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Produção Textual II - Conteúdo Online

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PRODUÇÃO TEXTUAL II 
AULA 1 – GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS – A COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DE 
TEXTOS 
Gêneros Textuais 
Como o próprio título de nossa aula sugere, a comunicação humana ocorre através de textos 
que, como você já deve ter visto em outras aulas, podem ser verbais ou não verbais, falados 
ou escritos. A partir de diversos estudos linguísticos, a noção de que o texto seria um 
emaranhado de palavras ou frases foi se deteriorando com o tempo. 
Para nós, texto é o lugar da interação. Em outras palavras, o texto é o produto material do 
pensamento, recheado de intenções e pressupostos que precisam ser verificados pelo 
interlocutor, caso contrário, não haverá compreensão. 
Veja que até mesmo para definir TEXTO precisamos incluir o outro: o interlocutor. 
Além disso, acreditamos que o texto seja um instrumento de interação, o que sugere também 
uma contraparte. 
Mas por que isso é importante para a teoria dos gêneros textuais? 
Para Marcuschi, em seu famoso texto Gêneros textuais: definição e funcionalidade (2002, 
p.19), os gêneros textuais são ―fruto de trabalho coletivo‖ e servem para ―ordenar e estabilizar 
as atividades comunicativas‖. 
Em outras palavras, os falantes/interlocutores precisam identificar o gênero a ser utilizado em 
determinada situação comunicativa, a fim de estabelecer a comunicação sem ruídos ou 
prejuízos. 
Vamos a um exemplo? 
Um advogado, por conta de sua experiência como usuário da língua, sabe que não deve 
dirigir-se a um juiz, em uma audiência, cantando uma música ou por meio de uma receita 
culinária. Esses não são os gêneros textuais convenientes a tal contexto, não é mesmo? 
Certamente, haverá prejuízos nesse ato comunicativo, e as intenções do advogado não serão 
plenamente alcançadas. Os gêneros textuais, então, são formas de legitimação discursiva. 
Esse exemplo já nos parece suficiente para verificarmos que os gêneros são construídos 
socialmente, ou seja, a partir das necessidades comunicativas dos usuários da língua. 
Vejamos o que nos afirma Marcuschi, ainda no texto Gêneros Textuais: definição e 
funcionalidade (2002, p.19): 
Já se tornou trivial a ideia de que os gêneros textuais são fenômenos históricos, 
profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros 
contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. São entidades 
sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa. 
No entanto, mesmo apresentando alto poder preditivo e interpretativo das ações humanas em 
qualquer contexto discursivo, os gêneros não são instrumentos estanques e enrijecedores da 
ação criativa. Caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e 
plásticos. Surgem emparelhados a necessidades e atividades sócio-culturais, bem como na 
relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a 
quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à 
comunicação escrita. 
A partir dessas considerações, percebemos uma abordagem sociointeracionista no que diz 
respeito à linguagem, isto é, os sentidos são construídos e reconstruídos na interação, através 
dos diversos gêneros textuais. Em outras palavras, os textos não são mais analisados a partir 
de seu conteúdo gramatical ou do número de parágrafos, frases, etc., mas com base na 
função que esse instrumento discursivo possui enquanto texto. As ações humanas, por sua 
vez, são manifestadas nos diversos gêneros textuais, assim podemos definir gêneros textuais 
da seguinte maneira: São realizações linguísticas, ou seja, por meio da combinação de 
elementos linguísticos, definidas por propriedades sociocomunicativas. São práticas sociais 
mediadas pela linguagem. 
São realizações linguísticas, ou seja, por meio da combinação de elementos linguísticos, 
definidas por propriedades sociocomunicativas. São práticas sociais mediadas pela linguagem. 
Em outras palavras, são os textos materializados, encontrados em nossa vida cotidiana e que, 
segundo Marcuschi (2002, p.23), ―apresentam características sociocomunicativas definidas por 
conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica.‖ 
Por isso, acreditamos que haja infinitos gêneros textuais em nossa prática discursiva, uma vez 
que eles surgem e deixam de ser usados conforme as necessidades comunicativas de seus 
usuários. Há quanto tempo não escrevemos uma carta? Mas escrevemos e-mails quase que 
diariamente, por conta de uma necessidade de nos adaptarmos ao contexto digital - 
característica de nosso tempo. 
São exemplos de gêneros textuais: carta de amor, carta comercial, sermão, bula de remédio, 
aula expositiva, fórum de discussão, e-mail, conferência, lista de compras, menu de 
restaurante etc. Veja que poderíamos elencar todos os textos existentes em nossa prática 
discursiva. 
Outro detalhe importante é que os gêneros são identificados tanto por sua estrutura 
composicional, como por sua função comunicativa. Se quisermos, por exemplo, ir ao mercado 
comprar algumas guloseimas que estão faltando em nossa dispensas, sabemos que vamos 
usar uma lista de compras e que os elementos estarão encadeados um após o outro, pois essa 
é a estrutura e a função desse gênero textual lista de compras. 
Outra questão importante acerca dos gêneros textuais é que eles costumam ser atrelados a 
determinado domínio discursivo. Segundo Marcuschi (2002, p.23-24), usamos essa expressão 
para designar uma esfera ou instância da produção discursiva ou de atividade humana. Ainda 
consoante esse autor, os domínios discursivos não são os textos em si, mas propiciam o 
surgimento de discursos e gêneros bastante específicos. São, na verdade, práticas discursivas 
a partir das quais podemos identificar um determinado conjunto de gêneros textuais próprios. 
Podemos citar como exemplo os diversos gêneros provenientes do discurso acadêmico, como 
as monografias, teses, projetos de pesquisa ou resenhas. Não se espera que um estudante 
universitário produza uma receita ou um horóscopo, por exemplo, mas sim outros gêneros 
voltados para tal domínio discursivo. 
Por conseguinte, trabalhar com noção de gêneros textuais é verificar os usos autênticos da 
língua. Por isso, entendemos que um falante competente é aquele que consegue utilizar-se do 
maior número possível de gêneros textuais. Se alguém não conhece o gênero artigo científico, 
ainda que possua conhecimentos específicos acerca do tema e domínio da norma culta da 
língua, não poderá escrever um artigo científico, se não conhecer as especificidades desse 
gênero – sua função comunicativa e sua estrutura interna. Em outras palavras, é preciso 
adequação no que diz respeito à produção de cada gênero textual. Conforme Marcuschi 
(2002, p.34), essa adequação refere-se à relação que deve haver entre: 
 Natureza da informação ou do conteúdo veiculado; 
 Nível de linguagem (formal, informal, dialetal, culta etc.); 
 Tipo de situação em que o gênero se situa (pública, privada, corriqueira, solene etc.); 
 Relação entre os participantes (conhecidos, desconhecidos, nível social, formação etc.); 
 Natureza dos objetivos das atividades desenvolvidas. 
Tipologia Textual 
Agora que já entendemos bem a noção de Gêneros Textuais, precisamos caminhar em direção 
aos tipos textuais. Enquanto os gêneros parecem ser infinitos, os tipos textuais são cinco: 
narração, descrição, injunção, exposição e argumentação. Todavia, a distinção entre essas 
duas noções nem sempre se dá de forma clara na bibliografia pertinente. O próprio MEC em 
seus PCNs parece confundir os termos, o que provoca uma enxurrada teórica equivocada nos 
diversos livros didáticos, que, em sua maioria, chamamde TIPOS TEXTUAIS os diversos 
gêneros. 
Dava tudo o que ela queria. Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo 
um namorado. 
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: 
mudou de casa. Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, 
Misael mudava de casa. 
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom 
Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no 
Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos... 
Por fim, na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a 
com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul. 
Se considerarmos um romance ou um conto, veremos que em sua composição há a 
predominância da narração, até mesmo em razão dos elementos da narrativa nele contidos, 
tal como narrador, diálogo, personagens etc. Todavia, é notória a existência de trechos com 
alto teor descritivo, uma vez que o narrador pode descrever um cenário, um personagem ou 
até mesmo uma ação. Veja o trecho de Tragédia Brasileira, de Manuel Bandeira: Misael, 
funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria Elvira na Lapa – prostituída, 
com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria. 
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, 
manicura... 
Em outras palavras, o que importa para a classificação dos gêneros é sua função 
sociocomunicativa; já para os tipos textuais, é a sua estrutura linguística. Se considerarmos 
uma bula de remédio e um manual de instruções, por exemplo, sabemos – por meio de nossa 
prática discursiva - que ambos possuem propósitos comunicativos bem diferentes. Entretanto, 
possuem verbos no imperativo e muitas informações em tópicos ou seções bem definidas, ou 
seja, são dois gêneros textuais distintos do tipo injuntivo. Por isso, podemos afirmar que um 
determinado tipo textual não está restrito a um único gênero, e vice-versa. Como assim? 
Um gênero textual também pode conter diversos tipos em sua composição. 
Deixando essas questões um pouco de lado, vamos refletir acerca dos tipos 
textuais!Diferentemente dos gêneros, os tipos textuais não são definidos de acordo com sua 
funcionalidade comunicativa, mas sim por uma série de propriedades linguísticas intrínsecas. 
De acordo com Marcuschi (2002, p.23), os tipos textuais ―constituem sequências linguísticas 
ou sequências de enunciados no interior dos gêneros (…) sua nomeação abrange um conjunto 
limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, 
tempo verbal‖. 
Não é difícil verificar que se trata de uma narração, por conta dos personagens, do enredo, 
dos lugares, etc. Entretanto, também não parece difícil perceber que há momentos em que o 
narrador descreve as personagens Misael e Maria Elvira: 
―Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria Elvira na Lapa – 
prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de 
miséria.‖ 
AULA 2 – OS MODOS DE ORGANIZAÇÃO DO DISCURSO 
Como você já sabe, os estudos de linguagem tendem, atualmente, a abordar o discurso em 
detrimento às estruturas linguísticas. 
