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TÓPICO 1 – Patologias Elaboração de Diagnóstico sobre Problemas Patológicos em um Edifício em Estrutura Mista Tiago Ferreira Albrecht1,a, Deise Aparecida Silva Souza2,b e José Luiz Rangel Paes3,c 1,3 Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Civil, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Viçosa - MG - 36.570-000 - Brasil. 2 Universidade de Brasília, Departamento de Engenharia Civil, Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil, Edifico SG – 12 , 1º andar, Campus Darcy Ribeiro, Brasília - DF - 70.910-900 - Brasil. a tigofa@hotmail.com, b deiseapss@yahoo.com.br, c jlrangel@ufv.br Palavras-chave: Estrutura mista, estrutura metálica, manifestações patológicas, interfaces, contraventamentos. Resumo. A ocorrência de manifestações patológicas na construção metálica e mista pode afetar de maneira significativa o desempenho de uma edificação, contribuindo decisivamente para a redução da expectativa da vida útil. Neste trabalho trata-se da elaboração de um diagnóstico sobre problemas patológicos existentes em um edifício em estrutura mista de aço e concreto. Num primeiro momento foi realizado um amplo levantamento das manifestações patológicas do edifício, análise de projetos, avaliação das informações disponíveis sobre a execução e entrevistas com profissionais relacionados à obra. Com base nas informações disponíveis foi realizada uma análise estrutural em situação de serviço. Durante a inspeção constatou-se que o edifício não possuía elementos de contraventamento, embora estivessem previstos nos desenhos de projeto estrutural, situações estas que foram consideradas na análise da estrutura. As principais manifestações patológicas identificadas são fissuras na alvenaria e no piso, corrosão da estrutura metálica, deformações excessivas nas lajes e entrada de água pluvial no edifício. Nas interfaces entre estrutura metálica e fechamento indentifica-se uma fissuração sistemática, que permite a entrada de água em diversos ambientes. A partir do estudo realizado, apresenta-se um diagnóstico sobre os problemas patológicos identificados no edifício, apontando as causas, origens e mecanismos de deterioração. A fissuração ocorre principalmente devido a falhas do detalhamento de projeto e também está associada à movimentação da estrutura devido à ausência de um sistema de contraventamento. O estudo revela que a maioria das manifestações patológicas está relacionada com deficiências de detalhamento de projeto e com falhas de execução. O trabalho realizado proporciona a base necessária para definição de um projeto de intervenção que visa a recuperação de um bom nível de desempenho da edificação. 1 Introdução A ocorrência de manifestações patológicas na construção metálica e mista pode afetar de maneira significativa o desempenho de uma edificação, contribuindo decisivamente para redução da expectativa da vida útil. Neste trabalho trata-se da elaboração de um diagnostico sobre problemas patológicos existentes em um edifício em estrutura mista de aço e concreto, pertencente a Comissão Permanente de Vestibulares e Exames (COPEVE), situado no campus universitário da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa - Minas Gerais - Brasil. Desde a sua inauguração no ano de 2004, o edifício apresenta diversos tipos de fissuras e entrada de água pluvial através da cobertura e das interfaces entre estrutura e fechamento. Os problemas patológicos observados provocam um desconforto aos usuários, danos a equipamentos e materiais e uma importante diminuição do nível de desempenho da edificação. 2 Caracterização e histórico do edifício O edifício da COPEVE, inaugurado em 20 de maio de 2004, é um espaço destinado especificamente à elaboração e processamento de provas de vestibulares e concursos, o que requer um alto grau de sigilo e segurança. O edifício é composto essencialmente por salas de escritórios, salas de correção de provas e alguns depósitos (Fig. 1). Figura 1: Vista geral do edifício da COPEVE. Como ponto de partida para uma adequada caracterização do edifício foi realizado um levantamento de informações disponíveis sobre projetos e execução da obra, através de documentos, entrevistas com profissionais relacionados à mesma e vistorias técnicas ao local. A obra foi executada em etapas, com a participação de diversas empresas. Como se trata