conseguem se comunicar porque, apesar das diferentes falas, há o uso da mesma língua.  A heterogeneidade característica da fala não se presta a um estudo sistemático.
Língua: Sistema de Valores
Vejamos o que Robins (1979), em seu Pequena História da Linguística, nos diz sobre a dicotomia língua/fala.
Gaveta dos nomes: Maria, Menina, Carlos
Gaveta dos verbos: querer, ler, comprar, rasgar
Gaveta dos determinantes: esse, aquele, um, o
Gaveta dos substantivos: livro, carro, papel
A língua é um sistema de valores: um signo se opõe aos demais.
Vejamos o que Robins (1979), em seu livro Pequena História da Linguística, nos diz sobre a dicotomia língua/fala.
“[...] Saussure separou a competência linguística do falante dos fenômenos ou dados linguísticos reais (enunciados), dando-lhes respectivamente os nomes de langue, ‘língua’ e parole, ‘fala’ (de modo geral, esses termos passaram a ser internacionalmente usados em suas formas originais, i.e., sem serem traduzidos). A parole representa os dados imediatamente acessíveis ao observador, mas o objeto próprio da linguística é a langue de cada comunidade: o léxico, a gramática e a fonologia que são interiorizados por cada indivíduo e que lhe permite falar e entender a língua da sociedade em que foi educado.
Muito influenciado pela teoria sociológica de Durkheim, Saussure talvez tenha exageradamente atribuído uma realidade supraindividual à langue. Contudo, embora declare que o indivíduo não pode modificar a língua, ele próprio reconhece que as mudanças nela efetuadas procedem de mudanças introduzidas pelos indivíduos em sua parole.” (1979, p. 163)
A característica heterogênea da fala não significa que as pessoas falem de forma tão diferente a ponto de não conseguirem se comunicar, e sim que temos liberdade de escolha entre as estruturas da língua. É como se a língua equivalesse a roupas guardadas em gavetas e pudéssemos abrir a gaveta e escolher a roupa que quiséssemos usar.
A Relação Entre a Língua e a Fala
Saussure separa os fatos da língua dos fatos da fala: os fatos da língua dizem respeito à estrutura do sistema linguístico e os fatos da fala dizem respeito ao uso desse sistema.
Apesar de língua e fala serem estudadas separadamente, elas são interdependentes: “A língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos, mas esta é necessária para que a língua se estabeleça [...]”. (CLG, 1995, p. 27)
É a fala que faz evoluir a língua. Um sistema linguístico que não é mais falado e, portanto, não sofre modificações, não evolui. Também não conseguimos nos comunicar sem um sistema linguístico: se, porventura, ele não existe, podemos criá-lo para atender uma determinada necessidade, como é o caso da Libras.  
Língua e fala são interdependentes: a língua é instrumento da fala (sem a língua o indivíduo não pode se comunicar) e é produto da fala (é através das mudanças ocorridas na fala dos indivíduos que a língua se comunica).  A fala é necessária para que a língua se estabeleça.
Forma e Substância
Voltando à consideração de Saussure sobre a língua como sistema. Por que essa visão é tão importante?
“O sistema da língua apresenta regras (fonológicas, morfológicas, sintáticas e semânticas) que determinam o emprego das formas e relações sintáticas, necessárias para a produção de significados.” (LOPEZ, Edward. Fundamentos da linguística contemporânea. São Paulo: Cultrix, 2004, p. 76-77)
“A língua é uma forma e não uma substância”. (CLG, 1995, p. 141)
Por que a língua é forma?  ‘Forma’ para Saussure significa ‘essência’ (= sistema e estrutura). 
A forma é constituída pela teia de relações entre os elementos da língua, enquanto a substância é constituída pelos elementos dessa teia. Vejam os exemplos: 
a) As menina é bonita’. Podemos produzir uma sentença como essa: ela apresenta alterações na substância, mas não na forma, já que ela é fundamental para o funcionamento do sistema linguístico.
b) Bonita é menina as. Essa sentença não deveria ser produzida porque apresenta problemas na forma, que é a essência do funcionamento do sistema linguístico.
