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Estudo de Caso METODOLOGIAS

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Estudo de Caso: AGRICULTURA, PECUÁRIA, PESCA E ABASTECIMENTO
	
NOTÍCIAS
PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS SÃO TEMA DE JORNADA NO INTERIOR
 09/09/2015 - 18:59h - Atualizado em 09/09/2015 - 18:59h 
Em Teresópolis, agricultores orgânicos aprenderam a identificar e utilizar espécies
Jacatupé, cará roxo, língua de vaca, brinco de princesa, trapoeraba, erva de galinha, cipó chumbo, umbigo de banana, aipo chimarrão e maria pretinha são plantas pouco conhecidas, mas que podem ser encontradas nas áreas rurais e usadas na culinária. Com objetivo de divulgar a função alimentar de centenas dessas plantas espontâneas ou silvestres e também incentivar os agricultores a descobrir ou resgatar receitas com essas espécies, está sendo realizada, até amanhã (10), a 1ª Jornada sobre Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Estado do Rio de Janeiro.
 
O evento, com o apoio, entre outros, da secretaria estadual de Agricultura, através da Emater-Rio e do Programa Rio Rural, aconteceu em Teresópolis, na Região Serrana, um dos municípios incluídos na programação. No início da semana, um grupo de produtores orgânicos da Associação Agroecológica de Teresópolis (AAT) e outros interessados participaram de oficina sobre o assunto no Centro Interescolar de Agropecuária José Francisco Lippi, em Venda Nova. Eles degustaram dezenas de espécies e conheceram as diferentes possibilidades de uso das plantas na culinária, com opções de sucos, saladas e pratos quentes.
Embora desperte muita curiosidade, o tema não é novo. A utilização de plantas não convencionais na alimentação humana vem sendo registrada e incentivada por estudiosos, como o biólogo e professor do IFAM (Instituto Federal do Amazonas), Valdely Ferreira Kinupp.
- Plantas alimentícias são aquelas que possuem partes que podem ser utilizadas diretamente no consumo humano, tais como raízes, tubérculos, bulbos, rizomas, talos, folhas, flores, frutos, brotos e outras. Muitas dessas categorias não são corriqueiras, ou seja, não fazem parte do dia a dia da população de um determinado território - explicou Valdely, que ministrou a oficina em Teresópolis, Nova Friburgo e Trajano de Moraes, na Serra.
Desde 2002, Valdely atua na pesquisa e divulgação dessas espécies, tendo realizado um levantamento da riqueza de cerca de mil plantas com potencial alimentício. O professor desenvolve também trabalhos de cultivos experimentais baseados nos preceitos agroecológicos e análises nutricionais e sensoriais daquelas mais promissoras.
Sabores do campo
O engenheiro civil Leonardo Pimenta Caiano cultiva temperos produzidos no sistema agroecológico, num sítio em Vista Alegre,Teresópolis. O produtor descobriu as PANC na feira da AAT e revelou conhecer pouco sobre o tema.
- O que para uns parece ser mato, para outros é remédio e alimento. Na minha propriedade vamos apostar agora em algumas ervas para chá. Estou de olho também no coentro selvagem e na capuchinha - explicou.
Já Ana Litardo, também da AAT, prepara suco de clorofila, feito com as plantas não convencionais.
- Temos clientela interessada, por exemplo, em ora-pro-nóbis, caruru e peixinho, plantas já bem divulgadas. Esse contato com o especialista é importante para o agricultor reconhecer com tranquilidade as espécies no dia a dia - avaliou.
A jornada incluiu outras atividades técnico-científicas como lançamento de livro e uma visita à vitrine das PANC recém-implantada na Fazendinha Agroecológica Km 47, em Seropédica, na Região Metropolitana, e que servirá de matéria-prima para trabalhos de pesquisas da Embrapa Agrobiologia, Pesagro-Rio e UFFRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro). 
APTA trabalha para resgatar e difundir conhecimento em Plantas Alimentícias Não Convencionais 
A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), realiza trabalhos para resgatar e difundir conhecimento sobre as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC), por meio de informações sobre segurança alimentar. A estratégia é transferir tecnologia e conhecimento que possibilitem a retomada do consumo e o cultivo agrícola de hortaliças não convencionais na diversificação e soberania da produção familiar. 
Major gomes, serralha, beldroega, capuchinha, caruru, taioba, mangarito, bertalha e chuchu de vento são nomes de plantas conhecidas e consumidas no passado, mas que deixaram a mesa dos brasileiros.
