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PROVAS - NOÇÕES INTRODUTÓRIAS / ÔNUS DA PROVA / Provas ilícitas, hierarquia das provas e produção antecipadas de provas/FONTES E MEIOS DE PROVA TEORIA GERAL DAS PROVAS Meios ou elementos que contribuem para a formação da convicção do juiz a respeito da existência de determinados fatos; Conjunto de atividades de verificação e demonstração, que tem como objetivo chegar à verdade relativa às alegações de fatos que sejam relevantes para o julgamento. PRINCÍPIOS RELACIONADOS a) Da Verdade Real (ou da extrema probabilidade, pois, dada à falibilidade humana, não se condiciona propriamente à verdade absoluta); b) Do Livre Convencimento (que não impõe a prevalência de um meio de prova sobre o outro, mas determina a motivação na sentença – art. 371 e 489 do CPC); c) Dispositivo (o juiz pode sempre determinar complementação da prova, de ofício – na inspeção judicial, na oitiva de testemunhas, etc). Exclusão do objeto de prova (art. 374 do NCPC) Nem todos os pontos ou questões de fato são objeto de prova, excluindo-se dessa exigência as alegações que tenham como objeto: (a) fatos impertinentes ou irrelevantes à solução da demanda; (b) fatos notórios; (c) fatos confessados; (d) alegações de fato não controvertidas; (e) questões de fato em cujo favor milite presunção legal de existência ou veracidade. Relevância e pertinência Fatos impertinentes - não se relacionam à causa posta à apreciação do juiz; Fatos irrelevantes - mesmo dizendo respeito à causa, em nada influenciam o convencimento do juiz. A prova de fatos impertinentes e irrelevantes é medida inútil, e por isso deve ser evitada em prol do princípio da economia processual. EXEMPLO: perícia sobre bem que não existe mais. É justamente por isso que o juiz, destinatário da prova, deve no saneamento do processo fixar os pontos controvertidos que serão objeto de prova, para evitar o desenvolvimento de atividade probatória inútil. Fatos notórios São aqueles de conhecimento geral, tomando-se por base o homem médio, pertencente a uma coletividade ou a um círculo social, no momento em que o juiz deva decidir. Caem em domínio público, de tal forma que o juiz se torne deles também sabedor Fatos confessados Não dependem de prova os fatos afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária. A confissão NÃO é prova plena, de forma que mesmo um fato tendo sido objeto de confissão, o juiz não é obrigado a considerá-lo como verdadeiro. Caso não se sinta convencido, o juiz poderá determinar a produção de outros meios de prova. Ausência de controvérsia A alegação de fato não controvertida não será objeto de prova, já que, não havendo controvérsia, o juiz considerará verdadeira tal alegação, gerando a desnecessidade de produção de prova. Excepcionalmente os fatos não impugnados serão, ainda assim, considerados controversos por imposição da lei. É o que ocorre com as exceções legais ao efeito de presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor diante da revelia do réu, previstas nos incisos do art. 345 do NCPC, e nas exceções ao princípio da eventualidade na contestação, previstas nos incisos e parágrafo único do art. 341. Presunção legal Não será exigida a prova de alegações de fatos em cujo favor milite a presunção legal de existência ou veracidade. Se conclui pela ocorrência de um fato não provado, ante a composição de um outro. Exemplo: presunção de paternidade na hipótese de o réu se negar injustificadamente a realizar o exame pericial de DNA (Súmula 301 STJ) ÔNUS DA PROVA – Art. 373 NCPC 1. Fatos Constitutivos (prova cabível ao autor, e são aqueles que dão origem ao direito do demandante). 2. Fatos Extintivos (cabível ao réu, tem a força de extinguir o direito pretendido); 3. Fatos Impeditivos (cabível ao réu, e criam obstáculo ao direito pretendido – exceção do contrato não cumprido); 4. Fatos Modificativos (cabível ao réu, e que alteram as condições iniciais do gozo do direito pretendido). Regras de distribuição do ônus da prova Fatos constitutivos do direito: cabe ao autor provar a matéria fática que traz em sua petição inicial e que serve como origem da relação jurídica deduzida em juízo. Fatos extintivos, impeditivos ou modificativos: cabem ao réu. Fato impeditivo – exemplo: a alegação de que o contratante era absolutamente incapaz quando celebrou o contrato. Fato modificativo – exemplo: cessão de crédito ou compensação parcial. Fato extintivo – exemplo: compensação numa ação de cobrança. PERGUNTA-SE: O QUE SERIA A “distribuição dinâmica do ônus da prova” ? Embora