Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● IMUNOLOGIA 1 www.medresumos.com.br ATIVAÇÃO DOS LINFÓCITOS T Da mesma forma que acontece com a célula B, os linfócitos T também participam da resposta imune, seja ela humoral ou celular. A ativação e fases efetoras das respostas imunes adquiridas medidas pelas células T são desencadeadas pelo reconhecimento do antígeno específico pelos LT. ESTÁGIO DE MATURAÇÃO DO LINFÓCITO T Assim como os LB, o LT é oriundo da linhagem linfoide originada a partir de uma stem cell, presente na medula óssea, que apresenta marcadores fenotípicos próprios que a caracterizam como uma célula imatura e indiferenciada: presença do CD44 e ausência do CD25. Em um próximo passo do desenvolvimento, já no timo, há um ganho do CD25, diferenciando-se na chamada Célula Pró-T que, com o passar de um certo tempo, diferencia-se em Célula Pré-T. Se a célula apresenta CD25 (que é um receptor de IL-2, principal citocina de ativação de LT), significa dizer que esta se encontra no timo. No timo, inicia a expressão das moléculas co-estimuladoras nessas células (que eram previamente “duplo negativa”) e passam a ser designadas como células T duplo-positivo, apresentando CD8 e CD4. Esse caráter duplo positivo determina a sua semi-maturação. Nesta fase, há o início da expressão do TCR e do CD3. Em seguida, com os processos de seleção positiva e negativa do timo, há a perda de um dos grupos de diferenciação do LT, tornando-o LT uno- positivo ou Linfócito T imaturo (LT citotóxico: CD8+CD4-; ou LT auxiliar: CD8-CD4+). No momento em que o LT imaturo cai na corrente sanguínea, ele sofre sua maturação final, tornando- se Linfócito T maduro. Estando maduro, já como LTc ou LTa, estas células seguem na corrente sanguínea. A ativação destas células necessita somente do reconhecimento dos complexos peptídeo-MHC pelo receptor da célula T (TCRαβ ou TCRγδ, sendo o primeiro mais comum) e as interações das moléculas acessórias das células T com seus ligantes nas APCs. OBS 1 : A maturação dos timócitos (LT) pode ser seguida de alterações na expressão dos co-receptores CD4 e CD8. A figuda ao lado mostra a análise de fluxo citométrico (FACS) de duas cores do timócito pelo uso de anticorpos anti-CD4 e anti-CD8, cada um deles marcado com um diferente fluorocromo. As porcentagens de todos os timócitos que contribuíram para cada população principal são mostradas nos quatro quadrantes e as porcentagens das subpopulações são indicadas nos colchetes. A subsérie menos madura é a das células CD4-CD8- (duplo-negativas). Esses timócitos amadurecem em CD4+CD8+ (duplo-positivas) que representam a população mais numerosa do timo, e essas células amadurecem em células CD4+CD8- uno-positivas ou em CD4-CD8+. Arlindo Ugulino Netto. IMUNOLOGIA 2016 Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● IMUNOLOGIA 2 www.medresumos.com.br RECEPTORES E CO-ESTIMULADORES DOS LINFÓCITOS TCR: é sintetizado por genes altamente polimórficos. O TCR é responsável pelo reconhecimento do antígeno restrito ao MHC. CD3: molécula que caracteriza os LT e está ligada não-covalentemente ao TCR. Compõe o complexo TCR juntamente a cadeia ζ e TCR e particpa da transdução do sinal. Cadeia ζ (zeta): também está ligada ao TCR, assim como o CD3, por meio de uma ponte de dissulfeto. Também é responsável em parte pelos eventos bioquímicos que induzem a ativação funcional dos LT. CD4/CD8: são co-receptores envolvidos na ativação de células T restritas ao complexo de histocompatibilidade principal (MHC). CD28: co-estimulador de membrana que transduz sinais que funcionam em conjunto com os sinais liberados pelo complexo TCR para ativar as células T virgens. Integrinas: são proteínas heterodiméricas expressas nos leucócitos, cujos domínios citoplasmáticos ligam-se com o citoesqueleto da outra célula que compõe a sinapse imunológica, aumentando assim a duração do tempo de interação. ATIVAÇÃO DE LT VIRGEM E LT EFETOR Após ser produzida na medula, amadurecida no timo e chegar aos tecidos periféricos e linfonodos, a célula T virgem encontra-se pronta e com os marcadores adequados para ativar-se por meio da interação com antígenos. Para isso, a APC, após captar e processar o antígeno, realiza a apresentação antigênica, via MHC-peptídeo, apresenta e ativa o LT. Essa apresentação deve ter o máximo de eficácia possível, uma vez que o LT ainda é virgem. Para tanto, a APC mais qualificada para esta tarefa é a célula dendrítica que, de fato, realiza esse papel. Após este processo de apresentação e ativação no linfonodo, o LT ativo deve migrar para os possíveis focos de infecção por este antígeno e sofre outra apresentação ao agente invasor, mas