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123 PROJETO HORTA: A MEDIAÇÃO ESCOLAR PROMOVENDO HÁBITOS ALIMENTARES SAUDÁVEIS Michell Pedruzzi Mendes Araújo1 Rogério Drago2 Resumo: Baseado na premissa de valorizar o trabalho prático e o papel do outro no processo de aprendizagem, o projeto Horta Escolar foi inserido no Centro de Ensino Charles Darwin, objetivando melhor inserção do ensino dos vegetais na disciplina de Ciências. A horta foi preparada desde o início pelos próprios alunos que participaram ativamente do processo, sob a orientação dos professores. Percebeu-se que alguns alunos passaram a mudar seus hábitos alimentares nada saudáveis, o que torna o projeto viável e adequado para ser adotado nos próximos anos na instituição e em outras escolas particulares ou públicas. Através do trabalho pôde-se perceber que a horta didática inserida no ambiente escolar pode ser uma ferramenta bastante eficaz na formação integral do estudante, pois aborda diversas áreas de conhecimento como a educação alimentar e ambiental, podendo ser desenvolvido durante todo o processo de ensino/aprendizagem. Palavras-chave: Ensino. Trabalho prático. Educação alimentar. Introdução O ensino das ciências naturais no ensino fundamental é restrito, muitas vezes, a aulas teóricas e expositivas, mas a importância de atividades práticas é inquestionável na Ciência e precisa ocupar lugar de destaque no seu ensino3. O aspecto formativo das atividades práticas experimentais tem sido negligenciado, inúmeras vezes, ao caráter superficial, mecânico e repetitivo em detrimento aos aprendizados teórico-práticos que se mostrem dinâmico, processuais e significativos.4 1 Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. 2 Doutor em Educação, professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo. 3 SMITH, K. A. Experimentação nas Aulas de Ciências. In: CARVALHO, A. M. P.; VANNUCCHI, A. I. ; BARROS, M. A.; GONÇALVES, M. E. R.; REY, R. C. Ciências no Ensino Fundamental: O conhecimento físico. São Paulo: Scipione. 1998. 4 SILVA, L. H. de A.; ZANON, L. B. A experimentação no ensino de Ciências. In: SCHNETZLER, R.P.; ARAGÃO, R. M. R. Ensino de Ciências: fundamentos e abordagens. Piracicaba: CAPES/UNIMEP, 2000. Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 124 Tiba5 ressalta que uma boa aula é como uma refeição, quanto mais atraentes estiverem os pratos que o cozinheiro oferecer, mais desejarão saboreá-lo. Com a aula o processo é o mesmo, quanto mais o educador se dedicar ao conteúdo, quanto melhor for sua didática, mais o aluno terá prazer em aprender. Quanto mais o professor preparar a sua aula teórica, dando continuidade na prática, mais o conhecimento será acessível ao aluno e maior será o gosto pela biologia, que é nosso caso. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais6, a participação ativa dos estudantes nos processos de aprendizagem com atividades práticas representa importante elemento para a compreensão ativa e conceitual. Assim, baseamo-nos na premissa de que o importante no processo de ensino é estudar as possibilidades e assegurar as condições (sistemas de relações, tipos de atividade) para que cada criança possa se desenvolver com a ajuda de professores ou colegas mais capazes em um nível superior (cognitivo e afetivo) de sua personalidade. A horta escolar, nesse contexto, pode-se consistir num laboratório para o aluno corrigir-se, aprender com os próprios erros, como relata Kalmikova: Quando existe um elevado nível de conscientização das operações mentais, tem lugar um relatório verbal adequado do processo de solução do problema, uma consideração, tanto positiva quanto negativa da informação que chega de fora, questão que possibilitará aprender sobre a base da experiência própria e dos próprios erros e de corrigir a atividade, avaliando os erros, atividade relacionada com a auto-avaliação dos resultados.7 Diversas transformações ocorreram no país e estão relacionadas à crescente modernização e urbanização. Tais mudanças acabam por gerar modificações no estilo de vida e nos hábitos alimentares da população, sendo estas mudanças consideradas como favorecedoras para o desenvolvimento das doenças crônicas não-transmissíveis. 5 TIBA, I. Ensinar aprendendo: como superar os desafios do relacionamento professor-aluno em tempos de globalização. São Paulo: Gente, 1998. 6 BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais Brasília: MEC, 2001. 