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Capítulo 21. SENTENÇA

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2017 - 07 - 18 
Curso Avançado de Processo Civil - Volume 2 - Edição 2016
QUINTA PARTE - SENTENÇA
QUINTA PARTE - SENTENÇA
(Autores)
Luiz Rodrigues Wambier
Eduardo Talamini
Capítulo 21. SENTENÇA
21.1. Conceito
Nos termos do art. 203, § 1.º, "sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz,
com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum,
bem como extingue a execução". Esse mesmo dispositivo ressalva a possibilidade de que
outros atos sejam qualificados como sentença por regras expressas no âmbito dos
procedimentos especiais.
Como já destacado no vol. 1 (cap. 26, na redação original do CPC/1973, a sentença era
definida como "o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da
causa" (art. 162, § 1.º). Se comparado com o modelo vigente no CPC/1939, esse conceito
simplificava a identificação das sentenças, diminuindo as dúvidas quanto ao recurso que
contra ela devia ser interposto. Ainda assim, esse dispositivo era objeto de críticas. Por
exemplo, constatava-se que, se a parte interpusesse recurso, o processo não estaria sendo
encerrado pela sentença. Ponderava-se, também, a existência de ações cuja sentença é
efetivada dentro do mesmo processo em que foi proferida (é o caso das sentenças
mandamentais e executivas), pois, nesses casos, não há um subsequente processo de
execução; a execução ocorre no próprio processo em que se emitiu a sentença. Daí que, à
parte a possibilidade de apelação, as sentenças, nesses casos, não põem fim ao processo
nem mesmo se não houver recurso, uma vez que, depois delas, o processo prossegue em
sua fase de efetivação da tutela.
Como também já se observou no vol. 1, diante de todas essas críticas - e, sobretudo, em
face da generalização das hipóteses em que a sentença é executada no próprio processo
em que foi proferida - reputou-se preferível reformular o conceito de sentença (Lei
11.232/2005), que passou a ser definida como o ato do juiz que implicasse alguma das
situações previstas no art. 267 ou no art. 269 do CPC/1973. O art. 267, equivalente ao art.
485 do atual CPC, tratava dos casos em que o juiz declarava a impossibilidade de julgar o
mérito da causa. O art. 269, correspondente ao art. 487 do atual diploma, previa as
hipóteses de resolução do mérito.
Então, a partir da Lei 11.232/2005, a sentença deixou de ser identificada
exclusivamente por sua aptidão de pôr fim ao processo (com as ressalvas acima). A
própria lei passou a dar expressamente relevância ao conteúdo do ato. Se o ato decisório
do juiz reconhecesse a existência de um defeito que impede, em termos absolutos, o
julgamento do mérito, ou se procedesse à própria resolução do mérito, seria sentença -
ainda que não pondo fim ao processo. Mas é claro que também aqueles atos que
efetivamente punham fim ao processo seriam sentenças (por exemplo: o ato que encerra o
processo executivo; o ato que encerra o procedimento de cumprimento da sentença e,
portanto, o processo como um todo etc.).
Mas as alterações feitas pela Lei 11.232/2005 no conceito de sentença, longe de eliminar
as dificuldades práticas que se punham até então, criou ainda outras. Permitiu a
existência de sentenças parciais (i.e., pronunciamentos que julgavam - ou reconheciam a
impossibilidade de julgar - apenas uma parte do mérito da causa, com o processo indo
adiante para a instrução do restante do mérito) que, pela letra da lei, seriam objeto de
apelação - o que, se aplicado literalmente, geraria sérias confusões procedimentais.
O legislador do CPC/2015, ao conceituar sentença, retoma o critério classificatório
original do CPC/1973, aperfeiçoando-o ao conjugá-lo com o critério de conteúdo que havia
sido introduzido pela Lei 11.232/2005. Assim, em regra, sentença é definida como o
pronunciamento que encerra a fase cognitiva do processo ou a execução (com o que, em
princípio, estará, daí sim, encerrando o processo como um todo) e que tem por conteúdo
alguma das hipóteses dos arts. 485 ou 487 do CPC/2015.
Também poderá haver decisões com tal conteúdo, mas que não põem fim ao processo
nem à sua fase de conhecimento. São as decisões interlocutórias que reconhecem a parcial
impossibilidade de julgamento do mérito (art. 354, parágrafo único) ou julgam
antecipadamente apenas uma parte do mérito (art. 356 - v. cap. 12, acima).
21.2. Sentença (como ato de primeiro grau) e acórdão com conteúdo e efeitos de
sentença
O conceito de sentença acima exposto é utilizado pelo art. 203 na classificação dos
pronunciamentos do juiz em primeiro grau de jurisdição - mediante sua contraposição às
decisões interlocutórias e despachos. A principal relevância da classificação, em primeiro
grau, é para a definição da admissibilidade e adequação recursal (ou seja, saber se cabe
recurso e, em caso positivo, qual - v. cap. 23, adiante).
Mas, a rigor, os acórdãos dos tribunais também poderão ter conteúdo e eficácia de
sentença (assim como poderão ter de decisão interlocutória). Assim, o que adiante se
expõe sobre os possíveis conteúdos da sentença aplica-se também aos acórdãos.
21.3. Sentença e mérito da causa
Não há uma relação absoluta e necessária entre sentença e resolução do mérito da
causa.
Por um lado, nem toda a sentença resolve o mérito da causa. Como já visto e melhor
exposto a seguir, na fase de conhecimento do processo, há as que resolvem o mérito (art.
487) e as que afirmam a impossibilidade de sua resolução (art. 485). Essas últimas são
designadas sentenças meramente terminativas (ou sentenças processuais). Aquelas
primeiras são chamadas de sentenças definitivas (ou sentenças de mérito). Ademais, a
execução também é encerrada mediante sentença - que, todavia, não se pronuncia sobre o
mérito do crédito executado.
Por outro lado, mesmo em primeiro grau de jurisdição (pois nos tribunais, como visto,
os pronunciamentos colegiados recebem sempre o genérico nome de "acórdão"), nem todo
o pronunciamento que resolve o mérito da causa é sentença. Como já destacado (no item
anterior e, antes, no cap. 12), é possível que uma parcela do mérito da causa seja resolvida
por decisão interlocutória (art. 356), com a parcela restante sendo submetida à instrução
probatória, para só depois ser sentenciada.
21.4. Sentenças processuais (sentenças terminativas)
Como afirmado, sentenças meramente processuais ou terminativas são aquelas que
não resolvem o mérito da causa. Nelas, o juiz limita-se a fundamentadamente consignar a
impossibilidade de julgar o mérito (além de também normalmente veicular condenação
do autor em verbas de sucumbência - v. adiante).
Uma parte da doutrina costuma subdividir as sentenças processuais em "típicas" e
"atípicas". As típicas seriam aquelas fundadas diretamente na inadmissibilidade da tutela
jurisdicional, por falta de seus pressupostos. As atípicas seriam as advindas de outros
impedimentos ou eventos acidentais. Essa subclassificação é extremamente criticável,
pois, a rigor, todas as hipóteses de sentença processual, de ambas as categorias, estão
contempladas na lei - e, nesse sentido, são todas "típicas". Além disso, há extrema
artificialidade na dissociação, pois, como se verá, muitas dessas hipóteses ditas "atípicas"
podem ser reconduzidas às hipóteses "típicas". Examinam-se a seguir todos os casos.
21.4.1. Sentenças processuais de inadmissibilidade da tutela jurisdicional
São aquelas em que o juiz deixa de apreciar o mérito por um defeito quanto aos
pressupostos processuais (positivos ou negativos) ou as condições da ação. Então, tais
sentenças têm por conteúdo o reconhecimento de que não é possível resolver o mérito da
causa.
Já vimos ser possível reunir os pressupostos processuais e as condições da ação em
uma única categoria dos pressupostos de admissibilidade da tutela jurisdicional (vol. 1, n.
