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Aula 1, linguística: o estudo científico da linguagem Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Identificar a Linguística como o estudo científico da linguagem verbal humana; 2. reconhecer a diferença entre Linguística, Gramática Tradicional e Gramática Normativa; 3. conhecer os estudos linguísticos que antecederam Ferdinand de Saussure. Para começar nossa aula, vamos descobrir... O que é linguística? Linguística é a ciência que investiga os fenômenos relacionados à linguagem verbal humana que busca determinar os princípios e as características que regulam as estruturas das línguas. O que é linguagem? É todo o sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de comunicação. Quando pensamos na linguagem humana temos dois tipos de linguagem: linguagem verbal é uma forma de linguagem em que os sinais utilizados para atos de comunicação são as palavras. Linguagem não verbal é uma forma de linguagem que utiliza para atos de comunicação outros sinais que não as palavras. Três tipos de profissionais e como trabalham com a linguagem: O Filólogo. Segundo Câmara Jr., em seu Dicionário de Linguística e Gramática (1986) a filologia hoje, designa, estritamente, o estudo da língua na literatura distinto, portanto da linguística. O linguista. Estuda a linguagem humana, sem prescrever normas ou definir padrões em termos de julgamento de correto-incorreto, pode documentar uma língua tal como ela se manifesta no momento da descrição (sociolinguística) estudar o processamento da linguagem (psicolinguística e neurolinguística) e observar a relação entre línguas e cultura (etnolinguística) etc. O gramático. Elabora o conjunto de regras do que se considera o uso correto da língua, essas regras são codificadas em um livro chamado gramática normativa e esse olhar prescrito começou com os gregos e sua gramática tradicional. Um exemplo. Como fica o uso das formas ‘nós’ e ‘a gente’ sob a ótica da Linguística e da Gramática Normativa? Para a Linguística, as duas formas pertencem à Língua Portuguesa, já que são facilmente encontradas tanto na fala quanto na escrita dos indivíduos. A questão é que a Gramática Normativa não aceita o uso da forma ‘a gente’ em ambiente de mais formalidade, conforme Bechara (1999). "O substantivo gente, precedido do artigo 'a' e em referência a um grupo de pessoas em que se inclui a que fala, ou a esta sozinha, passa a pronome e se emprega fora de lugares cerimoniosos. Em ambos os casos, o verbo fica na 3ª pessoa do singular." (p.166) O que é a gramática tradicional? É a teoria linguística ocidental, iniciada pelos gregos em Alexandria, no século III a.c. com o objetivo de preservar a pureza da língua grega. Um dos nomes mais famosos é Dionísio da Trácia. A gramática tradicional e sua derivada a gramática normativa, são doutrinas e não ciência: estabelecem o que é certo e o que é errado a partir de um ponto de vista. Gramática tradicional e normativa não são a mesma coisa, a gramática normativa é a gramática de uma língua codificada sob a forma de um livro que estabelece as regras e normas do que é considerado a forma correta em relação a escrita e a fala. Também é chamada de gramática prescritiva já que ela prescreve esse conjunto de normas. Considera-se que a Linguística, da forma como a conhecemos, começa com a publicação do Curso de Linguístico Geral, do suíço Ferdinand de Saussure. Ferdinand de Saussure, mestre da Universidade de Genebra, é considerado o pai da Linguística Moderna. O Curso de Linguística Geral, publicado em 1916, sob o qual se construiu todo o edifício da Linguística Moderna, resulta de anotações de aulas reunidas e publicadas por dois de seus alunos: Albert Sechehaye e Charles Bally. Desde a antiguidade, os homens estudavam as línguas. No período conhecido como PRÉ-LINGUÍSTICA, segundo Câmara Jr. (1986), houve os seguintes estudos: A linguística surgiu com a publicação do curso de linguística geral do suíço Ferdinand de Saussure. O que havia antes do livro de Saussure? No período conhecido como pré-linguística houve os seguintes estudos: 1- Estudo do certo e do errado: nesse tipo de estudo, não há uma visão científica da linguagem já que a preocupação maior é estabelecer a diferença do que é considerado certo e o que é considerado errado. O modo de falar das classes superiores é considerado correto e há preocupação em se passar esse modo de uma geração para outra. 2- Estudo de língua estrangeira: através do contato entre comunidades com línguas diferentes, tem–se um estudo com a comparação entre diferentes sistemas linguísticos. 3- Estudo filológico da linguagem: busca compreender textos antigos, comparando-se textos do presente com textos do passado, através da literatura. Este estudo ainda não é considerado ciência, pois não há busca por explicações. Após a pré-linguística, temos o período conhecido como paralinguística e que é representado por estudos que não entraram no domínio da linguagem. Nesse período aconteceram: 4- O estudo lógico da linguagem: estudo que mesclou Filosofia e Linguística e que buscou descobrir a relação entre pensamento e linguagem. 5- O estudo biológico da linguagem: encara-se a linguagem como inerente ao ser humano e dependente de aspectos biológicos do corpo humano. Estudavam-se as características que permitem o homem a falar. O período LINGUÍSTICO começa antes da publicação do Curso de Linguística Geral. É preciso que se compreenda que Saussure não foi o "inventor" da Linguística, e sim o responsável pela mudança no foco dos estudos linguísticos. No início do século XIX, há o início dos estudos históricos que podem ser considerados 'linguísticos'. Veja alguns fatos que antecedem essas pesquisas. Descoberta do sânscrito – embora já se conhecessem alguns aspectos da gramática do sânscrito, a conquista da Índia, pelos ingleses, no século XVIII, possibilitou o acesso a textos que facilitaram os estudos comparativos. No século XIX, publica-se a primeira gramática de sânscrito em inglês: Gramática de Pāṇini, Ashtādhyāyi ("oito livros") escrita entre 600 e 300 a. C. O objetivo dessa gramática era preservar a ação do tempo em textos religiosos transmitidos oralmente desde 1200 a.C. Os gramáticos hindus mostravam conhecimento sobre a língua, já que se preocupavam com a natureza semântica da palavra e da frase, a arbitrariedade entre forma e significado, a variabilidade e extensibilidade do significado das palavras. A fonética hindu estudava processos de articulação, os segmentos (vogais e consoantes) e as estruturas fonológicas. A partir da descoberta do sânscrito, surge o interesse em identificar as famílias de línguas, tenta-se mostrar que a mudança linguística é um processo: a) Regular: princípio de regularidade das mudanças; b) Universal: todas as línguas evoluem; c) Constante: qualquer língua está em evolução continua. A GRAMÁTICA COMPARADA No século XIX, surge a preocupação com o caráter histórico da língua porque, nos séculos anteriores, os estudiosos conhecem outras línguas, como as da América, da África, semíticas, entre outras. Isso, aliado ao fato de se trabalhar com a gramática do sânscrito, possibilitou o desenvolvimento do método comparativo, ou seja, o estudo do parentesco linguístico. Os estudos comparativos trouxeram a compreensão de que as línguas mudam com o passar do tempo, ao mesmo tempo em que essa observação foi feita através da análise de dados. Assim, tem-se um trabalho realizado através de investigações científicas. Rasmus Rask (1787-1832), Jakob Grimm (1787-1863), Franz Bopp (1791-1867) são considerados os fundadores da linguística histórica científica. Rasmus Rask Foi o primeiro a obter sucesso nas técnicas de comparação histórica entre a língua com o livro Investigação, no qual estudou o escandinavoantigo. No entanto, como seu livro foi escrito em dinamarquês, língua pouco conhecida, Franz Bopp é considerado o fundador da Ciência Histórico-Comparativa da Linguagem. (CÂMARAJr., 1990, p.31) Franz Bopp → em 1816, chamou a atenção para as relações morfológicas entre o sânscrito, o latim, o grego, o persa e o germânico, em sua obra sobre o sistema de conjugação da língua sânscrita, em comparação com a do grego, latim, persa e germânico. Jakob Grimm → as investigações de Rask foram retomadas pelo linguista alemão Jacob Grimm, que publicou um tratado em quatro volumes (1819-1822) intitulado Deutsch Grammatik ("Gramática Alemã"). Nesse monumental trabalho, Grimm discute as alternâncias vocálicas do indo-europeu e contribuiu para o estabelecimento de certas correspondências fonéticas entre o sânscrito, o grego, o latim e o germânico. Devido à regularidade dessas mudanças, esse fenômeno ficou conhecido como a "Lei de Grimm". • próxima aula: Conhecerá melhor as ideias de Saussure e será apresentado a uma distinção essencial aos estudos linguísticos sob sua ótica: a distinção língua e fala. ◘ Síntese da aula Nessa aula você: • Conheceu a Linguística, o estudo científico da linguagem, iniciado após a publicação do livro Curso de Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure; • Aprendeu também que, antes dele, havia estudos sobre as línguas, alguns, inclusive, já considerados estudos linguísticos; • Aprendeu também que, enquanto a Gramática Normativa apresenta um olhar sobre a língua que visa estabelecer noções de certo e errado, a Linguística descreve os usos da língua sem estabelecer juízos de valor. AULA 02 – AS NOÇÕES DE LÍNGUA E FALA Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Identificar