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1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS - CCT DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA - DEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS E PROCESSOS AVANÇADOS - PGEMPA Formação: Mestrado em Engenharia de Materiais e Processos Avançados DISSERTAÇÃO DE MESTRADO OBTIDA POR Júlio Frederico Baumgarten CEMENTAÇÃO SÓLIDA EMPREGANDO GRANULADO ELABORADO A PARTIR DE CARVÃO VEGETAL RECICLADO E ATIVADOR DE CaCO3 ECOLOGICAMENTE CORRETO Apresentada em 12 /11 / 2003 Perante a Banca Examinadora: Dr. César Edil da Costa – Presidente (UDESC) Dr. Aloísio Nelmo Klein (UFSC) Dr. Guilherme Ourique Verran (UDESC) Dr. Luís César Fontana (UDESC) 2 DISSERTAÇÃO APRESENTADA PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ENGENHARIA DE MATERIAIS E PROCESSOS AVANÇADOS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA, CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT, ORIENTADA PELO PROF. DR. CÉSAR EDIL DA COSTA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA – DEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS E PROCESSOS AVANÇADOS - PGEMPA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Mestrando: JÚLIO FREDERICO BAUMGARTEN – Lic. Plena em Matemática Orientador: Prof. Dr. CÉSAR EDIL DA COSTA CCT/UDESC - JOINVILLE CEMENTAÇÃO SÓLIDA EMPREGANDO GRANULADO ELABORADO A PARTIR DE CARVÃO VEGETAL RECICLADO E ATIVADOR DE CaCO3 ECOLOGICAMENTE CORRETO Joinville 2003 3 FICHA CATALOGRÁFICA NOME: BAUMGARTEN, Júlio Frederico DATA DEFESA: 12/11/2003 LOCAL: Joinville, CCT/UDESC NÍVEL: Mestrado Número de ordem: 29 – CCT/UDESC FORMAÇÃO: Engenharia de Materiais e Processos Avançados ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Metais TÍTULO: Cementação Sólida Empregando Granulado Elaborado a Partir de Carvão Vegetal Reciclado e Ativador de CaCO3 Ecologicamente Correto PALAVRAS - CHAVE: Cementação Sólida, Ativador, Ecologia, Tratamento Térmico. NÚMERO DE PÁGINAS: VIII, 93 p. CENTRO/UNIVERSIDADE: Centro de Ciências Tecnológicas da UDESC PROGRAMA: Pós-graduação em Engenharia de Materiais e Processos Avançados – PGEMPA CADASTRO CAPES: 4100201001 P - 9 ORIENTADOR: Dr. César Edil da Costa PRESIDENTE DA BANCA: Dr. César Edil da Costa MEMBROS DA BANCA: Dr. Aloísio Nelmo Klein, Dr. Guilherme Ourique Verran, Dr. Luis César Fontana 4 À Cléia, Diogo, Gustavo e Thales 5 AGRADECIMENTOS Agradeço à Universidade do Estado de Santa Catarina e ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais, pela possibilidade da realização desta Dissertação. Ao Prof. Dr. César Edil da Costa, por sua orientação, incentivo e colaboração na formulação do tema e interpretação dos resultados. À Graix Materiais Avançados Ltda., pelo auxílio na elaboração dos Granulados e doação de todo o material para cementação necessário à realização da Dissertação. À Carbomafra Ltda., pela doação do carvão vegetal ativado reciclado. À Haas do Brasil Ltda., pela permissão da utilização do forno de tratamento térmico em condições industriais. À Garuva Abrasivos Ltda., pela permissão da realização das análises químicas junto ao Espectrômetro de Emissão Ótica Spectrolab®. À Buehler Ltd. – USA, pela doação do Analisador de Imagens Enterprise® - Omnimet®, necessário às capturas metalográficas e análise quantitativa de imagem. À Natriumville Consultoria e Análises Químicas Ltda., pela realização dos ensaios de classificação dos resíduos sólidos. À Metalab Consultoria e Análise de Materiais Ltda., pela realização dos ensaios para caracterização microestrutural e microdureza dos corpos de prova. Ao Téc. Vanderlei dos Santos, pelo auxílio na medição das microdurezas Vickers e capturas digitais das microestruturas. I 6 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................. IV LISTA DE TABELAS .................................................................................................................. V SIMBOLOGIAS E ABREVIATURAS ...................................................................................... VI RESUMO ................................................................................................................................... VII ABSTRACT ............................................................................................................................. VIII INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 13 PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 – História da cementação e tratamentos térmicos ................................................... 15 1.2 – Os problemas ecológicos na atualidade - armazenamento de resíduos sólidos ... 18 1.3 – Novos processos de cementação .......................................................................... 20 1.3.1 – Cementação em Banho Neutro ............................................................... 20 1.3.2 – Cementação a Vácuo ............................................................................... 22 1.3.3 – Cementação a Plasma .............................................................................. 23 1.3.4 – Cementação por Indução ......................................................................... 25 1.3.5 – Cementação Sólida Ecologicamente Correta .......................................... 26 1.4 – Mecanismo de Cementação Sólida ...................................................................... 27 1.4.1 – Difusão de carbono na austenita ............................................................. 28 1.4.2 – Cálculo da cinética de cementação ......................................................... 30 OBJETIVOS ............................................................................................................................... 32 PARTE II – MATERIAIS E MÉTODO EXPERIMENTAL 2.1 – Matérias Primas utilizadas .................................................................................. 33 2.1.1 – Matérias-primas dos granulados .............................................................. 33 2.1.2 – Aços para cementação ............................................................................. 34 2.2 – Composição dos Granulados ............................................................................... 35 2.3 – Elaboração dos granulados ................................................................................. 35 2.3.1 – Mistura dos pós ....................................................................................... 35 2.3.2 – Extrusão da massa plástica ...................................................................... 35 2.3.3 – Secagem dos grânulos ............................................................................. 35 2.3.4 – Pirolização dos grânulos .........................................................................35 2.4 – Caracterização Física dos Granulados ................................................................ 37 2.4.1 – Densidade aparente ................................................................................. 37 2.4.2 – Tamanho dos grânulos ............................................................................ 37 2.5 – Caracterização dos Corpos de Prova de Aço ...................................................... 38 2.5.1 – Análise química dos aços ........................................................................ 38 2.5.2 – Análise metalográfica dos aços ............................................................... 39 2.5.3 – Determinação do tamanho de grão ......................................................... 40 2.5.4 – Determinação da dureza dos aços ........................................................... 41 2.5.5 – Identificação dos corpos de prova ........................................................... 41 2.6 – Variáveis dos Processos de Cementação ............................................................. 44 2.7 – Método de Cementação Sólida ............................................................................ 45 2.8 – Termogramas de Processos ................................................................................. 46 2.8.1 – Cementação a 870 ºC .............................................................................. 46 2.8.2 – Cementação a 930 ºC ............................................................................... 47 II 7 2.9 – Equipamentos para caracterização dos corpos de prova ................................. .... 48 2.9.1 – Microscópio Ótico Union ................................................................... .... 48 2.9.2 – Analisador de imagens Omnimet® - Enterprise® .................................... 