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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE ARAÇATUBA CURSO DE TECNOLOGIA EM BIOCOMBUSTÍVEIS ANTÔNIO DONISETE THEODORO EXPANSÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR NO BRASIL: OCUPAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL DO CERRADO Araçatuba 2011 FACULDADE DE TECNOLOGIA DE ARAÇATUBA CURSO DE TECNOLOGIA EM BIOCOMBUSTÍVEIS ANTÔNIO DONISETE THEODORO EXPANSÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR NO BRASIL: OCUPAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL DO CERRADO Trabalho de Graduação apresentado à Faculdade de Tecnologia de Araçatuba, do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Sousa, como requisito parcial para conclusão do curso de Tecnologia em Biocombustíveis sob a orientação do Prof. Dr. Osvaldino Brandão Junior Araçatuba 2011 Theodoro, Antônio Donisete Expansão da cana-de-açúcar no Brasil: ocupação da cobertura vegetal do Cerrado / Theodoro, Antônio Donisete -- Araçatuba, SP: Fatec, 2011. 60f. : il. Trabalho (Graduação) – Apresentado ao Curso de Tecnologia em Biocombustíveis, Faculdade de Tecnologia de Araçatuba, 2011. Orientador: Prof. Dr. Osvaldino Brandão Junior 1. Expansão canavieira. 2. Meio ambiente. 3. Cerrado. II. Título. CDD – 333.9539 FACULDADE DE TECNOLOGIA DE ARAÇATUBA CURSO DE TECNOLOGIA EM BIOCOMBUSTÍVEIS ANTÔNIO DONISETE THEODORO EXPANSÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR NO BRASIL: OCUPAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL DO CERRADO Trabalho de Graduação apresentado à Faculdade de Tecnologia de Araçatuba, do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Sousa, como requisito parcial para conclusão do curso de Tecnologia em Biocombustíveis examinado pela banca examinadora composta pelos professores _____________________________________ Dr. Osvaldino Brandão Junior Orientador - Fatec - Araçatuba _____________________________________ Ms. Ronaldo da Silva Viana Fatec - Araçatuba _____________________________________ Ms. Sérgio Ricardo Lima Negro Fatec - Araçatuba Araçatuba 2011 AGRADECIMENTOS A Deus pelos objetivos alcançados, que diariamente coloca luz e energia em nossos caminhos, da forma mais surpreendente que só ele sabe. Às professoras Dra. Lucinda Giamprietro Brandão e Dra. Analu Giampietro Brandão, pelas orientações e correções do trabalho. Ao professor Dr. Osvaldino Brandão Junior, que de imediato aceitou o convite para orientador, demonstrando presteza, gentileza e boa vontade. Ao Agrônomo e amigo Joaquim Lemos, por ter fornecido parte do material para a elaboração desse trabalho. À professora Me. Karenine Miracelly Rocha da Cunha, pela dedicação e gentileza na correção desse trabalho. RESUMO Com o crescimento da produção da cana-de-açúcar, o Brasil necessita de grandes áreas para seu cultivo, isso pode aumentar ainda mais os impactos sobre as áreas de vegetação nativa, principalmente no bioma Cerrado. O presente trabalho teve como objetivo buscar, por meio de levantamento bibliográfico, informações sobre a expansão da cana-de-açúcar ao longo da história do Brasil, além de pesquisar os motivos e as consequências dessa expansão sobre a vegetação do Cerrado. A questão levantada é se o crescimento da área plantada de cana-de- açúcar pode ocorrer em harmonia com o Cerrado, já que a atual projeção indica que a expansão ocorrerá em sua área. Como resultado comprova-se que o Brasil possui uma grande área que pode ser utilizada para o futuro crescimento do setor sucroalcooleiro, porém vários aspectos e mudanças quanto à atual postura de exploração territorial tem que ser modificadas. Palavras Chaves: Expansão canavieira. Etanol. Meio ambiente. Cerrado. ABSTRACT With the growth in production of cane sugar Brazil needs large areas for cultivation, it may further increase the impacts on native vegetation, especially in the Cerrado. This paper aims to search on bibliographical information on the expansion of sugar cane throughout the history of Brazilin addition to search the reasons and consequences of this expansion on the Cerrado vegetation . The question raised is whether the growth of the area planted with cane sugar may occur in harmony with the Cerrado, since the current projection indicates that the expansion will occur in your area. The result shows that Brazil has a large area that can be used for future growth of ethanol producers, but several aspects and changes concerning the current posture of territorial exploitation have to be modified. Key words: Sugarcane expansion. Ethanol. Environment. Cerrado. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Mapa da localização do bioma Cerrado...................................................................26 Figura 2: Distribuição espacial das classes de uso da terra no bioma Cerrado.......................35 Figura 3: Mapa do bioma Cerrado contendo a distribuição espacial das áreas com vegetação (verde), desmatamento acumulado até 2008 (marrom) e corpos d’água (azul).........................................................................................................................................36 Figura 4: Incêdio em vegetação nativa do Cerrado provocado pela queima da cana-de- açúcar........................................................................................................................................41 Figura 5: Proximidade do canavial com a vegetação nativa...................................................42 Figura 6: Plantação de cana-de-açúcar próxima à margem do rio..........................................46 Figura 7: Predomínio da produção extensiva da cana-de-açúcar............................................49 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Evolução da área, produção e produtividade Brasileira da cana-de-açúcar a partir de 1975......................................................................................................................................16 Tabela 2: Porcentagem e tamanho das áreas dos biomas do Brasil.........................................25 Tabela 3: Porcentagem da área do Brasil, DF e Estados cobertos pelo bioma Cerrado......................................................................................................................................27 Tabela 4: Produção de cana-de-açúcar no Brasil e estados que compreendem o bioma Cerrado......................................................................................................................................31 Tabela 5: Situação do desmatamento no Cerrado, por Estado, período de 2002 à 2008...........................................................................................................................................39 Tabela 6: Emissões líquidas de dióxido de carbono por bioma para o período 1988 – 1994...........................................................................................................................................52 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Economia da área plantada da cana-de-açúcar em milhões de hectares entre 1975 e 2005...........................................................................................................................................19 Gráfico2: Regiões produtoras de cana-de-açúcar, milhões de toneladas por ano...................30 Gráfico 3: Produção de soja nos estados brasileiros................................................................32 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 10 1. INÍCIO DA EXPANSÃO CANAVIEIRA NO BRASIL ..................................................... 12 1.1 Introdução da cana-de-açúcar no Brasil..............................................................................12 1.2 Distribuição da monocultura canavieira no Brasil..............................................................12 1.3 Crescimento canavieiro no Brasil Colônia e Império.........................................................14 2. EVOLUÇÃO BRASILEIRA DA CANA-DE-AÇÚCAR A PARTIR DO SÉCULO XX...15 2.1 Expansão potencializada pelo etanol..................................................................................15 2.2 Necessidades energéticas....................................................................................................15 2.3 Exploração não sustentável.................................................................................................17 2.4 Primeiras preocupações ambientais....................................................................................18 2.5 Tecnologia a favor do meio ambiente.................................................................................19 3. EXPANSÃO ATUAL...........................................................................................................21 3.1 Fatores que influenciam a expansão canavieira..................................................................21 3.2 Etanol como alternativa global aos combustíveis fósseis...................................................22 3.3 Centralizações dos negócios sucroalcooleiro......................................................................23 4. PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR NO CERRADO..................................................25 4.1 Caracterização do