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HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 1 HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL A evolução da saúde está relacionada com a evolução da própria sociedade, tanto do ponto de vista Sócio- econômico, como científico. PERÍODO COLONIAL Por época do descobrimento do Brasil, as terras eram belas, havia riqueza de alimentação, pureza de águas e clima ameno combinando com a saúde dos índios que ocupavam a região litorânea do Brasil, que desconheciam até então as mortais enfermidades que ceifavam a vida de milhares de vidas em todo o continente europeu. A coroa portuguesa tinha por prioridade a urbanização das cidades, comercialização e circulação de mercadorias, através de abertura de portos por onde toda produção escoava. O “paraíso tropical” foi logo substituído, por volta do séc. XVII quando colonizadores brancos e os escravos africanos tinham pouca chance de sobrevivência, devido aos conflitos com os indígenas, dificuldades materiais da vida na região e sobretudo, múltiplas doenças. A maioria da população utilizava a medicina popular (uma mistura de cultura indígena, jesuítica e africana ) e apenas os senhores rurais tinham acesso aos profissionais da medicina. Diante deste dilema sanitário, foram criados os cargos de Físico-mor e Cirurgião-mor pela Administração das Colônias. Poucos médicos se arriscavam a vir para o Brasil, pelo baixo salário e doenças tropicais. A pobreza era imensa, não tinham como pagar as consultas, o povo também tinha medo de se submeter aos tratamentos médicos da época (sangrias e purgantes). Então a maioria da população buscava nos curandeiros os remédios para seus males. Em 1746 havia apenas 6 médicos europeus no Território Brasileiro. A varíola era a principal doença no período colonial, disseminando-se entre os índios e escravos que trabalhavam nos engenhos de açúcar e na extração de ouro. Apenas se isolavam os doentes, pois pouco se sabia sobre as doenças infecto-contagiosas. Com a vinda da Corte Portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, criou-se então 2 Escolas de Medicina, localizadas no Rio de Janeiro e na Bahia. Os médicos do império não sabiam o que fazer para evitar as epidemias, e levantaram a hipótese que os navios estrangeiros eram os principais causadores das epidemias (varíola, febre amarela e cólera). Criou-se então a Inspetoria de Saúde dos Portos. Os navios com passageiros enfermos deveriam se submeter à quarentena obrigatória. Ainda no período colonial, muitos médicos concluíram que as doenças cariocas eram causadas pelos “miasmas”, isto é, pelo ar corrompido, que vindo do mar pairava na cidade. Como precaução os mais ricos se afastavam da Corte nos períodos de crise sanitária e procuravam refúgio nas cidades serranas. Para os que ficavam era proibido o consumo de alimentos gelados, que segundo eles facilitavam as infecções e de vez em quando disparavam tiros de Canhão para movimentar o ar e afastar os perigosos “Miasmas” sobre a cidade. Os doentes ricos ainda buscavam assistência médica na Europa e em clínicas particulares na Serra Fluminense. Os pobres iam aos curandeiros e as Santas Casas de Misericórdia, onde internavam pacientes de todos os tipos e até dividindo o mesmo leito, sendo a morte o destino certo dos pacientes pobres. A primeira Santa Casa foi criada em 1543, cumprindo a promessa cristã de socorrer os mais pobres, na Vila de Santos. PERÍODO REPUBLICANO A monarquia não mais atendia aos interesses da Burguesia; deu-se então a Proclamação da República em 1889 trazendo a ideia de modernizar o Brasil a todo o custo. O lema era Ordem e Progresso, e para isso era necessário um povo saudável para o trabalho cotidiano que era a força propulsora do progresso nacional. O Brasil não queria ser conhecido como “região bárbara”, mas uma sociedade civilizada. Assim a medicina HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 2 assumiu o papel de guia do Estado para assuntos sanitários, comprometendo-se a garantir a saúde individual e pública (Surge a medicina pública e a epidemiologia, com a fundamentação científica dos Conceitos de Louis Pasteur da Unicausalidade). Quadro 1- Óbitos por Varíola e febre amarela ma Cidade do Rio de Janeiro, 1850-1899. Anos Mortes por Febre Amarela Mortes por Varíola 1850-1859 10.970 642 1860-1869 2.295 730 1870-1879 12.916 6625 1880-1889 9.376 6852 1890-1989 20.879 8599 Os principais objetivos por parte dos médicos higienistas eram: - Fiscalização sanitária dos habitantes das cidades - Retificação dos rios que causavam enchentes - Drenagem dos pântanos - Destruição de viveiros de ratos insetos - Regras básicas de higiene - Isolamento de pessoas com doenças infecto-contagiosas O prefeito do Rio de Janeiro na época, Engenheiro Pereira Passos, determinou a expulsão de milhares de trabalhadores pobres dos cortiços, alegando que eram estes os principais locais para a proliferação de ratos e insetos, promovendo a derrubada desses prédios. Os fiscais também invadiam as residências para localizar ninhos de ratos e viveiros para mosquitos, destruição das favelas dos morros do Rio e a terraplenagem destes morros. Para assegurar a eficiência das tarefas higienistas e dos fiscais sanitários, o Governo organizou vários Institutos de Pesquisas – Instituto Manguinhos em 1899, Butantã e o Adolfo Lutz em 1892 propiciando a vinda de vários pesquisadores estrangeiros para orientar as atividades iniciais dos Institutos. 