Buscar

Monografia - OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA À LUZ DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 56 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 56 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 56 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ISCA – INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS APLICADAS 
 
 
 
 
 
DEBIELE BERALDO 
 
 
 
 
 
 
 
 
A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA À LUZ DO DIREITO AMBIENTAL 
BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LIMEIRA 
2017 
 
 
DEBIELE BERALDO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA À LUZ DO DIREITO AMBIENTAL 
BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão do Curso de Direito 
do Instituto Superior de Ciências Aplicadas, 
sob orientação do Prof. Esp. Thiago Vinícius 
Treinta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LIMEIRA 
2017 
 
 
 
 
 
 
Cutter 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Beraldo, Debiele. 
 
 “A obsolescência programada à luz do Direito Ambiental Brasileiro”/ Debiele 
Beraldo. -- Limeira, 2017. 
 56f. 
 Orientador: Prof. Esp. Thiago Vinícius Treinta 
 Monografia (Curso de Direito) – Instituto Superior de Ciências Aplicadas – ISCA 
– FACULDADES 2017. 
1. Obsolescência Programada. 2. Direito Ambiental Brasileiro. 3. Sustentabilidade. 
I. Treinta. Thiago Vinícius. 
 
 
 
DEBIELE BERALDO 
 
 
 
A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA À LUZ DO DIREITO AMBIENTAL 
BRASILEIRO 
 
 
 
Monografia apresentada ao Instituto 
Superior de Ciências Aplicadas - ISCA, 
como parte das exigências para a 
obtenção do título de Bacharel em Direito. 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
________________________________________ 
Prof. Esp. Thiago Vinícius Treinta 
Orientador 
 
 
________________________________ ________________________________ 
Prof. Ms.Luiz Alberto Segalla Bevilacqua Prof. Esp.Luiz Augusto Barrichello Neto 
 
 
PARECER CONCLUSIVO 
APROVADO 
 
 
 
 
 
Limeira, 04 de Novembro de 2017. 
 
 
 
________________________________________ 
Debiele Beraldo 
Discente 
 
LIMEIRA 
2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho ao meu esposo “meu 
querido, meu velho, meu amigo” Mauro e 
meu filho Ícaro, pelo apoio, carinho e 
paciência e que muito contribuíram por 
toda a jornada dos meus estudos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos Mestres: 
 
“Ser Mestre não é apenas lecionar; ensinar 
não é só transmitir conteúdos 
programáticos. 
Ser Mestre é ser orientador e amigo, guia e 
companheiro. 
É caminhar com o aluno, passo a passo. 
É transmitir-lhe os segredos da 
caminhada. 
Ser Mestre é ser exemplo, exemplo de 
dedicação, de doação, de dignidade 
pessoal e, sobretudo, de amor. 
O agradecimento sincero aos Mestres e 
Amigos, com respeito e afeto.” 
 
 
“A orquestra, por mais afinada, não 
dispensa o apoio e a presença de um bom 
condutor...” 
 
(Carlos Drummond de Andrade) 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A princípio, agradeço a Deus pela oportunidade concedida quando permitiu 
meu ingresso ao estudo de Direito. 
À “Nossa Senhora”, minha advogada, que intercedeu por mim junto às 
batalhas da vida e que garantiu minha vitória ao final dessa jornada. 
Ao ISCA Faculdades por ter me recebido e colaborado com a minha 
formação profissional. 
À minha família, meu esposo Mauro, meu filho Ícaro e minha amiga Marlene 
Gachet por todo o apoio, auxílio e paciência. 
Agradeço aos professores Luiz Alberto Segalla Bevilacqua e Luiz Augusto 
Barrichello Neto, os quais aceitaram participar da Banca Examinadora deste 
presente trabalho. 
Aos servidores do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, em especial 
a Excelentíssima Desembargadora Doutora Maria Madalena de Oliveira e ao 
Excelentíssimo Desembargador Antonio Francisco Montanagna, os quais 
contribuíram para a minha formação. 
Dedico este trabalho também aos membros e servidores do Ministério 
Público de Limeira, em especial ao Ilustríssimo Senhor Promotor Luiz Alberto 
Segalla Bevilacqua e ao Ilustríssimo Senhor Promotor André Luiz Brandão que 
dedicaram e muito empenharam para minha aprendizagem. 
Ao meu professor orientador Prof. Esp. Thiago Vinícius Treinta, sempre 
paciente e prestativo, que contribuiu para minha formação e para a conclusão deste 
trabalho. 
Aos demais professores maravilhosos que tive nessa Instituição de Ensino, 
bem como, aos meus companheiros de classe Sidney, André Moisés, Tomé, Eliana 
e Elisangela. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Devemos promover a coragem onde há 
medo, promover o acordo onde existe 
conflito, e inspirar esperança onde há 
desespero.” 
 
 
(Nelson Mandela) 
 
 
RESUMO 
 
 
A presente monografia foi elaborada com o objetivo de destacar um dos problemas 
atuais que o planeta vem enfrentando, qual seja, a obsolescência programada. 
Enquanto tanto se defende a sustentabilidade, para que possamos deixar um 
planeta melhor para as futuras gerações, lado outro há um consumismo desenfreado 
estimulado pelo avanço da tecnologia, o qual gera cada vez mais lixo. Através de 
estudos, verificou-se que tal prática é ilegal. Em análise ao caso concreto, o estudo 
apresentado mostrará com base no direito ambiental, que é dever fundamental a 
proteção ambiental, além de acarretar responsabilidade civil ambiental, ressaltando 
ainda, que a proteção ambiental deve se sobrepor ao desenvolvimento econômico. 
 
 
Palavras-chave: Obsolescência Programada. Direito Ambiental Brasileiro. 
Responsabilidade Civil Ambiental. Sustentabilidade. Consumismo. Impacto 
Ambiental. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This monograph was written with the objective of highlighting one of the current 
problems facing the planet, that is, the programmed obsolescence. Meanwhile, 
sustainability is advocated, so that we can leave a better planet for future 
generations. On the other hand, there is unbridled consumerism stimulated by the 
advancement of technology, which generates more and more garbage. Studies have 
shown that such a practice is illegal. In the analysis of the specific case, the study 
presented will show, based on environmental law, that it is a fundamental duty of 
environmental protection, besides implying environmental civil liability, emphasizing 
that environmental protection must overlap with economic development. 
 
 
Keywords: Scheduled obsolescence. Brazilian Environmental Law. Environmental 
Liability. Sustainability. Consumerism. Environmental impact. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
PREFÁCIO ................................................................................................................ 12 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14 
1. CONCEITO, ORIGEM E CLASSIFICAÇÕES DA OBSOLESCÊNCIA 
PROGRAMADA ........................................................................................................ 15 
1.1 Conceito ........................................................................................................... 15 
1.2 Origem ............................................................................................................. 15 
1.3Classificações da obsolescência programada ................................................. 16 
1.3.1 Obsolescência planejada de função ............................................................ 18 
1.3.2 Obsolescência planejada de qualidade ........................................................ 18 
1.3.3 Obsolescência programada de desejabilidade ............................................. 19 
1.4 Quadro sintetizado da obsolescência programada .......................................... 20 
2. IMPACTOS CAUSADOS PELA PRÁTICA DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA
 .................................................................................................................................. 22 
3. A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA E O RISCO ECOLÓGICO ....................... 25 
4. A OBSOLESCÊNCIA E SUA CONEXÃO COM O ORDENAMENTO JURÍDICO 
BRASILEIRO ............................................................................................................. 27 
4.1 A recepção da proteção ao Meio Ambiente pela Constituição de 1988 ........... 27 
4.2 Direito Ambiental ............................................................................................. 31 
4.3 As leis infraconstitucionais .............................................................................. 32 
4.3.3.1 Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) ................................... 34 
4.3.3.2 Política Nacional sobre Mudança do Clima (Lei 12.187/09) ...................... 35 
4.3.3.3 Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) ......................... 36 
5. A AGENDA 21. SEUS OBJETIVOS E A QUESTÃO DOS PADRÕES DE 
PRODUÇÃO E CONSUMO ....................................................................................... 39 
6. DA RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL E SUA CONSOLIDAÇÃO ........... 41 
6.1 Da responsabilidade civil ambiental ................................................................. 41 
6.1.1 Código Civil .................................................................................................. 42 
6.2 Da consolidação da responsabilidade civil ambiental ...................................... 44 
7. CRITÉRIOS DE SOLUÇÃO .................................................................................. 45 
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 50 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 52 
 