Cerrado..................................................................................................25 4.2 Pressão sobre o Cerrado......................................................................................................28 4.3 Ocupação do Cerrado..........................................................................................................32 4.4 Consequência da queima da cana-de-açúcar para a vegetação ..........................................40 5. CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL NA OCUPAÇÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR NO CERRADO................................................................................................................................44 5.1 Ações para a sustentabilidade no setor sucroalcooleiro......................................................44 5.2 Integração cana-de-açúcar pecuária na conservação da vegetação nativa..........................48 5.3 Desmatamento no contexto da mudança do clima..............................................................50 5.4 Cana-de-açúcar no contexto de emissão e assimilação do dióxido de carbono..................53 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................55 REFERÊNCIAS........................................................................................................................57 10 INTRODUÇÃO Há milhares de anos o homem já dependia de alguma forma de energia para sua sobrevivência e, segundo Nogueira e Lora (2003), essa energia era obtida principalmente por meio de plantas. Com o aparecimento de novas tecnologias após a revolução industrial no século XVIII associado ao grande crescimento populacional nos últimos séculos, a humanidade passou a utilizar uma grande quantidade de energia. Com todas essas transformações ao longo do tempo, o mundo vive o dilema de como suprir essas necessidades sem que, no entanto, provoque danos ao meio ambiente do qual se extrai a energia. Com o aumento da quantidade de energia associado à grande demanda por alimento pelo homem, muitas transformações ocorreram no decorrer da história, principalmente quanto à forma de sua obtenção e utilização. De acordo com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) (2009), a segurança energética é um dos principais desafios deste século. O aumento do consumo de energia, associado ao problema da mudança do clima, principalmente o efeito estufa, ensejam a necessidade de ações mais coordenadas e sustentáveis em seus aspectos ambientais. Nesse sentido, o Brasil tem a contribuir, pois possui uma posição de destaque no cenário mundial, principalmente por sua forte estratégia em agroenergia, que representa mais da metade dessa fonte renovável. Na atualidade o conceito de energia no Brasil mudou, tendo em mente a substituição da energia de origem fóssil e de outros recursos não renováveis pela bioenergia, que reúnem importantes vantagens econômicas e ambientais (NOGUEIRA; LORA, 2003); além da economia dos recursos não renováveis. Esta substituição de energia é de fundamental importância para o desenvolvimento do país, porém deve ocorrer de forma planejada, pois utiliza grandes quantidades dos recursos naturais renováveis. O Brasil possui uma grande extensão territorial, clima, solo e outras condições favoráveis ao cultivo da cana-de-açúcar para produção principalmente de álcool e açúcar; porém a troca de um tipo de energia pela outra não basta. Pois essa mudança estratégica advinda da exploração da biomassa, no nosso caso figurando como a principal a cana-de- açúcar, pode trazer ainda consequências graves para o meio ambiente, por isso é necessário traçar metas para sua correta utilização. Na concepção mundial o Brasil é considerado um país que ainda tem muito potencial a ser explorado tanto para alimento como energia. No entanto, seu crescimento e 11 desenvolvimento econômico desordenado herdado desde seu descobrimento fez com que ficassem de lado questões importantes como as ambientais. Tendo em vista o potencial brasileiro para suprir as necessidades tanto para alimento e energia por meio da utilização de seus recursos naturais, o presente trabalho teve a finalidade de abordar por levantamento bibliográfico a história do crescimento canavieiro no Brasil e os fatores que levaram e estão levando a esse crescimento, que acarreta a ocupação do Cerrado. Ao entender o que provoca o crescimento do setor canavieiro, o presente trabalho tratará do objetivo principal que consiste em relacionar as questões que envolvem a ocupação da cobertura vegetal do Cerrado pela cana-de-açúcar. O estabelecimento de medidas para a correta ocupação da cana-de-açúcar no Cerrado é de fundamental importância para que a demanda por alimento e energia tanto para o Brasil como para o exterior não acarrete maiores danos a este bioma que já há vários anos vem sendo explorado de maneira predatória. 12 1. INÍCIO DA EXPANSÃO CANAVIEIRA NO BRASIL 1.1 Introdução da cana-de-açúcar no Brasil De acordo com Brandão (1985), inicialmente o cultivo da cana-de-açúcar no Brasil visava principalmente a fabricação de açúcar, com objetivo econômico para Portugal, sendo a principal fonte econômica oriunda da agricultura e a mais longa das bases econômicas de nossa história. Originária da Ásia, adaptou-se bem ao clima do Brasil, pois é própria para climas tropicais e subtropicais. Existe uma grande divergência de quando as primeiras mudas foram introduzidas no Brasil. Segundo o autor, as primeiras mudas de cana-de-açúcarpodem ter sido introduzidas no Brasil em 1502 pelos arrendatários portugueses, ou foram introduzidas por Martim Afonso de Sousa em 1532. Confirma De Carli (1936, apud FIGUEIREDO, 2008) que com ameaça de invasores estrangeiros em terra brasileira, e também com o aumento da demanda de açúcar no mercado europeu, Dom João III adotou o modelo que havia dado certo na ilha da Madeira, o de Capitanias Hereditárias, que consistia na doação de grandes extensões de terra, com direito ao uso extensivo dos recursos naturais existentes, onde foram oficialmente introduzidas as primeiras mudas de cana-de-açúcar por Martim Afonso de Sousa trazidas da ilha da Madeira, sendo as precursoras do cultivo comercial na Capitania de São Vicente, São Paulo, onde a indústria açucareira teve prosperidade nos primeiros anos de exploração, atingindo muito mais tarde o planalto na região de Itu, em 1615. Conclui-se que o início da produção de cana-de-açúcar no Brasil já era feita por grandes proprietários visando o comércio exterior de açúcar. Isso contribuiu para um sistema latifundiário que resiste até os dias atuais. 1.2 Distribuição da monocultura canavieira no Brasil A monocultura da cana-de-açúcar começou a conquistar grandes extensões territoriais a partir da Zona da Mata Pernambucana em 1534 e coube à Capitania de Pernambuco, sob o 13 comando de Duarte Coelho, a construção de engenhos. Tão logo tomou posse dos seus domínios desenvolveu enormemente a plantação de cana-de-açúcar em suas terras, com mudas também originárias da Ilha da Madeira (CALMON 1935; COSTA 1958 apud FIGUEIREDO, 2008). O ciclo econômico da cana-de-açúcar estendeu-se da faixa litorânea de São Paulo até o Nordeste e eram cultivadas em morros beiras de rios e em planícies, privilegiando as áreas que facilitassem a exportação do açúcar, ou seja, próximo ao oceano. Por questões lógicas o início da monocultura canavieira no Brasil ficou limitada a algumas regiões litorâneas ou próximas ao litoral; isso se deu pelo fato de que naquela época os recursos tecnológicos, humanos e de logísticas para produção e exportação eram completamente limitados, além da dificuldade de exploração territorial para o preparo do plantio em regiões afastadas do litoral. Conforme Castro (1946 apud ADÃO, 2007), em favor da monocultura, grandes extensões de matas foram derrubadas e queimadas para o plantio, realizando o sistema plantation, no qual usava-se mão-de-obra escrava e super exploração do solo, que perdia suas riquezas nutricionais, motivando o avanço de novas derrubadas. Inicialmente, utilizou-se mão-de-obra indígena, a qual, gradativamente, foi sendo substituída por escravos africanos. Com as grandes áreas territoriais disponíveis na época, além da falta de recursos tecnológicos para a recuperação do solo, as áreas para o cultivo da cana-de-açúcar eram logo repostas por outras áreas, isso favoreceu ainda mais o desmatamento. Brandão (1985) especifica que outras capitanias receberam uma nítida orientação para o cultivo da cana nos primeiros tempos de colonização, como a da Bahia, em 1538, e a de Alagoas, em 1575. Foi assim, o começo da agroindústria de cana-de-açúcar no Brasil. Depois de um início com muitas dificuldades e tentativas frustradas em várias regiões devido a problemas com os indígenas e invasores, a cana-de-açúcar encontrando características climáticas favoráveis e solos férteis, expandiu-se rapidamente pelo Nordeste do país (Bahia, Piauí, Alagoas, Paraíba), de tal maneira que, dezessete anos passado, já existiam 23 engenhos só em Pernambuco. Como em qualquer atividade econômica, a atividade canavieira proporcionou ao Brasil um início de crescimento econômico, apesar da exploração de outros recursos e da dificuldade de desbravar outras áreas para o plantio, tendo em vista que a área plantada era insignificativa em relação ao tamanho do país. De acordo com Rosseto (2008), a atividade canavieira no século XVI ocupava terras férteis e, para facilitar a exportação do açúcar para a Europa, expandiu-se estrategicamente em 14 regiões litorâneas do nordeste o que facilitaria seu comércio. Por esse motivo, o Bioma mais prejudicado na época foi o da Mata Atlântica, que foi praticamente dizimada pela ocupação canavieira. 