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CAPÍTULO 3
COMBUSTÃO DE LÍQUIDOS 
 
 
 
 
 
 
Instituto de Pesquisas Tecnológicas 
 
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 6 
2. COMBUSTÍVEIS LÍQUIDOS......................................................................................... 8 
2.1 Fontes ................................................................................................................................................ 8 
2.1.1 Xisto .......................................................................................................................................... 8 
2.1.2 Emulsões combustíveis.............................................................................................................. 9 
2.1.3 Petróleo.................................................................................................................................... 10 
2.2 Propriedades dos Combustíveis Líquidos........................................................................... 13 
2.2.1 Propriedades Físicas ....................................................................................................................... 15 
2.2.2 Propriedades Químicas ................................................................................................................... 18 
2.3 Óleos Combustíveis Brasileiros ................................................................................................. 20 
3. NEBULIZAÇÃO DO COMBUSTÍVEL ........................................................................ 24 
3.1 Mecanismos de Formação de Sprays........................................................................................ 24 
3.2 Caracterização de Sprays.............................................................................................................. 26 
3.3 Princípios de Nebulização............................................................................................................ 29 
3.3.1 Nebulização por pressão de líquido................................................................................................ 29 
3.3.2 Nebulização com fluido auxiliar ou pneumática ............................................................................ 39 
3.3.3 Bocais nebulizadores híbridos ........................................................................................................ 54 
3.3.4 Nebulização com copo rotativo ...................................................................................................... 56 
4. COMBUSTÃO DE GOTAS ........................................................................................... 59 
4.1. Modelo físico de combustão de uma gota ............................................................................................ 59 
4.2 Modelo teórico ...................................................................................................................................... 63 
5. EFEITOS DAS VARIÁVEIS DE PROCESSO NO COMPORTAMENTO DE 
CHAMAS DE LÍQUIDOS ............................................................................................. 69 
5.1 Influência das Características do Combustível ...................................................................... 70 
5.2 Influência da Qualidade do Processo de Nebulização ......................................................... 72 
5.3 Influência da Rotação do Fluxo de Ar...................................................................................... 78 
5.4 Influência da Temperatura da Câmara de Combustão......................................................... 82 
5.5 Influência da Temperatura do Ar de Combustão .................................................................. 82 
6. TIPOS DE QUEIMADORES E SUAS APLICAÇÕES ................................................. 84 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 94 
 
 2
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 – Processos em chamas de combustível líquido no interior de uma câmara de combustão [8]........... 7 
Figura 2 – Fluxograma simplificado de uma refinaria de petróleo [10]. ......................................................... 12 
Figura 3 – Poder calorífico versus densidade e relação C/H de óleos combustíveis. ...................................... 15 
Figura 4 – Estrutura molecular típica de asfaltenos [22]. ................................................................................ 19 
Figura 5 – Viscosidade versus temperatura dos diversos óleos combustíveis nacionais e americanos. .......... 23 
Figura 6 – Fotografia de um spray plano de água em regime laminar [11]. .................................................... 25 
Figura 7 – Modelo físico idealizado do mecanismo de desintegração de um jato plano [12]. ........................ 25 
Figura 8 – Nebulização de glicerina em bocal de nebulização por pressão de líquido [11]. ........................... 26 
Figura 9 – Características gerais de um spray [13].......................................................................................... 27 
Figura 10 – Representações típicas de distribuição de tamanho de gotas. ...................................................... 28 
Figura 11 – Bocais do tipo simples orifício [18]. ............................................................................................ 30 
Figura 12 – Várias formas de orifícios e correspondentes valores coeficientes de descarga: (a) CD=0,625; (b) 
CD=0,87 para ß=20o, CD=0,775 para ß=60o ; (c) CD=0,85; (d) CD=0,865 para ß=11o 40; (e) CD=0,625 
[18]. ......................................................................................................................................................... 31 
Figura 13 – Bocal de nebulização por pressão com câmara de rotação........................................................... 32 
Figura 14 – Estágios do desenvolvimento do spray com o aumento da pressão de injeção do líquido [9]. .... 32 
Figura 15 – Aspecto do spray produzido por bocal por pressão de líquido..................................................... 34 
Figura 16 – Influência de variáveis na distribuição de tamanho de gotas em bocal de nebulização por pressão 
[9]. ........................................................................................................................................................... 35 
Figura 17 – Aspecto visual de “spray” obtido com bocal de nebulização por pressão de líquido [9]. ........... 36 
Figura 18 – Bocais nebulizadores por pressão direta de óleo reguláveis......................................................... 37 
Figura 19 – Bocais nebulizadores por pressão de óleo com retorno e agulha de regulagem de ângulo de jato.
................................................................................................................................................................. 38 
Figura 20 – Bocais de nebulização com fluido auxiliar de baixa pressão e média pressão. 1 – líquido; 2 – ar; 3 
– filme de líquido; 4 – borda de descolamento do filme [18]. ................................................................. 40 
Figura 21 - Bocais de nebulização com fluido auxiliar. 1 – líquido; 2 – ar/vapor; 3 – orifício de líquido; 4 – 
orifício de ar/vapor; 5 – câmara de mistura; 6 – orifícios de descarga [18]............................................. 41 
Figura 22 – Modelo do escoamento interno em bocais do tipo câmara de mistura. ........................................ 42 
Figura 23 - Bocal nebulizador do tipo “Y-Jet”. 1 – líquido; 2 – ar/vapor; 3 – bocal; 4 – orifícios de descarga[18]. ......................................................................................................................................................... 42 
Figura 24 – Modelo do processo de nebulização em bocal do tipo “Y-Jet” [16]. ........................................... 44 
Figura 25 –Modelo de escoamento a montante do orifício de descarga . ........................................................ 44 
Figura 26 – Variação do diâmetro médio de gota com a razão ar/líquido [7]. ................................................ 45 
Figura 27 – Variação do diâmetro médio de gota com a razão ar/líquido e velocidade do ar no ponto de 
mistura [7]. .............................................................................................................................................. 46 
Figura 28 – Influência das propriedades do líquido no diâmetro médio de gota [7]. ...................................... 47 
Figura 29 – Diâmetro médio de gota como função de We [20]....................................................................... 49 
Figura 30 – Diâmetro médio de gota como função da vazão de vapor de nebulização [20]. .......................... 49 
Figura 31 – Configuração do jato à saída do bocal “Y-Jet” convencional e do alternativo [8]. ...................... 50 
Figura 32 – Bocal alternativo tipo “F-Jet” [17]. .............................................................................................. 50 
Figura 33 – Bocal alternativo tipo “STFA” (Multi-ported symetric two-fluid atomizer) [17]. ....................... 51 
Figura 34 – Configuração típica de uma lança porta bocal. ............................................................................ 51 
Figura 35 – Bocais nebulizadores com vapor/ar a alta pressão. ...................................................................... 52 
Figura 36 – Bocais nebulizadores com vapor/ar a média pressão. .................................................................. 53 
Figura 37 – Queimador de nebulização a ar de baixa pressão. ........................................................................ 54 
Figura 38 – Bocal de nebulização por pressão de líquido com assistência de vapor [8]. ................................ 55 
Figura 39 – Bocal de nebulização híbrido : por pressão de líquido e câmara de mistura. ............................... 55 
Figura 40 – Bocal de nebulização híbrido : por pressão de líquido e “F-Jet”.................................................. 55 
Figura 41 - Nebulizador do tipo copo rotativo. 1 –estator do copo; 2 – distribuidor de líquido; 3 – entrada de 
líquido; 4 – película de líquido; 5 – descarga anular de ar; 6 - copo; 7 – pás diretrizes do ar. [18]......... 56 
Figura 42 – Regimes de formação de gotas em nebulizador do tipo copo rotativo [18]. ................................ 57 
Figura 43 – Instalação típica de um queimador com nebulizador do tipo copo rotativo. ................................ 58 
Figura 44 – Mecanismo de combustão de uma gota........................................................................................ 59 
Figura 45- Micrografia eletrônica de partículas de fuligem aglomeradas [8].................................................. 60 
Figura 46 – Aspecto de uma cenosfera (coque) gerada a partir da queima de óleo combustível [17]............. 61 
Figura 47 – Modelos experimentais de queima de uma gota [5]. .................................................................... 62 
 3
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
Figura 48 – Valores de k obtidos em atmosfera inerte e de ar [7]. .................................................................. 63 
Figura 49 – Modelo teórico para queima de gota [5]. ..................................................................................... 63 
Figura 50 – Perfis de temperatura e de frações parciais de combustível, oxidante e produtos de combustão na 
região de uma gota de raio rl [5]. ............................................................................................................. 66 
Figura 51 – Valores experimentais obtidos na queima de gotas [6]. ............................................................... 68 
Figura 52 – Influência de variáveis de processo no comportamento de chamas. ............................................ 70 
Figura 53 – Avaliação comparativa de desempenho dos bocais nebulizadores............................................... 74 
Figura 54 – Influência da qualidade de nebulização nas emissões de CO....................................................... 75 
Figura 55 – Influência da qualidade de nebulização nas emissões de NOx. .................................................... 75 
Figura 56 – Influência da qualidade de nebulização nas emissões de material particulado. ........................... 76 
Figura 57 – Isotermas na chama: (a) óleo combustível; (b) emulsão . ............................................................ 77 
Figura 58 – Isovalores de teor de CO (%) na chama: (a) óleo combustível; (b) emulsão. .............................. 77 
Figura 59 – Recirculações obtidas com a introdução de ar com rotação (“swirl”).......................................... 78 
Figura 60 – Influência do índice de rotação na temperatura interna da câmara de combustão [1]. ................. 79 
Figura 61 – Dispositivos para produzir recirculação interna na frente do bocal nebulizador [1]. ................... 80 
Figura 62 – Dispositivos reguláveis para produzir recirculação interna na frente do bocal nebulizador [1]... 81 
Figura 63 – Queimador com ar preaquecido [1].............................................................................................. 82 
Figura 64 – Queimador de caldeira tipo aquatubular (tipo de aplicação 1). .................................................... 85 
Figura 65– Queimador do tipo baixa pressão de ar de nebulização (tipo de aplicação 2). .............................. 87 
Figura 66 - Queimador do tipo “Duo – bloco” (tipo de aplicação 3)............................................................... 88 
Figura 67 – Queimador do tipo monobloco (tipo de aplicação 4). .................................................................. 89 
Figura 68 – Esquema de um queimador de emulsão ar-óleo. .......................................................................... 90 
Figura 69 - Queimador tipo “Low – NOx” [23]. ............................................................................................. 90 
Figura 70 - Queimadores típicos de alta intensidade....................................................................................... 92 
Figura 71 – Queimador do tipo “Low-NOx” ................................................................................................... 93 
 