12 
 
PREFÁCIO 
 
A presente monografia tem por objetivo o estudo sobre a prática da 
obsolescência programada sob a luz do Direito Ambiental Brasileiro. 
A escolha do tema foi baseada nos problemas atuais que o planeta vem 
enfrentando, ou seja, enquanto se defende tanto a sustentabilidade, a preservação 
de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, para que possamos deixar um 
planeta melhor para as futuras gerações, lado outro, há um consumismo 
desenfreado estimulado pelo avanço da tecnologia. 
Em análise, esse consumismo exacerbado é prejudicial ao meio ambiente, 
porquanto produz uma quantidade enorme de lixo a denegrir o meio ambiente e 
sabemos que até o presente momento, não há uma destinação adequada a todo 
esse descarte. 
De forma pormenorizada, a obsolescência programada faz com que os 
produtos sejam lançados no mercado, com prazo de validade determinado, vida útil 
definida, impulsionando os consumidores a substituírem seus aparelhos em pleno 
funcionamento por novos aparelhos. 
Há ainda, a obsolescência programada, cujo objetivo é induzir o consumidor a 
adquirir bens que ainda não possuem, como se necessário fosse. 
Nesse aspecto, a mídia, em geral, desempenha muito bem a sua função na 
forma de induzir o consumidor, por exemplo, fazendo com que ele sinta a 
necessidade de trocar o aparelho celular em perfeito funcionamento, devido ao 
lançamento do mesmo produto com uma nova função ou apenas porque seu design 
é mais moderno. 
Nota-se que as pessoas passaram a consumir coisas como se fossem de 
extrema necessidade, muitas vezes deixando de comprar itens de necessidades 
básicas, se endividando, somente pelo luxo de acompanhar a tecnologia e até 
mesmo a moda. 
Por consequência, a quantidade de lixo gerada decorrente desse consumo 
desenfreado, vem aumentando cada vez mais e com isso, aumentando os danos 
ambientais também. 
Devido a esses problemas que surgiram e que vêm aumentando 
significativamente, verificou-se que a obsolescência programada é uma prática que 
13 
 
fere a legislação ambiental, contudo, durante a apresentação deste trabalho será 
demonstrada que tal prática é passiva de contenção. 
Quanto à metodologia, cabe esclarecer que a presente pesquisa foi realizada 
por meio de pesquisas bibliográfica, doutrinária, jurisprudencial e documental. 
No que tange ao método, foi utilizado o dedutivo, de onde se partiu de uma 
premissa verdadeira que ao final da monografia, será devidamente comprovada que 
a obsolescência programada fere a legislação ambiental e, contudo, há possibilidade 
de contê-la. 
A presente monografia foi dividida em oito capítulos. 
No primeiro capítulo, foi realizada uma breve descrição sobre o conceito de 
obsolescência programada, sua origem e classificações. 
Quanto ao segundo capítulo, foi feito um breve relato sobre a pesquisa 
realizada por Annie Leonard a respeito dos danos decorrentes da prática da 
obsolescência programada. 
O terceiro capítulo abordou os riscos ecológicos decorrentes de tal prática e 
no quarto capítulo, de forma mais detalhada, foi realizado estudos sobre as leis 
constitucionais e infraconstitucionais em relação à prática da obsolescência. 
No quinto capítulo, de forma sintetizada, relatou-se sobre a Agenda 21 e suas 
perspectivas em relação a tal prática. Logo, no sexto capítulo, foi dada ênfase à 
responsabilidade civil ambiental quanto ao responsável pela prática, bem como foi 
mencionada a consolidação da respectiva responsabilidade. 
Por fim, no sétimo capítulo foram apresentados os critérios de solução, sendo 
abordados os sistemas de aplicação de possível remédio para contenção da prática 
da obsolescência programada. 
O oitavo capítulo foi finalizado com as considerações finais. É o que será 
objeto do presente estudo. 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Na atual sociedade de massas, consumir é um ato de cidadania e de inclusão 
social, sendo o direito ao consumo um direito fundamental do ser humano. A 
cidadania é que servirá de apoio ao exercício dos direitos fundamentais da pessoa, 
mas esse cidadão não pode perder espaço para o consumidor. 
 Ninguém é somente consumidor, antes cidadão e acima de tudo pessoa 
humana, titular de dignidade (a dignidade da pessoa humana não tem preço, não 
confundir com as coisas, relembrando a essencial lição de Kant na Metafísica dos 
Costumes) e que deve ter seu espaço público de revindicações preservado1. 
 Não obstante, o foco deste trabalho é Direito Ambiental, cabe lembrar que: 
 
[...] o Direito do Consumidor é também um direito fundamental de 
terceira geração especificado quanto ao titular, assim como o direito 
da mulher, da criança, do idoso etc. E a questão da qualidade do 
consumo é de fundamental importância para o tema. Da mesma 
maneira, não é possível viver em sociedade sem sujeitar-se ao ato 
de consumo, independentemente do que seja o seu objeto, desde 
um bem indispensável à subsistência, ao mais fútil e dispensável 
bem de consumo, já que nesta sociedade de consumo, estamos 
cercados por objetos, e somos levados a crer que qualidade de vida 
significa quantidade de coisas. Um dos temas centrais dos Direitos 
do Consumidor, e por isso mesmo intimamente relacionados as 
novastecnologias, é a questão da má qualidade dos produtos, feitos 
para durarem somente por um certo tempo. A esse fenômeno se 
conveniou chamar de obsolescência programada ou planejada.2 
 
 
 
 
 
 
 
 
1
 GARCIA, Marcos Leite. Reflexões sobre direitos fundamentais e novas tecnologias da 
informação: entre o consumismo e a sustentabilidade no contexto da obra de Nicholas Georgescu-
Roegen. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php/n_link=revista_artigos_ 
leitura&artigo_id=13260&revista_caderno=9.?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=15347&revista
_caderno=10>. Acesso em 29 out. 2017. 
 
2
 Idem. 
 
15 
 
1. CONCEITO, ORIGEM E CLASSIFICAÇÕES DA OBSOLESCÊNCIA 
PROGRAMADA 
 
1.1 Conceito 
 
A Obsolescência Programada, também conhecida como Obsolescência 
Planejada, define a redução proposital da durabilidade de um produto, estimulando o 
aumento do consumo, que em tese contribui para o crescimento da economia. 
 
1.2 Origem 
 
 A obsolescência programada surgiu no final do século XIX a partir da 
produção de lâmpadas. O produto foi lançado no mercado inicialmente para durar 
cerca de 2.500 horas. Diante da durabilidade do produto, observou-se que o 
consumidor não teria que trocá-la com frequência. Por tal motivo, o cartel 
denominado Phoebus, organizado por grandes empresas que produziam lâmpadas3, 
decidiu adotar a prática da obsolescência programada, reduzindo a vida útil da 
lâmpada de 2.500 horas para 1.000 horas. Com essa redução, o lucro das indústrias 
filiadas aumentaria4. 
A obsolescência programada também teve seu auge a partir de 1913, quando 
o lançamento dos automóveis de partida elétrica tornou obsoletos todos os carros 
fabricados com a tecnologia anterior5. Logo, em 1923, ou seja, dez anos depois, 
com a “invenção” da GM em mudar o design do Chevrolet 1923, inaugurou a prática 
do lançamento anual de novos modelos de carros, no qual se denota outro ponto da 
 
3
 PENA, Rodolfo F. Alves. "Obsolescência Programada"; Brasil Escola. Disponível em: 
<http://brasilescola.uol.com.br/geografia/obsolescencia-programada.htm>. Acesso em: 17 set. 2017. 
 
4 OBSOLESCÊNCIA Programada. Direção e Produção: Cosima Dannoritzer. Espanha: Arte France, 
2010. (52 min). Legendado. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=pDPsWANkSg 
&feature =player_embedded>. Acesso em: 15 mai. 2017. 
 
5
 Obsolescência planejada de qualidade: fundamentos e perspectivas jurídicas de enfretamento. 
Disponível em: < https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/107281> Acesso em: 17 set. 2017. 
 
16 
 
obsolescência programada. 6 Leonard menciona que, em meados do século 
passado, mais precisamente com a crise de 1929, as fábricas precisavam aumentar 
o consumo, caso contrário haveria redução na produção.7 
Diante de tal problema, Bernard London, grande investidor imobiliário da 
época, sugeriu como solução a implantação da obrigatoriedade da obsolescência 
planejada. Embora a prática surgiu no final do século XIX, somente nos anos 30 é 
que o termo apareceu por escrito pela primeira vez.8 
Dessa forma, a obsolescência programada surgiu para definir vida útil para o 
bem ou serviço, determinou uma data de validade e findo esse período, o produto é 
legalmente descartado como lixo, ou seja, pronto para ser substituído por um novo. 
Esse sistema teve como objetivo equilibrar o capital, bem como o mercado de 
trabalho. Com esse equilíbrio, a ideia era de que sempre haveria mercado para 
novos produtos. 
London acreditava que, com a implantação obrigatória da obsolescência 
planejada, as fábricas não cessariam a produção e consequentemente, não faltaria 
trabalho. No entanto, sua ideia não foi colocada em prática.9 
Logo, nos anos 50, a obsolescência programada ressurgiu fortemente. A 
novidade era não somente obrigar o consumidor a comprar, mas seduzi-lo a 
comprar. A intenção era fazer com que o desejo do consumidor por um produto, 
fosse maior do que sua própria necessidade de tê-lo. 
 
