Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
R687c RODEMBUSCH, Claudine Freire Caderno de Direito Penal I Dom Alberto / Claudine Freire Rodembusch. – Santa Cruz do Sul: Faculdade Dom Alberto, 2010. Inclui bibliografia. 1. Direito – Teoria 2. Direito Penal I – Teoria I. RODEMBUSCH, Claudine Freire II. Faculdade Dom Alberto III. Coordenação de Direito IV. Título CDU 340.12(072) Catalogação na publicação: Roberto Carlos Cardoso – Bibliotecário CRB10 010/10 Página 2 / 99 APRESENTAÇÃO O Curso de Direito da Faculdade Dom Alberto teve sua semente lançada no ano de 2002. Iniciamos nossa caminhada acadêmica em 2006, após a construção de um projeto sustentado nos valores da qualidade, seriedade e acessibilidade. E são estes valores, que prezam pelo acesso livre a todos os cidadãos, tratam com seriedade todos processos, atividades e ações que envolvem o serviço educacional e viabilizam a qualidade acadêmica e pedagógica que geram efetivo aprendizado que permitem consolidar um projeto de curso de Direito. Cinco anos se passaram e um ciclo se encerra. A fase de crescimento, de amadurecimento e de consolidação alcança seu ápice com a formatura de nossa primeira turma, com a conclusão do primeiro movimento completo do projeto pedagógico. Entendemos ser este o momento de não apenas celebrar, mas de devolver, sob a forma de publicação, o produto do trabalho intelectual, pedagógico e instrutivo desenvolvido por nossos professores durante este período. Este material servirá de guia e de apoio para o estudo atento e sério, para a organização da pesquisa e para o contato inicial de qualidade com as disciplinas que estruturam o curso de Direito. Felicitamos a todos os nossos professores que com competência nos brindam com os Cadernos Dom Alberto, veículo de publicação oficial da produção didático-pedagógica do corpo docente da Faculdade Dom Alberto. Lucas Aurélio Jost Assis Diretor Geral Página 3 / 99 PREFÁCIO Toda ação humana está condicionada a uma estrutura própria, a uma natureza específica que a descreve, a explica e ao mesmo tempo a constitui. Mais ainda, toda ação humana é aquela praticada por um indivíduo, no limite de sua identidade e, preponderantemente, no exercício de sua consciência. Outra característica da ação humana é sua estrutura formal permanente. Existe um agente titular da ação (aquele que inicia, que executa a ação), um caminho (a ação propriamente dita), um resultado (a finalidade da ação praticada) e um destinatário (aquele que recebe os efeitos da ação praticada). Existem ações humanas que, ao serem executadas, geram um resultado e este resultado é observado exclusivamente na esfera do próprio indivíduo que agiu. Ou seja, nas ações internas, titular e destinatário da ação são a mesma pessoa. O conhecimento, por excelência, é uma ação interna. Como bem descreve Olavo de Carvalho, somente a consciência individual do agente dá testemunho dos atos sem testemunha, e não há ato mais desprovido de testemunha externa que o ato de conhecer. Por outro lado, existem ações humanas que, uma vez executadas, atingem potencialmente a esfera de outrem, isto é, os resultados serão observados em pessoas distintas daquele que agiu. Titular e destinatário da ação são distintos. Qualquer ação, desde o ato de estudar, de conhecer, de sentir medo ou alegria, temor ou abandono, satisfação ou decepção, até os atos de trabalhar, comprar, vender, rezar ou votar são sempre ações humanas e com tal estão sujeitas à estrutura acima identificada. Não é acidental que a linguagem humana, e toda a sua gramática, destinem aos verbos a função de indicar a ação. Sempre que existir uma ação, teremos como identificar seu titular, sua natureza, seus fins e seus destinatários. Consciente disto, o médico e psicólogo Viktor E. Frankl, que no curso de uma carreira brilhante (trocava correspondências com o Dr. Freud desde os seus dezessete anos e deste recebia elogios em diversas publicações) desenvolvia técnicas de compreensão da ação humana e, consequentemente, mecanismos e instrumentos de diagnóstico e cura para os eventuais problemas detectados, destacou-se como um dos principais estudiosos da sanidade humana, do equilíbrio físico-mental e da medicina como ciência do homem em sua dimensão integral, não apenas físico-corporal. Com o advento da Segunda Grande Guerra, Viktor Frankl e toda a sua família foram capturados e aprisionados em campos de concentração do regime nacional-socialista de Hitler. Durante anos sofreu todos os flagelos que eram ininterruptamente aplicados em campos de concentração espalhados por todo território ocupado. Foi neste ambiente, sob estas circunstâncias, em que a vida sente sua fragilidade extrema e enxerga seus limites com uma claridade única, Página 4 / 99 que Frankl consegue, ao olhar seu semelhante, identificar aquilo que nos faz diferentes, que nos faz livres. Durante todo o período de confinamento em campos de concentração (inclusive Auschwitz) Frankl observou que os indivíduos confinados respondiam aos castigos, às privações, de forma distinta. Alguns, perante a menor restrição, desmoronavam interiormente, perdiam o controle, sucumbiam frente à dura realidade e não conseguiam suportar a dificuldade da vida. Outros, porém, experimentando a mesma realidade externa dos castigos e das privações, reagiam de forma absolutamente contrária. Mantinham-se íntegros em sua estrutura interna, entregavam-se como que em sacrifício, esperavam e precisavam viver, resistiam e mantinham a vida. Observando isto, Frankl percebe que a diferença entre o primeiro tipo de indivíduo, aquele que não suporta a dureza de seu ambiente, e o segundo tipo, que se mantém interiormente forte, que supera a dureza do ambiente, está no fato de que os primeiros já não têm razão para viver, nada os toca, desistiram. Ou segundos, por sua vez, trazem consigo uma vontade de viver que os mantêm acima do sofrimento, trazem consigo um sentido para sua vida. Ao atribuir um sentido para sua vida, o indivíduo supera-se a si mesmo, transcende sua própria existência, conquista sua autonomia, torna-se livre. Ao sair do campo de concentração, com o fim do regime nacional- socialista, Frankl, imediatamente e sob a forma de reconstrução narrativa de sua experiência, publica um livreto com o título Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração, descrevendo sua vida e a de seus companheiros, identificando uma constante que permitiu que não apenas ele, mas muitos outros, suportassem o terror dos campos de concentração sem sucumbir ou desistir, todos eles tinham um sentido para a vida. Neste mesmo momento, Frankl apresenta os fundamentos daquilo que viria a se tornar a terceira escola de Viena, a Análise Existencial, a psicologia clínica de maior êxito até hoje aplicada. Nenhum método ou teoria foi capaz de conseguir o número de resultados positivos atingidos pela psicologia de Frankl, pela análise que apresenta ao indivíduo a estrutura própria de sua ação e que consegue com isto explicitar a necessidade constitutiva do sentido (da finalidade) para toda e qualquer ação humana. Sentido de vida é aquilo que somente o indivíduo pode fazer e ninguém mais. Aquilo que se não for feito pelo indivíduo não será feito sob hipótese alguma. Aquilo que somente a consciência de cada indivíduo conhece. Aquilo que a realidade de cada um apresenta e exige uma tomada de decisão. Página 5 / 99 Não existe nenhuma educação se não for para ensinar a superar-se a si mesmo, a transcender-se, a descobrir o sentido da vida. Tudo o mais é morno, é sem luz, é, literalmente, desumano. Educar é, pois, descobrir o sentido, vivê-lo, aceitá-lo, executá-lo. Educar não é treinar habilidades, não é condicionar comportamentos, não é alcançar técnicas, não é impor umaprofissão. Educar é ensinar a viver, a não desistir, a descobrir o sentido e, descobrindo-o, realizá-lo. Numa palavra, educar é ensinar a ser livre. O Direito é um dos caminhos que o ser humano desenvolve para garantir esta liberdade. Que os Cadernos Dom Alberto sejam veículos de expressão desta prática diária do corpo docente, que fazem da vida um exemplo e do exemplo sua maior lição. Felicitações são devidas a Faculdade Dom Alberto, pelo apoio na publicação e pela adoção desta metodologia séria e de qualidade. Cumprimentos festivos aos professores, autores deste belo trabalho. Homenagens aos leitores, estudantes desta arte da Justiça, o Direito. . Luiz Vergilio Dalla-Rosa Coordenador Titular do Curso de Direito Página 6 / 99 Sumário Apresentação.......................................................................................................... Prefácio................................................................................................................... Plano de Ensino...................................................................................................... Aula 1 Conceito de Direito Penal, história do Brasil Penal................................................ Aula 2 Continuação: História do Direito Penal.................................................................. Aula 3 Retroatividade da Lei Penal Benéfica.................................................................... Aula 4 Eficácia da Sentença Estrangeira......................................................................... Aula 5 Classificação Doutrinária dos Crimes.................................................................... Aula 6 Do Crime................................................................................................................ Aula 7 Continuação: sobre a Estrutura do Crime............................................................. Aula 8 Relevância Causal da Omissão (art. 13 §2º)......................................................... Página 7 / 99 3 4 8 12 24 37 49 61 73 83 90 Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. Centro de Ensino Superior Dom Alberto Plano de Ensino Identificação Curso: Direito Disciplina: Direito Penal I Carga Horária (horas): 60 Créditos: 4 Semestre: 2º Ementa Conceito de Direito penal. Princípios limitadores do poder punitivo estatal. História do Direito Penal. Lei penal no Tempo. Lei penal no espaço. Teoria da pena: prevenção geral e especial. Conflito aparente de norma. Teoria do delito. Evolução. Conceito de Crime. Classificação dos delitos. Objetivos Geral: Proporcionar ao aluno a compreensão dos fundamentos do Direito Penal no Estado Democrático de Direito brasileiro, despertando seu espírito crítico, de forma a relacionar o conteúdo teórico com a prática solução de problemas penais. Específicos: A) Fazer com que o aluno compreenda a cadeia principio lógica que constitui o Estado Democrático de Direito; B) Propiciar ao aluno os fundamentos teóricos necessários à operacionalidade da dogmática penal à luz dos princípios constitucionais; C) Trazer subsídios para que o aluno analise o delito a partir de seus elementos constitutivos, concluindo por sua ocorrência ou não, bem como identificando se a conduta é punível ou não; D) Trazer subsídios para que o aluno identifique o crime consumado, diferenciando-o da tentativa; E) Propiciar que o aluno identifique o grau de participação dos agentes na conduta delitiva; F) Possibilitar a compreensão inicial das conseqüências jurídicas do delito (Penas, espécies, aplicação). Inter-relação da Disciplina Horizontal: Direito Penal II, III e IV; Processo Penal; Direito Constitucional; Criminologia; Filosofia do Direito. Vertical: Direito Penal II, III e IV; Processo Penal; Direito Constitucional; Criminologia; Filosofia do Direito. Competências Gerais Leitura, compreensão e elaboração de textos, atos e documentos jurídicos ou normativos, com a devida utilização das normas técnico-jurídicas; Interpretação e aplicação do Direito; Pesquisa e utilização da legislação, da jurisprudência, da doutrina e de outras fontes do Direito; Adequada atuação técnico-jurídica, em diferentes instâncias, administrativas ou judiciais, com a devida utilização de processos, atos e procedimentos; Correta utilização da terminologia jurídica ou da Ciência do Direito; Utilização de raciocínio jurídico, de argumentação, de persuasão e de reflexão crítica; Julgamento e tomada de decisões. Competências Específicas Leitura, compreensão e elaboração de textos, atos e documentos jurídicos ou normativos, com a devida utilização das normas técnico-jurídicas pertinentes ao direito penal; Interpretação e aplicação do Direito Penal; Pesquisa e utilização da legislação, da jurisprudência, da doutrina e de outras fontes do Direito, em acompanhamento às novas teorias da responsabilidade penal e da ação do Estado; Adequada atuação técnico-jurídica, em diferentes instâncias, administrativas ou judiciais, com a devida utilização de processos, atos e procedimentos na esfera criminal; Habilidades Gerais Interpretar textos legais, doutrinários e jurisprudenciais. Utilizar expressões técnicas na interpretação dos institutos jurídicos do Direito Penal. Página 8 / 99 Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. Habilidades Específicas Interpretar textos legais, doutrinários e jurisprudenciais sobre o Direito Penal, de forma crítica. Utilizar expressões técnicas na interpretação dos institutos jurídicos do Direito Penal. Compreender criticamente a função social do Direito Penal. Manusear de maneira eficaz o Código Penal. Contextualizar o Direito Penal em relação a outras disciplinas. Conteúdo Programático AULA 1 1.1. Conceito de Direito Penal. 1.2. Direito Penal x Sistema Penal x Criminologia. 1.3. Direito penal e poder punitivo. 1.4. Os processos de criminalização. AULA 2 2.1. História do Direito Penal. 2.2. Direito Penal e Estado de Direito. 2.3. As transformações do Estado de Direito (noções: liberal, social, democrático) e as transformações do direito penal. AULA 3 3.1. A noção de garantia no Estado Democrático de Direito/ Princípios constitucionais de direito penal. 3.2. Princípio da legalidade. 3.2.1. Princípio da Taxatividade. 3.2.2. Princípio da Anterioridade e da Irretroatividade da Lei Penal. AULA 4 4.1. Princípio da Presunção de não-culpabilidade (in dubio pro reo). 4.2. Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos. 4.2.1. Princípio da lesividade/ofensividade. 4.2.2. Princípio da intervenção mínima. 4.2.3. Princípio da insignificância. 4.3. Princípio da individualização das penas. 4.3.1. Princípio da Proporcionalidade. 4.3.2. Princípio da humanidade. 4.3.3. Princípio da Adequação Social. AULA 5 A Norma Penal. 5.1 - Técnica legislativa: normas incriminadoras e não incriminadoras. 5.2 – Fontes do Direito Penal. 5.3 – Interpretação das Leis Penais. 5.4 – Analogia e aplicação in bonam partem. AULA 7 1 – Lei Penal no Tempo. 1.1 – Irretroatividade da lei penal. 1.2 – Retroatividade da lei penal mais benigna. 1.3 – Hipóteses de conflitos de leis penais no tempo. 1.4 – Lei intermediária. 1.5 – Leis excepcionais e temporárias. 1.6 – Retroatividade e leis penais em branco. 1.7 – Retroatividade e lei processual. AULA 8 1 – Tempo do Crime (Teoria daAtividade). 2.1 – Lei Penal no Espaço. 2.2 – Lugar do Crime. 2.3 – Territorialidade. 2.4 - Extraterritorialidade. AULA 9 11 – Conflito Aparente de Normas. 11.1 – Princípios regentes do conflito aparente de normas (especialidade, subsidiariedade, consunção). 11.2 – Antefato e pós-fato puníveis. AULA 10 Teoria do Delito. 1.1 – Conceito de Crime. 1.2 – Classificação das infrações penais. 1.2.1 – Crimes doloso, culposo e preterdoloso. 1.2.2 – Crimes comissivo, omissivo e comissivo-omissivo. 1.2.3 – Crimes instantâneo e permanente. AULA 11 12.1 – Crimes de dano e de perigo. 12.2 – Crimes material, formal e de mera conduta. 12.3 – Crimes unissubjetivo e plurissubjetivo. 12.4 – Crimes comum, próprio e de mão própria. 12.5 – Crimes de ação única, de ação múltipla e de dupla subjetividade. AULA 12 Tópicos contemporâneos de direito penal. A) Tema especial: O direito penal hoje. Sociedade do risco. Direito penal eficiente X direito penal de garantias. “Direito Penal do inimigo”. AULA 13 Problemas contemporâneos de Direito Penal. Estratégias de Ensino e Aprendizagem (metodologias de sala de aula) Aulas expositivas dialógico-dialéticas. Trabalhos individuais e em grupo e preparação de seminários. Leituras e fichamentos dirigidos. Elaboração de dissertações, resenhas e notas de síntese. Utilização de recurso Áudio-Visual. Avaliação do Processo de Ensino e Aprendizagem A avaliação do processo de ensino e aprendizagem deve ser realizada de forma contínua, cumulativa e sistemática com o objetivo de diagnosticar a situação da aprendizagem de cada aluno, em relação à Página 9 / 99 Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. programação curricular. Funções básicas: informar sobre o domínio da aprendizagem, indicar os efeitos da metodologia utilizada, revelar conseqüências da atuação docente, informar sobre a adequabilidade de currículos e programas, realizar feedback dos objetivos e planejamentos elaborados, etc. Para cada avaliação o professor determinará a(s) formas de avaliação podendo ser de duas formas: 1ª Avaliação – Peso 8,0 (oito): Prova; Peso 2,0 (dois): Trabalho. 