1.3 Crescimento canavieiro no Brasil Colônia e Império A partir do início da introdução da cultura da cana-de-açúcar no Brasil até o início do século XX ela ficou limitada a uma área muito abaixo do que temos atualmente; tendo oscilado seu crescimento, passando por momentos de glória e apogeu devido a vários fatores. De acordo com Figueiredo (2008), alguns dos motivos que levaram a esta oscilação são: a. fatores políticos externos e internos; b. circunstâncias de guerras; c. descoberta de ouro e outras atividades mais lucrativas que deixava a agricultura com pouca mão-de-obra; d. abertura dos portos que alavancou o comércio; e. concorrência com o açúcar estrangeiro; f. crescimento da cultura do café no século XIX. Pode-se mencionar também que o início da expansão não foi fácil devido às condições tecnológicas e populacionais reduzidas. Com a valorização do café em 1805, na qual a região sudeste era a mais utilizada para seu plantio, a cana-de-açúcar foi perdendo aos poucos o seu espaço, com o fechamento de vários engenhos. Brandão (1985) salienta que só no século XX a região sudeste suplantaria o nordeste, isto devido principalmente à questão estratégica privilegiada no nordeste para exportação do açúcar e também pela proximidade de fornecimento de mão-de-obra escrava oriunda da África. 15 2. EVOLUÇÃO BRASILEIRA DA CANA-DE-AÇÚCAR A PARTIR DO SÉCULO XX 2.1 Expansão potencializada pelo etanol No início do século XX, a história da cana-de-açúcar no Brasil começava a se redesenhar, pois de acordo com Natale Netto (2007) inicia se o estudo da tecnologia para a fabricação do motor a álcool e do próprio álcool de forma mais concentrada, pois a cachaça já era uma velha conhecida do Brasil, e suas pequenas usinas poderiam ser aperfeiçoadas para a fabricação do etanol. Outro fato importante de acordo com o autor foi o decreto 19.717 de 20 de janeiro de 1931, criado por Getúlio Vargas na qual determinava a obrigatoriedade da adição de 5% de álcool a toda gasolina importada. Com a criação do Instituto do Álcool e Açúcar (IAA) criado por Getúlio Vargas em 1933 o setor passou a ser regulamentado, recebendo incentivos para produção e exportação do açúcar o que favoreceu o crescimento do setor principalmente no estado de São Paulo, que faria a região sudeste superar a região do nordeste em área plantada de cana-de-açúcar. Em 1955, a área ocupada pela cana-de-açúcar no Brasil atingia cerca de 1 milhão de hectares (ROSSETO, 2008). Novos rumos começavam a surgir a partir da concepção da necessidade não só alimentar, mas também energética. Assim o Brasil nesta época apresentou uma mudança dinâmica em suas várias estruturas, tanto políticas, tecnológicas e sociais, visando dar os primeiro passos para diminuir sua dependência energética; com isso impulsionando a economia, levando ao crescimento não só da cultura da cana-de-açúcar como também de outras culturas. 2.2 Necessidades energéticas A consagração agroindustrial da cana-de-açúcar viria mais tarde influenciada pela crise do petróleo em 1973, que proporcionou a criação do Proálcool em 1975 visando a diminuir a dependência de importação de combustíveis derivados de petróleo que oneravam a balança comercial do Brasil (NATALE NETTO, 2007). Criado pelo governo federal o 16 Proálcool prestou umagrande contribuição ao desenvolvimento tecnológico do setor sucroalcooleiro. Em apenas 10 anos após sua criação a área plantada de cana-de-açúcar dobrou (Tabela 1). Seus dados refletem o histórico de produção de cana-de-açúcar para todos os fins, não apenas para processamento industrial nas usinas. Tabela 1: Evolução da área, produção e produtividade Brasileira da cana-de-açúcar a partir de 1975 ANO ÁREA (MILHÕES DE HECTARES) ÁREA PLANTADA PRODUÇÃO (MILHÕES DE TONELADAS) PRODUTIVIDADE (t/ha) 1975 1,90 88,92 46,82 1976 2,08 102,77 49,43 1977 2,27 120,01 52,93 1978 2,39 129,06 54,04 1979 2,54 139,27 54,79 1980 2,61 146,23 56,09 1981 2,80 153,78 54,86 1982 3,08 186,38 60,47 1983 3,48 216,45 62,16 1984 3,86 241,39 62,55 1985 3,90 246,54 63,22 1986 3,95 238,49 60,44 1987 4,35 268,58 62,31 1988 4,15 258,45 62,78 1989 4,01 252,29 62,02 1990 4,29 262,60 61,49 1991 4,24 260,84 61,94 1992 4,20 271,43 64,61 1993 3,97 244,30 63,24 1994 4,36 292,07 67,23 1995 4,62 303,56 66,49 1996 4,90 325,93 67,52 1997 4,95 337,20 69,10 1998 5,00 338,97 68,18 1999 4,86 331,71 68,41 2000 4,82 325,33 67,51 2001 5,02 344,28 69,44 2002 5,21 363,72 71,31 2003 5,38 389,85 72,58 2004 5,57 416,26 73,88 2005 5,62 419,56 72,83 2006 7,04 457,98 74,05 2007 7,89 515,82 77,05 2008 8,92 589,22 77,52 2009 9,67 689,90 80,24 Fonte: MAPA, 2011 17 De acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) (2011) empresa pública vinculada ao MAPA, a área plantada de cana-de-açúcar destinada à atividade sucroalcooleira safra 2010/2011 foi de 8,056 milhões de ha, com produção de 623,905 milhões de toneladas e produtividade de 77,466 t/ha. A estimativa é de que na safra 2011/2012 a área plantada seja de 8,443 milhões de ha, com produção de 641,982 milhões de toneladas e produtividade de 76,039 t/ha. Esta estimativa de queda na produtividade é devido à estiagem prolongada na fase de crescimento da planta. 2.3 Exploração não sustentável Na visão de Szmrecsányi (1994) até o início dos anos de 1980 a agricultura era praticamente desvinculada das questões ambientais. Assim as mudanças na agricultura e na estrutura fundiária impulsionada pelo Proálcool, trouxeram consequências ao ambiente, advindas do monocultivo e da exploração não sustentável dos recursos naturais, como água e solo. Após a criação do Proálcool houve uma preocupação muito grande quanto a viabilidade da produção do etanol e aperfeiçoamento do motor visando a diminuir a dependência energética, esquecendo-se, no entanto, de adotar medidas para a correta utilização dos recursos naturais para sua obtenção, pois demandava a utilização de maiores áreas para o plantio da cana-de-açúcar para suprir as demandas futuras, ou seja faltou um planejamento ambiental. Rosseto (2008) alega que o incremento na produção nessa fase ocorreu com aumento de área cultivada e com pouca tecnologia, apresentando assim pouca produtividade nos primeiros anos após o Proálcool (Tabela 1). Deu-se pouca importância à ocupação canavieira nesta época, pode-se ver pela tabela 1, que a produtividade nos sete primeiros anos após o Proálcool é baixa comparada com a produtividade atual, o que resultou na utilização de maior espaço territorial, competindo assim mais fortemente com a vegetação nativa. Um exemplo disto é a degradação do solo tão logo se iniciava a produção agrícola, o que provocava o abando de uma região para explorar outra. Rosseto (2008) afirma ainda que, a atividade canavieira que sempre esteve ligada às questões econômicas atualmente é interligada também às questões ambientais, e esta permeia a questão social. Portanto, não se desvinculam as questões agrícolas das ambientais, sociais e econômicas. No caso da cana-de-açúcar, após o Proálcool, a questão econômica aliada à 18 estrutura fundiária impuseram impactos inegáveis ao ambiente e à sociedade, que tiveram reflexos até o dia de hoje. 2.4 Primeiras preocupações ambientais Sem dúvida a cultura da cana-de-açúcar que há tempos estava ligada às questões políticas e econômicas sem dar muita importância às ambientais, a partir do momento que são visíveis os impactos negativos, passa a estar mais fortemente ligada às questões ambientais devido ao seu crescimento não planejado. A partir dos anos 80, os movimentos ecológicos tornaram-se fortes e conceitos de eco- desenvolvimento, preservação ambiental e desenvolvimento sustentável passaram a fazer parte das discussões em reuniões internacionais. Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento (UNCED) e Organizações das Nações Unidas (ONU) presidida por Gro Harlem Brundtland, a primeira ministra da Noruega, apresentou um relatório intitulado “Nosso futuro comum”, que ficou mundialmente conhecido como Relatório Brundtland. Neste documento, os problemas ambientais, antes vistos como pontuais e localizados, foram identificados como de interesse global da sociedade mundial. O documento apontou ainda uma lista de medidas a serem seguidas no que diz respeito às responsabilidades das nações com o meio ambiente. Esse documento apresentou ao mundo, pela primeira vez, o conceito de agricultura sustentável (ROSSETTO, 2008). A partir de então, várias outras ações foram realizadas visando consolidar novos rumos à agricultura no Brasil, estabelecendo na agricultura uma maior integração entre as questões ambientais, sociais e econômicas, favorecendo assim uma maior preservação dos recursos naturais. A partir de uma nova visão o conceito de sustentabilidade começa a entrar na mentalidade de quem faz uso dos recursos naturais, porém é um processo que ocorre de forma lenta precisando principalmente da educação e conscientizarão. A utilização de nossos recursos a partir dessa concepção começou a mudar levando o homem a buscar medidas para se adequar a essa nova realidade, porém muitos não tiveram esta visão, utilizando áreas inadequadas para a agricultura, buscando a qualquer custo somente a lucratividade, acabando com grande parte dos recursos naturais. 