7 KALMIKOVA, Z. I. La capacidad de aprendizaje y los princípios de estructuración de los métodos para su diagnóstico. In IIIASOV, I. I. ; LIAUDIS, V. Ya. Antología de la Psicologia Pedagógica y de las Edades. La Habana Pueblo y Educación, 1986, p. 335. Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 125 A alimentação desempenha um papel fundamental durante todo o ciclo de vida dos seres vivos. Entre as diversas etapas da vida pode-se destacar a idade escolar, que constitui num período onde a criança apresenta um metabolismo muito mais intenso quando comparado ao do adulto (DANELON et al., 2006)8. A escola aparece como espaço privilegiado para o desenvolvimento de ações de melhoria das condições de saúde e do estado nutricional das crianças (RAMOS; STAIN, 2000)9, sendo um local estratégico para a concretização de iniciativas de promoção da saúde, como o conceito da “Escola Promotora da Saúde”, que incentiva o desenvolvimento humano saudável e as relações construtivas e harmônicas. O consumo de hortaliças pode ser desenvolvido numa instituição do ensino com o envolvimento dos alunos. Além da satisfação de poder aproveitar na alimentação escolar as hortaliças que ajudou a cultivar, o aluno aprende o seu valor nutritivo, bem como seus benefícios para a sua saúde. De acordo com Bianco citado por Kurek e Butzke (2006)10, uma horta bem planejada e organizada pode oferecer inúmeras vantagens, dentre elas: fornece hortaliças que têm vitaminas e minerais essenciais para a saúde; propicia uma alimentação de qualidade, saudável e variada; diminui os gastos com a alimentação; permite a colaboração dos educandos, enriquecendo seus conhecimentos e aprimorando experiências; é fonte de renda familiar quando a produção é maior que o consumo; melhora a aparência e o valor nutritivo das refeições; e permite produção em curto espaço de tempo. Observa-se que a obesidade infantil vem crescendo mundialmente em países desenvolvidos e em desenvolvimento, com sérias repercussões na saúde da população infanto-juvenil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É muito comum nas escolas do Espírito Santo, e de todo o Brasil, o consumo de lanches e alimentos gordurosos por parte das crianças desde muito cedo. 8 DANELON, M. A. S.; DANELON, M. S.; SILVA, M. V. Serviços de alimentação destinados ao público escolar: análise da convivência do Programa de Alimentação Escolar e das cantinas. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, v. 13, n.1, p. 85-94, 2006. 9 RAMOS M; STEIN, L. M. Desenvolvimento do comportamento alimentar infantil. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, v. 76, supl. 3, p. 229-237, 2000. 10 KUREK, M.; BUTZKE, C. M. F. Alimentação escolar saudável para educandos da educação infantil e ensino fundamental. Revista de Divulgação Técnico-Científica do ICPG. Santa Catarina, v. 3, n. 9, p. 139-144, 2006. Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 126 Pensando nisso,os professores de Ciências do Centro de Ensino Charles Darwin tentaram criar uma conduta para reverter essa situação nas séries iniciais de ensino fundamental. A horta escolar como proposta de ação mediada Baseado na premissa de valorizar o trabalho prático, os professores de Ciências do Centro de Ensino Charles Darwin da unidade de Campo Grande11 adotaram o projeto Horta Escolar objetivando melhor inserção do ensino dos vegetais na disciplina de Ciências para os alunos do 4º ano do ensino fundamental. O Centro de Ensino Charles Darwin de Cariacica localiza-se num terreno de grandes espaços ociosos. Para realizar uma mudança no ambiente, pensou-se em realizar o plantio de hortaliças, bem como de algumas plantas medicinais. Essa mudança no ambiente proporcionou um processo de encantamento nos alunos, principalmente nessa faixa etária, onde eles vivem num momento único que é do lúdico. Certamente as experiências vividas por eles serão muito significativas e jamais serão esquecidas. FOTO 1: Alunos manipulando o alface da horta Os alunos do Centro de ensino Charles Darwin de Cariacica, em sua maioria, apresentam uma condição financeira melhor que alunos da rede pública, pois 11 A escola autorizou o uso do seu nome. Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 127 geralmente pertencem à classe média alta. Na maioria das vezes, as famílias com uma renda alta apresentam pais que trabalham muito e que muitas vezes deixam seus filhos grande parte do tempo sozinhos e por isso acabam recorrendo a fontes alimentares rápidas como fast foods, frituras, lanches, pizzas, macarrões instantâneos, enlatados, dentre outros. Dessa forma, houve interesse em realizar esse projeto na escola para pesquisar, através de questionários, a qualidade da alimentação dessas crianças e também de conscientizar os pais das mesmas, a fim de que essa situação possa ser revertida. A escola é um local próprio para a aplicação de programas de educação em saúde em larga escala, incluindo programas de educação nutricional, devido à grande concentração de pessoas de diferentes faixas etárias e pertencentes aos vários estratos sociais. Estes programas devem consistir em processos ativos, lúdicos e interativos, que favoreçam mudanças de atitudes e das práticas alimentares. Entendendo a importância da escola na formação dos alunos para a promoção de hábitos alimentares saudáveis e, consequentemente, nas famílias desses alunos, o projeto horta na escola ganha mais mérito. Tal projeto deveria ser adotado por todas as escolas nas séries iniciais, principalmente nas escolas públicas, onde as hortaliças poderiam fazer parte da merenda escolar, porque conscientiza esses alunos sobre a importância de uma boa alimentação e melhora o ensino de ciências, tornando-o mais dinâmico. O projeto horta na escola foi desenvolvido no Centro de Ensino Charles Darwin durante um período de oito meses (de abril a novembro de 2008). Houve um engajamento expressivo dos alunos do 4º ano do ensino fundamental que executaram o projeto. A horta foi preparada desde o início pelos alunos com a supervisão dos professores de ciências, os alunos fizeram um minhocário, prepararam um adubo orgânico com restos alimentares trazidos de casa, plantaram, acompanharam o crescimento das hortaliças (coentro, salsa, cebolinha, couve, alface) e legumes (cenoura), relataram sobre o crescimento vegetal, tiraram suas conclusões e colheram as hortaliças. No dia anterior à mostra cultural, dia 07/11/2008, prepararam um sanduíche Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 128 natural utilizando as hortaliças e o consumiram. No dia posterior os alunos apresentaram num stand os resultados sobre a qualidade da alimentação da turma e para cada visitante eles ofereciam uma hortaliça para levar para casa. As crianças visitavam a horta uma vez por semana até o nascimento dos embriões. Posteriormente, eles passaram a visitá-la uma vez por dia, haja vista que precisavam regar os canteiros. A turma foi dividida em seis grupos, cada grupo ficou com um canteiro e em cada canteiro era plantado um vegetal específico (couve, coentro, salsa, cebolinha, alface ou cenoura). O Projeto Horta possibilitou às crianças um contato maior com as Ciências na prática. A vivência deste projeto foi uma experiência muito rica para os alunos, instigou a curiosidade destes e introduziu noções de Ciências Naturais desde a Educação Infantil. Ao analisar o processo de gênese, construção e consolidação do projeto, apoiamo-nos em Vygotsky no que diz respeito à zona de desenvolvimento proximal, segundo o próprio autor: Implantar [algo] na criança... é impossível... só é possível treiná-la para alguma atividade exterior como, por exemplo, escrever à máquina. Para criar uma zona de desenvolvimento proximal, isto é, para engendrar uma série de processos de desenvolvimento interior, precisamos dos processos corretamente construídos de aprendizagem escolar.12 É esse o nosso objetivo nesse trabalho: contribuir para a construção dos processos de aprendizagem escolar, a partir da vivência prática dos conhecimentos teóricos. A zona de desenvolvimento proximal fornece valiosas informações a educadores, na medida em que coloca a descoberto o curso interno do desenvolvimento do aluno, permitindo ao professor orientar a instrução não para processos de maturação que já foram completados, mas para aqueles que estão em estado de formação, ou seja, que estão apenas começando a se desenvolver. A horta educativa foi implantada na escola visando tornar mais prático e dinâmico o ensino dos vegetais, tornar o ensino das ciências mais agradável, 12 VEER, R. V. D.; VALSINER, J. Vygotsky: uma síntese. São Paulo: Loyola, 2001, p. 358. Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 129 integrar os alunos onde a participação de cada um foi fundamental, incentivar o trabalho em grupo, incentivar o consumo de hortaliças e de leguminosas nas casas desses alunos e na própria escola, promovendo um incentivo a uma alimentação mais saudável e equilibrada, ou seja, a horta proporcionou o desenvolvimento de uma conscientização ligada à mediação pedagógica num processo que permitiu a assimilação dos conteúdos pelos alunos e o professor foi o mediador durante aquisição do conhecimento. Assumindo o papel de mediador pedagógico, o professor age como provocador, contraditor, facilitador e orientador. Torna-se também unificador do conhecimento cotidiano e científico de seus alunos, assumindo sua responsabilidade social na construção e reconstrução do conhecimento científico das novas gerações, em função da transformação da realidade. A horta promoveu também a conscientização dos pais através de questionários, nos quais estavam contidas ricas informações sobre a importância de uma alimentação saudável e os problemas advindos da falta da mesma. A horta pode assumir um papel importante no resgate da cultura alimentar de cada região. Para fortalecer o vínculo positivo entre a educação e a saúde, devemos promover um ambiente saudável melhorando a educação e o potencial de aprendizagem ao mesmo tempo em que promovem a saúde. O projeto, diante do exposto, teve como objetivo geral desenvolver a prática do cultivo de hortaliças no centro de ensino Charles Darwin,de maneira que a horta escolar servisse de laboratório para o professor integrar os alunos ao ambiente em que ele vive priorizando o consumo de alimentos saudáveis e naturais e estimulando uma alimentação saudável. Como objetivos específicos, buscou-se: • Conscientizar alunos e pais acerca da importância de se ter uma alimentação rica e equilibrada. • Construir a noção de que o equilíbrio do ambiente é fundamental para a sustentação da vida em nosso planeta. • Valorizar o trabalho em equipe, ou seja, o papel do outro no processo de aprendizagem. Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 130 • Produzir adubos orgânicos. • Desenvolver de forma lúdica e interdisciplinar conteúdos das diversas áreas do conhecimento. Metodologicamente, para alcance dos objetivos propostos, os alunos do 4º ano do ensino fundamental acompanharam de abril a novembro de 2008 a horta escolar desde as etapas iniciais. Visitaram a horta, regularmente, uma vez por semana. A horta foi planejada no pátio do Centro de Ensino Charles Darwin e seis canteiros foram feitos, utilizamos adubo orgânico e minhocas do minhocário produzidos pelos próprios alunos no laboratório de Ciências, com a supervisão dos professores. A turma foi dividida em seis grupos, onde cada grupo ficou responsável por um canteiro desde a primeira etapa do desenvolvimento da horta. Com isso, valorizamos o trabalho em equipe, ou seja, proporcionou-se uma troca entre os envolvidos no processo no sentido de se entender o papel do outro, afinal, Vygotsky (2001, p. 480)13 enfatiza que “através da imitação na atividade coletiva, orientada pelos adultos a criança está em condição de fazer bem mais, e fazer compreendendo com autonomia”. O que a criança faz hoje com auxílio do adulto fará amanhã por conta própria. Desse modo, atividades coletivas orientadas por um adulto são imprescindíveis para a determinação da zona de desenvolvimento imediato da criança (VYGOTSKY, 2001).14 Os alunos e professores eram os personagens principais da horta, uma vez que foi valorizado neste projeto o conceito de zona de desenvolvimento proximal da criança, que é, para Vygotsky: a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.15 13 VYGOTSKY, L. S. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 14 VYGOTSKY, L. S. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 15 VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 112. Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 131 Fundamentando nosso trabalho em Vygotsky, partimos para o desenvolvimento do projeto, dividido em sete etapas que serão descritas a seguir: • Produção de adubo orgânico e construção de um minhocário: Os professores orientaram aos alunos para que trouxessem de casa restos alimentares de origem vegetal e animal para a produção de adubo orgânico, assim como pediram para os alunos e para todos os funcionários da escola que trouxessem minhocas de seus terrenos. Os alunos executaram a construção do minhocário e também a produção do adubo. Tais elementos: adubo e minhocas são fundamentais para uma boa plantação e foram muito utilizados pelos alunos durante a preparação da terra. • Visitação à horta: Reconhecimento do espaço em que foi feito o plantio. Nesta etapa, os professores