1.3 Classificações da obsolescência programada 
 
Vance Packard10 classifica a obsolescência de três formas: a) obsolescência 
de função, quando surge um produto com novas funções, tornando o produto 
 
6
 MORAES, Kamilla Guimarães de. Obsolescência planejada de qualidade: fundamentos e 
perspectivas jurídico-ambientais de enfrentamento. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade 
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013. Acesso em: 29 out. 2017. 
 
7
 LEONARD Annie. STORY OF STUFF (A história das coisas). Tides Foundation. Funders Workgroup 
for Sustainable Production and Consumption and Free Range Studios. Versão oficial: 2007. Dublado. 
(21min). Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=9GorqroigqM>. Acesso em: 02 jun. 2017. 
 
8
 OBSOLESCÊNCIA Programada. Direção e Produção: Cosima Dannoritzer. Espanha: Arte France, 
2010. (52 min). Legendado. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=pDPsWANkSg 
&feature =player_embedded>. Acesso em: 15 mai. 2017. 
 
9
 Idem. 
17 
 
existente, ultrapassado – a exemplo, o telefone em substituição do telégrafo; b) 
obsolescência de qualidade, quando um produto é projetado com vida útil menor do 
que teria normalmente, a partir do desenvolvimento de técnicas e/ou materiais de 
qualidade inferior, para reduzir a sua durabilidade (é o caso das lâmpadas, por 
exemplo); e c) obsolescência de desejabilidade, quando um produto em perfeito 
funcionamento é considerado ultrapassado, após o surgimento de outro modelo 
mais moderno, ou porque tem um visual mais bonito.11 
Brook Stevens12, seguidor da obsolescência programada, viajou por todo os 
Estados Unidos, promovendo tal prática em suas palestras e discursos. O intuito era 
fazer com que as pessoas desejassem sempre o visual mais bonito e o mais 
moderno, induzindo-as a acreditar que a felicidade se encontrava nestes itens13. 
Nesse sentido: 
 
[...] obsolescência como uma estratégia está em convencer o público 
de que o estilo é um importante elemento na desejabilidade do 
produto. Uma vez aceita essa premissa, é possível criar a 
obsolescência na mente simplesmente mudando-se para outro estilo. 
Às vezes, essa obsolescência de desejabilidade é chamada 
“obsolescência psicológica”.14 (grifo nosso) 
 
 
10
 Vance Packard foi um jornalista, escritor e crítico social norte-americano. Também escreveu “The 
Hidden Persuaders” (1957), onde aborda a questão ética do uso de técnicas de pesquisa de 
comportamento dos consumidores pela indústria da propaganda. 
Design em artigos. Disponível em: <http://www.designemartigos.com.br/ resenha/estrategia-do-
desperdicio-vance-packard/#ixzz4xVspLiet>. Acesso em: 04 nov. 2017. 
 
11
 Autor do livro The waste makers, lançado em 1960, mas publicado no Brasil como “A estratégia do 
desperdício” apenas em 1965, Vance Packard lançou os primeiros debates sobre a obsolescência 
programada. 
 
12
 Clifford Brooks Stevens (7 de junho de 1911 - 4 de janeiro de 1995) foi um designer industrial 
americano de mobiliário doméstico, eletrodomésticos, automóveis e motocicletas - além de designer 
gráfico e estilista. 
STEVENS, Clifford Brook. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2017. Disponível em: 
<https://en.wikipedia.org/wiki/Brooks_Stevens> . Acesso em:04 nov. 2017. 
 
13
 OBSOLESCÊNCIA Programada. Direção e Produção: Cosima Dannoritzer. Espanha: Arte France,2010. (52 min). Legendado. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=pDPsWANkSg 
&feature =player_embedded>. Acesso em: 15 mai. 2017. 
 
14
 PACKARD, Vance. A estratégia do desperdício. São Paulo: Ibrasa, 1965, p. 64. 
 
18 
 
Nessa esteira, percebe-se que a obsolescência da desejabilidade, de certa 
forma, é alimentada pelo próprio consumidor, ainda que a mídia implante essa ideia 
de consumismo, o consumidor compra por livre e espontânea vontade. 
Dentre as formas de obsolescência, Annie Leonard, ainda inclui a 
obsolescência instantânea, referindo-se a bens descartáveis, como fraldas e 
absorventes higiênicos, câmeras, capas de chuva, lâminas de barbear, pratos e 
talheres descartáveis.15 
 
1.3.1 Obsolescência planejada de função 
 
A obsolescência de função, também conhecida como obsolescência técnica16, 
pode ocorrer: a) quando um produto, serviço ou tecnologia mais eficiente e funcional 
venha suprir o antigo; b) pode originar também, decorrente de um produto ao se 
tornar inutilizável em detrimento de outro com tecnologias mais avançadas; c) 
quando certas partes fundamentais que compõe determinado produto não estão 
mais disponíveis no mercado de reposição para seu perfeito funcionamento; e d) 
ocorre quando não convier a busca por peças de reposição para o conserto de um 
produto antigo, porquanto se torna mais viável adquirir um novo.17 
 
1.3.2 Obsolescência planejada de qualidade 
 
Conforme já explicitado, a obsolescência planejada de qualidade ocorre 
quando um produto é projetado com vida útil menor do que teria normalmente, a 
partir do desenvolvimento de técnicas e/ou materiais de qualidade inferior, para 
reduzir a sua durabilidade, isso tudo, propositalmente. 
Fortalecida após Segunda Guerra Mundial, a obsolescência de qualidade veio 
para ser a quintessência do espírito de jogar fora18. 
 
15
 LEONARD, Annie. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que 
consumimos. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. 
 
16
 Mundo Educação. Obsolescência planejada. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com. 
br/geografia/obsolescencia-planejada.htm>. Acesso em: 17 set. 2017. 
 
17
 Meus Dicionários. Significado de obsolescência. Disponível em: 
<https://www.meusdicionarios.com.br/obsolescencia>. Acesso em: 17 set. 2017. 
 
18
 PACKARD, Vance. Estratégia do desperdício. São Paulo: IBRASA, 1965, p. 49-50. 
19 
 
Para o desenvolvimento dessa estratégia, primeiramente, a indústria teria que 
praticar três ações: a elevação dos preços, o aumento das vendas e a utilização de 
estratégias que pudessem assegurar que os compradores voltassem ao mercado 
para adquirir novos produtos antes do que seria normalmente necessário19. Porém, 
para garantir o sucesso da obsolescência planejada, a indústria de mercado impôs o 
alto custo para conservação e conserto dos bens de consumo20. 
Quanto ao “alto custo”, cabe explicar que sua manutenção é feita: a) pelo 
aumento do número de peças que apresentam defeitos após um curto período de 
uso; b) pelo aumento do preço das peças de reposição; c) pela dificuldade 
encontrada pelo consumidor em autorrealizar o conserto, devido à complexidade das 
peças; d) pelo aumento da dificuldade ao acesso às peças para o conserto; e) pela 
redução de informações sobre o produto e suas peças pelos fabricantes; e f) por 
estimularem os consumidores a descartarem o produto todo, decorrente de peças 
quebradas que o compõe, ao invés de consertá-los.21 
Diante da situação, o consumidor, para evitar aborrecimentos, desgastes 
emocionais e financeiros, como também após observar o custo x benefício, prefere 
descartar o produto e comprar um novo.22 
 
1.3.3 Obsolescência programada de desejabilidade 
 
Também conhecida como obsolescência psicológica, de estilo ou perceptível, 
é a estratégia de fazer com que um produto se demonstre ultrapassado, tornando-o 
menos desejável, ainda que seja útil e em plenas condições de uso.23 
Essa estratégia surgiu em 1923, após a iniciativa da GM em mudar o design 
do Chevrolet 1923, quando colocou em prática o lançamento anual de novos 
modelos de veículo.24 
 