 
 4
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 – Características típicas de um óleo cru e dos produtos derivados da destilação 
atmosférica [7]. ............................................................................................................... 14 
Tabela 2 – Conversão de escalas de viscosidade........................................................................... 16 
Tabela 3 – Especificações dos óleos combustíveis nacionais. ....................................................... 21 
Tabela 4 – Valores típicos das características de alguns óleos combustíveis nacionais................ 22 
Tabela 4 – Valores de K obtidos com diferentes combustíveis [6]. ................................................. 67 
Tabela 5 – Viscosidade e tensão superficial dos óleos dos tipos 2A e 7A...................................... 72 
Tabela 6 – Diâmetro médios de gotas previstos pela equação de Wigg......................................... 72 
Tabela 7 – Tipos de queimadoressegundo a forma construtiva. .................................................... 84 
Tabela 8- Carga térmica de fornalha típicas de alguns equipamentos............................................ 91 
 
 5
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
 
COMBUSTÃO DE LÍQUIDOS 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 No estudo dos processos de combustão de líquidos podem ser 
considerados dois problemas básicos bastante distintos: combustão sobre a 
superfície livre de um líquido em repouso; combustão de uma nuvem de gotas, 
isto é, na forma de um ‘’spray’’. Um terceiro caso que seria o de combustão de 
líquidos previamente vaporizados, como é o de algumas aplicações industriais de 
líquidos de baixo ponto de ebulição (p. ex. querosene e diesel), deve ser tratado 
como combustão de gases. 
 
 O processo de combustão sobre a superfície plana de um líquido em 
repouso desenvolve-se com velocidades bastante baixas quando comparadas às 
ocorridas em processos de combustão em ‘’sprays’’, possuindo particular 
importância industrial apenas nos aspectos relativos à segurança no 
armazenamento de líquidos inflamáveis, o que não será abordado neste texto. 
 
 Em processos de combustão industrial a queima de líquidos na forma de 
“sprays’’ tem considerável importância em função da grande diversidade de 
aplicações (geração de vapor, aquecimento de fornos, geração de gases quentes, 
etc.), representando quase que a totalidade das chamas industriais destes 
combustíveis. 
 
 O processo de combustão de ”sprays’’ líquidos pode ser descrito 
sumariamente como a divisão do líquido gerando uma névoa de pequenas gotas; 
processo este denominado nebulização (atomização), que posteriormente 
mistura-se ao comburente (ar na maioria das vezes), proporcionando condições 
para a combustão, que ocorre ao nível das gotas. Difere dos combustíveis 
gasosos premisturados pois não apresenta composição uniforme. 
 
 O ‘’spray’’ constituído de gotas de combustível pode ter uma larga faixa de 
tamanhos de gotas que podem se mover em diferentes direções e velocidades 
em relação ao fluxo gasoso. Esta ausência de uniformidade provoca 
irregularidades na propagação de chama e a zona de combustão não se 
apresenta geometricamente bem definida. 
 
 As chamas industriais ocorrem geralmente no interior de câmaras de 
combustão, que constituem sistemas bastante complexos devido a fenômenos 
como escoamento de misturas complexas multifásicas, trocas de calor entre 
chama e invólucro, entre outros fenômenos ilustrados na Figura 1 que tornam a 
modelagem física e matemática bastante complicada. 
 
 
 
 6
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
QUEIMADOR
 Bocal Nebulizador
Recirculação
 Coque
Câmara de combustão
Nebulização
(formação
de gotas)
Vaporização Colisão de
gotas
Mistura por
turbulência e
difusão
Reações em
fase gasosa
Combustão de
gotas
Produtos na
fase gasosa
Produtos de
combustão
Fuligem
Combustível Comburente
 
 
Figura 1 – Processos em chamas de combustível líquido no interior de uma 
câmara de combustão [8]. 
 
 O processo de mistura entre combustível e oxidante na câmara de 
combustão, sofre influência dos diversos fluxos que se estabelecem no seu 
interior, estes por sua vez são controlados pela geometria da câmara, pela 
distribuição espacial e pela quantidade de movimento dos jatos introduzidos. 
Assim, o dispositivo de nebulização do combustível, de injeção do oxidante e 
câmara de combustão devem ser considerados como uma unidade integrada. 
 
 Em função da simultaneidade dos vários processos que ocorrem a 
modelagem física e matemática torna-se bastante complexa. Neste texto a 
abordagem do processo de combustão tem caráter apenas qualitativo, 
identificando-se as principais variáveis que interferem nos processos. 
 
 O item 2 aborda os combustíveis líquidos no que se refere às fontes, 
classificação e propriedades relevantes no processo de combustão. No item 3 é 
 7
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
feita uma descrição dos princípios dos dispositivos utilizados na nebulização 
identificando-se as principais variáveis que interferem na qualidade do processo. 
 
Posteriormente, no item 4 é apresentado um modelo teórico de combustão 
de uma gota, como subsídio para avaliação dos efeitos das variáveis de processo 
no comportamento de chamas de líquidos que é feita no item 5 na seqüência. No 
item 6 é feita uma apresentação dos principais tipos de queimadores industriais 
utilizados e suas aplicações. 
 
2. COMBUSTÍVEIS LÍQUIDOS 
 
 Os combustíveis líquidos utilizados nos mais diversos processos de 
aquecimento industrial, isto é, com exceção daqueles utilizados em motores de 
combustão interna, poderiam ser chamados genericamente de óleos 
combustíveis, uma vez que estes representam quase que a totalidade dos 
combustíveis utilizados para esse fim. 
 
 No Brasil no entanto, diferentemente do que ocorre em diversos países que 
adotam o termo “fuel oil” de forma genérica, o termo “óleo combustível” é 
empregado apenas na designação de frações residuais, derivadas do processo 
de refino de petróleo, não incluindo portanto os subprodutos denominados 
genericamente destilados (querosene, óleo diesel, etc). 
 
2.1 Fontes 
 
 A principal e mais tradicional fonte de combustíveis líquidos é o petróleo, 
podendo ser obtidos também a partir de carvão ou de xisto mediante processos 
de extração e/ou pirólise. Outros processos de obtenção de combustíveis líquidos 
como extração a partir de vegetais, ou produção de lamas constituídas de finas 
partículas de carvão, são consideradas fontes alternativas que atualmente não 
têm utilização significativa comparável aos derivados de petróleo, não sendo 
consideradas neste texto. 
 
2.1.1 Xisto 
 
 No Brasil, a fonte de combustíveis líquidos alternativa ao petróleo mais 
promissora é o xisto, em função da extensão das reservas existentes no país, 
consideradas como as maiores existentes no planeta. O xisto é um resíduo fóssil 
de natureza sedimentar, de formação mais recente que a do petróleo. Neste 
resíduo predomina a rocha de natureza argilosa ou calcária impregnada com 
substâncias orgânicas (30%) e inorgânicas (50%). 
 
 Em geral as reservas afloram na superfície terrestre, algumas 
subterrâneas, não ultrapassando profundidades superiores a 80 m. Há dois tipos 
 8
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
de xisto; o denominado betuminoso e o pirobetuminoso. O primeiro permite 
remover o betume (matéria orgânica) por simples ação de um solvente, enquanto 
o segundo exige aquecimento através do qual se extraem alcatrões, óleos e 
outros produtos de menor importância. 
 
 Os elevados conteúdos de substâncias minerais tem ainda se constituído 
um obstáculo ao aproveitamento econômico desta fonte. A Petrobrás possui uma 
unidade de beneficiamento de xisto no município de São Mateus do Sul (PR), com 
tecnologia própria denominada Petrosix, processando cerca de 112.000 t/dia. 
 
 A produção diária desta unidade é de 59.000 barris de óleo, 1,8 x 106 m3 de 
gás combustível, 480t de GLP e 890t de enxofre elementar. No processamento 
são consumidos cerca de 7.800 barris de óleo e todo o gás combustível. O óleo 
obtido (“oil shale”) é submetido a processos similares aos de refino de petróleo, 
obtendo-se derivados equivalentes. 
 
