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Paper Industria Cultural no Brasil decada de 60

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Industria cultural no Brasil e a indústria fonográfica
Watuzi Rebelo da Silva
Aluna de graduação de ciências sociais
Universidade Federal de Goiás
CAC - Campus Avançado de Catalão
Departamento de História e Ciências Sociais
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo demonstrar como se sucedeu a implantação da indústria cultural no Brasil a partir da década de 60, com o advento da televisão no país e paralelamente o rádio como ferramentas fundamentais para a criação e expansão de gêneros musicais de marcaram e modificaram o comportamento de uma geração de jovens. Entre estes gêneros será falado sobre a Jovem Guarda e a MPB, estilos musicais estes que alavancaram e enriqueceram a indústria fonográfica no Brasil.
Palavras chave: Indústria Cultural, televisão, rádio, Industria Fonográfica. 
Introdução
A indústria cultural no Brasil tem início na década de 50 e 60 e coincide com a chegada da televisão no país, é importante ressaltar também que neste momento serão feitas as traduções dos artigos da Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer e Benjamin) onde residem a “crítica da arte nas sociedades industrializadas e da indústria cultural” (ORTIZ,1985), a década de 60 no Brasil é marcada pela consolidação de vários gêneros musicais como a MPB e a Jovem Guarda, ambos provenientes da disputa acirrada entre as redes de televisões da época, que se empenhavam em criar festivais e programas de auditório, para com isso alavancar vendas de discos e consequentemente a obtenção de lucros. O rádio outro meio de comunicação muito importante para a disseminação da cultura de massa no brasil conjuntamente com a televisão, são os objetos de estudos dos frankfurtianos. 
Com isso é gerado artistas icônicos que marcarão uma geração de jovens, como Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Vanderléia que comandavam o programa de auditório Jovem Guarda da TV Record entre os anos de 1965 e 1968, enquanto os cantores Jair Rodrigues e Elis Regina comandavam outro programa também na TV Record chamado O Fino da Bossa onde lançava outros artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Milton Nascimento. Entretanto o fenômeno jovem guarda ultrapassa o campo televisivo e passa a integrar o modo de vida dos jovens brasileiros. Inspirado pelo rock and roll dos Beatles, Elvis Presley e entre outros artistas britânicos e estadunidenses o Brasil cria seus próprios ídolos. Já a MPB ganha um caráter mais intelectualizado não sendo reproduzido e consumido do mesmo modo que a Jovem Guarda, bem mais politizado com letras de músicas que ilustravam o momento histórico que passava o país. Com relação a essa extrema reprodução e massificação o sociólogo Renato Ortiz disserta:
Um texto que analisa de forma detalhada o processo de padronização é o de Adorno (1941) sobre a música popular. Ele parte do princípio que este tipo de música, contrariamente a clássica, se desenvolve num mercado competitivo. Enquanto mercadoria a ser vendida ela deve se constituir em sucesso, o que faz com que as agências procurem repetir os padrões já aceitos pelo mercado. A música de sucesso se identifica assim a uma fórmula consagrada; cabe a indústria cultural, ao lançá-la, produzir um estímulo que provoque permanentemente a atenção do ouvinte. O problema consiste em tornar reconhecível o estímulo proposto. O estudo de MacDougald (1942) no qual se baseia Adorno, mostra empiricamente como se fabrica um hit parade. Retomando o termo utilizado pelas agências mercadológicas, o autor mostra como se arquiteta o processo de plugging que visa fixar o ouvinte à mercadoria oferecida; tudo consiste em repetir inúmeras vezes um determinado tipo de música para que se rompa uma possível resistência do receptor. Existe toda uma política das gravadoras e distribuidoras que faz com que os radialistas atuem de acordo com seus interesses, repetindo no rádio o que havia sido fabricado para se transformar em sucesso. É interessante observar que os estudos de Adorno antecipam certas análises de Bourdieu sobre as instâncias consagradoras dos bens culturais. O conceito de indústria cultura não se restringe à produção, mas se estende a distribuição e a reprodução. O processo de padronização deve contar com o auxílio dos radialistas e jornalistas que atuam em conjunto com os meios produtores, reforçando assim a legitimidade do material distribuído no mercado. (ORTIZ, 1985, p. 15)