os incisos I e II do art. 373 estabeleçam as regras de distribuição do ônus da prova vista anteriormente, esta poderá ser modificada pelo juiz diante das necessidades do caso concreto (§1º, art. 373 NCPC). Ademais, as partes também podem convencionar de forma diversa sobre a distribuição do ônus da prova (§3º, art. 373 NCPC). O Novo CPC adota a forma dinâmica de distribuição do ônus da prova (adoção de um sistema misto). Inversão do ônus da prova Existem 3 espécies de inversão do ônus da prova: (a) convencional; (b) legal; (c) judicial. a) inversão convencional: decorre de um acordo de vontades entre as partes, que poderá ocorrer antes ou durante o processo (§ 4º do art. 373 do NCPC). Essa forma de inversão tem duas limitações previstas pelo § 3º do referido artigo, que prevê a nulidade dessa espécie de inversão quando: (i) recair sobre direito indisponível da parte; (ii) tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito. EXEMPLO: Marina alega que não estava em determinado bar, num determinado dia e horário, sendo fácil produzir prova nesse sentido; basta provar que estava em outro lugar naquele dia e horário. A alegação, entretanto, de que nunca esteve naquele bar é impossível de ser provada. É prova diabólica que Marina não conseguirá produzir o fato negativo indeterminado, não se admitindo a inversão convencional nesse caso. b) inversão legal: vem prevista expressamente em lei, não exigindo o preenchimento de requisitos legais no caso concreto. Exemplos Código de Defesa do Consumidor: (a) é ônus do fornecedor provar que não colocou o produto no mercado, que ele não é defeituoso ou que houve culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros pelos danos gerados (art. 12, § 3.º, do CDC); (b) é ônus do fornecedor provar que o serviço não é defeituoso ou que há culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro nos danos gerados (art. 14, § 3.º, do CDC); (c) é ônus do fornecedor provar a veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária que patrocina (art. 38 do CDC). c) inversão judicial: ocorre por meio de prolação de uma decisão judicial, possível essa inversão em aplicação da teoria, agora consagrada legislativamente, da distribuição dinâmica do ônus da prova, prevista no § 1º do art. 373 do NCPC DOS MEIOS PROBATÓRIOS – art. 369 NCPC São admitidos como prova todos os meios legais, e moralmente legítimos, trazidos ao processo com o intuito de revelar ao juiz a verdade dos fatos. Moralmente legítimos – prova emprestada, reconstituição dos fatos. Moralmente Ilegítimos – obtidos com violação a lei material ou garantia constitucional. Obtidas por meios Ilícitos – proibição na CF – art. 5º, LVI. Para tradicional corrente doutrinária, prova ilegal é toda prova produzida com ofensa à norma legal, podendo ser dividida em: (a) prova ilegítima, quando violar norma de direito processual, verificável no momento da produção da prova no processo; (b) prova ilícita, quando violar norma de direito material, verificável no momento da colheita da prova. Nesse entendimento,a distinção se justifica em decorrência das consequências advindas dessas duas espécies de prova ilegal: (i) provas ilegítimas se referem à admissibilidade dos meios de prova; (ii) provas ilícitas são capazes de gerar a ampla responsabilidade pela lesão do direito material violado. A ilegitimidade, diz respeito ao modo pelo qual a prova foi obtida, em situação na qual o meio de prova em si é jurídico e permitido pela lei, mas a forma de produção da prova é viciada. Exemplo: colheita de prova testemunhal mediante a ameaça de morte ou qualquer outra espécie de coação, bem como a assinatura de contrato sob tortura. A ilicitude se daria quando o próprio meio de produção da prova é injurídico ou imoral. Exemplo: gravações clandestinas de conversas telefônicas ou filmagens também clandestinas sem a devida autorização judicial. Proibição constitucional às provas ilícitas O art. 5.º, LVI, da CF prevê que “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”. O dispositivo constitucional não prevê a proibição da produção de prova ilícita, até porque seria uma proibição inócua, limitando- se a proibir que o juiz as utilize como elemento na formação de seu convencimento. Apesar da expressa vedação constitucional à utilização de prova ilícita pelo juiz na formação de seu convencimento, é possível a identificação de correntes divergentes a respeito do tema; A corrente restritiva É bastante rígida no trato da prova ilícita, não admitindo em nenhuma hipótese sua utilização no processo civil. Fundando-se no art. 5.