48 2.9.3 – Microdurômetro Mitutoyo ....................................................................... 49 2.9.4 – Espectrômetro de emissão ótica Spectrolab® ...........................................49 2.9.5 – Critério e método para o ensaio de microdureza Vickers (mHV) ........... 50 2.10 – Perfis teóricos de cementação sólida – Difusão de Carbono .............................51 2.10.1 - Determinação dos valores da Profundidade Efetiva de Cementação ..........53 PARTE III – RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3.1 – Perfis de Microdureza Vickers (mHV) ............................................................... 54 3.1.1 – Tabelas de resultados dos ensaios de Microdureza Vickers (mHV) .................59 3.2 – Gráficos do valor da profundidade efetiva de cementação (Pc) .......................... 63 3.2.1 – Tabelas dos resultados da profundidade efetiva de cementação ...................... 64 3.3 – Perfis do Teor de Carbono .................................................................................. 69 3.3.1 – Tabelas dos resultados do teor de carbono x profundidade de cementação ..... 73 3.4 – Microestruturas resultantes da cementação[ ........................................................ 77 3.5 – Classificação dos resíduos de cementação (ABNT 10.004) ............................... 79 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ......................................................................................... 86 CONCLUSÃO FINAL ............................................................................................................... 88 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ..................................................................... 89 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 90 ANEXOS .................................................................................................................................... 93 III 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Fotomontagem esquematizando a cementação superficial Figura 2: Processos de cementação industrial Figura 3: Cementação na antigüidade Figura 4: Quadro egípcio sobre tratamento térmico Figura 5: Espada de Aço Damasceno Figura 6: Espada em Aço Indiano Wootz Figura 7a,b: Processo de cementação líquida Figura 8: Curva de cementação obtida no processo PURE CASE® Figura 9: Curvas de cementação obtidas no processo NO-CY® Figura 10: Forno para cementação a vácuo de câmara simples Figura 11: Forno para cementação a vácuo de câmara dupla Figura 12: Sistema de multicâmaras para cementação à vácuo Figura 13: Curva de cementação a vácuo do aço 18 Cr Ni 8 Figura 14: Esquematização da unidade de cementação a plasma Figura 15: Forno de cementação a plasma Figura 16: Termogramas de processos de cementação por indução Figura 17: Curva de cementação sólida convencional Figura 18: Reação de cementação Figura 19: Reações no interior da caixa de cementação Figura 20: Difusão do carbono na austenita Figura 21: Efeito da temperatura sobre o coeficiente de difusão do carbono no ferro Figura 22: Perfil de cementação a 930 ºC Figura 23: Fluxograma de processo Figura 24: Granulado para cementação – Classe P 70 Figura 25. Esquematização das regiões de controle Figura 26 a,b: Metalografia do aço SAE/ABNT 1020 – condição de fornecimento Figura 27 a,b: Metalografia do aço SAE/ABNT 8620 – condição de fornecimento Figura 28: Tamanho de grão para o aço SAE/ABNT 1020 Figura 29: Tamanho de grão para o aço SAE/ABNT 8620 Figura 30: Variáveis pesquisadas Figura 31: Esquematização da carga de cementação Figura 32: Forno Industrial Jung TT 200 Figura 33 a, b, c: Termogramas para cementação a 870 ºC Figura 34 a, b, c: Termogramas para cementação a 930 ºC Figura 35: Microscópio ótico Union Figura 36: Microdurômetro Mitutoyo MVK – G2 Figura 37: Espectrômetro de Emissão Ótica Spectrocast Figura 38: Disposição das impressões de dureza Microvickers (mHV) Figura 39: Determinação da profundidade efetiva de cementação (Pc) Figura 39 a,b,c,d,e,f : Curvas teóricas de cementação a 870 ºC Figura 40 a,b,c,d,e,f : Curvas teóricas de cementação a 930 ºC Figura 41 a,b: Valores teóricos para a profundidade de cementação “Pc” Figura 42 a,b,c: Cementação do aço SAE/ABNT 1020 a temperatura de 870 ºC Figura 43 a,b,c: Cementação do aço SAE/ABNT 1020 a temperatura de 930 ºC Figura 44 a,b,c: Cementação do aço SAE/ABNT 8620 a temperatura de 870 ºC Figura 45 a,b,c: Cementação do aço SAE/ABNT 8620 a temperatura de 930 ºC Figura 46: Profundidade efetiva de cementação do Aço SAE/ABNT 1020, Temperatura de 870 ºC Figura 47: Profundidade efetiva de cementação do Aço SAE/ABNT 1020, Temperatura de 930 ºC Figura 48: Profundidade efetiva de cementação do Aço SAE/ABNT 8620, Temperatura de 870 ºC Figura 49: Profundidade efetiva de cementação do Aço SAE/ABNT 8620, Temperatura de 930 ºC IV 9 Figura 50 a,b,c: Percentual de Carbono para o Aço SAE 1020 / 870 ºC Figura 51 a,b,c: Percentual de Carbono para o Aço SAE 1020 / 930 ºC Figura 52 a,b,c: Percentual de Carbono para o Aço SAE 8620 / 870 ºC Figura 53 a,b,c: Percentual de Carbono para o Aço SAE 8620 / 930 ºC Figura 54: Camada cementada do aço SAE 1020, tratado a 930 ºC / 8 horas / R 1070 Figura 55: Camada cementada do aço SAE 1020,tratado a 930 ºC / 4 horas / R 1070 Figura 56: Microestrutura do núcleo do SAE 1020, temperado em água a 25 ºC Figura 57: Camada cementada do aço SAE 8620, tratado a 930 ºC / 8 horas / R 1070 Figura 58: Camada cementada do aço SAE 8620, tratado a 930 ºC / 4 horas / R 1070 Figura 59: Microestrutura do núcleo do SAE 8620, temperado em óleo a 55 ºC Figura 60: Resíduo sólido gerado pelo Granulado P 70 Figura 61: Resíduo sólido gerado pelo Granulado R 1070 Figura 62: Resíduo sólido gerado pelo Granulado R 1570 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Desenvolvimento das formulações dos agentes de cementação Tabela 2: Composição de operação para banhos de sais de cementação Tabela 3: Propriedades do banho Pure Case® Tabela 4: Coeficiente de difusão do carbono na austenita Tabela 5: Valores da função erro Tabela 6: Dados técnicos do carvão vegetal ativado Tabela 7: Propriedades físico-químicas do carbonato de cálcio extra leve Tabela 8: Formulações dos granulados Tabela 9: Densidade aparente dos granulados Tabela 10: Controle do tamanho dos granulados Tabela 11: Composição química dos aços para cementação Tabela 12: Dureza na superfície e núcleo dos aços na condição de fornecimento Tabela 13: Relação e nomenclatura dos corpos de prova Tabela 14: Valores numéricos para a profundidade de cementação “Pc” Tabela 15: Relação das figuras e descrição dos gráficos de cementação Tabela 16: Valores de Microdureza do Aço SAE/ABNT 1020 cementado a 870 ºC Tabela 17: Valores de Microdureza do Aço SAE/ABNT 1020 cementado a 930 ºC Tabela 18: Valores de Microdureza do Aço SAE/ABNT 8620 cementado a 870 ºC Tabela 19: Valores de Microdureza do Aço SAE/ABNT 8620 cementado a 930 ºC Tabela 20: Profundidade efetiva de cementação do Aço SAE/ABNT 1020 a Temperatura de 870 ºC Tabela 21: Profundidade efetiva de cementação do Aço SAE/ABNT 1020 a Temperatura de 930 ºC Tabela 22: Profundidade efetiva de cementação do Aço SAE/ABNT 8620 a Temperatura de 870 ºC Tabela 23: Profundidade efetiva de cementação do Aço SAE/ABNT 8620 a Temperatura de 930 ºC Tabela 24 a,b. Percentual de Carbono em diferentes profundidades – Aço SAE 1020 Tabela 25 a,b. Percentual de Carbono em diferentes profundidades – Aço SAE 8620 Tabela 26. Resultados da Lixiviação para o granulado P 35 Tabela 27. Resultados da Lixiviação para o granulado P 70 Tabela 28. Resultados da Lixiviação para o granulado R 1035 Tabela 29. Resultados da Lixiviação para o granulado R 1070 Tabela 30. Resultados da Lixiviação para o granulado R 1535 Tabela 31. Resultados da Lixiviação para o granulado R 1570 Tabela 32. Resultados da Solubilização para o granulado P 35 Tabela 33. Resultados da Solubilização para o granulado P 70 Tabela 34. Resultados da Solubilização para o granulado R 1035 Tabela 35. Resultados da Solubilização para o granulado R 1070 Tabela 36. Resultados da Solubilização para o granulado R 1535 Tabela 37. Resultados da Solubilização para o granulado R 1570 V 10 SIMBOLOGIAS E ABREVIATURAS ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas ºC: temperatura em graus Celsius ºK: temperatura em graus Kelvin C: elemento químico carbono CG: elemento químico carbono presente no granulado Fe: elemento químico ferro Fe γ: ferro gama ou austenita CaCO3: carbonato de cálcio BaCO3: carbonato de bário K2CO3: carbonato de potássio Na2CO3: carbonato de sódio CO2: dióxido