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Rondonópolis/MT 2017 JAQUELINE DE SOUZA FERREIRA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL Rondonópolis/MT 2017 REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Anhanguera Educacional, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito. Orientador: Rodrigo Bonfim JAQUELINE DE SOUZA FERREIRA JAQUELINE DE SOUZA FERREIRA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Anhanguera Educacional, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito. BANCA EXAMINADORA Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a) Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a) Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a) Aprovada em ___/___/___ Dedico este trabalho aos meus pais, com todo amor e gratidão, por tudo que fizeram por mim ao longo de minha vida. AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus pela força e coragem durante esta longa caminhada. Agradeço também aos meus pais, por todo apoio e confiança. Mãe, seu cuidado e dedicação foi que deram, em vários momentos forças para seguir em frente. Pai, sua presença significou segurança e certeza de que não estou sozinha nessa caminhada. Agradeço aos meus amigos, pelo companheirismo, pelas alegrias, tristezas e dores compartilhadas. Agradeço a faculdade e a todos os professores do curso, que foram importantes na minha vida acadêmica. FERREIRA, Jaqueline Souza. Redução da Maioridade Penal. 2017. 27 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso, Graduação em Direito – Faculdade Anhanguera Educacional, Rondonópolis-MT, 2017. RESUMO A violência em nosso país praticada por menores infratores está a cada dia mais ampla, os crimes são dos mais terríveis possíveis, alguns deles são sequestros, estupros, assassinatos, roubos. O presente trabalho tem como objetivo expor a discussão sobre a redução da maioridade penal no Brasil, no qual traz opiniões tanto a favor, como contra. A maioridade penal em nosso país hoje é fixada aos dezoitos anos de idade, neste caso, se uma pessoa menor de dezoito anos matar alguém, não há o que se falar em crime, este menor simplesmente praticou um ato infracional e será imposto apenas medidas socioeducativas que estão previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente – (ECA), Lei 8069/90. Diante disso, o índice de criminalidade entre jovens de 12 a 18 anos só aumenta, e não podemos de modo algum aceitar que esses menores infratores continuem sendo considerados inimputáveis. Palavras-chave: Menor Infrator; Redução da Maioridade Penal; ECA – Estatuto da Criança de do Adolescente; Inimputável. FERREIRA, Jaqueline. Reduction of the Penal Majority. 2017. 27 sheets. Graduation in Law - Faculty of Anhanguera Educacional, Rondonópolis-MT, 2017. ABSTRACT Violence in our country practiced by juvenile offenders is growing every day, crimes are the most terrible crimes, some of them kidnapping, rape, murder, robbery. The present work has the objective of exposing the discussion about the reduction of the criminal majority in Brazil, in which it brings opinions both for and against. The criminal majority in our country today is fixed at eighteen years of age, in this case, if a person under eighteen years of age kills someone, there is nothing to talk about in crime, this minor simply committed an infraction and will be imposed only socio- educational measures which are provided for in the Statute of the Child and Adolescent - (ECA), Law 8069/90. Faced with this, the crime rate among young people between 12 and 18 years only increases, and we can not in any way accept that these minor offenders continue to be considered inimputable. Key-words: Minor offender; Reduction of the Penal Majority; ECA - Statute of the Child of the Adolescent; inimputable. SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................07 1. MAIORIDADE PENAL................................................................................09 1.1. IMPUTABILIDADE....................................................................................10 1.1.1. Aferição de Imputabilidade....................................................................14 2. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE...................................15 3. POSSIBILIDADE E IMPOSSIBILIDADE DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL DE ACORDO COM O PRINCÍPIO DA DOUTRINA...........................19 CONCLUSÃO..................................................................................................25 REFERÊNCIAS...............................................................................................26 7 INTRODUÇÃO A Redução Maioridade penal é um tema contemporâneo e bastante polêmico entre os legisladores, juristas e cidadãos brasileiros em geral. As opiniões contrárias e favoráveis pode abrir uma reflexão se é ou não possível à redução da maioridade penal no Brasil. Deste modo, foi feita uma análise sobre o tema a partir de uma base doutrinária, a qual seria a Proteção Integral da Criança e do Adolescente. Foram expostos, conceitos, definições e históricos que possibilitarão a noção de institutos jurídicos relacionados com a doutrina e a maioridade penal. Essa análise, responde fundamentalmente como a doutrina de proteção integral, possibilita ou não a redução da maioridade penal. A maior preocupação da população brasileira referente à violência é a frequente presença de menores de dezoito anos na prática dos mais terríveis delitos, um grande problema, pois são essas crianças e adolescentes serão os responsáveis pelo futuro do país. Em meio ao aumento dos crimes praticados por eles, surgiu a proposta de redução da maioridade penal para dezesseis anos. Com base na doutrina da proteção integral da criança e do adolescente foram levantadas duas hipóteses para contestar a possibilidade da redução da maioridade penal no Brasil. Segundo alguns doutrinadores, um jovem com 16 anos já seria capaz de distinguir as condutas que seriam legais e ilegais, devendo então ser responsabilizado pelos seus atos. A doutrina da proteção integral, com base na instrução da Constituição Federa e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), observa que o jovem é ainda uma pessoa em desenvolvimento, e devem ser punidos por lei especial. Para chegar ao objetivo, foram analisados os seguintes pontos: os direitos fundamentais e os princípios que orientam e estimulam a aplicação da doutrina da proteção integral do direito brasileiro; as medidas socioeducativas aplicadas aos menores infratores no Brasil, com base no Estatuto da Criança e do Adolescente; e por fim verificar a possibilidade da aplicação da redução da maioridade penal com base na Constituição Federal de 1988 e da doutrina integral. 