conversaram com os alunos, abordando questões como que é uma horta, para que serve e o que se pode plantar nela. Os professores exploraram o espaço da horta, mostrando suas partes e os instrumentos que foram utilizados para a semeadura. Cada grupo conheceu o seu canteiro e aprendeu como manusear, com segurança, o ancinho, a pá, o regador e a sementeira. FOTO 2: A preparação dos canteiros • Preparação da terra: Depois de uma aula teórica sobre plantio, os alunos começaram a preparar a terra afofando-a, desmanchando os torrões que se formam e molhando-a. Adubaram-na com o adubo orgânico produzido com restos alimentares trazidos de Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 132 casa. • Apresentação das hortaliças aos alunos: Aula instrutiva em que os professores explicaram às crianças as características e o valor nutricional das hortaliças que foram plantadas na horta e a função das vitaminas que estão contidas nelas. Foi dada a cada grupo uma quantidade de semente das seguintes plantas: cenoura, coentro, salsa, cebolinha, couve e alface. • Plantio das hortaliças: Durante esta etapa os alunos plantaram as sementes dadas a cada grupo nos seus respectivos canteiros. Aprenderam a fazer as covas para colocação da semente. Depois de plantadas a semente regou-se os canteiros e ficou combinado que cada grupo ficaria responsável de molhar o seu canteiro ao final das aulas, uma vez por dia. • Acompanhamento da plantação: Os alunos passaram a registrar em um caderno específico o desenvolvimento das plantas, desde o primeiro broto até a colheita final. Contaram a quantidade de plantas viáveis, a quantidade que morreu e a cada aula um grupo falava sobre o seu canteiro, sobre a importância para a saúde do consumo daquela hortaliça ou daquele legume. FOTO 3: Alunos e funcionários do Darwin observando o crescimento dos vegetais Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 133 • Colheita: No final do ano (novembro de 2008), os alunos fizeram a colheita do que foi plantado. Colheram as hortaliças, lavaram-nas, retirando insetos e outros integrantes da fauna associada à horta. Nesse mesmo dia ao invés dos alunos lancharem alimentos gordurosos provenientes da cantina, fizemos sanduíches naturais utilizando a cenoura, a salsinha, cebolinha e o alface. Os alunos participaram de todo o processo e muito se entusiasmaram. Convidamos uma nutricionista para dar uma palestra sobre a alimentação saudável. No dia seguinte, 08/11/2008, ocorreu a mostra cultural na escola e a turma ficou responsável pelo tema Alimentação saudável. Cada pessoa que visitava o Stand do 4º ano recebia como lembrança uma hortaliça. Todos os funcionários da escola receberam uma hortaliça, uma vez que muitos profissionais se envolveram com todo o processo. Ouvindo os sujeitos do nosso estudo através de questionários Para avaliar qual o impacto da horta no estudo desses alunos foram aplicados três questionários (2 para os alunos e 1 para a família do aluno). Através desses questionários aplicados aos alunos e pais foi possível avaliarmos não só o interesse dos mesmos a respeito da importância dos vegetais no nosso dia-a-dia (especialmente na alimentação - Gráfico 2) como também, o desenvolvimento de aptidões como o trabalho em grupo, sendo essencial para o sucesso final do projeto aliado a uma tomada de conscientização ecológica por parte dos alunos. Além disso, pode-se verificar se os alunos aprendem mais Ciências com a implantação de projetos como o da Horta na escola (Gráfico 1). Das perguntas feitas aos pais e alunos nos questionários, foram destacadas quatro de maior relevância: 1) “O estudo dos vegetais tornou-se mais interessante:” a) Com a construção da Horta; b) Quando o conteúdo foi visto em sala de aula. 1) “Você sabia que uma boa alimentação(rica em vegetais) pode evitar Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 134 algumas doenças cardiovasculares?” a) Sim; b) Não. 1) “Você acha que o trabalho em equipe é:” a) Indispensável, pois dependemos muito de nossos companheiros; b) Não é necessário. Prefiro fazer sozinho sempre. 