10.4.3 e 15.7).
Os pressupostos processuais consistem no primeiro momento lógico merecedor da
atenção do juiz. São elementoscuja presença, como já indicado, é imprescindível para a
existência e para a validade da relação processual (lembrando que há pressupostos
positivos, que são elementos que devem estar presentes para a existência ou validade da
relação, e pressupostos negativos, cujo preenchimento se dá pela inexistência de
configuração concreta de determinada hipótese). A existência e a validade da relação
jurídica processual são requisitos para que o juiz possa apreciar o mérito (v. vol. 1, cap.
15). Assim, será meramente processual ou terminativa a sentença toda vez que o juiz
constatar a inexistência de pressuposto processual positivo, de existência ou de validade
(com exceção das hipóteses de incompetência absoluta e impedimento, por disposição
legal expressa), ou a existência de pressupostos processuais negativos.
O mesmo ocorre com as já estudadas condições da ação. Consistem elas, como se viu,
no elo mais nítido que existe unindo o direito material ao processual: são o interesse de
agir e a legitimidade ad causam (v. vol. 1, cap. 10). Toda vez que o juiz verificar estar
ausente alguma das condições da ação, estar-se-á diante de sentença processual ou
terminativa. Ressalve-se apenas que a situação concreta tem de verdadeiramente
constituir falta de condição da ação. Como já indicamos antes, é muito comum a prática de
se qualificar como falta de condição da ação um fundamento que, a rigor, concerne ao
mérito da causa e conduz à improcedência da pretensão formulada. São as "falsas
carências de ação" (v. vol. 1, ns. 10.4.1 e 10.4.3). Quando isso ocorrer, haverá verdadeira
sentença de mérito, a despeito da indevida qualificação feita na sentença. Tal lapso
terminológico, mero erro material, deverá ser interpretativamente corrigido a qualquer
tempo, por qualquer dos sujeitos que tenha de executar ou observar o comando
sentencial.1
Os dispositivos que se referem claramente às hipóteses até aqui mencionadas são os
incisos IV, V e VI do art. 485 do CPC/2015.
Mas não são os únicos. O inciso X do art. 485 remete a outros casos previstos em lei.
Entre esses está, por exemplo: o do art. 115, parágrafo único, que versa sobre a extinção
do processo sem julgamento de mérito, se, no caso de litisconsórcio necessário, não tiver
havido citação de todos os litisconsortes. Trata-se de caso em que há uma deficiência na
legitimidade para a causa (de um litisconsorte, para estar em juízo sem o outro). Outra
hipótese que, a rigor, recai na ausência de pressuposto de admissibilidade da tutela
jurisdicional é a do art. 485, I, que é examinada no tópico seguinte.
Por outro lado, lembre-se que nem toda falta de pressuposto de admissibilidade da
tutela jurisdicional conduz a uma sentença terminativa. Primeiro, deve-se buscar sempre
que possível, a correção do defeito, de modo a preencher-se o pressuposto (sobre o tema,
ver especialmente vol. 1, n. 25.3 e cap. 28, e, adiante, n. 21.6). Suprida a falta do
pressuposto, o processo irá adiante rumo ao seu escopo normal (sentença de mérito, na
fase de conhecimento; realização prática do direito, na execução). Há casos em que não há
correção possível (por exemplo: se já há coisa julgada, não há o que se fazer). Outros, no
entanto, sempre comportam correção, não conduzindo a uma sentença terminativa. É o
que se dá com os pressupostos de validade atinentes à competência absoluta do órgão
jurisdicional e à imparcialidade do juiz: ao constatar a falta de tais pressupostos, profere-
se decisão interlocutória, que não encerra a fase de conhecimento nem o processo como
um todo; muda-se a pessoa do juiz (no caso do seu impedimento) ou se remete o processo
ao órgão competente (no caso da incompetência). Existirão, de resto, casos intermediários,
em que, a princípio, se pode suprir o pressuposto de admissibilidade faltante, mas, se isso
não for feito oportunamente, o processo receberá sentença terminativa (por exemplo: o já
citado caso de falta de litisconsorte necessário; a falta de correção da petição inicial inepta,
de que se fala a seguir etc.).
21.4.2. Sentença de indeferimento da petição inicial
Como adiantado, o art. 485, I, também disciplina especificamente uma causa que deve
levar ao reconhecimento da impossibilidade do julgamento de mérito - indeferimento de
petição inicial -, que se enquadraria, de maneira genérica, no art. 485, IV, quando a lei fala
em "pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo", e no
art. 485, VI, quando se alude à falta de condições da ação (interesse e legitimidade).
Nesse sentido, o art. 485, I, nada mais é do que uma recomendação para que o juiz faça
logo, no limiar do processo. Tem-se esse resultado da conjugação dos arts. 485, I, e 321,
parágrafo único. Assim, o conteúdo, propriamente, da decisão de que trata o art. 485, I,
como se disse, não é privativo desse dispositivo. Tal inciso I destina-se muito mais a
destacar que é possível, logo no início do processo, rejeitar a possibilidade de julgamento
de seu mérito e que, quando isso ocorrer, o ato do juiz será igualmente sentença. Isto
porque o art. 330 elenca uma série de causas de indeferimento da petição inicial, todas de
algum modo recondutíveis à falta de pressuposto de admissibilidade da tutela
jurisdicional.
Assim, o art. 330, I, alude à inépcia da inicial. A aptidão da petição inicial é pressuposto
de validade do processo (vol. 1, n. 15.3.1). Então, o indeferimento da inicial acarreta a não
resolução do mérito, pela conjugação dos arts. 485, I e 330, I, ou, simplesmente, pelo art.
485, IV.
O art. 330, II, elenca, como causa de indeferimento da inicial, a falta de uma das
condições da ação, legitimidade de parte. Assim, pode dar-se a não resolução do mérito
pela combinação dos arts. 485, I, e 330, II, ou pelo 485, VI, simplesmente. Exatamente o
mesmo há de dizer-se quanto ao art. 330, III.
O art. 330, IV, remete expressamente ao descumprimento das prescrições dos arts. 106
e 321, sendo que este último nos remete aos arts. 319 e 320. Todas essas regras concernem
aos requisitos de validade da petição inicial. O art. 106 trata dos requisitos que devem ser
observados pelo advogado que postular em causa própria, atinentes à apresentação de sua
qualificação, registro na OAB e endereço. Já os arts. 319, 320 e 321 versam genericamente
sobre os requisitos da petição inicial.
21.4.3. Paralisação do processo por mais de um ano
Escoando-se o prazo de um ano, contado da data da prática do último ato no processo,
quer pelo autor, quer pelo réu, ou por qualquer outro figurante, sem que seja dado
andamento ao processo, deverá ser reconhecida a impossibilidade de julgar-se o seu
mérito (art. 485, II).
A redação do art. 485, II, não é de todo adequada. A "negligência" das partes não é um
dado relevante. Importa é saber se o motivo pelo qual o processo ficou parado é mesmo
imputável às partes ou deriva de outros fatores, que estão fora da alçada de vontade das
partes (por exemplo: se o processo fica por mais um ano aguardando para ser colocado em
pauta de julgamento no tribunal, isso não deriva de conduta das partes nem tem como ser
por elas evitado). Ou seja, a questão não é de haver ou não negligência, mas de haver nexo
de causalidade entre a postura omissiva das partes e o não andamento do processo. Então,
se o não andamento do processo pode ser objetivamente imputado às partes, há a
presunção absoluta de "negligência" - o que evidencia que era dispensável o emprego de
tal termo, sendo preferível outro que pusesse em destaque a relação de causalidade.