Em outras palavras, o contexto, bem como os personagens envolvidos no ato comunicativo 
passaram a receber maior atenção por parte dos estudiosos da linguagem, por conta de novas 
estratégias de ensino de língua centradas no texto e no discurso, entre outras razões. 
Antes de mais nada, vale salientar que a produção de qualquer texto considera um ato 
comunicativo para que se concretize. 
Por isso, aprendemos na escola que sempre haverá um EU (emissor) se comunicando com um 
TU (receptor) a respeito de algo da realidade circundante (ELE = mensagem), justificando o 
fato de haver as três pessoas do discurso. 
Todavia, Charaudeau (2008, p.44) advoga que o ato de linguagem é, na verdade, um evento 
de produção e de interpretação e, por isso, depende dos saberes partilhados que circulam 
entre os protagonistas da linguagem. 
Esses saberes dizem respeito à dupla dimensão explícito/implícito do fenômeno linguageiro. 
Segundo o autor, isso confirma a assimetria entre o processo de produção e o processo de 
interpretação do ato comunicativo. 
Acreditamos que ato comunicativo e ato de linguagem são duas formas diferentes de se 
referir ao mesmo conceito. 
Quando produzimos ou interpretamos um texto, de qualquer gênero e tipo, projetamos um TU 
- destinatário – muitas vezes genérico. Esses dois participantes (EU + TU) estão inseridos em 
determinado ato de linguagem que pressupõe processo de produção e de interpretação. 
Os Modos de Organização do Discurso 
Agora, que já entendemos que todo ato comunicativo pressupõe alguns “personagens” que 
projetam imagens de si e do outro em dois processos: produção e interpretação, podemos dar 
início à análise dos modos de organização do discurso propostos por Charaudeau (2008). 
Segundo o autor, há quatro modos de organização do discurso, a saber: o enunciativo, o 
descritivo, o narrativo e o argumentativo e, para ele, cada um desses modos possui uma 
função de base e um princípio de organização. 
Função de Base: a finalidade discursiva do locutor, a saber: O que é enunciar, descrever, 
narrar e argumentar? 
Princípio de Organização: a organização lógico-linguística dos textos de cada modo. 
Assim, o autor propõe o seguinte quadro (CHARAUDEAU, 2008, p.75): 
Modo de Organização 
MODO DE ORGANIZAÇÃO FUNÇÃO DE BASE PRINCÍPIO DE 
ORGANIZAÇÃO 
ENUNCIATIVO Relação de influência (EU TU) 
Ponto de vista do sujeito (EU 
ELE) 
Retomada do que já foi dito 
(ELE) 
 Posição em relação ao 
interlocutor. 
 Posição em relação ao 
mundo. 
 Posição em relação a 
outros discursos. 
DESCRITIVO Identificar e qualificar seres 
de maneira 
objetiva/subjetiva. 
 Organização da 
construção descritiva 
(nomear-localizar-
qualificar). 
 Encenação descritiva. 
NARRATIVO Construir a sucessão das 
ações de uma história no 
tempo, com a finalidade de 
fazer um relato. 
 Organização da lógica 
narrativa (actantes e 
processos). 
 Encenação narrativa. 
ARGUMENTATIVO Expor e provar causalidade 
numa visada racionalizante 
para influenciar o 
interlocutor. 
 Organização da lógica 
argumentativa. 
 Encenação 
argumentativa. 
 
O modo enunciativo: nesse modo, a língua é utilizada de tal forma que exprima a posição do 
falante em relação ao que ele diz, em relação ao interlocutor e em relação ao que o outro diz, 
que nos leva a distinguir as três funções do modo enunciativo (op.cit., p.82): estabelecer uma 
relação de influência entre locutor e interlocutor; revelar o ponto de vista do locutor; 
apresentar a palavra do outro. 
Exatamente por isso, podemos estabelecer que o sujeito falante se enuncia em posição de 
superioridade em relação ao interlocutor, e vice-versa. Isso significa que esse modo de 
organização do discurso tem por efeito revelar o ponto de vista interno do sujeito falante. 
Assim poderíamos pensar em algumas situações... 
Um chefe dando uma ordem a um subordinado; um professor a um aluno; uma propaganda 
de creme dental feita por um dentista, ou seja, um argumento de autoridade. 
Nesses contextos, evidenciam-se elementos lingüísticos que auxiliam na contextualização de 
uma cena enunciativa, ou seja, que atenta a posição de superioridade de um em relação ao 
outro revelando (impondo?) determinado ponto de vista. 
As características do modo descritivo que veremos agoraestão de acordo com Emediato 
(2007): 
A descrição faz surgir a realidade exterior através dos olhos de um sujeito observador que 
identifica seres, objetos, cenários etc. e os nomeia e lhes atribui certas qualidades. O sujeito 
que observa pode descrever a realidade exterior tal como ela é ou parece ser — descrição 
objetiva - ou tal como o sujeito a sente — descrição subjetiva. 
Dessa forma, podemos elencar algumas características desse modo descritivo: 
Caráter estático — a descrição pode ser comparada a uma fotografia. A descrição é, de 
maneira geral, fruto de observação de um estado de coisas, de um fenômeno ou de uma ação 
que se desenvolve no espaço. O tempo não parece relevante na descrição, embora possa ser 
um de seus componentes. A introdução do elemento temporal na descrição tende a 
transformá-la em uma narração. 
Linguagem referencial — a descrição tem sempre o objetivo de informar, dar a perceber ao 
outro o mundo exterior tal como ele é ou tal como o observador o vê. Nesse sentido, a 
descrição cumpre uma função referencial. Além disso, se a cena descrita revela o olhar de 
quem a descreve, podemos afirmar que há o ponto de vista de alguém realçado na descrição, 
o que aproxima esse modo do enunciativo. 
As operações de descrição 
A) Nomear e identificar seres, objetos, pessoas, lugares através da identificação específica 
(nomes próprios) e da identificação genérica (nomes comuns). 
 Expressões de identificação: Identificação específica: nomes próprios de pessoas tais 
como Paulo, Luís Inácio Lula da Silva; nomes próprios de locais, tais como Rio de 
Janeiro, Belo Horizonte; nomes próprios de organizações, tais como Petrobras, Fiat. 
 Identificação genérica: nomes comuns que fazem referência a uma categoria qualquer, 
tais como: Os metalúrgicos; os trabalhadores, os sem-terra, os professores, a mãe, o 
pai, o filho, o avô, o policial, a polícia, a mesa, a liberdade, a humanidade. 
B) Localizá-los no tempo e no espaço através de expressões de localização espacial e 
temporal: 
 Localização espacial: advérbios e expressões que indicam lugar, tais como em São 
Paulo; na favela; no estádio. 
 Localização temporal: advérbios e expressões que indicam tempo, tais como em 1998, 
em 2003, no século XXI, há pouco tempo atrás, na época dos movimentos estudantis. 
C) Quantificá-los através de expressões de quantificação (precisa ou imprecisa) 
 Quantificação precisa: números indicando quantidade exata, tais como 1001 unidades, 
10.000 pessoas, 2 estudantes. 
 Quantificação imprecisa: números e expressões indicando quantidade inexata, tais 
como mais de 1000 pessoas, muitos trabalhadores, centenas de pessoas, várias 
tentativas, milhões de reais, vários, diversos, poucos. 
D) Qualificá-los através de expressões de qualificação (objetiva ou subjetiva). Subjetiva (se 
descrição expressiva); objetiva (se descrição técnica, informativa e referencial). 
 Qualificação objetiva: adjetivos indicando uma qualificação objetiva que pertence ao 
ser ou ao objeto, tais como vermelho, azul, branco, sólido, gasoso, quente, frio. 
 Qualificação subjetiva: adjetivos indicando uma qualidade afetiva ou subjetiva 
expressando o modo como o sujeito sente ou percebe o ser, tais como belo, frio, 
sensato, imoral, sensacional, incrível, extraordinário, interessante. 
O modo narrativo: para Charaudeau (2008, p. 153), para que haja narrativa, é necessário um 
―contador‖ que pode ser chamado de narrador, escritor, testemunha etc., investido de uma 
intencionalidade, isto é, de querer transmitir alguma coisa (uma certa representação da 
experiência do mundo) a alguém, um destinatário. 
A lógica narrativa se constrói por meio de actantes, de processos e de sequências. 
Actantes – desempenham papéis relacionados à ação da qual dependem. 
Processos – unem os actantes entre si, dando uma orientação funcional à sua ação. 
Sequências – integram processos e actantes numa finalidade narrativa segundo certos 
princípios de organização. 
Narrativa x Narrativo 
O narrativo, por seu turno, faz descobrir um mundo a ser construído no desenvolvimento da 
sucessão de ações interdependentes, que se transformam num encadeamento progressivo; 
organiza, portanto, o mundo de maneira sucessiva e contínua, dentro de uma lógica cuja 
coerência é marcada pelo seu próprio fechamento (começo/fim). 
Outra observação importante reside no fato de que não há como falar em narração sem se 
perceber a descrição. São modos de organização muito próximos. Como a narrativa 
corresponde à finalidade do que é narrar, descreve simultaneamente ações e qualificações, daí 
englobar o modo narrativo e o modo descritivo. (cf. CHARUDEAU, 2008, p. 152) 
Todavia, ainda que sejam modos de organização discursiva que tendem a caminhar juntos, 
descritivo e narrativo se distinguem não só pelo tipo de visão do mundo que constroem, mas 
também pelo papel que desempenha o sujeito que narra ou descreve. 