2ª Avaliação: Peso 8,0 (oito): Prova; Peso 2,0 (dois): referente ao Sistema de Provas Eletrônicas – SPE (média ponderada das três provas do SPE) Avaliação Somativa A aferição do rendimento escolar de cada disciplina é feita através de notas inteiras de zero a dez, permitindo-se a fração de 5 décimos. O aproveitamento escolar é avaliado pelo acompanhamento contínuo do aluno e dos resultados por ele obtidos nas provas, trabalhos, exercícios escolares e outros, e caso necessário, nas provas substitutivas. Dentre os trabalhos escolares de aplicação, há pelo menos uma avaliação escrita em cada disciplina no bimestre. O professor pode submeter os alunos a diversas formas de avaliações, tais como: projetos, seminários, pesquisas bibliográficas e de campo, relatórios, cujos resultados podem culminar com atribuição de uma nota representativa de cada avaliação bimestral. Em qualquer disciplina, os alunos que obtiverem média semestral de aprovação igual ou superior a sete (7,0) e freqüência igual ou superior a setenta e cinco por cento (75%) são considerados aprovados. Após cada semestre, e nos termos do calendário escolar, o aluno poderá requerer junto à Secretaria-Geral, no prazo fixado e a título de recuperação, a realização de uma prova substitutiva, por disciplina, a fim de substituir uma das médias mensais anteriores, ou a que não tenha sido avaliado, e no qual obtiverem como média final de aprovação igual ou superior a cinco (5,0). Sistema de Acompanhamento para a Recuperação da Aprendizagem Serão utilizados como Sistema de Acompanhamento e Nivelamento da turma os Plantões Tira-Dúvidas que são realizados sempre antes de iniciar a disciplina, das 18h00min às 18h50min, na sala de aula. Recursos Necessários Humanos Professor. Físicos Laboratórios, visitas técnicas, etc. Materiais Recursos Multimídia. Bibliografia Básica BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Volume I. (edição mais recente) PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal brasileiro: parte geral. Vol. 1. 2. Ed. São Paulo: RT, 2000. GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. 1. Parte Geral. 10º.ed. Editora Impetus, 2007. BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal. 11. Ed. Rio de Janeiro: REVAN, 2007. ZAFFARONI, Eugênio Raul; PIERANGELLI, José Henrique. Manual de Direito Penal brasileiro: Parte Geral. 2. Ed. São Paulo: RT, 2000. Complementar CASTEL, Robert. A Insegurança Social: o que é ser protegido. Petrópolis: Vozes, 2005. FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: RT, 2006. LUIZI, Luis. Os Princípios Constitucionais Penais. Porto Alegre: Fabris Editor, 2003. SANTOS, Juarez Cirino dos. A Moderna Teoria do Fato Púnível. 4. ed.Curitiba: Lumen Juris, 2005 ZAFFARONI, Eugenio Raúl; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Direito Penal Brasileiro – I. 2. ed. Rio de Janeiro: REVAN, 2003. Legislação: DELMANTO, Celso et alli. Código Penal Comentado. 5. Ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 7. Ed. São Paulo: RT, 2007. Página 10 / 99 Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”. Periódicos Revistas: Revista de Estudos Criminais. Editora NOTADEZ; Revista do IBCCRIM. Editora Revista dos Tribunais; Revista da AJURIS. Sites para Consulta www.cjf.jus.br www.planalto.gov.br www.stf.jus.br www.stj.gov.br www.trf4.gov.br www.tjrs.jus.br www.itecrs.org www.direitosfundamentais.com.br www.ibccrim.org.br www.dominiopublico.gov.br Outras Informações Endereço eletrônico de acesso à página do PHL para consulta ao acervo da biblioteca: http://192.168.1.201/cgi-bin/wxis.exe?IsisScript=phl.xis&cipar=phl8.cip&lang=por Cronograma de Atividades Aula Consolidação Avaliação Conteúdo Procedimentos Recursos 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 1 1 8ª 9ª 10ª 11ª 12ª 13ª 2 2 3 Legenda Procedimentos Recursos Procedimentos Recursos Procedimentos Recursos Código Descrição Código Descrição Código Descrição AE Aula expositiva AE Aula expositiva AE Aula expositiva TG Trabalho em grupo TG Trabalho em grupo TG Trabalho em grupo TI Trabalho individual TI Trabalho individual TI Trabalho individual SE Seminário SE Seminário SE Seminário Página 11 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br AULA 01 Bem vindos! CONCEITO DE DIREITO PENAL, HISTÓRIA DO DIREITO PENAL Ementa: I – Nota Introdutória. 1.1. O Direito Penal no Estado Democrático de Direito. 1.2. Características de alguns princípios penais limitadores decorrentes da dignidade humana. II – Breve História do Direito Penal. 2.1. Fases da Vingança Penal. 2.2. Direito Penal dos Hebreus. 2.3. Direito Romano. 2.4. Direito Germânico. 2.5. Direito Canônico. 2.6. Direito Medieval I. Nota Introdutória É de conhecimento de todos que a vida em sociedade exige um complexo de normas disciplinadorasque estabeleça as regras indispensáveis ao convívio entre os indivíduos que a compõem. O conjunto dessas regras, denominado direito positivo, deve ser obedecido e cumprido por todos os integrantes de um determinado grupo social, e estas regras estabelecem as consequências e sanções aos que violarem seus preceitos. A reunião das normas jurídicas pelas quais o Estado proíbe determinadas condutas, sob a ameaça de sanção penal, estabelecendo ainda os princípios gerais e os pressupostos para a aplicação das penas e das medidas de segurança, dá-se o nome de Direito Penal. O objetivo do Direito Penal é proteger os valores fundamentais para a subsistência do corpo social, como por exemplo: a vida, a saúde, propriedade, etc. Tal proteção se dá não apenas pela intimidação coletiva, mais conhecida como prevenção geral e exercida mediante a difusão do temor aos possíveis infratores de risco da sanção penal, mas sobretudo pela celebração de compromissos éticos entre o Estado e o indivíduo, pelos Página 12 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br quais se consiga o respeito às normas, menos por receio de punição e mais pela convicção da sua necessidade e justiça. Sabe-se que o ordenamento jurídico tutela o direito á vida, proibindo qualquer lesão a esse direito, consubstanciado no dever ético-social “não matar”. Quando esse mandamento é infringido, o Estado tem o dever de acionar prontamente os seus mecanismos legais para a efetiva imposição da sanção penal à transgressão no caso concreto, revelando à coletividade o valor que dedica ao interesse violado. Por outro lado a medida que o Estado se torna vagaroso ou omisso, ou mesmo injusto, dando tratamento díspar a situações assemelhadas, acaba por incutir na consciência coletiva a pouca importância que dedica a valores éticos e sociais, afetando a crença na justiça pena e propiciando que a sociedade deixe de respeitar tais valores, pois ele próprio se incumbiu de demonstrar sua pouca ou nenhuma vontade no acatamento a tais deveres, através de sua morosidade, ineficiência e omissão. Em suma: O Direito Penal é o ramo do direito público que define as infrações penais, estabelecendo as penas e as medidas de segurança aplicáveis aos infratores. Com relação ao seu objeto, verifica-se que o Direito Penal somente pode dirigir os seus comandos legais, mandando ou punindo que se faça algo, ao homem, pois somente este é capaz de executar ações com consciência do fim. Ou seja, no Direito Penal se verifica a voluntariedade da conduta humana, na capacidade do homem para um querer final. Desse modo, o âmbito da normatividade jurídico-penal limita-se às atividades finais humanas. Disso resulta a exclusão do âmbito de aplicação do Direito Penal de seres como os animais, que não tem consciência do fim de seu agir, fazendo-o por instinto, bem como movimentos corporais causais, como os reflexos, não domináveis pelo homem. 1.1. O Direito Penal no Estado Democrático de Direito. A CF/88, em seu art. 1º, caput, definiu o perfil político-constitucional do Brasil como o de um Estado Democrático de Direito. Trata-se do mais Página 13 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br importante dispositivo da Carta de 1988, pois dele decorrem todos os princípios fundamentais de nosso Estado. Estado Democrático de Direito é muito mais do que simplesmente Estado de Direito. Este último assegura a igualdade meramente formal entre homens, e tem como características: a) submissão de todos ao império da lei; b) a divisão formal do exercício de funções derivadas do poder, entre os órgãos executivos, legislativos e judiciários, como forma de evitar a concentração da força e combater o arbítrio; c) o estabelecimento formal de garantias individuais; d) o povo como origem formal de todo e qualquer poder; e) a igualdade de todos perante a lei, na medida em que estão submetidos às mesmas regras gerais, abstratas e impessoais; f) a igualdade meramente formal, sem atuação efetiva e interventiva do Poder Público, no sentido de impedir distorções sociais de ordem material. O constituinte brasileiro foi além, afirmando que o Brasil não é apenas um Estado de Direito, mas sim um Estado Democrático de Direito. Significa, portanto, que não é um Estado que apenas impõe a submissão de todos ao império da mesma lei, mas onde as leis possuam conteúdo