º, LVI, da CF e no art. 369 do Novo CPC, os defensores dessa corrente afirmam que a ausência de ressalva nos textos legais impede qualquer consideração valorativa no caso concreto para que se permita a utilização das provas ilícitas. Para a majoritária corrente doutrinária que permite o afastamento do óbice da vedação constitucional pela aplicação do princípio da proporcionalidade, algumas condições são exigidas para a utilização da prova ilícita na formação do convencimento do juiz: (a) gravidade do caso; (b) espécie da relação jurídica controvertida; (c) dificuldade de demonstrar a veracidade de forma lícita; (d) prevalência do direito protegido com a utilização da prova ilícita comparado com o direito violado; (e) imprescindibilidade da prova na formação do convencimento judicial. O Supremo Tribunal Federal, admitiu interceptação telefônica determinada por juízo cível com o fundamento de que, apesar de expedida em processo de natureza civil, a medida seria importante para a verificação de possível crime. Adotando a teoria proporcionalista ao afirmar que os interesses do menor envolvido poderiam superar o direito ao sigilo. Nos termos do Enunciado 301 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC), “aplicam-se ao processo civil, por analogia, as exceções previstas nos §§ 1.º e 2.º do art. 157 do Código de Processo Penal, afastando a ilicitude da prova”. Informativo 478/STJ: 3.ª Turma, HC 203.405/MS, rel. Min. Sidnei Beneti, j. 28.06.2011. O sistema de valoração adotado pelo CPC é o da persuasão racional, também conhecido pelo princípio do livre convencimento motivado (art. 371 NCPC), no qual o juiz é livre para formar seu convencimento, dando às provas produzidas o peso que entender cabível em cada processo, não havendo uma hierarquia entre os meios de prova (em regra). ATENÇÃO: A ausência de hierarquia entre os meios de prova NÃO é regra absoluta. Diante dessa regra, não seria possível afirmar que um meio de prova é mais importante do que outro, ou que seja insuficiente para demonstrar a ocorrência de determinado fato. É também em razão desse sistema que as conclusões do laudo pericial não vinculam obrigatoriamente o juiz. Exemplo: é possível que em um determinado processo a prova testemunhal se sobressaia à prova pericial, ou até mesmo a confissão. Art. 479 do NCPC - o juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos. O CPC autoriza a produção antecipada de provas, antes mesmo do ingresso da ação judicial; Princípios da celeridade e duração razoável do processo; Não há necessidade de ser comprovado o periculum in mora. Cabimento Art. 381. A produção antecipada da prova será admitida nos casos em que: I - haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou muito difícil a verificação de certos fatos na pendência da ação; II - a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio adequado de solução de conflito; III - o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o ajuizamento de ação. Aplicação prática Permite aos interessados melhor avaliar os riscos e chances de sucesso de uma eventual disputa judicial e as vantagens da autocomposição. Não se trata de uma medida cautelar, mas sim de um direito próprio, o direito à prova, fundamentado no direito de ação (art. 5º, XXXV, CF/88). Nesse caso, a prova produzida antecipadamente é direcionada ao convencimento das partes, e não meramente do juiz, embora possa ser posteriormente aproveitada para o julgamento da controvérsia. Ação autônoma e competência Dado o caráter autônomo do direito à produção antecipada de prova, não há vinculação entre esta medida processual e uma eventual demanda de mérito que seja ajuizada com base na prova produzida. O artigo 381, § 3º, do NCPC afirma expressamente que não haverá prevenção de juízo na hipótese em exame; E estabelece o § 2º, que a competência para a produção antecipada de prova será do juízo do foro onde deva ser produzida, ou do foro de domicílio do réu. PROCEDIMENTO – art. 382, NCPC 1. Na petição inicial o requerente apresentará as razões que justificam a necessidade de antecipação da prova; 2. Deverá o requerente mencionar com precisão os fatos sobre os quais a prova há de recair, já especificando as provas; 3. O juiz determinará, de ofício ou a requerimento da parte, a citação dos interessados na produção da prova ou no fato a ser provado; 4. Os interessados poderão requerer a produção de qualquer prova no mesmo procedimento, desde que relacionada ao mesmo fato; 5. Não se admitirá a interposição de recurso