O descritivo, segundo Charaudeau, revela um mundo de existência imutável, que necessita 
apenas ser reconhecido e mostrado, daí se dizer que organiza o mundo de maneira 
taxionômica (classificação dos seres do universo), descontínua (sem elos necessários dos 
seres entre si, nem de propriedades entre eles) e aberta (sem início nem fim necessários). 
Em resumo: 
Asserção de partida: asserção de passagem – asserção de chegada 
Dado: inferência – conclusão 
Premissa: argumento - conclusão 
AULA 3 – NARRAÇÃO: QUEM CONTA UM CONTO AUMENTA UM PONTO? 
Narração – Estrutura Básica 
Quem nunca esteve em uma roda de amigos na qual fez o relato de uma viagem ou de uma 
aventura amorosa? Ou então, quem nunca precisou explicar alguns detalhes de uma 
determinada ação para o chefe, a mãe ou até mesmo o cônjuge? 
Pois é, se você se identificou com alguma dessas situações, sabe que já narrou algumas 
histórias. 
E quantos de nós não temos aquele avô ou tio bem velhinho que gosta de contar suas 
aventuras de quando jovem? Quanta história, não é mesmo? 
Pois bem. Vamos ver que a narração envolve, necessariamente, alguns elementos importantes 
em sua constituição. 
Em primeiro lugar, podemos perceber que o conteúdo de um texto narrativo se compõe de 
uma sucessão cronológica de ações ou acontecimentos. 
Existe uma ação inicial, outras que a sucedem, e uma ação final. 
A questão temporal é um elemento essencial a qualquer texto narrativo, ainda que o autor 
não siga a ordem real dos acontecimentos, como em um flashback, por exemplo. 
Segundo Agostinho Dias Carneiro, em seu livro Redação em construção (2003), para que se 
estabeleça uma sucessão cronológica de ações deve-se, em primeiro lugar, determinar o fato 
inicial. Em nossa fábula, o que dá início à história é o desafio que a lebre faz à tartaruga. A 
partir desse fato narrativo inicial, todas as outras ações e acontecimentos vão se encadear. 
Othon Moacir Garcia, em seu Comunicação em prosa moderna (1969), afirma que a matéria 
da narração é o fato, enquanto que a matéria da descrição é o objeto. O autor advoga ainda 
que a narração é um relato de um episódio, real ou fictício, e que implica a interferência de 
todos ou de alguns dos seguintes elementos: 
 O quê: o fato em si. 
 Quem: o protagonista. 
 Quem: o antagonista. 
 Como: o modo como se desenrolou o fato. 
 Quando: a época, o momento em que ele ocorreu. 
 Onde: o lugar da ocorrência. 
 Porquê: causa, razão ou motivo. 
 Por isso: resultado ou consequência. 
Personagens 
Além disso, sabemos que os personagens são essenciais a qualquer narrativa. Segundo 
Carneiro (2003, p.71), os personagens são humanos ou humanizados, como ocorre na maioria 
das fábulas. Entretanto, o autor defende que essa característica só funciona simultaneamenteà presença de outros elementos, como a sucessão temporal e a transformação dos estados. 
O autor afirma ainda que não há personagens gratuitos, pois cada um deles desempenha um 
papel determinado. Todavia, podemos considerar a existência de uma hierarquia entre 
personagens principais e secundários. 
O Narrador 
Outro ―personagem‖ importante da trama é o narrador. É ele quem organiza e destaca os 
pontos fundamentais da trama. O narrador é quem guia o leitor na viagem narrativa. 
A Localização Espacial 
Em uma narrativa, o espaço possui relação direta com a ação das personagens. De acordo 
com Carneiro (2003, p.93), o espaço não é indiferente para o personagem. 
No Romantismo, ele é um reflexo do estado da alma do personagem; no Naturalismo, o 
espaço físico é um dos fatores determinantes da ação e do caráter dos personagens. Em 
muitos casos, o narrador descreve o espaço físico de maneira tal que promove maior suspense 
em relação às ações que se sucederão naquele lugar. 
Como se Desenvolvem as Narrativas. 
Ainda com base em Carneiro (2003), as narrativas podem desenvolver-se a partir de quatro 
modelos básicos: 
Narrativa direta – tem no enredo seu principal interesse. O leitor fica desejoso de saber o que 
ocorreu. É muito comum em piadas, narrativas policiais ou até mesmo em relatos de situações 
cotidianas. 
Narrativa indireta – é aquela em que o ato de narrar é mais relevante que a própria narrativa 
em si. Machado de Assis é um ótimo exemplo: sua narrativa sofre diversas interrupções, 
digressões, e o leitor precisa ―viajar‖ com o narrador. Preocupa-se mais com o percurso do 
que com a chegada. 
Narrativa paralela – quando há núcleos temáticos independentes, mas que apresentam pontos 
de contato, formando uma só história. Muito comum nas telenovelas, onde há diferentes 
núcleos entrelaçados em uma mesma trama. 
Narrativa em flashback – volta-se ao passado a fim de justificar ou apontar seus reflexos no 
presente. 
A Organização dos Enredos 
De modo geral, os enredos se organizam a partir dos personagens ou sob o ponto de vista 
das ações. Segundo Garcia (1969, p.227), o enredo ou intriga possui alguns estágios 
progressivos, a saber: exposição > complicação > clímax > desenlace ou desfecho. Além 
disso, para o professor uma das virtudes da narrativa é comover o leitor, o que se dá pela 
emoção ou pelo interesse gerado pelo conflito. 
Esse percurso narrativo vai depender da estratégia utilizada pelo autor do texto; ele pode 
fornecer um problema e caminhar para uma solução, como em: 
Depois de muito tentarem pescar sem resultado, os dois pescadores se lastimavam sentados 
em seu barco. Foi nesse instante que um atum que havia fugido deles, agora fugindo de 
algum predador maior, saltou por azar dentro da barca, ficando assim autopescado 
(autumpescado...). Voltaram para a cidade e venderam o peixe, satisfeitos com a pescaria. 
Fonte: http://pt.shvoong.com/books/mythology-ancient-literature/1970914-f%C3%A1bulas-
dois-pescadores-atum/#ixzz1yXsfFOOD 
Comumente, há uma estrutura considerada mais tradicional, já exposta aqui pela voz de 
Garcia (1969), na qual se parte da introdução à conclusão. Segundo Carneiro (2003, p. 79), 
há cinco fases nesse modelo narrativo: 
Introdução – são dadas as informações iniciais necessárias ao perfeito entendimento do texto; 
Complicação – os personagens começam a relacionar-se e uma determinada situação passa a 
intensificar os acontecimentos da trama; 
Desenvolvimento – as histórias latentes começam a se desenrolar; 
Clímax – o ponto de maior tensão do relacionamento se verifica; 
Conclusão – tudo se reorganiza segundo um novo equilíbrio. 
Conclusão 
Você já deve ter notado que a estrutura narrativa não é algo tão simples assim, uma vez que 
seus elementos são variáveis e, ao mesmo tempo, relacionados entre si. Talvez você esteja 
pensando em Machado de Assis ou nos romances românticos de Alencar, entre outros, como 
exemplos de gêneros que seguem essa tipologia narrativa. Entretanto, não podemos atribuir 
toda essa perspectiva somente aos romances. 
Podemos observar exatamente essa mesma estrutura em outros gêneros, como contos, 
crônicas, relatos pessoais e policiais, etc. 
AULA 4 – NARRAÇÃO: OS GÊNEROS NARRATIVOS 
O Relato 
Todos os dias, contamos algo a alguém a respeito dos acontecimentos de nossa vida cotidiana 
ou da vida alheia. Como foi o nosso dia, o show do nosso artista preferido, o filme do cinema 
etc. Outro dia, bateram no meu carro, e eu tive de escrever um pequeno relato no Boletim de 
Ocorrências da PM… 
Desse modo, podemos afirmar que o foco está prioritariamente voltado para as ações em si. 
Podemos acrescentar que o Relato trata-se de um gênero muito antigo, dada sua 
funcionalidade. 
A necessidade que temos de usar esse texto imbrica-se com o próprio surgimento da 
linguagem. 
Se pensarmos nos contextos de circulação do relato, podemos perceber que não há como 
defini-los, pois são necessários a diversas situações comunicativas. 
Há sempre a necessidade de um relato específico em uma situação específica. 
Precisamos relatar o que ocorreu no dia anterior para justificar uma ausência, ou até mesmo 
relatar um acontecimento diante de um juiz em um tribunal. 
Outro ponto relevante acerca dos relatos é que são gêneros que dialogam com outros 
gêneros. 
O próprio boletim de ocorrências, o famoso BO, é um gênero em si, com sua estrutura e seus 
objetivos, mas que contém um breve (ou longo) relato em sua composição. 
O mesmo podemos pensar acerca dos romances e dos contos, onde é muito comum 
observarmos relatos quando são reconstruídas ações ou situações que envolvem personagens 
da trama. 
No que tange à linguagem e à estrutura dos relatos, podemos afirmar o seguinte: 
Os relatos orais contam, via de regra, com a presença do interlocutor, o que promove o 
diálogo, as interrupções, as dúvidas, os esclarecimentos necessários e, por isso, o texto vai 
sendo construído e reconstruído na própria atividade comunicativa. 
A cronologia dos fatos avulta-se relevante para os relatos, por isso, principalmente no relato 
escrito, as marcas linguísticas que permitem inferir a sequência dos acontecimentos são muito 
importantes. Por isso, os verbos costumam estar no passado. 
Veja o trecho do texto que usamos de exemplo: 
Ainda dei mais uma olhada e não achei nada. A Fernandinha levantou sorrindo, com o cabelo 
todo despenteado, e, quando olhei para ela, vi o dente preso no cabelo, perto da orelha. 
Verbos no passado, o que garante a sequência temporal das ações, bem como o fato ser 
anterior ao próprio relato. 