1902- 1906 – A Capital da República (Rio de Janeiro), passou por uma profunda reforma urbanística e sanitária Cria-se a DIRETORIA NACIONAL DE SAÚDE, ligado ao gabinete da Presidência, dirigido por Oswaldo Cruz para o combate das epidemias. Essa Diretoria, que foi o embrião do Ministério da Saúde, adotou o modelo das Campanhas Sanitárias, de inspiração militar. A cidade era dividida em distritos, encarcerando os doentes de doença contagiosa e obrigando pela força o emprego de práticas sanitaristas. Na área da assistência individual, as ações de saúde eram eminentemente privadas. A Assistência hospitalar pública assumia o caráter de assistência social: abrigava e isolava os portadores de hanseníase e tuberculose. Nas demais áreas de atenção, a assistência, aos que não podiam custeá-la considerados indigentes, eram praticadas por entidades de caridade (Geralmente as Santas Casas). Em 1902 houve uma grande epidemia de Febre Amarela em Santos - atingindo o coração do Brasil - o Porto de Santos. Havia grande necessidade de mão de obra no País, porém as epidemias assolavam nossos trabalhadores (O Rio de Janeiro era conhecido como matadouro de estrangeiros). A mão de obra européia (capital humano) recusava-se a vir para o Brasil devido à febre amarela, varíola, cólera, malária, tifo e peste e as péssimas condições de saneamento. Esses fatos geraram grave instabilidade política e econômica. HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 3 As medidas de proteção específica (Uso de inseticidas para o combate da Febre Amarela) não foram bem aceitas pela população, sendo necessário o Exército usar seu poder nas ações de Saúde Pública. A situação mais tensa foi a REVOLTA DA VACINA Em 1904 a Lei que estabelecia obrigatoriedade da Vacina contra a Varíola foi aprovada pelo Congresso Nacional. Oswaldo Cruz vinha forçando o Congresso a aprovar esta Lei. O povoreagiu em massa, pois desconheciam a composição e qualidade do material empregado na imunização, e achavam indecoroso as moças terem que levantar a manga da blusa para um desconhecido aplicar a vacina. Grupos políticos aproveitaram para engrossar as críticas contra o Governo e sua ação sanitária. A radicalização da Ação sanitária pela Força Militar ganhou o nome de REVOLTA DA VACINA. Nas décadas de 20 a 30 o Brasil tinha uma população rural em volta de 20 milhões, sendo 17 milhões de enfraquecidos pelos parasitas intestinais, 3 milhões com doença de Chagas, 10 milhões com malária e ainda 5 milhões com Tuberculose. Padeciam com mais de uma enfermidade, além da subnutrição e alcoolismo (Monteiro Lobato criou o Jeca Tatu – retratando o homem brasileiro rural, cujas enfermidades impediam de participar no esforço do Brasil progredir). Realizado o 1º Congresso Brasileiro de Higiene, no qual se discutiram as soluções para os problemas de Saúde Pública do Brasil. Ao invés de ações imediatistas no período de epidemias, a idéia era aplicar medidas preventivas antes do agravamento dos problemas, utilizando educação sanitária. 1924- Criado o Instituto de Higiene ( Atual Escola de Saúde Pública da USP ). A SAÚDE PÚBLICA NA ERA VARGAS O Estado se compromete oficialmente com a saúde da população. A Saúde e a Educação estariam de mãos dadas. Geraldo de Paula Souza cria um sistema de saúde através dos Centros de Saúde (década de 1920), onde estes centros atenderiam e orientariam enfermos, além de funcionar como porta de entrada para a internação hospitalar. O desenvolvimento das Políticas de Saúde no Brasil se deu a partir da necessidade de participação do ESTADO no controle das doenças epidêmicas e de outros agravos à saúde, os quais interferiam no processo de crescimento econômico do País. A Mortalidade infantil e materna era altíssima. Os partos eram domiciliares, Os ricos eram atendidos pelos médicos particulares da família, e os pobres, a coletividade eram atendidos por Curandeiros e pelas Santas Casas, que hospedavam os moribundos, dando um pouco de higiene e comida, cristianizando os pobres, e batizando-os para não morrerem pagãos. Elite intelectual achava que as endemias e a baixa produtividade da população se devia à qualidade da “raça brasileira” (mistura de brancos, negros e índios). O Brasil era um vasto hospital necessitando intervenção econômica e sanitária. HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 4 1930 a 1964 ► 1º Grande Surto de Industrialização e Urbanização. Grande êxodo rural e o Brasil recebe um grande número de imigrantes portugueses, alemães e espanhóis. Surge o operário urbano, até então só havia trabalhadores rurais e os ferroviários. A aceleração do ritmo industrial provoca uma nova ordem social. Os operários acidentados ou doentes deveriam procurar os hospitais filantrópicos que nada cobravam pelo tratamento. Então os sindicatos começaram a pressionar o Estado a prestar uma assistência médica de qualidade e com aposentadoria, reivindicando algo parecido com a Previdência Social. A Lei ELÓI CHAVES, em 1923, cria as “Caixas de Aposentadoria e Pensões” (CAPS), para os trabalhadores de estradas de ferro, portuários e marítimos, onde os funcionários teriam direito a aposentadoria, pensões e assistência médica e seus dependentes. Essas Caixas eram organizadas por empresas. No entanto as CAPS apresentavam um serviço muito irregular para os doentes graves. Para o operário que não tinha