De resto, não basta o abandono por um ano, ainda que imputável às partes. O juiz,
antes de proferir a sentença terminativa, deve intimar pessoalmente as partes a agir em
cinco dias (art. 485, § 1.º). A intimação é pessoal porque, se estiver o processo inativo por
negligência do advogado e não da parte, é razoável que se conceda a essa a oportunidade
de suprir a falta. Se, embora pessoalmente intimada, a partenada fizer, dessa inatividade
decorrerá, então, direta e imediatamente, a prolação de sentença sem resolução do mérito.
21.4.4. Abandono do processo pelo autor
A sentença terminativa pode ainda derivar do abandono unilateral da causa pelo autor
(art. 485, III). Isso se dará quando ela deixar de adotar, por mais de trinta dias,
providência indispensável (e que lhe incumba) para o andamento do processo. O juiz
deve, então, intimá-lo pessoalmente, dando-lhe uma última oportunidade para a prática
do ato, em cinco dias (art. 485, § 1.º). Permanecendo o autor inerte, o juiz proferirá
sentença sem resolução do mérito.
Se o abandono pelo autor ocorrer antes de o réu contestá-lo ou em processo em que o
réu seja revel, o juiz poderá conhecer desse fundamento de ofício. Mas se a inércia do
autor se der após o oferecimento da contestação, o juiz apenas pode proferir sentença
terminativa com base no art. 485, III, se provocado pelo réu (art. 485, § 6.º, que explicitou
orientação já consagrada jurisprudencialmente: STJ, Súmula 240). Se o réu nada requerer
nesse sentido, a despeito da inércia do autor, caberá ao juiz aguardar o lapso de um ano,
previsto no art. 485, II, e, então, proferir sentença terminativa com base nessa norma -
caso em que, daí sim, agirá de ofício (não sem antes intimar as partes pessoalmente nos
termos do art. 485, § 1.º).
A configuração da hipótese prevista pelo art. 485, III, baseia-se em elementos de ordem
objetiva, ou seja, implica a verificação de que o autor tenha deixado de fazer o que lhe
competia. Basta, como no art. 485, II, o nexo de causalidade. É dispensável elemento
subjetivo (intuito de abandonar o processo, negligência etc.). Evidentemente, se o autor
provar que a não movimentação do processo decorreu de motivo de força maior, ficará
demonstrada a falta do nexo de causalidade - e, por consequência, não caberá a sentença
terminativa.
O art. 313, § 3.º, disciplina uma hipótese especial de sentença terminativa por
abandono pelo autor. No caso de morte do advogado do autor (e pressupondo que não
haja outro que também o represente no processo), o juiz intimará pessoalmente o autor
para promover em quinze dias a constituição de novo procurador. Se não o fizer, o juiz
proferirá sentença de impossibilidade do julgamento do mérito (ou de extinção do
processo, caso se trate de execução).
21.4.5. Perempção
A perempção dá-se quando o autor, por três vezes consecutivas, propõe uma mesma
ação (i.e., com o mesmo objeto - pedido e causa de pedir - e partes) e nas três vezes dá azo
ao seu encerramento anormal por abandono, nos termos do art. 485, III. Segundo dispõe o
§ 3.º do art. 486, depois disso, esse autor não mais poderá intentar contra o mesmo réu
nova ação com o mesmo objeto (melhor dizendo, não poderá propor de novo a mesma
ação). Ele perde o direito ao exercício dessa ação. Vai lhe restar, apenas, a possibilidade
de, a título de defesa, em eventual ação proposta pelo adversário, fazer as alegações que
antes usara como fundamento de sua ação (v. vol. 1, n. 15.8.2).
Então, se depois das três sucessivas extinções por abandono, o autor propõe a ação
uma quarta vez, o juiz proferirá sentença terminativa fundada na perempção.
21.4.6. Convenção arbitral
O art. 485, VII, do CPC/2015 faz menção à convenção de arbitragem como elemento
capaz de ensejar, eventualmente, a prolação de sentença que reconhece a impossibilidade
de julgamento do mérito. A convenção de arbitragem, como já se viu, é termo genérico
que engloba o compromisso arbitral e a cláusula compromissória. A existência da
convenção arbitral não pode ser conhecida de ofício pelo magistrado (CPC/2015, art. 337, §
5.º). Se o réu não a arguir oportunamente, reputa-se que ele - assim como o autor -
renunciou aos efeitos daquela convenção, relativamente ao litígio ali posto, optando pela
via jurisdicional estatal (CPC/2015, art. 337, § 6.º). A respeito desse tema, ver o vol. 1, n.
15.8.1.
Outra hipótese é a do autor que ajuíza ação perante o Poder Judiciário quando já
instaurado perante o juízo arbitral processo com idênticas partes, pedido e causa de pedir.
Reconhecendo o juízo arbitral a sua competência, o juízo estatal proferirá sentença
terminativa, declarando a impossibilidade de julgamento do mérito. É o que prevê a parte
final do inc. VII do art. 485. Tal artigo consagra o princípio da competência-competência,
ao fazer prevalecer, num primeiro momento, a decisão do tribunal arbitral afirmativa de
sua própria competência. Cabe ao juiz estatal apenas extinguir o processo judiciário, de
modo que o processamento da causa dê-se unicamente na arbitragem. Não é dado ao juiz
estatal pretender suscitar qualquer conflito positivo de competência. Nesse momento,
prevalece o pronunciamento arbitral sobre sua própria competência. Depois, a questão
poderá ser reexaminada, pelo Poder Judiciário, em sede de ação anulatória ou de
impugnação ao cumprimento da sentença arbitral (Lei 9.307/1996, arts. 32, I e IV, e 33).2
21.4.7. Desistência da ação
A desistência da ação, prevista no art. 485, VIII, é ato de natureza eminentemente
processual, e só ao plano processual diz respeito. Quando o autor abre mão do processo,
está fazendo-o em relação àquela específica ação - considerada individualmente no espaço
e no tempo -, ficando incólume a pretensão de tutela jurisdicional nela veiculada e, por
conseguinte, o direito material que eventualmente está por trás da afirmação feita. Ou
seja, quem desiste da ação e obtém a extinção do processo por esse fundamento, em
princípio, não está impedido de tornar a propor a ação, formulando a mesma pretensão
contra o mesmo réu.
A iniciativa da desistência da ação cabe ao autor. Se o réu ainda não contestou, porque
ainda não decorreu o prazo para tanto, ou se, decorrido esse prazo, o réu permaneceu
revel, o autor pode unilateralmente desistir. Mas se já houver contestação formulada, o
autor terá de contar com a anuência do réu. A desistência assume, então, caráter de ato
bilateral (art. 485, § 4.º).
O art. 1.040, §§ 1.º a 3.º, contém exceção à regra que exige concordância do réu. Fixada
a tese jurídica no julgamento de recursos repetitivos, admite-se que, antes de proferida a
sentença, a parte desista da ação em que discutir questão idêntica àquela afetada (art.
1.040, § 1.º), independentemente de consentimento do réu, ainda que isso ocorra após a
apresentação da contestação (art. 1.040, § 3.º). Nesse caso excepcional, se a desistência
der-se antes da contestação, a parte ficará isenta do pagamento de custas e de honorários
de sucumbência. Se depois, terá de arcar com os encargos processuais (art. 1.040, § 2.º).
Em qualquer caso, a desistência da ação sujeita-se ainda a outra limitação. O autor
somente pode desistir enquanto não for proferida a sentença (art. 485, § 5.º). Depois, a
desistência será do recurso eventualmente interposto (com o que transitaria em julgado a
sentença) e não da ação em si. Essa regra representa uma opção política do legislador no
sentido de limitar a disponibilidade da ação e do processo, supostamente para evitar o
desperdício da atividade jurisdicional já exercida. Mas não deixa de ser discutível. Se
ambas as partes concordam com a desistência, porque impedi-la? Quem garante que,
depois de proferida a sentença, o processo ainda não se arrastaria por anos, em disputas
recursais? Portanto, em que medida não seria preferível a simples extinção, uma vez
aceita por ambas as partes? Todos esses questionamentos apontam para a necessidade de
se interpretar restritivamente o art. 485, § 5.º. Ele deveria ser aplicado apenas aos casos
em que: uma vez proferida a sentença, não existam perspectivas concretas de revisão
recursal de tal pronunciamento; o próprio objeto jurídico-material é indisponível etc.