ou defesa, salvo contra decisão que indeferir a produção de prova; 6. Os autos permanecerão no cartório durante 01 mês para a extração de cópias e certidões; Realizado o juízo de admissibilidade, o juiz determinará a citação de todos os interessados (art. 382, § 1º), que poderão expandir o objeto processual, requerendo a realização de outros meios de prova no mesmo procedimento, desde que as provas estejam relacionadas aos mesmos fatos inicialmente relatados, e desde que sua produção não acarrete excessiva demora (art. 382, § 3º). A doutrina admite, ainda, a possibilidade de interposição de agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas durante o processo – por exemplo, “sobre competência, deferimento ou indeferimento de quesitos, nomeação de perito incapaz ou suspeito”. Concluída a produção da prova, o processo será extinto através de uma sentença homologatória, que não fará qualquer valoração dos fatos ou projeção de consequências jurídicas. As despesas processuais deverão ser repartidas entre as partes, uma vez que a prova poderá ser útil a ambas as partes, ou seja, não há “vencedor” e “vencido” na demanda. Cada parte deverá arcar com os honorários advocatícios de seu patrono. É tradicional na doutrina a classificação da prova quanto ao fato (diretas e indiretas); quanto ao sujeito (pessoais e reais); quanto ao objeto (testemunhais, documentais e materiais); e quanto à preparação(causais ou pré-constituídas). A prova direta é aquela que se destina a comprovar justamente a alegação de fato que se procura demonstrar como verdadeira. A prova indireta é aquela destinada a demonstrar as alegações de fatos secundários ou circunstanciais, das quais o juiz, por um raciocínio dedutivo, presume como verdadeiro o fato principal. As provas indiretas são conhecidas como indícios. A prova pessoal decorre de uma consciente declaração feita por uma pessoa, enquanto a prova real é aquela constituída por meio de objetos e coisas, que representam fatos sem na verdade declararem conscientemente sua veracidade. A prova testemunhal é toda prova produzida sob a forma oral, devendo ser entendida de forma lato sensu, ou seja, além da prova testemunhal propriamente dita, também incluem-se nesse critério o depoimento pessoal, o interrogatório e o depoimento do perito em audiência de instrução. Prova documental é toda afirmação de um fato escrita ou gravada, como um contrato ou uma fotografia.. Prova material é qualquer outra forma material, que, não sendo testemunhal nem documental, comprove um fato, como a perícia e a inspeção judicial Por prova causal entende-se aquela produzida dentro do próprio processo, como ocorre com o depoimento pessoal e a perícia. Já a prova pré-constituída é aquela formada fora do processo, geralmente antes mesmo da instauração da demanda, como ocorre com a prova documental Através dos meios de prova é possível a demonstração da verdade nas alegações sobre a matéria fática controvertida e importante para o julgamento da causa. Existe uma diferença doutrinária entre fontes de prova e meios de prova. Fontes de prova são pessoas e coisas de onde provém a prova. Meios de prova são os instrumentos que permitem levar ao juiz os elementos que o ajudarão a formar seu entendimento acerca do caso. As fontes de provas podem ser pessoais ou reais. Nas fontes pessoais, as informações são fornecidas diretamente pelas pessoas, como a prova testemunhal, por exemplo. Nas fontes reais, as informações são provenientes das provas, estas serão interpretadas por pessoas que vierem a examiná-las, como a prova pericial, por exemplo. Os meios legais de prova são definidos em lei, são os meios de prova típicos. O Código de Processo Civil enumera como meios de prova o depoimento pessoal (Art. 385 a 387), a exibição de documentos ou coisa (Art. 396 a 404), a prova documental (Art. 405 a 429), a confissão (Art. 389 a 395), a prova testemunhal (Art. 442 a 449), a inspeção judicial (Art. 481 a 484) e a prova pericial (Art. 464 a 480). Meios de prova moralmente legítimos, são aqueles que não estão previstos na lei, mas podem ser utilizados no processo por não violarem a moral e os bons costumes. O ordenamento jurídico brasileiro prevê a utilização dos meios juridicamente idôneos, ou seja, dos meios legais de prova e dos meios moralmente legítimos. A Constituição Federal da República, em seu artigo 5°, inciso LVI, veda a utilização de provas obtidas por meios ilícitos, e caso seja produzida, esta será considerada inexistente.
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