a contribuição de Ferdinand de Saussure no estabelecimento da Linguística no século XX; 2. Definir língua e fala de acordo com a ótica saussuriana; 3. Compreender a relação de interdependência entre língua e fala. O Capítulo III do livro Curso de Linguística Geral (CLG) tem por objetivo fixar o verdadeiro objeto da Linguística. Como Saussure faz isso? “A Linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro” (CLG, 16) Para Saussure, a distinção entre linguagem, língua e fala é essencial para que se defina o verdadeiro objeto de estudo da linguística: a língua. Por que? “Enquanto a linguagem é heterogenia, a língua, assim delimitada é de natureza homogenia, constitui-se num sistema de signos” (CLG, p23) A noção de língua como sistema é considerado, por muitos estudiosos, o mais importante conceito Saussuriano. A língua é o objeto de estudo da linguística, pois a linguística como ciência só pode estudar quilo que é recorrente, constante e sistemático. “A língua é um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. ” (CLG, p.17) Por que “faculdade da linguagem”? Você saberia responder? Saussure afirma que no conjunto ao qual corresponde a linguagem podemos localizar a língua. No CLG (p.19), ele postula que duas pessoas estão conversando e que no cérebro de cada uma delas há um conjunto de signos linguísticos armazenados. Assim, temos um processo psíquico, seguido de um processo fisiológico: “[...] o cérebro transmite aos órgãos da fonação um impulso correlativo da imagem; depois, as ondas sonoras se propagam da boca de A até o ouvido de B: processo puramente físico. Em seguida o processo se prolonga em B numa ordem inversa: do ouvido ao cérebro, transmissão fisiológica da imagem acústica [...]”. Por apresentar esse aspecto social mencionado, a língua só existe na massa. Esse aspecto social, ao lado da homogeneidade, é o responsável pela manutenção do sistema da língua. Você saberia dizer qual a relação entre... LÍNGUA e a MASSA FALANTE? “Trata-se de um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros dum conjunto de indivíduos, pois a língua não está completa em nenhum, e só na massa ela existe de modo completo. ” (CLG, p. 21) Saussure compara a língua a um DICIONÁRIO, cujos exemplares tivessem sido distribuídos entre todos os membros de uma sociedade. Esse dicionário, que é a língua, existe no cérebro dos indivíduos como a soma de sinais todos idênticos. Ele é imposto como um código ao qual se deve obrigatoriamente seguir. Isso significa que a língua é uma instituição social: compartilhamos um sistema linguístico, mas não podemos utilizá-lo da forma como quisermos. Discutiremos melhor essa questão em nossa próxima aula, quando trataremos do signo linguístico. A língua é uma instituição social: compartilhamos um sistema linguístico, mas não podemos utilizá-lo da forma como quisermos. Leia o trecho do livro Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias, de Ruth Rocha (p.14-15). “Logo de manhã, Marcelo começou a falar sua nova língua: - Mamãe, quer me passar o mexedor? - Mexedor? O que é isso? - Mexedorzinho, de mexer café. - Ah, colherinha, você quer dizer. - Papai, me dá o suco de vaca? - Que é isso, menino? - Suco de vaca, ora! Que está no suco de vaqueira. - Isso é leite, Marcelo; quem é que entende esse menino? O pai de Marcelo resolveu conversar com ele: - Marcelo, todas as coisas têm um nome. E todo o mundo tem que chamar pelo mesmo nome, porque senão ninguém se entende... - Não acho, papai. Por que é que eu não posso inventar o nome das coisas? - (Marcelo) BIRIQUITOTE XEFRA ! - Deixe de dizer bobagens, menino! Que coisa feia. - Está vendo como você entendeu, papai ? Como é que você sabe que eu disse um nome feio? E o pai de Marcelo suspirou: - Vá brincar, filho, tenho muito o que fazer. ” (ROCHA, Ruth. Marcelo, martelo, marmelo e outras histórias. 2ª ed. São Paulo: Salamandra, 1999). E como fica a fala? “A fala é, ao contrário, um ato individual de vontade e de inteligência [...]” (CLG, 22). Por ser “individual”, Saussure considera que ela é heterogênea. Possui caráter privado: pertence ao indivíduo que a utiliza. Pessoas que falam a mesma língua conseguem se comunicar porque, apesar das diferentes falas, há o uso da mesma língua. A heterogeneidade característica da fala não se presta a um estudo sistemático. A heterogeneidade característica da fala não significa que as pessoas falem de forma tão diferente a ponto de não conseguirem se comunicar e sim que temos liberdade de escolha entre as estruturas da língua. É como se a língua equivalesse a roupas guardadas em gavetas e pudéssemos abri-la e escolher a que quiséssemos usar. Nomes: Maria, menina, Carlos. Verbos: Querer, ler, comprar, rasgar. Determinantes: Esse, aquele, um, o. Substantivos: Livro, carro, papel. Agora com todas as informações que viu, você montará três frases utilizando as palavras disponíveis em cada gaveta. Escolha uma palavra em cada gaveta e monte as sentenças. Lembre-se que você pode selecionar apenas uma palavra em cada gaveta para cada frase, ou seja, cada frase deve ter um nome, um verbo, um determinante e um substantivo. Monte agora suas sentenças e em seguida clique em conferir para visualizar algumas frases que podem ser montadas com essas palavras. 1. A menina quer esse livro. 2. Ana comprou aquele carro. 3. Carlos rasgou o papel. Os fatos da língua e os fatos da fala Saussure separa os fatos da língua dos fatos da fala: os fatos da língua dizem respeito à estrutura do sistema linguístico e os fatos da fala dizem respeito ao uso desse sistema. Apesar de língua e fala serem estudadas separadamente, elas são interdependentes: “A língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta é necessária para que a língua seestabeleça [...]”. (CLG, p. 27) Você sabe como se comunicar pela língua de sinais? Gostaria de tentar? Escreva no campo correspondente o que você pensa ser o significado de cada gesto e em seguida clique na seta para ver a resposta. Uma dica: todos os sinais correspondem a consoantes. É a fala que faz evoluir a língua. Um sistema linguístico que não é mais falado e que não sofre modificações não evolui. Também não conseguimos nos comunicar sem um sistema linguístico: se porventura ele não existe, podemos criá-lo para atender a uma determinada necessidade, como é o caso da Libras. Língua e fala são interdependentes: a língua é instrumento da fala (sem a língua o indivíduo não pode se comunicar) e é produto da fala (é através das mudanças ocorridas na fala dos indivíduos que a língua se comunica). A fala é necessária para que a língua se estabeleça. Voltando à consideração de Saussure sobre a língua como sistema... “A língua é uma Forma e não uma Substância”. (CLG, p. 141) O sistema é superior ao indivíduo (supra individual) e todo elemento linguístico deve ser estudado a partir de suas relações com outros elementos do sistema e de acordo com sua função. Por que a língua é a forma? “Forma” para Saussure significa “essência” (= sistema e estrutura). A forma é constituída pela teia de relações entre os elementos da língua, enquanto que a substância é constituída pelos elementos dessa teia. Observe um exemplo retirado da linguagem coloquial: a) “ As menina é bonita”. Podemos produzir uma sentença como essa, pois ela apresenta alterações na substância, mas não na forma, já que é fundamental para o funcionamento do sistema linguístico. b) Bonita é menina as. Essa sentença não deveria ser produzida porque apresenta problemas na forma, que é a essência do funcionamento do sistema linguístico. No material do aluno, no capítulo “Língua/Fala”, de Castelar de Carvalho, há um interessante exemplo retirado de Saussure: a metáfora do jogo de xadrez. Leia-o e veja como ele é interessante! Em 1929, o linguista romeno Eugênio Coseriu acrescentou o conceito de norma e reformulou a relação estabelecida por Saussure entre língua e fala. Entretanto, antes de ver esse comentário conheça um pouco sobre a vida desse linguista. Eugênio Coseriu nasceu em 27 de julho de 1921 em Mihăileni, Rîşcani, uma pequena cidade romena que hoje é localizada na República da Moldávia. Ele frequentou a escola secundária em Bălţi, na qual Vadim Pirogan e Sergiu Grossu foram seus colegas. Após seus estudos na Universidade de Lasi, continuou a estudar em Roma. Eugenio Coseriu atuou na Universidade da República, no Uruguai, como professor Geral e Linguística Indo-europeia e depois na Universidade de Tübingen, Alemanha. Faleceu em - 07 de setembro de 2002, em Tübingen. Eugenio Coseriu e a crítica à dicotomia língua/fala Em 1929, o linguista romeno Eugênio Coseriu acrescenta o conceito de norma e reformula a relação estabelecida por Saussure entre língua e fala. Segundo ele, as variantes linguísticas fazem parte do sistema da língua e, por isso, ele substitui ‘língua’ por ‘sistema’. Entre o sistema, abstrato, e a fala, uso concreto, haveria a norma, um nível intermediário, um conjunto de realizações consagradas pelo uso. Coseriu1 (apud Carvalho, 2001) disse: “[...] a norma é o como se diz e não o como se deve dizer. Castelar de Carvalho também afirma que “A norma seria assim um primeiro grau de abstração da fala. Considerando-se a língua (o sistema) um conjunto de possibilidades abstratas, a norma seria então um conjunto de realizações concretas e de caráter coletivo da língua. ” (CARVALHO, 2001, p. 49-64). Saiba mais No Rio de Janeiro, a norma estabelece que chamemos de “aipim” ao mesmo elemento chamado de “macaxeira” em outros estados. O sistema da língua portuguesa é o mesmo: uma pessoa no Rio “Eu gosto muito de aipim” e uma pessoa de outro estado poderia dizer “Eu gosto muito de macaxeira” mas ambas não utilizariam “Aipim gosto muito de eu” ou “Macaxeira gosto muito de eu”. Próxima Aula A teoria do signo linguístico, desenvolvida por Saussure. Síntese da aula Nessa aula você: Estudou uma das dicotomias de Saussure, língua e fala; identificou a diferença entre linguagem, língua e fala; aprendeu que, para Saussure, a língua é o verdadeiro objeto de estudo da Linguística; reconheceu as características da língua e da fala. 1 COSERIU, Eugenio. AULA 03 – A TEORIA DO SIGNO LINGUÍSTICO Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Identificar as partes que compõem o signo linguístico; 2. reconhecer as características do signo linguístico: linearidade e arbitrariedade; 3. discutir a mutabilidade e a imutabilidade do signo linguístico; 4. distinguir arbitrário absoluto e arbitrário relativo. Muito bem! Continuando nossos estudos das ideias de Saussure, temos a teoria do signo linguístico. Na aula passada, vimos que Saussure afirma que a língua é “[...] um sistema de signos que exprimem ideias [...]”