Todavia, essa é uma questão ainda em aberto na prática do CPC/2015 - que dependerá
ainda dos debates doutrinário e jurisprudencial.
A desistência da ação constituihipótese essencialmente diversa da prevista pelo art.
487, III, c, que concerne à renúncia à própria pretensão em que se funda a ação. As
consequências da renúncia desbordam o âmbito daquela ação em particular, para atingir
a própria pretensão em que se funda, e o próprio direito material que eventualmente lhe
serve de base. A parte, ao renunciar à pretensão, em termos práticos, abre mão do próprio
direito material que eventualmente titularizava. À renúncia da pretensão formulada na
ação não se aplicam as mesmas restrições a que se sujeita a desistência. Isso quer dizer
que, ainda que tenha transcorrido o prazo para resposta, a renúncia à pretensão
prescinde da anuência do réu. Da mesma forma, o autor pode renunciar à pretensão
formulada na ação até mesmo após a prolação da sentença. A respeito, v. n. 21.5.2,
adiante.
Homologada a desistência da ação (art. 200, parágrafo único), o juiz deve encerrar a
fase cognitiva, sem resolução de mérito, ou extinguir anormalmente o processo de
execução.
21.4.8. Morte da parte e ação intransmissível
A hipótese prevista pelo art. 485, IX, será redutível, em última análise, à superveniente
falta de uma condição da ação. No caso de haver morte da parte e ser a ação
intransmissível, aquele que, porventura, passasse a ocupar seu lugar, sendo seu sucessor
processual (art. 110), não teria legitimidade para a causa. Trata-se de matéria apreciável
de ofício, em qualquer tempo ou grau de jurisdição, enquanto não houver o trânsito em
julgado (art. 485, § 3.º).
Parte da doutrina critica a redação do art. 485, IX, por reputar que ele deveria ter
também tratado expressamente da hipótese de extinção de pessoa jurídica. Talvez tenha
mesmo havido algum apego do legislador a antigos textos legais, formulados em época em
que os litígios entre pessoas naturais preponderavam no processo civil (hoje, claramente
se dá o contrário). Mas, provavelmente, a principal razão para se aludir apenas à morte da
parte pessoa natural deriva da circunstância de não ser comum que um direito pretendido
em juízo por uma pessoa jurídica seja "intransmissível". Em regra, os direitos
intransmissíveis são direitos da personalidade, não titularizados por pessoas jurídicas. De
qualquer modo, configurando-se um caso concreto em que pessoa jurídica formule
pretensão intransmissível, sua extinção ensejará a extinção do processo - se não pela
aplicação analógica da regra em análise, pela própria ocorrência de ilegitimidade ativa do
sucessor processual, conforme acima destacado.
21.4.9. A (relativa) estabilidade da sentença terminativa
Como se verá adiante (cap. 40), a sentença terminativa não faz coisa julgada material
(art. 502). Isso significa que, a despeito de uma primeira sentença que rejeite a
possibilidade de julgamento do mérito, a mesma ação (mesmas partes e objeto) pode
tornar a ser proposta - sem que o juiz do novo processo fique vinculado ao que decidiu o
juiz do primeiro processo. Então, um primeiro juiz pode reputar que há coisa julgada, a
impedir o exame do mérito da ação, e depois, novamente proposta a mesma ação entre as
mesmas partes, o juiz do novo processo pode entender que não há coisa julgada e assim
julgar o mérito da causa.
Mas a despeito da ausência da coisa julgada material, o art. 486, § 1.º, pretende atribuir
relativa estabilidade à sentença terminativa. Se ela foi proferida sob o fundamento de
haver litispendência, ausência de pressupostos processuais ou condições da ação,
indeferimento da inicial ou de convenção de arbitragem, a mesma ação somente poderia
ser novamente proposta se o vício que levou à impossibilidade de julgamento do mérito
fosse corrigido. A regra tem, acima de tudo, um valor de orientação prática ao autor da
ação que já fracassou processualmente. Mas diante da ausência de coisa julgada material,
não impede a adoção de entendimento diverso no segundo processo, como destacado.
Outra exigência imposta pelo CPC/2015 (art. 486, § 2.º) é a comprovação do pagamento,
pelo autor, das custas e dos honorários advocatícios relativos ao processo extinto.
Cumpridos esses requisitos, poderá o autor propor novamente a ação. Essa regra não se
aplica, como dito acima, à hipótese de perempção - situação em que, a rigor, a ação não
pode mais em hipótese alguma ser proposta. Por óbvio, é de se afastar a possibilidade de
nova propositura da mesma ação também nos casos em que a sentença terminativa for
proferida em razão da existência de coisa julgada, pois não se trata de vício que possa ser
corrigido pelo autor.
21.5. Sentenças de mérito
A lei considera sentenças de mérito ou definitivas aquelas cujo conteúdo enquadra-se
nas hipóteses previstas no art. 487. Tais sentenças apenas podem ser proferidas se
presentes os pressupostos de admissibilidade de exame do mérito, ou seja, as condições da
ação e os pressupostos processuais, e se não ocorrer nenhum dos outros impedimentos ou
acidentes previstos no art. 485.
Tais sentenças veiculam a resolução do conflito; definem as normas que incidiram no
caso; dizem quem tem razão, reconhecendo-lhe o bem jurídico a que faz jus; e, se for o
caso, ditam as providências destinadas a concretamente transformar a realidade para
adequá-la a tal reconhecimento. Assim, projetam-se sobre a esfera jurídico-material das
partes e, em regra, são aptas a fazer coisa julgada material (v. cap. 40).
21.5.1. Sentença de acolhimento ou rejeição do pedido
A sentença de mérito que, por excelência, corresponde aos traços acima destacados é
aquela em que o juiz acolhe ou rejeita o pedido formulado pelo autor da ação ou da
reconvenção, ditando imperativamente a solução do conflito (art. 487, I). É por isso
chamada por muitos doutrinadores de sentença de mérito "típica". Tal sentença é
tradicionalmente vista como o ato culminante do processo que "aglutina", por assim dizer,
toda a atividade jurisdicional cognitiva que, teleologicamente, àquela se dirige. É por meio
dela que o Estado concretiza e realiza seu dever de decidir.
Normalmente, a sentença de mérito advirá depois da instrução jurídica e probatória
produzida a partir do debate, em regime de contraditório, entre as partes e do juiz com as
partes. Mas, como já visto: (a) a sentença de mérito pode ser proferida independentemente
da fase instrutória, em julgamento antecipado da lide, quando não há a necessidade de
produção de provas para se resolver o conflito (art. 355 - v. cap. 12, acima); (b) em
hipóteses específicas, o art. 332 do CPC/2015 faculta ao juiz proferir sentença de
improcedência (de mérito, portanto), independentemente da citação do réu (v. cap. 6,
acima).
21.5.2. Sentenças de homologação de atos de disposição de vontade
O art. 487, III, prevê as hipóteses de sentença que homologa atos de disposição das
partes relativamente ao objeto do processo. Tais atos podem ser fruto da manifestação de
uma ou de ambas as partes. Ainda que, nesses casos, o juiz não julgue propriamente o
conflito, o conteúdo da sentença que profere versa sobre o mérito, diz respeito ao objeto
do processo. Ainda que a resolução do conflito não tenha, na origem, sido dada pelo órgão
jurisdicional, foi por ele chancelada. Ao homologar o ato de disposição de vontade, o juiz
toma para si, faz sua, a solução concebida pelas partes.
Por isso, uma parcela da doutrina qualifica como atípica tal sentença de mérito.