esta apresentação não necessita ser tão eficaz, podendo ser realizada por qualquer tipo de APC (macrófago, célula dendrítica ou LB), ativando ainda mais o LT o qual exercerá a sua função efetora. O fato de o LT estar ativo, faz com que ele possa seguir duas funções distintas: (1) agir e realizar a sua função citotóxica (LT CD8+) ou sua função auxiliar e ativadora de LB e macrófagos (LT CD4+); (2) reconhecer e diferenciar-se em células de memória para que, na próxima infecção por este antígeno, haja uma resposta de forma mais rápida e eficaz. Na ativação da célula T, há uma transdução do sinal que tem como uma de suas respostas efetoras, uma maior expressão do CD25, receptor de IL-2 (esta citocina também passará a ser produzida pelo próprio LT). Isso gera, cada vez mas, uma maior e mais eficaz ativação desses linfócitos T, desencadeando uma expansão clonal, para uma resposta mais eficaz contra o agente invasor. PAPAEL DOS CO-ESTIMULADORES NA ATIVAÇAO DOS LT A proliferação e diferenciação das células T requer sinais que as moléculas co-estimuladoras enviam para as APCs, além dos sinais induzidos pelo antígeno. Há, como já vimos, um mecanismo envolvendo dois sinais: (1) o primeiro sinal é expedido pelo MHC-peptídeo e TCR (e ao co-receptor CD4 ou CD8), culminando no sinal 1; (2); o segundo sinal para a ativação da célula T é fornecido por moléculas chamadas co-estimuladoras, porque funcionam em conjunto com o antígeno para estimular as células. A via co-estimuladora mais bem caracterizada na ativação da célula T envolve o CD28, uma molécula de superfície das células que se liga às moléculas co-estimuladoras B7-1 (CD80) e B7-2 (CD86), expressas nas APCs ativadas. O CD28 libera sinais que facilitam muitas respostas das células T ao antígeno, incluindo a sobrevivência da Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● IMUNOLOGIA 3 www.medresumos.com.br célula, a produção de citocinas (tais como a IL-2 que vai ativar a mesma célula que o produziu via CD25), e a diferenciação das células T virgens em célula efetoras. Quando o LT é ativado, há a expressão de CD40L por ele, que se liga ao CD40 que já estava expresso na APC. Quando ocorre a interação do CD40-CD40L, há um sinal para a APC para que ela expresse mais co-estimuladores, como o B7, que interage com o CD28 pré-existente no LT, aumentando ainda mais a interação na sinapse imunológica. Este conjunto de interações, somado à secreção de IL-2 e citocinas (que ativam ainda mais o LT), é o suficiente para a ativação extrema e efetiva das células T. TRANSDUÇÃO DE SINAL NA ATIVAÇÃO DOS LT A transdução de sinais pelo TCR estabelece a relação entre o antígeno e as repostas funcionais. O reconhecimento do antígeno inicia uma sequência de sinais bioquímicos nas células T que resultam na ativação transcricional de genes específicos e a entrada das células no ciclo celular. A resposta celular das células T aos antígenos consiste de distintos estágios: eventos de membrana, que ocorrem dentro de segundos após o reconhecimento do antígeno; vias de transdução de sinais citoplasmáticas, que são ativadas dentro de minutos; e transcrição de novos genes, que é detectável dentro de algumashoras. Inicialmente, há a apresentação antigênica: MHC-peptídeo-TCR. O CD4/CD8, por sua vez, liga-se a uma região específica não-polimórficas do MHC da APC por sua extremidade extra-citosólica, ao passo em que a sua extremidade citosólica (cauda) apresenta uma proteína tirosina- quinase (representada na figura pela Lck, da família da Src). Esta Lck é colocada então na proximidade dos ITAMs nas cadeias CD3 e da ζ, fosforilando as tirosinas desses ITAMs. A tirosina fosforilada das ITAMs na cadeia ζ torna-se local de ancoramento específico para uma tirosina quinase chamada de ZAP-70 (semelhante ao Syk os LB), uma proteína tirosina-quinase diferente da família da Src. Esta ZAP-70 contém dois domínios conservados, designados como domínios Src de homologia-2 (SH2), que podem se ligar às fosfotirosinas. Cada ITAM da cadeia ζ deve possuir pelo menos dois resíduos de tirosina fosforilada para servir de doca para uma molécula de ZAP-70. Ao sofrer interação por estes resíduos fosforilados, a ZAP-70 se fosforila e adquire sua própria atividade de tirosina-quinase e é então capaz de atuar sobre um certo número de moléculas citoplasmáticas sinalizadoras. Dentre elas, a ZAP-70 ativa fosforilando duas proteínas adaptadoras que servirão como chave para várias outras cascatas de sinalizações dentro da ativação dos LT: a LAT e a SLP-76. Dão-se início, então, as cascatas bioquímicas intermediárias para a produção dos fatores de transcrição: Vias da proteína quinase Cγ (PKCγ): a sinalização do TCR induz a ativação da isoforma γ1 da enzima fosfolipase C (PLCγ1), e os produtos da hidrólise dos lipídeos de membrana mediada pela PLCγ1 ativam enzimas que geram fatores de transcrição adicionais nas células T. Dentre os produtos finais, temos o IP3 (que produz um rápido aumento do Ca 2+ citosólico livre, dentro de minutos de ativação de ativação do LT) e o DAG (segundo produto da degradação do PIP2, ativa a enzima PKC, que também participa na geração de fatores de transcrição ativos). Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● IMUNOLOGIA 4 www.medresumos.com.br Via das MAP-quinases: é também denominada da via de sinalização Ras e Rac nos linfócitos T. Esta via nas células T é ativada depois da ligação da proteína Ras às moléculas adaptadoras que foram fosforiladas pela agregação do TCR, e a ativação de Ras finalmente leva à ativação dos fatores de transcrição. VIA DA MAP-QUINASE NA ATIVAÇAO DO LT A proteína adaptadora LAT fosforila e ativa, inicialmente, a Grb-2, segunda proteína adaptadora presente na cascata da MAP-quinase. Esta Grb-2, uma vez ativada, recruta e ativa uma proteína Sos, responsável por trocar uma molécula inativa (Ras•GDP) em uma molécula ativa (Ras•GTP). A Ras, uma vez ativa (na forma de Ras•GTP), atua em outras proteínas que entram no núcleo e atuam em fatores de transcrição. O Ras•GTP age, indiretamente, sobre a proteína ERK citosólica que, quando fosforilada, tem a capacidade de entrar no núcleo da célula. Esta ERK tem a capacidade de fosforilar outra proteína denominada ELK. Uma vez fosforilada, a ELK entra no núcleo da célula e terá e função de atuar diretamente sobre o gene da proteína Fos. Esta Fos, quando transcrita, compõe (juntamente a proteína Jun, oriunda da cascata da Rac•GTP) o fator de transcrição chamado de AP-1. Esta AP-1 se associa com outros fatores de transcrição (NFAT e NF-κB, associados a Via da PKCγ) para transcrever IL-2 (ver mais adiante: Fatores de transcrição na ativação do LT). VIA DA PLC NA ATIVAÇÃO DE LT A proteína adaptadora LAT recruta proteínas citosólicas para suas redondezas no intuito de dar início a esta via de ativação por meio da PLC. Inclusive esta, a PLCγ1, é recrutada na forma inativa, fosforilada (tanto pela LAT quanto pela ZAP-70) e ativada. Uma vez ativa, a PLCγ (como o próprio nome já indica: fosfo-lipase C) quebra lipídios PIP2 (bifosfato inositol) da própria membrana plasmática, gerando como subprodutos o IP3 (trifosfatidilinositol) e o DAG (diacilglicerol). O IP3, depois de se dirigir ao citoplasma, é responsável por ativar o retículo endoplasmático celular e fazê-lo liberar íons Ca 2+ , aumentando a concentração desse íon no meio citosólico, importante para a ativação da célula. O DAG é lipofílico, permanecendo na membrana lipídica, para ativar a PKC. O DAG é capaz de ativar a PKC quando se liga ao Ca 2+ citoplasmático, o que demonstra a importância da interação dessas duas vias. Quando o PKC está ativo, torna-se responsável pela estimulação de outras vias (como as que foram vistas previamente) que, em conjunto, auxiliam na ativação do LT. Esta via da PLC é de extrema importância para a síntese dos fatores de transcrição NFAT e NF-κB, responsáveis por formarem um complexo com o AP-1 (que já foi estudado anteriormente) para a formação do fator de transcrição da IL-2. FATORES DE TRANSCRIÇÃO NA ATIVAÇAO DO LT Via AP-1: como vimos previamente, a AP-1 é produzida por meio da via das MAP-quinases. Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● IMUNOLOGIA 5 www.medresumos.com.br Via NF-κB: Existe uma proteína citosólica inativa chamada de iNF-κB (κ=kappa), sendo constituída de um tríade: o IκB (inibidor de κB+NF-κB). Com a ação de uma PKC, que fosforila o inibidor da κB, a NF-κB torna-se capaz de se desprender de seu inibidor e se tornar ativo. Dessa forma, o NF-κB é capaz de atravessar a membrana nuclear e alcançar o núcleo para também constituir (juntamente ao AP-1) o fator de transcrição da IL-2, responsável pela ativação efetiva do LT. Via NFAT: por esta via, há a formação do NFAT, o terceiro fator de transcrição da IL-2. A proteína citoplasmática NFAT encontra-se inativa quando fosforilada. Com isso, ela deve ser desfosforilada pela enzima calcineurina (que é ativa quando associada ao complexo Ca 2+ -Calmodulina) formando a NFAT ativa. Esta é capaz de penetrar no núcleo do LT, se unir ao AP-1 e ao NF-κB, para constituir o fator de transcrição do IL-2. A maioria dos medicamentos imunossupressores atua inibindo esta via (inativando a ação desfosforiladora da calcineurina). OBS 2 : A tríade de transcrição da IL-2 é composta por: NF-κB + NFAT + AP-1 (Fos e Jun)
Compartilhar