O Romance 
Quem nunca ouviu falar em ―Dom Casmurro‖, ou ―Gabriela cravo e canela‖, ou ainda em 
―Iracema‖? 
Pois bem, esses nomes são de famosas obras da literatura brasileira. Eles são exemplos de 
Romances. 
Talvez você esteja pensando em Romance como a história de amor entre duas pessoas. 
O caráter polissêmico da linguagem nos garante que esse também pode ser o significado do 
termo romance, mas não nos referimos a ele. 
Na verdade, Romance nada mais é do que um texto narrativo com mais personagens e, 
consequentemente, mais ações do que um conto. A teoria literária também o denomina 
novela. 
Os romances ganharam evidência com o Romantismo, escola literária muito influente do 
século XIX. Muitos deles, nessa época, foram publicados no formato de folhetins, ou seja, 
capítulo a capítulo nos jornais. Alguma relação com as novelas da TV? 
O site Recanto das Letras, com base em renomados autores, propõe alguns tipos de romance, 
a saber: 
O Romance Urbano; 
O Romance Sertanejo ou Regionalista; 
O Romance Histórico; 
O Romance Indianista; 
O Romance Psicológico; 
O Romance Gótico;O Romance Intimista 
O Romance Memorialista e / ou 
Autobiográfico; 
O Romance Policial; 
O Romance de Ficção Científica; 
O Romance Galante; 
O Romance Negro; 
O Romance Didático e 
O Romance Pastoril. 
 
Nesse gênero textual, podemos perceber um maior número de ações, por isso o leitor precisa 
atentar-se aos detalhes, bem como ao narrador, que pode ser fundamental para o desenrolar 
da narrativa. 
Exemplos de Romance: O Cortiço (Aluísio Azevedo), A Moreninha (Joaquim Manuel de 
Macedo), O Ateneu (Raul Pompéia), Senhora (José de Alencar), Gabriela Cravo e Canela 
(Jorge Amado), Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis). 
O Conto e a Crônica 
 O conto e a crônica possuem semelhanças no que tange à estrutura, mas possuem objetivos 
um pouco diferentes – o que faz com que sejam considerados gêneros discursivos diferentes. 
São textos narrativos, em sua maioria fictícios, menores que o romance. Possuem, de modo 
geral, narrador, personagens e ações que ocorrem em determinado lugar em um determinado 
tempo. 
Entretanto, o conto parece ter seu nuance literária mais definida e próxima ao romance, uma 
vez que a diferença mais marcante é o número reduzido de personagens e, 
consequentemente, de ações. 
No que diz respeito à crônica, podemos afirmar que seu objetivo ou função sociocomunicativa 
reside na reflexão de fatos cotidianos a partir do olhar do cronista. 
Todavia, assim como o conto, a crônica é um texto que possui poucos personagens e ações. 
A Carta e o E-mail 
Segundo Luiz Antônio Marcuschi, em seu texto Gêneros textuais emergentes no contexto da 
tecnologia digital (2010, p.37), os gêneros digitais possuem uma contraparte ―real‖. 
Nesse sentido, o autor advoga que o e-mail seria a contraparte virtual das cartas. 
Enquanto gênero discursivo, não parece ser possível determinar uma só função social ou 
objetivo tanto para a carta como para o e-mail, uma vez que podemos utilizar ambos para 
fazer um relato, comunicar uma demissão, solicitar algo, divulgar um produto ou uma ideia 
etc. 
Sendo assim, a tendência é considerar carta e e-mail como suportes a outros gêneros 
discursivos. Mas o que é um suporte? 
O que podemos, por ora, afirmar é que todo texto ancora-se em algum suporte. Para 
Marcuschi (2003, p.10), o suporte é ―um lócus físico ou virtual com formato específico que 
serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado como texto.‖ 
Refinando essa definição, o suporte é um lugar físico ou virtual; tem formato específico e 
serve para mostrar o texto. 
Em outras palavras, o suporte é algo tangível – ainda que virtual - , é específico por ter sido 
produzido para portar textos de determinada comunidade discursiva, o que não faz do suporte 
um portador eventual, mas definido sociodiscursivamente; e, além disso, o suporte é 
responsável por tornar o texto acessível. 
Podemos afirmar que a carta é um suporte físico, e o e-mail é um suporte virtual. Todavia, 
ambos podem sustentar gêneros diversos, tais como a propaganda, o relato pessoal, o 
pedido, o convite e muitos outros, cada um com a sua função sociocomunicativa específica. 
No caso das cartas, já há alguns adjetivos cristalizados, definindo funções diferentes para esse 
texto: comercial, de apresentação etc., o que comprova o caráter mais de suporte do que de 
gênero. Já no que concerne ao e-mail, temos outra particularidade: podemos anexar 
documentos dos mais diversificados gêneros discursivos: contratos, petições, fotos, entre 
outros. 
Outra questão relevante acerca desses textos reside na dicotomia formalidade x 
informalidade. 
Muitas pessoas costumam escrever utilizando o chamado internetês – a linguagem abreviada 
utilizada em chats, redes sociais e outros ambientes do contexto eletrônico. 
Entretanto, sabemos que esse tipo de linguagem tende à informalidade, o que não é 
adequado a todos os contextos de circulação tanto da carta como do e-mail. 
Assim, é preciso que tenhamos atenção ao grau de formalismo que vamos utilizar quando 
escrevemos qualquer texto, principalmente cartas e e-mails, pois podem ser direcionados 
tanto a pessoas mais próximas, como amigos, irmãos, namorados, como a pessoas que 
exercem um papel social de autoridade ou de superioridade, como professores, chefes etc. 
AULA 5 – DESCRIÇÃO: A LINGUAGEM DOS DETALHES 
Máquina fotográfica, ótima marca, prateada, pequena... É essa que estou procurando! 
Para Othon M. Garcia (1973), "Descrição é a representação verbal de um objeto sensível (ser, 
coisa, paisagem), através da indicação dos seus aspectos mais característicos, dos 
pormenores que o individualizam, que o distinguem.― 
Assim, descrever é prover elementos para que o leitor/ouvinte adquira informações acerca do 
objeto descrito. Em outras palavras, é localizar, identificar ou qualificar o objeto da descrição 
de acordo com os objetivos do autor. 
Vamos a um exemplo? Voltemos a nossa infância com ―A Casa‖, de Vinícius de Moraes: 
Era uma casa muito engraçada 
Não tinha teto, não tinha nada 
Ninguém podia entrar nela, não 
Porque na casa não tinha chão 
Ninguém podia dormir na rede 
Porque na casa não tinha parede 
Ninguém podia fazer pipi 
Porque penico não tinha ali 
Mas era feita com muito esmero 
Na rua dos bobos, número zero 
Nessa canção, o foco de interesse é a descrição de uma determinada casa. Não há o relato de 
alguém que morava nela ou de qualquer outra ação que a pudesse envolver. 
Mas ao contrário disso, o autor provoca a imaginação do leitor/ouvinte elencando as 
características dessa casa: ―muito engraçada/não tinha teto, não tinha nada‖, etc. 
Apesar de todos esses exemplos pontuais, ou seja, textos essencialmente descritivos, 
sabemos que a descrição costuma ser parte de outros tipos textuais. 
Certamente, o tipo textual que mais recorre à descrição é a narração. 
Observemos o texto a seguir, de Graciliano Ramos. 
―Entreabriu a porta, mergulhou na faixa de luz que passou pela fresta, correu o trinco 
devagarinho. Avançou, temendo esbarrar nos móveis. Acostumando a vista, começou a 
distinguir manchas: cadeiras baixas e enormes, que atravancavam a saleta. Escorregou para 
uma delas, o coração aos baques, o fôlego curto. Afundou no assento gasto. As rótulas 
estalaram, as malas do traste rangeram levemente. 
Ergueu-se precipitado, encostou-se à parede, com receio de vergar os joelhos. Se juntas 
fizessem barulho, os moradores iriam acordar, prendê-lo. Achou-se fraco, sem coragem para 
fugir ou defender-se. Acendeu a lâmpada e logo se arrependeu. O círculo de luz passeou pelo 
assoalho, subiu numa cadeira e sumiu-se. A escuridão voltou. Temeridade acender a lâmpada‖ 
Segundo o professor Carneiro, podemos perceber, de imediato, que se trata de um texto 
narrativo, uma vez que se podem perceber sequências de ações que obedecem a uma ordem 
cronológica, indicadas pelos verbos entreabriu, mergulhou, correu, avançou, etc. 
Entretanto, há uma interrupção dessa sequência por um segmento descritivo: cadeiras baixas 
e enormes; que atravancavam a saleta. Depois, retorna-se à sequência de ações com a forma 
verbal escorregou. 
Dessa forma, podemos perceber que o processo descritivo interrompe a sequência dos 
acontecimentos a fim de focalizar características relevantes para o processo de significação do 
texto. 
Além disso, quando lemos um romance, um conto ou uma crônica, sabemos que a descrição 
das personagens, dos lugares, etc. é importante para a construção dos sentidos do texto. 
Mas não é só em gêneros narrativos que encontramos a descrição. Podemos ter essa tipologia 
em Músicas, como ―A casa‖, de Vinícius de Moraes, em poemas, em propagandas, etc. 
Vejamos mais exemplos: 
O poema MAR PORTUGUÊS, de Fernando Pessoa,é um exemplo de poema descritivo: 
Ó mar salgado, quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, quantas 
mães choraram, 
Quantos filhos em vão rezaram! 
 
Quantas noivas ficaram por casar 
Para que fosses nosso, ó mar! 
Valeu a pena? Tudo vale a pena 
Se a alma não é pequena. 
As lágrimas pelas perdas ressaltadas no poema apontam para um mar perigoso, agitado e 
cheio de complicações, ou seja, para suas características. Por isso, podemos afirmar que há 
uma atmosfera descritiva nesse trecho. 