No material do aluno, no capítulo ‘Língua/Fala’, de Castelar de Carvalho, há um interessante exemplo retirado de Saussure: a metáfora do jogo de xadrez. Dê uma lida e veja como ela é interessante!
Eugênio Coseriu e a Crítica à Dicotomia Língua/Fala
Eugênio Coseriu, linguista romeno, em 1979, acrescenta o conceito de norma e reformula a relação estabelecida por Saussure entre língua e fala.  Segundo ele, as variantes linguísticas fazem parte do sistema da língua e, por isso, ele substitui ‘língua’ por ‘sistema’. Entre o sistema, abstrato, e a fala, uso concreto, haveria a norma, um nível intermediário, um conjunto de realizações consagradas pelo uso (COSERIU apud CARVALHO, p. 55).
“[...] a norma é o como se diz e não o como se deve dizer. Castelar de Carvalho também afirma que “A norma seria assim um primeiro grau de abstração da fala. Considerando-se a língua (o sistema) um conjunto de possibilidades abstratas, a norma* seria então um conjunto de realizações concretas e de caráter coletivo da língua. 
* No Rio de Janeiro, a norma estabelece que chamemos de ‘aipim’ o mesmo elemento chamado de ‘macaxeira’ em outros estados. O sistema da língua portuguesa é o mesmo: uma pessoa no Rio diz ‘Eu gosto muito de aipim’ e uma pessoa de outro estado poderia dizer ‘Eu gosto muito de macaxeira’, mas ambas não utilizariam ‘Aipim gosto muito de eu’ ou ‘Macaxeira gosto muito de eu’.
AULA 6 – A TEORIA DO SIGNO LINGUÍSTICO
Ao definir a língua como o objeto de estudo da Linguística, Saussure nos mostra uma nova maneira de estudar os sistemas linguísticos.  Para ele, ao invés de se estudar apenas um conjunto de nomenclaturas, deve-se estudar a língua como um sistema. Para Saussure, a verdadeira natureza da língua está em seu sistema. Surge aí a pergunta: de que é composto esse sistema chamado língua? Na visão saussuriana, esse sistema é composto por signos lingüísticos.
Por Que ‘Signos’?
Saussure estabelece que uma das características do signo linguístico é o fato de ele ser arbitrário, característica que discutiremos mais adiante, em nossa aula. Será essa característica a responsável pela escolha do termo ‘arbitrário’. Vejamos a explicação da escolha de ‘signo’ e não de ‘símbolo’.
“O símbolo tem como característica não ser jamais completamente arbitrário; ele não está vazio, existe um rudimento de vínculo natural entre o significante e o significado. O símbolo da justiça, a balança, não poderia ser substituído por um objeto qualquer, um carro, por exemplo.” (CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL, p. 82)
Quando considera o signo linguístico, Saussure afirma que não há vínculo entre o nome e aquilo que ele denota.  Se não existe essa relação, torna-se inadequado o uso de ‘símbolo’, já que este é semiarbitrário.
Signo e Palavra se Equivalem?
Ao tratarmos da noção de signo, podemos pensar: signo então é um sinônimo para palavra? Pietroforte (2002, p. 83), no capítulo A língua como objeto de estudo da linguística, nos diz que essas noções são diferentes porque uma palavra como ‘goleiro’ é um signo formado por outros signos - os morfemas.
“[...] Antes de tudo, ao afirmar que a relação é entre um significante e um significado [...] o mundo e suas coisas passam para um domínio fora dos estudos linguísticos e a língua ganha uma especificidade própria. Um significante e um significado [...] formam um signo que, por sua vez, é definido dentro de um sistema [...] Esse conceito de signo traz a significação para dentro da língua e de sua estrutura. O que significa são os signos e suas relações uns com os outros e não a relação entre as palavras e as coisas do mundo.” (PIETROFORTE, 2001, p. 85).