e adequação social, descrevendo como infrações penais somente os fatos que realmente colocam em perigo bens jurídicos fundamentais para a sociedade. É imperativo do Estado Democrático de Direito a investigação ontológica do tipo incriminador. Crime não é apenas aquilo que o legislador diz sê-lo, uma vez que nenhuma conduta pode, materialmente , ser considerada criminosa se, de algum modo, não colocar em perigo valores fundamentais da sociedade. A dignidade humana é que será utilizada pelo legislador como orientadora no momento de criar um novo delito e o operador no instante em que vai realizar a atividade de adequação típica. Página 14 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br Imaginemos um tipo com a seguinte descrição: “ manifestar ponto de vista contrário ao regime político dominante ou opinião contrária à orientação política dominante: Pena – 6 meses a 1 ano de detenção”. Evidentemente, que este tipo não teria qualquer subsistência por ferir o princípio da dignidade da pessoa humana e, consequentemente, não resistir ao controle de compatibilidade vertical com os princípios insertos na ordem constitucional. De tudo que foi visto até o presente momento se chega as seguintes conclusões: 1. O Direito Penal brasileiro somente pode ser concebido à luz do perfil constitucional do Estado Democrático de Direito, devendo, portanto, ser um direito penal democrático. 2. Do Estado Democrático de Direito parte um gigantesco tentáculo, a regular todo o sistema penal, que é o princípio da dignidade da pessoa humana, de modo que toda incriminação contrária ao mesmo é substancialmente inconstitucional. 3. Da dignidade humana derivam princípios constitucionais do Direito Penal, cuja função é estabelecer limites á liberdade de seleção típica do legislador, buscando, com isso, uma definição material do crime. 4. O legislador, no momento de escolher os interesses que merecerão a tutela penal, bem como o operador do direito, no instante em que vai proceder à adequação típica, devem, forçosamente, verificar se o conteúdo material daquela conduta atenta contra a dignidade humana ou os princípios que dela derivam. Em caso positivo, estará manifestada a inconstitucionalidade substancial da norma ou daquele enquadramento, devendo ser exercitado o controle técnico, afirmando a incompatibilidade vertical com o texto Magno. 5. A criação do tipo e a adequação concreta da conduta ao tipo devem operar-se em consonância com os princípios constitucionais do Direito Página 15 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINOSUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br Penal, os quais derivam da dignidade humana que, por sua vez, encontra fundamento no Estado Democrático de Direito. 1.2. Características de alguns princípios penais limitadores decorrentes da dignidade humana. No Estado Democrático de Direito é necessário que a conduta considerada criminosa tenha realmente conteúdo de crime. Crime não é apenas aquilo que o legislador diz sê-lo (conceito formal), uma vez que nenhuma conduta pode, materialmente, ser considerada criminosa se, de algum modo, não colocar em perigo valores fundamentais da sociedade. Da dignidade nascem os demais princípios orientadores e limitadores do Direito Penal, sendo que será dado destaque para os principais: Insignificância ou bagatela: de acordo com este princípio, o Direito Penal não deve preocupar-se com bagatelas, ou seja, a tipicidade penal exige um mínimo de lesividade ao bem jurídico protegido, pois é inconcebível que o legislador tenha imaginado inserir em m tipo penal condutas totalmente inofensivas ou incapazes de lesar o interesse protegido. Não se pode confundir delito insignificante ou de bagatela com crime de menor potencial ofensivo. Estes últimos são definidos pelo art. 61. da Lei 9099/95 e submetem-se ao Juizados Especiais Criminais, sendo que neles a ofensa não pode ser vista como insignificante, pois possui gravidade ao menos perceptível socialmente, não podendo falar-se em aplicação desse princípio. O princípio da insignificância não é aplicado no plano abstrato. Tal princípio deverá ser verificado em cada caso concreto, de acordo com as suas especificidades. O furto, abstratamente, não é uma bagatela, mas a subtração de um chiclete pode ser. Em outras palavras, nem toda conduta subsumível ao art.155 do Código Penal é alcançada por este princípio, algumas sim, outras não. É um princípio aplicável no plano concreto, portanto. A insignificância nos delitos patrimoniais não leva em Página 16 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br consideração a capacidade econômica do ofendido, mas o valor do bem em si mesmo. Assim, o furto de um automóvel jamais será insignificante, mesmo que, diante do patrimônio da vítima, o valor seja pequeno quando cotejado com os seus demais bens. Alteridade ou transcendentalidade: proíbe a incriminação de atitude meramente interna, subjetiva do agente e que, por essa razão, revela-se incapaz de lesionar o bem jurídico. O fato típico pressupõe um comportamento que transcenda a esfera individual do autor e seja capaz de atingir o interesse do outro. Ninguém pode ser punido por ter feito mal só a si mesmo. Não há lógica em punir o suicida frustrado ou a pessoa que se açoita, na intensa solidão de seu quarto. Se a conduta se esgota na esfera do próprio autor, não há fato típico. Por essa razão, a autolesão não é crime, salvo quando houver a intenção de prejudicar terceiros, como na auto-agressão cometida com o fim de fraude ao seguro, em que a instituição seguradora será vítima de estelionato (CP, art. 171, §2º, V). No delito previsto no art. 28 da Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006, poder-se-ia alegar ofensa a este princípio, pois quem usa droga só está fazendo mal a própria saúde, o que não justificaria uma intromissão repressiva do Estado (os drogados costumam dizer: “se eu uso droga, ninguém tem nada a ver com isso, pois o único prejudicado sou eu”). Tal argumento não convence. A Lei n. 11.343/2006 não tipifica a ação de “usar drogas”, mas apenas o porte, pois o que a lei visa é coibir o perigo social, evitnado facilitar a circulação da substância entorpecente pela sociedade, ainda que a finalidade do sujeito seja apenas a de uso próprio. Assim, existe transcendentalidade na conduta e perigo para a saúde da coletividade, bem jurídico tutelado pela norma do art. 28. Página 17 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br Confiança: funda-se na premissa de que todos devem esperar por parte das outras pessoas que estas sejam responsáveis e ajam de acordo com as normas da sociedade, visando a evitar danos a terceiros. Por essa razão, consiste na realização da conduta, na confiança de que o outro atuará de um modo normal já esperado, baseando-se na justa expectativa de que o comportamento de outras pessoas se dará de acordo com o que normalmente acontece. Por exemplo: nas intervenções médico-cirúrgicas, o cirurgião tem de confiar na assistência correta que costuma receber de seus auxiliares, de maneira que, se a enfermeira lhe passa uma injeção com medicamento trocado, e, em face disso, o paciente vem a falecer, não haverá conduta culposa por parte do médico, pois não foi sua ação mas sim a de sua auxiliar que violou o dever objetivo de cuidado. O médico ministrou a droga fatal impelido pela natural e esperada confiança depositada em sua funcionária. A vida social se tornaria extremamente dificultosa se cada um tivesse de vigiar o comportamento do outro, para verificar se está cumprindo todos os seus deveres de cuidado; por conseguinte, não realiza conduta típica aquele que, agindo de acordo com o direito, acaba por envolver-se em situação em que um terceiro descumpriu seu dever de lealdade e cuidado. Adequação social: todo comportamento que, a despeito de ser considerado criminoso pela lei, não afrontar o sentimento social de justiça (aquilo que a sociedade tem por justo) não pode ser considerado criminoso. Para essa teoria, o Direito Penal somente tipifica condutas que tenham certa relevância social. Por isso é que Jakobs afirma que determinadas formas de atividade permitida não podem ser incriminadas, uma vez que se tornam consagradas pelo uso histórico, isto é, costumeiro, aceitando-se como socialmente adequadas. Página 18 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br Não se pode confundir o princípio em análise com o da insignificância. Na adequação social, a conduta deixa de ser punida por não mais ser considerada injusta pela sociedade; na insignificância, a conduta é considerada injusta, mas de escassa lesividade. Tal teoria é muito criticada, em primeiro lugar, em virtude de que o costume não revoga lei, e, em segundo, porque não