Veja, agora, um anúncio de um veículo usado. Certamente, o objetivo desse gênero é vender 
o carro, mas realçando as características do veículo: 
PALIO EX FIRE 4 PORTAS COMPLETO–DIREÇÃO, RARIDADE COM AR CONDICIONADO, 
VIDROS ELÉTRICOS, TRAVAS ELÉTRICAS, PNEUS ZERADOS E AINDA GNV. AUTOMÓVEL 
IMPECÁVEL, TUDO FUNCIONANDO, 2012 VISTORIADO, DISPENSO TROCA POR CORSA, UNO, 
GOL, FIESTA KA 206, CELTA, CLIO. CONSIGO FINANCIAMENTO COM AS MENORES TAXAS DO 
MERCADO, APENAS R$14 e 900 OU ENTRADA DE 1 E 900 E 60 PRESTAÇÕES DE 417 FIXAS 
NO CDC. LIGUE E COMPROVE: 0000000 OU XXXXXXXX 
Elementos da Descrição 
Os exemplos que analisamos até agora apontam para o fato de que a descrição é realizada, 
basicamente, por meio de adjetivos e atributos relacionados ao elemento que se vai 
descrever. Segundo Carneiro (2003, p. 51): 
―Todo texto descritivo apresenta alguns elementos fundamentais: 
 Um observador; 
 Um tema-núcleo, que pode ser um objeto, um ser animado ou inanimado, ou um 
processo; 
 Um conjunto de dados pertinentes ao tema-núcleo selecionado.‖ 
A seguir, vamos proceder à análise desses elementos, com base em Carneiro (2003): 
O Observador 
Não podemos nos esquecer de que toda descrição nada mais é do que o olhar do observador 
em relação ao que se descreve. 
Em ―A casa materna‖ – texto de Vinicius de Moraes, que lemos durante esta aula – fornece-
nos a visão do poeta em relação a essa casa. 
Todos os adjetivos e atributos relatados são impressões que ele tem da casa, o que corrobora 
o ponto de vista saudoso em relação à casa materna. 
Outro dado importante acerca do observador refere-se às limitações físicas e psicológicas que 
ele pode ter. 
Vamos a um exemplo? É muito comum técnicos de futebol usarem um fone de ouvido ligado a 
um rádio comunicador quando estão à beira do gramado comandando seu time. 
Isso ocorre, na maioria das vezes, porque um de seus auxiliares técnicos estão em outro lugar 
do estádio – geralmente no alto, seja nas arquibancadas, seja nas tribunas – olhando o jogo 
de outro ângulo, sob outra perspectiva. 
Assim, a visão ―de cima‖ favorece um olhar mais amplo do posicionamento das equipes, 
segundo analistas esportivos. 
A descrição, segundo Carneiro (2003, p.53), pode refletir o estado de alma do observador. 
Assim, a descrição poderá ser afetada por questões subjetivas, psicológicas. Voltemos a um 
trecho de A casa materna: 
A casa materna é o espelho de outras, em pequenas coisas que o olhar filial admirava ao 
tempo que tudo era belo: o licoreiro magro, a bandeja triste, o absurdo bibelô. E tem um 
corredor à escuta de cujo teto à noite pende uma luz morta, com negras aberturas para 
quartos cheios de sombras. Na estante, junto à escada, há um tesouro da juventude com o 
dorso puído de tato e de tempo. Foi ali que o olhar filial primeiro viu a forma gráfica de algo 
que passaria a ser para ele a forma suprema de beleza: o verso. 
Veja que o autor utiliza-se de algumas expressões, como em ―bandeja triste‖, ―absurdo 
bibelô‖, ―luz morta‖, que refletem o saudosismo e a melancolia do poeta. 
Em outras palavras, traços psicológicos podem ser verbalizados através da descrição. 
Outra limitação por parte do observador é a do referente utilizado. Seu alguém descreve um 
homem qualquer, tal descrição pode se dar por suas características físicas, psicológicas, por 
sua profissão, paternidade, etc. 
Como pai, ele pode ser atencioso, carinhoso, etc. O referencial utilizado foi a paternidade. Já 
como profissional, pode ser negligente, incompetente, etc. 
O Tema-Núcleo 
O tema-núcleo nada mais é do que o objeto a ser descrito. Entretanto, é preciso salientar que 
descrever é dar elementos que caracterizam esse tema-núcleo, mas não necessariamente 
todos os elementos. 
Somente aqueles que são relevantes para o entorno textual. 
Conforme advoga Carneiro (2003, p. 51) ―uma informação dada traz consigo a expectativa de 
alguma utilidade textual.‖ 
A descrição de seres humanos, por exemplo, pode ser física, psíquica ou físico-psíquica. 
Carneiro (2003, p.55) sugere o seguinte exemplo realçando a caracterização física: 
―Zeca era pequeno, tez baça e magríssimo. Nunca vi ninguém mais magro. Magro assim, só 
quem está nas últimas. Mas o Zeca era magro assim e tinha um porte, uma vivacidade de 
rapaz com perfeita saúde. Esse contraste era coisa surpreendente.‖ (Manuel Bandeira. ―Na 
câmara de José do Patrocínio). 
Já para a descrição psicológica, o autor cita o seguinte trecho de ―O dono‖, de Drummond: 
―O dono do pequeno restaurante era amável, sem derrame, e a fregueses mais antigos 
costumava oferecer, antes do menu, o jornal do dia ―facilitado‖, isto é, com traços vermelhos 
cercando as notícias importantes. Uma vez por outra indaga se a comida está boa, oferece 
cigarrinho, queixa-se do resfriado crônico e pergunta pelo nosso…‖ 
Entretanto, há casos em que temos ambos os aspectos: 
―Ar de empregada ela não tinha: era uma velha mirrada, muito bem arranjadinha, mangas 
compridas, cabelos em bando num vago ar de camafeu – e usava mesmo um, fechando-lhe o 
vestido ao pescoço. 
Mas via-se que era humilde e além do mais impunha dentro de casa certo ar de discrição e 
respeito… (Fernando Sabino, ―Dona Custódia‖). 
Já a descrição de paisagens pode ocorrer por diversas razões. Identificar um lugar específico, 
convencer alguém a visitar determinado lugar, ressaltar a influência da paisagem ou do local 
no modo de ser de alguém ou de algum personagem, etc. 
Assim, Carneiro (2003, p. 56) advoga que, nesse caso, predominam vocábulos de função 
nomeadora ou identificadora, além de certa riqueza de detalhes. Um exemplo muito simples 
seria o pedido de orientação a algum transeunte quando estamos perdidos em uma cidade 
cujos lugares não conhecemos muito bem, não é mesmo? 
Um dos exemplos que Carneiro (2003) nos fornece é um trecho do famoso livro ―O cortiço‖, 
de Aloísio de Azevedo, onde as características locais influenciam diretamente o 
comportamento das pessoas: 
―E aquilo (o cortiço) se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e barulhenta, com as 
suas cercas de varas, as suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos de três e quatro 
palmos, que apareciam como manchas alegres por entre a negrura das limosas tinas 
transbordantes e o revérbero das claras barracas de algodão cru, armadas sobre os lustrosos 
bancos de lavar. 
E os gotejantes jiraus, cobertos de roupa molhada, cintilavam ao sol, que nem lagos de metal 
branco. 
E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a 
minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia 
brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.‖ 
Objetos podem também ser descritos. A descrição de objetos é estática e com finalidade de 
identificação. Segundo Carneiro, a precisão, a simplicidade e o objetivismo são suas 
qualidades fundamentais. 
Veja um outro exemplo: 
Um cilindro de madeira, de cor preta, medindo aproximadamente 17,5cm de comprimento por 
0,7cm de diâmetro, envolve um cilindro menor, de grafite, de mesmo comprimento, porém de 
0,15cm de diâmetro. De uma dasextremidades, foi retirada madeira, formando-se um cone, 
cujo ápice é uma fina ponta de grafite. 
Dados e Técnicas Descritivas 
Por fim, ainda com base em Carneiro (2003, p.58), observamos que os dados fornecidos pelo 
observador, ainda que fruto de seu ponto de vista ou de sua perspectiva em relação ao que se 
descreve, podem se apoiar em um critério de classificação que tem como base os sentidos, 
restritos a seres de existência concreta: visuais, auditivos, olfativos, tácteis e gustativos. 
Ainda segundo o autor, ―quando as realidades não são apreendidas pelos sentidos, mas por 
nossas capacidades intelectuais, os dados selecionados estarão incluídos dentro de cada 
campo do conhecimento: artístico, científico, religioso, moral, político, literário, etc.‖. 
AULA 6 – INJUNÇÃO: ORDENAR PARA ORGANIZAR 
Na última aula, estudamos o texto descritivo, ou seja, aquele que dará características daquilo 
que é descrito. Agora, vamos estudar o texto injuntivo. 
Primeiramente, vamos definir o termo injuntivo. 
Segundo o Dicionário da Porto Editora, injuntivo é: Obrigatório; imperativo. LINGUÍSTICA que 
exprime uma ordem ou obrigação (Do francês injonctif, «idem»). 
Já o site *Simplesmente Português cita alguns dicionários de linguística e nos fornece as 
seguintes definições: 
- dictionnaire de linguistique - de Jean Dubois e outros (Librairie Larousse): 
1. Uma frase injuntiva é uma frase que exprime uma ordem, dada ao locutor, para executar 
(ou não executar) tal ou tal acção. As formas verbais específicas dessas frases estão no modo 
injuntivo e o imperativo é uma das formas do injuntivo. 
2. Emprega-se a expressão função injuntiva para designar a função da linguagem chamada 
"conativa" ou "imperativa": o locutor impele o destinatário a agir de determinada maneira.» 