A primeira hipótese de pronunciamento com tal conteúdo tem-se com a homologação
do reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou reconvenção (art. 487,
III, a). Se tal pronunciamento implicar o encerramento da fase cognitiva do processo, ele
constitui sentença. O reconhecimento de procedência é o instituto de que se serve o réu
(inclusive o réu-reconvindo) quando deixa de opor resistência ao pedido formulado pelo
autor, de uma forma ativa, isso é, diferente da mera omissão em defender-se. O réu,
reconhecendo juridicamente o pedido do autor, aceita os fatos e as consequênciasjurídicas à pretensão ligados. Trata-se de ato unilateral, produtor de efeitos jurídicos no
plano processual e material, que consiste na afirmação do próprio réu de que ele não tem
direito e de que quem o tem é o autor. O reconhecimento jurídico do pedido não implica
de modo automático sentença de resolução do mérito. Cabe ao juiz aferir a presença dos
pressupostos para homologar o ato - notadamente, a disponibilidade do direito material
objeto da disputa, a capacidade jurídica do réu e, ainda que de modo sumário, a liberdade
de sua manifestação. Sendo válido o reconhecimento, o juiz tem o dever de homologá-lo,
resolvendo, assim, o mérito do processo.
Com a homologação da transação, também há resolução do mérito (art. 487, III, b). Na
transação, ambos os polos do conflito (e da relação processual) fazem concessões mútuas.
Só pode ter lugar se o direito disputado for disponível. Trata-se, pois, de negócio bilateral,
com efeitos processuais e materiais. A característica básica da transação é a reciprocidade
de concessões, sendo lícito às partes levar à transação inclusive elementos, a princípio,
estranhos ao objeto do processo. A lide é praticamente redefinida na transação, pois que,
do contrário, de transação não se trataria. Diante da transação, caberá ao juiz verificar a
presença dos pressupostos para homologar o ato (disponibilidade do objeto, capacidade
das partes, liberdade de consentimento). Presentes tais pressupostos, impõe-se ao juiz a
homologação.
A terceira hipótese de ato de disposição é a renúncia à pretensão formulada na ação.
Por meio dela, o autor abre mão da sua pretensão - dispondo inclusive do direito material
que eventualmente detinha (cuja existência não chegou a ser aferida). É o instituto que, de
certa forma, equivale ao reconhecimento jurídico do pedido, por parte do réu (ou
reconvindo). Como nas duas hipóteses anteriores, só pode haver renúncia à pretensão
quando o direito que lhe diz respeito for disponível. A capacidade do renunciante e a
liberdade de sua manifestação também deverão ser aferidas pelo juiz. Sendo válida a
renúncia, cumpre ao juiz homologá-la, resolvendo, dessa forma, o mérito (art. 487, III, c).
21.5.3. Prescrição e decadência
O art. 487, II, prevê ainda que o pronunciamento do juiz a respeito da ocorrência de
prescrição ou decadência também implica resolução de mérito. Como já exposto (v. n. 6.2,
acima), o reconhecimento da existência de prescrição ou decadência constitui inclusive
causa de julgamento liminar de improcedência (art. 332, § 1.º) - ainda que esse não seja o
único momento em que tal pronunciamento possa ser proferido pelo juiz (pode dar-se no
julgamento conforme o estado do processo, nos termos dos arts. 355 e 356, ou mesmo
depois da instrução probatória).
Também nessa hipótese uma parcela da doutrina continua a aludir a uma sentença de
mérito "atípica". Mas se em todos os demais casos essa terminologia é discutível (afinal, a
tipicidade é delineada pela lei - e é a lei que qualifica tal pronunciamento como sendo de
mérito), aqui ela se apresenta de todo inadequada. As sentenças que acolhem prescrição
ou decadência já seriam enquadráveis no próprio inciso I do art. 487 (haverá "resolução
de mérito quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor"). A rigor, o juiz nada mais
faz, nessas hipóteses, do que julgar improcedente o pedido: o direito pretendido pelo autor
foi extinto (decadência) ou está impedido (prescrição). Assim, o inciso II do art. 487 tem
mera função didática. Presta-se apenas a esclarecer, evitar dúvida e afastar qualquer
outra concepção.
A decadência e a prescrição são institutos que se ligam à inércia do titular de uma
posição jurídica, em face do correr do tempo, o que dá origem à perda dessa posição.
Ambas têm o escopo de pôr fim a uma situação cuja subsistência por tempo
indeterminado perturbaria a estabilidade das relações jurídicas. Em regra, referem-se a
fenômenos que ocorrem fora e antes do processo (com exceção da prescrição
intercorrente, que, de todo modo, também fulmina uma posição jurídico-material).
Árduas discussões foram travadas entre os doutrinadores com o fito de se apontar, em
ambas, os traços distintivos. Hoje, a questão está razoavelmente assentada. A doutrina
afirma que a decadência extingue o próprio direito material, ao passo que a prescrição
põe fim à pretensão material decorrente do direito (ou seja, a possibilidade de exigir-se
concretamente o direito). Isso explica porque, diferentemente do que ocorre na
decadência: (a) o devedor pode renunciar à prescrição e, (b) se a dívida já prescrita é
voluntariamente paga ao credor, este não tem a obrigação de devolver o valor recebido.
De todo modo, ainda que se trate de matéria reconhecível de ofício, o contraditório
deve ser instaurado. Se a ocorrência da prescrição ou da decadência for verificada desde
logo pelo juiz, este poderá proferir sentença de improcedência liminar
independentemente da citação do réu, nos termos do art. 332, § 1.º. Ou seja, se verificada a
ocorrência da prescrição ou decadência logo ao início do processo, o magistrado julgará
liminarmente improcedente o pedido sob esse fundamento. Ultrapassada a etapa inicial,
não poderá o juiz reconhecer a prescrição e a decadência sem antes assegurar o
contraditório em todos os seus aspectos, devendo intimar ambas as partes (e não apenas o
autor) para que se manifestem (art. 487, parágrafo único).
21.6. Primazia da resolução de mérito
O art. 488 estabelece que, se a despeito de haver um fundamento para negativa de
solução do mérito, for também possível resolver o mérito favoravelmente àquele a quem
aproveitaria a sentença meramente terminativa (normalmente o réu), deve-se proferir a
sentença de mérito. Em outras palavras, o juiz constata haver um fundamento para a
extinção da fase cognitiva sem solução de mérito - o que seria bom para o réu -, mas
também conclui que é possível julgar o mérito em favor do próprio réu - sempre que
possível, deverá adotar essa segunda alternativa.
Os propósitos dessa regra são louváveis: prestigiar a instrumentalidade das formas; dar
à parte um resultado mais estável do que aquele que ela teria sem o julgamento de mérito
(a decisão de mérito faz coisa julgada material; a sentença terminativa, não); diminuir a
carga de trabalho do judiciário ao se evitar a duplicação de processos etc.
No entanto, são mais restritos do que se poderia supor os casos em que tal norma é
aplicável. Em muitas oportunidades, a falta de pressuposto de admissibilidade para a
tutela jurisdicional inviabiliza completamente a prolação de uma sentença de mérito. Por
exemplo, se o juiz constata já haver coisa julgada material, cabe-lhe apenas extinguir a
fase cognitiva sem julgar o mérito. Não é possível tornar a decidir o mérito, ainda que
favoravelmente ao réu (a quem aproveitaria a sentença terminativa). Tornar a decidir o
mérito, nesse caso, implicaria renovar a possibilidade de ação rescisória, reabrir os prazos
prescricionais da pretensão de execução da sentença etc. Nada disso é admissível. Outro
exemplo: o juiz constata que o autor é parte ilegítima; mas averigua também que é
possível julgar improcedente o pedido formulado. Nessa hipótese, o julgamento de
improcedência é despido de maior utilidade, pois, se futuramente o verdadeiro legitimado
ativo resolver formular o mesmo pedido e causa de pedir em face do mesmo réu, não se
poderá opor ao novo autor a coisa julgada do processo anterior, de que ele não foi parte
(art. 506).