pode o juiz substituir- se ao legislador e dar por revogada uma lei incriminadora em plena vigência, sob pena de afrontar ao princípio constitucional da separação de poderes. Além disso, o conceito de adequação social é um tanto quanto vago e impreciso, criando insegurança e excesso de subjetividade na análise material do tipo. Intervenção Mínima: assenta-se na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, cujo art. 8º determinou que a lei só deve prever as penas estritamente necessárias. Se existe um recurso mais suave em condições de solucionar plenamente o conflito, torna-se abusivo e desnecessário aplicar outro mais traumático. A intervenção mínima decorre da dignidade humana, pressuposto do Estado Democrático deDireito, e são uma exigência para a distribuição mais equilibrada da justiça. Proporcionalidade: para este princípio, quando o custo for maior do que a vantagem, o tipo será inconstitucional, porque contrário ao Estado Democrático de Direito. Em outras palavras: a criação de tipos incriminadores deve ser uma atividade compensadora para os membros da coletividade. Com efeito, um Direito Penal democrático não pode conceber uma incriminação que traga mais temor, mais ônus, mais limitação social do que benefício à coletividade. Exemplo de aplicação do princípio da proporcionalidade ocorreu no julgamento dos efeitos da Medida Provisória n. 2045/2000, que proibia o registro de arma de fogo, por considerar não haver proporcionalidade entre Página 19 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br os custos sociais como desemprego e perda de arrecadação tributária e os benefícios que compensassem o sacrifício. Humanidade: a vedação constitucional da tortura e de tratamento desumano ou degradante a qualquer pessoa (art. 5º, III), a proibição de pena de morte, da prisão perpétua, de trabalhos forçados, de banimento e das penas cruéis (art. 5º, XLVII), ..., são exemplos que impõem ao legislador e ao intérprete mecanismos de controle de tipos legais. Disso resulta ser inconstitucional a criação de um tipo ou a cominação de alguma pena que atente desnecessariamente contra a incolumidade física ou moral de alguém. Do princípio da humanidade decorre a impossibilidade de a pena passar da pessoa do delinqüente, ressalvados alguns do efeitos extrapenais da condenação, como a obrigação de reparar o dano na esfera cível, que podem atingir os herdeiros do infrator até os limites da herança (CF, art. 5º, XLV). Necessidade e idoneidade: a incriminação de determinada situação só pode ocorrer quando a tipificação revelar-se necessária, idônea e adequada ao fim a que se destina, ou seja, à concreta e real proteção do bem jurídico. II – Breve História do Direito Penal Nos tempos primitivos os grupos sociais eram envoltos em ambiente mágico e religioso, a peste, a seca e todos os fenômenos naturais maléficos eram tidos como resultantes das forças divinas. Para aplacar a ira dos deuses, criaram-se séries de proibições (religiosas, sociais e políticas), conhecidas por “tabu”, que, não obedecidas, acarretavam castigo. A desobediência ao tabu levava a coletividade à punição do infrator, gerando-se assim o que, modernamente se denominou “crime e pena”. O castigo infligido era o sacrifício da própria vida do transgressor ou a “oferenda por este de objetos valiosos (animais, peles e frutas) à divindade, no altar montado em sua honra”. Página 20 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br A pena, em sua origem mais remota, nada mais significava senão a vingança, revide à agressão sofrida, desproporcionada com a ofensa e aplicada sem preocupação de justiça. 2.1. Fases da Vingança Penal Na denominada fase da vingança privada, cometido um crime, ocorria a reação da vítima, dos parentes e até do grupo social (tribo), que agiam sem proporção à ofensa, atingindo não só o ofensor, como também todo o seu grupo. Se o transgressor fosse membro da tribo, podia ser punido com a “expulsão da paz” (banimento), que o deixava a mercê de outros grupos, que lhe infligiam, invariavelmente, a morte. Caso a violação fosse praticada por elemento estranho à tribo, a reação era a da “vingança de sangue”, considerada como obrigação religiosa e sagrada, “verdadeira guerra movida pelo grupo ofendido àquele a que pertencia o ofensor, culminando, não raro, com a eliminação completa de um dos grupos”. Com a evolução social, para evitar a dizimação das tribos, surge o Talião, que limita à reação à ofensa a um mal idêntico ao praticado (sangue por sangue, olho por olho, dente por dente). Adotado no Código de Hamurabi (Babilônia), no Êxodo e na Lei das XII Tábuas, foi ele um grande avanço na história do Direito Penal por reduzir a abrangência da ação punitiva. Posteriormente, surge a composição, sistema pelo qual o ofensor se livrava do castigo com a compra de sua liberdade (pagamento em moeda, gado, armas, etc). Adotada também pelo Código de Hamurabi, pelo Código de Manu (Índia), etc, foi a composição largamente aceita pelo Direito Germânico, sendo a origem remota das formas modernas de indenização do Direito Civil e da multa do Direito Penal. A fase da vingança divina deve-se a influência decisiva da religião na vida dos povos antigos. O direito Penal impregnou-se de sentido místico desde seus primórdios, já que se devia reprimir o crime como satisfação aos deuses pela ofensa praticada no grupo social. O castigo, ou oferenda, por delegação divina era aplicado pelos sacerdotes que infligiam Página 21 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br penas severas, cruéis e desumanas, visando especialmente à intimidação. Legislação típica dessa fase é o Código de Manu, mas esses princípios foram adotados na Babilônia, no Egito (Cinco Livros), na Pérsia (Avesta) e pelo povo de Israel (Pentateuco). Com a maior organização social, atingiu-se a fase da vingança pública. No sentido de se dar maior estabilidade ao Estado, visou-se à segurança do príncipe ou soberano pela aplicação da pena ainda severa e cruel. Também em obediência ao sentido religioso, o Estado justificava a proteção ao soberano que, na Grécia, por exemplo, governava em nome de Zeus, e era seu intérprete e mandatário. O mesmo ocorreu em Roma, com a aplicação da Lei da XII Tábuas. Em fase posterior, porém, libertou-se a pena de seu caráter religioso, transformando-se a responsabilidade do grupo em individual (do autor do fato), em positiva contribuição ao aperfeiçoamento de humanização dos costumes penais. 2.2. Direito Penal dos Hebreus Substituiu-se a pena de talião pela multa, prisão e imposição de gravames físicos, sendo praticamente extinta a pena de morte, aplicando-se em seu lugar a prisão perpétua sem trabalhos forçados.Os crimes poderiam ser classificados em duas espécies: delitos contra a divindade e crimes contra o semelhante. 2.3. Direito Romano Em Roma, Direito e Religião se separam. É praticamente abolida a pena de morte, substituída pelo exílio e pela deportação. Contribui o Direito Romano decisivamente para a evolução do Direito Penal com a criação de princípios penais sobre o erro, culpa, dolo, imputabilidade, coação irresistível, agravantes, atenuantes, legítima defesa, etc. 2.4. Direito Germânico O Direito Penal germânico primitivo não era composto de leis escritas, mas constituído apenas pelo costume. Ditado por características Página 22 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br acentuadamente de vingança primitiva, estava ele sujeito à reação indiscriminadae à composição. Não existia a distinção entre dolo, culpa e caso fortuito, determinando a punição do autor do fato sempre em relação ao dano por ele causado e não de acordo com o aspecto subjetivo de seu ato. 2.5. Direito Canônico A igreja contribuiu de maneira relevante para a humanização do Direito Penal (por exemplo: proclamou a igualdade entre os homens), embora politicamente sua luta metódica visasse obter o predomínio do Papado sobre o poder temporal para proteger os interesses religiosos de dominação. A jurisdição penal eclesiástica, entretanto, era a favor da pena de morte, entregando-se o condenado ao poder civil para a execução. 2.6. Direito Medieval Era um direito penal pródigo na cominação da pena de morte, executada pelas formas mais cruéis (fogueira, fogo, afogamento, soterramento, enforcamento,...), visava especificamente à intimidação. As sanções penais eram desiguais, dependendo da condição social e política do réu, sendo comuns o confisco, a mutilação, os açoites,... . Página 23 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br AULA 02 CONTINUAÇÃO DA HISTÓRIA DO DIREITO PENAL Ementa: 2.7. Período Humanitário. 2.8. Escola Clássica. 2.9. Período Criminológico e Escola Positiva. 