- O que falam Maria Francisca Xavier e Maria Helena Mateus no «Dicionário de Termos 
Linguísticos»: 
Diz-se que uma frase é injuntiva se exprimir uma ordem de execução ou não execução de 
uma determinada acção. Por vezes, emprega-se a expressão «função injuntiva» para designar 
a função apelativa de linguagem, por meio da qual o locutor conduz o alocutário a reagir de 
um determinado modo. 
Assim, o texto do tipo injuntivo utiliza-se de uma sequência de termos que incitam uma ação, 
ou seja, há elementos linguísticos que fazem com que o interlocutor, imediatamente, pratique 
determinada ação. Mas, vamos por partes… 
Como já estudamos, os textos costumam ser heterogêneos no que diz respeito à tipologia. 
Em outras palavras, é raro encontrar textos que sejam tipologicamente puros ou únicos. Pode 
haver a predominância de um tipo textual em relação ao outro, mas, via de regra, haverá 
mais de um tipo textual em sua formação. 
Mesmo assim, nossa prática discursiva aponta para textos que possuem uma linguagem 
imperativa, e que – conforme a definição que vimos – exprimem ordem ou obrigação. 
Nesse sentido, ordem não parece, necessariamente, envolver um jogo de forças entre alguém 
que possua autoridade sobre a outra, mas no sentido de orientar, sugerir uma ação, ainda 
que por força de posição superior. 
Ex.: Placa de trânsito (amarela) – curva acentuada à esquerda, pista sinuosa à direita, curva 
acentuada à direita. 
Por isso, não há como não pensarmos em gêneros textuais de natureza injuntiva, tais como a 
bula de remédio, o manual de instruções daquele Home Theather ultramoderno ou até mesmo 
uma pequena lista com tarefas ordenadas pelo chefe em seu ambiente de trabalho. 
Os textos injuntivos podem também ser chamados de textos instrucionais, o que facilita ainda 
mais nossa concepção deles. Trilhando os mesmos caminhos de Maria Luiza Abaurre e Maria 
Bernadete Abaurre, em Produção de Texto: interlocução e gêneros, de 2008, vamos estudar a 
tipologia injuntiva ou instrucional verificando: 
 O que são textos injuntivos/instrucionais? 
São os textos que apresentam uma série de procedimentos a serem seguidos pelo interlocutor 
em determinado contexto. 
 Quais são as características desses textos? 
Segundo Abaurre e Abaurre (2008, p. 206), ―a injunção é o ato de ordenar expressamente, de 
mandar executar alguma coisa. Textos injuntivos, portanto, são aqueles cujo objetivo é levar 
as pessoas a agirem de determinada maneira, como forma de alcançarem um resultado 
específico: instalar ou configurar um aparelho, preparar uma refeição, curar uma doença, etc.‖ 
 Qual é a sua finalidade? 
A partir de alguns exemplos, podemos entender a finalidade desses textos. Como instalar um 
aparelho eletrônico? Que passos seguir para criar uma apresentação? O que fazer em caso de 
emergência? São perguntas que devem ser respondidas por meio de textos 
injuntivos/instrucionais. 
 Em quais contextos esses textos circulam e qual é o perfil de seus leitores? 
Segundo Abaurre e Abaurre (2008, p.206), ―os textos instrucionais circulam em contextos 
diferentes, a depender do gênero discursivo que for considerado.‖ Assim, podemos considerar 
que os textos injuntivos/instrucionais funcionam como verdadeiros guias, manuais ou passo a 
passo para diversas ações do cotidiano, uma vez que os leitores desses textos necessitam de 
informações específicas a respeito de como proceder para alcançar um objetivo também 
específico (op.cit., p.207). 
 Como é a linguagem utilizada na sua elaboração? 
De acordo com nossas autoras Abaurre e Abaurre (2008, p.207), a variedade de gêneros 
textuais que exemplificam os textos injuntivos dificulta a definição de uma estrutura precisa, 
mas há alguns elementos estruturais comuns à maioria deles, a saber: 
1. Uma série de procedimentos; 
2. Procedimentos em sequência, numa ordem peculiar àqueles procedimentos; 
3. Verbos flexionados no modo imperativo. 
Hora do exemplo… 
Receita para fazer um bom professor 
Ingredientes: 
Um professor 
-100g de coragem 
-400g de sabedoria (marca Inteligência) 
-30g de rigidez 
-50g de força de vontade 
-10g de açúcar 
Modo de preparação: 
Coza o professor e encha-o de carne e ossos, junte-lhe a coragem e a sabedoria; depois, 
numa taça à parte, mistura-se a rigidez e o açúcar. Depois de bater e misturar bem estes 
ingredientes, acrescente-os aos outros e bata tudo de 45 minutos a 2 horas. Leva-se ao 
forno durante mais ou menos três períodos. Enfeite com amor e sirva, de preferência, numa 
sala de aula. 
Verbos no imperativo indicando os procedimentos e listados na ordem necessária à confecção 
da receita. 
 Por que a ordem é importante nesses textos? 
Você já imaginou começar uma receita de um peixe assado colocando-o no forno sem os 
temperos? Ou ainda ligar uma câmera digital sem colocar as pilhas? Claro que não! Isso 
ocorre exatamente pelo fato de que a ordem dos elementos nos textos injuntivos é essencial. 
Entretanto, sabemos que o leitor, a depender do seu conhecimento de mundo, pode 
selecionar as partes para sua leitura. Por exemplo, em uma bula de remédio, muitas vezes 
queremos ler somente a posologia, ou as reações adversas. Isso não significa pular partes, 
mas selecionar aquilo que seja pertinente para aquele momento. 
AULA 7 – EXPOSIÇÃO E DISSERTAÇÃO: CONCEITUAÇÃO E ESTRUTURA 
Na última aula, estudamos o texto injuntivo ou instrucional, ou seja, aquele que vai nos 
fornecer procedimentos para alcançar determinado objetivo. Agora, vamos estudar o texto 
expositivo/dissertativo. 
Mãos à obra? 
Primeiramente, precisamos situar-nos quanto à terminologia utilizada em nossa disciplina. 
Dissertar, segundo o dicionário on-line da Porto Editora (www.portoeditora.pt), vem do Latim 
dissertare, que significa discutir. Assim, no português, o termo passou a significar discursar 
sobre determinado assunto. Implicitamente, podemos atribuir exposição comosinônimo de 
dissertar. 
Todavia, sabemos que os livros didáticos, de modo geral, associam o texto dissertativo à 
argumentação, uma vez que os diversos vestibulares e concursos públicos, tradicionalmente, 
pedem para que os candidatos produzam textos do tipo ―dissertativo-argumentativo‖. 
Mesmo assim, em Produção Textual II, assumimos que o texto dissertativo é, primeiramente, 
expositivo, uma vez que promove a exposição de determinado assunto/tema. 
Além disso, não podemos nos esquecer de que assumimos o ponto de vista defendido por 
Marcuschi (2005) de que há cinco tipos textuais, a saber: narração, descrição, injunção, 
exposição e argumentação. Entretanto, isso não quer dizer que não possamos considerar o 
texto argumentativo uma dissertação, mas uma dissertação com argumentos, o que veremos 
na próxima aula. 
Outro cuidado que precisamos ter refere-se ao termo ―informativo‖. Muitos alunos costumam 
classificar textos dessa maneira, mas não corresponde nem a um tipo nem a um gênero 
textual, uma vez que todos os textos possuem o que chamamos de ―taxa de informatividade‖. 
Alguns são mais informativos que outros. 
Entretanto, isso tem relação direta com o conhecimento de mundo do interlocutor. Um texto 
pode ser extremamente informativo para uma pessoa e pode não possuir tantas novidades 
assim para outra. 
Explicações devidamente feitas, vamos tratar do texto dissertativo/expositivo! 
Na minha infância/adolescência, quando ainda não havia Internet, lembro que as pesquisas 
escolares eram todas feitas por meio das chamadas Enciclopédias. Esses livros continham 
diversas informações acerca de diversas áreas do conhecimento. 
Hoje, já temos enciclopédias on-line, bem como diversos sites de busca que nos direcionam 
para o assunto que quisermos. 
Segundo Abaurre; Abaurre (2008, p.146), em seu livro Produção de textos: interlocução e 
gêneros. 
O desejo de reunir, em uma mesma obra, os conhecimentos acumulados pelos seres humanos 
sobre diversos aspectos da realidade se manifestou pela primeira vez na Antiguidade. O Susa, 
uma obra coletiva produzida na Grécia do século X a.C., procurava registrar os saberes de 
todos os campos do conhecimento estudados até aquele momento. Este é o primeiro texto 
enciclopédico de que se tem notícia. (grifo das autoras) (ABAURRE; ABAURRE, 2008, p.146). 
Dessa forma, o que as autoras chamam de texto enciclopédico é um gênero discursivo que 
apresenta informações de maneira sistemática, como o objetivo de expor, informar acerca de 
determinado (s) assunto (s). Trata-se, portanto, de um texto expositivo/dissertativo. 
Hoje, uma das mais famosas enciclopédias digitais é a Wikipédia. Trata-se de uma 
―enciclopédia aberta‖, ou seja, construída pelos próprios leitores. Todavia, esse fato não a 
atesta como uma fonte de pesquisa confiável, principalmente no meio acadêmico. É preciso 
procurar informações sempre em fontes respeitadas em cada área do conhecimento. 
Geralmente, os textos enciclopédicos possuem uma linguagem formal. Entretanto, ressaltamos 
que isso não significa linguagem rebuscada – não podemos nos esquecer dos objetivos desse 
texto, para os quais a clareza é fundamental - pois é comum neles a ordem direta (sujeito + 
verbo + complemento), com poucas inversões ou informações intercaladas. 