2.1.2 Emulsões combustíveis 
 
 As emulsões podem ser definidas como sistemas heterogênios de fases 
líquidas, onde um líquido esta dispersoem gotas em outro líquido, que em 
condições naturais não miscíveis. O componente dividido em gotas é denominado 
fase interna ou dispersa, enquanto que o que envolve as gotas é denominado 
fase externa ou contínua. Quando se deseja conferir estabilidade ao sistema 
utiliza-se geralmente um agente emulsificante, que atua na tensão superficial dos 
componentes. 
 
 As emulsões combustíveis podem ser do tipo “água em óleo”, onde a água 
é a fase dispersa e o óleo é a fase contínua, ou do tipo “óleo em água”, onde o 
óleo é a fase dispersa e a água é a fase contínua. Vários estudos realizados com 
emulsões água em óleos combustíveis relativamente leves estão reportados na 
literatura, com proporções não superiores a 15 % de água, onde se obtém 
redução de emissões de material particulado, e eventualmente a redução do 
excesso de ar de combustão. 
 
 De desenvolvimento mais recentes, as emulsões do tipo “óleo em água” 
utilizam óleos combustíveis mais pesados, que são resíduos do processo de 
refino de petróleo ou betumes originários de ocorrências naturais. 
 
Existem no planeta reservas consideráveis de betume, que podem ser 
considerados petróleos extra pesados. A principal dificuldade para utilização 
comercial destas reservas, além da elevada viscosidade, tem sido os elevados 
teores de elementos químicos contaminantes presentes, entre outros: o vanádio e 
o enxofre, basicamente, devido às interações com os catalisadores utilizados nos 
processos de refino de petróleo, o que tem inviabilizado o seu aproveitamento 
econômico como matéria prima para a indústria petroquímica. 
 
 9
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
A maior reserva conhecida de betume está localizada numa região 
denominada cinturão do rio Orinoco na Venezuela. Estima-se em 
aproximadamente 1,2 x 1012 barris equivalentes de petróleo, sendo 267 x 109 
economicamente recuperáveis usando a tecnologia atualmente disponível, 
números comparáveis às reservas mundiais de óleo recuperáveis, que estão 
estimadas em 1,02 x 1012 barris equivalentes [21]. 
 
 Na década de 80 empresa nacional de petróleo da Venezuela, PDVSA, 
desenvolveu um processo de produção de emulsão de betume em água, com 
teores de água de cerca de 30% em massa, reduzindo sensivelmente a 
viscosidade, com vantagens sobre outros combustíveis convencionais, no 
manuseio nas operações de transporte e processamento, com emissões 
atmosféricas comparáveis à outros óleos combustíveis derivados de petróleo. 
 
 Na mesma época, a Petrobras desenvolveu estudos e experiências com 
emulsões similares a partir de resíduo asfáltico [24]. O objetivo era de viabilizar a 
sua utilização em substituição ao óleo combustível em caldeiras e equipamentos 
de pequeno porte. 
 
 Atualmente a empresa venezuelana BITOR subsidiária da PDVSA, 
comercializa no mercado internacional o produto marca registrada ORIMULSION 
cuja reputação ainda é controversa [22], mas tem sido utilizado em caldeiras de 
em várias centrais térmicas em países como Canada, Japão e diversos países da 
Europa, se constituindo alternativa aos óleos combustíveis pesados derivados de 
petróleo ou mesmo carvão para geração de energia elétrica. 
 
2.1.3 Petróleo 
 
 O petróleo é constituído essencialmente de uma mistura de 
hidrocarbonetos onde os elementos preponderantes são, o carbono (83 - 87%) e 
hidrogênio (10 -14%), com pequenas quantidades de enxofre (0,05 - 6%), 
nitrogênio (0,1 - 2%) e oxigênio (0,05 - 1,5%) [17]. 
 
 Compostos organo-metálicos podem estar presentes em pequenas 
proporções da ordem de partes por milhão - ppm de: vanádio, sódio, níquel, ferro, 
sílica, alumínio e cálcio que são considerados impurezas indesejáveis, com 
efeitos nem sempre desprezíveis, tanto nos processos de refino quanto nos 
processos de combustão. 
 
 Em função da multiplicidade de pesos moleculares dos diversos tipos de 
hidrocarbonetos presentes, os petróleos são classificados segundo três grupos 
que se diferenciam pela natureza e concentração de compostos quimicamente 
similares, denominados parafínicos, naftênicos e aromáticos. O conhecimento 
prévio da natureza do óleo crú, classificando-o segundo as três denominações, 
permite estabelecer as condições dos vários processos na refinaria e 
consequentemente prever a natureza de seus derivados, principalmente no que 
diz respeito aos óleos combustíveis. 
 10
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
 
 Os óleos crus de natureza parafínica apresentam preponderantemente 
hidrocarbonetos saturados de cadeias alifáticas com ou sem ramificações e têm 
fórmula geral do tipo CnH2n+2. Estes compostos, por exemplo, têm índice de 
octanas baixos e, portanto, pouco desejáveis na composição de gasolinas, sendo 
mais desejáveis na composição de derivados na faixa do querosene e óleo diesel, 
melhorando os índices de cetano destes combustíveis. 
 
 Os petróleos de base naftênica apresentam hidrocarbonetos saturados de 
cadeias cíclicas, contendo um ou mais anéis, podendo ter ramificações do tipo 
parafínica. Estes compostos podem ser rapidamente convertidos em compostos 
aromáticos, através de processos de hidrogenação na refinaria, tornando-se 
componentes de frações na faixa de gasolina. 
 
 Os óleos crus de base aromática ou asfáltica apresentam hidrocarbonetos 
insaturados que possuem pelo menos um anel benzênico, podendo estar ligados 
a anéis naftênicos ou a cadeias parafínicas ramificadas. 
 
 Obviamente os óleos crus possuem compostos dos três grupos, sendo 
classificados em função da presença predominante de um grupo sobre os demais, 
podendo existir características mistas. 
 
 Os componentes presentes no óleo cru possuem diferentes pontos de 
ebulição e são separados e/ou decompostos através de diferentes processos 
(destilação atmosférica, a vácuo, craqueamento, etc), dando origem a diversas 
frações e derivados (GLP, gasolina, diesel, etc.). A natureza e a proporção de 
cada fração ou derivado depende da composição química do óleo crú 
processado, e das características das unidades de processamento existentes nas 
refinarias. 
 
 A Figura 2 mostra de forma simplificada o fluxograma de uma refinaria 
típica. O óleo cru é fracionado inicialmente numa Torre de Destilação Atmosférica 
gerando as frações destiladas (GLP, nafta, querosene, diesel) e um produto de 
fundo denominado Resíduo Atmosférico ou cru reduzido. 
 
O resíduo atmosférico é submetido a um novo fracionamento na Torre de 
Destilação a Vácuo, gerando outras frações destiladas (gasóleo leve e gasóleo 
pesado) que constituem matérias primas para vários outros processos na 
sequência. Em função da natureza do óleo crú processado, e das características 
da refinaria, o produto de fundo deste processo, denominado Resíduo de Vácuo 
(RESVAC), pode ser submetido a um processo de desasfaltação, gerando óleos 
com menor teor de asfaltenos e um produto de fundo denominado Resíduo 
Asfáltico (RASF). 
 
O RESVAC e o RASF são os principais constituintes dos óleos 
combustíveis residuais. A estas frações residuais são adicionadas frações mais 
leves, provenientes de outros processos, a título de diluição e adequação da 
composição às várias especificações de óleos combustíveis existentes. 
 11
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
 
 Atualmente, devido ao mercado brasileiro ainda exercer uma forte 
demanda por óleo diesel, as refinarias nacionais procuram maximizar o volume de 
produção deste produto. Neste sentido a Petrobras vem implantando Unidades de 
Coqueificação nas refinarias, extraindo mais frações leves do RESVAC ou do 
resíduo do processo de craqueamento catalítico, disponibilizando para uso como 
combustívelo resíduo deste processo que se apresenta como um combustível 
sólido denominado coque de petróleo. 
PETRÓLEO Torre de
destilação
atmosférica
Torre de
destilação à
vácuo
Unidade de
craqueamento
catalítico
fluído
Unidade de
desasfaltação
Unidade de
coqueificação
GLP
NAFTA LEVE
NAFTA PESADA
QUEROSENE
DIESEL
GASÓLEO
LEVE
GLP
NAFTA
LCO
RESÍDUO
ATMOSFÉRICO
GASÓLEO
PESADO
RESÍDUO DE VÁCUO
(RESVAC) NAFTA
RESÍDUO ASFÁLTICO
RASF (A9)
COQUE DE PETRÓLEOÓLEOS COMBUSTÍVEIS
GÁS DE
REFINARIA
 
 
Figura 2 – Fluxograma simplificado de uma refinaria de petróleo [10]. 
 
 A título de exemplo a Tabela 1 apresenta as características de um óleo crú 
e dos derivados do processo de refino de um petróleo proveniente do Oriente 
Médio. Embora existam diferenças significativas entre óleos de procedências 
distintas, e os valores da tabela serem restritos apenas ao processo de destilação 
atmosférica, é possível observar as diferenças fundamentais entre as várias 
frações obtidas. 
 12
 
 
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Processos Industriais de Combustão
 
 Observa-se que a fração resíduo pode ser parcela considerável do óleo crú 
processado, e que em função do seu caráter residual apresenta características 
bastante dependentes do cru do qual é originário. 
 