. Esses signos a que ele se refere são os signos linguísticos. Como Saussure define esses ‘signos linguísticos’? O signo linguístico para Saussure é a combinação de um conceito – o significado – a uma marca psíquica1 do som – o significante. “O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão (empreinte) psíquica desse som [...] tal imagem é sensorial [...]”. (CLG, p.80) Saussure considerava que o signo linguístico é uma entidade psíquica de duas faces, representada no CLG (p. 80) conforme a proposta a seguir: Conceito – imagem acústica (Desenho de uma flor) – flor CARACTERÍSTICAS DO SIGNO LINGUÍSTICO ARBITRARIEDADE. Saussure estabelece que uma das características do signo linguístico é o fato de ele ser arbitrário. Essa característica nos explica por que Saussure escolheu ‘signo’ e não ‘símbolo’. “O símbolo tem como característica não ser jamais completamente arbitrário; ele não está vazio, existe um rudimento de vínculo natural entre o significante e o significado. O símbolo da justiça, a balança, não poderia ser substituído por um objeto qualquer, um carro, por exemplo. ” (CLG, p. 82) O que Saussure quis dizer quando falou que o signo linguístico é arbitrário? “A palavra ‘arbitrário’ requer também uma observação. Não deve dar a ideia de que o significado dependa da livre escolha do que fala [...] queremos dizer que o significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade. ” (CLG, p. 83) Veja este desenho: Chamamos essa planta de ‘Flor’, mas poderíamos chamar de ‘árvore’, ‘mar’, ‘chinelo’ ou utilizar outro nome qualquer. Isso porque não há nada na flor que nos obrigue a chamá-la dessa forma. 1 Apenas referente ao que diz respeito ao cérebro e a sua ampla funcionalidade coordenadora do corpo e seus sentidos. A diferença que existe entre as línguas justifica o caráter arbitrário do signo. Em cada língua, há um significante diferente para representar um mesmo conceito comum a todas: cadeira, chair etc. Atenção - Não podemos esquecer que o signo linguístico é uma convenção social. Por isso, ainda que o signo linguístico seja arbitrário e não haja relação entre significante e significado, não podemos utilizá-los da forma que desejarmos. PRINCÍPIO DA ARBIETRARIEDADE O princípio da arbitrariedade parte da ideia de que não há uma razão natural para se unir determinado conceito a determinada sequência fônica, por isso, qualquer sequência fônica poderia se associar a qualquer conceito e vice-versa, desde que fosse consagrado pela comunidade linguística.Para que possamos observar a arbitrariedade do signo em nosso dia a dia, vamos ler um trecho do livro Marcelo, marmelo e martelo e outras histórias, de Ruth Rocha. Uma vez Marcelo cismou com o nome das coisas: - Mamãe, por que é que eu me chamo Marcelo? - Ora, Marcelo, foi o nome que eu e seu pai escolhemos. - E por que é que não escolheram martelo? - Ah meu filho, martelo não é nome de gente, é nome da ferramenta... - E por que é que não escolheram marmelo? - Porque marmelo é nome de fruta, menino! - E a fruta não podia chamar Marcelo, e eu chamar marmelo? [...] Mas Marcelo continuava não entendendo a história dos nomes. E resolveu continuar a falar a sua moda. [...] Quando vinham visitas, era um caso sério. Marcelo só cumprimentava dizendo: - Bom solário, bom lunário... – que era como ele chamava o dia e a noite. E os pais de Marcelo morriam de vergonha das visitas. Até que um dia... O cachorro de Marcelo, o Godofredo, tinha uma linda casinha de madeira, que seu João tinha feito para ele. E Marcelo só chamava a casinha de moradeira, e o cachorro de Latildo. E aconteceu que a casa do Godofredo pegou fogo. Alguém jogou uma ponta de cigarro pela grade, e foi aquele desastre! Marcelo entrou em casa, correndo: - Papai, papai, embrasou a moradeira do Latildo! - O que, menino? Não estou entendendo nada! - A moradeira, papai, embrasou... - Eu não sei o que é isso, Marcelo. Fala direito! - Embrasou tudo, papai, está uma branqueira danada! Seu João percebia a aflição do filho, mas não entendia nada... Quando seu João chegou a entender do que Marcelo estava falando, já era tarde. A casinha estava toda queimada. Era um montão de brasas. O Godofredo gania2 baixinho... E o Marcelo, desapontadíssimo, disse para o pai: - Gente grande não entende nada de nada, mesmo! (p. 8-23) O ARBITRÁRIO ABSOLUTO E O ARBITRÁRIO RELATIVO Mesmo considerando que o signo linguístico é arbitrário, Saussure considerou a existência do arbitrário absoluto e do arbitrário relativo: “[...] o signo pode ser relativamente motivado, ” (CLG, p. 152). A palavra ‘flor’ seria um exemplo do que ele chamava de ‘arbitrário absoluto’: seria o signo arbitrário, imotivado. No entanto, palavras como ‘florista’ e ‘floreira’ seriam parcialmente motivadas, 2 Flexão de ganir; Que gemia, uivava, emitia sons parecidos com os dos cães. já que nelas podemos perceber a palavra ‘flor’. Assim, elas seriam exemplos daquilo que Saussure chamou de ‘arbitrário relativo’. Saussure afirma que o signo linguístico é arbitrário, mas será que todos concordam? Não. Aqueles que discordam do fato de o signo ser arbitrário apoiam-se na existência de duas estruturas na língua, imitativas de sons: as onomatopeias e as exclamações. a. Onomatopeias. As onomatopeias são a reprodução de um som com um fonema ou uma palavra, ou seja, são elementos da língua formados a partir de sons evocados. Será que elas não mostrariam um vínculo entre significante e significado? Não seriam elas exemplos de palavras motivadas? Para Saussure, é preciso observar que as onomatopeias variam de língua para língua. Isso acontece porque elas não são imitações fiéis de ruídos e sons naturais: quando aparecem em uma língua, sofrem evolução fônica. Ainda que Saussure reconheça que há onomatopeias autênticas, como tique-taque, ele as considera “[...] pouco numerosas, mas sua escolha é já, em certa medida, arbitrária, pois que não passam de imitação aproximativa e já meio convencional de certos ruídos [...]” (CLG, p. 83). b. Exclamações. Chamadas de interjeições, também foram rejeitadas por Saussure. Segundo ele, embora se tente enxergar nelas expressões espontâneas, temos diferenças de uma língua para outras. CARACTERÍSTICAS DO SIGNO LINGUÍSTICO: LINEARIDADE. Outra característica dos signos linguísticos é a linearidade dos significantes. Segundo Saussure, o significante possui uma natureza auditiva e representa uma extensão que somente pode ser medida em uma linha. Devemos reforçar que a linearidade é dos significantes já que o significado é a representação mental ou conceito, a parte abstrata da palavra. Não podemos emitir dois fonemas simultaneamente: a linearidade é uma característica das línguas naturais, pois os signos apresentam-se uns após os outros numa sucessão temporal ou espacial. Não podemos superpor os sons: só se pode produzir um som após o outro; uma palavra depois da outra; uma frase depois da outra. A Baposa e o Rode - Millôr Fernandes Por um asino do destar, uma rapiu caosa, certo dia, num pundo profoço, do quir não consegual saiu. Um rode, passi por alando, algois tum depempo e vosa a rapendo foi mordade pela curiosidido. "Comosa rapadre" -- perguntou -- "que ê que vocé esti faza aendo?". "Voção entê são nabe?" respondosa a mapreira rateu. "Vem aí a mais terrêca sível de tôda a histeste do nordória. Salti aquei no foço dêste pundo e guardarar a ei que brotágua sim pra mó. Mas, se vocér quisê, como e mau compedre, per me fazia companhode". Sem pensezes duas var, o bem saltode tambou no pundo do foço. A rapaente imediatamosa trepostas nas coulhes, apoifre num dos xides do bou-se e salfoço tora do fou, gritando: "Adrade, compeus". MORAL: Jamie confais em quá estade em dificuldém. FOPOS DE ESÁBULA (Uma tentativa B.N. (Bossa Nova) de escrever as fábulas de Esopo na linguagem do tempo em que os animais falavam). Se o signo linguístico pertence a toda a comunidade, como as línguas mudam? O indivíduo tem sua criatividade ‘freada’ pelo fato do signo linguístico ser imposto: ao usar a língua, o indivíduo quer comunicar suas ideias e, por isso, precisa utilizar o sistema da língua da mesma forma que os indivíduos que o cercam. O caráter essencial do signo reside justamente nessa imposição e nessa arbitrariedade: para que haja mudanças no sistema é preciso que toda a coletividade concorde. Desse modo, tem-se