8 Devido à aflição da sociedade, quase não se discute os métodos adotados pelos legisladores para a redução da maioridade penal, entretanto salienta que os critérios adotados contribuem para caracterização da imputabilidade penal na legislação pátria. Foi adotado pelo Brasil, o critério biopsicológico, onde o mesmo estabelece uma idade mínima como critério para analisar se o jovem possui capacidade de entender e determinar a conduta que foi aplicada. Existe a necessidade de demonstrar que a possibilidade de reduzir a maioridade penal implica em vários aspectos legais, que contrariam opiniões até mesmo de interpretes e aplicadores da lei. A análise a ser levantada pelo presente é de suma importância para esclarecer com base nos dispositivos legais a possibilidade da redução da maioridade penal e suas consequências na sociedade. Os meios utilizados para alcançar o objetivo, foram as leis referentes a Doutrina de Proteção Integral, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Constituição Federal e documentos oficiais que possuem aspectos dos menores no Brasil. O método utilizado para a pesquisa foi análise documental e bibliográfica, a documental uma vez que a maior parte das fontes escritas foi baseada em investigações a partir de documentos legais, e a bibliográfica por serem estudados livros, artigos, matérias e publicações. O presente trabalho se divide em três capítulos, sendo o primeiro relativo à maioridade penal, e apresentando as características de imputabilidade. No segundo será apresentado a Doutrina da Proteção Integral, o trajeto dela na legislação brasileira e a efetivação através do Estatuto da Criança e do Adolescente, expressando as medidas de punições adequadas de acordo com o que afirma a doutrina. E por fim, será apresentado o contexto que analisará a possibilidade ou não da redução da maioridade penal com base no princípio da doutrina da proteção integral. 9 1 . MAIORIDADE PENAL Atualmente por expressa disposição no art. 27 Código Penal Brasileiro - (CPB) de 1940, considera-se menor e inimputável todo aquele com menos de 18 (dezoito) anos de idade. O Código Civil, em consonância com o CPB/40 e a Constituição Federal de 1988, também dispõe em seu art. 5º que a menoridade cessará aos dezoito anos, quando a pessoa ficará habilitada para praticar todos os atos da vida civil. Contudo, vale lembrar que a maioridade civil a luz do Código Civil de 1916 era fixada aos 21 (vinte e um) anos, porém o legislador do CC/02 não enxergando mais a necessidade de se continuar com essa idade a diminuiu, a fixando em dezoito anos. A maioridade penal define a partir de qual idade o indivíduo responde pela violação da lei penal na condição de adulto. Os menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis de acordo com o conjunto de normas jurídicas do Brasil. Deste modo, a Constituição Federal de 1988 disciplina em seu artigo 228 que “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”. Figueiredo (2002) mostra que nem sempre foi essa a idade limite fixada no país, dizendo que somente após o CPB de 1940 que essa idade foi fixada. E assim completa: “[...] o Código Penal de 1890 considerava inimputável o infrator até os 9 (nove) anos de idade. Entre 9 (nove) e 14 (quatorze) anos, o infrator poderia ser considerado criminoso, desde que, o juiz analisasse que ao praticar a conduta delituosa, este agiu com discernimento. O critério utilizado para os menores de 1927 era bem diferente, três limites de idade eram observados: o infrator com 14 (quatorze) anos era considerado inimputável. De 14 (quatorze) a 16 (dezesseis) anos de idade, o infrator ainda era considerado inimputável, porém instaurava-se um processo para analisar o fato com a possibilidade de cerceamento de liberdade. Por fim, o infrator entre 16 (dezesseis) e 18 (dezoito) anos de idade, poderia ser considerado responsável, e sofrer pena. Já o assim chamado Código de Menores – Lei Federal 6.691 de 1979, classificou como inimputável os menores de 18 (dezoito) anos, assim seguiu a Constituição Federal de 1988, o que não era garantido nas constituições anteriores, como também o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069/90.” Segundo Nucci (2009, p.301): “A adoção dessa idade limite, qual seja 18 (dezoito) anos, utilizou-se o critério puramente biológico, isto é, a lei penal criou uma presunção absoluta de que o menor de dezoito anos, em face do desenvolvimento mental incompleto, não tem condições de compreender o caráter ilícito do que faz ou capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimento.” 