 De acordo com os valores da tabela verifica-se que o resíduo, em relação 
aos demais derivados destilados, tem maior densidade, maiores teores de 
enxofre, incorpora a totalidade das cinzas e demais impurezas (vanádio, níquel 
etc.) presentes no óleo cru, apresentando-se mais viscoso e com maior peso 
molecular. 
 
 Desta forma as propriedades dos óleos combustíveis, e como decorrência 
delas o seu comportamento durante as operações de manuseio nos processos de 
nebulização e combustão e na emissão de poluentes são fortemente dependentes 
da natureza do petróleo. Esta dependência é tal que usualmente se aplica para os 
óleos combustíveis a mesma classificação adotada para os óleos crus. Assim, um 
óleo combustível de característica parafínica é provavelmente derivado de um 
óleo cru de base parafínica. 
 
2.2 Propriedades dos Combustíveis Líquidos 
 
 São várias as propriedades definidas para os combustíveis líquidos, 
determinadas por diversos métodos e ensaios padronizados, sendo importantes 
na sua caracterização e definições quanto às aplicações mais apropriadas. As 
propriedades descritas a seguir são complementares àquelas apresentadas no 
Capítulo 1 do curso, e são consideradas as mais relevantes nos aspectos 
relativos ao manuseio e processos de nebulização, combustão e emissão de 
poluentes. 
 
 13
 
 
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Tabela 1 – Características típicas de um óleo cru e dos produtos derivados da destilação atmosférica [7]. 
DESTILAÇÃO ATMOSFÉRICA 
DESTILADOS 
Petróleo Gás 
(C1-C2) Gasolinas Nafta Querosene Diesel
RESÍDUOS 
Temperatura de ebulição; oC Até 15 15-95 15-149 95-175 149-232 232-343 343-371 >343 >371 
Fração do petróleo; % massa 100 1.77 6.05 13,55 11,6 12,25 17,0 4,15 55,45 51,3
Densidade; 15,5 oC 0,869 0,663 0,703 0,749 0,785 0,843 0,885 0,967 0,975
Enxofre total; % massa 2,5 0,02 0,025 0,049 0,15 1,27 2,41 4,02 4,16
Visc. cinemática; mm2/s 
21 oC 17,0 
38 oC 9,6 1,15 3,53 9,85 1150 2185
50 oC 1,00 2,79 6,8 480 850
60 oC 260 436
99 oC 44,6 64,4
Nitrogênio; ppm 1200 40 290
Cinzas; % massa 0,006 0,011 0,012
Vanádio; ppm 27 49 53
Niquel; ppm 7 13 14
Carbono (CON); % massa 5,2 9,3 10,1
Asfaltenos; %massa 1,4 2,5 2,7
Peso Molecular médio 54 82 96 118 150 222 289 550 595
 
 14
 
 
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2.2.1 Propriedades Físicas 
2.2.1.1 Densidade 
 
 Densidade é definida como a massa contida em uma unidade de volume. 
Freqüentemente utiliza-se o conceito de densidade relativa que é definida como a 
relação entre a densidade do fluido e a da água na mesma temperatura. 
 
 Embora o termo densidade relativa seja o mais correto, é ainda comum utilizar 
para petróleo e seus derivados a densidade expressa em °API (American Petroleum 
Institute) definido como: 
 
 5,131
)C15(relativadensidade
5,141API o
o −= (1) 
 
 Para os hidrocarbonetos líquidos o valor da densidade é geralmente tanto maior 
quanto maior a relação carbono/hidrogênio, apresentando comportamento oposto em 
relação ao poder calorífico. A Figura 3 ilustra tal comportamento, indicando também a 
influência do teor de enxofre. O valor típico da densidade de óleos combustíveis situa-
se na faixa 0,97 a 0,99 kg/m3 
 
 
Figura 3 – Poder calorífico versus densidade e relação C/H de óleos combustíveis. 
 
 
 
 15
 
 
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2.2.1.2 Viscosidade 
 
 A viscosidade é uma medida da resistência ao escoamento de um fluido, 
assumindo portanto relevância no manuseio dos combustíveis líquidos 
(armazenamento, bombeamento) afetando também significativamente o processo de 
nebulização, como veremos mais adiante. A nebulização é tanto melhor quanto mais 
baixa a viscosidade, e a nebulização deficiente pode causar problemas de ignição, 
prejudicar o processo de combustão, e como decorrência aumentar as emissões de 
poluentes. 
 
 A viscosidade absoluta é definida como a força em dinas necessária para mover 
um plano de 1 cm2 a uma distância de 1 cm, de um outro plano de mesma área, por 
uma distância de 1 cm no um intervalo de tempo de 1 segundo. A viscosidade absoluta 
ou dinâmica é expressa no sistema CGS em g/cm.s denominada poise. 
 
 Define-se viscosidade cinemática como sendo a relação entre a viscosidade 
dinâmica e a densidade, sendo expressa no sistema CGS em cm2/s denominada 
stokes. Freqüentemente utiliza-se as denominações centipoise (10-2 poise) e 
centistokes (10-2 stokes) como unidades de viscosidades dinâmica e cinemática 
respectivamente. 
 
 Os viscosímetros comumente utilizados determinam a viscosidade cinemática, 
cujo valor está associado ao tempo de escoamento de um determinado volume de 
líquido através de um orifício calibrado. Existem várias escalas de viscosidade que se 
diferenciam no procedimento de medição e nas dimensões dos orifícios. A conversão 
de tempo t em segundos para stokes pode ser feita através das expressões da Tabela 
2. 
 
Tabela 2 – Conversão de escalas de viscosidade. 
ESCALA DE 
VISCOSIDADE 
FAIXA DE TEMPO VISCOSIDADE 
CINEMÁTICA (STOKES)
SSU (Standart Saybolt 
Universal ) 
32 < t < 100 0,00226 t - 1,95/t 
 t > 100 0,00220 t - 1,35/t 
SSF ( Standart Saybolt 
Furol ) 
25 < t <40 0,0224t - 1,84/t 
 t > 40 0,0216 t - 0,60/t 
Redwood 34 < t <100 0,0026 t - 1,79/t 
 t > 100 0,00247 t -0,50/t 
Redwood Almirantado 0,027 t -20/t 
Engler 0,00147 t -3,74/t 
*t = tempo em segundos 
 
 
 Para óleos combustíveis utiliza-se geralmente as escalas SSU e SSF, sendo a 
segunda mais empregada para óleos de viscosidades mais elevadas. 
 
 16
 
 
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 A viscosidade de óleos combustíveis varia significativamente com a temperatura, 
com comportamento não linear. A equação de Walther, (2), permite determinar 
aproximadamente a lei de variação da viscosidade com a temperatura de uma mistura 
de hidrocarbonetos líquidos. 
 
 log(log ) .logν = +a b T (2) 
 
onde: ν : viscosidade cinemática (centistokes); 
 T : temperatura absolutaem graus Rankine (°R = 1,8°k);e 
 a , b : constantes características de um determinado óleo. 
 
 Com a expressão (2), e conhecendo-se dois valores de viscosidade em 
diferentes temperaturas, é possível determinar os valores das constantes a e b e obter-
se a expressão que permite estimar o valor da viscosidade do óleo numa larga faixa de 
temperaturas. 
 
 A Figura 5 apresenta os valores típicos de viscosidade cinemática para os 
diversos óleos combustíveis nacionais, e os da especificação americana. 
 
2.2.1.3 Tensão superficial 
 
É a propriedade associada a energia por unidade de área necessária para 
manter coesa a superfície livre de um líquido. Tal como a viscosidade, a tensão 
superficial tem influência no processo de nebulização com veremos adiante. A unidade 
é dina/cm no sistema CGS, e N/m no sistema MKS. 
 
2.2.1.4 Ponto de fulgor ( “Flash Point”)/Ponto de ignição ( “Fire-Point” ) 
 
 Ponto de fulgor é a temperatura a qual um líquido inflamável deve ser aquecido, 
sob condições do método de determinação, para produzir suficiente vapor e formar 
com o ar uma mistura capaz de se inflamar transitoriamente sob a ação de uma chama 
escorvadora. Ponto de ignição é a temperatura na qual, sob a ação de uma chama 
escorvadora, se estabelece a ignição e a combustão continuada sobre a superfície do 
líquido. 
 
 Considerando a definição dada, depreende-se que um combustível líquido não 
pode ser armazenado a temperatura igual ou superior à de fulgor, nem tampouco 
aquecido em recipiente aberto, a essas temperaturas. 
 
 Quanto ao processo de combustão pode-se prever que quanto menor a 
temperatura de ignição do líquido, mais favoráveis serão as condições para a 
estabilidade da chama. 
 
 
 
 
 17
 
 
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2.2.1.5 Ponto de fluidez ( Pour Point ) 
 
 Ponto de fluidez é a mais baixa temperatura na qual o líquido ainda flui nas 
condições normais estabelecidas pelo método de determinação. 
 