de uma obra pública, a contratação das empresas para execução das diversas etapas foi realizada por meio de processos licitatórios específicos, obedecendo as disposições da Lei Nº8666/1993 (Lei de Licitações e Contratos da Administração Pública) [1]. O projeto arquitetônico localizado durante o levantamento de informações sobre o edifício consiste em um projeto básico, sem detalhamento executivo, que previa a existência de três pavimentos, a colocação de “brises soleil” nas fachadas e estrutura metálica aparente. Conforme observado durante as vistorias realizadas no ano de 2006, a obra não possui “brises soleil” e a estrutura metálica foi revestida externamente (Fig. 1). O terceiro pavimento foi executado somente na zona central do edifício, sobre a escada e sanitários. Apesar da sistemática para levantamento das informações e de se tratar de uma obra recente, não foram localizados os projetos de fundação, fechamentos, cobertura, instalações elétricas e hidro-sanitárias. No caso do projeto da estrutura metálica, somente após o contato com a empresa responsável pela fabricação e montagem foram recebidos alguns desenhos contendo a posição e definição dos elementos estruturais e parte do memorial de cálculo. Em síntese, não foram localizados todos os documentos de projetos que deram origem à obra e, muito menos, o registro das eventuais modificações feitas sobre os projetos originais. Nos documentos da licitação da fundação se especificava a execução de uma fundação profunda em estacas, apesar de não conterem um projeto executivo específico. No entanto, de acordo com informações obtidas com profissionais relacionados à obra, foi executada uma fundação rasa com sapatas isoladas após um reestudo da solução inicial, cujo projeto também não foi localizado. O sistema estrutural principal do edifício é formado por lajes mistas, vigas mistas e pilares metálicos, constituindo um reticulado espacial com diafragmas rígidos e ligações flexíveis entre os elementos construtivos. O projeto original previa a colocação de elementos de contraventamento para a garantia da estabilização horizontal da estrutura. Durante a fase de montagem, somente alguns desses elementos de contraventamento foram colocados (Fig. 2). Figura 2: Vista geral da estrutura metálica do edifício na fase de montagem. Conforme observado durante as vistorias, a estrutura concluída não dispõe de elementos de contraventamento vertical e os pilares foram parcialmente revestidos com concreto. Além disso, as vigas metálicas foram revestidas externamente com placas de fibrocimento (Fig. 1). Os elementos do contraventamento vertical foram retirados em comum acordo entre a empresa fornecedora da estrutura metálica e a fiscalização da obra, ao longo da fase de execução, com objetivo de evitar interferências com o fechamento. Em função disso, decidiu-se por revestir parcialmente os pilares com concreto, com a intenção de provocar um efeito de estabilização equivalente ao sistema de contraventamento. O fechamento externo do edifício foi executado com painéis horizontais de concreto leve autoclavado, cujos projetos executivos também não foram localizados. De acordo com informações obtidas com profissionais relacionados à obra, a empresa fabricante dos painéis forneceu um detalhe típico da interface entre estrutura e fechamento, o que não foi localizado nos documentos de projeto disponíveis. Para o fechamento interno foram utilizadospainéis metálicos revestidos com gesso acartonado, tipo "dry-wall" e painéis horizontais de concreto leve autoclavado. Também em função de informações obtidas na análise de documentos, constatou-se que a licitação para execução da cobertura foi realizada sem o projeto básico. A empresa contratada foi responsável pelo projeto, fabricação, montagem da cobertura. 3 Manifestações patológicas no edifício Durante o ano de 2006 foram realizadas algumas vistorias técnicas com o objetivo de identificar, localizar e registrar de maneira sistemática as diversas manifestações patológicas no edifício. A seguir apresenta-se, de maneira sintética, os grupos de manifestações patológicas em função dos efeitos identificados. 