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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DE IGUATU ERICA DIONE DOS SANTOS LIMA DESENVOLVIMENTO MORAL Teorias de Jean Piaget e Lawrence KohlBerg Iguatu 2017 INTRODUÇÃO É fundamental pesquisar sobre a socialização no campo do desenvolvimento humano e procurar compreender como os indivíduos chegam a assumir os valores que orientam seu comportamento, como ocorre o desenvolvimento moral. É perceptível que no campo da psicologia há um interesse crescente pelo desenvolvimento moral. Kohlberg, pesquisador norte-americano, interessou-se por esse estudo ainda durante seu curso de graduação, estudando a teoria psicanalítica quanto à formação do superego, em comparação com o trabalho de Piaget. Insatisfeito com as teorias de aprendizagem social para explicar a socialização e considerando a aplicabilidade do enfoque cognitivo, Kohlberg dedicou-se ao estudo do desenvolvimento moral, redefinindo os estágios de julgamento moral propostos por Piaget. PIAGET E O DESENVOLVIMENTO MORAL Estudando o desenvolvimento moral, Piaget preocupou-se com o aspecto específico do julgamento moral e com os processos cognitivos subjacentes a ele. Estudou o desenvolvimento moral e definiu estágios através de entrevistas e observação de crianças em jogos de regras. As pesquisas de Piaget lhe permitiram concluir que existem diferenças quanto ao respeito às regras em crianças diferentes, distinguindo-se as fases de anomia, heteronomia e autonomia moral. Anomia significa ausência de lei ou regra, heteronomia se trata da existência de regras e imposições e autonomia se trata da vontade humana de se autodeterminar segundo uma legislação moral por ela mesma estabelecida. As crianças menores estão no estágio de heteronomia, isto é, as regras são leis externas, sagradas, imutáveis, por que são impostas pelos adultos. As crianças maiores passam aos poucos para um estágio de autonomia, em que as regras são vistas como resultado de uma decisão livre e digna de respeito, aceitas pelo grupo. Para Piaget, toda moral é formada por um sistema de regras e a moralidade consiste no respeito que o indivíduo nutre por estas regras. Partindo desse princípio, Piaget propôs estudar esse problema em dois níveis: a consciência que se tem das regras, e a sua colocação em prática. Piaget queria encontrar o grau de correspondência existente entre consciência e a prática das regras. Piaget, escolheu para esse estudo um jogo bem conhecido das crianças, o jogo de bolinhas de gude. Jogo com muitas e, relativamente complicadas regras. Piaget, observava meninos em diversas idades jogando bolinhas e perguntava a eles: quais eram as regras do jogo? De onde vinham? Podiam-se ser modificadas? A moralidade assumia assim três questões fundamentais: 1. Conhecimento da lei 2. Origem ou fundamento da lei 3. Instabilidade ou não da lei Com relação as regras do jogo, Piaget encontrou níveis diferentes tanto de consciência das regras como sobre sua prática. 1º estágio (crianças até 2 anos) - nesse estágio as crianças simplesmente jogam, não há nenhuma regra ou lei, é puramente uma atividade motora, não há nenhuma consciência de regras. 2º estágio (crianças de 2 a 6 anos) - nesse estágio a criança observa os maiores jogarem e começa a imitar o ritual que observa. A criança percebe que existem regras que regulam a atividade e considera as regras sagradas e invioláveis. Ainda que nesse estágio a criança saiba as regras do jogo, ela não joga "com os outros", ela joga como que sozinha, ainda que esteja jogando com outros companheiros. É uma atividade que produz prazer psicomotor. 3º estágio (entre os 7 e 10 anos) - nesse estágio a criança passa do prazer psicomotor dos estágios anteriores ao prazer da competição segundo uma série de regras e um consenso comum. Esse estágio está ainda dominado pela heteronomia, as regras são sagradas, mas já são reconhecidas como necessárias para bem dirigir o jogo. Há um forte desejo de entender as regras e de jogar respeitando o combinado. As crianças vigiam-se mutuamente para se certificar de que todos jogam respeitando as regras. 4º estágio (entre 11 e 12 anos) – esse estágio é a passagem para a autonomia. O adolescente desenvolve a capacidade de raciocínio abstrato e as regras já são bem assimiladas. Há um grande interesse em estudar as regras em si mesmas, discutem muitas vezes sobre quais as regras que vão ser estabelecidas para o jogo. Para Piaget o desenvolvimento da moralidade se dá principalmente através da atividade de cooperação, do contato com iguais, da relação com companheiros e do desenvolvimento da inteligência. KOHLBERG E A PESQUISA SOBRE JULGAMENTO MORAL Tentando compreender o desenvolvimento moral Kohlberg realizou uma série de pesquisas com crianças e jovens dos Estados Unidos da América, do México, da China (Taiwan), da Turquia e da Malásia (Atayal). A fonte original da definição dos estágios de desenvolvimento moral foi o levantamento de dados realizado por Kohlberg junto a 75 rapazes, de classe média, da zona urbana de Chicago, divididos em três grupos etários de 10, 13 e 16 anos. Nesse estudo, seguindo o desenvolvimento em intervalos de 3 em 3 anos, utilizando o método de entrevistas inspirado em Piaget, o pesquisador apresentou aos sujeitos, dilemas morais hipotéticos, para serem analisados um de cada vez. Cada sujeito era solicitado a julgar os dilemas e apresentar justificativas das respostas apresentadas. Nesse processo, o