carteira de trabalho e que não contribuía para nenhuma CAPS restava a caridade pública. Era considerado pela administração dos Hospitais como indigente (rótulo dado para quem perdera a saúde e não tinha dinheiro para pagar o tratamento). Iniciou-se também um movimento de educação em saúde através de cartazes e panfletos, mensagens higienistas no rádio, pois muitos eram analfabetos, expansão do saneamento, medidas profiláticas contra Febre Amarela. Estas ações eram feitas através de um convênio com a Fundação Rockfeller, que instituiu um programa de visitadoras sanitárias. A revolução de 1930 que colocou Getúlio Vargas no poder, a queda da Bolsa de Nova Iorque e a longa crise do café com a desvalorização deste produto no mercado internacional fez com que a economia se dirigisse para os centros urbanos e para empreendimentos industriais. Esse desenvolvimento das forças produtivas acelerou-se e exigiu mudanças estratégicas na saúde. Então a partir de 1930 as Caixas se tornaram Institutos de Aposentadorias e pensões (IAPS) que se organizaram por categorias profissionais (ferroviários, marítimos, bancários, industriários, transportadores de carga). Esses Institutos dividem as classes assalariadas urbanas por setores de atividade econômica, abrangendo o conjunto de assalariados do país mesmo o de pequenas empresas. No salário era descontado um certo valor para pagar a aposentadoria e pensões dos trabalhadores. As pressões dos trabalhadores por melhorias na saúde são canalizadas para a simples assistência médica curativa por meio dos IAPS. Logo estes Institutos começaram a se diferenciar pela Assistência Médica. Alguns Institutos eram muito fortes, tinham bastante dinheiro arrecado, credenciavam hospitais privados e, após certo tempo começaram a construir seus próprios hospitais, mas mesmo assim algumas empresas não estavam satisfeitas com o atendimento dispensado. Com a criação dos Institutos permitiu-se também ao Estado participar deste controle. Os recursos dos IAPS eram arrecadados através do desconto salarial obrigatório, para criar um fundo que, investido, gerava a massa de recursos necessários para pagar a aposentadorias e pensões. Portanto os IAPS eram financiados pela contribuição do trabalhador, das empresas e teoricamente também pelo Estado. O Presidente dos Institutos agora era nomeado pelo Presidente da República. Houve então um aumento na rigidez para a concessão dos benefícios, a diminuição dos valores a serem concedidos e o aumento progressivo da contribuição dos segurados. Essas medidas aumentaram em muito a receita destinada às reservas previdenciárias. Os vultosos recursos acumulados sob o controle do estado viabilizaram o projeto da Industrialização – que era o projeto político econômico do Governo. Em 1953 foi criado o Ministério da Saúde e o Brasil destinava apenas 1,2% do PIB na década de 50 para a saúde, enquanto a Suécia 4,5%. A falta de Dinheiro impedia a eficácia na péssima situação da saúde coletiva. Havia também o clientelismo, onde líderes políticos trocavam ambulâncias, leitos HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 5 hospitalares, profissionais de saúde e vacinas por votos e apoio eleitoral. Nas duas primeiras décadas do Ministério da Saúde a pasta teve 19 Ministros. A ação do Estado no Setor Saúde se divide claramente em dois ramos: de um lado a saúde pública, de caráter preventivo e conduzida através de campanhas; de outro, a assistência médica, de caráter curativo, conduzida através da ação da previdência social. As áreas rurais ficavam sob a quase exclusiva responsabilidade do Ministério da Saúde. As regiões industriais e densamente povoadas (urbanas) eram atendidas pelos hospitais e clínicas conveniadas com os IAPS, mantidos pelos trabalhadores e seus patrões. A medicina privada pressionava o Governo Federal e Estadualque restringisse ou até interrompesse os planos de Construção de hospitais públicos. Eles defendiam a posição de que o Estado não deveria competir com a Medicina Privada: deveria fazer doações e empréstimos a juros baixos para que os empresários criassem uma rede de clínicas e hospitais. Essa rede venderia seus serviços à população e aos IAPS. Mais uma vez o setor político aprovou leis que garantiam privilégios para os grupos privados prestadores de serviços médico-hospitalares. Deputados eram sócios de hospitais, e eram eles os mais beneficiados com esses empréstimos. No Maranhão, em 1960, uma família de políticos latifundiários era proprietária de 8 hospitais, que era financiada por empréstimos do Governo federal, que nunca chegou a ser devolvido ao Governo. As estatísticas de morbimortalidade aumentam significativamente, acidentes de trabalho, êxodo rural trazendo famílias pobres que adoeciam nas cidades. A mortalidade infantil era maior do que no Peru, Índia e El Salvador, não havia um saneamento básico satisfatório, portando o consumo de águas poluídas agravava as infecções gastrintestinais e a morte., Quadro 1- Mortalidade infantil em algumas capitais brasileiras em 1955, por mil nascidos vivos. Natal - RN 421,6 Salvador - BA 353,5 Curitiba - PR 143,0 Rio de Janeiro- -RJ 112.2 São Paulo – SP 86,5 Participação da Fundação SESP ( Fundação Serviço Especial de Saúde Pública) para combater a malária no Norte do País, combate a Doença de Chagas e a Esquistossomose. Criação do Instituto da Criança e a Legião Brasileira de Assistência (LBA), contribui