“Pesquisas como essas são muito importantes, pois trazem impacto positivo para os agricultores e consumidores. Nossos trabalhos focam promover a diversidade do agronegócio paulista, com respeito ao meio ambiente, uma orientação do governador Geraldo Alckmin”, afirmou o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim.
Os projetos têm o objetivo de promover políticas públicas focadas na pesquisa participativa agrícola e desenvolver novos modelos de sistemas de produção de base agroecológica, considerando as especificidades regionais. A intenção é estimular as famílias rurais a permanecerem no campo, com qualidade e respeito ao seu conhecimento, com geração de renda e produção diferenciada. 
 “Muito se fala em soberania e segurança alimentar e nutricional, porém, efetivamente, poucos cidadãos têm esse direito garantido”, afirma a pesquisadora da Secretaria de Agricultura, que atua na Apta, Cristina Maria de Castro. 
De acordo com ela, a desnutrição e as doenças ligadas à má alimentação são os principais fatores das mudanças ocorridas no perfil nutricional e epidemiológico da população. “O atual padrão alimentar gera números crescentes de pessoas com doenças relacionadas à alimentação de má qualidade, que se manifestam predominantemente pela presença de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes tipo II, doenças cardiovasculares e obesidade infantil”, explicou.
 As pesquisas da Apta com PANC são conduzidas em Pindamonhangaba, no Polo Regional Vale do Paraíba. Em 2011, foi implementada no local uma área de 2 mil m² em sistema agroecológico de produção e uma Unidade Demonstrativa de plantas não convencionais, onde são realizados dias de campos e visitas técnicas, com cerca de 200 visitantes, por ano. 
As atividades são realizadas em conjunto com projetos de restauração ambiental onde Sistemas Agroflorestais (SAF), enriquecidos com plantas alimentícias não convencionais adaptadas a sombra, como araruta, cúrcuma, taioba, major gomes, estão sendo introduzidas e estudadas em parceria com o pesquisador da Apta, Antonio Devide, idealizador e membro da Rede Agroflorestal Vale do Paraíba. 
Segundo a pesquisadora da Apta, a integração dos saberes científico e popular reforça a riqueza de conhecimentos. “O trabalho resgata hábitos alimentares das antigas gerações e propicia a interação da pesquisa e o público, o empoderamento dos produtores, destacando a importância do cultivo e uso de PANC na alimentação com benefícios à saúde, valorização cultural regional e preservação da biodiversidade”, disse Cristina.
Os estudos enfocam sistemas de produção agroecológico, em que práticas ecológicas de manejo do solo com cultivo mínimo, consórcios, adubação verde, compostagem, plantas companheiras e cultivo em alélias são repassados aos participantes. O sistema de produção é conduzido para avaliar o desenvolvimento das espécies, adaptação à região, ocorrência de pragas e doenças, manutenção do germoplasma e área para obtenção de propágulos e produção de mudas.
A Apta tem parceria com universidades, escolas municipais e colégios técnicos e realiza intercâmbio técnico científico com projetos que atendem cerca de 30 produtores, com perfil que variam de orgânicos certificados a assentados de reforma agrária. Com a Prefeitura Municipal e Secretaria de Saúde da Pindamonhangaba são realizadas rodas de estudo, visitas técnicas monitoradas com pacientes portadores de problemas de saúde ligados à má alimentação e doação de mudas para implementação de hortas nos postos de saúdes municipais.Os pesquisadores explicam que a importância nutricional das plantas, a sabedoria popular, a tradição cultural e a histórica dos alimentos são trabalhados no contexto de diálogos com os participantes, com elaboração de receitas e degustação de pratos. É destacada ainda a qualidade nutricional de plantas espontâneas, muitas delas utilizadas pelos antepassados, e esquecidas da dieta atual como o caruru, da mesma família da “quinua”,  rico em ferro com algumas espécies chegando a ter cerca de 600% mais ferro que espinafre, a serralha, da mesma família do alface, e a araruta, uma fonte de reserva utilizada por tribos indígenas, com amido de alta digestibilidade, sem glúten, utilizado no convalescimento de idosos e mulheres em trabalho de parto e indicada para pessoas com problema de refluxo.

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