2.2.1.6 Estabilidade térmica 
 
 É uma medida da resistência ao craqueamento e polimerização, levando à 
formação de depósitos ou compostos de elevada viscosidade. Estes processos tornam-
se mais intensos quando o óleo é submetido ao aquecimento excessivo com ciclos 
intermitentes de aquecimento e resfriamento com agitação, especialmente em 
presença de ar. 
 
Isto é especialmente importante para óleos ultraviscosos que necessitam ser 
aquecidos à temperatura mais elevada para redução da viscosidade. Como 
decorrência disto os aquecedores devem ser dimensionados com valores de 
dissipações de calor, w/cm2 , compatíveis com a características do óleo. 
 
2.2.1.7 Compatibilidade 
 
 Alguns óleos formam depósitos quando misturados com outros óleos, ou depois 
de aquecidos. Quando isto acontece, diz-se que os óleos são imcompatíveis, podendo 
haver obstrução de filtros e bocais nebulizadores dos queimadores. Pensando nisto 
deve-se ter atenção na utilização de frações mais leves nas operações de limpeza de 
bombas, filtros ou quando se pretende utilizá-los como diluentes de frações mais 
pesadas. 
 
2.2.2 Propriedades Químicas 
 
2.2.2.1 Teor de Asfaltenos 
 
 Asfaltenos são grandes estruturas complexas de hidrocarbonetos aromáticos 
condensados com ramificações de cadeias parafínicas na periferia, vide figura 4, 
contendo também átomos de enxofre, nitrogênio e vanádio na sua composição. Estas 
estruturas com peso molecular da ordem de 1 – 5 x103 e fórmula molecular 
aproximada, (C79H92N2SO)3, são pouco miscíveis no óleo, se agregam com o tempo 
formando miscelas, permanecendo em suspensão no líquido. 
 
 As frações de asfaltenos podem se depositar no fundo dos tanques de 
armazenamento, quando estocados por longos períodos sem agitação, formando 
misturas líquidas heterogêneas, e eventuais problemas de obstrução de filtros e bocais 
nebulizadores dos queimadores. 
 
 18
 
 
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Na chama o teor de asfaltenos, assim como o resíduo de carbono, indicam 
tendências à formação de material particulado. O teor de asfaltenos, adicionalmente, 
está associado à formação de NOX , uma vez que os asfaltenos contém parcela 
considerável do nitrogênio “combustível”. 
 
 
 
Figura 4 – Estrutura molecular típica de asfaltenos [22]. 
 
O teor de asfaltenos de um óleo é expresso como uma fração em massa 
expressa em porcentagem, cuja determinação é feita mediante precipitação pela 
adição de um solvente não polar ao óleo combustível. 
 
2.2.2.2 Resíduo de carbono 
 
 O resíduo de carbono, expresso em porcentagem em peso, é uma medida da 
quantidade de material sólido remanescente quando o líquido é aquecido, sob 
condições específicas estabelecidas pelos métodos, em bulbo de vidro parcialmente 
fechado. Durante o aquecimento ocorrem fenômenos de evaporação das frações mais 
leves, e pirólise das frações de maior peso molecular, que ao se decomporem formam 
depósitos de material carbonáceo no interior do bulbo. 
 
 Os métodos mais utilizados são os denominados Ramsbottom e Conradson, 
sendo este último o mais usual para óleos combustíveis residuais. Os valores obtidos 
nos ensaios indicam tendências de formação de resíduos sólidos quando os óleos são 
submetidos a elevadas temperaturas, por exemplo, em processos de combustão. 
 
 Em geral o resíduo de carbono é tanto mais alto quanto maior a viscosidade do 
óleo. Os óleos de base naftênica geralmente apresentam valores mais elevados de 
resíduo de carbono do que os de base parafínica. 
 19
 
 
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2.2.2.3 Cinzas 
 
 As cinzas dos óleos é formada por compostos minerais inorgânicos presentes no 
petróleo que se concentraram nos óleos residuais ao longo dos diversos processos de 
refino. Os combustíveis líquidos destilados contêm quantidades desprezíveis de cinzas, 
enquanto que nos combustíveis residuais estes teores podem atingir valores da ordem 
de 0,1%, dependendo do tipo. 
 
 Na composição das cinzas pode-se encontrar elementos metálicos e alcalinos 
terrosos (Al, Fe, Ni, V, Ca...) na forma de óxidos e sulfatos, não metais (Si) como 
óxidos e elementos alcalinos (Na) como compostos de enxofre e vanádio. Estes 
formam combinações corrosivas. 
 
 A deposição das cinzas nas zonas de altas temperaturas dos equipamentos 
pode ocasionar a redução das áreas de passagem de gases, aumentar a rugosidade 
das superfícies, aumentando como decorrência as taxas de deposição nas superfícies 
de troca, reduzindo as trocas de calor. Adicionalmente aumentam os efeitos de erosão 
e abrasão pela ação das partículas sobre as superfícies metálicas e refratárias dos 
equipamentos. 
 
Em caldeiras, o maior teor de cinzas implica normalmente em eficiência menor 
devido à necessidade de aumentar a freqüência nas operações de ramonagem. 
 
2.2.2.4 Água e sedimentos 
 
 Tal como em relação às cinzas as frações destiladas contém quantidades de até 
0,1% de água e sedimentos. As frações residuais por sua vez não podem reter em 
suspensão quantidades de até 2%, segundo especificação. 
 
2.3 Óleos Combustíveis Brasileiros 
 
Até 30 de abril de 1999, data da portaria no 80 da ANP (Agência Nacional de 
Petróleo, os óleos combustíveis nacionais possuíam valores de especificações 
estabelecidas, que diferenciava 10 tipos de óleos, nove dos quais identificados pelos 
números de 1 a 9, precedidos de letras A ou B. A classificação de 1 a 9 era feita em 
ordem crescente de viscosidade, e os prefixos, A ou B, indicavam alto ou baixo teor de 
enxofre respectivamente. 
 
 A partir desta data valem oficialmente as especificações estabelecidas através 
do Regulamento Técnico ANPNo 3/99 a que se refere a portaria. Neste regulamento 
estão definidas as características dos óleos, bem como os métodos utilizados para a 
sua determinação. Na Tabela 3 apresenta os valores especificados neste regulamento 
para os diversos tipos de óleos combustíveis. 
 
 
 
 20
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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Tabela 3 – Especificações dos óleos combustíveis nacionais. 
MÉTODO TIPO CARACTERÍSTICA unid. ABNT ASTM OCB1 OCA1 OCB2 OCA2 
Viscosidade Cinemática a 
60 oC, máx. 
ou 
Viscosidade Saybolt Furol a 
50 oC, máx. 
mm2/s 
(cSt) 
 
SSF 
NBR 
10441 
 
NBR 5847 
MB 326 
 
D445/ 
D2171 
 
D88 
620 
 
600 
620 
 
600 
960 
 
900 
960 
 
900 
Enxofre, máx % massa MB 902 
D1552/ 
D2622/ 
D4294 
1,0 2,5 1,0 2,5 
Água e sedimentos, máx 
(*2) 
% 
volume 
MB 37 e 
MB 294 
D95 e 
D473 2,0 2,0 2,0 2,0 
Ponto de Fulgor, min. oC MB 48 D93 66 66 66 66 
Densidade 20/4 oC 
NBR 
7148/ 
NBR 
14065 
D1298/ 
D4052 anotar anotar anotar anotar 
Ponto de Fluidez Superior, 
máx. 
oC NBR 11349 D97 (*3) (*3) 
Vanádio, máx. mg/kg D5863/ D5708 200 200 200 200 
(*1) Todos os limites especificados são valores absolutos de acordo com a norma ASTM E 29. 
(*2) É reportado como teor de água e sedimentos a soma dos resultados dos ensaios de água por 
destilação e sedimentos por extração. Uma dedução no volume fornecido deverá ser feita para toda a 
água e sedimentos que exceder a 1% vol. 
(*3) O ponto de fluidez superior varia para as diferentes regiões do país, para diferentes épocas do ano. 
 
Esta portaria estabelece ainda que, é permitida a comercialização de óleos 
combustíveis com viscosidades e teores de enxofre diferentes dos indicados na 
especificação, mediante acordo entre comprador e vendedor. Em qualquer caso devem 
ser atendidos os limites estabelecidos na portaria para os teores de enxofre, água e 
sedimentos, ponto de fulgor e vanádio. 
 
 A título de referência a Tabela 4 apresenta valores típicos das características de 
alguns óleos combustíveis residuais brasileiros, seguindo a antiga denominação. A 
obtenção dos diferentes valores de viscosidades para os diversos tipos de óleos 
nacionais comercializados é feita mediante a adição de frações mais leves como 
diluente nas frações mais pesadas (RESVAC, RASF) em diferentes proporções, o que 
define também o custo final. 
 