 
19
 PACKARD, Vance. Estratégia do desperdício. São Paulo: IBRASA, 1965, p. 88. 
 
20
 Ibidem,p.122. 
 
21
 Ibidem, p.122-126. 
 
22
 Ibidem, p.123. 
 
23
 Ibidem, p.52. 
 
20 
 
O objetivo era estimular o consumo repetitivo, a ansiedade por comprar e o 
fortalecimento da ideia de que tudo que é velho não tem valor, nem função, além da 
sensação de constrangimento em tê-lo, de forma que, nesta cultura consumista, os 
status hierárquicos são feitos com base não só nos rendimentos pessoais, mas 
também nos gostos.25 
 Cabe ilustrar, que o exemplo mais comum da obsolescência de desejabilidade 
é a indústria da moda. Para os consumidores dessa indústria, não importa se os 
produtos que possuem estão em perfeitas condições de uso. O que interessa é 
acompanhar a moda. Nesse caso, a obsolescência programada se configura por 
meio da manipulação da vontade dos consumidores e do valor que estes conferem 
aos ativos intangíveis (tais qual o status) relacionados à mercadoria vendida.26 
 Baudrillard denomina obsolescência programada como renovação acelerada, 
porquanto na sociedade de consumo, reciclagem significa reciclar-se 
constantemente no vestuário, nos objetos e no carro. Se assim não for, não se trata 
de um legítimo cidadão dessa sociedade.27 
 Diante dessas circunstâncias, consumir se torna um dever do cidadão. Afinal, 
quando o PIB diminui, são os consumidores munidos de seus cartões de créditos 
que podem estimular a economia e tirar o país da recessão.28 
 
1.4 Quadro sintetizado da obsolescência programada 
 
 Cabe ilustrar os tipos de obsolescência programada, segue quadro abaixo: 
 
24
 UFSC – Repositório Institucional. Obsolescência planejada de qualidade: fundamentos e 
perspectivas jurídicas de enfretamento. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/ 
handle/123456789/ 107281>. Acesso em: 17 set. 2017. 
 
25 SLADE, Giles. Made to Break – Technology and Obsolescence in America. First Harvard 
University Press Paperback edition, 2006, p.47. 
26 VIO, Daniel de Avila. O poder econômico e a obsolescência programada de produtos. Revista 
de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São Paulo, v. 43, n. 133, p. 193-202, 
jan./mar. 2004. 
 
27 BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 2003, p.210. 
 
28 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de 
Janeiro: Zahar, 2008, p.199. 
21 
 
29 
 
29
 MORAES, Kamilla Guimarães de. Obsolescência planejada de qualidade: fundamentos e 
perspectivas jurídico-ambientais de enfrentamento. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade 
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, p. 66-67. Acesso em: 29 out. 2017. 
22 
 
2. IMPACTOS CAUSADOS PELA PRÁTICA DA OBSOLESCÊNCIA 
PROGRAMADA 
 
Annie Leonard 30 explica em seu documentário que o primeiro limite que 
enfrentamos nessa prática é o uso demasiado dos recursos naturais. Esclareceu 
que durante as três últimas décadas, foram consumidos 33% dos recursos naturais 
do planeta e que 75% das zonas de pesca mundialestão sendo exploradas ao 
máximo de sua capacidade. Acrescentou ainda, que 80% das florestas originais do 
mundo desapareceram, pois só na Amazônia, há uma perda de 2000 árvores por 
minuto, o que equivale a um campo de futebol por minuto. 
De acordo com seu documentário, os recursos naturais são deslocados para 
as fábricas, onde são misturados com produtos químicos e tóxicos. Explicou ainda, 
que as toxinas saem das fábricas como produtos e muitas delas como subprodutos, 
por meio de fumaças pelas chaminés, ou seja, muita poluição. 
Nos Estados Unidos, admitem-se liberar cerca de 1milhão e 800 mil quilos de 
químicos tóxicos por ano. Alertou ainda, que sobre o impacto que esses tóxicos 
produzidos causam à saúde e ao meio ambiente, não são realizados estudos sobre 
eles e que as pessoas que mais sofrem com os produtos tóxicos são os 
trabalhadores das fábricas que ficam expostos a agentes químicos. Nessa esteira, 
concluiu que não somente recursos são desperdiçados no ciclo desse sistema, mas 
também as pessoas. 
Informou que após a produção, os produtos são encaminhados para o 
mercado, cujo local tem por objetivo manter os preços baixos para fazer com que as 
pessoas comprem de forma constante, mantendo o movimento. 
Quanto aos preços baixos, mencionou que são os trabalhadores que os 
mantêm. Mantêm por meio dos salários baixos que recebem, além dos seguros de 
saúde que lhes são direito de usufruir, todavia muitas vezes lhes são restringidos. 
Leonard demonstrou que tudo isso se resume em exteriorizar os custos, haja 
vista os verdadeiros custos da produção não se refletirem no preço, ou seja, na 
realidade as pessoas não pagam por aquilo que compram. 
 
 
30
 LEONARD Annie. STORY OF STUFF (A história das coisas). Tides Foundation. Funders 
Workgroup for Sustainable Production and Consumption and Free Range Studios. Versão oficial: 
2007. Dublado. (21min). Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=9GorqroigqM>. Acesso 
em: 02 jun. 2017. 
23 
 
A exemplo, contou que, certa vez, entrou em uma loja para comprar um rádio. 
Após observar que o rádio custava US$4,99 (quatro dólares e noventa e nove 
centavos), passou a analisar como esse valor poderia refletir os custos e transporte 
desse produto. Dessa forma, chegou à conclusão que o metal devia ter sido extraído 
na África do Sul, o petróleo provavelmente do Iraque, o plástico produzido na China 
e talvez montado por uma criança de quinze anos em uma fábrica no México; ou 
seja, concluiu que o valor cobrado pelo rádio, não pagaria o aluguel do espaço 
ocupado na prateleira da loja, nem parte do salário do empregado que a atendeu, 
bem como as viagens de navio ou caminhão que o rádio percorreu. 
Diante dos fatos, percebeu não ter pagado pelo valor do rádio. Contudo, 
compreendeu a real composição do valor do produto, qual seja: as pessoas 
pagaram com a perda dos recursos naturais; as crianças do Congo pagaram com o 
seu futuro, pois 30% das crianças abandonam a escola para trabalhar nas minas de 
Coltan (os metais que usamos nos aparelhos eletrônicos baratos e descartáveis); e 
as pessoas pagaram por não terem direito ao seguro de saúde. 
Não obstante, ressaltou que essas verdadeiras contribuições do custo de 
produção exteriorizadas não são contabilizadas. 
Explanou que, nos Estados Unidos, 99% das coisas em menos de seis meses 
viram lixo e por tal motivo, não há como gerir um planeta com esse rendimento, 
alegando que, atualmente, os americanos consomem o dobro do que consumiam há 
cinquenta anos e que isso foi planejado após a segunda guerra mundial, por meio do 
analista de vendas Victor Lebow, o qual articulou a solução que mudou 
completamente a economia, por meio de seu texto: 
 
A nossa enorme economia produtiva exige que façamos do 
consumo nossa forma de vida, que tornemos a compra e uso 
de bens em rituais, que procuremos a nossa satisfação 
espiritual, a satisfação de nosso ego, no consumo. Precisamos 
que as coisas sejam consumidas, destruídas, substituídas e 
descartadas a um ritmo cada vez maior.31 
 
Além disso, Leonard também relatou em seu documentário, que o conselheiro 
econômico do presidente Dwight D. Eisenhower, declarou que o principal objetivo da 
 
31
 LEONARD Annie. STORY OF STUFF (A história das coisas). Tides Foundation. Funders 
Workgroup for Sustainable Production and Consumption and Free Range Studios. Versão oficial: 
2007. Dublado. (21min). Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=9GorqroigqM>. Acesso 
em: 02 jun. 2017. 
24 
 
economia americana era produzir mais bens de consumo. Com isso, duas das suas 
estratégias mais bens sucedidas foram: a obsolescência programada e a 
obsolescência perceptiva. Consoante a revista EXAME: 
 
Dados da décima edição do estudo Panorama dos Resíduos Sólidos 
no Brasil, realizado pela Associação Brasileira de Empresas de 
Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), indicam que a 
tarefa de acabar com os lixões até 2014, como prevê a Política 
Nacional de Resíduos Sólidos, está se revelando árdua para os 
municípios. Das 64 milhões de toneladas de resíduos gerados no 
ano passado, 24 milhões seguiram para destinos inadequados, como 
lixões. Isso equivale a 168 estádios do Maracanã lotados de lixo, 
sendo que outras 6,2 milhões de toneladas sequer foram coletadas. 
Em média cada brasileiro gerou 383 kg de lixo por ano, um aumento 
de 1,3% de resíduos por habitante em relação a 2011. O Nordeste é 
a região que tem a maior quantidade de resíduos sem destinação 
adequada, encaminhando diariamente 65% do lixo coletado para 
lixões ou aterros controlados, os quais, do ponto de vista ambiental, 
pouco se diferenciam dos próprios lixões.32 
 
De volta ao documentário, entretanto, todo lixo é despejado em um aterro 
(grande buraco no chão), ou ainda incinerado e depois despejado no chão, sendo 
que as duas formas poluem o solo, o ar, a água, sem esquecer que alteram o clima, 
pois durante a queima, ocorre a liberação de super tóxicos, como a dioxina. Algumas 
empresas não querem criar aterros e nem incineradores e nesse caso, elas 
exportam esse lixo. 
 Quanto à reciclagem, tal prática contribui para a redução do lixo nessa 
extremidade e que todos devem reciclar, porém esse ato apenas não é suficiente, 
pois para cada saco de lixo, 70 sacos são criados anteriormente. Insta enaltecer, 
que grande parte do lixo não pode ser reciclado, por conter demasiados tóxicos ou 
porque foi criado para não ser reciclado, como as caixas de suco que possuem 
camada de plástico, papel e metal, todas coladas. Como se vê, é um sistema em 
crise. 
 