que é preciso a união dos fatores tempo / língua/ massa falante para que uma mudança seja efetuada no sistema. MUTABILIDADE Saussure afirmou que o tempo tanto assegura a continuidade da língua quanto atua na alteração dos signos linguísticos. Por mais que isso pareça contraditório, há uma verdade por trás dessa afirmação: “[...] a língua se transforma sem que os indivíduos possam transformá-la. ” (p. 89) “O tempo, que assegura a continuidade da língua, tem um outro efeito, em aparência contraditório com o primeiro: o de alterar mais ou menos rapidamente os signos linguísticos e, em certo sentido, pode-se falar, ao mesmo tempo de mutabilidade e de imutabilidade do signo.” (CLG, p. 89) O que Saussure quis dizer com essas palavras? Avance e veja. Sendo a língua um sistema, cujos signos são estabelecidos por convenção social, o vínculo associativo que une as duas faces do signo não é motivado, ou seja, não há um critério para se associar um significado a um significante na língua, por isso, o signo linguístico é arbitrário. Nesse sentido, arbitrariedade não significa liberdade para que o falante possa alterar o signo, pois este é convencional. E, exatamente por ser imutável, o signo é arbitrário; ele só se estabelece na língua quando consagrado por uma comunidade linguística. Assim, Saussure afirma que “Justamente porque é arbitrário, não conhece outra lei senão a da tradição, e é por basear-se na tradição que pode ser arbitrário”. Próxima aula • Os dois eixos da linguagem: o eixo das relações sintagmáticas e o eixo das relações paradigmáticas. Síntese da aula Nessa aula você: • Conheceu a teoria do signo linguístico proposta por Saussure; • Aprendeu que o signo linguístico é a união de um significante a um significado e que essa relação ocorre nas línguas de forma imposta; • Distinguiuas características do signo linguístico: arbitrariedade e linearidade; • Compreendeu que há dois níveis nessa arbitrariedade: o arbitrário absoluto e o arbitrário relativo. Aula 4: Os Dois Eixos da Linguagem: O Eixo Sintagmático e o Eixo Paradigmático Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Reconhecer que as unidades linguísticas se organizam em dois planos distintos: plano sintagmático e plano paradigmático; 2. Definir sintagma e paradigma sob a ótica saussuriana; 3. Distinguir sintagma e paradigma SINTAGMA E PARADIGMA Eixo sintagmático e paradigmático Eixo sintagmático. Quando pensamos na maneira como organizamos nossa fala, percebemos que temos possibilidades de combinações. É como se em nosso cérebro houvesse um enorme guarda-roupa todas as peças do nosso vestuário, há uma ordem para que nos arrumemos. As mulheres, por exemplo, não devem vestir a blusa primeiro e depois o sutiã, não é verdade? A língua funciona da mesma forma: há uma ordem para que organizemos nossa cadeia da fala. A, essa, aquela, isso, esse, um, uma etc. Menina, casa, garoto, cachorro, bola, maçã etc. Bonita, feia, azul, amarela, grande, manso etc. Cair, comprar, usar, comer, brincar etc. De, com, e, em, para etc. A menina é bonita. Aquela casa é grande. O cachorro é manso. Devido a essa característica em termos de organização linear, Saussure afirma que o eixo sintagmático se baseia no caráter linear do signo linguístico, “que exclui a possibilidade de (se) pronunciar dois elementos ao mesmo tempo”. Segundo Saussure, a língua é formada de elementos que se sucedem um após o outro linearmente, isto “na cadeia da fala”. A relação entre esses elementos Saussure chama de sintagma: o sintagma se compõe sempre de duas ou mais unidades consecutivas. Atenção – As relações sintagmáticas se referem ás relações que unem as partes de um sintagma, bem como as que unem um sintagma a outro. Assim, podem ocorrer entre fonemas, entre determinante e nome, entre sujeito e predicado etc. as relações sintagmáticas estão ordenadas na língua, numa sucessão de elementos e número determinado; pertencem aos grupos de palavras e ocorrem numa série efetiva de dois ou mais elementos que compõe o sintagma. Carvalho (2000:87) afirma que, em um sintagma, cada termo tem sua oposição em relação ao que o precede e ao que o segue; os termos estão reunidos in praesentia. Um termo passa a ter valor em virtude do contraste que estabelece com aquele que o precede ou lhe sucede, “ou a ambos visto que um termo não pode aparecer ao mesmo tempo que o outro, devido ao seu caráter linear”. Ex.: hoje fez calor. Não podemos pronunciar ‘je’ antes de ‘ho’. Nem ho ao mesmo tempo que je etc. A relação associativa ocorre fora do plano sintagmático, na mente dos indivíduos onde opõe hoje a ontem, fez a fará; calor a frio. As relações associativas (=paradigmáticas) – Saussure chama de associativo, mas Hjelmslev (1968) batiza de ‘paradigmático’. Ex.: essa menina é bonita. O paradigma é o sistema: Uma reserva de termos virtuais que representam as possibilidades, no nível das seleções. O paradigma representa a potencialidade: todos os signos que o indivíduo conhece ficam armazenados para que ele faça a seleção e organize os sintagmas. Como exemplo de que cada elemento linguístico evoca no falante ou no ouvinte a imagem de outros elementos vejam como em um grupo como ensino, ensinar, ensinemos há o radical como elemento comum. Podemos agrupar, também, por sufixos como casamento, armamento, julgamento; por analogia de significados como ensino, instrução, aprendizagem, educação. No plano das associações, a relação dá-se in absentia, ou seja, associam-se na memória as unidades que tem algo de comum entre si (pelo sentido, pelo som). Castelar (2000:88) representa as relações sintagmáticas e paradigmáticas. Essas setas demonstram que a relação paradigmática, por operar com o material disponível na mente do falante, apresenta-se tracejada1, indicando as possibilidades de escolha. A relação sintagmática, por ser a realização concreta e por apresentar a relação dos elementos entre si, apresenta- se preenchida e com setas que indicam os elementos contraindo relação uns com os outros. Relações sintagmáticas da língua portuguesa. Saussure afirma que a noção de sintagma se aplica não só as palavras, mas aos grupos de palavras, ás unidades complexas de toda dimensão e toda espécie (palavras compostas, derivadas, membros de frase, frases inteiras). Sintagma fônico. Estabelece-se a partir da relação entre fonemas e pode ser fonêmico ou prosódico. Fonêmico – ocorre com grupos vocálicos (ditongos, tritongos), grupos consonantais e sílabas. Prosódico – um grupo acentual tônico ou átono, pode diferenciar dois signos como pública (adjetivo) e publica (verbo). Ex.: a relação contrastiva entre sílabas tônicas e átonas na cadeia sintagmática é que possibilita distinções do tipo: “a secretária secretaria a reunião”. Quando falamos, diferenciamos uma exclamação, uma afirmação ou uma interrogação pelo tom de voz ou entonação. Sintagma mórfico. Estabelece-se a partir da relação entre morfemas e pode ser lexical ou locucional. Lexical – quando um sintagma mórfico é lexical, temos a própria palavra, que tanto pode ser primitiva (laranja) quanto derivada (laranjeiras). Locucional – quando o sintagma mórfico é locucional está no nível intermediário entre o sintagma lexical e o sintático, conforme os exemplos assim que, tábua de passar, havia dito, etc. 1 Traçado, delineado.; Diz-se da linha não contínua, mas formada por pequenos traços, um em seguida ao outro. Sintagma mórfico. Estabelece-se a partir da relação entre morfemas e pode ser lexical ou locucional a) suboracional – estabelece-se a partir das relações de subordinação entre os diferentes sintagmas dentro da oração. Relação entre o verbo e seu complemento. As crianças comeram maçã. SV SN A casa necessita de reforma2. SV SP Relação entre o nome e seu complemento. Ana rasgou o vestido de noiva. SN SP b) oracional – é o período simples, formado por SN + SV. EX. Juliana abriu a porta. SN SV c) supraoracional – estabelece-se a partir da subordinação entre duas orações. Clique na caixa e veja os exemplos. (João conseguiu o emprego) (que queria). Podemos observar que, nos exemplos vistos na tela anterior, temos frases. Se vimos, antes, que a frase pertence à fala, como fica essa relação? Sobre essa relação... “ Poder-se-ia fazer aqui uma objeção. A frase é o tipo por excelência de sintagma. Mas ela pertence à fala e não a língua...; não se segue que o sintagma pertence a fala? Não pensamos assim. É próprio da fala a liberdade das combinações; cumpre, pois, perguntar, se todos os sintagmas são igualmente livres. ” FRASE A frase é o protótipo do sintagma, mas apesar de a frase pertencer ao âmbito da fala, o sintagma deve ser estudado na língua, já que a liberdade que os sintagmas possuem é ‘aparente’. Saussure chama a atenção para a estreita relação existente entre o sintagma e a fala, porque no domínio do sintagma não há limite categórico entre o fato de fala, que depende da liberdade individual. Desse modo, para Saussure, na maioria dos casos, torna-se difícil classificar um sintagma como pertencente a fala ou a língua, “porque ambos os fatores (social e individual) concorreram para produzi-lo e em proporções impossíveis de determinar”. Por que estudar os sintagmas na língua? 1) existem sintagmas que “são frases feitas”, já cristalizadas, verdadeiros clichês, “nas quais o uso proíbe qualquer modificação”.Não permitem a liberdade combinatória da fala. Em português, sevem como exemplo de frases feitas expressões do tipo: “ora essa!”