19 2.5 Tecnologia a favor do meio ambiente O ganho de produtividade sem dúvida reflete em menos áreas ocupadas pela cana-de- açúcar e, consequentemente, preservação do meio ambiente, como por exemplo, a vegetação nativa de determinada região, como é ocaso da região Centro-Sul onde se encontra o Cerrado e o maior pólo sucroalcooleiro do Brasil. São muitos os avanços nesse sentido, de acordo com Rosseto (2008). Políticas públicas e avanços tecnológicos neste momento de grande expansão principalmente na região Centro-Sul são fundamentais para que isso ocorra. Entre essas medidas podemos citar: a. variedades mais produtivas e adaptadas ao ambiente de produção; b. sistema de manejo da cultura; c. sistema de mecanização evitando perdas; d. manutenção da fertilidade do solo. Com base nos dados da tabela 1 o (Gráfico 1) mostra a economia da área ocupada com cana-de-açúcar entre 1975 e 2005 com as tecnologias aplicadas. Gráfico 1: Economia da área plantada da cana-de-açúcar em milhões de hectares entre 1975 e 2005 ----- Área ocupada estimando se a média de produtividade dos cinco primeiros anos após o Proálcool ----- Área real ocupada com aplicação da tecnologia, economia de 2,51milhões de ha 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 Milhões de (ha) Ano 20 Os avanços tecnológicos não se limitam apenas ao campo, mas também na indústria, com um melhor aproveitamento e menores perdas da matéria-prima,um exemplo disto é a utilização da celulose para a fabricação de álcool. Segundo Press (2010) o Brasil poderá ter em 2015 a primeira cana transgênica do mundo; essa é a previsão do Centro Tecnológico Canavieiro (CTC), a mudança do gene resultara em uma cana-de-açúcar resistente à broca com ganho de 25% de produtividade, porém será necessária a liberação para o plantio. Se isso acontecer, haverá uma economia muito grande na área de plantio, diminuindo a competição da cultura com a vegetação do Cerrado. 21 3. EXPANSÃO ATUAL 3.1 Fatores que influenciam a expansão canavieira É histórico o fato de que o setor sucroalcooleiro passa por altos e baixos, influenciado pelo mercado do açúcar antes do Proálcool e álcool e açúcar após o mesmo, caracterizando assim oscilações na área de plantio da cana-de-açúcar. Segundo Sousa (2006) e Veiga Filho, Fronzaglia e Torquato (2008), o setor sucroalcooleiro, depois de ter passado pela crise de 1999/2000, representada pelos baixos preços do álcool carburante para os produtores e por um expressivo excedente do produto no mercado, conseguiu acumular condições suficientes para o seu crescimento até 2007. Paralelo a isso o açúcar brasileiro também apresentou um forte crescimento pela sua valorização, o que provocou um aumento de 4,44% na área colhida de cana-de-açúcar nesta época, com perspectivas de aumento para os próximos anos. O maior crescimento foi no estado de São Paulo, com taxa de 4,83% ao ano, onde se concentra o maior pólo agrícola e industrial do setor. Na visão de Sousa (2006) e Veiga Filho, Fronzaglia e Torquato (2008), os principais fatores que contribuíram e irão contribuir para essa expansão são: a. incentivo a compra de carro a álcool em função da isenção do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA); b. mudança da política governamental intervencionista visando ao aumento da competitividade do álcool frente a gasolina; c. liberação das exportações de açúcar com bom preço no mercado. d. aumento do preço do petróleo; e. introdução dos veículos flex fuel, a partir de 2003; f. aumento na exportação do etanol para ser adicionado a gasolina em função do preço do petróleo e efeito estufa; g. aumento do consumo de açúcar no mercado interno e externo principalmente; h. diminuição do subsídio aos produtores de beterraba; i. entrada de capital estrangeiro no setor. 22 Pode-se mencionar também a grande valorização dos produtos derivados de cana-de- açúcar frente a outros produtos agrícolas, aproveitamento na integra da matéria prima, além do baixo custo da produção do álcool e açúcar, comparado com produtos similares de outras fontes. O resultado desse panorama de expansão vai refletir-se na instalação e expansão de novas unidades industriais no estado de São Paulo. A principal frente de expansão desse processo dá-se no noroeste do estado, com expectativa de instalação de novas unidades principalmente para a região Centro-Sul do Brasil. (VEIGA FILHO; FRONZAGLIA; TORQUATO, 2008). 3.2 Etanol como alternativa global aos combustíveis fósseis Os biocombustíveis, principalmente o etanol, são fontes energéticas que apresentam melhores atributos ambientais, sociais, econômicos e estratégicos frente aos derivados de petróleo. Na época atual, este modelo energético consolidado no Brasil está servindo de referência para vários países; com isso, estes países, principalmente os que dependem do petróleo, querem adotar medidas que possam mitigar seus impactos tanto financeiros, ambientais, sociais e estratégicos. De acordo com Burnquist e Rodrigues (2008) o Brasil é o único país com potencial para exportação de etanol, e com o crescente aumento da demanda pelo produto em países como EUA, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Suécia, França, Reino Unido, Japão entre outros, há a necessidade de importação do etanol brasileiro. Na visão do autor, a análise do cenário internacional sugere que o desenvolvimento do comércio de etanol, entre os países que vêm optando pelo biocombustível como substituto ao combustível fóssil parece refletir em uma perspectiva promissora para o futuro. No entanto os desenvolvimentos tecnológicos nesse contexto têm indicado que, além do etanol, várias alternativas deverão ser exploradas. Parece estratégia, portanto, assegurar que o etanol persista como uma opção viável, face à competitividade brasileira na obtenção do produto. Nesse panorama, a melhor forma para equacionamento da participação brasileira desse mercado parece ser a que possibilite o desenvolvimento das indústrias locais nos vários países de forma que o etanol seja incorporado à matriz energética mundial. 23 Tendo em vista o grande potencial brasileiro para exportação de etanol, associado à grande demanda mundial e interna para o produto, o cenário que desponta é um aumento ainda maior em área plantada de cana-de-açúcar. O que contradiria todo este panorama seria a descoberta de uma fonte energética automotiva mais promissora que o etanol, o que parece ser muito improvável em curto prazo. Para garantir um maior mercado exterior as indústrias terão que se livrar da má imagem com que são reconhecidas lá fora, resultados de erros sociais e ambientais do passado, e que alguns deles ainda persistem até o dia de hoje. Com o consequente aumento mundial no consumo de biocombustível, não só o Brasil, mas também o mundo deverá se antecipar para a mitigação de possíveis impactos negativos. 3.3 Centralizações dos negócios sucroalcooleiro Todo esse panorama de expansão concentrando-se principalmente em uma única região provoca transformações significativas tanto no aspecto social, econômico e ambiental. Os efeitos ambientais negativos poderiam ser minimizados descentralizando toda essa produção para outras regiões. Não é difícil entender porque toda essa concentração produtiva do setor sucroalcooleiro acontece, quando Calaça (2010) ressalta que a expansão agrícola do agronegócio em Goiás que teve o seu início na década de 1970 começando pelo sudeste goiano, que tinham topografias plana, infra-estrutura, logística, incentivos públicos, facilidade para escoamento da produção, mão-de-obra, etc., porém à medida que se afasta do Sul do estado em direção ao Norte onde a topografia é inadequada para o plantio e não se tem infraestrutura suficiente, essas áreas são menos ocupadas para o agronegócio. Podemos deduzir com isso que o mesmo ocorreu e continua ocorrendo com a cana-de- açúcar na região de São Paulo em um grau muito maior do que ocorre em Goiás; para se ter uma idéia do total de cana-de-açúcar plantado no Brasil em 2006 correspondente a 7,04 milhões de ha, 4,34 milhões de ha eram plantadas em São Paulo. Do ponto de vista de Calaça (2010), toda essa lógica de produção gerou e continua gerando a destruição de ecos sistema complexa, pois se realiza em grandes extensões territoriais e substitui a vegetação nativa por espécies agrícolas de valor comercial. Na visão de Veiga Filho, Fronzaglia e Torquato (2008), existe uma perspectiva de aumento de 35% na sua produção de cana-de-açúcar nos próximos cinco anos e 50% nos 24 próximos 10 anos com o objetivo principal de atender o mercado externo tanto de álcool como de açúcar. De acordo com o autor, da massa produzida no Brasil na safra 2006/2007, 50,9% foi para a produção de açúcar, 38% para o álcool e 10,3% para a cachaça. A produção de cachaça que representa a menor parte da produção de cana-de-açúcar no Brasil é uma atividade antiga que paralela à produção do açúcar, vem desde os antigos engenhos e sua produção se dá em regiões espalhadas peloBrasil não ficando limitado ao setor sucroalcooleiro, este fato contribui para que não haja uma maior