10 Jesus explica (2010, p.550) que o Código prevê presunção absoluta de inimputabilidade: “Acatado o critério biológico, não é preciso que, em decorrência da menoridade, o menor seja “inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. A menoridade (fator biológico) já é suficiente para criar a inimputabilidade: o Código presume de forma absoluta que o menor de dezoito anos “é inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato” e de determinar-se de acordo com esse entendimento”. A presunção não admite prova em contrário.” No mesmo sentido Mirabete (2008, p.214), diz: “No dispositivo adotou-se o critério puramente biológico (idade do autor do fato) não se levando em conta o desenvolvimento mental do menor, que não está sujeito à sanção penal ainda que plenamente capaz de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Trata-se de uma presunção absoluta de inimputabilidade que faz com que o menor seja considerado como tendo desenvolvimento mental incompleto em decorrência de um critério de política criminal.” Ressalta-se dizer do que trata essa política criminal, assim Nucci (2008, p.66) nos esclarece: “Variando do conceito de ciência, para uns, a apenas uma técnica ou um método de observação e análise crítica do Direito Penal, para outras, parece-nos que política criminal é uma maneira de raciocinar e estudar o Direito Penal, fazendo-o de modo crítico, voltado ao direito posto, expondo seus defeitos, sugerindo reformas e aperfeiçoamentos, bem como com vistas à criação de novos institutos jurídicos que possam satisfazer as finalidades primordiais de controle social desse ramo do ordenamento.” Ante esclarecimento fica declarado que todo aquele que antes de completar dezoito anos de idade e que cometer um crime, não poderá ser punido, haja vista, ser incapaz de responder por tais ilícitos, por simplesmente não ter alcançado a idade legal estabelecida, isto tudo, devido ao princípio biológico adotado em nosso CPB/40. 1.1 IMPUTABILIDADE De acordo com conjunto de normas jurídicas do Brasil, os menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis. A Constituição Federal de 1988 disciplina em seu artigo 228 que “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.” (BRASIL,1998) O código penal reproduziu o texto constitucional em seu Capítulo I, título III, artigo 27, que trata da imputabilidade penal referente a faixa etária. 11 A imputabilidade é a possibilidade de atribuir a um indivíduo a responsabilidade por uma infração. Além de estar relacionada a faixa etária, inclui também outros indivíduos, conforme a capacidade intelectual do agente, entretanto, a legislação brasileira considera inimputáveis aqueles que possuem doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardo ou estado de embriaguez acidental. O ordenamento jurídico pátrio não traz a conceituação de imputabilidade, deste modo, é necessário compreender um pouco sobre a imputabilidade para alcançar o que o legislador pretendia ao determinar a maioridade penal a partir dos dezoito anos. Diante disso o doutrinador penalista Fernando Capez define o conceito de imputabilidade da seguinte forma: “É a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. O agente deve ter condições físicas, psicológicas, morais e mentais de saber que está realizando um ilícito penal. Mas não é só. Além dessa capacidade plena de entendimento, deve ter totais condições de controle sobre sua vontade. Em outras palavras imputável é não apenas aquele que tem capacidade de intelecção sobre o significado de sua conduta, mas também de comando da própria vontade, de acordo com esse entendimento. (CAPEZ, 2011).” O art. 26 do Código Penal (CP) brasileiro ao dispor sobre inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, possibilita o entendimento de quem seja um sujeito imputável. Dessa maneira declara: “Art. 26 É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.” Deste modo, Jesus (2010, p.513) nos ensina que inimputável é: “O agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não possui, ao tempo da prática do fato, capacidade de entender o seu caráter ilícito ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Já o imputável é o sujeito mentalmente são e desenvolvido, capaz de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Por conseguinte, o inimputável não comete crime.” A imputabilidade não se confunde com a responsabilidade penal, que corresponde às consequências jurídicas oriundas da prática de uma infração. Assim, responsabilidade, segundo Jesus (2010, p. 514) é: “A obrigação que alguém tem de arcar com as consequências jurídicas do crime. É o dever que tem a pessoa de prestar contas de seu ato. Ele depende da imputabilidade do indivíduo, pois não pode sofrer as consequências do fato criminoso (ser responsabilizado) senão o que tem a consciência de sua antijuridicidade e quer executá-lo.” 12 Conforme a teoria da imputabilidade moral, o homem é um ser inteligente e livre e por isso responsável pelos atos praticados. Inversamente, quem não tem esses atributos é inimputável. Sendo livre, tem condições de escolher entre o bem e o mal. Escolhendo uma conduta que atinge interesses jurídicos alheios, deve sofrer as consequências de seu comportamento. Imputável é a pessoa mentalmente sã e desenvolvida, que possui capacidade de compreender que sua conduta contraria os mandamentos da ordem jurídica. A imputabilidade encontra-se no momento da infração. Jesus(1995), define imputabilidade da seguinte forma: “Inimputabilidade é a incapacidade para apreciar o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com essa apreciação. Se a imputabilidade consiste na capacidade de entender e de querer, pode estar ausente porque o indivíduo, por questão de idade, não alcançou determinado grau de desenvolvimento físico ou psíquico, ou porque existe em concreto uma circunstância que a exclui. Fala-se, então, em inimputabilidade. (JESUS, 1995, p.419).” Segundo Jesus (1995, p. 420): “A imputabilidade é a regra; a inimputabilidade, a exceção. Todo indivíduo é imputável, salvo quando ocorre uma causa de exclusão. As causas de exclusão da imputabilidade são as seguintes: a) doença mental; b) desenvolvimento mental incompleto; c) desenvolvimento mental retardado; d) embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior. Excluem, por consequência, a culpabilidade. É