. “ora bolas!”, “não diga!”, “pois é!”, “veja só!”, “e agora?”, “ dar com os burros n’agua”, “é isso aí” etc. 2 Sintagma preposicional 2) analogia e neologismos. Os sintagmas na fala são construídos a partir de formas regulares e que pertencem, por essa razão, a língua, pois, como adverte Saussure, “cumpre atribuir à língua e não a fala todos os tipos de sintagmas construídos sobre formas regulares”. Bem, agora que estamos no final, o que acha de analisar o contexto de uma maneira mais descontraída? Complete as lacunas arrastando as palavras corretas para dentro delas. Se uma palavra como imexível3 chegar a surgir na fala e atingir a língua, isto é, passar a fazer parte do sistema, tal fato ocorre baseado em outros modelos ou paradigmas já existentes no sistema, como ilegível, imperdível, irreversível, inadmissível etc. Em outras palavras, a potencialidade da língua, o paradigma, possibilita sua criação através do que Saussure chama de analogia, uma vez que essas formações são possíveis porque acionamos as palavras semelhantes que estão armazenadas em nosso paradigma. Próxima Aula • Como Saussure tratou a questão do tempo nos estudos linguísticos, rompendo com o modelo de análise dos estudos histórico-comparativos e estudando a língua de um ponto de vista sincrônico. Síntese da aula Nessa aula você: • Verificou que Saussure analisou as relações entre os termos da língua a partir de dois eixos: o eixo sintagmático e o eixo associativo; • Compreendeu que o eixo associativo foi chamado por Hjelmslev de ‘paradigmático’ e essa nomenclatura prevaleceu; • Compreendeu que o eixo sintagmático representa a combinação entre termos presentes, enquanto o eixo paradigmático representa a associação a termos ausentes; • Identificou que o sintagma e seus elementos possuem uma ordem e um número de elementos determinados; • Identificou o paradigma, por tratar de elementos associados na mente do falante, apresenta elementos indefinidos e sem ordem fixa. 3 algo que não se pode mexer, mudar, reformar, reformular. Aula 5: Os Pontos de Vista Sincrônico e Diacrônico nos Estudos Linguísticos Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Reconhecer a diferença entre a perspectiva sincrônica e a diacrônica nos estudos linguísticos; 2. Definir sincronia e diacronia sob a ótica saussuriana; 3. Compreender a contribuição de Saussure para o estabelecimento da teoria estruturalista. Como Saussure lidou com o fator tempo? Para ele, é importante que sejam distinguidos os eixos sobre os quais se situam os fatos que uma ciência estuda. SINCRONIA E DIACRONIA Assim, Saussure considera que se devam distinguir os fenômenos de duas maneiras: 1º do ponto de vista de sua configuração sobre o eixo AB das simultaneidades. Relações entre os fenômenos existentes ao mesmo tempo num determinado momento do sistema linguístico, que pode ser tanto no presente como no passado. 2º de acordo com a posição do fenômeno sobre o eixo CD das sucessividades. Relação entre um dado fenômeno e outros fenômenos anteriores ou posteriores, que o precederam ou lhe sucederam. Assim teríamos o eixo AB, no qual os fatos da língua são estudados nas relações que contraem, uns em relação aos outros, sincronicamente. No eixo CD, temos a interferência do fator tempo e o estudo da mudança linguística. Podemos perceber que as linhas se cruzam. Por que será? Isso ocorre porque num estado de língua, temos formas atuais e formas que vão caindo em desuso. Numa tentativa de distinguir fatos sincrônicos da língua de fatos diacrônicos, Saussure estabelece o ponto em que começam uns e terminam outros: “é sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa ciência, diacrônico tudo que diz respeito ás evoluções. Do mesmo modo, sincronia e diacronia designarão, respectivamente, um estado de língua e uma fase de evolução. ” (CLG, p.96) Saussure acreditava que havia duas linguísticas: a linguística evolutiva e a linguística estática. A Linguística sincrônica se ocupará das relações lógicas e psicológicas que unem os termos coexistentes e que formam sistema, tais como são percebidos pela consciência coletiva. A Linguística Diacrônica estudará ao contrário, as relações que unem termos sucessivos não percebidos por uma mesma consciência coletiva e que se substituem uns aos outros sem formar sistema entre si. Saussure priorizou os estudos sincrônicos, diferenciando-se dos estudos diacrônicos da Escola Comparativa – diacrônico é, desse modo, tudo que diz respeito as evoluções. Como vimos em nossa aula, antes de Saussure havia estudos histórico-comparativos: esses estudos reconstruíram o passado da língua. Curiosidade: Para Saussure, a prioridade deve ser para a pesquisa descritiva, ou seja, estudar a língua sincronicamente. Deixando de se preocupar com o processo pelo qual as línguas se modificam, para tentar saber o modo como elas funcionam, Saussure privilegiou o ponto de vista sincrônico. Método sincrônico – sobre os métodos de abordagem, temos que a sincronia opera a partir de uma única perspectiva: a dos falantes, consistindo o seu método em “observar-lhes o testemunho”. (CLG, 106) O objeto da sincronia é observar e descrever o funcionamento do sistema linguístico “num lapso de tempo suficientemente curto para, na prática, se poder considerar um ponto no eixo tempo”. Método diacrônico – as técnicas da linguística diacrônica distinguem duas perspectivas, segundo o caráter dos dados com que opera (CLG, 106): “uma prospectiva, que acompanhe o curso do tempo, e outra retrospectiva, que faça o mesmo em sentido contrário”. Método retrospectivo (mais conhecido como comparativo) – estuda estados de língua que tenham parentesco entre si tentando-se chegar (até onde seja possível) ao estado do último antepassado comum a todos os estados conhecidos. Método prospectivo – estuda e compara dois ou mais estados da mesma língua, cada um antepassado ou descendente do outro. Método usado principalmente em linguística histórica. Como a língua é um sistema de valores, seu estudo deveria partir da estrutura como se apresenta num estado momentâneo, a qual é a única perceptível pelos falantes, visto que os mesmos não percebem a sucessão de fatos linguísticos no tempo, que constituem a diacronia. PORQUE OPTAR PELO MÉTODO SINCRÔNICO? 1) o falante nativo não tem consciência da sucessão dos fatos da língua no tempo: ele pode utilizar a língua sem saber nada de sua história. O indivíduo que usa a língua como veículo de comunicação e interação social não percebe essa sucessão de fatos. O falante só percebe a língua que ele utiliza, ou seja, o estado sincrônico de língua porque a língua possui lógica interna. 2) língua como sistema de valores: o linguista só pode realizar a abordagem desse sistema, estudando, analisando e avaliando suas relações internas (sintagmáticas e paradigmáticas), isto é, estudando sua estrutura, sincronicamente. Como a língua é um sistema de valores, seu estudo deveria partir da estrutura como se apresenta num estado momentâneo, a qual é a única perceptível pelos falantes, visto que os mesmos não percebem a sucessão de fatos linguísticos no tempo, que constituem a diacronia. Jogo de xadrez e a sincronia A dicotomia sincronia x diacronia separa os fatores internos de um sistema dos fatores externos, histórico-culturais, que condicionam o sistema. Vejamos a metáfora do jogo de xadrez apresentada por Saussure. ‘Jogo de xadrez’ e o ‘jogo da língua’ Saussure afirma que cada posição dejogo corresponde a um estado de língua. O valor de cada peça depende da posição que ela ocupa no tabuleiro. Igualmente na língua, cada elemento tem seu valor determinado pela oposição e pelo contraste com os outros elementos. E esse valor é momentâneo, pois ele pode variar de um estado ao outro da língua. Assim como no jogo de xadrez, o deslocamento de uma peça não ocasiona mudança geral no sistema, as mudanças na língua aplicam-se a certos elementos, embora não se saiba quais efeitos serão causados sobre o restante do sistema. No entanto, o próprio Saussure enxerga uma falha na comparação. Saussure afirma que o jogador tem o poder de deslocar peças conscientemente e, dessa forma, agir intencionalmente sobre o sistema (jogo de xadrez), enquanto o falante nada premedita, não lhe é dado logicar [racionalizar], pois na língua “é espontânea e fortuitamente1 que suas peças se deslocam, ou melhor, se modificam” Diacronia se refere ás transformações, as mudanças ou as alterações sofridas pelos elementos do sistema linguístico ao longo de seu uso na língua; enquanto sincronia se refere a situação, ao estado em que os elementos se encontram em um dado momento (passado ou presente), independente dos fatos que os antecederam ou procederam no tempo. Diacronia Em português, diacronicamente, com- é um prefixo latino (em comedere). Sincronicamente, perdeu essa identidade primeira e é tratado como uma raiz semelhante a am- em amar. 1 Que ocorre por acaso. Romaria Romaria - significava originalmente "peregrinação a Roma para ver o Papa". Hoje - "peregrinação religiosa em geral". Como diz Saussure (p. 107). "tais verificações bastariam para fazer-nos compreender a necessidade de não confundir os dois pontos de vista". Sincronia e arbitrariedade do signo Porque a relação entre o significante e o significado é arbitrária, ela pode ser afetada pelo tempo. Se essa relação fosse natural e lógica, o signo linguístico teria condições de resistir a ação transformadora do tempo, mantendo-se imutáveis os seus dois constituintes. “Uma língua é radicalmente incapaz de se defender dos fatores que se deslocam, de minuto a minuto, a relação entre o significante e o significado” Portanto é exatamente por ser uma entidade eminentemente histórica que a língua exige prioritariamente, uma análise a-histórica, isto é, sincrônica. O estruturalismo linguístico Ainda que Saussure não tenha usado a palavra ‘estruturalismo’, deixou um importante estudo sobre o sistema da língua e sobre sua estrutura. A partir do conceito de sistema, Saussure propõe o estudo da língua em suas relações internas, observando-se a organização das unidades que compõem esse sistema e dos princípios e regulamentos que o regem. A obra de Saussure influenciou linguistas como Leonard Bloomfield, nos EUA, Louis Hjelmslev, na Escandinávia, e Antoine Meillet e Émile Benveniste que, na França, continuaram o trabalho de Saussure. Próxima Aula • Conheceremos Noam Chomsky e o Gerativismo; • Veremos uma outra corrente da Linguística que tem como objetivo investigar os aspectos biológicos da linguagem humana. Síntese da aula Nessa aula você: • Percebeu como Saussure introduziu o ponto de vista sincrônico, em detrimento dos estudos diacrônicos. 