de carbono CO: monóxido de carbono 2NaCN: cianeto de sódio BaCl: cloreto de bário Na2CN2: cianamida de sódio BaCN2: cianamida de bário NaNCO: cianato de sódio NaCl: cloreto de sódio KCl: cloreto de potássio CH4: metano C3H8: propano C2H2: acetileno Pc: profundidade efetiva de cementação D: coeficiente de difusão a uma dada temperatura D0: constante de difusão Q: energia de ativação R: constante dos gases ideais T: temperatura t: tempo VI 11 RESUMO O objetivo deste estudo é avaliar a influência do uso de carvão vegetal reciclado e a substituição do tóxico carbonato de bário por carbonato de cálcio, como agente de ativação química, responsável pela geração do monóxido de carbono (CO) durante a cementação sólida. Este novo processo é considerado ecologicamente correto não agredindo o meio-ambiente. Para duas temperaturas (870 ºC e 930 ºC) e aços (SAE 1020 / SAE 8620) são determinadas as condições de cementação, perfil de carbono e microestrutura. Os resultados são comparados as propriedades obtidas com granulados para cementação comercial. Após os tratamentos térmicos, os resíduos dos granulados empregados foram analisados, avaliando sua condição química considerando a lixiviação e solubilização dos mesmos. Palavras-chave: Cementação sólida, Ativador, Ecologia, Tratamento Térmico. VII 12 ABSTRACT The objective of this study was to evaluate the influence of the use of recycled active carbon material and calcium carbonate, in state of toxic barium carbonate, as the agent for chemical activation, responsible for the generation of Carbon Monoxide (CO) during the pack carburizing process. This new process are considered ecologically correct and environment friendly. For two different temperatures (870 ºC and 930 ºC) and steels (SAE 1020 / SAE 8620) was determined the carburizing condition, carbon profile and microstructure. The results are compared with de properties obtained with commercial granulate materials. After the heat treatments, the residue of the granulate materials was classified according to ABNT Norm, evaluating the chemical condition after lixiviation and solubilization. Key-words: Pack carburizing, Energizer, Ecology, Heat Treatment. VIII 13 INTRODUÇÃO A crescente preocupação mundial na conservação do meio ambiente e a necessidade do desenvolvimento de processos industriais ecologicamente corretos, vem sendo um dos campos de pesquisa mais importantes para as diferentes áreas da ciência e tecnologia. Este trabalho leva em consideração a grande importância tecnológica que representa o Processo de Cementação para a indústria metal-mecânica, sendo este um dos mais antigos e mais importantes processos de endurecimento superficial das ligas ferrosas, sendo imprescindível como meio de melhoria da qualidade, ganho de vida útil e desempenho de componentes mecânicos. O objetivo fundamental desta pesquisa, é o desenvolvimento de um granulado para cementação sólida, que utiliza material reciclado como parte da sua matéria-prima, reduzindo assim o seu custo fabricação, e a substituição do ativador tradicional a base de carbonato de bário (metal pesado), considerado tóxico, por carbonato de cálcio que não possui restrições com relação a questões ambientais. Foram elaboradas diferentes formulações de granulados, variando a concentração do carvão ativado reciclado e a concentração do carbonato de cálcio, obtendo assim uma gama considerável de diferentes granulados, que permitem rastrear de forma consistente o efeito destas variáveis sobre o potencial cementante dos novos materiais. A cementação é definida como sendo um processo termoquímico, no qual ocorre a difusão de carbono a partir da superfície do componente, sendo que após um resfriamento rápido (têmpera) em meio adequado, o material irá apresentar uma superfície endurecida e um núcleo tenaz. A cementação consiste portanto na formação de uma camada superficial de elevado teor de carbono, permanecendo inalterado o percentual de carbono do núcleo [W. D. Callister Jr., 2002]. Figura 1. Fotomontagem esquematizando a cementaçãosuperficial.[CALLISTER Jr., 2002] Neste trabalho foram utilizados como aços para cementação os materiais ABNT/SAE 1020 e ABNT/SAE 8620, sendo estes os mais comuns encontrados na indústria em geral. A escolha destas ligas se deve ao fato de que ambas tem a capacidade de absorver carbono em alta velocidade nas temperaturas de 870ºC e 930ºC, apresentando uma camada de enriquecimento superficial de carbono uniforme, além de considerável tenacidade e resistência mecânica no núcleo após o tratamento térmico. Vários são os processos de cementação industrialmente em uso. O mais utilizado, porém em fase de substituição, é o processo de cementação líquida em banho de sais a base de cianeto de sódio e cianeto de bário, sendo considerado o mais agressivo ao meio ambiente. Novos processos empregando atmosferas controladas vêm ganhando o mercado, porém todos exigindo equipamentos extremamente dispendiosos. Esta pesquisa sugere a utilização de um novo processo sólido, ecologicamente correto, sem perdas de potencial de cementação. A figura 2 apresenta a esquematização dos processos mais utilizados na indústria. 14 - Pós (Cianeto) - Sal Cianeto - Forno Câmara - Processo Iônico - Pasta (Cianeto) - Forno Rotativo - Sal Atóxico - Granulado - Forno Contínuo - Granulado Atóxico (BaCO3) - Forno à Vácuo (CaCO3) - Leito Fluidizado Figura 2. Processos de Cementação Industrial. Atualmente a cementação líquida, em banho de cianeto, representa 65 % dos processos utilizados no mundo, sendo que no Brasil o emprego do Cianeto representa aproximadamente 85 % dos processos comerciais. Dentre os maiores problemas relacionados ao meio-ambiente, destacamos a grande formação de resíduos sólidos, maior emissão de poluentes gasosos e a elevada toxicidade dos efluentes industriais. Para o desenvolvimento do projeto de pesquisa foram definidas as seguintes variáveis com relação aos materiais e processos: - Granulados: foram utilizadas seis (6) composições diferentes, variando os teores de carvão vegetal reciclado e o teor de carbonato de cálcio (CaCO3). - Aços para Cementação: foram empregadas duas ligas comerciais, o aço ao carbono ABNT/SAE 1020 e o aço baixa liga ABNT/SAE 8620. - Temperaturas de Cementação: foram definidas duas (2) temperaturas normalmente utilizadas na indústria, 870 ºC e 930 ºC. - Tempo de Cementação: foram definidos os seguintes tempos de processo - 2 horas, 4 horas e 8 horas. - Condição de Resfriamento: foram utilizadas três (3) condições de resfriamento - ao ar, têmpera em água e têmpera em óleo. Após a realização dos processos de cementação, foram retiradas as cinzas e granulados remanescentes de cada formulação, sendo enviados para o Laboratório Químico especializado visando a Classificação dos Resíduos do Processo e a determinação de todos os elementos controlados pela Norma Regulamentadora ABNT NBR 10.004 – Resíduos Sólidos. INTRODUÇÃO 15 PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 – Histórico da Cementação e dos Tratamentos Térmicos O processo de tratamento térmico conhecido como Cementação é um dos mais antigos da humanidade. Artefatos de aço cementado e endurecidos foram encontrados na Europa Central e datam de 300 anos antes de Cristo [KLUBER, 1990, http://www.tf.uni-kiel.de, 2003]. Registros indicam que os Egípcios e Romanos no 3º século antes de Cristo já realizavam a cementação em diversos utensílios, principalmente armas e peças de veículos, objetivando elevar a dureza superficial e a resistência ao desgaste. O meio cementante era o carvão vegetal puro na forma de pequenos fragmentos que eram acondicionados junto com as “peças” em potes de argila. Tal montagem de carga era então aquecida em um forno tipo iglú ou fogueira, passando várias horas em elevada temperatura. As figuras 3 e 4 retratam atividades de cementação e tratamento térmico realizadas na antigüidade [http://www.tf.uni-kiel.de, 2003]. Figura 3. Cementação na antigüidade [http://www.tf.uni-kiel.de, 2003]. Figura 4. Quadro egípcio sobre tratamento térmico [http://www.tf.uni-kiel.de, 2003]. 