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DIREITO CONSTITUCIONAL I RESENHA PARA ESTUDOS Prof. Marcelo Mingrone Unidade III – CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES DIREITO CONSTITUCIONAL I RESENHA PARA ESTUDOS Prof. Marcelo Mingrone 1- CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES Fruto da soberania popular, inexiste um modelo uniforme de Constituição, o que significa sujeitar a particularidades e a certos padrões, o que possibilita uma classificação a partir de determinadas características observadas. Uma tipologia das constituições. Pinto Ferreira anota que diversos autores, tornando o tema mais discutido e sujeito a críticas, no que mais interessante, debruçaram-se sobre esse tema e procederam a valiosos estudos, aos quais se refere, exemplificativamente, nos seguintes termos "é muito conhecida a tipologia de Lord Bryce, afirmando que as constituições podem ser costumeiras e escritas, rígidas ou flexíveis. Já Mac-Bain distingue as constituições em codificadas e não-codificadas, Smend indaga quanto a sua origem, Dicey no tocante á sua forma, e entre nós Paulino Jacques no que diz respeito à sua dogmática1". Sem embargo da referência supra, e ainda não esgotando o assunto, utilizaremos as mais tradicionais e suficientes para encetar ulteriores debates e mais outras análises que o tema comporta. 1 Curso de Direito Constitucional, p. 11. DIREITO CONSTITUCIONAL I RESENHA PARA ESTUDOS Prof. Marcelo Mingrone 1.1- Quanto à forma Este critério leva em conta a maneira como as normas constitucionais são veiculadas. I- Escritas. Nesta espécie, todas as normas são sistematizadas em um texto. Costumamos, no tocante a esta forma, igualmente classificar como Constituição Dogmática. O primeiro grande exemplo foi a Constituição dos Estados Unidos. A propósito, é a forma, indiscutivelmente, mais usual de ordenação. II- Não-escritas ou Costumeiras. As normas constitucionais não se encontram sistematizadas em um texto. Nesses casos, a Constituição se depreende do que materialmente revelar o tema constitucional, o que pode ser abstraído de textos legais esparsos, dos costumes e dos precedentes judiciais sedimentados ao longo do tempo (e por esse motivo, igualmente classificamos as constituições que se consolidam com o transcurso do tempo como Histórica). Enfim, de toda fonte de direito que, por sua vez, pode revelar matéria substancialmente constitucional faz parte da Constituição. O grande exemplo desta forma de organização social, que é excepcional, frise-se, é a Inglaterra. DIREITO CONSTITUCIONAL I RESENHA PARA ESTUDOS Prof. Marcelo Mingrone 1.2- Quanto à estabilidade (alterabilidade ou consistência) Este critério tem em conta a maneira como as normas constitucionais são alteradas, tendo por paradigma o procedimento para a alteração da legislação ordinária (ou até mesmo outras espécies normativas). I- Flexível. O processo de alteração constitucional é análogo àquele previsto para a alteração da legislação ordinária. A organização constitucional inglesa, por não apresentar qualquer referência à consistência das normas materialmente constitucionais, compatibiliza-se com alterações idênticas àquelas afetas às demais normas do ordenamento inglês. Também pode ser denominada constituição plástica, conforme saliente Pinto Ferreira2. II- Rígida. Ao contrário da flexível, impõe um procedimento mais árduo, mais solene do que aquele previsto para a produção de leis ordinárias. Não se trata de texto imutável, mas, sim de texto cuja alteração seja mais dificultosa. Essa maior dificuldade pode decorrer de um quorum de maioria 2 Curso de Direito Constitucional, p.12. DIREITO CONSTITUCIONAL I RESENHA PARA ESTUDOS Prof. Marcelo Mingrone qualificada, de turnos reiterados de deliberação ou ainda de referendum constitucional. A existência de partes do texto original que não comportam sejam abolidas - como as denominadas cláusulas pétreas - dá mais evidência para a rigidez, tanto que Alexandre de Moraes prefere classificá- la como "super-rígida3". Todavia, há quem não