1.A diacronia: 1) É estática. 2) Interessa-se pelo sistema. 3) Trata de fatos sucessivos. 4) Descreve um determinado estado de uma língua. 5) Estuda o modo como a língua funciona. 2. A sincronia: 1) Pode ser prospectiva e retrospectiva. 2) Descreve um determinado estado de uma mesma língua. 3) Leva em conta o tempo. 4) Preocupa-se com a evolução. 5) Trata de fatos sucessivos. 3. Em relação à sincronia é INCORRETO afirmar que ela estuda: 1) Os fatos que atuam na língua de maneira sistemática e geral. 2) A língua sob a perspectiva daqueles que só conhecem essa última como uma realidade sistemática e funcional. 3) O modo como a língua funciona. 4) O processo de evolução da língua. 5) Um determinado estado de uma mesma língua. 4. Leia as afirmativas a seguir. I. A diacronia estuda os fatos linguísticos em suas transformações através dos tempos. II. A sincronia descreve estados de língua e suas relações internas. III. A sincronia estuda as relações entre fenômenos existentes ao mesmo tempo. 1) As alternativas I e II estão corretas. 2) Todas as alternativas estão corretas. 3) As alternativas I e III estão corretas. 4) Somente I está correta. 5) Somente III está correta. 5. "É estática, interessa-se pelo sistema, abstrai [não considera] o tempo e trata de fatos simultâneos." A afirmativa acima se refere à qual dos itens descritos por Saussure? Fala. Diacronia. Língua. Sincronia. Paradigma. Aula 6: O Gerativismo: A Faculdade da Linguagem Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Conhecer o contexto histórico no qual se insere o Gerativismo; 2. Conhecer o conceito de Faculdade da Linguagem; 3. Definir Gramática Universal (GU); 4. Distinguir princípios e parâmetros; 5. Comparar Empirismo e Racionalismo; 6. Estabelecer a relação entre o Behaviorismo e o Gerativismo, no que tange ao processo de aquisição da linguagem. Olá! Depois de estudar as dicotomias de Ferdinand de Saussure, precursor do Estruturalismo, vamos conhecer outra corrente de estudos da Linguística: o Gerativismo. Assim como o Estruturalismo, a Teoria Gerativa concebe a língua como uma estrutura, mas a vê como uma estrutura mental, inata. Os aspectos biológicos que envolvem a linguagem passam a ser o foco da investigação. Observe a situação a seguir: Imagine que você encontrou um filhote de macaco na rua e resolveu criá-lo como se fosse um bebê. Ele, aos poucos, se adaptou ao novo lar: consegue, sem problemas, segurar a mamadeira para mamar, dorme no berço como qualquer outra criança, adora ficar no seu colo... O tempo foi passando e o macaco foi crescendo. Qual você acha que foram as primeiras palavras que ele falou? - papai -mamãe - banana Pois é... Ele não falou nenhuma dessas palavras! Afinal, macacos não falam! Se o macaco fosse uma criança normal, nesse momento da sua vida ele começaria a produzir algumas palavras, não é mesmo? No entanto, isso jamais acontecerá com o seu macaco. Por quê? Vamos entender o porquê com o Gerativismo! O gerativismo A corrente da Linguística que teve início no final da década de 50, a partir das pesquisas de Noam Chomsky, também é conhecida como Linguística Gerativa, Teoria Gerativa, ou ainda Gramática Gerativa. Essa corrente tem como nome principal o linguista Noam Chomsky1. Para conhecer um pouco mais sobre a vida de Chomsky, leia o artigo Dentro da cabeça de Chomsky, disponível em: http://super.abril.com.br/superarquivo/2003/conteudo_279478.shtml. Os gerativistas buscaram descrever e explicar, abstratamente, o que é e como funciona a linguagem humana. Por isso, propuseram-se a elaborar um modelo teórico formal, inspirado na matemática. Devido à sua formação (matemática, psicologia, filosofia e linguística), Chomsky, no Gerativismo, parte do pressuposto de que é possível descrever, algebricamente, a língua humana, a partir de esquemas abstratos. Por isso, pode-se dizer que a base filosófica da teoria é o RACIONALISMO, que vê no pensamento, na razão, a fonte principal do conhecimento humano. Os racionalistas defendem a ideia de que a fonte principal do conhecimento humano é a mente, uma vez que os seres humanos recebem um número de faculdades específicas, cujo papel fundamental é permitir a aquisição do conhecimento. Vale ressaltar que, no Empirismo, tal métodomatemático não é aceito e a experiência é o ponto de partida do conhecimento. 1 Avram Noam Chomsky (Filadélfia, 7 de dezembro de 1928) é um linguista, filósofo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, reverenciado em âmbito acadêmico como "o pai da linguística moderna", também é uma das mais renomadas figuras no campo da filosofia analítica. Gerativismo: a faculdade da linguagem A partir da década de 50, Chomsky [ˈtʃɑːm.ski] inaugura uma nova fase nos estudos da linguagem que, até então, seguiam uma tradição behaviorista. Segundo a visão behaviorista, o ser humano adquire a linguagem por imitação, ou seja, tudo é aprendido por condicionamento. Um dos principais defensores do BEHAVIORISMO foi o psicólogo americano B.F. Skinner (1904-1990), responsável pela descrição de mecanismos de controle das ações humanas por estímulo e resposta. Segundo Chomsky, a linguagem é uma capacidade inata, está inscrita no DNA do ser humano. Por isso, na situação apresentada no início da aula, o macaco, ainda que seja criado apenas entre humanos, jamais desenvolverá a linguagem, que nele não é inata. Pelo fato de ser uma capacidade humana inata, ou seja, de fazer parte da constituição cerebral de todos os seres humanos sem patologias, as línguas devem apresentar características universais. Confira através da imagem como os gerativistas conhecem o cérebro. Os gerativistas adotam uma visão modularista da mente/cérebro. Na abordagem modularista, mente/cérebro são entendidos como um sistema complexo, com uma estrutura altamente diferenciada e com “faculdades” separadas, como, por exemplo, a faculdade da linguagem e a faculdade dos conceitos. Segundo Chomsky, da mesma maneira como sistemas complexos ou “órgãos do corpo” – como o córtex visual e o sistema circulatório – têm suas propriedades exclusivas e são estudados separadamente, com suas teorias próprias, também os diferentes sistemas cognitivos ou “faculdades” da mente – como a faculdade da visão e a faculdade da linguagem – devem ser estudadas separadamente. (cf. Chomsky, N.,1986) Knowledge of language: its nature, origin and use. New York: Praeger.) Gramática universal – princípios e parâmetros O modelo gerativista proposto por Noam Chomsky, considera que os seres humanos nascem dotados de uma FACULDADE DA LINGUAGEM. Componente da mente/cérebro especificamente dedicado a língua e que marca a diferença fundamental entre os homens e os outros seres do planeta. O que fornece ao homem essa capacidade inata para falar é a faculdade da linguagem, geneticamente transmitida, biologicamente determinada e, portanto, inerente a toda a espécie humana. Desse modo, não importa que uma criança seja falante de inglês, espanhol, russo ou português: todas possuem a mesma faculdade da linguagem, já que todo o ser humano está predisposto a adquirir sua língua natural (língua que o ser humano adquire a partir do ambiente linguístico que o cerca), a menos que possua uma patologia. Chomsky considera que a mente humana é composta por sistemas cognitivos, organizados em módulos, assim, a faculdade da linguagem estaria em um desses módulos. Seguindo a tese da modularidade da mente, tem-se a HIPÓTESE DO INATISMO, segundo a qual há uma estrutura mental inata ou estado inicial que possibilita aos seres humanos adquirirem sua língua natural. Essa estrutura mental inata é chamada na teoria gerativista de GRAMÁTICA UNIVERSAL (GU). A GU é o estado inicial da faculdade da linguagem. Há, na GU, princípios e parâmetros. Os princípios são comuns a todas as línguas, apresentam caráter universal e são responsáveis em explicar a organização das línguas naturais. Já os parâmetros são específicos de uma língua e reconhecidos a partir dos dados linguísticos do ambiente do indivíduo em fase de aquisição da linguagem. Apresentam-se de modo binário, ou seja, com valor positivo (+) ou negativo (-). O valor (+) indica que aquele parâmetro está presente na língua; já o valor negativo (-) sinaliza a ausência daquela característica. Entendendo os princípios e parâmetros... Princípio: “todas as sentenças, independentemente da língua, têm sujeito. ” Parâmetro do sujeito nulo: “uma língua admite ou não sujeito nulo