 
 
32
 Revista Exame. Quanto lixo os brasileiros geram por dia em cada estado. Disponível em: 
<https://exame.abril.com.br/tecnologia/quanto-lixo-os-brasileiros-geram-por-dia-em-cada-estado/>. 
Acesso em: 03 nov. 2017. 
25 
 
3. A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA E O RISCO ECOLÓGICO 
 
Como todo ato possui risco, a obsolescência planejada não é a exceção. 
Conforme se observa, os riscos devido a tal prática são ocultados e ultrapassam 
gerações. Ulrich Beck, define esses riscos da seguinte forma: 
 
[...] riscos são inicialmente bens de rejeição, cuja inexistência é 
pressuposta até prova em contrário – de acordo com o princípio: 
“in dubio pro progresso”, e isto quer dizer: na dúvida, deixa estar33. 
(Destaquei). 
 
Beck, ainda complementa o conceito de risco como “o risco seria 
simplesmente uma decorrência do progresso”.34Tendo em vista, o avanço da ciência para atender cada vez mais as 
necessidades dos consumidores, vê-se que a tecnologia não para de inovar. Porém, 
essa dinâmica ocasiona a desvalorização do bem, assim como a falta de interesse 
pelo modelo adquirido em um curto espaço de tempo, embora em perfeito 
funcionamento. Contudo, esse sistema de custo elevado, mantém aquecido o 
mercado de consumo desenfreado. 
O problema desse mercado de consumo, ou seja, especificamente essa troca 
constante de bens materiais, de certa forma, desnecessária, gera cada vez mais 
lixo, o qual não recebe uma destinação adequada e esse é maior dos problemas. 
 Esses produtos são descartados de forma irregular na natureza, ocasionando 
grande impacto, causando danos irreversíveis. 
Ocorre que esse sistema fere um direito fundamental previsto na Carta Maior, 
por comprometer o meio ambiente e a boa qualidade de vida. Nesse aspecto, 
explica Manuel Gonçalves Ferreira Filho: 
 
Direito ao meio ambiente. Este é um direito de solidariedade – a 
terceira ‘geração’ dos direitos fundamentais (a primeira, as 
liberdades; a segunda, os direitos sociais). Na verdade, pode-se 
 
33
 BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 
2011, p.40-41. 
 
34 MEDEIROS, Fernanda Luiza Fontoura de. Meio ambiente: direito e dever fundamental. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado, 2004, p. 205. 
 
26 
 
retraçar, com facilidade, a sua genealogia. Provém do direito à vida 
(primeira geração), por intermédio do direito à saúde (segunda 
geração).
35
 
 
É válido lembrar que a redução da vida útil de um produto de forma planejada, 
não se confunde com o desgaste natural devido ao uso, por isso tal prática se torna 
lesiva ao meio ambiente e, portanto, deve ser afastada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35
 FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. Comentários à Constituição Brasileira de 1988. 2ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 1999, v. 2, p.276. 
27 
 
4. A OBSOLESCÊNCIA E SUA CONEXÃO COM O ORDENAMENTO JURÍDICO 
BRASILEIRO 
 
4.1 A recepção da proteção ao Meio Ambiente pela Constituição de 1988 
 
 Foi após os anos 1970, que houve a conscientização sobre os problemas 
ambientais no Direito, uma vez que passou a ser observado nitidamente que suas 
consequências não seriam possíveis de ser enfrentadas apenas pelas autoridades 
públicas ou por ações individuais isoladamente. Isso porque, o problema tomou 
grande proporção. No caso em tela, verificou-se que o problema começou a 
comprometer, de certa forma, as futuras gerações. 
 Contudo, após os direitos de primeira e segunda dimensões, que fundaram o 
Estado Democrático de Direito (ou Liberal de Direito) e o Estado Social de Direito 
(ou do Bem-estar social), respectivamente, surgem, ainda, os direitos de terceira 
dimensão, como base construtiva do Estado de Direito Ambiental36. 
 O ponto diferenciador destes direitos de terceira dimensão está na sua 
titularidade, conquanto dizem respeito à proteção de categorias ou grupos e não 
mais ao homem individual. Então, representam os direitos metaindividuais, direitos 
coletivos e difusos e direitos de solidariedade, como, por exemplo, os relacionados à 
paz, à autodeterminação dos povos, ao meio ambiente sadio, à qualidade de vida, 
etc.37 
 Dessa forma, o Estado de Direito Ambiental, assim como os demais Estados 
antecessores, surge com a incorporação de uma nova dimensão de direitos 
fundamentais ao sistema. Todavia, importante grifar que este novo Estado não se 
desvincula dos direitos fundamentais já conquistados, motivo pelo qual se impõe 
como mais apropriada a utilização do termo “dimensão”, em substituição aos termos 
gerações, eras ou fases, porquanto estes direitos não são substituídos ou alterados 
de tempos em tempos, mas resultam de um processo de complementaridade 
permanente, de conjugação e conformação de funções e interesses.38 
 
36
 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 2003, p. 51-54. 
 
37
 Ibidem, p. 53-54. 
 
38
 Ibidem, p. 50. 
 
28 
 
 É possível afirmar, portanto, que a construção do Estado de Direito Ambiental 
propõe aplicar o princípio da solidariedade econômica e social para se alcançar um 
desenvolvimento sustentável, fundado em equidade intergeracional e em uma visão 
menos antropocêntrica.39 
 Nessa senda, Sarlet e Fensterseifer, preconiza: 
 
Cumpre ao Direito, portanto, a fim de restabelecer o equilíbrio e 
a segurança nas relações sociais (agora socioambientais), a 
missão de posicionar-se em relação a essas novas ameaças 
que fragilizam e colocam em risco a ordem de valores e os 
princípios republicanos e do Estado Democrático de Direito, 
bem como comprometem fortemente a sobrevivência (humana 
e não humana) e a qualidade de vida.40 
 
 Sarlet e Fensterseifer afirmam, ainda, que: 
 
O marco jurídico-constitucional socioambiental ajusta-se à 
necessidade da tutela e promoção – integrada e 
interdependente – dos direitos sociais e dos direitos ambientais 
num mesmo projeto jurídico-político para o desenvolvimento 
humano em padrões sustentáveis, inclusive pela perspectiva 
da noção ampliada e integrada dos direitos fundamentais 
socioambientais ou direitos fundamentais econômicos, sociais, 
culturais e ambientais.41 
 
 Para Benjamin, a Constituição Federal de 1988 obteve o êxito de internalizar 
a problemática ambiental no âmbito jurídico nacional, saltando da miserabilidade 
ecológico-constitucional, própria das Constituições liberais anteriores, para o que 
chamou de opulência ecológico-constitucional, de forma que o art. 225 é apenas a 
face mais visível de um regime constitucional que, em vários pontos, dedica-se, 
direta ou indiretamente, à gestão adequada dos recursos ambientais.42 
 
39
 LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Direito ambiental na sociedade de risco. 
2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 30. 
 
40
 SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito constitucional ambiental: estudos 
sobre a constituição, os direitos fundamentais e a proteção do ambiente. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2011, p.33. 
 
41
 Ibidem, p.42-43. 
 
42
 BENJAMIN, Antônio Herman. Constitucionalização do ambiente e ecologização da Constituição 
brasileira. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato Leite (Org.). Direito 
Constitucional Ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 106. 
 