3.1 Problemas relacionados à entrada de águas pluviais através da cobertura A entrada de águas de chuva no edifício através da cobertura gera grandes transtornos para a utilização da COPEVE e causa uma série de problemas patológicos (Fig. 3). Tendo isso em vista, realizou-se uma inspeção no sistema de cobertura com a intenção de identificar as possíveis origens da entrada de água no edifício. Como parte desta inspeção, também levantou-se dados para verificação do dimensionamento das calhas, coletores horizontais e dos tubos de queda. Em função desta inspeção constatou-se que: - as águas pluviais que entram através da cobertura passam pelas frestas da estrutura e pelas interfaces entre aço e concreto e caem de maneira desordenada dentro dos ambientes internos do edifício; - os coletores horizontais de águas pluviais estão em desacordo com as práticas recomendadas de projeto e de execução (Fig. 4); - os coletores horizontais de águas pluviais não possuem apoios intermediários que assegurem uma declividade uniforme (Fig. 5), sendo que os apoios utilizados foram improvisados na fase de execução (tijolos, arames e pedaços de madeira); - foram utilizados calços sob a treliça metálica na linha de centro da laje de cobertura com o objetivo de manter a horizontalidade do banzo inferior da mesma. Tais calços foram necessários devido à grande deformação verificada na linha de centro da laje de cobertura; - existe um processo de corrosão dos calços das treliças metálicas (Fig. 6), o que indica a entrada e permanência de águas pluviais através da cobertura; - existiam restos de construção sobre as telhas metálicas; Figura 3: Presença de águas pluviais em ambientes internos do edifício. Figura 4: Vazamento em uma ligação de um coletor horizontal de águas pluviais. Figura 5: Caimentos inadequado dos coletores horizontais de águas pluviais. Figura 6: Calços sob a treliça metálica. 3.2 Fissuras As fissuras são consideradas como manifestação patológica característica das estruturas de concreto e de alvenaria, representando a ocorrência mais comum e a que mais desperta a atenção dos usuários para o fato de que algo anormal está acontecendo [2]. No caso em questão, foram realizadas algumas inspeções com o objetivo específico de identificar e registrar as diversas fissuras encontradas no edifício. A seguir apresentam-se alguns tipos de fissuras identificadas em função da sua localização na obra. 3.2.1 Fissuras na laje de piso A laje de piso do salão e do almoxarifado situados no pavimento térreo, cujas dimensões são de aproximadamente 12x28m, apresenta uma fissura transversal ao maior comprimento, situada próximo ao seu centro (Fig. 7). 12 ,0 m Salão A=280m² Almoxarifado A=84,60m² Fotos 213-215 Fotos 203-208 Recepção A=34,70m² Figura 7: Fissuração identificada na laje do pavimento térreo 3.2.2 Fissuras nos fechamentos externos e internos No fechamento externo do edifício foram utilizados painéis horizontais de concreto leve autoclavado, que foram fixados à estrutura por meio de um sistema que tem por objetivo permitir pequenas movimentações diferenciais em seu plano (Fig. 8 e 9). O sistema utilizado se caracteriza como uma alvenaria desvinculada. De acordo com as inspeções realizadas, não houve constância na execução de todas as interfaces entre estrutura metálica e fechamento externo. Tanto nos locais onde foi executada a desvinculação entre estrutura e fechamento, quanto naqueles onde esta solução não foi utilizada, o fechamento externo apresenta fissuras de diferentes configurações. Foram identificadas fissuras horizontais e verticais nas interfaces, sendo parte delas com traçado aproximadamente linear e bem definido, enquanto que outras em escamas (Fig. 10). As fissuras nas interfaces entre estrutura metálica e fechamento são sistemáticas e se distribuem por toda a edificação. Na parte interna do edifício, nos locais correspondentes às fissuras nestas interfaces, verifica-se uma constante entrada de águas pluviais, deposição de mofo, eflorescências nos revestimentos e corrosão da estrutura metálica (Fig. 11, 12 e 13). Figura 8: Fechamento externo com painéis de concreto leve autoclavado na fase de execução. Figura 9: Detalhe da interface entre estrutura metálica e fechamento externo. Figura 10: Fissuração vertical sistemática nas interfaces entre estrutura metálica e fechamento externo. Figura 11: Vista interna do canto superior de uma parede do fechamento externo, com destaque para as interfaces. Figura 12: Fissuração horizontal sistemática nas interfaces entre estrutura metálica e fechamento externo. Figura 13: Vista interna de uma interface horizontal