necessário que em virtude dessas deficiências não tenha capacidade de entender e de querer. A presença da doença mental e da incapacidade de entender é que surge a inimputabilidade.” Podem-se analisar as três primeiras causas no Código Penal Brasileiro de 1940, no art. 26, e a quarta causa no art. 28, § 1º. O art. 27 afirma que os menores de 18 anos de idade são "penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial" (Estatuto da Criança e do Adolescente e leis complementares). A menoridade penal é também constituída como causa de exclusão da imputabilidade, encontrando-se abrangida pela expressão "desenvolvimento mental incompleto" (art. 26, caput). A imputabilidade encontra-se ao tempo da prática do fato, por exemplo, se a pessoa praticar o fato ao tempo em que não tinha capacidade de compreensão e de determinação devido à doença mental, não será considerado imputável se após a ocorrência readquirir a normalidade psíquica. 13 O Código Penal (1940) classifica em duas hipóteses as formas de imputabilidade no país, as quais são imputabilidade por doença ou desenvolvimento mental e imputabilidade por imaturidade natural. A imputabilidade por doença ou desenvolvimento mental é determinada pelo artigo 26 do CP, que compõe no seu caput: “Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Conforme leciona Capez a doença mental, assim aludida pela legislação penal, deve ser compreendida como perturbação mental ou psíquica de qualquer espécie, capaz de aniquilar ou deixar com problemas a aptidão para assimilar o caráter delituoso do ato ou a de conduzir a vontade de conforme esse entendimento. (CAPEZ, 2011, p.282).” O Código Penal (1940) trata ainda sobre uma forma de semi-imputabilidade, que também pode ser chamada de imputabilidade reduzida ou diminuída, essa forma pode ser encontrada em indivíduos que estão entre a normalidade e a doença mental. A semi-imputabilidade não significa inimputabilidade penal, pois a pessoa que está sob essa condição e pratica um ato ilícito terá apenas uma redução da pena, sem necessidade de aplicar a medida de segurança como no caso da imputabilidade por doença ou desenvolvimento mental. O dispositivo legal que se trata de semi-imputabilidade é o parágrafo único do artigo 26 do Código Penal (1940): “Art. 26, parágrafo único: A pena pode ser reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços), se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento.” A imputabilidade por imaturidade natural encontra-se no texto do art. 27 do Código Penal (1940), onde expõe: “Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando às normas estabelecidas na legislação especial.” Rogério Greco(GRECO, 2015, p. 451), se pronuncia sobre a imputabilidade por imaturidade penal: “A inimputabilidade por imaturidade natural ocorre em virtude de uma presunção legal, em que, por questões de política criminal, entendeu o legislador brasileiro que os menores de 18 anos não gozam de plena capacidade de entendimento que lhes permita imputar a prática de um fato típico e ilícito. Adotou-se, portanto, o critério puramente biológico.” Existem ainda outros doutrinadores que classificam os menores de dezoito anos sujeitos com desenvolvimento mental incompleto, devido estarem em processo de crescimento e formação. No entanto, interessa saber que a imputabilidade que 14 leva em consideração a faixa etária do indivíduo é classificada por imaturidade natural, esta atesta que todos que tenham menos de dezoito anos são inimputáveis, independente da capacidade intelectual que apresenta. 1.1.1. Aferição de Imputabilidade A doutrina traz alguns critérios para determinação da imputabilidade penal, são sistemas diferentes que autorizam uma avaliação de estados e comportamentos, e é através deles que se identifica qual o será critério adotado pela legislação. Existem três teorias para identificação dos critérios, os quais são: biológico, psicológico, e biopsicológico. “O critério biológico leva em consideração apenas o desenvolvimento intelectual do indivíduo, se ele é portado de doença mental, desenvolvimento mental retardado ou incompleto ou também em estado de total embriaguez acidental. Mesmo assim, para que seja declarada a inimputabilidade há necessidade de comprovar se o indivíduo já poderia ser considerado inimputável no momento da ação ou omissão dos fatos. (GRECO, 2015, p. 450).” Segundo Capez, há uma exceção ao critério biológico no que diz respeito à imputação quanto à idade: “Foi adotado, como exceção, no caso dos menores de 18 anos, nos quais o desenvolvimento incompleto presume a incapacidade de entendimento e vontade (CP, art. 27). Pode até ser que o menor entenda perfeitamente o caráter criminoso do homicídio, roubo ou estupro, por exemplo, que pratica, mas a lei presume, ante a menoridade, que ele não sabe o que faz, adotando claramente o sistema biológico nessa hipótese. (CAPEZ, 2011, 335).” Existe também o posicionamento do doutrinador Guilherme de Souza Nucci, que trata do critério adotado para caracterização da imputabilidade penal etária de forma semelhante, descrevendo: “Trata-se da adoção, nesse contexto, do critério puramente biológico, isto é, a lei penal criou uma presunção absoluta de que o menor de 18 anos, em face do desenvolvimento mental incompleto, não tem condições de compreender o caráter ilícito do que faz ou capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimento. (NUCCI, 2011, p. 307).” No critério psicológico será analisada a inimputabilidade no momento da ação delituosa, entretanto é importante verificar a consciência no tempo da prática, se efetivamente não estava em condição intelectual normal e também pela forma de se conduzir diante da situação, ou seja, sendo capaz de escolher a maneira que poderá agir. “Assim, o critério psicológico está baseado na compreensão dos fatos pelo indivíduo, ou seja, basta a comprovação de que no tempo do