com elevados donativos para a instalação de mais de 50 postos de Saúde em vários municípios para o incentivo a vacinação, campanhas contra a desidratação, distribuição de leite e redução da mortalidade infantil. DE 1964 em DIANTE O golpe Militar de 1964 colocou fim a democracia populista, marcado por instabilidade econômica, arroxo salarial e baixa do poder aquisitivo, deteriorização das condições de vida das pessoas, incidência de hanseníase, varíola, poliomielite, aumento da mortalidade infantil, gerando muitos movimentos grevistas. Em 1966 os IAPS foram extintos e reagrupados, chamando-se INPS – Instituto Nacional de Previdência Social, agora ligado ao Ministério do Trabalho. A Unificação de todos os IAPS no INPS centraliza todas as contribuições previdenciárias do País e assume, de forma centralizada todo o sistema previdenciário. Dá-se a expansão da Assistência Médica privada, tratando o sintoma para que aquela força HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 6 trabalhadora voltasse logo ao trabalho. Proteger o trabalhador era proteger a força de trabalho. Só era valorizado aquele que gerava riquezas. Houve então intenso privilegiamento de interesses econômicos do setor privado da saúde por parte da Previdência (indústria farmacêutica, equipamentos médico-hospitalares e proprietários de hospitais), acelerando o crescimento do modelo curativo. A influência americana na área de saúde, refletiu-se na construção de um modelo semelhante aos padrões americanos, no qual a construção de grandes hospitais, equipamentos, concentrando o atendimento médico de toda uma região, colocando em segundo plano a rede de postos de saúde, consultórios e ambulatórios, cujos custos seriam bem menores. Havia uma tendência de construção de hospitais cada vez maiores e quantidade e extensão. Em 1968 o governo anuncia linhas de financiamento a fundo perdido para a construção de hospitais particulares para aumentar o número de leitos e atender os trabalhadores na Previdência Social Neste período houve acentuado declínio das atividades de caráter coletivo e de saúde pública do Ministério da Saúde e o aprofundamento das ações de caráter individual e curativo através da Previdência Social. O INPS iria ter sob seus cuidados todas as contribuições de todos os Institutos, o que geraria uma massa imensa de dinheiro. Em 1970 a arrecadação do INPS era a 3º maior de todo país. O INPS firmou convênios com 2300 hospitais dos 2800 instalados no país, utilizando o setor privado para atender a massa trabalhadora. Muitas eram as fraudes para receber aquilo que tinha direitos e muito mais. Guias de internação falsificadas, cirurgias desnecessárias, prática de cesáreas em vez de parto normal foram mecanismos comuns de fraude. Mais do que prejuízos materiais a grave consequência foi a contínua degradação do serviço prestado a população trabalhadora que não tinha outro recurso a não ser recorrer ao INPS. Boa parte das contribuições recolhidas do INPS serviriam de investimentos em obras tais como: Ponte Rio Niterói, Usina de Itaipu, Rodovia Transamazônica e etc., que nunca voltaram para a Saúde. Em meados de 1970 o Brasil foi palco de uma profunda crise política e financeira que teve entre outras consequências o esgotamento do modelo assistencial, estabelecido pelos privilégios concedidos pela Previdência Social ao setor privado de saúde, com proliferação de contratos de serviços por empresas e privadas, sem controle por parte da previdência desses serviços, criando condições para a corrupção. Não havia fiscalização dos serviços médicos executados pela rede privada. Em contra partida, os diversos serviços de Saúde Pública são obrigados a fechar ou a trabalhar com um mínimo de recursos. As condições de saúde se agravavam em função das ações individuais de alto custo e de baixa eficácia. Em 1971 iniciou-se uma grande epidemia de meningite nas capitais brasileiras, mas só em 1974 quando houve um súbito aumento de caso, com milhares de mortes, o governo federal destinou recursos para conter a enfermidade e também o pânico da população. Nunca se soube o número de atingidos, informação mantida em sigilo pela ditadura. Concomitantemente a meningite, encontravam-se outras doenças como por exemplo: cólera, a dengue e etc. A epidemia da meningite recoloca a saúde na pauta política. A população excluída, desempregada da periferia faz pressão para obter assistência médica. Em 1974 criou-se o Ministério da Previdência Social (MPAS) que tentou unificar o INPS (Previdência Social) e o INAMPS (Instituto Nacional da Assistência Médica da Previdência Social) e o IAPAS (Instituto de Administração financeira da Previdência Social). A criação de todos esses órgãos dificultou ainda mais o controle do orçamento da Previdência, favorecendo desvios e corrupções, sendo que não havia fiscalização. HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 7 Declarações de autoridades ligadas a Previdência na época, davam a entender que o Sistema de Previdência estava tecnicamente falido. O IAPAS não dispunha mais de recursos necessários para manter a assistência médica através do INAMPS, nem aposentadorias e pensões através do INPS. Falência da Previdência Social ocorreu porque o dinheiro que foi investido em obras das mais diversas modalidades, não voltou em recursos para a população. Muitos hospitais que cresceram à custa da Previdência, agora se descredenciam dos atendimentos