centralização dos negócios. Toda essa concentração de capital está acarretando e acarretará impactos à vegetação nativa do Cerrado, tendo em vista que nesta região do Brasil já há vários anos em função da concentração dessas indústrias, o cultivo da cana-de-açúcar vem acarretando problemas à vegetação tanto pela ocupação territorial como por meio indireto do manejo da cultura, sendo a principal dela a queimada para o corte. A consequência dessa expansão está provocando uma euforia muito grande quanto às questões econômicas no setor, sem que haja de igual intensidade um questionamento ambiental quanto à utilização de novas áreas de plantio para suprir as demandas futuras, visto que na atual circunstância de produção tem se encontrado grandes impactos sobre as áreas florestais pelo avanço da cultura. Um grande passo para que haja menos impactos negativos sobre o meio ambiente seria a descentralização do setor sucroalcooleiro por meio de incentivos governamentais como incentivos fiscais para novas instalações em áreas remotas, na qual existam terras disponíveis para a cultura da cana-de-açúcar, porém isso exige planejamento para a criação de uma infra estrutura para produção e escoamento dos seus produtos. Outro fator de grande relevância a ser considerado para conquista de novas fronteiras seria a criação de um sistema de escoamento do etanol a ser exportado, já que há uma grande projeção do crescimento do setor devido ao mercado externo. A criação de um sistema de transporte viável é de grande importância para viabilizar o empreendimento do setor, tendo em vista que a distância dos principais portos ficará maior. Isto possibilitaria que a expansão da cana-de-açúcar alcançasse áreas distantes nas quais houvesse disponibilidade de terras a serem usadas sem comprometer o meio ambiente. 25 4. PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR NO CERRADO 4.1 Caracterização do Cerrado De acordo com o Ibge (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) (2004) e MMA (Ministério do Meio Ambiente) (2009), o Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, ocupando aproximadamente 24% do território nacional, ou seja 2.036.448 km² (Tabela 2). Faz limite com outros quatro biomas (Figura 1). Tabela 2: Porcentagem e tamanho das áreas dos biomas do Brasil BIOMAS CONTINENTAIS BRASILEIROS ÁREA APROXIMADA (km²) ÁREA / TOTAL BRASIL Bioma AMAZÔNIA 4.196.943 49,29% Bioma CERRADO 2.036.448 23,92% Bioma MATA ATLÂNTICA 1.110.182 13,04% Bioma CAATINGA 844.453 9,92% Bioma PAMPA 176.496 2,07% Bioma PANTANAL 150.355 1,76% Área Total BRASIL 8.514.877 100% Fonte: IBGE, 2004 26 Figura 1: Mapa da localização do bioma Cerrado Fonte: IBGE, 2004 Como descrito pelo MMA (2009), devido à diversidade de solos, topografia e clima, o Cerrado é uma das regiões do planeta com maior biodiversidade, com 320 mil espécies de animais, sendo 0,6% de vertebrados. No Cerrado, nascem as águas de três importantes bacias hidrográficas, como, a do Paraná, São Fancisco e a do Amazonas, compreendendo um mosaico de vários tipos de vegetação. Na descrição de Mendonça e colaboradores (2008) e Assis e colaboradores (1994), o Cerrado apresenta elevada riqueza de espécies vegetais como plantas erbáceas, arbustivas, arbórease cipó, totalizando 11.627 espécies vasculares nativas. São descritos onze tipos principais de vegetação, descrito como formações florestais (Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e Cerradão), savânicas (Cerrado sentido restrito, Parque de Cerrado, Palmeiral e Vereda) e Campestre ( Campo sujo, Campo limpo e Campo rupestre). O Cerrado compreende, além do Distrito Federal, dez estados, ocupando diferentes porcentagens de áreas (Tabela 3). 27 Tabela 3: Porcentagem da área do Brasil, DF e Estados cobertos pelo bioma Cerrado UNIDADE FEDERATIVA E BRASIL % CERRADO Distrito Federal 100 Goiás 97 Mato Grosso 40 Mato Grosso do sul 61 Tocantins 92 Maranhão 65 Bahia 27 Piauí 37 Minas Gerais 57 São Paulo 33 Paraná 2 Brasil 23,92 Fonte: Adaptando do MMA, 2009 e ANUÁRIO DA CANA, 2009 Na opinião de Assis e colaboradores (1994), o Cerrado distribui-se além do especificado pela figura 1 e invade o interior de outros biomas; são encontradas porções também na região norte, no estado do Amazonas e região sul. O bioma também apresenta uma forte mudança em sua característica física devido à menor intensidade de chuvas em determinada época do ano, isto modifica sua estrutura vegetal facilitando a ocorrência de incêndios. Devido às características como, clima, solo e topografia o Cerrado é considerado uma excelente área para a agricultura, principalmente a mecanizada, além de oferecer facilidade para a irrigação. 28 4.2 Pressão sobre o Cerrado Segundo o Mapa (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) (2009), atualmente a cana-de-açúcar e seus derivados são a segunda principal fonte de energia primária da matriz energética nacional e o consumo de etanol já é superior ao da gasolina. Essa experiência tem conquistado o mundo, e o Brasil se tornou referência nessa área. Com o aumento da necessidade energética e alimentar ao longo do tempo houve um avanço muito grande na área de cultivo da cana-de-açúcar a partir do Proálcool visando principalmente o etanol e o açúcar, sem, no entanto adotar medidas suficientes para correta utilização dos recursos naturais, por exemplo: um sistema eficiente que retenha a vinhaça para que ela não atinja os lençóis freáticos e outros recursos hídricos e um sistema de manejo que previna de forma eficaz o fogo em áreas de vegetação nativa. De acordo com vários autores como Ribeiro, Ferreira e Ferreira (2009) e o Siran (Sindicato Rural da Alta Noroeste) (2009), o Brasil possui uma vasta extensão territorial apta tanto para o cultivo da cana-de-açúcar como também para outras culturas, estas são áreas abandonadas de pastagens e de outras culturas que poderiam ser usadas para a agricultura. Na concepção dos autores a utilização destas áreas conservariam as matas nativas; no entanto os autores que fornecem esses dados esquecem que há um custo muito grande para a utilização destas áreas, haja vista que grande parte delas estão espalhadas, longe dos pólos industriais o que dificulta a sua utilização, no entanto com um bom planejamento isso é possível. O cultivo da cana-de-açúcar se concentra em sua maior parte na região Centro-Sul onde se localiza o Cerrado e também existem outras culturas, além da pecuária que ocupa grandes extensões de terras; isto sobrecarrega o bioma local dificultando sua proteção. A maior parte da pecuária Brasileira encontra-se no Cerrado; apenas na região Centro- Oeste que ocupa parte do Cerrado está 30% da pecuária Brasileira; esta produção concentra-se principalmente em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás (MMA, 2009). Entre as culturas agrícolas produzidas no Brasil, a cana-de-açúcar ocupa o terceiro lugar em relação à área plantada, ficando atrás da soja com 23,468 milhões de hectares e do milho com 12,994 milhões de hectares, safras 2009/2010; sendo o Brasil o maior produtor mundial de cana-de-açúcar (CONAB, 2011). Ao analisarmos o crescimento no plantio da cana-de-açúcar em relação ao do milho nos últimos anos e também a demanda futura dos derivados da cana-de-açúcar, é fácil chegar à conclusão que em poucos anos a área plantada de cana-de-açúcar será maior que a de milho. 29 Nos últimos 25 anos, a expansão da cana-de-açúcarocorreu na região Centro-Sul onde se concentra grande parte do bioma Cerrado e permaneceu praticamente constante no Nordeste (Gráfico 2). O MMA (2009, p. 48) informa que: Ao contrário do que ocorreu no passado, quando as iniciativas eram governamentais, hoje o setor privado corre para ampliar suas unidades, na certeza de que o álcool terá um papel cada vez mais importante como combustível. O Primeiro Relatório da Conab sobre Estimativas da Produção da Cana-de-açúcar (Conab, 2009) para o período 2009/2010, indicam um aumento de 10,1% a 12,3% no volume da cana a ser processada para a região Centro-Sul (Sudeste, Sul e Centro-Oeste), cuja participação está próxima de 90% do total nacional. Desse total, foi estimado que 44,7% serão destinado à fabricação de açúcar e 55,3% à produção de álcool, em relação ao ponto médio. O desempenho dos estados revela que na Região Centro-Sul, o crescimento da produção ocorre em praticamente todos os estados, com destaque para Goiás com acréscimo de 47,3%, Mato Grosso do Sul (28,7%), Paraná (20,2%) e Minas Gerais (14,9%). Analisando o Gráfico 2 o período de 1994 a 1998 apresentou expansões em áreas, motivadas pelo aumento da exportação do açúcar, pois nessa época o consumo de etanol estava em queda devido sua baixa competitividade frente à gasolina (NATALE NETTO, 2007). Nota-se também que após este aumento houve uma pequena queda entre 1999 a 2001, motivado pelo mercado do açúcar e pela baixa demanda do etanol, voltando ao crescimento entre 2001 a 2007, motivado principalmente pelo aumento do consumo do etanol. 