acontecimento 15 dos fatos o agente não entendia ou almejava sua ação, a atribuição da imputabilidade sobre uma visão que considera especificamente a capacidade psicológica do agente (DOTTI, 2005, p. 412). Já o critério biopsicológico, ou misto, é uma junção dos critérios biológicos e psicológicos, esse sistema leva em consideração tanto a condição biológica do indivíduo, como também a condição psicológica através da sua capacidade de compreensão do fato ilícito. O indivíduo para ser inimputável deverá no tempo da ação ou omissão do ato ilícito, apresentar alguma doença mental, alguma falha ou incompleto desenvolvimento mental, bem como não compreender ou diferenciar a ilicitude do ato. (DOTTI, 2005, p. 412).” No mesmo sentido, Rogério Sanches Cunha (2015) explica o critério biopsicológico da seguinte maneira: “Sob a perspectiva biopsicológica, considera-se inimputável aquele que, em razão de sua condição mental (por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado), era, ao tempo da conduta, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (CUNHA, 2015, p. 278).” Observando os critérios para aferição da imputabilidade, é possível verificar tomando por base os artigos 26 caput e 27 do Código Penal (1940) que o direito brasileiro utiliza o critério misto. 2. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – (ECA) LEI 8.069/90 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é o conjunto de normas do ordenamento jurídico brasileiro, o qual tem como objetivo a proteção integral da criança e do adolescente, aplicando medidas e expedindo encaminhamentos para o juiz. É o marco legal e regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes. O ECA em sua Lei 8.069/90 dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Salienta que para efeitos desta Lei, em seu art. 2º é considerado criança, a pessoa até 12 (doze) anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade. O ECA/90 cita ser o menor, uma pessoa incapaz de entender o caráter ilícito de suas condutas, em razão de acreditar que esses menores não possuem o desenvolvimento mental para entenderem os atos criminosos que possam vir a praticar. São atribuídos às crianças e aos adolescentes como para qualquer outra pessoa às leis deste país todos os direitos e garantias fundamentais distintas à 16 pessoa humana, sem qualquer prejuízo da proteção integrada enfatizada pelo ECA/90. “Conforme pressupõe o art. 4º do ECA/90 é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária.” Deste modo, a família conjuntamente com o Poder Público e a sociedade tem a responsabilidade de contribuir para que todas as crianças do país possam ter seus direitos e garantias protegidos. Entretanto, esses direitos e garantias estão somente fixados e garantidos no papel. Diante de tanta violência praticada é visível o abandono destes menores, primeiro pela própria família em segundo pelo Poder Público, e por fim pela própria sociedade que sofre com essa criminalidade imensa. De acordo com o ECA em seu art. 103, verifica-se: “Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal”. Um exemplo de benevolência é se, por exemplo, quando um menor disparar tiros conta outra pessoa, e consequentemente esta perder sua vida, ao menor não poderá ser atribuído à prática de crime, e sim a prática de um ato infracional, aplicando então medidas socioeducativas, previstas no ECA/90. Agora caso um maior de dezoito anos cometa a mesma conduta, este sim ira ter cometido um crime, onde fica sujeito a pena prevista no art. 121 do CPB/84: “Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos.” Dizer que os jovens de hoje não possuem consciência, é fechar os olhos para a cruel realidade. Lembrando ainda que os maiores de dezoito anos tiram vantagem do descuido do legislador ECA e aproveitam para induzir os menores a dar início a vida do crime, o que ocorre muito cedo, de encontro com as drogas, armas, prostituição, e o mais tentador que é dinheiro fácil, “sem esforço”. Afinal de contas, qual criança e adolescente não gostaria de ter uma roupa de marca, celular, videogame, entre outros objetos que o capitalismo nos instiga a consumir todos os dias. Tudo isso custa dinheiro, e a realidade é que o país está em fase de desenvolvimento, onde a igualdade é um desejo muito distante, e é 17 exatamente a vida no crime que que traz satisfação, alegria e contentamento para esses jovens. No entanto, jamais poderemos confundir pobreza com falta de caráter, e falta de oportunidades com criminalidade, até porque isto iria significar que existe somente menores infratores pobres e sem oportunidades, o que não é verdade. Pois são crianças e adolescentes de todas as classes sociais. O art. 104 do ECA traz essa proteção, ao prever que “são penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei”. O parágrafo único cita que: “Parágrafo único: para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato”. Diante disso, o ECA acredita que se o menor infrator praticar qualquer ato delituoso, este não ficará impune, prevendo então para que quando houver a prática desses atos infracionais, serão aplicadas as medidas socioeducativas, as quais variam entre seis. O ECA organiza as medidas socioeducativas que acredita ser capaz de controlar a prática de ator infracionais e posteriormente fazer com que as crianças e adolescentes fiquem longe do crime. Em seu art. 112 descreve as medidas socioeducativas: “Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional;” Sobre advertência dispõe o art. 115: “Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo e assinada.” Agora a medida socioeducativa de reparar o dano pode ser encontrada no art. 116: “Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima. Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra adequada.” 18 A medida de prestação de serviços à comunidade elencada no art. 117 prevê: “Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais. Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho.” A medida da liberdade assistida conforme se verifica no art. 118 será: Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. § 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento. § 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor. Ao orientador devidamente acompanhado pela supervisão da autoridade competente, cabe promover socialmente o adolescente e sua família, orientando e caso tenha necessidade insira-os em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social; supervisionar o rendimento escolar, fazendo até se necessário sua matrícula, empenhar-se no sentido da profissionalização e inserção no mercado de trabalho do adolescente e apresentar relatório do caso. A medida de inserção ao regime de semiliberdade de acordo com o art. 120: “Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente de autorização judicial. § 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade. § 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação. A medida de internação encontrada no art. 121: Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. § 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário. § 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses. 19 § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos. § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público. § 7o A determinação judicial mencionada no § 1o poderá ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012).” Nessa breve citação sobre as medidas socioeducativas, conclui-se a ineficácia de tais medidas, ao que tange a repressão da prática de ilícitos. A solução a curto prazo para reter o aumento da criminalidade juvenil passa pela adoção de medidas mais repressivas, especialmente a redução da maioridade penal. Fica evidente que, diante dessas medidas socioeducativas o menor infrator é levado a acreditar que o crime compensa, visto que, se cometer algum crime, o máximo que poderá acontecer é a medida de internação por 3 (três) anos, ou seja praticamente impune. Nucci (2009, p.302) diz: “O menor de dezoito anos já não é o mesmo do início do século, não merecendo continuar sendo tratado como uma pessoa que não tem noção do caráter ilícito do que faz ou deixa de fazer, sem poder conduzir-se de acordo com esse entendimento.” É correto afirmar que uma das maiores causas do crescimento de infrações cometidas pelos menores é a condição social. A falta de oportunidades, o acesso à educação, não somente dos menores, como também de suas famílias, pelo fato de não encontrar outra saída, ou também por vontade própria entram no mundo do crime e se acomodam. É clara a desigualdade no país, mas isso não justifica que a pessoa pobre tenha que seguir no caminho da criminalidade. Lenza (2011, p1.118) dispõe: “...A sociedade evoluiu e, atualmente, uma pessoa com 16 anos de idade tem total consciência de seus atos, tanto é que exerce os direitos de cidadania, podendo propor ação popular e votar. Portanto, em nosso entender, eventual PEC que reduza a maioridade penal de 18 pra 16 anos é totalmente constitucional. O limite de 16 anos já está sendo utilizado e é fundamentado no parâmetro de exercício do direito de votar e à luz da razoabilidade e maturidade do ser humano.” A sociedade precisa de políticas públicas de educação, emprego e trabalho, capazes de prestar o assistencialismo antes desses menores de corromperem, 20 evitando-se assim que a cada dia mais e mais vítimas do sistema percam suas vidas, ou tirem vida de inocentes. 3. POSSIBILIDADE E IMPOSSIBILIDADE DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL DE ACORDO COM O PRINCÍPIO DA DOUTRINA A inimputabilidade penal recebeu tratamento constitucional, pela primeira vez, com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Anteriormente, a matéria era tratada somente pela legislação penal. O artigo 228 refere que são penalmente inimputáveis os menores de 18 anos, sujeitos às normas de legislação especial. (MASSON,2015). Contudo, a possibilidade de redução da idade de imputação penal do sujeito foi debatida nos meios sociais e jurídicos do país, onde foi levantada uma hipótese que a partir da redução da maioridade penal, também diminuiria a criminalidade entre os jovens. Para Liberati (2000), a inimputabilidade abaixo dos dezoito anos de idade, retoma-se uma discussão, onde implica várias opiniões. No qual uns defendem que a maioridade tem que ser reduzida para dezesseis anos, e outros defendem que deve ser conservada a inimputabilidade abaixo dos dezoito anos, devido a formação psíquica do jovem. Alguns defensores da redução da maioridade penal creem que seria uma solução e auxilio na luta contra a criminalidade, da violência e delinquência juvenil. A redução é necessária, tendo em vista que a criminalidade aumenta cada dia mais. Deste modo, com o objetivo de agradar uma grande parte da população diante das reivindicações, a redução da maioridade foi considerada uma “saída”, pois os menores estariam sujeitos as penas previstas no Código Penal. Quando o assunto chegou ao Congresso Nacional, vários projetos de Emendas à Constituição tramitaram na Casa Legislativa com o objetivo de reduzir a maioridade penal do indivíduo para dezesseis ou até mesmo quatorze anos de idade, bem como aumento da internação. Se tratando de uma matéria constitucional, especificamente no art. 228 da CF que se refere a maioridade penal, a redução da maioridade somente seria possível através de emenda constitucional. Deste modo, o art. 60 da CF traz as condições para emenda à Constituição (BRASIL, 1988): 21 Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I -de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II -do Presidente da República; III -de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros Neste mesmo artigo a Constituição estabelece uma limitação que deve ser analisada