concorde com essa classificação, tanto em vista que, no caso, a parte que não pode ser abolida não revela rigidez, mas, sim, traços de imutabilidade4. Aliás, no âmbito da constituição rígida se pode bem observar ideia de sistema jurídico hierarquizado, com a norma constitucional ocupando o ápice. Ainda no âmbito da mutabilidade das constituições, o Brasil deu uma contribuição com um exemplo bem peculiar, e foi na Constituição do Império, de 1824, conforme se observa do artigo 178 daquele texto, a propósito, a mais longeva das constituições havidas neste Estado, a saber: "E' só Constitucional o que diz respeito aos limites, e attribuições respectivas dos Poderes Politicos, e aos Direitos Politicos, e individuaes dos Cidadãos. Tudo, o que não é Constitucional, póde ser alterado sem as formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinarias5". Como se verifica, 3 Direito Constitucional, p. 5. 4 Luiz Alberto David Araujo e Vidal Serrano Nunes Junior in Curso de Direito Constitucional, p. 5. 5 Transcrição idêntica ao original. DIREITO CONSTITUCIONAL I RESENHA PARA ESTUDOS Prof. Marcelo Mingrone na trilha do exposto por Carl Schmitt houve uma separação das normas que eram apenas formalmente constitucionais daquelas que também eram substancialmente constitucionais, de modo que para estas o regime era rígido e para aqueles o flexível. Assim, tivemos um exemplo de constituição semiflexível ou semirrígida. 1.3- Quanto à origem Este critério, como ensina Luís Roberto Barroso, esta classificação leva em conta a legitimação democrática subjacente ao Poder Constituinte Originário6 (poder de instituir uma constituição para uma sociedade). I- Promulgadas (votadas, populares ou democráticas). Contam com a participação popular na sua elaboração (tradicionalmente por meio de representantes do povo eleitos em assembleia constituinte). II- Outorgadas. Sem a participação popular, decorrem de uma concessão do governante. Uadi Lammêgo Bulos nos fala de Constituição Cesarista e atribui essa denominação àquelas Constituições que contam com uma manifestação popular ulterior à sua elaboração por meio de plebiscito ou 6 Curso de Direito Constitucional Contemporâneo, p. 82. DIREITO CONSTITUCIONAL I RESENHA PARA ESTUDOS Prof. Marcelo Mingrone referendo, vislumbrando, acima de tudo, a legitimação daquele que detém o poder7. 1.4- Quanto à Dogmática Ideologia Este critério, ensina Pinto Ferreira8, leva em consideração a existência de uma única ideologia, a informar texto constitucional ou se, do contrário, há a presença de mais de uma ideologia, formando um texto a partir de ideologias conciliatórias. I- Ortodoxa. Inspirado por uma única ideologia. II- Eclética. quanto o texto emana da conciliação de várias ideologias. 1.5- Quanto à extensão Aqui a atenção vai para o grau de minúcia a que chega o texto constitucional e a abrangência das matérias disciplinadas. I- Sintéticas. Textos mais enxutos, com atenção aos pontos que asseguram as diretrizes gerais da organização e funcionamento do Estado e dos direitos fundamentais. Apresentam um caráter mais principiológico.7 Direito Constitucional ao Alcance de Todos, p. 22. 8 Curso de Direito Constitucional, p.12. DIREITO CONSTITUCIONAL I RESENHA PARA ESTUDOS Prof. Marcelo Mingrone II- Analítica. Constituição mais prolixa. Com extensão notadamente para além das diretrizes gerais da organização e funcionamento do Estado e dos Direitos Fundamentais. 1.6- QUANTO AO CONTEÚDO Esta classificação abarca o conteúdo da Constituição, levando em consideração as bases do acepção política de Carl Schmitt. I. Formal. Leva em atenção todas as normas constantes do constitucional, ainda que não venham a tratar da estruturação do poder ou de direitos fundamentais. Basta a forma constitucional. II- Material. Considera apenas o que estrutura o Estado e os direitos Fundamentais, ou seja, preceitos tipicamente constitucionais, afastando-se daqueles dispositivos que embora possam constar do texto não revelam matéria constitucional.
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