gratuitos. A construção ou reforma de inúmeras clínicas e hospitais privados, com financiamento da Previdência Social e o enfoque da medicina curativa fez com que se multiplicassem as faculdades particulares de Medicina. O ensino médico passou a ser desvinculado da realidade sanitária da população, voltado para a especialização e a sofisticação tecnológica e dependente das indústriasfarmacêuticas. Desde 1966 o governo liberou verbas para as empresas privadas construírem estes hospitais, sustentando por quase 20 anos estes hospitais. Posteriormente estes proprietários consideraram-se capitalizados e se descredenciaram do INPS. O dinheiro da previdência não era mais suficiente para cobrir os gastos com assistência médica e o número de leitos diminuiu, portanto, um dos motivos da falência da Previdência foram os custos, determinados pela privatização da Rede. Na tentativa de se reorganizar a Assistência Médica da Previdência foi criado o Prev-Saúde e o Conasp (Projeto para se estender os serviços de saúde para a toda a população). Instaura-se a Rede Básica de Atenção Primária a Saúde, muito combatidos pela Medicina Privada que ganhava dinheiro com a “Miséria da saúde Pública”. Foram planos que não conseguiram ser implementados. 1983- Criou então as AIS (Ações Integradas de Saúde), para atender de forma organizada as necessidades prioritárias da população de acordo com a Política Nacional de Saúde, baseada em critérios epidemiológicos. Pela primeira vez as prefeituras iriam receber recursos federais oriundo da Previdência mediante o pagamento de serviços prestados. Os AIS fundamentavam-se no repasse dos recursos do INAMPS através da assinatura de convênios com Estados, Municípios para o custeio e investimento em programas locais. Avanços expressivos foram conseguidos em vários estados, possibilitando o fortalecimento da rede básica ambulatorial, aumento da capacidade de atendimento à demanda, contratação de recursos humanos e a revisão do papel dos serviços privados. O passo seguinte foi o SUDS – Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde – que vem redefinir as atribuições dos três níveis de governo com sua precisa delimitação de funções. O SUDS era uma consolidação e aprofundamento das AIS. Defendia a universalização e equidade no acesso aos serviços, a integralidade dos cuidados, a regionalização dos serviços de saúde, a implementação dos distritos sanitários, a descentralização das ações e o desenvolvimento de uma política de recursos humanos; porém não deu certo devido a grande concentração de poder nas Secretarias Estaduais de Saúde e também total falta de controle dos recursos contratados. Foi nesse contexto que teve início a participação de populares nas ações de Saúde Pública em um processo de intenso debate e discussão acerca da Saúde no Brasil, originando inúmeras proposições que viriam a ser bandeiras de luta daquele que, posteriormente, se designaria Movimento da Reforma Sanitária. HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 8 1986 = VIII CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE Foi um movimento importantíssimo, do qual participaram cerca de 5000 pessoas oriundas de Instituições de Saúde, sociedade civil, profissionais de Saúde e partidos políticos. Essa Conferência durou 3 dias, com 135 grupos de trabalho, chegando as seguintes conclusões: Se tornou evidente que as modificações necessárias transcendiam aos limites de uma reforma administrativa e financeira. Era necessário uma reformulação mais profunda, sendo necessário rever a Constituição Brasileira no que diz respeito à promoção, proteção e recuperação à saúde, no que se convencionou chamar “Reforma Sanitária” Separação da “Saúde” da “Previdência”. O entendimento majoritário foi que a “Previdência Social” deveria se encarregar das ações próprias do seguro social (pensões, aposentadorias e demais benefícios) e a “Saúde” estaria entregue em Nível Federal à um único órgão com características novas. Até que se formasse esse novo orçamento próprio da Saúde, a Previdência Social deveria destinar recursos, que se gastava com o INAMPS para o novo órgão, e ir retraindo-se na medida do crescimento. Foram discutidos 3 temas: 1) Saúde como Direito: A partir desta Conferência deveria ser disparada uma Campanha Nacional em defesa do Direito Universal a Saúde, contra a mercantilização da Medicina Privada e pela Melhoria dos serviços Públicos. Que a saúde individual refletisse um interesse coletivo. Que a caracterização dos serviços fosse público e essencial. 2) Reformulação do Sistema Nacional de Saúde: deveria se criar um Sistema Único de Saúde, que separasse totalmente a Saúde da Previdência Social, através de uma ampla Reforma Sanitária. Que no Nível Federal esse novo sistema deveria ser coordenado por um único Ministério, reproduzindo-se nos níveis Estadual e Municipal. Que os portadores dos serviços privados passassem a ter controlados seus procedimentos operacionais e direcionadas suas ações no campo Saúde, sendo ainda coibidos os lucros abusivos. 