2.10. Tendência Contemporânea. III – Fontes do Direito Penal. IV – Características da Lei Penal. 4.1. Interpretação da Lei Penal. 4.2. Interpretação Analógica e Analogia. 4.3. Princípio “in dúbio pro reo”. 4.4. Princípio da Vedação do Bis in idem. V – Aplicação da Lei Penal e o Princípio da Legalidade. 5.1. Aspectos do princípio da legalidade 2.7. Período Humanitário É no decorrer do Iluminismo que se inicia o denominado Período Humanitário do Direito Penal, movimento que pregou a reforma das leis e da administração da justiça penal no fim do século XVIII. Em 1764, Cesar Bonesana, Marquês de Beccaria, filósofo imbuído dos princípios pregados por Rousseau e Montesquieu, fez publicar em Milão a obra Dei Delitti e delle pene (Dos delitos e das penas), um pequeno livro que se tornou o símbolo liberal ao desumano panorama penal então vigente. Demonstrando a necessidade de reforma nas leis penais. São os seguintes os princípios pregados pelo filósofo: 1) Os cidadãos, por viverem em sociedade, cedem apenas uma parcela de sua liberdade e direitos. Por essa razão, não se podem aplicar penas que atinjam direitos não cedidos, como acontece nos casos da pena de morte e das sanções cruéis. 2) Só as leis podem fixar as penas, não se permitindo ao juiz interpretá-las ou aplicar sanções arbitrárias. 3) As leis devem ser conhecidas pelo povo, redigidas com clareza para que possam ser compreendidas e obedecidas por todos os cidadãos. Página 24 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br 4) A prisão preventiva somente se justifica diante da prova da existência do crime e sua autoria. 5) Devem ser admitidas em Juízo todas as provas, inclusive a palavra dos condenados. 6) Não se justificam as penas de confisco, que atingem os herdeiros do condenado, e as infamantes, que recaem sobre toda a família do criminoso. 7) Não se deve permitir o testemunho secreto, a tortura para o interrogatório e os juízos de Deus, que não levam à descoberta da verdade. 8) A pena deve ser utilizada como profilaxia social, não só para intimidar o cidadão, mas também para recuperar o delinqüente. 2.8. Escola Clássica Para a escola clássica à pena, é tida como tutela jurídica, ou seja, como proteção aos bens jurídicos tutelados penalmente. A sanção não pode ser arbitrária; regula-se pelo dano sofrido. Deve-se mencionar a chamada Escola Correcionalista, de inspiração clássica considera o Direito como necessário a que se cumpra o destino do homem, como uma missão oral da descoberta da liberdade. Deve-se estudar o criminoso para corrigi-lo e recuperá-lo, por meio da pena indeterminada. Não se pode, segundo tais idéias, determinar a priori a duração da pena, devendo ela existir apenas enquanto necessária à recuperação do delinqüente. 2.9. Período Criminológico e Escola Positiva O movimento criminológico do Direito Penal iniciou-se com os estudos do médico italiano e professor em Turim César Lombroso, que publicou em 1876 ou 1878, o famoso livro L’umo delinqüente studiato in rapporto, all’antropologia, alla medicina legale e alle discipline carcerarie, expondo suas teorias e abrindo nova etapa na evolução das idéias penais. Considerando o crime como manifestação da personalidade humana e produto de várias causas, Lombroso estuda o delinqüente do ponto de vista biológico. Criou com seus estudos a Antropologia Criminal e, nela, a figura do criminoso nato. Apesar dos exageros da teoria Página 25 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br lombrosiana, seus estudos abriram nova estrada na luta contra a criminalidade. São as seguintes as idéias de Lombroso: 1) O crime é um fenômeno biológico, não um ente jurídico. 2) O criminoso é um ser atávico e representa a regressão do homem ao primitivismo. É um selvagem e nasce delinqüente como outros nascem sábios ou doentios, fenômeno que na biologia é chamado de degeneração. 3) O criminoso nato apresenta características físicas e morfológicas específicas, como assimetria craniana, fronte fugidia, zigomas salientes, face ampla e larga, cabelos abundantes e barba escassa, etc. 4) O criminoso nato é insensível fisicamente, resistente ao traumatismo, canhoto ou ambidestro, moralmente insensível, impulsivo, vaidoso e preguiçoso. 5) A causa da degeneração que conduz ao nascimento do criminoso é a epilepsia (evidente ou larvada), que ataca os centros nervosos, deturpa o desenvolvimento do organismo e produz regressões atávicas. 6) Existe a “loucura moral”, que deixa íntegra a inteligência, suprimindo, porém o senso moral. 7) O criminoso é, assim, um ser atávico, com fundo epilético e semelhante ao louco moral, doente antes que culpado e que deve ser tratado e não punido. Apesar da evidente incoerência da definição do criminoso nato e dos exageros da escola positiva, os estudos de Lombroso ampliaram os horizontes do Direito Penal. A escola positiva, porém tem seu maior vulto em Henrique Ferri, criador da Sociologia Criminal. Discípulo de Lombroso dividiu os criminosos em cinco categorias: o nato, conforme propusera Lombroso; o louco, portador de doença mental; o habitual, produto do meio social; o ocasional, indivíduo sem firmeza de caráter e versátil na prática do crime; e o passional, homem honesto, mas de temperamento nervoso e sensibilidade exagerada. Os princípios básicos da escola positiva são, em resumo: Página 26 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br 1) O crime é fenômeno natural e social, sujeito às influências do meio e de múltiplos fatores, exigindoo estudo experimental. 2) A responsabilidade penal é responsabilidade social, por viver o criminoso em sociedade, e tem por sua base a periculosidade. 3) A pena é medida de defesa social, visando a recuperação do criminoso ou à sua neutralização. 4) O criminoso é sempre, psicologicamente, um anormal, de forma temporária ou permanente. 2.10. Tendência Contemporânea Hoje os penalistas passaram a preocupar-se com a pessoa do condenado em uma perspectiva humanista, instituindo-se a doutrina da Nova Defesa Social. Para esta, a sociedade deve proporcionar a adaptação do indivíduo ao convívio social. III – Fontes do Direito Penal Fonte é o lugar de onde provém a norma. As fontes do direito penal podem ser materiais ou formais. a) Fonte material: São também chamadas de fontes de produção ou substancial. Nos termos do art. 22, I, da CF, a fonte material da norma penal é o Estado, já que compete a União legislar sobre direito penal. b) Fonte formal, de cognição ou de conhecimento: Subdividem-se, por sua vez, em: b1) Formais imediatas: são as leis penais. As normas penais possuem técnica diferenciada, uma vez que o legislador não declara que uma conduta ou outra constitui crime. Na verdade, a norma penal descreve uma conduta (conduta típica) e estabelece uma pena para aqueles que a realizam. Há, entretanto, algumas normas penais com descrição e finalidade diversas. Por isso, pode-se dizer que os dispositivos penais se classificam da seguinte forma: Página 27 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br b1a) Normas penais incriminadoras. São aquelas que definem as infrações e fixam as respectivas penas. Ex: art. 121. “Matar alguém” – É o chamado preceito primário da norma penal incriminadora. “Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos”. É o chamado preceito secundário. As normas penais incriminadoras estão previstas na Parte Especial do Código Penal e também nas leis especiais. b1b) Normas penais permissivas. São as que preveem a licitude ou a impunidade de determinados comportamentos, apesar de estes se enquadrarem na descrição típica. Podem estar na Parte Geral, nos arts. 20 a 25, que tratam de excludentes de ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade, etc.), ou na própria parte especial (arts. 128, 142, etc). b1c) Normas penais complementares ou explicativas. São as que esclarecem o significado de outras normas ou limitam o âmbito de sua aplicação. Podem estar na Parte Geral (arts. 4º, 5º, 7º, 10 a 12, etc) ou na Parte Especial (art. 327, p. ex. que define funcionário público para fins penais como sendo aquele que embora transitoriamente ou sem remuneração exerce cargo, emprego ou função pública). b2) Formais mediatas. São os costumes e os princípios gerais de direito. b2a) Costumes. Conjunto de normas de comportamento a que as pessoas obedecem de maneira uniforme e constante pela convicção de sua obrigatoriedade. O costume não revoga a lei, mas serve para integrá-la, uma vez que, em várias partes do Código Penal, o legislador se utiliza de expressões que ensejam a invocação do costume para chegar ao significado exato do texto. Exs: reputação (art. 139), dignidade e decoro (art. 140), ato obsceno (art. 233) etc. O costume também não cria delitos, em razão do princípio constitucional da reserva