 A utilização de um ou outro tipo é determinada por fatores econômicos e/ou 
ambientais. O custo menor dos óleos mais viscosos, implica em maiores requisitos 
quanto ao aquecimento necessário ao manuseio, com implicações também nos 
processos de nebulização, combustão e formação de poluentes, como decorrência da 
maior concentração de frações mais pesadas, como veremos mais adiante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 21
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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Tabela 4 – Valores típicos das características de alguns óleos combustíveis 
nacionais. 
 1A/1B 2A/2B 3A/3B 4A/4B 7A 8A 
DENSIDADE 1,017/0,957 1,018/0,964 1,024/0,983 1,012/0,980 1,031 1,042 
FULGOR (oC) 103/84 121/86 98/80 101/88 160 - 
PONTO DE 
FLUIDEZ (oC) 13/6 6/12 15/38 - /- - 60 
ENXOFRE (% peso) 3,8/0,8 3,9/09 4,0/1,0 4,3/1,0 4,6 4,8 
CINZAS (% peso) 0,04/0,04 0,04/0,04 0,09/0,03 - /- - 0,05 
P. CALORIF. SUP. 
(Kcal/Kg) 
10.238/ 
10.530 
10.130/ 
10.500 
10.077/ 
10.443 
10.050/
10.399 10.025 9.995 
Teor de metais 
vanádio (ppm) 172/34 142/37 201/44 187/43 167 207 
sódio(ppm) 19/40 13/41 18/51 21/31 9,2 25 
níquel(ppm) 47/38 46/30 54/32 40/32 50 80 
VISCOSIDADE 
(SSF) : 
65 oC 178/180 278/263 - /- -/ - 37.600 100.000
82,2 oC 73/81 102/140 278/262 590/611 6.110 15.750 
100 oC 30/37 40/ - 101/105 180/202 1.410 3300 
135 oC 15/ - - /20 27/29 34/38 168 330 
 
 
 Em comparação com os óleos combustíveis disponíveis no mercado americano 
denominados, “Fuel Oil No 1”, , “Fuel Oil No 2” , “Fuel Oil No 4” , “Fuel Oil No 5” e “Fuel 
Oil No 6 (Bunker C)”, os óleos brasileiros apresentam–se com viscosidades mais 
elevadas, vide gráfico da figura 5. No que se refere à composição química, geralmente 
possuem teores mais elevados de nitrogênio e de asfaltenos. 
 22
 
 
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Figura 5 – Viscosidade versus temperatura dos diversos óleos combustíveis nacionais 
e americanos. 
 23
 
 
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3. NEBULIZAÇÃO DO COMBUSTÍVEL 
 
 O propósito principal do processo de nebulização do combustível é a divisão do 
líquido em gotas de menor tamanho possível, gerando um fino ‘’spray’’ (5 µm < d < 500 
µm). A divisão proporciona um aumento significativo da área de contato entre 
combustível e comburente e como decorrência um aumento nas taxas de evaporação e 
combustão que ocorrem na interface líquido-gás. 
 Para melhor noção, tomemos como exemplo hipotético a divisão de apenas uma 
gota de diâmetro inicial D igual a 1 cm em N gotas, todas com mesmo diâmetro final d 
igual 100 µm, então: 
 
N
D
d
D
d
gotas= = =
π
π
3
3
3
3
66
6
10 
 
Portanto, com a divisão serão geradas 106 gotas a partir de uma única gota. A 
razão de áreas superficiais do spray em relação à área da gota será: 
 
spray
gota
N
d
D
= =
2
2
210 
 
Ou seja, para o mesmo volume de líquido, com a divsão obtém-se uma área de 
cerca de cem vezes maior. Num caso real, onde se produz um spray de diferentes 
diâmetros de gotas, é possível dividir um volume de 1 cm3 de líquido em 107 gotas, ou 
ainda: 1 kg óleo combustível se expandido em gotas com área superficial total de até 
120 m2. 
 
Para isso utilizam-se diferentes princípios e dispositivos desenvolvidos e 
aplicados aos diferentes combustíveis (querosene, diesel, óleo combustível, etc.) e 
equipamentos (caldeiras, fornos, estufas, etc.) onde são empregados. 
 
3.1 Mecanismos de Formação de Sprays 
 
 Seja qual for o princípio ou dispositivo utilizado, o processo de nebulização 
ocorre quando se obtém à saída do bocal através do qual o líquido é injetado, uma 
película fina de espessura da ordem de micra (µm). Esta película logo em seguida, 
torna-se instável rompendo-se em gotas e placas, sendo que estas últimas, sob a ação 
da tensão superficial, adquirem a forma de gotas aproximadamente esféricas. Estes 
fenômenos ocorrem durante frações de segundo, logo após o líquido deixar o bocal. 
 
 A Figura 6 ilustra o processo de formação de um spray ideal obtido a partir de 
um jato de água plano escoando em regime laminar. Observa-se que na expansão da 
película ocorrem oscilações na superfície que, à medida que a película se expande 
 24
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
provoca a desintegração da mesma formando ligamentos. Estes ligamentos tornam-se 
instáveis rompendo-se em segmentos, que sob à ação da tensão superficial, assumem 
a forma esférica. 
. 
Figura 6 – Fotografia de um spray plano de água em regime laminar [11]. 
 
 A Figura 7 mostra um dos modelos físicos considerado no estudo dos 
mecanismos de desintegração da película. A desintegração da película à saída do bico 
injetor ocorre devido aos seguintes mecanismos: 
 
• devido às forças de contração exercidas pela tensão superficial que se opõe à 
expansão da película; 
• devido ao dobramento da película em finas camadas, que rompem-se 
formando plaquetas que em seguida assumem a forma esférica; 
• devido à perfuração da película causada pela oscilação de pressãodo meio 
ambiente onde estão se desenvolvendo; e 
• desintegração do jato causado por cisalhamento na interface líquido gás, que 
age a partir do momento em que este deixa o bico. 
. 
Figura 7 – Modelo físico idealizado do mecanismo de desintegração de um jato plano 
[12]. 
 25
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
 
 As gotas que constituem o “spray” real, na sua trajetória, até entrarem em 
combustão, estão sujeitas a desintegrações devido a colisões entre si, à fricção, à ação 
da própria tensão superficial, ao movimento turbulento originado no interior do “spray”, 
bem como à coalescência de gotas. A Figura 8 ilustra o aspecto de dois “sprays” reais, 
onde pode-se observar comportamentos distintos no que se refere à distância do bocal 
onde se dá a desintegração da película. 
 
 
Figura 8 – Nebulização de glicerina em bocal de nebulização por pressão de líquido 
[11]. 
 
3.2 Caracterização de Sprays 
 
 O “spray” obtido no processo de nebulização é caracterizado pela sua 
configuração espacial (comprimento, largura e ângulo sólido), pela distribuição do 
líquido na seção transversal do “spray”, pelo diâmetro médio das gotas e pela 
uniformidade de tamanho das mesmas. Estas contribuem para a definição das 
características da chama obtida (comprimento, largura, estabilidade, perfil de 
temperaturas, etc.). 
 
 As características do “spray” são fortemente dependentes da geometria interna 
do bocal nebulizador, das propriedades do líquido e do meio onde é descarregado. Na 
Figura 9 está representado um modelo físico do mecanismo de formação de um 
“spray”, com os fluxos de ar que se estabelecem na região onde ocorre a nebulização. 
 26
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
 
Figura 9 – Características gerais de um spray [13]. 
 
 Observa-se que o escoamento do líquido com alta velocidade induz 
recirculações (internas e externas) que alteram a própria configuração do “spray”. O 
ângulo correspondente do “spray” não coincide com o ângulo do jato que deixa o bocal. 
Desta forma, as condições do ambiente na região onde se desenvolve tem papel 
fundamental nas suas características. 
 
 Dentre as citadas a que melhor caracteriza a qualidade do processo de 
nebulização é o diâmetro médio das gotas obtido. Ao diâmetro médio da gota, como 
veremos no item 4 a seguir, estão condicionados entre outros, os ritmos de evaporação 
e combustão, bem como a formação de resíduos não queimados, e como decorrência 
destes a eficiência global do processo de combustão. 
 
 O diâmetro médio de gota pode ser determinado utilizando-se qualquer uma das 
expressões abaixo, onde ni é o número de gotas com diâmetro di. 
 
 d
nd
nm
i i
i
= ∑∑ ; (média aritmética) (3) 
 
 d
nd
nmv
i i
i
= 



∑∑
3
1
3
; (v, volume das gotas) (4) 
 
 27
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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 d
nd
nms
i i
i
= 



∑∑
2
1
2
; (s, área superficial das gotas) (5) 
 
 3
4
ii
ii
mg dn
dn
d ∑
∑= ; (g, massa das gotas) (6) 
 
 d
nd
ndm
i i
i i
vs
= ∑∑
3
2 ; (v/s, relação volume/área superficial da gota) (7) 
 
 Destas expressões a última, (7), é geralmente a mais utilizada para caracterizar 
um ‘’spray’’, e tem o seguinte significado físico: valor do diâmetro das gotas de um 
“spray” teórico, que possua o mesmo volume por unidade de área superficial do “spray” 
real; dmvs é denominado SMD (“Sauter Mean Diameter”). 
 
 A Figura 10 mostra como pode ser representada a distribuição de tamanho de 
gotas de um determinado “spray”, a partir de medições de numero de gotas de 
determinada faixa de tamanho de gotas. 
 
 
 
Figura 10 – Representações típicas de distribuição de tamanho de gotas. 
 Existem expressões empíricas com as quais é possível determinar o diâmetro 
médio de gota a partir das propriedades do líquido (tensão superficial, viscosidade, 
densidade), das condições de operação (pressão de injeção do líquido e do meio 
ambiente), desenvolvidas para um determinado tipo de bocal nebulizador. 
 28
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
 
 A restrição à utilização de expressões empíricas, é que elas se aplicam somente 
para os casos semelhantes àquele experimental a partir do qual foram determinadas. 
No entanto a análise ponderada de cada um dos termos das expressões permite 
verificar os efeitos dos vários fatores que intervêm no processo de nebulização. 
 