30 Gráfico 2: Regiões produtoras de cana-de-açúcar, milhões de toneladas por ano ---Brasil ---Nordeste ---Centro-Sul Fonte: ROSETO, 2008 Dentre os dez estados que compreendem o Cerrado, os maiores produtores de cana-de- açúcar em ordem decrescente são: São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraná. De acordo com a Conab (2011), São Paulo é o primeiro, com 361.723.300 de toneladas, o segundo é Minas Gerais com 56.013.600 toneladas, o terceiro colocado é o estado de Goiás, sua produção é de 46.206.800 toneladas safra 2010/2011, (Tabela 4). Verifica-se com esses dados que a maior produção de cana-de-açúcar se concentra no Cerrado, ou seja, das 623.905.100 toneladas produzidas no Brasil (safra 2010/2011), 514.485.000 toneladas são produzidas nos estados que apresentam mais de 33% de área do bioma Cerrado, o que corresponde a 82,46% da produção nacional. 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano Milhões de tonelada 31 Tabela 4: Produção de cana-de-açúcar no Brasil e estados que compreendem o bioma Cerrado UNIDADE FEDERATIVA E BRASIL CANA (t) SAFRA 2010/2011 Goiás 46.206.800 Mato Grosso 13.661.200 Mato Grosso do sul 33.476.700 Tocantins 239.000 Maranhão 2.327.500 Bahia 2.792.200 Piauí 836.900 Minas Gerais 56.013.600 São Paulo 361.723.300 Paraná 43.321.100 Brasil 623.905.100 Fonte: CONAB, 2011 Além da alta produção de cana-de-açúcar, a região apresenta o maior pólo industrial para fabricação de álcool e açúcar do Brasil, totalizando 279 usinas em funcionamento apenas nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; sendo que o total nacional é de 411. A expectativa é de que várias novas usinas entrem em operação na região Centro-Sul, como é o caso dos estados mencionados com 117 novas usinas das 134 esperadas para o Brasil (ANUÁRIO DA CANA, 2009). Se não bastasse já a grande produção de cana-de-açúcar, de acordo com Ribeiro, Ferreira e Ferreira (2009), o melhor panorama para o futuro crescimento em áreas plantadas de cana-de-açúcar continuará ocorrendo no Cerrado que já carrega grande parte da agricultura, como é o caso da soja, uma cultura que exige grandes áreas para cultivo e que de acordo com o MMA (2009) também é um dos vetores de desmatamento do Cerrado; sua maior produção e área plantada se concentram em Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e 32 Minas Gerais na qual são estados com grande área do bioma Cerrado (Gráfico 3). O estado do Paraná é o segundo maior produtor, porém sua maior abrangência é o bioma Mata Atlântica. Outro fato preocupante é que de acordo com o autor a perspectiva para seu crescimento assim como a cana-de-açúcar ocorrerá no Cerrado. Gráfico 3: Produção de soja nos estados brasileiros Fonte: IBGE, 2009 Os resultados fornecidos pelo Ibge (2009) indicam que na região Centro-Oeste a área plantada de soja era de 9,9 milhões de hectares. O destaque ficou com o estado do Mato Grosso, com um crescimento de 400% em área plantada nos últimos 10 anos. 4.3 Ocupação do Cerrado De acordo com MMA (2009) com o crescimento econômico do país nos anos 70, a expansão demográfica, ampliação das exportações e também a produção de alimentos gerou a necessidade de expansão de novas áreas para a agricultura e pecuária; e a região do Cerrado logo se despontou como a mais indicada devido principalmente ao valor dessas terras, infra- estrutura e proximidade com os centros consumidores. 33 Recentemente, a produção de bicombustíveis vem sendo mais propagada para a região Centro-Sul, onde se localiza a região do bioma Cerrado e é um dos vetores relacionados ao desmatamento. O MMA (2009, p. 47) salienta: Mais recentemente, a produção de biocombustíveis vem sendo propagada para a região. Sua produção visa atender a um mercado crescente de combustíveis com menor poder de emissão de gases causadores de efeito estufa. Os biocombustíveis são processados a partir do beneficiamento de diferentes culturas de oleaginosas, como: mamona, girassol, milho, soja e pinhão manso. A demanda para a produção desses poderá alterar significativamente o uso da terra no Cerrado, cuja tendência é a substituição da área de pastagens por plantios de biocombustíveis (por exemplo, grãos e especialmente a cana-de- açúcar). De acordo com o Siran (2009), o Zoneamento Agro Ecológico da cana-de-açúcar anunciado em 17 de setembro de 2009 pelo governo federal, Decreto nº 6961, proíbe o plantio de canaviais em determinadas áreas do país. O objetivo do Decreto é limitar a expansão desenfreada de monoculturas em determinados espaços territoriais. Os biomas Amazônia e Pantanal estão incluídos nessa proibição. De acordo com o Zoneamento Agro Ecológico, as áreas proibitivas somadas a aquelas não indicadas para o plantio de cana-de-açúcar alcançam 92,5% do território brasileiro, restando 7,5% do território Nacional, o que eleva de 8 milhões para 64 milhões de hectares o estoque de terras aptas para o plantio de cana-de-açúcar. Vale lembrar que qualquer atividade que necessite de algum tipo de desmatamento seja em qualquer tipo de bioma, obrigatoriamente deve obter previamente o licenciamento. Ainda do ponto de vista do Siran (2009) o Cerrado que já é responsável por metade do agro negócio brasileiro, ou seja, 52% nada se falaram. A única região deste bioma onde ficou proibido o plantio de cana-de-açúcar foi a bacia do alto Paraguai, por ser onde nascem os rios que abastecem o Pantanal. O Siran (2009) alega que 50 milhões de hectares de pastagens degradas ou sub utilizadas poderiam ser aproveitadas para a agricultura no Cerrado. Se essas terras desmatadas fossem recuperadas, o país poderia dobrar sua produção agrícola sem derrubar nenhuma árvore. O Brasil tem potencial para que a expansão da cana-de-açúcar ocorra sem que hajadesmatamento, mas os mais otimistas com relação a isso hão de convir que apenas a 34 disponibilidade de terras para o cultivo da cana-de-açúcar não basta, várias barreiras impedem que isso ocorra, entre as principais delas estão: a. recuperação do solo degradado pelas pastagens; b. aperfeiçoamento ou criação de infra-estrutura local; c. falta de incentivos governamentais; d. mão-de-obra local; e. falta de interesse por parte do setor industrial devidos aos gastos nos investimentos. A tendência para o futuro é que gradativamente o setor sucroalcooleiro quebre essas barreiras, se não por consciência ecológica, mas por necessidade, devido a algumas regiões do bioma já estarem sobrecarregadas, como é o caso do estado de São Paulo, maior centro sucroalcooleiro, com 191 unidades em funcionamento e com perspectivas para novas instalações (MAPA, 2009). Verifica-se, com isso, que no atual momento não há grandes interesses por parte dos empresários de investirem em locais sem os requisitos necessários. Segundo Sano e colaboradores (2008) apud Ribeiro, Ferreira e Ferreira (2009), 60,5% do Cerrado ainda estão cobertos por vegetação nativa, enquanto as áreas de agricultura e pastagem ocupam cerca de 10% e 29% da área total do bioma, respectivamente; estes 10% de ocupação da agricultura representam aproximadamente 52% da agricultura do Brasil. Verifica-se, com isso, que há uma grande ocupação da área do Cerrado tanto pela agricultura como pecuária em relação a outros biomas (Figura 2). 35 Figura 2: Distribuição espacial das classes de uso da terra no bioma Cerrado Fonte: MMA, 2009 Os dados de mapeamento do desmatamento realizado por satélite entre 2002 e 2008 pelo MMA (2009), em conjunto com outras entidades não governamentais e governamentais como (IBGE) e o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), mostram que o Cerrado teve sua cobertura suprimida em 127.564 km², o que indica uma taxa anual de aproximadamente 21.300 km²/ano para este período. Em 2002 o total desmatado era de 41,95 %, deste período até 2008 houve um acréscimo de 6,25 % (Figura 3). De acordo com o MMA (2009) apesar da Amazônia ter o dobro do tamanho, a sua taxa de desmatamento para o mesmo período foi de 132.445 km². 36 Figura 3: Mapa do bioma Cerrado contendo a distribuição espacial das áreas com vegetação (verde), desmatamento acumulado até 2008 (marrom) e corpos d’água (azul) Fonte: MMA, 2009 Verifica-se que há uma diferença na taxa de desmatamento indicada por Mendonça e seus colaboradores (2008) e o MMA referente a 2008. Isso indica uma grande dificuldade em quantificar o desmatamento no Brasil, resultando em divergências entre os órgãos e entidades que fazem as pesquisas. O MMA (2009) informa que, de acordo com os vários estudos de monitoramento feitos por vários autores até 2002, o bioma Cerrado desaparecerá até o ano de 2030 caso sejam mantidas as taxas de desmatamento. De acordo com Ribeiro, Ferreira e Ferreira (2009), um levantamento por meio de dados orbitais fornecidos pelo monitoramento do satélite sino-brasileiro CBERS-2 na região do Cerrado, mostram que o crescimento da cana-de-açúcar no bioma ocorreu com aproximadamente 66% nas áreas de pastagem no ano de 2008 e que o bioma ainda dispõe de 37 8.954.724 hectares de pastagem aptas para o plantio e crescimento, o que significa o melhor cenário para a futura expansão da cultura, o que representa três vezes a área já ocupada de cana-de-açúcar no Cerrado. O preocupante é que os outros 34% da expansão da cana-de- açúcar podem estar ocorrendo sobre áreas agrícolas ou até mesmo em áreas remanescente de vegetação. É muito importante esclarecer que os dados de disposição de terras em áreas de pastagens no Bioma do Cerrado, citado por Ribeiro e seus colaboradores em 2009, que indica como aptos 8.954.724 hectares para plantio de cana-de-açúcar é muito mais relevante que os dados fornecidos pelo Siran (2009) para o mesmo ano, que indicam 50 milhões de hectares, o que não significa