3) Financiamento do Setor: O financiamento do Sistema Único de Saúde será de responsabilidade do Estado, a quem cabe levar uma política de descentralização, articulando a participação efetiva dos Estados e Municípios com uma ampla e profunda reforma Tributária. Essas linhas de debate foram encaminhadas através do Relatório Final da 8ª Conferência Nacional de Saúde para a próxima Constituição Brasileira, que aconteceria em 1988, através de uma “Comissão de Reforma Sanitária no País”. CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 A Constituição anterior (1969) dizia que os trabalhadores tinham direito a Assistência Médica e Preventiva, deixando claro que este trabalhador era o contribuinte, que tinha carteira assinada, tinha a carteira do INAMPS. Já a nova Constituição Brasileira defende que a “Saúde é um direito social, um direito do cidadão e um dever do Estado”, e que a Medicina privada tem o direito de participar com ações complementares (Inclusão dos artigos 196 ao 200 referentes as Saúde na Constituição Federal de 1988, e conseqüentemente nas Constituições Estaduais e Municipais). HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 9 LEGISLAÇÃO BÁSICA DO SUS CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 O SUS foi instituído pela Constituição de 1988. Faz parte de um sistema mais amplo: o Sistema de Seguridade Social. De acordo com o artigo 194 da constituição, a Seguridade Social “compreende um conjunto integrado de ações e iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. Esse conjunto de ações deve ser oferecido a toda população, pois o paragrafo único desse artigo determina a “universalidade da cobertura e do atendimento’”. SEÇÃO II DA SAÚDE ART. 196 = “A saúde é um direito de todos e Dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde. ART. 197 = São de relevância pública as ações e os serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre a sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. ART. 198 = As ações e os serviços de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um Sistema Único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I – Descentralização, com direção única em cada esfera de governo. II – Atendimento integral, com prioridades para as ações preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais. III – Participação da comunidade Parágrafo Único: OSistema Único de Saúde será financiado com recurso de seguridade Social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. ART.199 = A assistência à saúde é livre à iniciativa privada § 1º - As Instituições privadas poderão participar de forma complementar do SUS, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência às entidades filantrópicas e sem fins lucrativos. § 2º - É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos § 3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no país, salvo nos casos previstos pela Lei. § 4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplantes, pesquisa e tratamento bem como a coleta, o processamento e a transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo o tipo de comercialização. ART. 200 = Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da Lei: I – Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e particular a produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos. II – Executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador III – Ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde IV _ Participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico V – Incrementar em sua área de ação o desenvolvimento científico e tecnológico HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 10 VI _ Fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e água para consumo humano VII – Participar do controle e da fiscalização da produção, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos. VIII – Colaborar na proteção do meio-ambiente, nele compreendido o do trabalho NASCIMENTO DO SUS Para a efetiva implantação do SUS, seguiu-se um processo de elaboração e aprovação da legislação infraconstitucional denominada de “Leis Orgânicas da Saúde” (Lei nº 8.080 e nº 8142), que detalhou princípios, diretrizes gerais e condições para o organização e funcionamento do Sistema. Essas leis foram objeto de muita disputa política e só foram concluídas em dezembro de 1990. LEI ORGÂNICA 8.080 de 19 /09 /1990 ► que regulamenta o SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: Acesso, Qualidade e Humanização na Atenção a Saúde, com Controle Social LEI ORGÂNICA 8142 de 28 /12 / 1990 ► que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde através de Conselhos e Conferências de Saúde. Essa lei institui a participação social em cada esfera de Governo (Federal, Estadual e Municipal). Em cada esfera de Governo deve haver: Conferências de Saúde e Conselhos de Saúde. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DEFINIÇÃO: ►É um sistema porque: tem a mesma doutrina e princípios em todo Brasil, não é serviço ou instituição, compõe-se de um conjunto de unidades que interagem para fim comum, as responsabilidade de sua execução abrange as 3 esferas do governo de forma autônoma: Federal, Estadual e Municipal. LEI ORGÂNICA DA SAÚDE LEI 8080 19/09/1990 LEI 8142 28/12/90 Regulamenta o SUS: acesso, qualidade, humanização na atenção à saúde com Controle Social Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS Através de Conselhos e Conferências de Saúde HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 11 A iniciativa privada poderá participar de forma complementar. O SUS é uma nova formulação política e organizacional dos serviços e ações de saúde, estabelecida pela Constituição de 1988 e, posteriormente às leis que o regulamentam. O SUS não é o sucessor do SUDS ou do INAMPS, é um