legal, pois, segundo este, “não há crime sem lei Página 28 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (art. 5º XXXIX). b2b) Princípios gerais de direito. Segundo Carlos Roberto Gonçalves, “são regras que se encontram na consciência dos povos e são universalmente aceitas, mesmo que não escritas. Tais regras, de caráter genérico, orientam a compreensão do sistema jurídico, em sua aplicação e integração, estejam ou não incluídas no direito positivo”. São comandos jurídicos de abrangência muito maior que as regras jurídicas; estas são dirigidas a uma situação concreta; os princípios regem um conjunto enorme de situações. Os princípios são de caráter genérico, orientam a compreensão do sistema jurídico, em sua aplicação e integração, estejam ou não incluídos expressamente no Direito positivo. De qualquer forma, não há dúvida de que o princípio positivado (explícita ou implicitamente) na CF tem relevância redobrada. Na verdade, a arte de entender o sistema jurídico reside justamente na capacidade de compaginar os rais de incidência de todos os princípios conjugadamente. IV – Características da Lei Penal a) Exclusividade: Somente a norma penal define crimes e comina penas (princípio da legalidade). b) Imperatividade: A norma penal é imposta a todos, independentemente de sua vontade. Assim, praticada uma infração penal, o Estado deverá buscar a aplicação da pena. c) Generalidade: A norma penal vale para todos (erga omnes). d) Impessoalidade: A norma penal é abstrata, sendo elaborada para punir acontecimentos futuros e não para punir pessoa determinada. 4.1. Interpretação da Lei Penal Tem por finalidade buscar o exato significado da norma penal. Quanto à origem, ou seja, quanto ao sujeito que interpreta a lei, ela pode ser: autêntica ou legislativa, doutrinária ou científica e jurisprudencial ou judicial. Página 29 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br Autentica ou legislativa: é a interpretação dada pela própria lei, feita pelo próprio legislador, a qual, em um de seus dispositivos, esclarece determinado assunto. Ex: o art. 150, §§ 4º e 5º, diz o que se considera e o que não se considera como “casa”, no crime de violação de domicílio. O conceito de funcionário público que é dado pelo art. 327 CP. Doutrinária ou Científica: é a interpretação feita pelos estudiosos, professores e autores de obras de direito, por seus livros, artigos, conferências, palestras, etc. Jurisprudencial ou Judicial: é aquela feita pelos tribunais e juízes em seus julgamentos. Quanto ao modo ou meio empregado, a interpretação pode ser: gramátical, literal ou sintática, teleológica ou lógica, histórica e sistemática. Gramatical, literal ou sintática: que leva em conta o sentido literal das palavras contidas na lei. Teleológica ou lógica: que busca descobrir o seu significado por uma análise acerca dos fins a que ela se destina. Histórica: que avalia os debates que envolveram sua aprovação e os motivos que levaram à apresentação do projeto de lei. Sistemática: que busca o significado da norma pela integração com os demais dispositivos de uma mesma lei e com o sistema jurídico como um todo. Quanto ao resultado, a interpretação pode ser: declarativa, restritiva ou extensiva. Declarativa: nesta se conclui que a letra da lei corresponde exatamente àquilo que o legislador quis dizer. Página 30 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. ClaudineRodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br Restritiva: se conclui que o texto legal abrangeu mais do que queria o legislador (por isso a interpretação irá restringir seu alcance). Extensiva: quando se conclui que o texto da lei ficou aquém da intenção do legislador (por isso a interpretação irá ampliar sua aplicação). 4.2. Interpretação Analógica e Analogia A interpretação analógica é possível quando, dentro do próprio texto legal, após uma sequência casuística, o legislador se vale de uma fórmula genérica, que deve ser interpretada de acordo com os casos anteriores: Exs: 1) O crime de estelionato (art. 171), de acordo com a descrição legal, pode ser cometido mediante artifício, ardil ou qualquer outra fraude; 2) O art. 28, II, estabelece que não exclui o crime a embriaguez por álcool ou por substância de efeitos análogos (o intérprete deve verificar (para a adequação típica) se a substância concreta tem efeito análogo ao do álcool). Assim, na interpretação analógica fazem parte do sentido literal outras situações análogas às descritas. Em suma, ocorre a interpretação analógica quando a lei utiliza fórmulas específicas (dirigir sob a influência do álcool) seguida de uma cláusula genérica (ou outras substâncias de efeitos análogos). A analogia somente é aplicável em casos de lacuna da lei, ou seja, quando não há qualquer norma regulando o tema. Fazer uso dela significa aplicar uma norma penal a um fato não abrangido por ela nem por qualquer outra lei, em razão de tratar-se de fato semelhante àquele que a norma regulamenta. A analogia, portanto, é forma de integração da lei penal e não forma de interpretação. Na analogia o caso examinado não se enquadra no sentido literal possível e a ele se aplica, por analogia, outro dispositivo legal (em razão da semelhança). Onde há a mesma razão aplica-se o mesmo direito. Na analogia aplica-se uma lei prevista para um caso A a um caso B, semelhante, só se admite quando benéfica ao réu (in bonam partem). Por Página 31 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br força da garantia da Lex stricta é impossível analogia contra o réu (in malam partem) em Direito Penal. Ex: No clássico exemplo do médico que está autorizado a fazer o aborto quando a gravidez resulta de estupro (art. 128, II CP) é possível analogia para admitir o aborto no caso de gravidez proveniente de atentado violento ao pudor. Seria uma analogia bonam partem, em favor de quem fez o aborto, logo, é admitida. Trata-se de causa de exclusão da ilicitude prevista exclusivamente para a hipótese de gravidez decorrente de estupro. No entanto, como não se trata de norma incriminadora, mas, ao contrário, permissiva (permite a prática de fato descrito como crime, no caso, o aborto), é possível estender o benefício, analogicamente, à gravidez resultante de atentado violento ao pudor). 4.3. Princípio “in dúbio pro reo” Esgotada a atividade interpretativa sem que se tenha conseguido extrair o significado da norma, a solução será dar interpretação mais favorável ao acusado. Ou seja, se persistir dúvida, após a utilização de todas as formas interpretativas, a questão deverá ser resolvida da maneira mais favorável ao réu. 4.4. Princípio da vedação do bis in idem Significa que ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo fato. Além disso, por esse princípio, determinada circunstância não pode ser empregada duas vezes em relação ao mesmo crime, quer para agravar, quer para reduzir a pena. Assim, quando alguém comete um homicídio por motivo fútil, incide a qualificadora do art. 121, §2º, II do CP, mas não pode ser aplicada, concomitantemente, a agravante genérica do motivo fútil, prevista no art. 61, II, a. V. Aplicação da Lei Penal e o Princípio da Legalidade Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. Página 32 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br Base Constitucional: Constituição Federal, art. 5º XXXIX. A maioria dos autores considera o princípio da legalidade sinônimo de reserva legal, afirmando serem equivalentes as expressões. Assim, a doutrina orienta-se maciçamente no sentido de não haver diferença conceitual entre legalidade e reserva legal. Fernando Capez discorda desse entendimento, e acredita que o princípio da legalidade é gênero que compreende duas espécies: reserva legal e anterioridade da lei penal. Com efeito, o princípio da legalidade corresponde aos enunciados dos arts. 5º XXXIX, da CF e 1º do Código Penal (“não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”) e contém nele embutidos, dois princípios diferentes: o da reserva legal, reservando para o estrito campo da lei a existência do crime e sua correspondente pena (não há crime sem lei que o defina, nem pena sem cominação legal), e o da anterioridade, exigindo que a lei esteja em vigor no momento da prática da infração penal (lei anterior e prévia cominação). Assim, a regra do art. 1º, denominada princípio da legalidade, compreende os princípios da reserva legal e da anterioridade. 