muita transparência do autor, pela razão de seu baixo aproveitamento devido às condições precárias do solo provocada pela pecuária, que exige um alto custo para sua recuperação, além das condições já citadas como infra estrutura e mão-de-obra local. Vale lembrar que a cana-de-açúcar concorre com outras culturas como a soja, milho e principalmente a pecuária que exige grandes áreas. De acordo com o ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza) (2007), no período de 2006-2007, cerca de 142.000 hectares de Cerrado prioritário para conservação foram convertidas em canaviais, esse processo no Brasil foi designado de modernização da agricultura. Isto acontece em razão da capitalização dos produtores e das condições favoráveis dos locais já mencionadas como infra estrutura, logística, solo, topografia, disponibilidade de terra que ofereçam condições de lucratividade para o agronegócio. O estado de São Paulo assiste a uma expansão preocupante de cana-de-açúcar pelas regiões de São José do Rio Preto, Araçatuba e Presidente Prudente. Essa expansão causa impactos tanto para o meio ambiente como para a população devido às queimadas para a colheita. (ANDRADE; DINIZ, 2007). Estudos feitos pelo MMA (2009), indicam que as plantações de cana-de-açúcar avançam sobre áreas onde se tenta implementar um corredor de biodiversidade no estado de Mato Grosso. Em Minas Gerais, levantamentos apontam exemplos como o do polígono que envolve vários municípios com muita prioridade para conservação ambiental. Lá também a cana-de-açúcar se espalha. Na região central de São Paulo, áreas prioritárias para conservação estão cercadas por canaviais. A expansão da monocultura canavieira energética está provocando o desaparecimento da criação de bovinos no Oeste Paulista e Triângulo Mineiro, duas tradicionais regiões produtoras de carne e leite. Nas regiões de Andradina e Castilho foram registrado queda de mais de 326 mil cabeças de gado, no período 2003-2005 (CANA..., 2007). 38 Ante a falta de opção econômica, os antigos pecuaristas estão sendo levados a venderem ou arrendarem as propriedades e reiniciarem as atividades nos Estados de Rondônia, Mato Grosso, Pará e Tocantins, os quais, entre os anos de 2002 e 2005, acusaram um incremento de mais de 11 milhões de cabeças de rebanho bovino. Dessa maneira, vislumbra-se uma iminente pressão da produção pecuária sobre o ecossistema Amazônico e do Cerrado (CANA..., 2007). Observa-se com estes fatos que a produção da cana-de-açúcar pressiona, ou seja, desloca a pecuária para outras regiões, isto é devido às condições favoráveis do local, com isso como há uma grande demanda tanto para a carne, leite e seus derivados, a pecuária tende a migrar para outras regiões que acaba pressionando o Bioma na qual se instala. Segundo o MMA (2009), os Estados que mais desmataram entre os anos de 2002 e 2008 foram: Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e Tocantins, (Tabela 5). A cobertura original do Cerrado foi reduzida praticamente à metade no País devido às diversas atividades econômicas, ou seja, de 2.038.953 km² para 1.052.708 km², com área total desmatada de 986.247 km² (48,37%) até 2008. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2009) indicou resultados diferentes, segundo o instituto, foram desmatados 85.074 km² entre 2002 e 2008, valor menor que o estabelecido pelo MMA (2009). Porém indicando desigualdades socioeconômicas e impactos ao meio ambiente. Os principais motivos para o desmatamento são a pecuária e agricultura. De acordo com o MMA (2009), devido ao deslocamento da pecuária provocado por outras culturas entreelas a cana-de-açúcar e incentivos governamentais, a intensificação da criação de gado provocou grandes desmatamentos no Cerrado para dar lugar às pastagens na qual foram introduzidas braqueárias. 39 Tabela 5: Situação do desmatamento no Cerrado, por Estado, período de 2002 à 2008 UF ÁREA DE CERRADO (km²) ÁREA DESMATADA 2002 / 2008 (km²) ÁREA DESMATADA 2002 / 2008 (%) Maranhão 212.092 22.739 11 Bahia 151.348 14.596 10 Mato Grosso 358.837 21.556 6 Minas Gerais 333.710 20.042 6 Piauí 93.424 5.438 6 Tocantins 252.799 14.076 6 Mato Grosso do Sul 216.015 11.663 5 Goiás 329.595 15.967 5 Paraná 3.742 75 2 Rondônia 452 8 2 São Paulo 81.137 1.326 2 Distrito Federal 5.804 78 1 Fonte: MMA, 2009 Além da pecuária e agricultura, o MMA (2009) salienta que outros fatores provocam o desmatamento no Cerrado entre eles estão: a. carvão vegetal, do total consumido em 2006 no Brasil 49% foram provenientes da vegetação nativa; b. mineração que apesar de estabelecida por normas ainda é praticada ilegalmente provocando a remoção da vegetação para a exploração do solo, causando também degradação do solo, assoreamento dos rios, despejo de resíduos, entre outros; c. silvicultura, sua expansão visando a suprir a grande demanda do mercado deve ocorrer em áreas já abertas considerando as fragilidades ambientais; d. queimadas que estão associadas ao desmatamento, sua prática visa à remoção de pastagens, controle de pragas, aberturas de áreas entre outras. 40 Fica difícil especificar o tamanho do desmatamento provocado por uma atividade econômica. Diante disso, fica também difícil estabelecer metas para que sejam diminuídos os impactos sobre o bioma. 4.4 Consequência da queima da cana-de-açúcar para a vegetação A expansão da cana-de-açúcar sobre o Cerrado além de causar o desmatamento para a sua introdução fornece condições para que ocorra a destruição de áreas nativas próximas a sua localização, isto devido à prática do uso do fogo para facilitar a colheita. A época das secas torna-se mais preocupante devido ao fato do fogo se propagar facilmente pela vegetação seca, (característica do Cerrado), o que causa uma maior destruição da vegetação. No estado de São Paulo e região de Araçatuba é comum na estação do inverno na qual a vegetação está mais seca, noticiários sobre queimadas em Áreas de Preservação Permanentes (APPs) provocadas pelo fogo provenientes dos canaviais. De acordo com Peres (2009), a queimada da cana-de-açúcar avança sobre áreas de preservação ambiental. Na região de Barretos, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) já multou três usinas. Os sinais da última queimada ainda podem ser vistos nas árvores da vegetação nativa do Cerrado e todas secaram (Figura 4). Para que a biomassa vegetal desta área seja recuperada é preciso muito tempo, sendo que, suas características podem não ser restabelecidas. 41 Figura 4: Incêndio em vegetação nativa do Cerrado provocado pela queima da cana-de- açúcar Fonte: Peres, 2009 Na região de Araçatuba, em 2010 um incêndio destruiu nove hectares de uma Área de Preservação Permanente, além de quarenta e três hectares de cana-de-açúcar. A área consumida pertence a fazenda São Sebastião no bairro Córrego Azul, o estrago não foi maior porque operários da usina Álcool Azul contiveram o fogo (NOVE..., 2010). Fica difícil saber ao certo se as origens dos incêndios ocorridos são causadas pelas usinas ou se tem relação criminal, o fato é que em muitos dos casos os canaviais estão próximos das vegetações nativas, o que facilita a sua propagação (Figura 5). A figura 5 trata-se de uma foto tirada na região de Araçatuba, no dia 20 de janeiro de 2011. A imagem mostra a proximidade da lavoura de cana-de-açúcar com a vegetação. 42 Figura 5: Proximidade do canavial com a vegetação nativa A queimada foi regulamentada pelo Decreto do Governo Federal nº 2.661 de 08/07/1998 que entre outras especificações estabelece sua proibição em áreas próximas às reservas florestais e unidades de conservação. O decreto estabelece que a queima poderá ocorrer em alguns casos específicos, como atividades agropastoris, mediante autorização e deverá ser devidamente controlada (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2010). Com relação ao setor agrícola canavieiro o decreto estabelece em seu artigo 16 que: O emprego do fogo, como método despalhador e facilitador do corte de cana-de- açúcar em áreas passíveis de mecanização da colheita, será eliminado de forma gradativa, não podendo a redução ser inferior a um quarto da área mecanizada de cada unidade agroindústrial ou propriedade não vinculada a unidade agroindústrial, a cada período de cinco anos, contados da data de publicação deste decreto. Esta lei significa um grande avanço tanto na preservação do meio ambiente, redução na emissão de dióxido de carbono e benefícios para saúde pública, necessitando, porém de 43 uma maior fiscalização e maior rigor nas aplicações de suas penalidades para que sejam cumpridas suas determinações. Os malefícios ambientais do fogo tanto em áreas agrícolas como em áreas de vegetação nativas não ficam apenas nos prejuízos à flora, eles vão além disso, provocando a morte de muitos animais desses habitats, além do empobrecimento do solo. Como medida de combater o fogo, tanto diretamente como indiretamente em áreas florestais, o Ibama criou o Sistema Nacional de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Prevfogo) (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2010). Além do combate e monitoramento, esse sistema é de grande importância no controle das atividades que utilizam-se do emprego do fogo próximas as áreas de risco. Como medida de intensificar o combate ao fogo propõe-se a adoção de uma maior intensificação em seu