3.3 Princípios de Nebulização 
 
 Os vários princípios e dispositivos de nebulização utilizados industrialmente, 
geralmente são classificados segundo a fonte de energia utilizada para a injeção do 
líquido através do bocal, e são divididos em três princípios fundamentais, quais sejam: 
por pressão de líquido; com fluido auxiliar ou pneumática (ar ou vapor); híbridos ou 
combinados (de pressão de líquido e pneumática) e mecânica com copo rotativo. 
 
 Outros princípios e dispositivos existentes alternativos a estes como: choque de 
jatos, ultrasom, vibrações não serão tratados aqui, porque ainda não tem utilização 
industrial significativa, não merecendo maior atenção neste momento. 
 
 A utilização de um ou outro processo para nebulização do combustível depende 
das características físicas do líquido, das disponibilidades de energia e de fluidos 
auxiliares, bem como do equipamento onde está acoplado o queimador, devendo-se 
levar em conta muitas vezes critérios econômicos (custo de energia elétrica, de vapor e 
ar comprimido) no momento da escolha do tipo mais adequado à uma aplicação. 
 
3.3.1 Nebulização por pressão de líquido 
3.3.1.1 Bocais de simples orifícios 
 A película à saída do bocal neste caso é obtida mediante a injeção do líquido 
sob pressões relativamente elevadas, 20 a 60 kgf/cm2 em alguns casos mais elevadas, 
através de bocais de pequenas dimensões, portanto, a altas velocidades. 
 
 A formação e desintegração da película à saída do bocal, depende 
essencialmente dos seguintes fatores: das características geométricas do bocal injetor; 
da pressão de injeção do líquido; das propriedades físicas do líquido (viscosidade, 
tensão superficial) e da pressão do meio em que está sendo injetado. 
 
 Podem ser obtidos sprays de diversos formatos, desde o mais simples, que é o 
caso do bocal constituído de um simples orifício, através do qual o líquido é 
descarregado na forma de um jato cilíndrico, que expande na forma de cone cheio, 
figura 11 (a), de um cone oco, figura 11 (b), ou ainda na forma de uma película que se 
expande radialmente, figura 11 (c). A desintegração da película em gotas ocorre a certa 
distância do orifício de descarga, dependendo do tipo de orifício e das condições de 
descarga. 
 
 
 29
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
 
 
Figura 11 – Bocais do tipo simples orifício [18]. 
 
 No caso de bocais de simples orifício a vazão é proporcional à raiz quadrada do 
diferencial de pressão do líquido entre montante e jusante do orifício segundo a 
seguinte equação: 
 
 ( )212 2 LLoDL PACm ∆= ρ (8) 
 
onde, mL: vazão mássica de líquido [kg/s]; 
 CD: coeficiente de descarga do orifício; 
 Ao : área transversal do orifício de descarga[m2]; 
 ρL: densidade do líquido [kg/m3]; 
 ∆PL: diferencial de pressão do líquido [Pa]; 
 
 O valor de CD mantém-se constante para número de Reynolds acima de 10.000, 
assumindo valores que dependem exclusivamente da geometria do bocal como 
ilustrado na figura 12.Na prática para um determinado orifício, mantendo-se constantes as 
propriedades do líquido, a expressão pode se escrita da forma: 
 
 ( ) V21
L C
P
m =
∆
 (9) 
 
onde, CV : coeficiente de vazão do bocal. 
 
 30
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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Figura 12 – Várias formas de orifícios e correspondentes valores coeficientes de 
descarga: (a) CD=0,625; (b) CD=0,87 para ß=20o, CD=0,775 para ß=60o ; (c) CD=0,85; 
(d) CD=0,865 para ß=11o 40; (e) CD=0,625 [18]. 
 
Resultados de várias investigações experimentais demonstraram que o diâmetro médio 
de gotas (Sauter Mean Diameter), varia na faixa de 90 a 200µ, dependendo de ∆PL 
segundo a expressão abaixo: 
 
 
7
1
3
V
P
CSMD 



∆∝ (10) 
 
 Para injetores de óleo diesel em motores de combustão interna por exemplo a 
expressão é bastante similar, levando em conta também as características do meio 
onde o líquido é injetado: 
 
 (11) SMD V PA= −2330 0 121 0 131 0135ρ , , ∆ L
 
onde; ρA : densidade do ar (Kg.m-3); 
 V : vazão volumétrica (m3s-1); 
 ∆P: pressão diferencial (Kgf m-2); e 
 SMD: diâmetro médio de gota (µm). 
 
3.1.1.2 Bocais do tipo câmara de rotação (“Pressure Swirl”) 
 
 Neste tipo de bocal nebulizador o líquido é introduzido tangencialmente numa 
câmara situada imediatamente à montante do orifício de descarga, deixando este na 
forma de ume película que se expande na forma de um cone oco, vide figura 13. Esta 
película à medida que se expande tem sua espessura reduzida, desintegra-se à frente 
em gotas segundo os mecanismos citados anteriormente, gerando uma névoa de gotas 
que constitui o “spray”. 
 
 31
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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Figura 13 – Bocal de nebulização por pressão com câmara de rotação. 
 
A figura 14, Lefebvre [9], ilustra o desenvolvimento do spray à saída do bocal, 
identificando cinco estágios diferentes que ocorrem na medida em que se aumenta a 
pressão de injeção do líquido no bocal a partir de zero até a pressão de trabalho do 
bocal: em (a) a pressão é muito próxima de zero; em (b) o líquido deixa o orifício na 
forma de um cilindro distorcido; em (c) forma-se um cone junto do orifício que se contrai 
sob ação da tensão superficial (“cebola”); em (d) a película (“tulipa”) rompe-se em gotas 
formando um “spray grosseiro” e finalmente em (e) obtém-se o spray plenamente 
desenvolvido. 
Aumento da pressão de injeção
(a) (b) (c) (d) (e)
 
Figura 14 – Estágios do desenvolvimento do spray com o aumento da pressão de 
injeção do líquido [9]. 
 32
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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Para estes tipos de bocais encontra-se na literatura expressões como a equação 
(12) para o cálculo do coeficiente de descarga, demonstrando que neste caso este 
adimensional só depende da geometria do bocal: 
 
 
25,0
O
S
5,0
OS
p
D d
D
dD
A
35,0C 






= (12) 
 
onde: Ds : diâmetro da câmara de rotação; 
 do : diâmetro do orifício de descarga; e 
 Ap : área total dos orifícios de entrada da câmara de rotação. 
 
 Para bocais deste tipo, a seguinte expressão para estimativas do diâmetro 
médio de gotas pode ser considerada como exemplo, dentre vários trabalhos 
experimentais divulgados: 
 
 (13) ( )SMD x m PL L L A= − −2 25 10 6 0 25 0 25 0 25 0 5 0 25, , , , , ,σ µ ρ∆
 
onde: SMD: diâmetro médio de gota (µm); 
 σ : tensão superficial do líquido (N/m); 
 µL : viscosidade do líquido (Ns/m2); 
 mL : vazão mássica de líquido (Kg/s); 
 ∆PL : diferencial de pressão do líquido (Pa); e 
 ρA : densidade do ar (Kg/m3); 
 
A foto da figura 15 ilustra o desenvolvimento da película no ambiente 
imediatamente à saída de um bocal. Os gráficos da figura 16 apresentam curvas de 
distribuição de tamanho de gotas obtidas para um determinado bocal de nebulização 
por pressão de líquido, em que se pode observar a influência de alguns parâmetros 
como: pressão de injeção de líquido, propriedades do líquido e condições do meio onde 
é injetado. 
 
Em ambos os casos, bocal de simples orifício e com câmara de rotação, verifica-
se que a vazão de líquido varia com a raiz quadrada do diferencial de pressão do 
líquido. As expressões empíricas de diâmetro médio de gotas, indicam por sua vez, 
que a qualidade de nebulização é fortemente influenciada pela pressão do líquido. 
 
Como decorrência desta característica deste tipo de bocal, as relações entre as 
vazões máximas e mínimas (“turn-down”) são relativamente baixas (1:1,5), frente aos 
outros princípios, o que constitui séria restrição à aplicações com grandes variações de 
carga, limitando à utilização em instalações que operam próximas à em regime 
contínuo. 
 
 
 33
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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Figura 15 – Aspecto do spray produzido por bocal por pressão de líquido. 
 34
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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Figura 16 – Influência de variáveis na distribuição de tamanho de gotas em bocal de 
nebulização por pressão [9]. 
 35
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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 A Figura 17 mostra a influência da pressão de injeção e da viscosidade do óleo 
no aspecto visual do spray de um determinado bocal de nebulização por pressão de 
líquido. 
 
Figura 17 – Aspecto visual de “spray” obtido com bocal de nebulização por pressão de 
líquido [9]. 
 
As relações entre as vazões máximas e mínimas (“turn-down”) que permitem 
obter resultados satisfatórios é da ordem de 1:1,5, limitando portanto a utilização em 
instalações que operam em regime contínuo de carga, sem grandes variações de 
carga. 
 
 36
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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 A Figura 18 mostra alguns bicos com dispositivos que permitem atuar sobre as 
áreas de passagem em função de variações no consumo, com objetivo de ampliar a 
faixa de capacidades destes bocais. 
 