Tanto nas enciclopédias antigas, em papel, como nas enciclopédias modernas, on-line, 
costuma-se utilizar como estratégia expositiva o complemento visual das imagens, o que é 
característico desse tipo de texto. 
Outro gênero textual expositivo é o texto didático. Se pensarmos em sua finalidade, veremos 
que se trata de uma exposição nata, por conta dos conteúdos aos quais se propõe esse texto. 
Segundo Abaurre; Abaurre (2008, p.162), ―O texto didático é um gênero discursivo que tem 
por objetivo ensinar algo ou explicar um conteúdo específico a quem não domina ou não o 
conhece.‖ 
No que tange à sua estrutura, os textos didáticos, de modo geral, são organizados em 
capítulos e/ou unidades, que contemplam conteúdos estabelecidos para cada série. Além 
disso, os capítulos ou unidades possuem títulos, subtítulos, seções, subseções, etc. 
Atualmente, por conta das exigências de um novo público-alvo influenciado pelos aparatos 
tecnológicos, os textos didáticos costumam ser bem coloridos e com muitas imagens. 
Outro exemplo de texto expositivo/dissertativo é o texto de divulgação científica. Pode ser um 
artigo científico, uma dissertação de mestrado, uma tese de doutorado, monografia, etc. Esses 
textos possuem circulação diversa, haja vista seu público-alvo. 
Em outras palavras, se a publicação desse texto ocorre em um jornal ou revista de grande 
circulação, a linguagem não costuma ser muito técnica, mas se for publicado em revistas 
especializadas, a linguagem pode seguir um padrão mais tecnicista, específico, dado o 
público-alvo ser formado, de modo geral, por estudantes e especialistas de determinada área. 
Entretanto, não são textos argumentativos, mas sim expositivos. 
As duas primeiras imagens (Revista Galileu e Língua Portuguesa) referem-se a revistas que, 
apesar de tratarem de temas de natureza científica, são voltadas para o público em geral, por 
isso possuem linguagem acessível a esse público. 
Já a terceira imagem refere-se à Revista da ANPOLL – Associação Nacional de Pós-graduação 
e Pesquisa em Letras e Linguística. Por se tratar de uma revista voltada para um público 
específico, possui artigos com linguagem mais técnica, ou seja, que exige conhecimentos 
prévios na área do conhecimento em questão – Letras e Linguística. 
A respeito desse assunto, Abaurre; Abaurre (2008, p. 175-176) advogam que: 
A preocupação em traduzir conceitos científicos complexos para o leitor leigo fará com que a 
linguagem do texto de divulgação científica assuma algumas características bem marcadas. A 
primeira delas diz respeito ao grau de coloquialidade admitido em textos como esses. Ao 
contrário do que acontece em muitos gêneros expositivos, nos quais se observa um uso mais 
formal da linguagem, os textos de divulgação científica recorrem à linguagem coloquial como 
uma estratégia para aproximar o leitor dos tópicos abordados. 
Outro gênero discursivo de natureza expositiva é o Relatório. É muito comum, em qualquer 
instituição, o uso desse gênero. É um texto analítico-expositivo, ou seja, são apresentados 
resultados de uma análise ou experimento. Segundo Abaurre; Abaurre (2008, p.184), os 
relatórios mais frequentes são: 
Relatório científico - apresenta o desenvolvimento e as conclusões de uma pesquisa ou de 
experimentos científicos. 
Relatório de gestão - apresenta os resultados alcançados em um período específico de uma 
administração. Costuma ser feito por executivos ou administradores em cargos de chefia. 
Relatório de atividades - apresenta as realizações de um indivíduo no exercício de uma função 
específica. Costumam ser feitos por professores universitários, alunos de graduação e pós-
graduação, etc. 
Relatório de inquérito - apresenta os resultados de uma investigação administrativa ou policial. 
No que tange à circulação desses textos, é preciso observar sua natureza e seus objetivos, a 
fim de delimitar sua circulação. Relatórios de inquérito, por exemplo, costumam ser secretos 
e, por isso, bastante restritos. Do mesmo modo como o contexto de circulação desses textos 
pode ou não ser restrito, assim também ocorre, proporcionalmente, com seu público leitor. 
Outra questão relevante acerca dos relatórios diz respeito às estratégias discursivas utilizadas. 
Como se trata de uma ―fotografia‖, o maior número de detalhes e de dados é fundamental 
para alcançar os objetivos desse gênero textual. Por isso, pode-se utilizar gráficos, tabelas, 
imagens, bem como diversasoutras estratégias em sua composição, a fim de tornar o 
relatório mais eficaz e completo. 
Por fim, não podemos deixar de lado um texto de grande circulação em nossos dias, a 
reportagem. 
Jornais e revistas constituem suportes tradicionais para a publicação das reportagens. 
Entretanto, também temos as reportagens de TV e da Internet. 
Enfim, os texto expositivos possuem funções diversas na sociedade, mas de modo geral 
prestam-se à divulgação do conhecimento, algo tão caro ao homem contemporâneo. 
AULA 8 – ARGUMENTAÇÃO: A LINGUAGEM QUE FAZ BRILHAR 
Na última aula, estudamos o texto expositivo ou dissertativo, ou seja, aquele que vai fornecer-
nos informações para que se divulgue determinado conhecimento. Agora, vamos estudar o 
texto argumentativo. 
Se pensarmos nas mais rotineiras situações, veremos que precisamos convencer pessoas a 
todo instante. Seja numa simples conversa com o cônjuge, ou numa reunião de negócios: a 
argumentação faz parte da nossa vida cotidiana. 
Os estudos a respeito da linguagem humana são antigos. Desde os filósofos gregos havia 
preocupação com a maneira de se comunicar, tendo em vista, principalmente, o 
convencimento do outro. Segundo o Prof. José Luis Fiorin, da USP: 
A argumentação engloba a demonstração, mas não se restringe a ela, pois trabalha não só 
com o que é necessariamente verdadeiro, o que é logicamente demonstrável, mas também 
com aquilo que é plausível, possível, provável. Argumentar, em sentido lato, é fornecer razões 
em favor de determinada tese. Enquanto a demonstração lógica implica que, se duas ideias 
forem contraditórias, uma será verdadeira e a outra falsa, a argumentação em sentido lato 
mostra que uma ideia pode ser mais válida que outra. Isso significa que a adesão não se faz 
somente a teses verdadeiras, mas também a teses que parecem oportunas, socialmente 
justas, úteis, equilibradas, etc. Assim, a argumentação opera não só com o necessário, mas 
também com o preferível, isto é, com juízos de valor, em que alguma coisa é considerada 
superior a outra, melhor do que outra, etc. [...] 
Estamos, pois, tomando argumentação num sentido bastante amplo. São argumentos tanto as 
provas demonstrativas, ou seja, aquelas que mostram a verdade de uma conclusão ou, pelo 
menos, sua relação necessária com as premissas, aquelas cuja validade independe de opinião 
pessoal, quanto as persuasivas, isto é, aquelas que buscam a adesão de indivíduos para uma 
determinada tese, apelando para o preferível. A adesão pode ter intensidade variável e 
depender de diferentes razões: a tese pode ser considerada verdadeira, oportuna, socialmente 
justa, útil, equilibrada etc. Enquanto nas provas demonstrativas a verdade de uma tese 
implica a falsidade da outra, as provas persuasivas mostram que uma tese é melhor que a 
outra. Essa concepção de argumentação está de acordo com a etimologia da palavra 
argumento, que vem do latim argumentum, vocábulo formado com o tema argu-, que está 
também presente nos termos arguto, argúcia, argênteo, argentum e significa ―fazer brilhar‖, 
―fazer cintilar‖. 
Argumento é, pois, tudo aquilo que ressalta, faz brilhar, faz cintilar uma ideia. Argumento é 
todo procedimento linguístico utilizado pelo enunciador com vistas a fazer seu interlocutor 
aceitar o que está sendo dito, a persuadi-lo, a levá-lo a crer, a conduzi-lo a fazer o que foi 
proposto. (FIORIN, 1998, p.127-130.). 
Nesse sentido, argumentar significa fazer brilhar uma ideia, ou seja, tornar visível ao outro 
aquilo que lhe é relevante em determinado contexto, a ideia que se quer transmitir. 
Do ponto de vista da organização clássica das disciplinas, a argumentação (em seu sentido 
lato) vincula-se à lógica, à retórica e à dialética, a partir de como foi pensada desde 
Aristóteles até o fim do século XIX (cf. PLANTIN, 2008). 
Dessa forma, argumentar tem a ver com a utilização estratégica de um sistema significante, 
além de configurar-se como essência persuasiva da linguagem, a arte do convencimento, seja 
oralmente ou por escrito. Ainda trilhando Plantin (op.cit., p. 12), a argumentação corresponde, 
no plano discursivo, ao raciocínio no plano cognitivo, uma vez que aquela opera verbalmente 
essa última. 
Sob o paradigma histórico, a argumentação alcançou uma virada significativa no final do 
século XIX. O estudo das práticas discursivas foi repensado no quadro da análise do discurso, 
da comunicação institucional e das interações verbais. Além disso, a argumentação mostra-se 
diretamente ligada a campos do conhecimento bem específicos, tais como a política, o direito 
e a teologia, pois essas áreas investem sobremaneira na argumentação a partir do momento 
que objetivam convencer terceiros. 
Em relação ao texto dissertativo-argumentativo escolar, que tem como intenção básica 
convencer* o interlocutor a respeito de determinado tema sob certo ponto de vista, 
Charaudeau (2008) o considera um modo de organização argumentativo, mais complexo do 
que o narrativo, uma vez que está em contato apenas com um saber que tenta levar em conta 
a experiência humana, enquanto o narrativo confronta-se com uma forma de realidade, visível 
e tangível. 