De todo modo, há casos em que a regra será utilmente aplicável. Se o réu é parte
ilegítima, mas o juiz constata caber julgamento de improcedência, deve assim julgar o
mérito. Nesse caso, se o autor pretender depois tornar a formular a mesma pretensão
(pedido e causa de pedir) contra o verdadeiro legitimado, a coisa julgada do processo
anterior ser-lhe-á oponível, pois ele, autor, lá foi parte (sendo irrelevante a ausência,
naqueleprimeiro processo, do ora réu). Ainda outro exemplo: se o juiz verificar a inépcia
da petição inicial, porque indeterminado o pedido, e ao mesmo tempo constatar a
ocorrência da prescrição, em vez de proferir sentença processual, encerrando a fase
cognitiva sem resolução do mérito, deverá, se possível, julgar liminarmente improcedente
o pedido, proferindo decisão definitiva apta a fazer coisa julgada material.
21.7. Consideração de fatos novos na sentença
Após o início do processo e a apresentação dos argumentos e defesas pelas partes na
fase postulatória, pode surgir algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo capaz de
influir na solução do conflito. Nessa hipótese, em princípio é dever do juiz levar tal fato
em consideração ao decidir (art. 493). Os princípios da perpetuação da jurisdição e da
estabilização da demanda talvez apontassem para a solução oposta. Mas a economia
processual e a necessidade de que a decisão seja o mais justa e aderente possível ao
momento em que ela é proferida justificam a regra em exame.
Em direito processual, a expressão "fato novo" tem duplo significado (como se torna a
ver no vol. 3, n. 3.4.2.1). Pode ser utilizada para indicar eventos com relevância jurídica
que ocorram depois de determinado momento processual. Outras vezes, a expressão é
empregada em sentido mais abrangente, para designar fatos que, embora já existissem
antes, ainda não haviam sido trazidos para o processo.
Nesse segundo sentido - de fato velho, mas que só chegou tardiamente ao processo -, o
"fato novo" apenas pode ser conhecido pelo juiz se disser respeito à matéria passível de
ser conhecida de ofício e a todo tempo (como são as objeções materiais e processuais - v.
vol. 1, n. 12.5.4) ou se ficar demonstrado pela parte interessada que não o pôde apresentar
antes por uma justa causa (arts. 223 e 342).
No primeiro sentido, de fato verdadeiramente superveniente, caberá a consideração
pelo juiz, de ofício ou a requerimento da parte, de todos os fatos novos que ocorrerem até
o momento em que o processo vai a julgamento (conclusão para sentença, em primeiro
grau; inclusão em pauta, nos julgamentos colegiados dos tribunais).
O contraditório deve ser assegurado nas duas hipóteses (CF/1988, art. 5.º, LV; CPC/2015,
art. 9.º e 10). Se o fato estiver sendo considerado de ofício pelo juiz, ele deve, antes de
decidir, dar a ambas as partes a oportunidade de manifestação sobre o fato novo. Se o fato
é trazido ao processo por uma das partes, o juiz deve assegurar à parte contrária a
oportunidade de manifestar-se.
Em regra, a ocorrência de fato novo não justifica a alteração do pedido nem da causa
de pedir (art. 329). Exceção a isso tem-se na hipótese de impossibilidade superveniente da
tutela específica ou do resultado prático equivalente na ação impositiva de dever de fazer,
não fazer ou entregar coisa - hipótese em que a conversão de ação para cobrança de
perdas e danos pode dar-se no mesmo processo, alterando-se, assim, pedido e causa de
pedir (art. 499).
21.8. Decisão interlocutória com conteúdo dos arts. 485 ou 487
Como já destacado, o Código admite decisões com o conteúdo dos arts. 485 ou 487, mas
que não põem fim ao processo nem à sua fase de conhecimento. São as decisões
interlocutórias que reconhecem a parcial impossibilidade de julgamento do mérito (art.
354, parágrafo único) ou julgam antecipadamente apenas uma parte do mérito (art. 356 -
v. cap. 12, acima).
Tais pronunciamentos submetem-se, em linhas gerais, aos mesmos elementos
(requisitos) da sentença e em geral são aptos a produzir os mesmos efeitos e a revestir-se
da mesma autoridade (coisa julgada formal e material, conforme o caso).
21.9. Elementos
São elementos da sentença o relatório, a fundamentação (motivação) e o decisório
(dispositivo, comando ou decisum), nos termos do art. 489, I a III. Não se trata de partes
estanques e necessariamente segmentáveis. Por isso, há quem prefira falar em "aspectos"
da sentença. São elementos imprescindíveis para a existência ou validade do
pronunciamento do juiz - e nesse sentido são também chamados de "requisitos".
21.9.1. Relatório
No relatório, o juiz faz como que um resumo do processo, expondo tudo o que foi
relevante no desenvolvimento da relação processual, como fatos, razões de direito
alegadas pelas partes, o pedido, a defesa. Expõe, pois, a matéria-prima que será o ponto de
partida para sua decisão. É, ainda, nessa oportunidade que deverá o juiz mencionar as
principais ocorrências havidas no curso do processo, como, por exemplo, a eventual
interposição de agravo contra decisões interlocutórias; as decisões tomadas em tais
recursos pelo tribunal; a ocorrência de intervenção de terceiros e o resumo das alegações
por esses formuladas; as eventuais providências preliminares que tenham sido
determinadas; as provas produzidas etc.
O relatório é elemento indispensável para que a fundamentação da sentença - de que
se trata a seguir - seja compreensível e idônea e cumpra sua função em prol do devido
processo legal. A falta ou absoluta deficiência do relatório podem afetar, nesse sentido, a
própria motivação da sentença.
Além disso, a elaboração do relatório pelo juiz permite-lhe compreender melhor a
causa e os detalhes do processo e, consequentemente, qualifica a decisão que ele adotará.
21.9.2. Motivação
Na fundamentação, cabe ao magistrado expor as razões de seu convencimento, de
forma clara, completa e razoável, de modo a que todos aqueles que a leiam possam
compreender o caminho argumentativo que o levou à conclusão a que chegou. Trata-se de
norma em que se manifesta e se concretiza de forma inequívoca o princípio do livre
convencimento motivado, tal como expresso no art. 371.
Para que se considere fundamentada a sentença, devem ser observadas as regras do §
1.º do art. 489. Tal disposição não inova o ordenamento jurídico com o roteiro que ali
explicita. Nada mais faz do que enunciar didaticamente todo um conjunto de vetores
indispensáveis para a concretização da garantia fundamental estabelecida no art. 93, IX,
da CF/1988.
O art. 489, § 1.º, I, proíbe que o juiz apenas indique, reproduza ou parafraseie ato
normativo, sem demonstrar a relação com a causa ou a questão decidida. Numa ação de
usucapião ordinária, por exemplo, não pode o juiz proferir sentença limitando-se a julgar
improcedente o pedido "porque ausentes os requisitos do art. 1.242 do CC/2002", sem,
contudo, explicar a razão pela qual, no caso sob julgamento, as exigências do dispositivo
não foram preenchidas.
Também se considera não fundamentada a decisão em que o juiz utiliza conceitos
jurídicos indeterminados (art. 489, § 1.º, II), sem indicar a relação com a situação concreta.
Utilizando o mesmo exemplo da ação de usucapião, seria o caso em que o juiz julga
improcedente o pedido "porque a posse não era de boa-fé", mas não explica os motivos
que o fizeram chegar a essa conclusão. Existe, nesse caso, mera aparência de
fundamentação. O mesmo se passa quando o juiz defere (ou indefere) uma tutela urgente
apenas afirmando estarem presentes (ausentes) os requisitos da "plausibilidade do
direito" e do "perigo de danos", sem expor minimamente os fatos e razões concretas que o
autorizam a afirmar isso.