1) “Seu filho come verduras ou legumes regularmente?” a) Sim; b) Não. A primeira pergunta demonstrou que todos os alunos (100%) preferiram como método de aprendizagem o preparo da Horta ao invés da metodologia tradicional de ensino na sala de aula (Gráfico 1). A segunda pergunta revelou que a maioria dos alunos (95%) tem ciência sobre a importância de uma dieta rica em vegetais para a prevenção de doenças (Gráfico 2). Em relação à relevância do trabalho em grupo (Pergunta 3), a maioria dos alunos (94,73% ou 18 alunos) demonstrou que o trabalho em equipe foi importante e essencial para que o projeto da Horta fosse efetivamente concretizado (Gráfico 3). Na quarta pergunta feita aos pais dos alunos, a maioria deles (56%) respondeu que seus filhos utilizam em suas dietas verduras e legumes regularmente (Gráfico 4). GRÁFICO 1: REFERENTE À PERGUNTA DO QUESTIONÁRIO 1: “O ESTUDO DOS VEGETAIS TORNOU-SE MAIS IMPORTANTE:” Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 0 5 10 15 20 Com a construção da Horta. Com o conteúdo visto em sala de aula. 135 GRÁFICO 2: REFERENTE À PERGUNTA DO QUESTIONÁRIO 2: “VOCÊ SABIA QUE UMA BOA ALIMENTAÇÃO (RICA EM VEGETAIS) PODE EVITAR ALGUMAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES?” GRÁFICO 3 : REFERENTE À PERGUNTA DO QUESTIONÁRIO 1: “VOCÊ ACHA QUE O TRABALHO EM EQUIPE É:” Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 95% 5% SIM NÃO 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Indispensável, pois dependemos muito de nossos companheiros. Não é necessário. Prefiro fazer sozinho sempre. 136 GRÁFICO 4: REFERENTE À PERGUNTA DO QUESTIONÁRIO 3: “SEU FILHO COME VERDURAS OU LEGUMES REGULARMENTE?” Para demonstrar a opinião dos sujeitos desse estudo, pais e alunos, foram feitas perguntas abertas e algumas respostas foram selecionadas. Primeira pergunta: Você como pai ou responsável, acredita ser importante o projeto HORTA ESCOLAR em nossa escola? Por quê? Todos os 18 pais responderam sim. Respostas das famílias: 1) “Aproxima a criança do cultivo das hortaliças e também traz o interesse pelo alimento, ao ponto de querer provar para ver se é gostoso”. Opinião da família do Davi. 2) “O projeto Horta escolar é importante porque é necessário desenvolver nas crianças o hábito de uma alimentação saudável, desde o seu cultivo até o seu consumo final”. Família da Lorena. 3) “Porque desperta nos alunos o interesse pelas verduras e hortaliças e a importância delas na sua alimentação. Desperta também o sentido de coletividade e de cooperação”. Família da Fernanda. 4) “Porque poderá despertar no aluno a vontade de consumir o que plantou e valorizar o trabalho do agricultor”. Família do Henrique. 5) “Para conscientizar, estimular e valorizar a presença desses alimentos em sua dieta diária”. Família do Marcelo. 6) “Conhecendo as verduras, as crianças procuram também saber o sabor de cada uma e formar um bom hábito alimentar”. Família da Maiara. Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 56% 44% SIM NÃO 137 Segunda pergunta: Discuta com a sua família sobre alimentação. Para vocês o que é uma alimentação saudável? 1. “É uma alimentação equilibrada e variada como: Arroz, feijão, carne branca, legumes frutas, leite e ovos”. Fernanda e família. 2. “Alimentação saudável é comer diariamente frutas, verduras, legumes, carne, leite, dentre outros. Deve-se evitar consumir pratos gordurosos e produtos industrializados”. Gabriela e família. 3. “Uma alimentação saudável é comer diariamente frutas, legumes, cereais, carnes, verduras e etc”. Henrique e família. Considerações finais Através do trabalho pôde-se perceber que a horta didática inserida no ambiente escolar pode ser uma ferramenta bastante eficaz na formação integral do estudante, pois o tema exposto aborda diversas áreas de conhecimento, podendo ser desenvolvido durante todo o processo de ensino/aprendizagem. Percebeu-se nitidamente que alguns alunos passaram a mudar, ou pelo menos tentar mudar, seus hábitos alimentares nada saudáveis, o que torna o projeto viável e adequado para ser adotado nos próximos anos no Centro de Ensino Charles Darwin e em outras escolas particulares ou públicas. Ver o alface crescer e depois comê-lo, por exemplo, pode dar às crianças uma noção da produção bem diferente daquela que elas aprendem ao acompanhar a mãe ao armazém ou ao supermercado. Ao tomar essa medida, as crianças passam a valorizar o ambiente em que vivem, passam a valorizar o trabalho do produtor agrícola e passam a dar valor a uma alimentação mais saudável e nutritiva. Pode-se dizer que a atividade prática escolhida para a realização deste projeto causou empolgação, despertou a curiosidade dos alunos, levando-os a participar da aula. Ao possibilitar o contato com o objeto de estudo, percebemos que os alunos puderam aprimorar os conhecimentos científicos já adquiridos. A horta