16 Escavações nas ilhas gregas de Chipre, revelaram a existência de facas e punhais com tratamento de cementação e têmpera, provando que seu povo já conhecia estes processos a centenas de anos antes de Cristo. A técnica de temperar o aço em água fria é citada na obra de Homero, quando ele utilizou uma faca para perfurar o olho do Ciclope [http://www.kypros.org, 2003]. Inúmeras citações sobre tratamentos térmicos também são encontradas em literaturas Árabes, principalmente descrevendo a tecnologia desenvolvida para a produção de espadas com o Aço de Damasco, que na realidade era uma combinação de conformação e tratamento térmico realizado num conjunto de várias lâminas finas, intercalando aços baixo carbono com aço de elevado teor de carbono [http://www.gabarin.com, 2003]. A figura 5 apresenta o aspecto das várias camadas intercaladas, típico do aço damasceno [http://www.kypros.org, 2003]. Figura 5. Espada de Aço Damasceno [http://www.kypros.org, 2003] No mesmo período 500 à 300 A.C., os Indianos também desenvolveram tecnologia na fabricação de aços alto carbono, elaborando a conhecida liga Wootz, que na língua origina da região de Andhra Pradesh – Índia, era pronunciada como “ukku” e denotava o termo Aço [http://www.tf.uni-kiel.de, 2003]. A figura 6 apresenta em detalhes uma Espada Indiana elaborada em Aço Wootz, podendo ser observadas as várias camadas de lâminas de aço tratadas e conformadas a quente [http://www.aiusa.com, 2003]. Figura 6. Espada em Aço Indiano Wootz [http://www.aiusa.com] Os povos Vikings e Celtas também dominavam a “arte” da fabricação de armas de multicamadas, sendo encontrados exemplos datados em torno de 100 anos A.C.. Estas armas eram formadas por lâminas soldadas através de operações seguidas de caldeamento, que em uso garantiam um constante gume afiado de corte [http://www.aiusa.com, 2003]. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 17 Por muitos séculos a técnica de cementação permaneceu estagnada, isto é, sem importantes desenvolvimentos no que se refere ao agente cementante assim como na técnica do processo. No século XVII, foi introduzido o uso de carvão resultante da carbonização de ossos de animais, havendo inclusive relatos do uso de carvão de ossos humanos e farinha de sangue bovino. Até o início do século XIX também era comum o emprego da raspa de chifre como ativador, tratava-se de um tipo de pó ou grânulo que durante a cementação favorecia a geração do monóxido de carbono e nitrogênio livre, permitindo obter camadas de razoável espessura em tempos relativamente curtos. Com a revolução industrial nos séculos XVIII e XIX, a cementação passou a representar o principal tratamento térmico na fabricação de ferramentas, máquinas e equipamentos, além de componentes mecânicos para a indústria de bicicletas, automotiva e evidentemente para a área militar [GADDY, 1990]. A Tabela 1 apresenta diferentes formulações de agentes utilizados para cementação sólida, desenvolvida ao longo dos séculos [GADDY, 1990; KRAUSE, 1960; CHIAVERINI, 1988]. Tabela 1. Desenvolvimento das formulações dos agentesde cementação [GADDY, 1990; KRAUSE, 1960; CHIAVERINI, 1988] Período Material / Formulação 300 A. C. – 1.600 D. C. 1- Carvão vegetal 2- Carvão vegetal + farinha de osso 1600 – 1900 3- Carvão vegetal + farinha de osso + farinha de sangue 4- Carvão vegetal + farinha de osso + farinha de sangue + raspa de chifre 1900 – 1990 5- Carvão vegetal + Soda barrila (barrila leve) 6- Carvão vegetal + Carbonato de bário 7- Carvão de turfa + Carbonato de bário 8- Carvão vegetal + Carbonato de bário + Carbonato de potássio 9- Carvão vegetal + Carbonato de bário + Ferrocianeto de Potássio 1990 – atualidade 10- Carvão vegetal + Carbonato de bário + Carbonato de cálcio 11- Carvão vegetal + Carbonato potássio + Carbonato de cálcio 12- Carvão vegetal + Carbonato cálcio + carvão vegetal reciclado REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18 1.2 – Os problemas ecológicos na atualidade Um dos aspectos mais importantes da atualidade é o desenvolvimento sustentado de processos industriais, que garantam a elevada produtividade exigida sem contudo afetar o meio ambiente. O processo de cementação de maior versatilidade técnica é sem dúvida a Cementação Líquida em Banho de Cianeto, sendo no entanto o de maior impacto ambiental. Suas matérias- primas, resíduos de sais e subprodutos como a água de lavação dos componentes, arames e dispositivos de fixação apresentam extrema contaminação com Cianetos, Cianatos e Cianamidas resultando em agentes de severo impacto ambiental. Basicamente os banhos para cementação líquida são elaborados a partir de misturas de sais, contendo principalmente cianeto de sódio, cloreto de bário, cloretos de cálcio, estrôncio, potássio e sódio, além de carbonato de sódio e cianato de sódio. Como pode ser observada, a composição dos banhos é extremamente complexa e quimicamente agressiva, sendo reconhecido industrialmente como um produto venenoso. A Tabela 2 apresenta a composição de operação para banhos de cementação líquida [GODDING, 1991; CHIAVERINI, 1990]. Tabela 2. Composição de operação para banhos de sais de cementação [GODDING, 1991; CHIAVERINI, 1988] Dentre as várias reações que ocorrem no banho líquido, as mais críticas em termos de geração de resíduos tóxicos, são a formação de cianamidas e cianatos. Abaixo são apresentados os principais Resíduos Tóxicos, resultantes da Cementação Líquida: Na2CN2 – Cianamida de sódio NaCN – Cianeto de sódio BaCN2 – Cianamida de bário Ba(CN)2 – Cianeto de bário NaNCO – Cianato de sódio Composição do Banho (%) Constituinte Camadas de pequena espessura, baixa temperatura, 840ºC a 900ºC Camadas de grande espessura, alta temperatura, 900ºC a 955ºC Cianeto de sódio Cloreto de bário Outros sais alcalinos de metais terrosos (a) Cloreto de potássio Cloreto de sódio Carbonato de sódio Aceleradores outros que compostos de metais alcalinos terrosos (b) Cianato de sódio 10 a 23 0 a 40 0 a 10 0 a 25 20 a 40 30 máx. 0 a 5 1,0 máx. 6 a 16 30 a 55 0 a 10 0 a 20 0 a 20 30 máx. 0 a 2 0,5 máx. (a) Cloreto de cálcio e cloreto de estrôncio. (b) Dióxido de manganês, óxido de boro, fluoreto de sódio e carboneto de silício. 2NaCN ↔ Na2CN2 + C (Equação 1) 2NaCN + O2 → 2NaNCO (Equação 2) NaCN + CO2 ↔ NaNCO + CO (Equação 3) NaNCO + C → NaCN + CO (Equação 4) 4NaNCO + 2O2 → 2Na2CO3 + 2CO + 4N (Equação 5) 2NaCN + BaCl → Ba(CN)2 + 2NaCl (Equação 6) Ba(CN)2 + 3Fe → Fe3C + BaCN2 (Equação 7) REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 19 As figuras 7a e 7b apresentam peças sendo retirada do banho de cementação, onde se observa o líquido a base de cianeto, cianato e cianamidas escorrendo pela superfície das mesmas. Parte considerável deste sal tóxico permanece aderido a superfície do material e dispositivos, sendo dissolvido posteriormente na água ou óleo de têmpera. (a) (b) Figuras 7 (a) e (b). Processo de cementação líquida. Conforme a norma ABNT NBR 10.004, que trata da classificação de resíduos sólidos, “todos os sais usados em tratamentos térmicos, incluindo sobras de respingos, borra, produtos de varredura do piso, além dos resíduos da evaporação da água de têmpera e lavação dos componentes tratados, são classificados como Resíduos Perigosos Classe 1” [ABNT, 1987; HEF, 1989]. O projeto de norma 1:63.04-001 estabelece as condições mínimas necessárias para o armazenamento temporário destes resíduos. A seguir apresentamos as principais exigências da norma com relação ao armazenamento provisório: - Os containers e/ou tambores devem ser armazenados, preferencialmente, em áreas cobertas, bem ventiladas e os recipientes colocados sobre base de concreto ou outro material que impeça a lixiviação e a percloração de substâncias para o solo e águas subterrâneas. A área deve ainda possuir um sistema de drenagem e captação de líquidos contaminados para que sejam posteriormente tratados. Os containers e tambores devem ser adequadamente rotulados de modo a possibilitar uma rápida identificação dos resíduos armazenados. - Os tambores devem ser de chapa metálica ou material plástico, com capacidade máxima de 250 litros. Para facilitar o tratamento posterior recomenda-se que os sais e resíduos sejam guardados na forma de grânulos com dimensão máxima do punho. Os resíduos contendo cianetos e cloretos (tóxicos), devem ser armazenados separadamente daqueles contendo nitritos, nitratos e hidróxidos (oxidantes e corrosivos). - Os recipientes contendo os resíduos devem estar sempre fechados, exceto por ocasião da manipulação dos resíduos, seja adição ou remoção; um container e/ou tambor contendo resíduos perigosos não deve ser aberto, manuseado ou armazenado de modo a possibilitar o vazamento do produto ou ainda rompimento ou dano ao recipiente. - A instalação/empresa deve possuir um registro de sua operação, que deverá ser mantido até o fim de sua vida útil incluindo o período de encerramento das atividades. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 20 - Antes do descarte, isto é, envio para um aterro sanitário credenciado, deverá ser enviada uma amostra significativa do material armazenado a um Laboratório especializado, que deverá classificar o material segundo as normas ABNT NBR 10.004, NBR 10.005 e NBR 10.006, definindo seu enquadramento como material tóxico perigoso (Classe 1). Todos estes procedimentos agregam custo aos tratamentos térmicos, resultando em processos cada vez mais onerosos. Deve-se considerar ainda, os aspectos de risco da contaminação involuntária ao meio ambiente ou mesmo a existência de empresas/unidades sem o compromisso com a preservação ambiental. Desta forma, constantes esforços vêm sendo aplicados na área de desenvolvimento de processos de tratamentos térmicos, visando à obtenção de componentes tratados em condições ecologicamente corretas, garantindo assim um desenvolvimento sustentado, sem perdas para a indústria. 1.3 – Novos processos de cementação 1.3.1 – Cementação em banho neutro Em função da simplicidade de execução da cementação líquida, intensos esforços vêm sendo aplicados nos últimos anos visando o desenvolvimento de um processo que utilize sais neutros fundidos, isentosde cianeto como agente ativador. Duas linhas de produtos foram apresentadas recentemente ao mercado; a primeira denominada PURE CASE®, emprega uma base de sal de cloretos (44% NaCl + 56% KCl) e grafite especial em pó como agente ativador. Esta mistura de cloreto-grafite não é tóxica e produz uma camada cementada isenta de nitrogênio. Componentes tratados neste banho podem ser diretamente resfriado em sais a base de nitrito e nitrato (martêmpera), sem os riscos de reação explosiva que são decorrentes da reação entre o cianeto/nitrito/nitrato. A Tabela 3 apresenta dados técnicos referentes ao banho Pure Case® elaborado pela empresa Heatbath Corporation [GODDING, 1991]. Tabela 3. Propriedades do banho Pure Case® [GODDING, 1991] O novo processo desenvolvido pela Heatbath apresenta alguns inconvenientes técnicos como, a temperatura de trabalho e metodologia de início de operação do banho. Para ativar um banho Pure Case®, deve-se inicialmente fundir a mistura de sais de cloreto a uma temperatura mínima de 954 ºC, aguardando sua completa fusão e estabilização. A seguir, faz-se a adição gradual por imersão do aditivo de grafite, até que se forme uma camada superficial entre 15 a 25 mm de espessura. Uma vez que se faz necessária a dissolução do grafite no banho, para obtenção do potencial de carbono, deve-se aguardar um tempo de 2 horas para o início do processo de tratamento térmico. Ao longo de todo o processo de cementação, sempre deverá haver uma camada de grafite sobre o banho, objetivando evitar a oxidação do mesmo [GODDING, 1991]. Propriedade Valor Ponto de fusão, ºC Temperatura de trabalho, ºC Calor específico, J/kg Sólido Líquido Calor de fusão, kJ/kg Densidade a 954ºC, g/cm3 663 954 – 982 960 1050 414 1,44 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 21 A figura 8 apresenta a curva de cementação obtida no processo PURE CASE®, relacionando a profundidade efetiva versus tempo de processo para uma temperatura de 955 ºC. Tempo (h) Figura 8. Curva de cementação obtida no processo PURE CASE® [GODDING, 1991] Um segundo produto também desenvolvido pela empresa Heatbath Corporation, denominado NO-CY®, também se propõe ao processo de cementação líquida sendo completamente isento de cianeto. Utiliza uma mistura de sais de cloreto e carbonato, além de partículas de grafite especial e um sistema de agitação mecânica. As reações químicas ainda não são bem conhecidas, porém sabe-se que há a formação de monóxido de carbono (CO) dissolvido, em função da reação entre as partículas de grafite, o carbonato e oxigênio (O2). A faixa de temperatura de operação está entre 900 ºC a 955 ºC, não sendo recomendadas temperatura inferiores a 870 ºC por favorecer a descarbonetação do aço. Segundo a literatura, o teor de carbono na superfície tende a ser um pouco menor ao obtido nos processos a base de cianeto, evitando a formação da austenita retida e não afetando a dureza final do componente tratado. Uma vez que no processo NO-CY® não há a difusão de nitrogênio (N), peças cementadas e resfriadas lentamente apresentam melhor usinabilidade favorecendo esta operação de fabricação. A figura 9 apresenta as curvas de enriquecimento em carbono para a cementação do aço ABNT 1020, em um banho de NO-CY®, a uma temperatura de 955 ºC [GODDING, 1991]. Distância a partir da superfície (mm) Figura 9. Curvas de cementação obtidas no processo NO-CY® [GODDING, 1991] Pr of un di da de E fe tiv a (m m ) 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 0,25 0,5 0,75 1 1,25 1,5 1,75 1 hora 3 horas 4 horas 6 horas Te or d e C ar bo no (% ) 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 0 1 2 3 4 5 6 Eht REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 22 1.3.2 – Cementação a Vácuo As primeiras pesquisas sobre cementação a baixa pressão e a vácuo foram iniciadas nas décadas de 60, objetivando desenvolver um processo alternativo a cementação convencional com gás craqueado. As primeiras unidades utilizavam como agente de cementação gases de hidrocarbonetos como metano (CH4) e propano (C3H8), sendo utilizado como meio de têmpera o óleo. Inúmeras dificuldades surgiram com estes equipamentos, principalmente o controle do potencial de carbono e a uniformidade da camada cementada. Tais não conformidades representavam desvantagens técnicas importantes sobre o processo convencional, tornando a produtividade inviável. Na década de 80 novos desenvolvimentos ocorreram, utilizando-se gases como o propano, metano e acetileno (C2H2) e nitrogênio a alta pressão como meio de têmpera. O maior inconveniente era que ambos os processos, a cementação e a têmpera, ocorriam na mesma câmara, limitando a velocidade de resfriamento da carga e por conseqüência os tipos de aços tratados, assim como as dimensões das peças. Somente na década de 90, fabricantes europeus de fornos desenvolveram a cementação a baixa pressão, realizando as etapas de enriquecimento de carbono e a têmpera em nitrogênio ou hélio em sistemas separados [GUPTA, 2003; PELISSIER, 2003 e IPSEN, 1999]. Dois são os processos disponíveis no mercado, o primeiro é denominado “gas pulsed vacuum carburizing” e o segundo é o “pressure pulsed vacuum carburizing”. No processo de gás pulsado, se emprega uma pressão constante de tratamento em torno de 15 mmHg, sendo utilizados de forma intercalada os gases nitrogênio e propano, realizando-se as etapas de cementação e difusão [PELISSIER,2003]. No processo de pressão pulsada a condição de operação na câmara varia entre 0,1 a 20 mmHg. O gás de cementação é injetado no forno até atingir uma pressão de 20 mmHg, e após um determinado tempo a câmara é evacuada até uma pressão de 0,1 mmHg. Profundidades optimais de cementação são alcançadas com este método, sendo extremamente eficiente nos processos com cargas muito densas, componentes com furos cegos e de geometria muito complicada. As figuras 10 e 11 mostram respectivamente fornos de cementação a vácuo de câmara simples e câmara dupla [GUPTA, 2003; IPSEN, 1999]. Figura 10. Forno de câmara simples [IPSEN,1999] Figura 11. Forno de câmara dupla [GUPTA, 2003] REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 23 A figura 12 apresenta a esquematização de um sistema de cementação à vácuo com têmpera de alta pressão com gás nitrogênio. Equipamento de multicâmaras AFC – Holcroft . Figura 12. Sistema de multicâmaras para cementação à vácuo [GUPTA, 2003] Como pode ser observado, este processo é consideravelmente dispendioso, sendo que unidades de produção industrial atingem valores da ordem de US$ 1.000.000,00. Tais investimentos limitam a sua utilização nas empresas de pequeno e médio porte, sendo talvez a maior desvantagem deste processo frente aos demais encontrados no mercado. A figura 13 mostra três (3) curvas em posições diferentes na peça, resultantes da cementação à vácuo, relacionando a microdureza Vickers (mHV) e a profundidade a partir da superfície. Os resultados são aplicadosa produção de Bicos Injetores de Motores Diesel, sendo o material o aço baixa liga DIN 18 Cr Ni 8, a temperatura é de 930 ºC e a têmpera realizada em nitrogênio a alta pressão [BEAUCHESNE,2003]. Profundidade de cementação (mm) Figura 13. Curvas de cementação a vácuo do aço DIN 18 Cr Ni 8 [BEAUCHESNE,2003] 1.3.3 – Cementação a Plasma (Processo Iônico) O processo de cementação a plasma, também denominado cementação iônica, foi inicialmente desenvolvido na França na década de 80, sendo considerado um processo alternativo ao da cementação em baixa pressão [PYE, 2001]. 