entre estrutura metálica e fechamento externo. No fechamento interno foram utilizados painéis horizontais de concreto leve autoclavado (Fig. 14), painéis tipo "dry-wall" e blocos de concreto. A alvenaria de blocos de concreto que circunda a caixa d'água do edifício, situada no último pavimento, apresenta fissuras inclinadas dos dois lados da parede (Fig. 15). No momento da inspeção constatou-se que as mesmas haviam sido recentemente "grampeadas" de um dos lados. Em inspeções posteriores, verificou-se que as fissuras haviam se propagado, apesar da tentativa de contê-las. Figura 14: Fechamento interno em painéis de concreto leve autoclavado. Figura 15: Fissura na alvenaria de blocos de concreto no último pavimento do edifício. O fechamento interno em "dry-wall", utilizado nas divisórias do segundo pavimento (Fig. 16), apresenta uma fissuração sistemática na horizontal a aproximadamente 2,40m de altura, o que coincide com a emenda das placas de gesso acartonado (Fig. 17). Figura 16: Fechamento interno em "dry-wall" em fase de montagem. Figura 17: Fissura sistemática na horizontal no fechamento em "dry-wall". 3.2.3 Fissuras nos revestimentos da fachada Conforme observado durante as inspeções realizadas, as vigas metálicas foram revestidas externamente com placas de fibrocimento com o objetivo de ocultar a estrutura metálica, apesar desta solução não constar do projeto arquitetônico básico. Estas placas de fibrocimento foram fixadas na estrutura por meio de elementos metálicos e sobre as mesmas foi aplicada uma argamassa de revestimento. No encontro entre a placa e o revestimento de argamassa do fechamento externo foi executada uma junta de movimentação horizontal, conforme se mostra na Fig. 18. As juntas de movimentação foram tratadas com silicone. Figura 18: Detalhe do revestimento das vigas metálicas com placas de fibrocimento. Durante as inspeções observou-se a existência de uma fissuração horizontal sistemática nas proximidades das juntas de movimentação horizontais (Fig. 19 e 20). Como as placas de fibrocimento possuem comprimento limitado, no encontro vertical entre estas placas também foram identificadas fissuras sistemáticas. Figura 19: Fissuração sistemática nasproximidades da junta de movimentação horizontal na região de colocação das placas de fibrocimento. Figura 20: Fissuração sistemática nas extremidades da região de colocação das placas de fibrocimento. O silicone utilizado nas juntas de movimentação perdeu a aderência com o substrato e pode ser facilmente retirado, conforme se observa na Fig. 21. Figura 21: Descolamento do silicone das juntas de movimentação horizontais. 3.3 Deslocamentos verticais excessivos Os deslocamentos verticais excessivos em uma estrutura devem ser verificados para a condição de serviço, visto que podem ser prejudiciais ao desempenho de outros elementos a ela ligados, como fechamentos, pisos e esquadrias [3]. Nas inspeções realizadas constatou-se que: - o deslocamento vertical máximo no centro da laje do terceiro pavimento, que atualmente suporta a cobertura, é de aproximadamente 90 mm, o que criou a necessidade de utilizar calços metálicos sob a treliça de aço mostrados na Fig. 6; - segundo informações dos usuários do edifício, em dias de chuva a água que penetra no edifício através da cobertura fica empoçada na região central da laje de piso do depósito, localizada no terceiro pavimento; Em função do registro fotográfico disponível sobre a execução da obra, na Fig. 22 pode-se observar que durante a fase de execução dos fechamentos já se podia verificar um empoçamento de água na região central das lajes do segundo pavimento. Figura 22: Empoçamento de água na região central da laje do segundo pavimento. 3.4 Irregularidades nas ligações da estrutura metálica O projeto e execução das ligações entre elementos estruturais é um aspecto fundamental para assegurar as hipóteses do comportamento estrutural previstas no cálculo da estrutura. Durante as inspeções realizadas no edifício constatou-se uma série de irregularidades nas ligações da estrutura metálica, dentre elas: - a existência de furos em vigas e chapas de ligação indica que inicialmente foi prevista a execução de ligações parafusadas em toda a estrutura. No entanto, em diversos locais da estrutura verifica-se a utilização de solda substituindo a ligação parafusada, com o abandono das furações feitas na fábrica (Fig. 23); - em algumas ligações, observa-se que o elemento estrutural foi complementado no local da obra, os furos entre chapa de ligação e viga metálica estão desalinhados e a furação foi abandonada devido à adoção de uma ligação soldada no local (Fig. 24); - Em alguns locais, ligações projetadas e executadas com parafusos receberam cordões de solda em seus contornos. Figura 23: Ligação entre viga e coluna com abandono das furações da chapa de ligação feitas na fábrica. Figura 24: Ligação com furos desalinhados e furação abandonada devido à substituição da ligação parafusada por ligação soldada. 