Os Signos Linguísticos
Na aula passada, vimos que Saussure afirma que a língua é “[...] umsistema de signos que exprimem ideias [...]”.  Como já dissemos, em Saussure, a língua deixa de ser um sistema de nomenclaturas e passa a ser estudada como esse sistema em que os itens se relacionam entre si.
Por exemplo, ‘casa’ vai se relacionar com ‘apartamento, ‘moradia’, ‘lar’ – palavras com as quais possui relação de significado - mas também pode se relacionar a verbos, adjetivos e pronomes – e todos esses elementos são signos - para construir frases.
Esses signos aos quais ele se refere são os signos linguísticos. Como Saussure define esses ‘signos linguísticos’?
O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão (empreinte) psíquica desse som [...] tal imagem é sensorial [...] (CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL, 1995, p. 80).
Signo linguístico, para Saussure, é a combinação de um conceito – o significado – com uma marca psíquica do som – o significante.
Assim, Saussure considerava que o signo linguístico é uma entidade psíquica de duas faces, representada em sua obra Curso de linguística geral (p. 80).
Se o signo linguístico é uma entidade psíquica, então ele é uma abstração? Não. Como vimos na aula 5, para Saussure, os signos linguísticos são uma realidade armazenada nos cérebros dos indivíduos que compõem a comunidade que utiliza a língua.
Saussure nos diz que a língua é um objeto de natureza concreta e se a língua* é composta por signos, esses signos também seriam de natureza concreta. Saussure considera também que os signos são tangíveis, já que podem ser recuperados pela escrita.
* “A língua, não menos que a fala, é um objeto de natureza concreta, o que oferece grande vantagem para o seu estudo. Os signos lingüísticos, embora sendo essencialmente psíquicos, não são abstrações; as associações, ratificadas pelo consentimento coletivo e cujo conjunto constitui a língua, são realidades que têm a sua sede no cérebro.” (CURSO DE LINGUISTICA GERAL, 1995, P.23).
A língua é um sistema composto por signos lingüísticos. Esses signos são formados por significante e significado. Os significantes correspondem à imagem acústica, ou seja, à impressão psíquica do som. Os significados correspondem ao conceito, ou seja, são a parte inteligível do signo.
Qual a Relação Entre Língua, Signos Linguísticos e Massa Falante?
Saussure compara a língua a um dicionário, cujos exemplares tivessem sido distribuídos entre todos os membros de uma sociedade. Esse dicionário que é a língua existe no cérebro dos indivíduos como a soma de sinais todos idênticos. Ele é imposto como um código ao qual se deve obrigatoriamente seguir. Por apresentar esse aspecto social, a língua e, por consequência, os signos linguísticos, só existem na massa: o aspecto social, ao lado da homogeneidade, é o responsável pela manutenção do sistema da língua.
“Trata-se de um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros dum conjunto de indivíduos, pois a língua não está completa em nenhum, e só na massa ela existe de modo completo.” (CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL, p. 21).
“Ela [a língua] é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade.” (CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL, p. 22).
Ainda que os signos sejam arbitrários, já vimos que não podemos utilizá-los da forma como quisermos. Reflita sobre esse fato a partir desse primeiro trecho do livro Marcelo, martelo, marmelo, de Ruth Rocha (p. 14-15) e observe que, na tentativa de renomear os objetos, Marcelo, na verdade, retrabalha significados já conhecidos.
Logo de manhã, Marcelo começou a falar sua nova língua:
- Mamãe, quer me passar o mexedor ?
- Mexedor? O que é isso?
- Mexedorzinho, de mexer café.
- Ah, colherinha , você quer dizer.
- Papai , me dá o suco de vaca ?
- Que é isso, menino?
- Suco de vaca, ora! Que está no suco de vaqueira.
- Isso é leite, Marcelo; quem é que entende esse menino ?
O pai de Marcelo resolveu conversar com ele:
- Marcelo , todas as coisas têm um nome. E todo o mundo tem que chamar 
pelo mesmo nome, porque senão ninguém se entende...