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800 850 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 Posição 1 Posição 2 Posição 3 M ic ro du re za V ic ke rs ( m H V 0, 5) REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 24 Desenvolvimentos importantes nas áreas de geradores de plasma pulsado, fornos totalmente computadorizados e sensores especiais para monitoramento da atmosfera, resultaram em uma nova geração de equipamentos para cementação iônica. O gás hidrocarboneto “Metano” (CH4) é o mais empregado como agente de cementação. Sua dissociação sob a ação do campo iônico, a uma pressão de 10 mmHg, resulta na liberação de carbono monoatômico que irá difundir na superfície do aço, promovendo o enriquecimento superficial. A reação de craqueamento do metano está exemplificada na equação 8. CH4 → Cmonoatômico + 2H2 (Equação 8) As figuras 14 e 15 apresentam respectivamente a esquematização da câmara de cementação a plasma e um forno de cementação marca NDK Incorporated, Modelo PMF-754 [http://ndkinc.co.jp, 2003; http://thermi-lion.com, 2003]. Figura 14. Esquematização da unidade de cementação a plasma [http://ndkinc.co.jp, 2003] Figura 15. Forno de cementação a plasma, marca NDK Incorporated, Modelo PMF-754 [http://ndkinc.co.jp, 2003] Entrada de gás [CH4 , C3H8 , H2, Ar] Gás manifold Forno a vácuo Sistema de aquecimento Refratário Placa aquecedora Base do forno Cátodo Bomba de vácuo REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 25 1.3.4 – Cementação por indução É um processo desenvolvido na década de 80, que emprega as vantagens do tratamento térmico por indução em alta freqüência e as características do tratamento termoquímico superficial em um único processo. Uma das principais vantagens do processo de cementação por indução, é que não há restrição quanto ao tamanho, forma, ou material do componente a ser cementado. O processo também pode ser aplicado de forma seletiva permitindo que apenas uma determinada região do componente seja endurecido. Para a cementação por indução, o componente é inicialmente imerso em um “líquido especial” contendo elevado teor de carbono e agentes ativadores a base de carbonatos. Camadas superficiais com elevado teor de carbono e profundidades variadas podem ser obtidas alterando o tipo de indutor, meio ativo e regime de processo. O processo pode ser facilmente automatizado, sendo econômico, apresentando boa reproducibilidade e ecologicamente correto por não gerar resíduos tóxicos [GUGEL, 1999]. A figura 16 apresenta vários termogramas de processos de cementação por indução, onde (a) 30 seg., (b) 60 seg., (c) 120 seg. e (d) 180 seg. Figura 16. Termogramas de processos de cementação por indução [GUGEL, 1999] Taxas de aquecimento podem ser variadas desde 25 ºC/s até 1.200 ºC/s, sendo que a temperatura de cementação poderá estar entre 950 ºC até 1.150 ºC. Tais parâmetros irão controlar a microestrutura, espessura de camada, composição química e perfil de carbono na superfície tratada. Após a cementação por indução, a microestrutura da superfície poderá ser cementita pura, ledeburita, pura austenita retida estabilizada e/ou produtos de transformação austenítica (martensita, bainita e/ou perlita). O processo também pode ser aplicado na operação de restauração de carbono em superfícies descarbonetadas, permitindo a recuperação da estrutura de perlita junto à superfície dos componentes [GUGEL, 1999]. Te m pe ra tu ra e m F ar en ai t ( ºF ) Tempo (segundos) Tempo (segundos) Tempo (segundos) 1150 1040 930 815 705 595 1150 1040 930 815 705 595 1150 1040 930 815 705 595 Te m pe ra tu ra e m C el ci us (º C ) REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 26 1.3.5 – Cementação sólida ecologicamente correta Como pode ser comprovada através das literaturas existentes e evidências industriais, a cementação sólida sempre representou para a humanidade um recurso técnico fundamental, permanecendo até a atualidade como um dos processos alternativos mais importantes para os tratamentos térmicos de componentes ferrosos. Entre as principais vantagens deste processo, estão a simplicidade na montagem da carga, a possibilidade de utilizar uma vasta gama de tipos de fornos, a possibilidade de resfriar lentamente a carga após a cementação possibilitando operações de usinagem com material apresentando baixa dureza, além de possibilitar o emprego de diferentes agentes de bloqueio de cementação, permitindo mais facilmente o tratamento termoquímico seletivo (enriquecimento localizado de carbono). Outra grande vantagem é a possibilidade do desenvolvimento de formulações ecologicamente corretas, sem contudo alterar os parâmetros de processo do tratamento térmico e possibilitando ainda a redução de custo final. Pesquisa realizada junto aos fornecedores de insumos para tratamentos térmicos, confirma a preocupação no desenvolvimento de granulados neutros, sendo que a Empresa Heatbath Corporation oferece para o mercado seu novo produto denominado “Pack Carburizer BF 21” [www.heatbath.com, 2003] isento de carbonato de bário. A Empresa HEF-Durferrit oferece para o mercado seus granulados denominados KG 6 e KG 30, que emprega os carbonatos de potássio e cálcio como agentes ativadores [www.durferrit.de, 2003]. Este trabalho vem somar as pesquisas já realizadas na Europa e Estadas Unidos, apresentando uma série de formulações de granulados que permitem realizar a cementação sólida mantendo praticamente as mesmas condições de potencial de carbono, dureza na camada e perfil de cementação, comparado aos insumos importados. Tais formulações estão balanceadas para garantir o mínimo de resíduos após sua queima, sendo que os elementos residuais mais significativos são a base de óxido de cálcio e carbono, considerados ecologicamente corretos. A figura 17 apresenta a Curva de Cementação típica obtida num tratamento termoquímico de cementação sólida, empregando granulados convencionais a base de carvão vegetal e carbonato de bário [FOREMAN, 1991]. Tempo de Cementação (horas) Figura 17. Curva de cementação sólida convencional [FOREMAN, 1991]. 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50P ro fu nd id ad e de C em en ta çã o (m m ) REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 27 1.4 – Mecanismo de Cementação Sólida O princípio fundamental do processo de cementação sólida, se baseia na formação através de reações termoquímicas do gás Monóxido de Carbono (CO) e sua reaçãocom a microestrutura austenítica (Fe γ), promovendo em elevada temperatura (850º a 1050ºC) a difusão do carbono a partir da superfície em direção ao núcleo do material. A figura 18 esquematiza a formação da atmosfera cementante, através das reações termoquímicas de dissociação do carbonato de cálcio (CaCO3) formando CO2 e a reação entre o carbono do granulado (CG) e o oxigênio, ambos promovendo a formação do gás “CO”. Portanto, é importante definir que o processo de cementação sólida é na realidade controlado por mecanismos de reação entre a superfície do material (Ferro γ) e o gás cementante formado (processo gasoso) [FOREMAN, 1991]. Figura 18. Reação de cementação [FOREMAN, 1991] A figura 19 esquematiza as reações que ocorrem no interior da Caixa de Cementação, mostrando o estágio inicial de formação do gás CO2 , sua interação com o carbono do granulado (CG) gerando o monóxido de carbono (CO) e por fim a reação de interface que resulta na difusão do carbono monoatômico para o interior do material, ocorrendo a sua dissolução na austenita. [FOREMAN, 1991; CHIAVERINI, 1988] Figura 19. Reações no interior da caixa de cementação [FOREMAN, 1991; CHIAVERINI, 1988] REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 28 1.4.1 – Difusão de carbono na austenita O processo de cementação é controlado pela difusão do carbono através da superfície do material, sendo este muito influenciado pela temperatura, potencial de carbono do meio cementante e o tempo de processo. A cinética de cementação pode ser portanto expressa através das Equações de Fick que definem o cálculo do Coeficiente de Difusão (D) (equação 9) e a sua derivada de segunda ordem conhecida como Segunda Lei de Fick que mostra o perfil de concentração de carbono em função da distância, para um dado tempo de cementação (equação 10) [kttp://iwsmatl.tu-graz.ac.at]. (Equação 9) (Equação 10) A solução analítica da 2ª Lei de Fick para um sólido finito, aplicado ao processo de cementação pode ser escrito conforme as equações 11 e 12. (Equação 11) ou, (Equação 12) onde: Cx - é a concentração de carbono na posição “x”, C0 - teor de carbono no núcleo do material, CS - concentração de carbono junto a superfície, X - distância, D - coeficiente de difusão, t - tempo de processo e “erf” indica uma “função erro” da expressão que segue. A figura 