4 Analise estrutural em situação de serviço Após as vistorias foi realizada uma análise estrutural do edifício com a finalidade de avaliar a influência da retirada dos elementos de contraventamento vertical, previstos no projeto original, sobre o comportamento da estrutura em condições de serviço. Para a análise estrutural foram utilizados modelos tridimensionais formados por elementos de barra para representar vigas e colunas e elementos de placa para representar as lajes. O modelo tridimensional permite simular o comportamento da estrutura como um todo, no qual as lajes funcionam como um diafragma rígido horizontal. Realizou-se uma análise de primeira ordem com o objetivo de obter os deslocamentos horizontais críticos para os casos de vento incidindo na fachada principal e na fachada lateral do edifício, considerando-se os valores nominais das ações para uma velocidade básica de 32,5m/s. Para esta análise foram desenvolvidos dois modelos estruturais tridimensionais, sendo que primeiro corresponde à estrutura executada (sem elementos de contraventamento vertical) e o segundo representa as condições definidas no projeto da estrutura metálica original (com elementos de contraventamento vertical). Em ambos modelos estruturais foram consideradas as propriedades geométricas e mecânicas de pilares parcialmente revestidos com concreto, conforme executado. Na Fig. 25 apresentam-se os resultados de deslocamentos horizontais dos dois modelos estruturais para o caso de vento incidindo na fachada principal do edifício. Para o modelo que representa a estrutura executada (Fig. 25.1), o deslocamento horizontal crítico é de aproximadamente 133mm. Para o modelo da estrutura original com contraventamentos (Fig. 25.2), o deslocamento horizontal crítico é de aproximadamente 30mm. Na Fig. 26 apresentam-se os resultados de deslocamentos horizontais dos dois modelos estruturais para o caso de vento incidindo na fachada lateral do edifício. Para o modelo que representa a estrutura executada (Fig. 26.1), o deslocamento horizontal crítico é de aproximadamente 253mm. Para o modelo da estrutura original com contraventamentos (Fig. 26.2), o deslocamento horizontal crítico é de aproximadamente 4mm. 1- Estrutura Executada An á l i se d a e s t r u t u r a sem contraventamento. Incidindo na fachada principal. 2- Projeto Original An á l i se d a e s t r u t u r a com contraventamento, com exceção da torre. Vento Incidindo na fachada principal. Ponto 49 x: 17.3250 y: -132.6384 z: 0.0000165 Ponto 17 x: 8.1476 y: -40.6723 z: 0.000002608 Ponto 49 x: 0.553 y: -29.8355 z: 0.0256 Ponto 17 x: 0.7783 y: -2.3933 z: 0.1187 Vento na fachda principal Observação: - Unidade em milímetros Figura 25: Estrutura deformada para o caso de vento incidindo na fachada principal do edifício. Vento na fachada lateral Vento na fachada lateral Ponto 51 x: 253.3337 y: 6.4759 z: 0.00008407 Ponto 51 x: 4.2947 y: -0.6895 z: 0.000001857 Ponto 16 x: 98.5753 y: 9.2528 z: 0.00004141 Ponto 16 x: 1.2388 y: 0.0832 z: -0.005 1- Estrutura Executada An á l i se d a e s t ru t ur a s e m contraventamento. Vento incidindo na fachada lateral. 2- Projeto Original An á l i se d a e s t ru t ur a c o m contraventamento, com exceção da torre. Vento Incidindo na fachada lateral. Observações: - Unidade em milímetros Figura 26: Estrutura deformada para o caso de vento incidindo na fachada lateral do edifício. Segundo o Anexo C da NBR 8800/86 [4], o deslocamento horizontal máximo de um edifício de múltiplos andares relativo à base deve ser de h/400, onde h representa a altura do mesmo. No edifício em estudo, que apresenta altura de 15.400mm, o deslocamento horizontal máximo é de 38,5mm. De acordo com os deslocamentos horizontais obtidos por meio desta análise, observa-se que para a estrutura executada os deslocamentos horizontais críticos superam os valores limite prescritos pela NBR 8800/86 [4] para os dois casos de vento considerados. Por outro lado, para as condições definidas no projeto da estrutura metálica original, que apresentava elementos de contraventamento vertical, para os dois casos de vento considerados os deslocamentos horizontais críticos são menores do que os valores limite prescritos pela NBR 8800/86 [4]. 