- Não acho, papai. Por que é que eu não posso inventar o nome das coisas?
- (Marcelo) BIRIQUITOTE XEFRA!
- Deixe de dizer bobagens, menino! Que coisa feia.
- Está vendo como você entendeu, papai ? Como é que você sabe que eu disse 
um nome feio?
E o pai de Marcelo suspirou:
- Vá brincar, filho, tenho muito o que fazer. 
(ROCHA, Ruth. Marcelo, martelo, marmelo e outras histórias. 2ª ed. São Paulo: Salamandra, 1999)
Leonor Scliar Cabral, em Introdução à linguística (1979), traz uma interessante consideração acerca do significado.
“Na verdade, o significado representa uma classe. Os vários significados se organizam num sistema, conforme a visão de mundo de uma dada comunidade linguística. [...] Só se pode ter acesso ao significado através do significante. Esse, por sua vez, só o é em relação ao significado, do contrário seria uma massa amorfa de sons, como quando escutamos uma fala em língua desconhecida. Portanto, significante e significado são solidários na constituição do signo linguístico.
A atualização do significado ocorre no ato da fala, quando, através de processos linguísticos e extralinguísticos se transmitem experiências particulares. O significado do signo linguístico não se deve confundir, pois, com a interpretação do texto, quando emissor e receptor, cercados por uma situação, emitem mensagens.
Assim, se uma pessoa diz para outra: “Ontem tive um dia bom”, essa mensagem denota, exatamente a data, e, para o emissor, “bom”, adquire valores dentro dos gostos individuais dessa pessoa.” (CABRAL, 1979, p. 29-30).
Primeira Característica do Signo Linguístico: Arbitrariedade
Arbitrariedade: Para Saussure, o signo linguístico possui duas características: arbitrariedade e linearidade, Nesta aula, trataremos apenas da arbitrariedade, ficando a linearidade para a próxima.
O que significa arbitrário, para saussure?
O uso da palavra arbitrário possui dois significados: 
1) não há relação entre significante e significado;
2) o signo é imotivado.
“A palavra arbitrário requer também uma observação. Não deve dar a ideia de que o significado dependa da livre escolha do que fala [...] queremos dizer que o significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade.” (CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL, p. 83).
Chamamos essa planta de ‘flor’, mas poderíamos chamar de ‘árvore’, ‘mar’, ‘chinelo’ ou utilizar outro nome qualquer. Isso porque não há nada na flor que nos obrigue a chamá-la dessa forma.  
“[...] a ideia de “mar” não está ligada por relação alguma interior à sequência de sons m-a-r que lhe serve de significante: poderia ser representada igualmente bem por outra sequência, não importa qual [...]” (CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL, p. 82).
A diferença que existe entre as línguas justifica o caráter arbitrário do signo. Em cada língua há significantes diferentes para representar um mesmo conceito comum a todas: cadeira, chair, etc.
A língua é uma instituição social: compartilhamos um sistema lingüístico com os membros da comunidade à qual pertencemos. Além disso, o fato de haver signos diferentes para os mesmos objetos é mais uma prova de que o signo lingüístico é arbitrário.
Arbitrariedade e Convenção
Não podemos nos esquecer de que o signo linguístico é uma convenção social. Por isso, ainda que o signo linguístico seja arbitrário e não haja relação entre significante e significado, não podemos utilizá-los da forma que desejarmos.
O princípio da arbitrariedade parte da ideia de que não há uma razão natural para se unir determinado conceito à determinada sequência fônica, por isso, qualquersequência fônica poderia se associar a qualquer conceito e vice-versa, desde que fosse consagrado pela comunidade linguística.
Para continuar refletindo sobre a arbitrariedade do signo, temos outro trecho do livro Marcelo, martelo, marmelo, de Ruth Rocha. Vejamos o que acontece quando alteramos a natureza do signo. Será que conseguiremos nos comunicar?
Uma vez Marcelo cismou com o nome das coisas:
- Mamãe, por que é que eu me chamo Marcelo?