29 
 
A Carta Maior impõe o compromisso e ampara o direito fundamental de 
proteção ambiental. Não bastasse, cobra também o agir de forma integrada da 
administração, conforme preconiza o artigo 225. 
Embora, não se encontra de forma explícita no artigo 5º da Constituição, o 
direito ambiental é um direito fundamental de terceira dimensão, essa afirmativa é 
feita com base no parágrafo segundo do artigo 225, porquanto nosso sistema de 
direitos fundamentais é aberto43. 
 Destarte, verifica-se que a Carta Maior aproximou juridicamente o Estado de 
Direito brasileiro e a proteção ao Meio Ambiente e formalizou este ato, o que restou 
demonstrado por meio de um Estado em âmbito nacional, todavia sua efetivação se 
dará por meio de ações estatais e sociais. 
Dessa forma, a Constituição Federal, em seu artigo 225, trata do meio 
ambiente, que vem, em tese, para intermediar tal problema, conforme se vê: 
 
Art. 225.Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o 
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras 
gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe 
ao poder público: 
[...] 
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de 
técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a 
vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; 
[...] 
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as 
práticas que coloquem em risco sua função ecológica, 
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a 
crueldade. 44 (Destaque e grifo nosso) 
 
No caso em tela, verifica-se que a Carta Magna traz em sua redação no artigo 
supracitado, o dever do Estado sobre o controle da produção e do emprego de 
técnicas e métodos que acarretem risco para o meio ambiente. Portanto, ele tem 
autonomia para controlar os bens e os produtos, vítimas da obsolescência 
programada, posto que esse sistema coloca em risco o meio ambiente, na 
 
43 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado 
como direito fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p.154. 
 
44
 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: 
Senado Federal, 1988. 
 
30 
 
proporção que aumenta a exploração dos recursos naturais, o acúmulo de lixo e a 
emissão de poluentes. 
Nesse mesmo artigo, nota-se que a Constituição veda qualquer prática que 
coloque em risco o sistema ecológico em geral. Todavia, o próprio Estado deveria 
combater essa prática, pois esta provoca de forma exacerbada tanto o consumo 
quanto a produção de forma descontrolada. 
De acordo com Ingo Wolfgang Sarlet e Tiago Fensterseifer, 
 
O tratamento jurídico-constitucional dispensado à proteção do 
ambiente pela nossa Lei Fundamental de 1988 permite a 
constatação de que a norma constitucional não impôs apenas dever 
de proteção ambiental ao Estado, mas também lançou mão da 
responsabilidade dos particulares para a consecução de tal objetivo 
constitucional. Ao dispor no caput do seu art. 225 que se impõe “ao 
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo 
para as presentes e futuras gerações”, a tutela constitucional do 
ambiente passou a vincular juridicamente (para além de uma 
obrigação moral!) também os particulares – e não somente os entes 
públicos –, atribuindo aos mesmos não apenas um direito 
fundamental ao ambiente (pelo menos no sentido de um direito de 
exigir que o Estado e terceiros se abstenham de atentar contra o 
ambiente e atuem no sentido de protegê-lo), mas também deveres 
fundamentais de proteção do ambiente, o que conduz ao 
reconhecimento do direito ao ambiente como autêntico direito-
dever.45(Itálico no original) 
 
 A proteção ambiental trata-se de um direito fundamental, portanto sua 
aplicabilidade é imediata. Nesse sentido: 
 
Não apenas o direito fundamental ao ambiente, mas também os 
deveres fundamentais de proteção do ambiente possuem – em certo 
sentido – aplicação imediata, visto que deles é possível (e 
necessário) extrair efeitos jurídicos diretos e passíveis de 
exigibilidade. Sob uma perspectiva material, houve uma decisão 
tomada pelo constituinte brasileiro ao consolidar o direito (e o 
correlato dever fundamental) dos indivíduos e da coletividade a 
viverem em um (e não qualquer um!) ambiente ecologicamente 
equilibrado, considerando ser o mesmo “essencial à sadia qualidade 
de vida” (art. 225, caput, da CF88).46 (Itálico no original) 
 
45 SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito constitucional ambiental: estudos 
sobre a constituição, os direitos fundamentais e a proteção do ambiente. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2011, p.178. 
 
46 Ibidem, p.179. 
 
31 
 
 Por todo o exposto, compreendeu-se a forma como o Direito se ecologizou, 
ou seja, por meio da criação da terceira dimensão de direitos, bem como pela 
formalização do Estado de Direito Ambiental, os quais, simultaneamente, são pilares 
do Direito Ambiental, assim como amparados por ele, além de incluir a 
sustentabilidade neste meio. 
 
4.2 Direito Ambiental 
 
 Ocorre que, diferentemente de outras disciplinas jurídicas clássicas, o Direito 
Ambiental surge e se consolida no mesmo período em que as Constituições dos 
Estados-nação começam a se ecologizar. Então, estes são, ambos, processos que 
ocorrem quase que de forma simultânea e que se impulsionam reciprocamente.47 
 Segundo Benjamin, a experimentação jurídico-ecológica empolgou, ao 
mesmo tempo, o legislador infraconstitucional e o constitucional.48 
 Dessa maneira, no início da década de 1970 que os sistemas constitucionais 
de todo o mundo começaram, efetivamente, a reconhecer o ambiente como valor 
merecedor de tutela maior, tornando-se uma irresistível tendência internacional, que 
coincide com o surgimento e consolidação do Direito Ambiental.49 
 Destarte, de acordo com Benjamim, ocorreram três ondas de 
constitucionalização ambiental no mundo: a primeira, na década de 1970, 
representada por países europeus que se libertavam de regimes ditatoriais, como a 
Grécia (1975), Portugal (1976) e Espanha (1978). Em seguida, em uma segunda 
onda, foi a vez de países como o Brasil, que, assim como os países que 
esverdearam suas Constituições na primeira onda, teve direta e forte influência dos 
padrões e linguagem da Declaração de Estocolmo (1972). E, por fim, após a Rio92, 
veio a terceira onda, quando outras Constituições passaram a ser promulgadas ou 
reformadas, incorporando, expressamente, concepções jurídico-ecológicas, como a 
 
47
 MORAES, Kamilla Guimarães de. Obsolescência planejada de qualidade: fundamentos e 
perspectivas jurídico-ambientais de enfrentamento. Dissertação (Mestrado em Direito) – 
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013, p. 125. Acesso em: 29 out. 2017. 
 
48 BENJAMIN, Antônio Herman. Constitucionalização do ambiente e ecologização da Constituição 
brasileira. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato Leite (Org.). Direito 
Constitucional Ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 84. 
 
49
 MORAES, Kamilla Guimarães de, op.cit., loc. cit. 
 
32 
 
de desenvolvimento sustentável, biodiversidade e precaução, a exemplo da 
Argentina (1994), da França (2005), do Equador (2008) e da Bolívia (2009).50 
 Coube a tais Constituições repreender e retificar o velho paradigma civilístico, 
substituindo-o por outro mais sustentável, isto é, mais sensível à saúde das 
pessoas, às expectativas das futuras gerações, à manutenção das funções 
ecológicas, aos efeitos negativos a longo prazo da exploração predatória dos 
recursos naturais, bem como aos benefícios tangíveis e intangíveis do seu uso-
limitado (e até não uso). Então, o universo dessas novas ordens constitucionais 
permitiu propor, defender e edificar uma nova ordem pública, centrada na 
valorização da responsabilidade de todos para com as verdadeiras bases da vida, a 
Terra.51 
 Portanto, os fundamentos dorsais do Direito Ambiental encontram-se quase 
que em sua totalidade expressamente apresentados em um crescente número de 
Constituições modernas, pelas quais poder-se-á vislumbrar a implementação de um 
novo paradigma (mais ecológico) ético-jurídico e, também, político-econômico, 
marcado pela superação da compreensão coisificadora e fragmentária da biosfera, 
bem como pela internalização da noção de sustentabilidade.52 
 
4.3As leis infraconstitucionais 
 
A Lei Maior, em conjunto com as leis infraconstitucionais, está relacionada 
com a prática da obsolescência programada. Dentre as variadas leis relacionadas, 
menciona-se a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) 53 , a Política 
 
50
 BENJAMIN, Antônio Herman. Constitucionalização do ambiente e ecologização da Constituição 
brasileira. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato Leite (Org.). Direito 
Constitucional Ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 81-82. 
 
51
 Ibidem, p. 86. 
 
52
 Ibidem, p. 85-86. 
 
53
 Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, 
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 16 mai. 2017. 
 
33 
 
Nacional sobre Mudança do Clima (Lei 12.187/09) 54 e a Política Nacional de 
Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10).55 
Nesta esteira, há um estímulo para a prática do desenvolvimento sustentável, 
porém nas palavras de José Rubens Morato Leite, vemos que a responsabilidade 
maior é do governo, conforme expressa: 
 
[...] é necessário um novo modelo de organização estadual, que seja 
constituído pela integração de novos elementos ao Estado de direito, 
elementos que sejam próximos de dimensões de participação no 
espaço público, e que evidenciem uma funcional e crescente 
interação com as necessidades ecológicas, que por ele devem ser 
não só realizadas, mas reproduzidas.56 
 
E mais: 
 
De modo geral, o objetivo deveria ser o do estabelecimento de um 
aproveitamento racional e ecologicamente sustentável da natureza 
em benefício das populações locais, levando-as a incorporar a 
preocupação com a conservação da biodiversidade aos seus 
próprios interesses, como um componente de estratégia de 
desenvolvimento.57 
 
Nesse sentido, vemos ser necessária a conciliação entre economia e 
ecologia. 
 