didática pode desenvolver um importante papel no resgate da cultura, assim como da cidadania, também é um importante elemento na consciência dos Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011 138 envolvidos no projeto a preservação do meio ambiente. Concomitantemente, o desenvolvimento desse projeto permitiu uma reflexão sobre uma das principais necessidades formativas básicas dos professores faladas por Carvalho; Gil-Pérez16, que é saber programar atividades capazes de culminar numa aprendizagem efetiva, ou seja, realizar uma atividade que proporcione uma concepção e um interesse preliminar pela tarefa, levando em consideração as ideias que os educandos já possuem colocando-as em questão mediante contra-exemplos, inoculando novos conceitos e reelaborando os já adquiridos. Isto é horta escolar: pensar, aprender, ensinar, criar e conscientizar. Conclui-se que a horta escolar constitui uma importante ferramenta no ensino das ciências naturais nas séries iniciais do ensino fundamental. O exercício de aplicações pedagógicas, em situações reais, envolvendo cidadania e consciência sobre a educação ambiental, nos mostrou que o educando é um excelente multiplicador de ideias, levando informação e consciência às suas respectivas famílias. É importante que propostas pedagógicas como a horta escolar se tornem vigentes no ensino de ciências para quebrar a barreira existente entre teoria e prática. Propõe-se, com esse estudo, a continuidade desse projeto na instituição referida e que a horta escolar se torne um instrumento pedagógico vigente principalmente em escolas públicas, onde a horta pode incrementar alguns pratos, os tornando mais apetitosos e saudáveis. O presente estudo defende a continuidade dos projetos de pesquisa nas instituições, independentemente da troca de funcionários das mesmas. No Centro de ensino em questão o projeto Horta educativa se torna vigente até esse ano de 2010. Assim, projetos de pesquisa como este não podem e não devem ser situações isoladas e descontínuas. REFERÊNCIAS: 16 CARVALHO, A. M. P.; GIL-PÉREZ, D. Formação de professores de Ciências. São Paulo: Cortez, 1995. Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha| Número 6 | Jan./Jun. 2011 139 BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 2001. CARVALHO, A. M. P.; GIL-PÉREZ, D. Formação de professores de Ciências. São Paulo: Cortez, 1995. DANELON, M. A. S.; DANELON, M. S.; SILVA, M. V. Serviços de alimentação destinados ao público escolar: análise da convivência do Programa de Alimentação Escolar e das cantinas. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, v. 13, n. 1, p. 85-94, 2006. GÓES, M. C. R. de; SMOLKA, A. L. B. (Orgs.). A significação nos espaços educacionais. Campinas: Papirus, 1997. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de orçamentos familiares 2002/2003. Antropometria e análise do estado nutricional de crianças e adolescentes no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2006. KALMIKOVA, Z. I. La capacidad de aprendizaje y los princípios de estructuración de los métodos para su diagnóstico. In IIIASOV, I. I. ; LIAUDIS, V. Ya. Antología de la Psicologia Pedagógica y de las Edades. La Habana Pueblo y Educación, 1986. KUREK, M.; BUTZKE, C. M. F. Alimentação escolar saudável para educandos da educação infantil e ensino fundamental. Revista de Divulgação Técnico-Científica do ICPG. Santa Catarina, v. 3, n. 9, p. 139-144, 2006. RAMOS M; STEIN, L. M. Desenvolvimento do comportamento alimentar infantil. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, v. 76, supl. 3, p. 229-237, 2000. SILVA, L. H. de A.; ZANON, L. B. A experimentação no ensino de Ciências. In: SCHNETZLER, R.P.; ARAGÃO, R. M. R. Ensino de Ciências: fundamentos e abordagens. Piracicaba: CAPES/UNIMEP, 2000. SMITH, K. A. Experimentação nas Aulas de Ciências. In: CARVALHO, A. M. P.; VANNUCCHI, A. I. ; BARROS, M. A.; GONÇALVES, M. E. R.; REY, R. C. Ciências no ensino fundamental: o conhecimento físico. São Paulo: Scipione. 1998. TIBA, I. Ensinar aprendendo: como superar os desafios do relacionamento professor-aluno em tempos de globalização. São Paulo: Gente, 1998. VEER, R. V. D.; VALSINER, J. Vygotsky: uma síntese. São Paulo: Loyola, 2001. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998. ______. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001. Revista FACEVV | ISSN 1984-9133 | Vila Velha | Número 6 | Jan./Jun. 2011
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