- Ora, Marcelo, foi o nome que eu e seu pai escolhemos.
- E por que é que não escolheram martelo?
- Ah meu filho, martelo não é nome de gente, é nome da ferramenta...
- E por que é que não escolheram marmelo?
- Porque marmelo é nome de fruta, menino!
- E a fruta não podia chamar Marcelo, e eu chamar marmelo?
[...]
Mas Marcelo continuava não entendendo a história dos nomes. E resolveu 
continuar a falar a sua moda. 
[...]
Quando vinham visitas, era um caso sério. Marcelo só cumprimentava dizendo:
- Bom solário, bom lunário... – que era como ele chamava o dia e a noite. E os pais de Marcelo morriam de vergonha das visitas. Até que um dia...
O cachorro de Marcelo, o Godofredo, tinha uma linda casinha de madeira, que 
seu João tinha feito para ele. E Marcelo só chamava a casinha de moradeira, e o cachorro de Latildo.
E aconteceu que a casa do Godofredo pegou fogo. 
Alguém jogou uma ponta de cigarro pela grade, e foi aquele desastre!
Marcelo entrou em casa, correndo:
- Papai, papai, embrasou a moradeira do Latildo!
- O que, menino? Não estou en
tendendo nada!
- A moradeira, papai, embrasou...
- Eu não sei o que é isso, Marcelo. Fala direito!
- Embrasou tudo, papai, está uma branqueira danada!
Seu João percebia a aflição do filho, mas não entendia nada...
Quando seu João chegou a entender do que Marcelo estava falando, já era tarde.
A casinha estava toda queimada. Era um montão de brasas.
O Godofredo gania baixinho...
E o Marcelo, desapontadíssimo, disse para o pai:
- Gente grande não entende nada de nada, mesmo! (pp. 8-23)
(ROCHA, Ruth. Marcelo, martelo, marmelo e outras histórias. 2ª ed. São Paulo: Salamandra, 1999.)
AULA 7 – A TEORIA DO SIGNO LINGUÍSTICO
O Arbitrário Absoluto e o Arbitrário Relativo
Em nossa aula 6, vimos que Saussure estabelece o princípio da arbitrariedade com uma das características do signo linguístico. Mesmo considerando que o signo linguístico é arbitrário, Saussure considerou a existência do arbitrário absoluto e do arbitrário relativo.
“O princípio fundamental da arbitrariedade do signo não impede distinguir, em cada língua, o que é radicalmente arbitrário, vale dizer, imotivado, daquilo que só o é relativamente. Apenas uma parte dos signos é absolutamente arbitrária; em outras, intervém um fenômeno que permite reconhecer graus no arbitrário sem suprimi-lo:  o signo pode ser relativamente motivado.
Assim, vinte é imotivado, mas dezenove não o é no mesmo grau, porque evoca os termos dos quais se compõe e outros que lhe estão associados, por exemplo, dez, nove, vinte e nove, dezoito, setenta etc. O mesmo acontece com ‘pereira’ que lembra a palavra simples ‘pera’ e cujo sufixo ‘-eira’ faz pensar em cerejeira, macieira etc., nada de semelhante ocorre com freixo, eucalipto etc.
[...] 
Não existe língua em que nada seja motivado; quanto a conceber uma em que tudo o fosse, isso seria impossível por definição. [...] Os diversos idiomas encerram sempre elementos das duas ordens – radicalmente arbitrários e relativamente motivados [...]”(CLG, 1995, p. 152-154, grifos do autor)
A palavra ‘flor’ seria um exemplo do que ele chamava de ‘arbitrário absoluto’: seria o signo arbitrário, imotivado.
No entanto, palavras como ‘florista’ e ‘floreira’ seriam parcialmente motivadas, já que nelas podemos perceber a palavra ‘flor’. Assim, elas seriam exemplos daquilo que Saussure chamou de ‘arbitrário relativo’.
Atividade
Signo: combinação arbitrária de um significante e de um significado
Significante: imagem acústica, representação sonora
Significado: imagem psíquica, conceito ou representação mental.