 
54
 Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima 
– PNMC e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/lei/l12187.htm>. Acesso em: 16 mai 2017. 
 
55
 Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera 
a Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 16 mai. 2017. 
 
56
 LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Direito ambiental na sociedade de 
risco. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 33. 
 
57
 SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. 4. ed. Rio de Janeiro: 
Garamond, 2002, p. 53. 
 
34 
 
4.3.3.1 Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81)58 
 
O foco da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) é a compatibilização 
da proteção do meio ambiente com as relações sociais e econômicas. 
Conforme preconiza o caput do artigo 2º da referida lei, a Política Nacional do 
Meio Ambiente (PNMA) tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da 
qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar condições ao 
desenvolvimento socioeconômico e à proteção da dignidade da vida humana. 
Complementa, ainda, por meio do inciso I do mesmo artigo: “ação 
governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando que o meio 
ambiente é um patrimônio público que deve ser necessariamente assegurado e 
protegido, tendo em vista o uso coletivo”. 
É importante destacar que, o meio ambiente é um patrimônio público de uso 
coletivo, portanto é imprescindível que esse bem seja assegurado e protegido por 
intermédio da ação do governo, o qual deve trabalhar para a manutenção desse 
equilíbrio. 
 
Tal princípio significa que a qualidade do meio ambiente e o 
equilíbrio ecológico são valores preponderantes que se elevam 
acima de quaisquer outras considerações como as de 
desenvolvimento, as de propriedade, as de iniciativa privada, por sua 
natureza de bem de interesse público (patrimônio público), cuja 
proteção não é mera faculdade da ação governamental, mas 
imperativo imposto pela lei com a expressão “necessariamente 
assegurado e protegido”, não no interesse particular, mas tendo em 
vista o uso coletivo.59 (Itálico no original) 
 
Ademais, são políticas da PNMA: 
 
Art. 2º 
[...] 
II - a racionalização do uso do solo, subsolo, da água e do ar; 
III - o planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; 
[...] 
 
58
 Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, 
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 16 mai. 2017. 
 
59
 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 
213. 
 
35 
 
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para 
o uso racional e a proteção dos recursos ambientais. 
 
Dos objetivos específicos da Política Ambiental, esta visa em seu artigo 4º, 
inciso I, a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a 
preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico. 
No caso em tela, significa que há uma política do equilíbrio, ou seja, deve-se 
conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a preservação da qualidade 
ambiental, “o que importa utilização sustentada dos recursos ambientais e uso 
racional dos recursos naturais, com garantia de permanência dos renováveis”.60 
 
4.3.3.2 Política Nacional sobre Mudança do Clima (Lei 12.187/09)61 
 
A Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), considerada 
complementar à Política Nacional do Meio Ambiente 62 , traz como princípios a 
precaução, a prevenção, a participação cidadã, o desenvolvimento sustentável e as 
responsabilidades comuns (art. 3º, caput). 
Logo, como objetivo, a PNMC dispõe em seu artigo 4º, inciso I, a 
compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a proteção do sistema 
climático. Todavia, para que isso seja alcançado, devem ser colocados em prática 
os princípios e as diretrizes que regem a Lei.63 
As diretrizes da Política encontram-se elencadas em seu artigo 5º. Nota-se 
que, dentre elas, destacam-se o estímulo e o apoio à manutenção e à promoção de 
padrões sustentáveis de produção e consumo (inciso XIII, alínea b), ou seja, diretriz 
que confronta com a obsolescência programada. 
Para alcançar os objetivos da PNMC, o País adotará, como compromisso 
nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, 
 
60
 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 
215. 
 
61
 Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima 
– PNMC e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/lei/l12187.htm>. Acesso em: 16 mai 2017. 
 
62 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: a gestão ambiental em foco: doutrina, jurisprudência, 
glossário. 7. ed.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.1647. 
 
63
 Idem. 
 
36 
 
com vistas em reduzir entre 36,1% e 38,9% suas emissões projetadas até 2020 
(Artigo 12). Contudo, para que isso ocorra, teria que haver uma limitação das 
práticas econômicas. 
Conforme Édis Milaré, “é evidente que as leis daentropia e da termodinâmica 
são desafiadas pela irracionalidade dos processos de produção, pelo alto 
consumismo e pela supergeração de resíduos [...]”.64 
Nesse caso, conclui-se que, se fosse decretada o fim da obsolescência 
programada e houvesse o aumento da vida útil dos produtos, sem dúvida alguma, 
seria possível a redução da emissão desses gases. 
 
4.3.3.3 Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010)65 
 
A Lei, criada em 2 de agosto de 2010, instituiu a Política Nacional de 
Resíduos Sólidos (PNRS) integra a Política Nacional do Meio Ambiente, conforme 
dispõe o caput do art. 5º da Lei. 
Com fundamento no artigo 225 da Constituição Federal, a lei também prevê 
princípios e objetivos básicos que tentam assegurar a proteção ao meio ambiente. 
Reforça, ainda, em seus artigos 30 a 33, a responsabilidade compartilhada entre 
Poder Público, fornecedores de produtos e consumidores, sobre o ciclo de vida dos 
produtos, suas embalagens e a forma correta do descarte de pilhas, pneus, óleos, 
lâmpadas, produtos eletrônicos e demais componentes, a fim de evitar não só a 
Obsolescência Programada, mas também o manejo correto de todo o lixo e sua 
devida reciclagem.66 
Dentre os princípios que a Lei traz em seu artigo 6º, cabe citar: 
 
I - a prevenção e a precaução; 
[...] 
 
64
 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: a gestão ambiental em foco: doutrina, jurisprudência, 
glossário. 7. ed.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.211. 
 
65
 Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a 
Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 16 mai. 2017. 
 
66
 Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - IDEC. Um mal a ser combatido: a obsolescência 
programada. Disponível em: <https://www.idec.org.br/em-acao/artigo/um-mal-a-ser-combatido-a-
obsolescencia-programada>. Acesso em: 29 out 2017. 
 
37 
 
IV - o desenvolvimento sustentável; 
V - a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o 
fornecimento, a preços competitivos, de bens e serviços qualificados 
que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de 
vida e a redução do impacto ambiental e do consumo de recursos 
naturais a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de 
sustentação estimada do planeta; 
VI - a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o 
setor empresarial e demais segmentos da sociedade; 
 
Leciona Paulo Affonso Leme Machado: 
 
A ecoeficiência é alçada à categoria de princípio, pretendendo 
compatibilizar o fornecimento de bens e serviços, que satisfaçam as 
necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do 
impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no 
mínimo, equivalente à capacidade de sustentação do planeta (cf. art. 
6º, V). Trata-se de uma harmonização das atividades humanas: de 
um lado, há o fornecimento de bens e de serviços e, de outro lado, é 
feita a redução do impacto ambiental e do consumo num nível 
sustentável.67 
 
Quanto aos objetivos que a Lei traz em seu artigo 7º, destaca-se: 
 
I - proteção da saúde pública e da qualidade ambiental; 
II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos 
resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente 
adequada dos rejeitos; 
III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e 
consumo de bens e serviços; 
[...] 
XIII - estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do 
produto; 
[...] 
XV - estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável. 
 
Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a 
seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, 
tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos 
rejeitos (artigo 9º). 
Para Machado, a não geração de resíduo sólido é o objetivo caracterizador 
da lei e essa prioridade é uma obrigação legal: “com o posicionamento da Lei 
 
67
 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 
2011, p. 598. 
 
38 
 
12.305, não se pode admitir que qualquer um seja livre para produzir o resíduo 
sólido que quiser, quando quiser e onde quiser”.68 
Nesse ponto se encaixa a problemática da obsolescência programada na 
PNRS. A não geração de resíduos sólidos, por se tratar de uma obrigação legal, os 
resíduos sólidos devem ser produzidos o suficiente para se manter uma boa 
qualidade de vida. 
 O dever fundamental de proteção do ambiente impõe essa limitação, que foi 
positivada explicitamente na PNRS. Mais uma vez, a prática da obsolescência 
programada demonstra-se em desacordo com a previsão legal, pois aumenta 
substancialmente – e desnecessariamente – a geração de lixo.69 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
68
 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 
2011, p. 599. 
 