Figura 18 – Bocais nebulizadores por pressão direta de óleo reguláveis. 
 
 Com a finalidade de ampliar a faixa de capacidades dos bocais de pressão direta 
de óleo, foram desenvolvidos os chamados de nebulização por pressão com retorno. 
Consiste basicamente de alimentar-se o bocal com vazão de líquido maior do que a 
consumida, fazendo com que o excesso que não foi nebulizado retorne para uma linha 
de óleo de retorno, dotada de válvula reguladora de pressão. 
 
 Desta forma mantém-se numa câmara de circulação de óleo a montante do 
orifício, vazões de líquido que permitem garantir a manutenção das componentes 
tangenciais de velocidades na entrada do orifício, mesmo com a redução da vazão de 
 37
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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líquido nebulizado. As variações de vazão de líquido são obtidas atuando-se sobre a 
válvula reguladora de pressão na linha de retorno. 
 
 Nestes tipos de bocais é possível obter relações entre vazão mínima e máxima 
da ordem de 1:3, podendo ser ampliada até 1:8 utilizando-se dispositivos como agulhas 
que permitem regular os ângulos de cone dos jatos com a variação de vazão de líquido 
nebulizado. A Figura 19 mostra bocais típicos de nebulização por pressão de óleo com 
retorno pelo tubo central ou pela periferia e do tipo com agulha. 
 
Figura 19 – Bocais nebulizadorespor pressão de óleo com retorno e agulha de 
regulagem de ângulo de jato. 
 38
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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 Considerando que este princípio de nebulização, simplesmente por pressão de 
óleo, seja por pressão direta ou com retorno, requer pressões elevadas variando na 
faixa de 14 a 60 kgf/cm2, as dimensões dos orifícios de passagem no bocal são 
reduzidas, o que requer maiores preocupações quanto a presença de sólidos e 
impurezas que podem obstruí-los. Além do que requerem maior precisão dimensional 
na construção e apresentam maior desgaste na operação. 
 
 Os excessos de ar de combustão mínimos que se obtém na queima de óleos 
combustíveis residuais com bicos nebulizadores com este princípio é da ordem de 20 a 
25%. A faixa de pressão de óleo, geralmente encontrada, é de 14 a 30 kgf/cm2; no 
entanto existe tendência para se operar com pressões de até 60 kgf/cm2 quando se 
pretende aumentar a faixa de vazão e ter maiores recursos para controlar as 
características do jato obtido. 
 
 Este princípio de nebulização aplica-se a equipamentos que não sofrem grandes 
variações de carga, para grandes consumos de óleo, pelo fato de que para vazões 
menores seriam necessários orifícios de reduzidas dimensões. 
 
 Existem queimadores automáticos para pequenas capacidades que utilizam este 
princípio. Em geral dispõe de dois bicos que funcionam simultaneamente ou 
independentes, dependendo da vazão exigida, e são denominados monobloco, pois o 
ventilador, bomba e lança porta-bicos nebulizadores constituem um só corpo, e 
prestam-se para queima de óleos de baixa viscosidade, podendo atingir no máximo a 
10-15 cst. Em instalações de maior capacidade pode-se chegar a viscosidades da 
ordem de 25 cst. 
 
3.3.2 Nebulização com fluido auxiliar ou pneumática 
 
 Na nebulização com fluido auxiliar ou pneumática a injeção do líquido é feita 
com pressões relativamente mais baixas do que na nebulização por pressão, com 
auxílio de um fluido gasoso (ar ou vapor) que transfere quantidade de movimento ao 
líquido que está sendo nebulizado. Neste tipo de nebulização os mecanismos descritos 
anteriormente para a desintegração da película são desencadeados pelo fluido auxiliar, 
iniciando-se em muitos casos, ainda no interior do próprio bocal. 
 
 Existem bocais em que a mistura líquido-fluido auxiliar é feita externamente ao 
bocal nebulizador, como é o caso dos bocais da figura 20. Em (a) o líquido deixa o 
orifício na forma de um jato cilíndrico que se expande, entrando em contato com o jato 
de ar que é introduzido no queimador com pressões máximas relativamente baixas, 
cerca de 0,16 bar. Em (b) o líquido entra em contato com o fluido de nebulização já na 
forma de uma película. 
 
 39
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
 
 (a) 
 
(b) 
Figura 20 – Bocais de nebulização com fluido auxiliar de baixa pressão e média 
pressão. 1 – líquido; 2 – ar; 3 – filme de líquido; 4 – borda de descolamento do filme 
[18]. 
 
 Nos bocais das figuras 21 e 23 a mistura do fluido de nebulização com o 
líquido ocorre no interior do bocal em diferentes configurações. O bocal da figura 21(c), 
usualmente utilizado em caldeiras e fornos petroquímicos com óleos combustíveis, é 
denominado do tipo “câmara de mistura” e opera geralmente com vapor como fluido 
auxiliar com pressões de até 15 bar. Observando fotografias de alta velocidade com 
modelos transparentes, Graziadio [23], propõe que escoamento no interior deste tipo 
de bocal acontece como o esquema da figura 22. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 40
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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Figura 21 - Bocais de nebulização com fluido auxiliar. 1 – líquido; 2 – ar/vapor; 3 – 
orifício de líquido; 4 – orifício de ar/vapor; 5 – câmara de mistura; 6 – orifícios de 
descarga [18]. 
 
 41
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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Figura 22 – Modelo do escoamento interno em bocais do tipo câmara de mistura. 
O bocal da figura 23 é conhecido como do tipo “Y-Jet”, tal como o do tipo 
“câmara de mistura”’, é também muito utilizado em queimadores de caldeiras e fornos 
com óleos combustíveis pesados, operando com pressões máximas de vapor de 
nebulização e líquido de cerca de 15 bar. 
 
 
Figura 23 - Bocal nebulizador do tipo “Y-Jet”. 1 – líquido; 2 – ar/vapor; 3 – bocal; 4 – 
orifícios de descarga [18]. 
 
Vários trabalhos experimentais foram realizados visando estabelecer relações 
empíricas para previsão do diâmetro médio de gota. Wigg [15], continuando 
experiências iniciadas por Nukiyama e Tanasawa (1939) com bocais semelhantes aos 
da figura 20, a obteve a seguinte expressão: 
 
 42
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
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 MMD m m
m
hL L L
A
A R= +


− −20 10 5 0 1
0 5
0 1 0 2 0 3 10ν σ, ,
,
, , , ,Uρ (14) 
 
onde: MMD - diâmetro médio de gota abaixo do qual está 50% do volume do 
 líquido (m); 
 UR - velocidade do ar em relação ao líquido (m/s); 
 σ- tensão superficial do líquido(Kg/s2); 
 ρA - densidade do ar (kg/m3) ; 
 ν - viscosidade cinemática (m2/s); 
 mL - vazão em massa de líquido (kg/s); 
 mA - vazão em massa de ar (kg/s); e 
h - diâmetro da câmara de mistura (mm). 
 
 Esta equação demonstra que o diâmetro médio de gota sofre grandes alterações 
com a variação da velocidade relativa entre o fluido auxiliar e o líquido, UR. Em geral 
para um determinado bico nebulizador, a velocidade relativa varia com a alteração na 
relação de vazão de ar ou de líquido. 
 
 Quanto às propriedades do líquido, a viscosidade tem expoente 0,5 enquanto 
que a tensão superficial expoente 0,2. Isto se explica pelo fato de que as forças de 
cisalhamento são predominantes sobre as forças devido à tensão superficial o que 
geralmente acontece quando se tem escoamento com grandes gradientes de 
velocidades como acontece na interface entre o fluido auxiliar e o líquido. 
 
 Segundo a equação (14), as dimensões geométricas quando alteradas não 
devem interferir significativamente na espessura da película, já que h tem expoente 
igual a 0,1. Mullinger e Chigier [6] fizeram trabalhos experimentais utilizando métodos 
fotográficos em modelo transparente de bocal nebulizador do tipo “Y-Jet”, conforme 
mostrado na Figura 24, visando determinar as variáveis que interferem no processo de 
nebulização. 
 
 Neste modelo o líquido é injetado lateralmente no interior de uma câmara de 
mistura, enquanto que o fluido auxiliar, ar comprimido ou vapor, é introduzido pelo 
centro com velocidade sônica. Observou-se que o líquido forma um filme anular nas 
paredes da câmara, com o jato central escoando com alta velocidade. 
 
 A nebulização inicia-se no interior da câmara de mistura, mas a maior porção do 
líquido emerge do bocal ainda sob a forma de uma fina película. Esta película 
desintegra-se em plaquetas e subseqüentemente em gotas, processo que ocorre até 
uma distância de aproximadamente 50 vezes o diâmetro do bocal. 
 
 
 43
 
 
Balanço de Massa, Energia e Controle das Emissões Atmosféricas Aplicados a
Processos Industriais de Combustão
 
Figura 24 – Modelo do processo de nebulização em bocal do tipo “Y-Jet” [16]. 
 
 Considerando o escoamento bifásico a montante do orifício de descarga, 
desprezando a parcela de pequenas gotas dispersas no gás, a película de óleo é 
admitida na entrada do orifício com velocidade mais baixa do que o gás (ar ou vapor), 
que transfere quantidade de movimento por difusão turbulenta

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