Arbitrário absoluto: dez
Arbitrário relativo: dezenove
Discutindo a Arbitrariedade do Signo: Onomatopeia e Exclamações
Saussure afirma que o signo linguístico é arbitrário, mas será que todos concordam?
Não. Aqueles que discordam da tese da arbitrariedade do signo apoiam-se na existência de duas estruturas na língua, imitativas de sons: as onomatopeias e as exclamações.
Onomatopeias: são a reprodução de um som, ou seja, são elementos da língua formados a partir de sons evocados. Será que elas não mostrariam um vínculo entre significante e significado? Não seriam as onomatopeias exemplos de palavras motivadas?
Para Saussure, é preciso observar que as onomatopeias variam de língua para língua. Isso acontece porque elas não são imitações fiéis de ruídos e sons naturais: quando aparecem em uma língua, sofrem evolução fônica.  
Exemplo: Voz do cão em português au au; em espanhol guau guau, em francês ouaoua; em alemão wauwau.
Embora Saussure reconheça que há onomatopeias autênticas, ainda assim, ele considera que elas não invalidam sua tese da arbitrariedade do signo. Vejamos o que ele nos diz: “Quanto às onomatopeias autênticas (aquelas do tipo glu-glu, tic-tac etc.), não apenas são pouco numerosas, mas sua escolha é já, em certa medida, arbitrária, pois que não passam de imitação aproximativa e já meio convencional de certos ruídos, compare-se o francês ouaoua e o alemão wauwau. Além disso, uma vez introduzidas na língua, elas se engrenam mais ou menos na evolução fonética, morfológica etc. que sofrem as outras palavras (cf. pigeon, do latim vulgar, pīpiō, derivado também de uma onomatopeia): prova evidente de que perderam algo de seu caráter primeiro para adquirir o do signo linguístico em geral, que é imotivado.” (CLG, 1995, 83).
Exclamações: também chamadas de interjeições, foram igualmente rejeitadas por Saussure. “As exclamações, bastante próximas das onomatopeias, dão lugar a observações análogas e não constituem maior ameaça para nossa tese. É-se tentado a ver nelas expressões espontâneas da realidade, como que ditadas pela natureza. Mas, para a maior parte delas, pode-se negar haja um vínculo necessário entre o significado e o significante. Basta comparar duas línguas sob esse aspecto para ver o quanto tais expressões variam de uma para outra língua (por exemplo, ao francês aie! corresponde em alemão au! e em português ai!). Sabe-se também que muitas exclamações começaram por ser uma palavra com sentido determinado (cf. diabo!; ou em francês mordieu=mort Dieu etc.)” (CLG, 1995, 84).
Exemplo:
Francês aie!
Alemão au!
Português ai!
Segunda Característica do Signo Linguístico: Linearidade
Em nossa aula 6, tratamos da primeira característica do signo linguístico: a arbitrariedade. Agora, vamos tratar da segunda característica dos signos linguísticos estabelecida por Saussure: a linearidade.
Segundo Saussure, o significante possui uma natureza auditiva e representa uma extensão que somente pode ser medida em uma linha. Saussure reforça que a linearidade é dos significantes já que o significado é a representação mental ou conceito, a parte abstrata da palavra.
“Por oposição aos significantes visuais (sinais marítimos etc.), que podem oferecer complicações simultâneas em várias dimensões, os significantes acústicos dispõem apenas da linha do tempo; seus elementos se apresentam um após outro; formam uma cadeia. Esse caráter aparece imediatamente quando os representamos pela escrita e substituímos a sucessão do tempo pela linha espacial dos signos gráficos.” (CLG, 1995, 84)
Não podemos emitir dois fonemas simultaneamente: a linearidade é uma característica das línguas naturais, pois os signos apresentam-se uns após os outros numa sucessão temporal ou espacial.  Não podemos superpor os sons: só se pode produzir um som após o outro; uma palavra depois da outra; uma frase depois da outra. Vejamos o que acontece em

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