5.1. Aspectos do princípio da legalidade. a) Aspecto Político: trata-se de garantia constitucional fundamental do homem. O tipo exerce função garantidora do primado da liberdade porque, a partir do momento em que somente se pune alguém pela prática de crime previamente definido em lei, os membros da coletividade passam a ficar protegidos contra toda e qualquer invasão arbitrária do Estado em seu direito de liberdade. Resumidamente, pode-se concluir que o princípio da legalidade, no campo penal, corresponde a uma aspiração básica e fundamental do homem, qual seja, a de ter uma proteção contra qualquer forma de tirania e arbítrio dos detentores do exercício do poder, capaz de lhe garantir a convivência em sociedade, sem o risco de ter a sua liberdade cerceada pelo Estado, a não ser nas hipóteses previamente estabelecidas em regras gerais, abstratas e impessoais. Página 33 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br b) Aspecto Jurídico: somente haverá crime quando existir perfeita correspondência entre a conduta praticada e a previsão legal. Obs. Só há crime quando presente a perfeita correspondência entre o fato e a descrição legal, torna-se impossível sua existência sem lei que o descreva. Conclui-se que só há crime nas hipóteses taxativamente previstas em lei. Princípios Inerentes ao princípio da legalidade: são dois: reserva legal e anterioridade da lei penal. 1º) Princípio da Reserva Legal: somente a lei, em seu sentido mais estrito, pode definir crimes e cominar penalidades, pois “a matéria penal deve ser expressamente disciplinada por uma manifestação de vontade daquele poder estatal a que, por força da Constituição, compete a faculdade de legislar, isto é, o poder legislativo”. a) Reserva absoluta de lei: nenhuma outra fonte subalterna pode gerar a norma penal, uma vez que a reserva de lei proposta pela CF é absoluta, e não meramente relativa. Nem seria admissívelque restrições a direitos individuais pudessem ser objeto de regramento unilateral pelo Poder Executivo. Assim, somente a lei, na sua concepção formal e estrita, emanada e aprovada pelo Poder Legislativo, por meio de procedimento adequado, pode criar tipos e impor penas. IMPORTANTE: Medida Provisória não é lei, porque não nasce no Poder Legislativo. Tem força de lei, mas não é fruto da representação popular. Por essa razão, não pode, sob pena de invasão da esfera de competência de outro Poder, dispor sobre matéria penal, criar crimes e cominar penas. b) Taxatividade e vedação ao emprego da analogia: a lei penal deve ser precisa, uma vez que um fato só será considerado criminoso se houver perfeita correspondência entre ele e a norma que o descreve. A lei penal delimita uma conduta lesiva, apta a pôr em perigo um bem jurídico relevante, e prescreve-lhe uma conseqüência punitiva. Ao fazê-lo, não permite que o tratamento punitivo cominado possa ser estendido a uma Página 34 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br conduta que se mostre aproximada ou assemelhada. É que o princípio da legalidade ao estatuir que não há crime sem lei que o defina, exigiu que a lei definisse (descrevesse) a conduta delituosa em todos os seus elementos e circunstâncias a fim de que somente no caso de integral correspondência pudesse o agente ser punido. Por esta razão o princípio da reserva legal veda por completo o emprego da analogia em matéria de norma penal incriminadora, encontrando-se esta delimitada pelo tipo legal a que corresponde. Em conseqüência, até por imperativo lógico, do princípio da reserva legal, resulta a proibição da analogia. Evidentemente a analogia in malam partem, que, por semelhança, amplia o rol da infrações penais e das penas. Não alcança, por isso, a analogia in bonam partem.Ao contrário da anterior, favorece o direito de liberdade, seja a exclusão da criminalidade, seja pelo tratamento mais favorável ao réu. c) Taxatividade e descrição genérica: a reserva legal impõe também que a descrição da conduta criminosa seja detalhada e específica, não se coadunando com tipos genéricos, demasiadamente abrangentes. O processo de generalização estabelece-se com a utilização de expressões vagas e sentido equívoco, capazes de alcançar qualquer comportamento humano e, por conseguinte, aptas a promover a mais completa subversão no sistema de garantias de legalidade. De nada adiantaria exigir a prévia definição da conduta na lei se fosse permitida a utilização de termos muitos amplos, tais como: “qualquer conduta contrária aos interesses nacionais”, etc. Há que se atentar, no entanto, para certas exceções. A proibição de cláusulas gerais não alcança, evidentemente, os crimes culposos, porque neles, por mais atento observador que possa ser o legislador, não terá condições de pormenorizar todas as condutas humanas ensejadoras da composição típica. Qualquer tentativa de detalhamento de uma conduta culposa seria insuficiente para abarcar o imenso espectro de ações do ser humano. Daí a razão, no caso de crimes culposos, das previsões típicas serem todas genéricas, limitando-se o legislador a dizer: “se o crime é culposo, pena de tanto a tanto”. Como poderia a lei antever todas as Página 35 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br formas de cometer um homicídio por imprudência, negligência ou imperícia? Por isso, os tipos culposos são denominados abertos e excepcionam a regra da descrição pormenorizada. No que tange às modalidades dolosas, salvo algumas exceções de tipos abertos, como ato obsceno, no qual não se definem os elementos da conduta, os crimes deverão ser descritos detalhadamente. As fórmulas excessivamente genéricas criam insegurança no meio social, deixando ao juiz larga e perigosa margem de discricionariedade. d) Conteúdo material do princípio da reserva legal: se quer a busca de um conceito material, ontológico de crime, segundo o qual somente possam ser consideradas pelo legislador como delituosas as condutas que efetivamente coloquem em risco a existência da coletividade. Suponhamos, por exemplo, fosse criado um tipo penal definindo como criminoso o ato de sorrir, nos seguintes moldes: “sorrir abertamente, em momentos de alegria, nervosismo ou felicidade – pena de seis meses a um ano de detenção”. Formalmente, estariam preenchidas todas as garantias do princípio da reserva legal: fato previsto em lei e descrito com todos os seus elementos. A “olho nu” esse tipo é, no entanto, manifestamente inconstitucional, porque materialmente a conduta incriminada não representa qualquer ameaça à sociedade. A criação de tipos penais que afrontem a dignidade da pessoa humana colide frontalmente com um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. Por esse motivo, a moderna concepção do Direito Penal não deve ser dissociada de uma visão social, que busque justificativa na legitimidade da norma legal. 2º) Princípio da anterioridade da lei penal: é necessário que a lei já esteja em vigor na data em que o fato é praticado. “Dado o princípio da reserva legal, a relação jurídica é definida pela lei vigente à data do fato. Um dos efeitos decorrentes da anterioridade da lei penal é a irretroatividade, pela qual a lei penal é editada para o futuro e não para o passado. Página 36 / 99 Rua Ramiro Barcelos, 892, Centro - Santa Cruz do Sul – RS - CEP 96810-050 Site: www.domalberto.edu.br CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOM ALBERTO Curso de Direito Direito Penal I Profa. Claudine Rodembusch Rocha claudinerodembusch@yahoo.com.br AULA 03 CONTINUAÇÃO DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL Ementa: 5.2. Retroatividade da Lei Penal Benéfica. 5.3. Lei Excepcional ou Temporária. 5.4. Tempo do Crime. 5.5. Lugar do Crime. 5.6. Territorialidade. 5.7. Extraterritorialidade. 5.8. Pena cumprida no Estrangeiro. 5.2. Retroatividade da Lei Penal Benéfica O art. 2º, caput,do Código Penal determina “que ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela (da lei posterior) a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”. Nessa mesma linha, a Constituição Federal em seu art. 5º XL, estabelece que lei penal só retroagirá para beneficiar o acusado. Assim, se uma pessoa comete um delito na vigência de determinada lei e, posteriormente, surge outra lei que deixa de considerar o fato como crime, deve-se considerar como se essa nova lei já estivesse em vigor na data do delito (retroatividade) e, dessa forma, não poderá o agente ser punido. O dispositivo é ainda mais abrangente quando determina que, mesmo já tendo havido condenação transitada em julgado em razão do crime, cessará a execução, ficando também afastados os efeitos penais da condenação. Por isso, se no futuro o sujeito vier a cometer novo crime, não será considerado reincidente. Já o parágrafo único do art. 2º dispõe que a lei posterior, que de qualquer modo favoreça o réu, aplica-se a fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Nessa hipótese, a lei posterior continua a considerar o fato como criminoso, mas traz alguma benesse ao acusado: pena menor, maior facilidade para obtenção de livramento condicional, etc.
Compartilhar