69
 ZANATTA, Marina. A obsolescência programada sob a ótica do direito ambiental brasileiro. 
Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Rio 
Grande do Sul, 2013. 
39 
 
5. A AGENDA 21. SEUS OBJETIVOS E A QUESTÃO DOS PADRÕES DE 
PRODUÇÃO E CONSUMO 
 
 Em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, a Organização das Nações Unidas – 
ONU realizou a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o 
Desenvolvimento (CNUMAD). A CNUMAD conhecida, popularmente, como Rio 92, 
em homenagem à cidade que a acolheu. 
Composta por 179 países participantes, estes acordaram e assinaram a 
Agenda 21 Global 70 , um programa de ação baseado num documento de 40 
capítulos, que constitui a mais abrangente tentativa já realizada de promover, em 
escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, denominado 
“desenvolvimento sustentável”, a qual pode ser definida como um instrumento de 
planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, de forma global, que 
concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica para 
esse novo modelo de desenvolvimento para o século XXI.71 
 Apesar deste documento não ter força de lei, ele contém relevante valor 
político e seu objetivo é dar solução aos problemas ambientais de forma global. 
 A Agenda 21 trata com exclusividade por meio do capítulo 4, o 
reconhecimento dos padrões insustentáveis de consumo e produção. Defende 
ainda, que, para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida 
superior para todos os povos, as nações deveriam reduzir e eliminar os padrões de 
produção e consumo insustentáveis e promover políticas demográficas 
apropriadas72. 
 
70 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E 
DESENVOLVIMENTO, 1992, Rio de Janeiro. Conferência das Nações Unidas sobre o Meio 
Ambiente e Desenvolvimento: de acordo com a Resolução n. 44/228 da Assembleia Geral da ONU, 
de 22-12-89, estabelece uma abordagem equilibrada e integrada das questões relativas a meio 
ambiente e desenvolvimento: a Agenda 21. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de 
Publicações, 1995. 
 
71
 Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Agenda 21 global. Rio de Janeiro, 1992a. 
Disponível em: < http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21-
global>. Acesso em: 01 nov. 2017. 
 
72
 Idem. 
 
40 
 
 O referido documento traz como proposta73, algumasatividades necessárias 
para alcançar tais objetivos, quais sejam: a) o estímulo a uma maior eficiência no 
uso da energia e dos recursos; (b) a redução ao mínimo da geração de resíduos; c) 
o auxílio a indivíduos e famílias na tomada de decisões ambientalmente saudáveis 
de compra; d) o exercício da liderança por meio das aquisições de produtos que 
atendam a estes padrões pelos Governos; e) o desenvolvimento de uma política de 
preços ambientalmente saudáveis; e f) o reforço dos valores que apoiem o consumo 
sustentável. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
73
 Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Agenda 21 global. Capítulo 4. Mudança 
dos padrões de consumo. Rio de Janeiro, 1992a. Disponível em: < 
http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21-global/item/606 >. 
Acesso em: 06 Nov. 2017, itens 4.18 ao 4.26. 
 
41 
 
6. DA RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL E SUA CONSOLIDAÇÃO 
 
6.1 Da responsabilidade civil ambiental 
 
Diante de um dano causado ao meio ambiente, o sujeito passivo é a 
coletividade e o grande prejudicado é o próprio meio ambiente, abrangido não 
somente pelos recursos naturais, como também pelos recursos artificiais, além dos 
culturais, isso porque se trata de um direito difuso. 
A responsabilidade civil, mais especificamente a ambiental, é uma arma de 
grande valia em desfavor da obsolescência programada, pois conforme já 
explicitado, este instituto programa a vida útil de um bem ou produto. Sendo assim, 
todos os responsáveis pelos impactos provocados, devem sofrer as penalidades 
decorrentes de suas condutas, pois a mera violação acarreta a responsabilidade ao 
agente causador em reparar o dano. 
Insta consignar, que o consumidor também não se esquiva dessa 
responsabilidade, porquanto seu papel nessa prática é de grande importância. 
Nesse sentido, cabe ao consumidor rever seus conceitos quanto ao 
consumismo de forma exagerada e em relação a coisas desnecessárias. 
Cabe ainda frisar, que a prática da obsolescência deve ser coibida com base 
nos princípios da dignidade da pessoa humana, no direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado, bem como nos princípios da precaução, do poluidor-
pagador, todos amparados pela Carta Magna. 
Dentro da área civil ambiental, a responsabilidade é objetiva, ou seja, 
independe de existência de culpa do agente, conforme preconiza o artigo 14, §1º da 
Lei 6938/198174: 
 
§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, 
é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a 
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a 
terceiros, afetados por sua atividade. (grifo nosso) 
 
Nesta esteira, o jurista Nelson Rosenvald explica: 
 
74
 BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a política nacional do meio 
ambiente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l6938.htm>. Acesso em: 15 ago. 
17. 
 
42 
 
 
Em direito civil a responsabilidade é ainda definida em seu sentido 
clássico, como “obrigação de reparar danos que infringimos por 
nossa culpa e, em certos casos determinados pela lei; em direito 
penal, pela obrigação de suportar o castigo”. É responsável todo 
aquele que está submetido a esta obrigação de reparar ou de sofrer 
a pena. A crítica surge pelo fato do conceito ter origem recente – sem 
inscrição marcada na tradição filosófica -, mas possuir um sentido tão 
estável desde o século XIX, sempre portando a estrita ideia de uma 
obrigação. O adjetivo responsável arrasta em seu séquito uma 
diversidade de complementos: alguém é responsável pelas 
consequências de seus atos, mas também é responsável pelos ou-
tros, na medida em que estes são postos sob seu encargo ou seus 
cuidados e, eventualmente, bem além dessa medida. Em última 
instância, somos responsáveis por tudo e por todos. Nesses em-
pregos difusos, a referência à obrigação não desapareceu; tornou-se 
obrigação de cumprir certos deveres, de assumir certos encargos, de 
atender a certos compromissos. Em suma, é uma obrigação de fazer 
que extrapola a reparação.
75
(Itálico no original) 
 
6.1.1 Código Civil 
 
O Código Civil, em seu artigo 927, parágrafo único, prevê a responsabilidade 
objetiva por dano ambiental, através da seguinte redação: 
 
Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, 
nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normal-
mente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, 
risco para os direitos de outrem.
 76
 
 
Cabe frisar, que a responsabilidade pelo dano ambiental é imputada a todos, go-
verno e sociedade, porquanto o agente assume os riscos do dano ao praticar 
determinado ato, bem como os ônus que dela decorre. Assim, ao responsável, deve 
ser imputada a reparação integral do dano ao meio ambiente. Nesse sentido, explica 
Bruno Albergaria: 
 
Só o fato de exercer uma atividade que cause um dano já é 
condição para se acionar a justiça. O risco é integral e 
 
75
 BRAGA NETTO, Felipe Peixoto; FARIAS, Cristiano Chaves e ROSENVALD, Nelson. Curso de 
Direito Civil. Responsabilidade Civil. Salvador: Jus Podivm, 2014. 
 
76
 BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www. 
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 15 set. 17. 
 
43 
 
absoluto, segundo boa parte da doutrina, e sequer admite 
qualquer tipo de exclusão da responsabilidade civil. 77 
 
 Assim decidiu o STJ: 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. 
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE 
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DANOS 
DECORRENTES DO ROMPIMENTO DE BARRAGEM. 
ACIDENTE AMBIENTAL OCORRIDO, EM JANEIRO DE 2007, 
NOS MUNICÍPIOS DE MIRAÍ E MURIAÉ, ESTADO DE MINAS 
GERAIS. TEORIA DO RISCO INTEGRAL. NEXO DE CAU-
SALIDADE. 
1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: a) a 
responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela 
teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator 
aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do 
ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável 
pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil 
para afastar sua obrigação de indenizar; b) em decorrência do 
acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e 
morais causados e c) na fixação da indenização por danos 
morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a 
caso e com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, 
ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, ao porte da 
empresa, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela 
doutrina e jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de 
sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às 
peculiaridades de cada caso, de modo que, de um lado, não 
haja enriquecimento sem causa de quem recebe a indenização 
e, de outro, haja efetiva compensação pelos danos morais 
experimentados por aquele que fora lesado. 
2. No caso concreto, recurso especial a que se nega 
provimento. (REsp: 1374284, Rel. Luis Felipe Salomão, 
05/09/2014).
78
 
 
 Verifica-se não bastar a reparação integral do dano causado, cabe o agente 
causador atender a aplicabilidade do princípio da precaução, conforme José Rubens 
Morato Leite: 
 
 A precaução exige uma atuação racional, para com os bens 
ambientais e com a mais cuidadosa apreensão dos recursos 
 
77
 ALBERGARIA, Bruno. Direito ambiental e a responsabilidade civil

Outros materiais