nas sentenças finitas. ” Tendo como base o português e o inglês, vamos perceber que, em inglês, esse sujeito tem que ser produzido, o mesmo não acontecendo em português. Observe: Português: Ø Chove. Inglês: It rains. Português: Eu vi o menino ontem. Português: Ø vi o menino ontem. Inglês: I saw the boy yesterday. (Tradução: Eu vi o menino ontem.) Inglês: *Ø saw the boy yesterday. Nós, como falantes nativos do português, sabemos perfeitamente que podemos produzir enunciados como os apresentados em (1), (3) e (4). Isso acontece porque, na nossa língua, o sujeito pode ou não ser nulo nas sentenças finitas. O falante tem a opção de escolher. O símbolo (Ø) significa a existência de uma categoria vazia, ou seja, a posição de sujeito não está ocupada por um elemento morfologicamente realizado, mas existe e não pode ser preenchida por nenhum outro elemento. Por outro lado, o indivíduo que for exposto ao inglês sabe que, em todas as sentenças, o sujeito deve sempre ser produzido, até mesmo com verbos como ‘chover’, a partícula expletiva2 ‘it’ deve estar presente para ‘ocupar’ a posição. O asterisco (*), no exemplo (6), indica que a sentença é agramatical, ou seja, não faz parte da língua. Quando estudamos inglês como segunda língua precisamos ficar atentos ao preenchimento da posição do sujeito. Pode-se dizer que o “parâmetro do sujeito nulo” é positivo (+) em português, já que é possível ter o sujeito realizado ou não, e negativo (-) para o inglês, pois não é possível a ocorrência de sentenças sem o sujeito realizado morfologicamente. Atenção- lembre-se: tudo acontece intuitivamente, ou seja, o falante do inglês, por exemplo naturalmente percebe que há ‘algo errado’ quando ouve uma sentença como a apresentada em (6). Relembrando... Vimos que nascemos com um sistema único de princípios inatos, enraizado na nossa mente/cérebro, dedicado exclusivamente a linguagem: a GU. A GU é o estado inicial da faculdade da linguagem e é constituída de princípios universais e parâmetros específicos de cada língua. Sendo assim, podemos dizer que todas as línguas humanas possuem propriedades comuns, já que todos nós nascemos com o mesmo aparato genético. Então, porque falamos línguas diferentes? No processo de aquisição de uma língua, o indivíduo vai, gradativamente, fixando os valores dos parâmetros a partir do contato com os dados linguísticos da sua língua nativa. A medida que os valores desses parâmetros são fixados pelo individuo durante a aquisição, uma gramática é construída, ou seja, a gramática particular de sua língua. O termo ‘gramática’ é polissêmico, ou seja, apresenta várias concepções. Quando o usamos aqui, estamos nos referindo aos conhecimentos que um falante tem de sua língua materna, aos mecanismos de funcionamento de uma língua. Não estamos nos referindo à gramática normativa ou a tradicional. Vamos jogar Adivinha? Leia a frase abaixo e arraste a opção que julgar correta até o campo correspondente. Qual das opções é um dos parâmetros da Gramática Universal? Todas as sentenças, independentemente da língua, têm sujeito. Atenção! Uma língua admite ou não sujeito nulo nas sentenças finitas e este é um dos parâmetros da GRAMÁTICA UNIVERSAL. Próxima Aula • A aquisição da linguagem; • Competência e desempenho. Síntese da aula Nessa aula você: • Conheceu o Gerativismo e seus pressupostos teóricos básicos; • Distinguiu Empirismo e Racionalismo, Behaviorismo e Gerativismo; • Compreendeu o conceito de Faculdade da Linguagem; • Entendeu o conceito de Gramática Universal;• Distinguiu princípios e parâmetros. 2 É um termo da oração considerado desnecessário, podendo ser retirado sem qualquer prejuízo para ela. A partícula expletiva é também chamada de partícula de realce. 1.Assinale a letra cujo enunciado NÃO se refere ao conceito de Gramática Universal: 1) É composta de princípios e de parâmetros. 2) É a estrutura linguística herdada geneticamente por cada membro da espécie humana. 3) Trabalha com um padrão de correção linguística, que deve ser seguido por todos. 4) É um sistema de todas as regras necessárias para se poder falar. 5) É o estágio inicial de um falante que está adquirindo uma língua. 2. A citação abaixo refere-se a um aspecto da Teoria Gerativa. Assinale-o. “Sabemos que o corpo humano é composto por órgãos diferentes que desempenham funções diferentes, cada um deles com funcionamento específico – ou seja, o coração bate para fazer circular o sangue, mas os rins não batem para filtrar a água do corpo; adicionalmente o tipo de tecido que compõe o fígado é muito diferente do tipo de tecido que compõe o estômago, por exemplo.” (Mioto, Silva & Lopes, 1999, p.25) 1) Modularidade da mente. 2) Gramática Universal. 3) Gramática Particular. 4) Parâmetros. 5) Princípios. 3. Tendo como base a Teoria de Princípios e Parâmetros, analise os exemplos abaixo e, em seguida, assinale a alternativa INCORRETA: I- It rains. – inglês [ - ] II- Chove. – português [ + ] III- Moro no Rio. – português [ + ] IV- I live in Rio – inglês [ - ] V- Eu moro no Rio – português [ + ] 1) Em português, o parâmetro do sujeito nulo é positivo, ou seja, o falante pode produzir sentenças com o sujeito realizado ou não. 2) Um falante do inglês saberá que, em sua língua, é preciso produzir sentenças com o sujeito realizado. 3) O falante do português pode escolher enunciados como os apresentados em (II), (III) e (V), pois todos fazem parte da língua. 4) Em inglês, produzir apenas “Live in Rio” em lugar de “I live in Rio” não faria sentido, pois é preciso preencher a posição do sujeito. 5) O falante do inglês, assim como o falante do português, pode escolher: preencher ou não a posição do sujeito. 4. Segundo o Gerativismo, o ser humano já nasce com um dispositivo para a aquisição de uma língua. Isso significa dizer que: 1) Todos os indivíduos nascem com uma disposição para desenvolver uma língua. 2) O aparato genético varia de cultura para cultura; por isso, as línguas são diferentes. 3) Os animais também apresentam o mesmo aparato genético, pois também desenvolvem linguagem. 4) A análise do dispositivo genético já nos permite saber a língua a ser desenvolvida pelo indivíduo. 5) O dispositivo varia de pessoa para pessoa, pois somos todos diferentes. 5. Sobre o conceito de Princípios e Parâmetros, assinale a alternativa INCORRETA: 1) São os componentes da Gramática Universal. 2) “Todas as línguas do mundo possuem funções sintáticas como sujeito e predicado”. Isso é um princípio. 3) Os princípios são comuns a todas as línguas, apresentam caráter universal. 4) Os parâmetros são responsáveis em explicar a organização das línguas naturais por serem gerais. 5) Os parâmetros são reconhecidos a partir dos dados linguísticos do ambiente do indivíduo em fase de aquisição de linguagem. Aula 7: O Gerativismo: A Aquisição da Linguagem Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Conhecer o processo de aquisição da linguagem, segundo o Gerativismo; 2. Identificar as etapas no processo de aquisição da linguagem; 3. Comparar algumas teorias de aquisição da linguagem, a saber: inatismo, behaviorismo e cognitivismo; 4. Distinguir competência e desempenho; 5. Conhecer os conceitos de gramatical e agramatical para o Gerativismo; 6. Reconhecer o objeto de estudos da Linguística para Chomsky. Aquisição da linguagem Quem tem filhos ou convive com crianças sabe que “num piscar de olhos”, as crianças já começam a falar. Sabemos que há etapas a serem seguidas, mas temos a certeza de que esse processo acontece de forma bem rápida. “Na realidade, a faculdade da linguagem nada tem de trivial. O vocabulário médio de um adulto em sua língua nativa, por exemplo, alcança em torno de 50 mil palavras, codificadas por cerca de 40 unidades distintivas de sons de fala (fonemas). Veja que tanto o vocabulário numeroso quanto o pequeno inventário de fonemas deveriam ser desfavoráveis à existência da linguagem no homem: temos poucos códigos para distinguir muitos itens. Apesar disso, após o curto período de aquisição de linguagem, entre dois e três anos de idade, nos integramos a uma comunidade linguística e, sem nenhum esforço, usamos essa língua com mais naturalidade do que um estrangeiro que passou anos tentando aprende-la depois de adulto. ” (Aniela Improta França. Flagrante da linguagem no cérebro.) Pelo que vimos, segundo o Gerativismo, já nascemos com uma capacidade inata para desenvolver uma língua, No entanto porque não saímos da barriga da nossa mãe falando? Se já nascemos com as nossas pernas completamente formadas, por que não saímos da barriga da nossa mãe andando? Se temos um sistema visual, porque não distinguimos todas as cores logo após o parto? Assim como o sistema motor e o sistema visual, o nosso sistema linguístico também passa por um processo de maturação. Podemos perceber que as crianças também vivenciam etapas até conseguirem andar sozinhas, sem a ajuda de adultos ou sem o apoio em objetos. Com a linguagem não é diferente. Então, vamos entender como se dá a aquisição da linguagem? O processo de aquisição da linguagem é algo muito interessante. O fato de as crianças, já por volta dos três anos, serem capazes de fazer uso da língua de modo tão eficiente nos leva a pensar como as línguas são adquiridas. Muito cedo, qualquer criança surpreende os adultos com a sua capacidade de produzir e compreender os enunciados da sua língua. Podemos dizer que a criança? “Não repete simplesmente o que lhe dizem: com as regras que depreendeu das frases ouvidas, forma inúmeras outras, inclusive nunca