O art. 489, § 1.º, III, obsta a decisão abstrata, em que o juiz lança mão de motivos que
poderiam ser utilizados em qualquer outra situação. Esse dispositivo tem especial
relevância nos dias atuais, em que o excessivo número de demandas de massa soma-se a
recursos tecnológicos que permitem fácil acesso a arquivos de decisões anteriores. O
escopo da norma, portanto, é evitar que o juiz produza decisões-modelo e as utilize
indistintamente (na mera base do "recorta e cola"), sem trazer qualquer motivação do caso
concreto.
Também não se reputa fundamentada, a teor do que dispõe o inc. IV do § 1.º do art.
489, a decisão que deixa de enfrentar todos os argumentos postos que - emtese, mas de
modo objetivo - poderiam ser capazes de infirmar, derrubar, a conclusão atingida pelo juiz.
Como dito anteriormente (vol. 1, n. 3.8), o contraditório - mais do que simples ciência e
reação - é o direito de plena participação de todos os atos, sessões, momentos, fases do
processo, e de efetiva influência sobre a formação da convicção do julgador. E esse "dever
de diálogo" do juiz com as partes é extraordinariamente destacado no novo CPC. Porém,
de nada adiantaria assegurar às partes a oportunidade de participar para tentar
influenciar a formação da convicção do julgador se a este último não fosse imposto o
dever de enfrentar todas as alegações pertinentes deduzidas no processo.
Finalmente, o art. 489, § 1.º, V, não considera fundamentada a decisão que aplica
precedente ou enunciado de súmula sem identificar os respectivos fundamentos nem
demonstrar a adequação deles ao caso. É necessário que a fundamentação seja analítica,
devendo o magistrado identificar precisamente os fundamentos determinantes da
formação da tese jurídica e demonstrar por que são apropriados ao caso concreto. Da
mesma forma, ao deixar de aplicar enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente,
deve o magistrado proceder ao confronto analítico, demonstrando por quais motivos o
caso sob julgamento distingue-se do paradigma ou, ainda, por que o entendimento lá
firmado encontra-se superado (art. 489, § 1º, VI).
O § 2.º do art. 489 estabelece que, na hipótese de conflito entre normas, é dever do juiz
indicar o "objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada". A rigor, nem sempre
haverá um juízo de ponderação. Normas são as regras e os princípios. Para a composição
do conflito entre regras, deve o julgador levar em conta os três critérios tradicionais, quais
sejam: hierárquico, cronológico e especialidade. A técnica de ponderação, portanto, fica
reservada à solução da colisão entre princípios (ainda que ela possa repercutir sobre
regras que especificam os princípios conflitantes). Conforme um dos autores deste Curso
já afirmou, em outro espaço, a ponderação implica identificar os princípios em colisão,
atribuir-lhes a respectiva importância, de acordo com as especificidades da situação
concreta, e decidir qual prevalece e em quais limites, de modo que "o ônus imposto ao
valor sacrificado deve ser menor do que os benefícios propiciados ao valor prevalecente".3
De todo modo, a intenção do legislador foi impor ao magistrado o dever de expor os
motivos pelos quais, na composição de conflito entre normas (regras ou princípios), no
caso sob julgamento, uma norma foi aplicada em detrimento de outra.
Ato de inteligência e de vontade, não se pode confundir a sentença com um ato de
imposição pura e imotivada de vontade. Daí a necessidade de que venha expressa sua
fundamentação, sob pena de nulidade (art. 93, IX, da CF/1988).
Essa necessidade decorre, também, da própria ideia de recorribilidade. Uma decisão,
em princípio, para ser efetivamente controlável quanto ao acerto de suas conclusões,
precisa ser analisável e criticável na sua base: a fundamentação.
21.9.3. Dispositivo
O dispositivo é o cerne da sentença. É o aspecto que confere identidade ao
pronunciamento, que permite configurá-lo como sentença. Consiste no comando
jurisdicional, a razão de ser da sentença. Apenas mediante a identificação e compreensão
desse comando (decisum) é que se torna possível afirmar que o ato em questão é uma
sentença e definir os efeitos principais dali extraíveis (extinção do processo com ou sem
julgamento de mérito; acolhimento ou rejeição do pedido; proporções do acolhimento
etc.). Eis por que se afirma a inexistência jurídica, como sentença, do "ato" em que falta
comando (decisum).4
Nesse sentido, o art. 489, III, prevê que, no dispositivo, "o juiz resolverá as questões
principais que as partes lhe submeterem" (i.e., as pretensões formuladas).
21.9.4. Interpretação da sentença
A interpretação da sentença, diz o § 3.º do art. 489, deve ser sistemática e em
consonância com o princípio da boa-fé, de modo que todos os elementos da sentença
devem ser conjuntamente considerados. Como destacado, a compreensão da
fundamentação depende da consideração do relatório. E a motivação, por sua vez, é de
grande importância para a identificação do sentido e alcance do dispositivo (art. 504, I).
21.10. Efeitos da sentença
Os efeitos da sentença podem ser classificados em principais, anexos e secundários.
21.10.1. Efeitos principais
Os efeitos principais estão previstos na própria sentença. São decorrência da sentença
considerada como ato jurídico. Mais especificamente, os efeitos principais advêm
diretamente do próprio conteúdo do comando (dispositivo) da sentença. Derivam da
definição do destino do processo contida no dispositivo da sentença (resolver ou não o
mérito e, nesse segundo caso, acolhendo ou rejeitando o pedido). Daí que, quando de
procedência, os efeitos principais refletem o pedido imediato do autor. Se o autor pediu
condenação, o efeito principal da sentença de procedência é condenatório. Se pediu uma
ordem, a sentença tem efeito principal mandamental, e assim por diante. O tema já foi
examinado no vol. 1, ao se tratar da classificação das ações (cap. 11), e tornará a ser
enfrentado no vol. 3 (cap. 17).
Todas as sentenças têm certa carga de eficácia declaratória. A declaração impõe-se
logicamente, antes de tudo, ao juiz. Na sentença de mérito, o juiz sempre declara a
existência ou inexistência de um direito. Por vezes, a prestação da tutela jurisdicional
cinge-se a essa declaração, dando, assim, origem às sentenças ditas meramente
declaratórias, isto é, às sentenças cuja finalidade é declarar ou a existência ou a
inexistência de uma relação jurídica. Frise-se que o interesse jurídico do autor pode
cingir-se à obtenção de sentença meramente declaratória, mesmo quando já houver
violação de seu direito (arts. 19 e 20).
Por outro lado, há sentenças em que o juiz, além de declarar, condena o réu a uma ação
ou a uma omissão, e outras em que o juiz, além de declarar, ou constitui ou desconstitui
uma situação jurídica. Essa classificação tem aceitação universal. O critério utilizado para
que se classifique as sentenças desse modo é o referente ao tipo de tutela jurisdicional que
é veiculada pelo pedido. Então, o pedido que houver, no bojo da ação, é que irá
determinar de que tipo de ação se trata, e de que tipo de sentença se tratará.
As sentenças meramente declaratórias têm por eficácia declarar a existência,
inexistência ou o modo de ser de uma relação, situação ou estado jurídicos (art. 19, I). Em
um único caso podem versar sobre um mero fato (e não sobre efeitos jurídicos): a
autenticidade ou falsidade de documento (art. 19, II).
Mas, como se disse, toda sentença pressupõe uma declaração. Assim, nas sentenças
condenatórias declara-se o direito, reconhecendo-se sua exigibilidade, e se estabelece uma
sanção correspondente à citada violação, que consiste numa prestação devida pelo
sucumbente. É uma sentença que funciona como título executivo - ou seja, é apta a ensejar
a instauração da atuação jurisdicional executiva. A execução da sentença condenatória se
dará nos mesmos autos, por provocação da parte beneficiária da condenação (ação
executiva), em procedimento denominado "cumprimento de sentença" (art. 513 e ss.).