entrevistador tinha o cuidado de procurar deixar o sujeito à vontade para responder livremente e de fazer perguntas, procurando respostas adicionais, para maior esclarecimento quanto às justificativas, tentando, assim, esquadrinhar todos os raciocínios subjacentes à resposta. O estudo permitiu a conclusão de que há tendências etárias quanto ao uso de tipos de raciocínio moral exibido nas respostas e verificar um conjunto de aspectos do julgamento moral. A partir da análise das respostas e dos raciocínios apresentados pelos sujeitos, Kohlberg definiu estágios de desenvolvimento moral. Os estágios foram definidos com base no modo como as pessoas respondiam às questões sobre os dilemas em relação aos aspectos de julgamento moral. De acordo com as afirmações apresentadas, cada sujeito analisado é enquadrado em um estágio de desenvolvimento moral. No conjunto de pesquisas realizadas foram entrevistados sujeitos em diferentes países, sujeitos da zona urbana e da zona rural, católicos, judeus, protestantes, budistas e ateus. Lembremos que Piaget estudou somente a vida moral até a adolescência e Kohlberg até o desabrochar pleno da maturidade e da vida moral. NÍVEL I – Pré-Convencional O valor moral localiza-se nos acontecimentos externos, "quase" físicos, em atos maus ou em necessidades "quase" físicas, mais do que em pessoas ou padrões. Estágio 1 - O que determina a bondade ou maldade de um ato são as consequências físicas do ato (punição). Respeita-se a ordem apenas por medo à punição, e não se tem consciência nenhuma do valor e do significado humano das regras. Estágio 2 - A ação justa é aquela que satisfaz as próprias necessidades, a que gera recompensa e prazer, e, ocasionalmente aos outros. As relações humanas são vistas como trocas comerciais. Mais ou menos assim "Tu me gratificas e eu te gratifico". A pessoa tenta obter recompensas pelas suas ações. NÍVEL II – Convencional O valor moral localiza-se no desempenhocorreto de papéis, na manutenção da ordem convencional e em atender às expectativas dos outros. Estágio 3 - É bom aquele comportamento que agrada aos outros e por eles é aprovado. De certa forma, é bom o que é socialmente aceito, aquilo que segue o padrão. O comportamento é muitas vezes julgado com base na intenção, e a intenção torna-se pela primeira vez importante. É a busca do desejo de aprovação familiar e social. Estágio 4 - Há o desenvolvimento da noção de dever, de comportamento correto, de cumprir a própria obrigação. Há o desejo de manter a ordem social especificamente pelo desejo de mantê-la, isto é, por que isso é justo. NÍVEL III – Pós-Convencional O valor moral localiza-se na conformidade para consigo mesmo, com padrões, direitos e deveres que são ou podem ser compartilhados. Estágio 5 - É a tomada da consciência da existência do outro, da maioria, do bem comum, dos direitos humanos. A ação justa é a ação que leva em conta os direitos gerais do indivíduo, isto é, o bem comum. Valores pessoais são claramente considerados relativos, é a lei da maioria e da utilidade social. Estágio 6 - O justo e correto é definido pela decisão da consciência de acordo com os princípios éticos escolhidos e baseados na compreensão lógica, universalidade, coerência, solidariedade universal. Guia-se por princípios universais de justiça, de reciprocidade, de igualdade de direitos, de respeito pela dignidade dos seres humanos, por um profundo altruísmo, pela fraternidade. Os padrões próprios de justiça têm mais peso do que as regras e leis existentes na sociedade. CONCLUSÕES FINAIS De acordo com estudos desenvolvidos por Piaget e Kohlberg, o desenvolvimento no julgamento moral é estimulado pela interação social nos grupos de iguais e nas famílias. As pesquisas mostram que naquelas famílias onde a criança é ouvida e considerada, onde os problemas comuns e assuntos em geral são debatidos, onde se permite que a criança participe nas discussões e nas quais as conclusões são acompanhadas de argumentação, há uma facilitação do desenvolvimento moral. O nível de desenvolvimento moral é afetado pela exposição do indivíduo a diferentes níveis de raciocínio moral. Portanto, a moralidade de um indivíduo depende tanto de fatores psicológicos e biológicos (quem é a pessoa, quem são seus pais, qual sua bagagem genética...), como de elementos sociais e culturais (onde nasceu, em que época, quem são seus vizinhos, amigos, mestres, grau de instrução, condição financeira...). Torna-se claro que diferentes situações sociais, culturais, psicológicas e biológicas irão propiciar diferentes comportamentos, ou seja, diferentes moralidades. REFERÊNCIAS MARTINS, L. C; BRANCO, A. U. Sócio Construtivismo e Desenvolvimento Moral. Disponível em:<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/6050/1/ARTIGO_DesenvolvimentoMoral.pdf>. Acesso em: 29 set. 2017. LACERDA, A. F. O desenvolvimento moral e a efetividade da constituição. Disponível em: <http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/semanadefilosofia/XII/18.pdf>. Acesso em: 29 set. 2017. RIBEIRO, G. O desenvolvimento da moralidade em Piaget e Kohlberg. Disponível em: <http://www.paradigmas.com.br/index.php/revista/edicoes-11-a-20/edicao-13/218-o- desenvolvimento-da-moralidade-em-piaget-e-kohlberg>. Acesso em: 29 set. 2017. TOLAINE, L. D. Desenvolvimento moral de Piaget a Kohlberg. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/viewFile/9127/10679>. Acesso em: 29 set.2017.
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