5 Diagnóstico O diagnóstico tem por objetivo compreender as causas e fenômenos que deram origem às manifestações patológicas identificadas em uma determinada edificação. O processo de diagnóstico vai se efetivando à medida que se reduzem as incertezas iniciais com o progressivo levantamento de dados, até que se chegue a uma correlação satisfatória entre o problema e a explicação do mesmo [5]. A partir do estudo realizado, na Tabela 1 apresenta-se de maneira sintética o diagnóstico sobre os diversos problemas patológicos identificadosno edifício da COPEVE, apontando as causas prováveis e mecanismos de deterioração dos mesmos. Tabela 1: Diagnósticos relativos às manifestações patológicas identificadas no edifício Manifestação patológica Diagnóstico Problemas relacionados à entrada de águas pluviais através da cobertura . boa parte da entrada de água no edifício se deu devido à deposição de resto de argamassa sobre as telhas metálicas; . um dos coletores horizontais de águas pluviais não comporta a vazão de projeto admitida para o caso, considerando-se uma chuva com período de retorno de cinco anos e tempo de duração de cinco minutos; . as ligações entre tubos foram realizadas sem conexões adequadas; . a falta de apoios intermediários adequados nos coletores horizontais não permite o adequado escoamento das águas pluviais, provocando vazamentos sobre a laje de cobertura; . a água empoçada sobre a laje do terceiro pavimento provoca corrosão da treliça metálica de cobertura; Fissuras no piso . a causa provável da fissura na laje de piso é a falta de uma junta de dilatação transversal na placa de grandes dimensões. Fissuras nos fechamentos externos . os dispositivos utilizados na interface entre estrutura metálica e fechamento externo não permitiram a movimentação diferencial esperada; . nos locais onde não houve desvinculação entre estrutura e fechamento a fissuração foi causada pelos movimentos diferenciais entre as duas partes; . as fissuras nas interfaces entre estrutura e fechamento externo são causadas pelos deslocamentos horizontais excessivos da estrutura, que decorrem da ausência de elementos de contraventamento vertical; Fissuras nos fechamentos internos . as fissuras verificadas na alvenaria de blocos de concreto na região da caixa d'água ocorreram devido a um deslocamento excessivo da viga de piso sobre a qual esta alvenaria está apoiada. Os desenhos do projeto estrutural aos quais se teve acesso não mostram a previsão de uma carga devido às duas caixas d'água na posição onde se encontram no edifício; . as fissuras nos fechamentos internos em "dry-wall" ocorreram principalmente devido ao deslocamento vertical diferencial excessivo entre a parte inferior e superior de um mesmo pavimento. Os deslocamentos foram de tal magnitude que não foram suportados pelos fechamentos. Fissuras nos revestimentos da fachada . as juntas de movimentação horizontais executadas no encontro entre a placa de fibrocimento e o revestimento de argamassa do fechamento externo não desempenharam a função esperada. O silicone utilizado nestas juntas perdeu a aderência com o substrato e não impediu a entrada de água através da junta horizontal; . com a entrada de água através das juntas, as placas de fibrocimento absorvem parte desta água e se criam ciclos de molhagem e secagem, com expansão e contração dessas placas, o que provoca a fissuração destes revestimentos (Fig. 27); . outra causa provável da ocorrência destas fissuras é a execução irregular da junta horizontal, já que em algumas partes a argamassa de revestimento das placas de fibrocimento teve continuidade com a argamassa de revestimento das paredes externas; . O micro clima criado entre as vigas metálicas e as placas de fibrocimento é responsável pelo desenvolvimento da corrosão em toda a região ocultada pelas mesmas. Tabela 1: Diagnósticos relativos às manifestações patológicas identificadas no edifício (continuação) Manifestação patológica