ouvidas. Quer dizer, desde as primeiras etapas a criança ‘cria’ suas frases. Essa criatividade é justamente a traço característico da gramática que a criança internaliza. A ‘graça’ da linguagem infantil não está nos erros que comete, mas nas suas engenhosas tentativas (com muitas criações individuais) de utilizar o código fornecido pelos adultos. ” LOFT, Celso Pedro. Língua e liberdade. Rio de Janeiro: Ática, 2002. p. 52) Clique na imagem da criança para conhecer algumas produções que ilustram a criatividade infantil. Certamente, vocês já devem ter ouvido algumas crianças produzirem estruturas assim ou bem parecidas. Então, o que podemos pensar? As crianças percebem como a língua a qual foram expostas funciona e captam aquilo que é regular em seu sistema linguístico. A partir daí, criam seus enunciados. Nesse processo de criação, aparecem elementos que, embora sejam construídos obedecendo as regras de funcionamento da língua, não foram as formas consagradas pelos seus usuários. Assim, o adulto entende o que a criança quis dizer e acha graça da forma produzida. Tomemos como exemplo o verbo “vassourar”. Se temos, em português, o substantivo “pincel” e o verbo “pincelar”, poderíamos perfeitamente ter o verbo “vassourar”, já que temos o substantivo “vassoura”. No entanto, o uso consagrou a forma “varrer”, embora “vassourar” apresente um processo de formação produtivo na língua. De fato, enunciados assim nos levam a crer que há um componente genético inato, específico para desenvolver uma língua, como vimos na aula passada. Esses e outros exemplos confirmam a ideia de que o cérebro humano não nasce como um “quadro em branco”, uma “tabula rasa”, comoafirmam os behavioristas. Por conta da questão do inatismo, Chomsky (1981) considera mais apropriado falar em “crescimento da linguagem” e não em “aprendizado” ou “aquisição”. Afinal de contas, apenas adquirimos algo que não temos. Como vimos na aula passada, a criança não nasce com uma capacidade para desenvolver a língua X ou a Y. A predisposição biológica do ser humano vai permitir que ele desenvolva uma língua a partir dos dados linguísticos do ambiente que o cerca. A exposição a esses dados faz com que o indivíduo acione um certo valor de parâmetro para que a criança componha a gramática de sua língua particular. Vale destacar que a exposição a esses dados linguísticos acontece de modo natural: na fala, espontânea de adultos, há anunciados truncados, hesitações, falhas em geral e apesar disso, a criança consegue perceber o que é regular ou não na sua língua. As etapas do processo de aquisição da linguagem Em relação ao processo de aquisição da linguagem, as pesquisas mostram que a criança vai internalizando o sistema gramatical de maneira gradual, por etapas. Independentemente da língua a que a criança está exposta, em fase de aquisição da linguagem, adquire primeiro as palavras de conteúdo (“formais”: substantivos, adjetivos, verbos), só depois as palavras gramaticais (“estruturais”: pronomes, preposições etc.). tudo acontece aos poucos. A criança desenvolve a capacidade de nomear e faz uso de substantivos. Em seguida, começa a fazer uso de elementos mais abstratos como verbos e adjetivos. Ela começa, então, a produzir estruturas sintáticas simples até chegar as estruturas mais complexas. Aproximadamente, aos 5 ou 6 anos, a criança já é, como diz Chomsky, um “adulto linguístico”. Essa uniformidade no processo de aquisição é, para os gerativistas, um indicativo de uma faculdade da linguagem, comum a espécie humana. Com base nas informações anteriores, podemos dizer que as crianças não nascem com a gramática da sua língua pronta para ser usada. Veja o exemplo! Se um bebê, filho de pais americanos for criado por pais japoneses, desenvolverá o japonês, da mesma forma, se for criado por pais brasileiros, desenvolverá o português. Você deve estar se perguntando... E se a criança não for exposta a uma língua durante a infância? E o caso das chamadas “crianças selvagens”? Faça a leitura a seguir e tire suas dúvidas. E o Mogli, o menino-lobo? Vimos que a explicação behaviorista da aquisição da linguagem não consegue explicar o fato de os sistemas linguísticos terem como uma de suas características essenciais a produtividade e a criatividade. Assim, podemos dizer que o processo de aquisição não depende da imitação. Sabemos que todo indivíduo, exceto aquele com alguma complicação patológica, irá desenvolver uma língua. Isso independe de sua condição social. No entanto, é preciso estar exposto a um sistema linguístico. Há, na literatura, uma série de relatos de casos de crianças que, em virtude de motivos de natureza diversa, tiveram o acesso aos dados de um sistema linguístico negado. Por isso, não desenvolveram sua língua natural no período da infância, como, normalmente, acontece. A história de Mogli Personagem da Disney inspirado no livro de Rudyard Kipling, menino criado por lobos, ilustra casos reais como o da menina Genie e é um dos casos mais conhecidos na literatura. Genie fora afastada de qualquer exposição à língua dos 20 (vinte) meses aos 13 (treze) anos e 7 (sete) meses de vida, quando inserida novamente no convívio social, teve o desenvolvimento da linguagem bastante diferenciado do de crianças normais, ou seja, daquelas crianças que adquirem linguagem durante o período normal de aquisição de linguagem. Se por um lado Genie apresentou uma rápida aquisição do vocabulário, mostrando uma habilidade semântica superior àquela alcançada por crianças normais em igual período de tempo, por outro lado apresentou uma pobre elaboração morfológica e um reduzido emprego de estruturas sintáticas complexas em sua fala, mostrando uma habilidade sintática bastante defasada em relação às crianças normais. A partir dessas observações e da análise de testes neuropsicológicos aplicados a Genie, que revelaram seu amadurecimento conceptual e sensorial-motor, pode-se concluir que o conhecimento cognitivo apresentado por Genie não foi suficiente para sua aquisição sintática e morfológica. Cognitivo: 1. Ref. À cognição, capacidade de aquisição de conhecimento, ou ao conhecimento: desenvolvimento cognitivo humano. 2. Ref. à função e ao processo mental do tratamento das informações (percepção, memória, raciocínio etc.) 3. Psi. Ref. aos processos da mente envolvidos na percepção, na representação, no pensamento, nas associações e lembranças, na solução de problemas etc. [F.: Do lat. cognitus + -ivo.] Fonte: Dicionário on-line Caldas Aulete. O caso de Genie confirma a ideia de que a mente é modular e a linguagem, por constituir um módulo independente dos demais, tem seus princípios próprios. Por ela ser exclusiva da espécie humana, parte comum do pacote genético de todos os seres humanos, com pouca variação entre eles e crucial para as relações sociais, a linguagem é acessível ao estudo cientifico e de singular importância para a compreensão da espécie humana. Chomsky, Noam. Language and problems of knowledge. Cambridge, MA: The MIT Press, 1988 Pare e reflita A partir do caso de Genie, vocês devem estar pensando o quanto a experiência é importante no processo de aquisição da linguagem. Cada teoria acaba atribuindo um valor diferente a experiência. Vale ressaltar que há diferentes teorias que buscam explicar o processo de aquisição da linguagem pela criança. • BEHAVIORISMO B.F. SKINNER [Burrhus Frederic Skinner] Para B.F. Skinner, behaviorista, todo comportamento/aprendizado linguístico é ou não resultado de um processo de reforço e privação. Segundo a proposta behaviorista, “a criança vê a mamadeira (estimulo) e diz ‘papá’. Se ela conseguir que lhe deem a mamadeira, seu comportamento será reforçado positivamente, ‘aprenderá’ que quando quiser comida deve dizer ‘papá’”. SANTOS, Raquel. A aquisição da linguagem. In: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à Linguística, vol. I, São Paulo: Contexto, 2002. • COGNTIVISMO JEAN PIAGET O cognitivismo vincula a linguagem á cognição. Essa proposta foi desenvolvida por Jean Piaget. Segundo ele, desde o seu nascimento a criança constrói o conhecimento a partir do contato com o meio. Pode-se perceber que a teoria atribui um grande valor à experiência, mas não chega a ter base empirista, pois, de acordo com Piaget, a criança é responsável por construir o conhecimento com base na experiência com o mundo físico, ou seja, o conhecimento está na ação sobre o ambiente. “O conhecimento linguístico de uma criança em um determinado momento reflete as estruturas cognitivas antes e que determinam esse conhecimento. (...) a linguagem é vista como porta para cognição. ” • INATISMO NOAM CHOMSKY Chomsky, com sua hipótese inatista, assume que há um componente inato para a aquisição da linguagem e independente da cognição. Para ele, a experiência funciona apenas como um gatilho (do inglês, trigger) para acionar uma capacidade que é inata. Tendo como objetivo ressaltar o lado biológico do Gerativismo proposto por Chomsky, estudos sob essa perspectiva procuram verificar o modo como a linguagem está representada no cérebro. O foco desses estudos pode ser o processo de aquisição ou de perda da linguagem. Assim, com o estudo sobre a aquisição da linguagem busca-se explicar a relação que se estabelece entre a capacidade inata da criança para o desenvolvimento linguístico da gramática universal (GU) e a experiência linguística a qual ela é exposta na formação gramática particular de sua língua. A partir do estudo sobre as patologias
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