para formação de emendas, pois, existe algumas matérias que não podem ser objeto de decisão por meio de emendas constitucionais. O art. 60 da Magna Carta, no 4º parágrafo, define que para formação de emendas constitucionais deve ser analisado o Art. 60 da CF: “A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: [...] § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: [...] VI -os direitos e garantias individuais (Brasil 1988)”. O texto trata-se das chamadas Cláusulas Pétreas, que limitam o poder reformador constituinte. Estão previstos no art. 5º da CF os direitos e garantias, mas, de acordo com a determinação do parágrafo § 2º do mesmo artigo, os direito e garantias declarados nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios adotados por ela, ou dos tratados internacionais nos quais a República Federativa do Brasil seja parte, podendo então, estarem postos em outros artigos. Neste sentido, o art. 228, pode ser considerado a garantia e o direito dos menores, de acordo com o que disciplina a Doutrina de Proteção Integral. Entretanto, fica claro que os direitos e garantias individuais, não devem ser objetos de emendas, se restringir direitos e garantias. Diante disso Bastos e Martins recomendam (BASTOS; MARTINS,1999; p. 413): “Os direitos e garantias individuais conformam uma norma pétrea. Não são eles apenas os que estão no artigo 5º, mas, como determina o § 2o do mesmo artigo, incluem outros que se espalham pelo Texto Constitucional e 19 outros que decorrem de implicitude inequívoca.” Nathália Masson (2015), reforça sobre as emendas Constitucionais referentes as Cláusulas Pétreas: Vale lembrar que as cláusulas pétreas poderão, obviamente, ser objeto válido de emendas constitucionais quando estas possuírem o intuito de ampliar ou sofisticar os assuntos relacionados no § 4°, do art. 60, CF/88. [...], uma emenda pode sim ter por objeto direitos individuais (ou qualquer outra cláusula pétrea), desde que não tenha a pretensão de abolir ou reduzir o núcleo essencial do tema. (Masson, 2015 p. 127) Considerando que o menor de dezoito anos possui um direito fundamental – sendo, irrevogável – que não permite o envolvimento, como réu, em quaisquer tipos 22 de ações criminais, processos esses nos quais o respeito devido à sua condição de hipossuficiência é colocada em apreciação. Por se tratar de um direito fundamental de natureza individual, a sua modificação, por emenda ou não é expressamente vedada (LIBERATI, 2000). Para Piovesan (2001): “As propostas de alterações da idade penal, além de violar cláusula pétrea, ofende regras internacionais de proteção dos direitos humanos, que o Estado brasileiro firmou compromisso para cumprir, ainda, com fulcro no artigo 5º, parágrafo 2º da Constituição, os direitos circunstanciados em tratados internacionais de proteção dos direitos humanos somam-se aos direitos nacionais. (PIOVISAN, 2001; p. 76-77).” Deste modo, entende-se que as propostas de emendas à Constituição para reduzir a maioridade penal, desconsidera as regras constitucionais, além dos tratados internacionais incorporados pelo Brasil, no momento em que sujeitar que as crianças e adolescentes tem absoluta prioridade, na condição especial de sujeito de direitos e garantias. Sendo assim, pode ser constatada que além de ser considerada cláusula pétrea, não sendo possível a alteração via Emenda Constitucional, o art.228 cria outra problemática, o Brasil faz parte da Convenção Internacional dos Direitos da Criança onde disciplina que o menor será inimputável, deste modo, o parágrafo 2º dos art. 5º da CF/88 determina que serão também considerados direitos e garantias individuais, os que forem estabelecidos em tratados e convenções internacionais em que o Brasil seja parte. Desta forma, caso o Brasil ainda faça parte das convenções internacionais que tratam dos direitos e das crianças e adolescentes, pela regra da Constituição, não atingiria a possibilidade de alteração da idade penal mínima levando em consideração aos acordos firmados sobre direitos e garantias decorrentes de tratados internacionais. Contudo, existe doutrinadores que possuem opiniões opostas sobre a possibilidade constitucional da redução. O jurista Pedro Lenza (LENZA, 2012, p. 1228) determina: Embora parte da doutrina assim entenda, a nossa posição é no sentido de ser perfeitamente possível a redução de 18 para 16 anos, uma vez que apenas não se admite a proposta de emenda (PEC) tendente a abolir direito e garantia individual. Isso não significa, como já interpretou o STF, que a matéria não possa ser modificada. Reduzindo a maioridade penal de 18 para 16 anos, o direito à inimputabilidade, visto como garantia fundamental, não deixará de existir. A sociedade evoluiu, e, atualmente, uma pessoa com 16 anos de idade tem total consciência de seus atos, tanto é que exerce os 23 direitos de cidadania, podendo propor a ação popular e votar. Portanto, em nosso entender, eventual PEC que reduza a maioridade penal de 18 para 16 anos é totalmente constitucional. O limite de 16 anos já está sendo utilizado e é fundamentado no parâmetro do exercício do direito de votar e à luz da razoabilidade e maturidade do ser humano. Mesmo com apontamento de doutrinadores a favor da redução da maioridade, salienta-se que o foco do mesmo não é questionar a partir da capacidade do menor de entender ou não os atos que pratica, e sim as questões que dominam o ordenamento jurídico pátrio. É correto afirmar que inimputabilidade penal antes dos 18 anos é uma disposição jurídica subjetiva, pois foi consolidada e firmada através do art. 60, § 4º, inciso IV, da Constituição. Isto é, por meio das informações expostas, a impossibilidade jurídica da redução da maioridade é manifestada através do próprio texto constitucional que distinguiu a doutrina da proteção integral nos artigos 227 e 228. Souza Junior (SOUZA JUNIOR, 2001) interpreta que: "A garantia