20 esquematiza a difusão do carbono na austenita e o comportamento do perfil de concentração conforme a 2ª Lei de Fick e prevista pela equação 12 [ADDA, PHILIBERT, 1996]. Figura 20. Difusão do carbono na austenita [ADDA, PHILIBERT, 1996] Composição inicial Composição após determinado tempo Distância C om po si çã o Gás CO Ferro γ (austenita) Difusão do Carbono REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 29 A figura 21 mostra o efeito da Temperatura sobre os valores do Coeficiente de Difusão (D) do carbono, para as microestruturas de Ferrita (ferro alfa) e Austenita (ferro gama) [www.ifu.ethz.ch, 2003]. Figura 21. Efeito da temperatura sobre o coeficiente de difusão do carbono no ferro α e γ [www.ifu.ethz.ch, 2003] A tabela 4 apresenta em detalhes os valores calculados para o Coeficiente de Difusão do carbono no ferro gama (austenita), utilizando a equação 9. Foram considerados como valores de referência a energia de ativação Q = 141,5 kJ/mol, R = 8,314 J/(mol*K) e D0 = 0,21 cm2/s. (Equação 9) Tabela 4. Valores do coeficiente de difusão do carbono na austenita Temperatura º C (ºK) Coeficiente de Difusão - D (cm2/s) 870 (1.143) 0,72 x 10-7 880 (1.153) 0,82 x 10-7 890 (1.163) 0,93 x 10-7 900 (1.173) 1,05 x 10-7 910 (1.183) 1,19 x 10-7 920 (1.193) 1,34 x 10-7 930 (1.203) 1,51 x 10-7 940 (1.213) 1,69 x 10-7 950 (1.223) 1,90 x 10-7 (cm2/s) REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 30 1.4.2 – Cálculo da cinética de cementação Para o cálculo do tempo de cementação utiliza-se o seguinte desenvolvimento axiomático, observando as corretas unidades de medida. Empregando a solução da 2ª Lei de Fick (equação 11), obtemos a seguinte expressão já mencionada (equação 12). (Equação 12) aplicando a inversão da função erro na equação 12 temos, (Equação 13) portanto, (Equação 14) Para o cálculo da função erro, pode-se utilizar também a equação 15 cujos valores estão apresentados na tabela 5 [MEL, COSTA e SILVA, 1988]. (Equação 15) Tabela 5. Valores da função erro [MEL, COSTA e SILVA, 1988] z = z erf (z) z erf (z) z erf (z) z erf (z) 0,00 0,00000 0,26 0,2869 0,52 0,5379 0,78 0,7300 0,01 0,01128 0,27 0,2934 0,53 0,5465 0,79 0,7361 0,02 0,02256 0,28 0,3079 0,54 0,5549 0,80 0,7421 0,03 0,03384 0,29 0,3183 0,55 0,5633 0,81 0,7480 0,04 0,04511 0,30 0,3286 0,56 0,5716 0,82 0,7538 0,05 0,05637 0,31 0,3389 0,57 0,5798 0,83 0,7595 0,06 0,06762 0,32 0,3491 0,58 0,5879 0,84 0,7651 0,07 0,07886 0,33 0,3593 0,59 0,5959 0,85 0,7707 0,08 0,09008 0,34 0,3694 0,60 0,6039 0,86 0,7761 0,09 0,1013 0,35 0,3794 0,61 0,6117 0,87 0,7814 0,10 0,1125 0,36 0,3893 0,62 0,6194 0,88 0,7867 0,11 0,1236 0,37 0,3992 0,63 0,6270 0,89 0,7918 0,12 0,1348 0,38 0,4090 0,64 0,6346 0,90 0,7969 0,13 0,1459 0,39 0,4187 0,65 0,6420 0,91 0,8019 0,14 0,1569 0,40 0,4284 0,66 0,6494 0,92 0,8068 0,15 0,1680 0,41 0,4380 0,67 0,6566 0,93 0,8116 0,16 0,1790 0,42 0,4475 0,68 0,6638 0,94 0,8163 0,17 0,1900 0,43 0,4569 0,69 0,6708 0,95 0,8209 0,18 0,2009 0,44 0,4662 0,70 0,6778 0,96 0,8254 0,19 0,2118 0,45 0,4755 0,71 0,6847 0,97 0,8299 0,20 0,2227 0,46 0,4847 0,72 0,6914 0,98 0,8342 0,21 0,2335 0,47 0,4937 0,73 0,6981 0,99 0,8385 0,22 0,2443 0,48 0,5027 0,74 0,7047 1,00 0,8427 0,23 0,2550 0,49 0,5117 0,75 0,7112 1,10 0,8802 0,24 0,2657 0,50 0,5205 0,76 0,7175 1,20 0,9103 0,25 0,2763 0,51 0,5292 0,77 0,7238 1,50 0,9661 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 31 Para o cálculo do tempo efetivo de cementação considerando uma determinada profundidade “x” a partir da superfície, emprega-se a equação 16 [kttp://iwsmatl.tu-graz.ac.at]. (Equação 16) Aplicando as equações 14 e 16, calcula-se o tempo (t) necessário para atingir por exemplo 0,80 % Carbono a uma profundidade de 0,50 mm, considerando os valores do coeficiente de difusão D = 1,51*10-5, Cx = 0,80 %C, C0 = 0,20 e CS = 1,1 %C, isto a uma temperatura de 930 ºC. = erfinv 1 – 0,80 – 0,20 = erfinv (0,333) = 0,30461,10 – 0,10 0,52 4 * 0,30462 * 1,51*10-5 A figura 22 apresenta o perfil do teor de carbono que define a cinética de cementação a 930 ºC, sendo que para garantir 0,80 %C a uma profundidade de 0,50 mm são necessárias 12,3 horas de tratamento térmico [kttp://iwsmatl.tu-graz.ac.at]. Figura 22. Perfil de cementação sólida a 930 ºC [kttp://iwsmatl.tu-graz.ac.at] z = = = = 44.639 segundos 12,3 horas Profundidade (mm) Te or d e C ar bo no (% C ) = 12,3 horas REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 32 OBJETIVOS Os objetivos deste trabalho são: • Desenvolver diferentes formulações de granulados empregando como matéria-prima carvão vegetal ativado, carvão vegetal ativado reciclado e carbonato de cálcio como agente ativador. • Verificar experimentalmente o comportamento a cementação dos diferentes granulados, através do controle microestrutural e alteração das propriedades químicas e mecânicas do material tratado. • Estudar o efeito do enriquecimento em carbono nos aços, através da determinação quantitativa do seu teor em diferentes profundidades. • Propor a substituição do carbonato de bário como agente ativador da cementação sólida por uma combinação de carvão vegetal ativado, carvão vegetal reciclado e carbonato de cálcio, considerados ecologicamente corretos. 33 PARTE II – MATERIAIS E MÉTODOS EXPERIMENTAIS 2.1 – Materiais utilizados A pesquisa desenvolvida utilizou como materiais seis (6) formulações de granulados com variações nos teores de carvão vegetal ativado, carvão vegetal reciclado e carbonato de cálcio, e duas classes de aços destinadas a cementação. 2.1.1 – Granulados de Cementação As matérias-primas para formulação dos Granulados são adquiridas de indústrias químicas tradicionais, sendo todas de qualidade comercial. O pó de Carvão Vegetal é da classe Carvão Ativado a vapor, utilizado em aplicações gerais de adsorção de líquidos ou gases, apresentando grande área superficial e cuja estrutura é uma rede de micro, médio e macroporos. A superfície específica do pó de carvão ativado utilizado apresenta em torno 700 m2/g, confirmando sua elevada área de reação, favorecendo com isto as interações do carbono do granulado com o oxigênio (O2) e o dióxido de carbono (CO2), a favor do gás monóxido de carbono (CO). A tabela 6 mostra os dados técnicos especificados para o carvão vegetal ativado empregado na fabricação dos granulados [Brasilac Indústrias Químicas Ltda., 2002]. Tabela 6. Dados técnicos do carvão vegetal ativado [Brasilac, 2002] O pó de Carvão Vegetal Reciclado é adquirido da empresa Indústrias Químicas Carbomafra S. A., sendo um subproduto da indústria de refrigerantes. O carvão vegetal ativado original foi utilizado para clarificação de xaropes e no tratamento e purificação de essências. Este material não apresenta qualquer toxicidade, sendo rejeitado pela indústria em função da saturação de seus poros e a conseqüente perda da capacidade de adsorção de líquidos (efeito de encharque). Está disponível na forma de um aglomerado úmido, inodoro, com aproximadamente 35 % em peso de água. A etapa mais importante na preparação do carvão reciclado para o uso na elaboração dos granulados, é sua secagem, devendo o mesmo ser aquecido em torno de 80 ºC por um tempo mínimo de 12 horas, visando a redução da umidade residual em torno 8 % em peso. A pesar da realização da etapa de secagem, o material reciclado permanece com a maior parte de sua nano e microporosidade obstruída, reduzindo com isto a sua superfície específica e por conseqüência a capacidade de geração de monóxido de carbono. Desta forma é esperado que o emprego de teores elevados de carvão reciclado resulte na redução do potencial de carbono do granulado e sua capacidade cementação. Propriedade Valor Número de Iodo mín. 800 mg/g pH 5 – 7 Granulometria (retido na malha # 325 mesh) 45 – 55 % Umidade ao embalar máx. 8 % Densidade aparente 0,35 ± 0,05 g/cm3 Cinzas máx. 8 % Teor de Ferro máx. 103 ppm 34 O carbonato de cálcio (CaCO3), é um produto originado da precipitação do calcário natural, apresentando elevado grau de pureza. É um pó branco, inodoro e não tóxico, que tem como característica ser insolúvel em água. Esta é uma propriedade importante na produção dos granulados uma vez que permite sua dispersão física totalmente no estado sólido. Por ser insolúvel, não apresenta higroscopia, o que favorece seu armazenamento e manipulação. O carbonato de cálcio utilizado na pesquisa, é fornecido pela empresa Química Industrial Barra do Piraí S.A., sendo o produto comercializado com a denominação Barra Leve. A tabela 7 apresenta as propriedades físico-químicas do carbonato de cálcio (CaCO3) utilizado [www.bandeirantequimica.com.br, 2003]. Tabela 7. Propriedades físico-químicas do carbonato de cálcio extra leve [www.bandeirantequimica.com.br, 2003] Os demais agentes facilitadores de processo, mantidos constantes nas diferentes formulações foram considerados sigilo industrial, não sendo revelados seu nome comercial e suas características físico-químicas. 