É possível perceber a capacidade das mídias em conceber ou aumentar o sucesso das carreiras de artistas como é o caso do cantor Roberto Carlos que já que vinha emplacando muitos sucessos e cultivava uma legião de fãs antes do programa, contudo se torna campeão de venda de discos juntamente com seus companheiros de programa, esgotando discos nas lojas de todo o Brasil. Criam gírias que são amplamente utilizadas pelos jovens da época, foi criada uma grife chamada “Calhambeque”, que vendia itens desde roupas, botas, chaveiros, bonés e até artigos escolares. Essa forte influência na vida dos jovens é ilustrada graças a introdução da televisão na vida cotidiana dos brasileiros, pois assim era possível ver em tempo real quais roupas, cortes de cabelo, o modo de falar, de dançar e a maneira de se comportar que eram utilizados pelos artistas. O rádio é um outro meio de comunicação que fortalecerá esse processo de expansão da indústria cultural no Brasil. Isso pode se evidenciar no que diz Edgar Morin em seu livro intitulado “Cultura de Massas no século XX” diz ele:
Um olimpo de vedetes domina a cultura de massa, mas se comunica, pela cultura de massa, com a humanidade corrente. Os olimpianos, por meio de sua dupla natureza, divina e humana, efetuam a circulação permanente entre o mundo da projeção e o mundo da identificação. Eles realizam os fantasmas que os mortais não podem realizar, mas chamam os mortais para realizar o imaginário. A esse título os olimpianos são os condensadores energéticos da cultura de massa. Sua segunda natureza divina, fá-los participar também da vida de cada um. Conjugando a vida quotidiana e a vida olimpiana, os olimpianos se tornam modelos de cultura no sentido etnográfico do termo, isto é, modelos de vida. São heróis modelos. Encarnam os mitos de auto realização da vida privada. (MORIN, 1997, p. 107) 
Conclusão
Logo deriva-se uma noção de que a Jovem Guarda por ser caracterizada pela sua grande massificação e reprodução e com um teor musical mais ligado a questões tidas como superficiais, fazendo surgir a ideia que os indivíduos consumidores desse gênero são provenientes de classes populares e a crítica direcionada a este gênero sempre é negativa, enquanto a MPB com suas letras e artistas engajados politicamente e posta quase como uma cultura legitima. Sendo necessário considerar que os artistas da MPB estavam realmente preocupados com a situação vivenciada no país a partir do ano de 64 – ditadura militar – porém a indústria fonográfica que produziu tais gênero musicais era a mais privilegiada e a que mais obtinha os lucros do sucesso que faziam os artistas de ambos os gêneros musicais. 
A criação de dois programas no mesmo canal é prova de que não havia interesse em privilegiar ou tornar hegemônico somente um estilo musical. E sim, a de produzir artistas que pudessem agradar ao maior número de espectadores, observando o grande antagonismo entre os dois gêneros e seus consumidores.
REFERÊNCIAS 
OLIVEIRA, M. Adriana. A JOVEM GUARDA E A INDÚSTRIA CULTURAL: análise da relação entre o Programa Jovem Guarda, a indústria cultural e a recepção de seu público. Fortaleza, 2009. Disponível em: < http://anais.anpuh.org/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.0139.pdf. Acesso em: 7 jan. de 2018.
ORTIZ, Renato. A ESCOLA DE FRANKFURT E A QUESTÃO DA CULTURA. São Paulo, 1985.
MORIN, Edgar. Cultura de Massas no Século XX: O espírito do tempo – 1 NEUROSE. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 1997.

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