Diagnóstico Deslocamentos verticais excessivos . o deslocamento vertical máximo de aproximadamente 90mm, observado na linha de centro da laje do terceiro pavimento, que atualmente suporta a cobertura, corresponde ao deslocamento vertical de uma viga metálica principal com vão de 12.000mm; . o valor do deslocamento vertical máximo recomendado pela NBR 8800/86 [4] para vigas de edifícios de múltiplos andares, considerando-se barras biapoiadas de pisos e coberturas, suportando acabamentos sujeitos à fissuração, é de L/360, o que neste caso corresponde a aproximadamente 33mm. Portanto, o valor do deslocamento vertical máximo verificado supera em 172% o valor recomendado. . as causas prováveis dos deslocamentos verticais excessivos são a possibilidade do aumento do peso próprio devido a uma variação da espessura do concreto da laje mista e/ou a não observância do critério de deslocamento vertical máximo durante o dimensionamento dos elementos estruturais. Irregularidades nas ligações . as irregularidades nas ligações ocorreram por falhas de planejamento na fabricação da estrutura metálica; . com a alteração das ligações parafusadas pela aplicação de cordões de solda em seus contornos, as mesmas adquirem um grau de rigidez desconhecido e alteram o modelo estrutural inicialmente admitido. Os esforços causados por esta continuidade promovida pelas novas ligações não foram considerados no dimensionamento da estrutura e das fundações. Deslocamentos horizontais excessivos . Os elementos do contraventamento vertical previstos inicialmente foram retirados ao longo da execução da obra, com objetivo de evitar interferências com o fechamento externo em painéis horizontais de concreto leve autoclavado; . a ausência de elementos de contraventamento provoca o aparecimento de deslocamentos horizontais excessivos na estrutura; . a utilização de pilares parcialmente revestidos com concreto não promove o efeito de estabilização horizontal da estrutura, não provocando um efeito de estabilização equivalente a um sistema de contraventamento. Figura 27: Processo de deterioração dos revestimentos da fachada. 6 Conclusões O trabalho desenvolvido no edifício da COPEVE revela que a maioria das manifestações patológicas está relacionada com deficiências de detalhamento de projeto e com falhas de execução. Dentre os diversos problemas identificados, os deslocamentos horizontais excessivos devido à ausência de um sistema de contraventamento no edifício é o aspecto que mais influi no surgimento de outras manifestações patológicas em condições de serviço. De uma maneira mais ampla, observa-se que a fundação, a estrutura metálica, o fechamento, a cobertura e os acabamentos do edifício foram executados por empresas distintas, por meio de processos licitatórios específicos, típicos de obras públicas. Estas empresas foram contratadas para executar serviços distintos e não foram cobradas em seu devido momento sobre a necessidade de compatibilizar as interferências entre as diversas etapas da obra. Parte das manifestações patológicas do edifício estudado tiveram como origem esta falta de compatibilização entre as etapas da obra. Ao se tratar de obras em estrutura metálica e mista, tecnologia considerada ainda em consolidação no Brasil, torna-se necessário definir parâmetros mais claros de recebimento de obras para as equipes de fiscalização, o que pode contribuir para evitar boa parte dos problemas patológicos encontrados em obras desta natureza. O estudo realizado proporciona a base necessária para definição de um projeto de intervenção que visa a recuperação de um bom nível de desempenho da edificação. Referências [1] Brasil. Lei 8.666, de 21 de Julho de 1993. Regulamenta o artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitação e contratos da Administração Pública e dá outras providências. [2] Souza, Vicente Custódio de (1998). Patologia, recuperação e reforço de estruturas de concreto. São Paulo, Pini. [3] Thomaz, Ercio (1989). Trincas em edifícios: causas, prevenção e recuperação. São Paulo, Pini. [4] ABNT (1986). Projeto e Execução de Estruturas de Aço de Edifícios - Procedimento: NBR- 8800. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. [5] Lichtenstein, NorbertoB. (1986). Patologia das Construções – Boletim técnico, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo.
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