novo sistema para assistência a saúde dos brasileiros. O SUS segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todo o território nacional, sob a responsabilidade de 3 esferas autônomas de Governo: Federal, Estadual e Municipal. Assim o SUS não é um serviço ou uma Instituição, mas um Sistema que significa conjunto de unidades de serviços e ações que interagem para as atividades de promoção, proteção e recuperação à saúde. DIRETRIZES E PRINCÍPIOS DO SUS 1 - UNIVERSALIDADE ► Todas as pessoas tem direito ao mesmo atendimento, independente da cor, raça, religião, local de moradia, situação de emprego ou renda, etc. A saúde é um direito da cidadania e dever dos Governos Municipal, Estadual e Federal Deixam de existir os “indigentes” que eram os brasileiros não incluídos no mercado formal de trabalho. Acesso garantido aos serviços de saúde para toda a população, com todos os níveis de assistência, sem estabelecer condições ou exigir pagamento. É a garantia de atenção à saúde a todo e qualquer cidadão. Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de acesso a todos os serviços públicos de saúde, assim como àqueles contratados pelo poder público. 2- EQUIDADE ► Equidade é diferente de igualdade. Todas as pessoas tem direito ao atendimento as suas necessidades de saúde, mas as pessoas são diferentes, vivem em condições desiguais e com necessidades diferentes, ou seja, cada grupo ou classe social ou região tem seus problemas específicos, tem diferenças em seu modo de viver, de adoecer e de ter oportunidades de satisfazer suas necessidades de vida. Se o SUS oferecesse exatamente o mesmo atendimento para todas as pessoas, do mesmo modo, em todos os lugares, estaria provavelmente oferecendo coisas desnecessárias para alguns, deixando de atender as necessidades de outros, mantendo as desigualdades. Assim os serviços de saúde devem saber quais são as diferenças dos grupos da população e trabalhar para cada necessidade. O SUS não pode oferecer o mesmo atendimento a todas as pessoas da mesma maneira, em todos os lugares. Se isto ocorrer, algumas pessoas vão ter o que não necessitam e outras não serão atendidas naquilo que necessitam. O SUS deve trata desigualmente os desiguais, oferecendo mais a quem precisa de mais, procurando reduzir as desigualdades. 3 -INTEGRALIDADE ►Uma das mais graves distorções do sistema de saúde que se constituiu no país antes do SUS foi a fragmentação institucional da responsabilidade pelas ações de saúde, baseada numa concepção equivocada que entendia poder haver uma dicotomia (divisão em duas partes) entre “ações preventivas” e “ações curativas”. Na época anterior ao SUS o INAMPS cuidava da hospitalização e o Ministério da Saúde da “saúde pública” que realizava ações de educação. Ainda havia uma subdivisão dentro do Ministério da Saúde, a SUCAM cuidava do controle das endemias e a Fundação SESP tinha uma presença mais fonte na área do saneamento e da atenção primária (principalmente na região norte e nordeste do país). Cada um desses órgãos cuidava apenas de um ou alguns aspectos da saúde das pessoas e estas precisavam recorrer a varias instituições para resolver o conjunto de seus problemas de saúde, e não raro, conseguiam apenas uma parte do atendimento que buscavam. HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 12 A integralidade propõe que as ações de saúdedevem ser combinadas ao mesmo tempo para os níveis de Prevenção: Promoção, Proteção, Tratamento e Recuperação da Saúde formando um todo indivisível que não podem ser compartimentalizados. Isto não quer dizer que todas as unidades devem oferecer todos os tipos de ações, mas sim que cada uma delas deve estar comprometida com esse objetivo e integrada a uma rede de serviços que assegure o acesso, através de um sistema de referencia eficiente, que permita a cada unidade encaminhar sua clientela a outros estabelecimento para os atendimentos que precisar. A integralidade também expressa a idéia de que os serviços devem funcionar atendendo o indivíduo como um ser integral, submetido as mais diferentes situações de vida e trabalho, que o leva a adoecer e morrer. O indivíduo não deve ser visto como um amontoado de órgão “solto” no mundo. O tratamento deve ser feito para erradicar as causas e diminuir os riscos, além de tratar os danos. O principio da integralidade aponta ainda que as unidades prestadoras de serviço com os seus diversos graus de complexidade formam também um todo indivisível, configurando um sistema capaz de prestar assistência integral. 4 – RESOLUTIVIDADE / RESOLUBILIDADE ► É a exigência de que, quando um indivíduo busca o atendimento ou quando surge um problema de impacto coletivo sobre a saúde, o serviço correspondente esteja capacitado para enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua competência. Identificação e intervenção sobre as causas e os fatores de risco aos qual a população está exposta. 5 - DESCENTRALIZAÇÃO - COM DIREÇÃO ÚNICA EM CADA ESFERA DE GOVERNO ► A responsabilidade sobre a saúde dos brasileiros deve ser distribuída entre os vários níveis Federal, Estadual e Municipal, entendendo que quanto mais perto do fato a decisão for tomada mais chance haverá de mais acertos. A Constituição federal atribui aos prefeitos Municipais responsabilidades sobre as ações e serviços de atenção à saúde, reconhecendo que a proximidade lhes permitirá identificar as reais necessidades de saúde da população a este processo chamado municipalização. 