* Perelman; Olbrechts-Tyteca (2005, p.30) afirmam haver diferença entre os termos 
―convencer‖ e ―persuadir‖. Segundo esses autores, para quem se preocupa com o resultado 
da ação, persuadir é mais que convencer, ou seja, o convencimento eleva à persuasão quando 
há mudança de atitude do interlocutor. 
O linguista francês afirma ainda que a tradição escolar nunca esteve muito à vontade com tal 
modalidade textual, em contraste com os modos narrativo e o descritivo. Isso acontece 
porque a escola, tradicionalmente, demonstra-se extremamente preocupada com questões 
metalinguísticas e, por seu turno, a argumentação privilegia o âmbito da organização do 
discurso. 
O Prof. Fábio Simas, em sua dissertação de mestrado, afirma o seguinte a respeito da 
argumentação: 
Charaudeau (2008) ainda enfatiza o modo pelo qual se organiza a lógica argumentativa, 
aspecto este relevante para nosso trabalho analítico. Segundo o autor, toda relação 
argumentativa se compõe de pelo menos três elementos: uma asserção de partida (dado, 
premissa), uma asserção de chegada (conclusão, resultado), e uma ou várias asserções de 
passagem que permite passar de uma a outra, comumente chamadas de provas ou 
argumentos. Amiúde, tal relação imbrica-se com o que invariavelmente se ensina no dia a dia 
das salas de aula: um texto dissertativo deve possuir introdução (asserção de partida), 
desenvolvimento (asserção de passagem) e conclusão (asserção de chegada), assim 
especificadas: 
Asserção de partida (A1) – Trata-se de um dado, ou premissa a partir da qual podem ser 
feitas justificativas ou questionamentos. Geralmente, carece de uma ou mais conclusões no 
transcorrer do texto. 
Asserção de chegada (A2) – Representa o que deve ser aceito em decorrência da asserção de 
partida passando pela asserção de passagem. É, segundo Charaudeau, sempre uma relação 
de causalidade em relação a A1 ou pode representar também sua consequência. Representa a 
legitimidade da proposta. 
Asserção de passagem – Deve justificar a relação entre A1 e A2. Ainda conforme o linguista 
francês, representa um universo de crença sobre a maneira como os fatos se determinam na 
experiência ou no conhecimento do mundo. Por isso, esse universo de crença deve ser 
compartilhado pelos interlocutores implicados pela argumentação, a fim de que seja 
estabelecida a prova da validade da relação que une A1 e A2, o argumento que, do ponto de 
vista do sujeito argumentante, deveria incitar o interlocutor ou o destinatário a aceitar a 
proposta como verdadeira. Tal asserção (ou sequência de asserções),frequentemente repleta 
de implícitos, pode ser chamada de prova, inferência ou argumento conforme o contexto de 
questionamento em que se inscreve. 
Em resumo: 
Asserção de partida – Asserção de passagem – Asserção de chegada 
Dado – Inferência – Conclusão 
Premissa – Argumento – Conclusão 
A partir de agora, trilhando os caminhos propostos por Platão e Fiorin (2006) em seu livro 
―Lições de Texto: leitura e redação‖, vamos verificar algumas estratégias e percursos do texto 
de natureza argumentativa. 
Os autores inauguram o capítulo acerca da argumentação com a seguinte frase: 
Um argumento não é necessariamente uma prova de verdade. Trata-se, acima de tudo, de 
um recurso de natureza linguística destinado a levar o interlocutor a aceitar os pontos de vista 
daquele que fala. 
Comunicar não é somente transmitir informações, mas, como vimos no vídeo de abertura 
desta aula, é como o outro recebe aquilo que você comunicou. Por isso, é essencial saber 
escolher estratégias argumentativas eficazes para que o ato comunicativo se efetive atingindo 
os objetivos do sujeito comunicante. 
Dessa forma, comunicar não é somente um fazer saber, mas um fazer crer e um fazer fazer 
(cf. Platão; Fiorin, 2010, p.284). Em outras palavras, é fazer com que o interlocutor ―compre 
sua ideia‖ e, posteriormente, possa agir de maneira afetada por aquilo que ouviu/leu. 
Assim, vamos verificar alguns tipos de argumentos elencados por Platão e Fiorin (2010): 
 Argumento de autoridade: quando citamos autores renomados em determinada área 
do conhecimento, a fim de corroborar com uma determinada tese, sustentamo-na com base 
nas palavras desse autor. Citar argumentos de autoridade mostra não só validação da tese, 
mas também conhecimento acerca da literatura destinada para aquele assunto. Quando um 
repórter, por exemplo, entrevista o presidente da OAB, a fim de saber sua opinião acerca do 
número de faculdades de direito no Brasil, ele está consultando um argumento de autoridade, 
não é mesmo? 
 
 Argumento baseado no consenso: são máximas ou proposições aceitas como 
verdadeiras em determinada época e que, portanto, não precisam de demonstração. Os 
nossos autores fornecem-nos o seguinte exemplo: ―A educação é a base do desenvolvimento‖. 
Alguém discorda? 
 Argumentos baseados em provas concretas: opiniões de pessoas não costumam ter 
validação científica, ao menos que sejam dadas por um argumento de autoridade. Dessa 
forma, a opinião terá mais ―peso‖ se for comprovada por meio de fatos. Algo que, por 
exemplo, fazem os autores de reportagens. Segundo Platão e Fiorin (2010, p.286), os dados 
apresentados devem ser pertinentes, suficientes, adequados, fidedignos. Assim, podemos ter 
imagens, relatos, rastros, gravações etc., como exemplos de argumentos baseados em provas 
concretas. 
 Argumentos com base no raciocínio lógico: esse tipo de raciocínio demonstra as causas 
e consequências de determinados problemas, que são os próprios argumentos a respeito de 
uma tese. Um dos riscos desse tipo de argumentação é fugir do tema, uma vez que os 
argumentos podem, via de regra, constituir um novo tema. Veja um exemplo: 
Tema: 
Constatamos que no Brasil existe um grande número de correntes migratórias que se 
deslocam do campo para as médias ou grandes cidades. 
Para encontrarmos uma causa, perguntamos: Por quê? 
Referente ao tema acima. Dentre as respostas possíveis, poderíamos citar o seguinte fato: 
Causa: 
A zona rural apresenta inúmeros problemas que dificultam a permanência do homem no 
campo. No sentido de encontrar uma consequência para o problema enfocado no tema acima, 
cabe a seguinte pergunta: O que acontece em razão disso? Uma das possíveis respostas 
seria: 
Consequência: 
As cidades encontram-se despreparadas para absorver esses migrantes e oferecer-lhes 
condições de subsistência e de trabalho. Veja que a causa e a consequência citadas neste 
exemplo podem ser perfeitamente substituídas por outras, encontradas por você, desde que 
tenham relação direta com o assunto. As sugestões apresentadas de maneira nenhuma são as 
únicas possíveis. 
Exemplo retirado de: 
http://www.alcioneideoliveira.pro.br/REDACAO_CAUSA_CONSEQUENCIA.htm 
 Argumento da competência lingüística: o modo de dizer pode garantir-lhe eficácia 
maior ou menor em seu ato comunicativo. Em muitas situações, o uso da norma culta da 
língua, a escolha do vocabulário adequado – ou até mesmo mais rebuscado – podem ser 
ferramentas argumentativas bem interessantes. Um exemplo disso é quando uma pessoa de 
menos escolaridade atribui prestígio ao falar de pessoas mais escolarizadas, como advogados 
ou médicos, simplesmente pela competência linguística que eles possuem. 
AULA 9 – ARGUMENTAÇÃO: PRÁTICA DE ESCRITA 
Na última aula, vimos que argumentar é fazer ―brilhar‖ uma ideia, ou seja, um argumento. 
Agora, como temos feito desde o início, vamos estudar alguns gêneros que obedecem à lógica 
argumentativa. 
Argumentar é um processo que visa, sobretudo, convencer, persuadir ou influenciar o leitor ou 
ouvinte. Por isso, é, antes de tudo, consequência de um trabalho intelectual. Entretanto, 
quando nos referimos a ―trabalho intelectual‖, queremos dizer que argumentar é uma 
atividade complexa e que depende de vários conhecimentos, como conhecimento de mundo e 
do próprio interlocutor – alvo dos argumentos. 
Ainda no século XIV, o Padre Antônio Vieira proferiu em um dos seus sermões o seguinte 
trecho: 
[...] O sermão há de ser duma só cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só 
matéria. 
Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la 
para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de 
confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as 
circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se 
devem evitar, há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades, há de impugnar e 
refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, 
há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. 
Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é falar de mais alto. Não nego nem quero 
dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da 
mesma matéria, e continuar e acabar nela. 
(VIEIRA, Antônio. Sermão da Sexagésima. In: ______. Os sermões. São Paulo, Difel, 1968. VI, 
p. 99.) 
Você deve estar querendo saber o que este sermão tem a ver com a argumentação. Muito 
simples: quando argumentamos, ou seja, quando produzimos um texto que precisa ser 
baseado em argumentos, precisamos seguir os conselhos do mestre jesuíta. 
Por meio de uma linguagem extremamente simbólica, metafórica, da estrutura que se espera 
de um sermão, o Pe. Antônio Vieira nos mostra o que deve ser um texto argumentativo: 
 A respeito de um só assunto – ―uma só cor, uma só matéria‖. 
 A partir daí, podemos usar diversas ―estratégias argumentativas‖, a saber: 
―[...] há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prová-la 
com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de 
amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que 
se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar, há de responder às dúvidas, há 
de satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os 
argumentos contrários‖. 
Além disso, o desafio que temos de convencer o outro passa por algumas escolhas, tais como 
a definição do gênero textual a ser utilizado, estratégias linguísticas e também a ―revisão‖

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