do artigo 228 da Constituição, que expressamente estabelece a idade penal aos 18 anos, abriga uma cláusula pétrea, e qualquer atentado a ela constituirá fraude constitucional". Para Souza Junior (2001, p. 104): Toda esta construção permite alicerçar o raciocínio em torno do caráter de garantia fundamental da inimputabilidade do menor de 18 anos. Evidentemente, não há ingenuidade nessa postura hermenêutica que impeça reconhecer os fatores de atualização de enunciados normativos sob 50 impulso de transformações sociais e que se possam se acolher ao abrigo de mudanças constituintes, sob pena dos assaltos corrosivos. A intocabilidade do núcleo essencial do direito à inimputabilidade penal antes dos 18 anos, por meio de revisão ou de emenda, ainda que reconheça que a subjetividade aí inscrita não pode ser a priori e definitivamente fixada. A Constituição Federal de 1988 que também é conhecida como Constituição Cidadã, obteve avanços inseridos no ordenamento jurídico qual seja o resultado de conquistas sociais que defendem a integralidade dos direitos a todos, sem nenhuma distinção, tanto para crianças como adolescentes. Lembrando ainda que os atos infracionais praticados por menores, são punidos por meio de medidas adequadas considerando as condições dos menores, e a maioridade penal seria uma retrocesso dos direitos e garantias já considerados para as crianças e adolescentes. Assim Bitencourt (BITENCOURT, 2012): “Além das informações legais sobre o assunto, ressalta-se que propostas que reduzem a imputabilidade penal de 18 para 16 anos, permitirão a aplicação de penas aos menores infratores da mesma forma de um adulto, o que se consideraria um tratamento irregular de acordo o ato infracional, 24 pois ao analisarmos tal questão, as penas seriam cumpridas igualmente e no mesmo local, o que seria inadequado”. Pelo motivo do menor ser considerado uma pessoa em desenvolvimento, devem ser retiradas qualquer possibilidade de cumprimento de pena junto de adultos infratores, além disso, devem ter locais próprios para execução das penas, para que seja propicio ao menor o tratamento ressocializador e de uma forma individualizada. Deste modo, as medidas socioeducativas tem um papel essencial, pois, efetiva a aplicação das punições aos menores e também assegura os direitos e garantias defendias da doutrina de proteção integral. A redução da maioridade, não deve ser só observada por um aspecto, é necessário avaliar os impactos que decorrerão delas para que tenha grandes mudanças. É necessário gerar análises psicológicas, criminais, sociais, prisionais e também diversos estudos para que seja adotada uma medida correta, para suprir necessidades coletivas e assegurar os direitos dos indivíduos. Liberati (LIBERATI,2006 p. 135) diz: Se houver uma reforma da Constituição no art. 228, onde trata da idade mínima de imputabilidade penal seria um retrocesso dos direitos fundamentais e 51 uma afronta ao que disciplina o art. 1º do ECA que trata sobre a doutrina da proteção integral, esta medida tem caráter imediatista, onde o principal intuito é o de dar uma resposta a sociedade, sem ter uma análise aprofundada dos efeitos que essa mudança ocasionaria na prática Diante disso, exige-se, que para admitir a redução da maioridade penal, competências e honestidade de propósitos, aspectos nada comuns no tratamento do atual sistema penitenciário nacional, onde levam o receio de sustentar a tese de que não adotariam por completo as responsabilidade penais, sendo essas diminuídas, não acrescentando estabelecimentos adequados, exclusivos para os menores, com estrutura funcional diferenciada, contrariando as doutrinas de proteção integral, onde delimitam o menos como alguém em desenvolvimento, necessitado de espaços que estabeleçam medidas apropriadas, visando as particularidades desse público. 25 CONCLUSÃO O presente trabalho teve como objetivo o estudo da possível redução da maioridade penal de acordo com o Princípio da Doutrina da Proteção Integral. Para isto foi necessário fazer uma contextualização do tema para se delimitar o objeto de estudo. Primeiro foi feita uma abordagem acerca da maioridade, fazendo uma consideração preliminar sobre a imputabilidade penal, onde foram apresentados os aspectos jurídicos e doutrinários que permitem uma melhor explicação do que é a maioridade penal no ordenamento jurídico pátrio. Foram também apresentadas duas formas de imputação existentes, sendo imputabilidade por doença mental e imputabilidade por imaturidade natural. Após isto foram expostos os critérios adotados pela legislação para aferição da imputabilidade no Brasil, o ordenamento adotou o critério Biopsicológico, mas além disso, foram expostos outros critérios existentes. Logo após, fez-se uma análise ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei 8.069/90 a qual dispõe sobre a proteção integral dos mesmos. Foram apresentadas as medidas de punições as quais são essenciais, pois, por meio delas são efetivadas as punições dos menores infratores, de forma adequada, sempre respeitando a condição do menor e suas peculiaridades, e com o objetivo de educar e ressocializar. E por fim, sem pretensão de esgotar o tema, o qual merece aprofundamento em nível de pós-graduação, concluiu-se através de análise a possibilidade ou não da redução da maioridade penal de acordo com a doutrina da proteção integral, principalmente pela ótica legal e constitucional da abordagem do tema. A intenção deste trabalho não foi retirar nem diminuir a proteção aos jovens do país, e sim trazer reflexão para o tema, de uma forma que a redução da maioridade penal seja vista não somente como uma solução para o fim da criminalidade, mas também como uma medida necessária para a adaptação das legislações frente ao amadurecimento dos jovens. 26 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 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