6 - REGIONALIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO ► A rede de serviços de saúde deve ser regionalizada e hierarquizada, permitindo assim um conhecimento maior dos problemas de saúde da população de uma área delimitada, favorecendo ações de vigilância epidemiológica, sanitária, controle de vetores, educação em saúde, além das ações de atenção ambulatorial e hospitalar. Os serviços de saúde serão organizados em nível de complexidade tecnológica crescente, sendo assim o acesso da população deve ser através dos serviços de nível primário (Atenção Primaria em Saúde – APS), representada pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e unidades do Programa de Saúde da Família (PSF) que devem estar qualificadas para atender e resolver os principais problemas de saúde; este nível é capaz de atender 80% dos problemas que demandam serviços de saúde. Os que não forem resolvidos neste nível deverão ser referenciados para o nível secundário representado pelos Centros de Especialidades, que resolvem 15% dos problemas de Saúde. Caso ainda não sejam resolvidos deverão ser encaminhados ao nível terciário, representado pelos Hospitais de Referência que resolveriam os 5% restantes dos problemas de saúde (vide desenho a seguir). HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 13 Estes serviços deverão ser organizados em uma área geográfica delimitada, com definição da população à ser atendida e oferecerão todas as modalidades de assistência, sendo necessário para o seu completo funcionamento um ótimo grau de resolubilidade 7 - PARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS – CONTROLE SOCIAL ► É a garantia constitucional de que a população através de suas entidades representativas (Conselhos de Saúde e Conferências de Saúde) poderá participar dos processos de formulação das políticas de saúde e o controle de sua execução desde o nível Federal até o Municipal. É dever das Instituições oferecer informações e conhecimentos necessários para que a população se posicione sobre as questões que dizem respeito a sua saúde. Essa participação deve se dar nos Conselhos de Saúde, com representação paritária de usuários, governo, profissionais de saúde e prestadores de serviço. Outra forma de participação são as Conferências de Saúde, periódicas, para definir prioridades e linhas de ação sobre a saúde. Deve ser também considerado como elemento do processo participativo o dever das instituições oferecerem as informações e conhecimentos necessários para que a população se posicione sobre as questões que dizem respeito à sua saúde. A Lei 8142/90 define como ocorrera esta participação: A população participara dos processos de formulação das políticas e o controle de sua execução desde o nível Municipal até o Federal, através de duas instancias: os Conselhos de Saúde e as Conferencias de Saúde. Tanto as Conferências como os Conselhos são constituídos por usuários de um lado e prestadores de serviço de outro. Os usuários são membros de associações comunitárias, organizações religiosas e sociais e etc. Já os prestadores de serviço são profissionais de saúde, gestores de saúde, proprietários de instituições de serviços de Saúde. É dever das Instituições oferecer informações e conhecimentos necessários para que a população se posicione sobre as questões que dizem respeito à sua saúde. Conselhos de Saúde Conselhos de Saúde devem ser órgãos de: caráter deliberativo e permanente isto é, funcionam por tempo indeterminado, reunindo-se regularmente e têm o direito de tomar decisões relativas a política de saúde. Os Conselhos de Saúde são órgãos colegiados, integrantes do SUS, com funções deliberativas e fiscalizadoras. Tem caráter permanente, e deve ser composto paritariamente por usuários, trabalhadores de saúde e gestores públicos e privados (50% de usuários + 25% de trabalhadores da saúde e 25% de gestores de saúde). (vide exemplo do Conselho Municipal de Saúde - gráfico abaixo) HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Profa. Rosângela E. Minéo Biagolini 14 Conselho Municipal de Saude 50% 25% 25% (16) Usuários (08) Trabalhadores de Saude (08) Gestores de Serviços de Saude Observação: Haverá Conselho de Saúde em todos os níveis (Federal, Estadual, Municipal e até no nível das Unidades de Saúde), o que muda é o número de representantes, mas a questão da paritariedade deve ser mantida. Exemplo nos Conselhos de Saúde da UBS (Conselho Gestor) pode ser composto por 04 a 12 representantes Conferências de Saúde As Conferências de Saúde são órgãos de caráter consultivo, se reúnem em tempo determinado, não superior a 4 anos onde a sociedade é consultada amplamente e propõe soluções, mas sem poder de decisão. Não há um limite de participação, devem representar os anseios da população em relação a saúde, porém é necessário que a participação seja ascendente, oferecendo representatividade da sociedade. 8 - COMPLEMENTARIEDADE DO SETOR PRIVADO ► Quando houver insuficiência do setor público a contratação do setor privado deve ser: Através de contrato conforme normas de direito público A Instituição deverá estar de acordo com os princípios básico do SUS Dar preferência a serviços não lucrativos Cada gestor deverá planejar primeiro o setor público, e na sequência, complementar a rede assistencial com o setor privado não lucrativo.
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