combate por parte das empresas, não deixando esse trabalho apenas para o Poder Público tendo em vista que ele pouco faz. 44 5. CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL NA OCUPAÇÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR NO CERRADO 5.1 Ações para a sustentabilidade no setor sucroalcooleiro. Observa-se uma forte preocupação por parte de alguns empresários e políticos no sentido de preservar o meio ambiente, isto devido ao fato do Brasil estar sendo observado por outros países quanto à utilização correta de seus recursos naturais, o que provocaria a perda do mercado internacional de exportação no caso de sua degradação. De acordo com Fábio Feldmann, ex-deputado federal e ex-secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, em entrevista à revista Anuário da Cana (2009) caso os ecossistemas sensíveis não sejam protegidos as consequências poderão ser drásticas; o pior cenário seria a pressão internacional para que não se consuma produtos brasileiros como é o caso do etanol. Assim como Feldmann, vários especialistas na área ambiental querem demonstrar a importância de se incorporar a dimensão ambiental à produção de cana-de-açúcar, respeitando a legislação nacional. O cumprimento dessas metas facilitaria o acesso ao mercado internacional, já que há uma preocupação mundial com respeito ao aquecimento global devido principalmente à emissão de CO2. A cobrança por um modelo de expansão canavieira capaz de promover um desenvolvimento social que minimize os impactos ambientais não deve ser vista apenas como exigência de países importadores de seus produtos, mas sim visando a uma exigência global. Projeto como o de Zoneamento Agroecológico da cana-de-açúcar consiste em um avanço muito grande quanto a preservação do meio ambiente sobretudo no aspecto da conservação do Cerrado, já que o crescimento da produção tanto da cana-de-açúcar como de outros produtos ocorrerá inevitavelmente em sua área. O MMA, (2009, p. 37) esclarece que: O zoneamento elaborado sob supervisão da Casa civil da Presidência da república e coordenado pelos ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do MMA, com a execução técnica da Embrapa, com a participação da Conab, Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Instituto Brasileiro de Geografia e 45 Estatística (IBGE), Universidade Estadual de campinas (UNICAMP) e Serviço Geológico do Brasil (GPRM), entre outros. Tem como objetivo identificar áreas estratégicas para a expansão sustentável da agroindústria canavieira voltada à produção de açúcar e de álcool – não se aplicando, portanto, a outros produtos oriundos da cana-de-açúcar, tais como cachaça, rapadura e açúcar mascavo. Sua base de informação eminentemente técnica é formada por um sistema de informações geográficas voltado à formulação de política públicas que estimulem o desenvolvimento sustentável da agroindústria canavieira, com base em aspectos de solo, clima, relevo, vegetação e uso atual da terra, envolvendo cerca de 15 mil cartas geográficas. Outro importante instrumento para a conservação do Cerrado é a fiscalização de suas áreas, fato este que se torna difícil devido ao tamanho do bioma. O MMA (2009) salienta que o Cerrado ainda não tem um sistema de monitoramento da cobertura vegetal como o que ocorre na Amazônia e que seu sistema ainda está em fase de construção. Jendiroba (2006) especifica que de acordo com o Código Florestal, tirando as Áreas de Preservação Permanentes (APPs), 80% do imóvel rural pode vir a ser desmatado, restando 20% de Reserva Legal (RL). Em alguns estados a porcentagem de RL pode variar de acordo com as leis locais. Considerando o grande número de propriedades rurais no Cerrado a porcentagem de RL é muito pouca. Jendiroba (2006) revela que ao longo dos anos, essa preservação não foi considerada pela maioria dos proprietários rurais que discordam de privar uma parte da área para manter a vegetação nativa. Também não houve a obrigatoriedade de constituição e averbação de reserva legal em cartório, limitando as pretensões futuras da área, assim como suas divisões entre herdeiros. A preservação e estabelecimento legal das áreas de reserva foram deixadas de maneira geral para o futuro e o que se viu foi divisão de propriedades e redução da vegetação nativa. O mesmo procedimento foi adotado nas Áreas de Preservação Permanente. Não é raro ainda encontrar a cultura agrícola ou pastagens explorando toda a beirada dos corpos d´ água (Figura 6). A figura 6 trata-se de uma foto tirada na cidade de Araçatuba, no dia 20 de janeiro de 2011. A figura mostra a atividade agrícola da cana-de-açúcar próximo ao Ribeirão Córrego Azul, afluente do Rio Tietê na região de Araçatuba; isso comprova que ainda não há a intenção da conservação dos recursos vegetais e hídricos por parte de algumas empresas. Com o represamento do Rio Tietê, na década de 80, o volume de água aumentou e avançou para antigas áreas agrícolas, de pastagens e vegetação nativa. Depois de algum tempo, em alguns locais, foi introduzida a cana-de-açúcar ao invés de recuperar a mata ciliar. 46 Figura 6: Plantação de cana-de-açúcar próxima à margem do rio O cumprimento da obrigatoriedade de RL é incentivado por meio da legislação em que é adotado um prazo para o abandono e recuperação de áreas já desmatadas. Todas as legislações prevêem a recuperação ambiental. Toda essa ocorrência de acontecimento se dá devido ao fato do proprietário considerar apenas a questão econômica individual e não comum, eles consideram não ser produtivo privar-se da utilização de uma área de preservação ou recuperar estas áreas. De acordo com Jendiroba (2006), as APPs, mata ciliares e topo de morros principalmente têm sido recuperadas pelo setor sucroalcooleiro, mais por força de autuações do que por cumprimento legal ou espontânea. É o que se espera que ocorra em relação ao restabelecimento da RL das propriedades. É importante salientar que até mesmo para o ganho econômico é importante a preservação das Áreas de Preservação Permanentes e Reserva Legal, isto devido a valorização da propriedade e o fornecimento adequado da água que é fundamental para agricultura. Leis criadas para obrigar o cumprimento e complementar o Código Florestal são de grande importância. O MMA (2006), na resolução CONAMA 339/06 em suas especificações 47 considera independentemente de qual seja o bioma ou o tamanho da propriedade que as APPs localizadas em cada posse ou propriedade, são de interesse nacional tendo a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxogênio da fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar da população humana. Para que sejam cumpridas as leis, essas áreas necessitam de um sistema de monitoramento de sua cobertura vegetal devido à grande atividade econômica na região, principalmente a pecuária e a agricultura. Esse tipo de fiscalização permite um maior controle do desmatamento, estabelecendo o que é desmatamento legal e ilegal assim promovendo um maior gerenciamento ambiental em suas áreas de RL e APPs, além de controlar os limites máximos de desmatamento estabelecido pelo Código Florestal. Enquanto as leis estabelecem medidas a serem tomadas de forma mandatória; ações voluntárias no setor privado são de fundamental importância para a certificação da sustentabilidade no setor. Nesta linha, de acordo com Graziano e Lucon (2008), em 4 de junho de 2007, o Governo de São Paulo e a União da Indústria de Cana-de-açúcar (UNICA) lançaram o Protocolo Agroambiental de Boas Práticas para o setor. Suas ações são operacionalizadas pelo programa etanol verde. Entre as principais diretrizes técnicas para o cumprimento do protocolo estão: proteger as áreas de matas ciliares das propriedades canavieiras devido à relevância de sua contribuição para preservação ambiental e proteção à biodiversidade, diminuir o prazo final para a eliminação da queimada em algumas áreas, entre outras medidas de preservação, tanto para o solo a água e o ar. Além do bom exemplo que ocorre no estado de São Paulo, devido à antecipação da eliminação da queima da palha da cana-de-açúcar para 2017; cidades como Araçatuba e Limeira demonstram boa vontade em preservar o meio ambiente. Em Limeira ficou proibido a queima da palha da cana-de-açúcar para proteger o meio ambiente e preservar a saúde dos moradores. Em Araçatuba, de acordo com Rozas (2010), o município institui a adoção de nascentes e prevê também a proibição de lançamento de águas pluviais de redes de galerias, construção, retiradas de árvores, plantio de espécies exóticas, acesso a criação de amimais em áreas de nascentes e queimadas. Os protocolos voluntários não resolvem todos os problemas do setor, mas estabelecem um padrão positivo a ser seguido, na qual juntamente com as medidas mandatórias contribuem para um crescimento sustentável para o setor. 48 5.2 Integração cana-de-açúcar pecuária na conservação da vegetação nativa Como relatado no capítulo quatro, a cana-de-açúcar desloca a pecuária para outras regiões, o que provoca o desmatamento por meio de novas ocupações. Na visão de Sparovek, Maule e Burg (2008) um dos fatores esperados para a expansão da cana-de-açúcar é a continuidade no deslocamento da pecuária na área de expansão. O autor ainda salienta que São Paulo e região Centro-Sul são as indicadas
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