2.1.2 – Aços para cementação Os aços utilizados para a pesquisa foram definidos em função da sua grande aplicação industrial na área de componentes tratados termicamente, principalmente a cementação, têmpera e revenimento. Foram escolhidos o aço ao carbono classe SAE/ABNT 1020 e o aço baixa liga classe SAE/ABNT 8620 (aço cromo-níquel-molibdênio). Os corpos de prova foram elaborados a partir de barras originais retificadas, com diâmetro externo de 25 mm e comprimento de 40 mm. Para que um aço seja considerado Aço de Cementação, o mesmo deverá atender a uma série de requisitos, que foram considerados durante a seleção dos materiais para a pesquisa: • Ser capaz de absorver carbono no intervalo de temperatura entre 850º a 1050ºC • Permitir velocidade de cementação entre 0,10 a 0,50 mm/h • Formar camada uniforme rica em carbono (≈ 0,80 %C) • Apresentar razoável tenacidade e resistência mecânica após o tratamento térmico • Apresentar mínima distorção após o tratamento térmico • Ser de boa usinabilidade no estado bruto de fornecimento MATERIAIS E MÉTODOS EXPERIMENTAIS Propriedade Valor Pureza (CaCO3) mín. 98,0 % Carbonato de magnésio máx. 1,0 % Teor de Ferro máx. 200 ppm Densidade 0,36 – 0,47 g/cm3 pH em suspensão aquosa 10% 8,5 – 9,5 Partículas Microcristais romboédricos Dureza 3 Mohs 35 2.2 – Composição dos granulados Para o desenvolvimento da pesquisa, foram recebidas da Empresa Graix Materiais Avançados Ltda., seis (6) formulações distintas de Granulados variando apenas os teores de Carvão Vegetal Novo, Carvão Vegetal Reciclado e o Carbonato de Cálcio. Os demais agentes de processo como lubrificante, plastificante, ligante carbonáceo e água permaneceram inalterados. A tabela 8 apresenta as formulações dos Granulados, sendo que os valores representam a quantidade em quilogramas (kg) para cada componente. Tabela 8. Formulações dos Granulados 2.3 – Elaboração dos granulados A figura 23 na página a seguir, apresenta o Fluxograma do Processoempregado na elaboração dos granulados de cementação. A seguir, descreve-se as etapas principais da elaboração dos diferentes tipos de granulados estudas. 2.3.1 – Mistura dos pós Para a homogeneização dos pós previamente pesados, é utilizado um Misturador com Pá em “S”, que permite a completa dispersão dos materiais sólidos. Após 10 minutos de mistura mecânica, é adicionada seqüencialmente a água controlando sua quantidade até atingir a consistência de uma massa plástica (similar a uma massa cerâmica). A seguir, o material é transferido para a extrusora iniciando a próxima etapa de fabricação. 2.3.2 – Extrusão da massa plástica Para a extrusão da massa previamente homogeneizada e plastificada, utiliza-se uma extrusora de rosca simples, diâmetro de rosca 60 mm, sendo que a fieira produz 5 “espaguetes” simultaneamente. A extrusora é alimentada continuamente por um sistema de pistão pneumático permitindo a continuidade do processo. 2.3.3 – Secagem dos grânulos Após o corte dos grânulos, os mesmos são colocados em bandejas de inox e levados ao forno de secagem, para eliminação do excesso da água. 2.3.4 – Pirolização dos grânulos Após a secagem dos grânulos os mesmos são tratados termicamente pelo processo de pirolização, quando adquirem a dureza e resistência necessária ao uso industrial. Composição P 35 (kg) [%] P 70 (kg) [%] R 1035 (kg) [%] R 1070 (kg) [%] R 1535 (kg) [%] R 1570 (kg) [%] Carvão Ativado 35 [55,11] 35 [52,24] 25 [39,37] 25 [37,31] 20 [31,50] 20 [29,85] Carvão Reciclado - - - - - - 10 [15,75] 10 [14,93] 15 [23,62] 15 [22,39] Ligante 17 [26,77] 17 [25,37] 17 [26,77] 17 [25,37] 17 [26,77] 17 [25,37] Lubrificante 4,0 [6,30] 4,0 [5,97] 4,0 [6,30] 4,0 [5,97] 4,0 [6,30 4,0 [5,97] Plastificante 4,0 [6,30] 4,0 [5,97] 4,0 [6,30] 4,0 [5,97] 4,0 [6,30] 4,0 [5,97] Carbonato de Cálcio 3,5 [5,52] 7,0 [10,45] 3,5 [5,52] 7,0 [10,45] 3,5 [5,52] 7,0 [10,45] MATERIAIS E MÉTODOS EXPERIMENTAIS 36 C ar vã o V eg et al N ov o C ar vã o V eg et al R ec ic la do Ca rb on at o de C ál ci o Li ga nt e C ar bo ná ce o Pla st ifi ca nt e L ub ri fic an te Á g ua Materiais (Matérias-primas) - Pesagem dos materiais (Balança 25 kg) (Erro de pesagem ± 1% peso) - Misturador de Pá em “S” (Adição seqüencial dos pós, com homogeneização úmida – formação da massa plástica) - Extrusora de rosca simples (Extrusão dos “espaguetes”, com posterior corte axial) - Forno de secagem a gás (Retirada do excesso de umidade) - Forno a gás para pirolização (Pirolização termoquímica do ligante carbonáceo) - Caracterização dos Granulados (Controle de densidade aparente e granulometria) Figura 23. Fluxograma de Processo MATERIAIS E MÉTODOS EXPERIMENTAIS 37 2.4 – Caracterização Física dos Granulados Para a caracterização dos granulados, foram definidos como parâmetros importantes o controle da densidade aparente, o tamanho dos grânulos e a sua microestrutura. A seguir, são apresentados os resultados dos controles realizados. 2.4.1 – Densidade aparente Um dos parâmetros mais importantes dos granulados é sua densidade aparente, uma vez que através deste parâmetro será definido o peso e volume de granulado utilizado durante o processo de cementação. O valor da Densidade Aparente para o granulado novo produzido comercialmente está em torno de 0,50 g/cm3, sendo considerado como referência para esta pesquisa [GRAIX, 1996]. Para a determinação da densidade aparente foi empregado o método gravimétrico, realizando-se a pesagem do granulado necessária para o preenchimento de um volume padrão conhecido (100 cm3). A razão entre o peso de granulado e o volume padrão resulta no valor da densidade aparente para as várias formulações elaboradas. A tabela 9 mostra os valores de densidade aparente para os diversos tipos de granulados estudados. Tabela 9. Densidade aparente dos granulados estudados 2.4.2 – Tamanho dos grânulos [ Para o controle do tamanho dos grânulos individuais foi considerada a medida axial máxima dos mesmos, sendo para isto utilizado um paquímetro digital (Certificado de Calibração N.º 2822/3). Segundo o catálogo da empresa Graix Materiais Avançados Ltda., o tamanho médio do produto comercial está em torno de 10 mm de comprimento [GRAIX, 1996]. A tabela 10 apresenta os resultados do controle do tamanho dos grânulos para cada formulação pesquisada, realizando 100 (cem) medições para cada formulação. Tabela 10. Controle do tamanho dos grânulos MATERIAIS E MÉTODOS EXPERIMENTAIS Granulado P 35 P 70 R 1035 R 1070 R 1535 R 1570 Densidade aparente (g/cm3) 0,48 0,46 0,49 0,47 0,51 0,49 Granulado P 35 P 70 R 1035 R 1070 R 1535 R 1570 Menor grânulo 6,98 7,15 7,18 7,27 7,72 7,28 Maior grânulo 15,05 15,82 15,67 15,08 16,05 18,64 Ta m an ho d o G râ nu lo (m m ) Tamanho médio 10,95 11,08 11,16 10,97 11,93 11,88 38 Como pode ser observado o tamanho dos grânulos é similar entre as diferentes formulações, não sendo considerada uma variável crítica para o processo de cementação. A figura 24 apresenta o aspecto do granulado utilizado para cementação, elaborado pela GRAIX Materiais Avançados Ltda. Figura 24. Granulado para cementação – Classe P 70 [GRAIX, 2002] 2.5 – Caracterização dos Corpos de Prova de Aço Para a caracterização dos aços utilizados, foram realizadas análises químicas do núcleo dos materiais, controle da microestrutura da superfície e núcleo no sentido longitudinal das barras originais e determinação da dureza Brinell (HBW). A figura 25 esquematiza os locais das análises para controle dos aços, indicando as regiões de controle químico e metalográfico. Análise Química Análise Metalográfica/Dureza HB Figura 25. Esquematização das regiões de controle dos aços 2.5.1 – Análise química dos aços Para a determinação da composição química foi utilizado um equipamento tipo espectrômetro de emissão ótica, marca Spectrolab, sendo que o método de análise é por “spark” com arraste de gás argônio. A superfície de análise corresponde à seção transversal do corpo de prova, sendo que para eliminar riscos de contaminação na preparação das amostras, foi realizada uma operação de retífica na região de inspeção. A tabela 11 apresenta os resultados médios das análises químicas realizadas nas matérias-primas de aço. 50 m m 25 mm C or po d e Pr ov a Análise química no centro Análise da Superfície Análise do centro MATERIAIS E MÉTODOS EXPERIMENTAIS 39
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