Nas sentenças constitutivas não se impõe sanção alguma que dependa de prestação de
conduta do derrotado. Declara-se o direito do autor de obter uma modificação no plano
jurídico e se implementa tal mudança. Por isso, elas não ensejam execução (que consiste
na atuação de uma sanção mediante a adoção de providências práticas - v. vol. 3, cap. 1).
Altera-se, extingue-se ou cria-se uma situação jurídica, trazendo-se, pois, dessa forma,
sempre, uma "novidade" ou uma "modificação" para o universo jurídico, mas no plano
puramente ideal.
Ao lado das três espécies já referidas, utilizadas pela chamadaclassificação tradicional,
há mais duas espécies de sentenças: as mandamentais e as executivas. As sentenças
mandamentais contêm uma ordem para ser cumprida pelo sucumbente. O seu
descumprimento caracterizará afronta, desobediência à autoridade estatal. As sentenças
executivas, por seu turno, contêm, além da autorização para executar (tal como ocorre na
sentença condenatória), aptidão intrínseca para levar à efetiva satisfação do credor,
independentemente de nova demanda de execução. Em vez de apenas autorizar a
subsequente atividade executiva a ser desempenhada a partir de nova demanda da parte
vencedora (como acontece na sentença condenatória), a sentença executiva desde logo
determina a prática dos atos executivos.5
A sentença de improcedência do pedido tem efeito principal declaratório negativo:
declara não existir o direito do autor à tutela pretendida. Mesmo a sentença que julga
improcedente um pedido de declaração de inexistência de um direito tem eficácia
principal declaratória negativa: ela não declara a existência daquele direito; apenas
declara que o autor não tem o direito de obter a declaração negativa.
A sentença que não resolve o mérito produz efeitos declaratórios negativos (reconhece
não haver o direito à resolução do mérito, naquele processo) e constitutivos (põe fim à
relação processual - aliás, essa tênue eficácia constitutiva está presente, obviamente, em
toda e qualquer sentença).
Como já se evidenciou, é possível que coexistam na sentença vários efeitos principais -
seja porque o decisum contém vários capítulos acerca do(s) pedido(s) formulado(s) (ex.: o
autor pediu 100, o juiz está julgando 40 procedentes e condenando o autor a pagá-los, e
está reputando 60 improcedentes, em relação aos quais está declarando inexistir o direito
do autor à condenação), seja porque a resposta a um único pedido envolve mais de um
efeito principal (ex.: quando condena, o juiz também declara existir o direito e constitui o
título executivo...).
21.10.2. Efeitos anexos
Efeito anexo é aquele que a própria lei atribui a determinadas espécies de sentença,
independentemente de ele estar previsto no conteúdo do provimento. O efeito anexo é
uma decorrência da sentença considerada como fato jurídico. O ordenamento prevê que,
quando existir uma dada espécie de sentença, dela advirá determinado efeito,
independentemente do que esteja dito nela. Assim, a produção do efeito anexo independe
de pedido da parte e de pronunciamento do juiz.
São exemplos de efeitos anexos: a hipoteca judiciária - decorrente de sentenças que
condenam o réu ao pagamento de quantia ou que convertem prestação de fazer, não fazer
ou de dar coisa em prestação pecuniária (art. 495 do CPC) - e a eficácia de título executivo
civil advinda da sentença condenatória penal (art. 515, VI).
Tais efeitos produzem-se tão só pelo fato de existirem sentenças dessas espécies, pouco
importando o que nelas conste a respeito do tema. Se na sentença de condenação ao
pagamento de uma quantia o juiz pretender excluir o cabimento da hipoteca judiciária,
esse ponto de sua decisão será írrito, ineficaz, pois tal efeito provém da lei; se o juiz
pretender expressamente afirmar o cabimento da hipoteca judiciária, esse ponto do seu
pronunciamento será supérfluo, pois basta a previsão da lei nesse sentido.6
21.10.3. Efeitos secundários
Efeito secundário é aquele que, embora independa de pedido da parte para que seja
produzido, precisa estar contemplado na sentença para que se produza. Portanto, e assim
como o efeito principal, é uma consequência da sentença considerada como ato jurídico.
Exemplos: condenação em honorários; condenação em litigância de má-fé etc.
Ressalte-se que não há uniformidade terminológica, na doutrina, no que tange aos
efeitos anexo e secundário. Por vezes, as duas expressões são usadas indistintamente ou
invertidas.
21.11. Ordem cronológica de conclusão
O art. 12 do CPC/2015, na redação dada pela Lei 13.256/2016, prevê que os órgãos da
jurisdição "atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir
sentença ou acórdão".
Apesar das críticas feitas a esse dispositivo desde sua inclusão no projeto do código
atual, trata-se de inovação extraordinariamente útil para a diminuição do tempo de
duração do processo, evitando que determinados processos tramitem por tempo superior
à média aceitável. A regra atende à norma ventilada no inc. LXXVIII do art. 5.º da
CF/1988.7
As exceções a essa orientação estão contidas no § 2.º do art. 12. Segundo esse
dispositivo, poderá o juiz (ou o tribunal) desrespeitar a ordem cronológica de conclusão
quando se tratar de causas urgentes; de sentenças proferidas em audiência, sentenças
homologatórias de acordo ou sentenças de improcedência liminar do pedido; de processos
julgados em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em incidente de resolução de
demandas e recursos repetitivos; julgamento dos próprios recursos repetitivos ou de
incidente de resolução de demandas repetitivas; julgamentos monocráticos de
competência do relator, nos tribunais (art. 932); sentença que reconhece a impossibilidade
de julgamento do mérito, com base no art. 485; processos criminais; embargos de
declaração, agravo interno, assim como sentenças ou acórdãos em processos em que haja
metas estabelecidas pelo CNJ ou preferência legal para julgamento (idosos, por exemplo).
Quanto a estes últimos, estabelece o § 3.º do art. 12 que deverá haver listas de ordem
cronológica de conclusão "entre as preferências legais".
O § 1.º do art. 12 dispõe que a lista de processos "aptos a julgamento", isto é, conclusos
para tanto, deverá ficar disponível para partes e demais interessados (o dispositivo fala
em consulta pública) tanto em cartório quanto na rede mundial de computadores.
Muito se discutiu sobre a alteração na redação do dispositivo trazida pela Lei
13.256/2016. Originalmente, o caput do art. 12 dispunha que: "os juízes e os tribunais
deverão obedecer à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão"
(grifos nossos). Há quem entenda que a alteração em questão acabou por aniquilar, em
termos práticos, a ordem cronológica. De fato, com a substituição da expressão "deverão
obedecer" por "atenderão, preferencialmente", não se pode garantir que a regra será
aplicada com a mesma rigidez que se esperava em relação àquela contida na disposição
original. Mas também não se pode cair no extremo oposto. No Código, temos inúmeros
dispositivos que contêm a expressão "preferencialmente", mas que, nem por isso, deixam
de ser aplicados. Exemplo expressivo é a ordem de penhora. O art. 835 (que contém a
mesma redação do art. 655 do CPC/1973) dispõe que "a penhora observará,
preferencialmente, a seguinte ordem". Assim, se, por um lado, a regra tornou-se mais
flexível, por outro, não perdeu sua aplicabilidade. Ao estabelecer que a ordem cronológica
"preferencialmente" será observada, a norma está explicitando a possibilidade de que, por
uma justa causa - a ser devidamente exposta pelo juiz na motivação de sua decisão -,
aquela ordem seja eventualmente desatendida. A rigor, isso já deveria ser extraível do art.
12 na sua redação original. Nela, enfatizava-se a cogência da norma geral. Agora, dá-se
também destaque à possibilidade de sua atenuação em vista de circunstâncias concretas.
Conceito Art. 203, § 1.º, do CPC
 
Sentença e acórdão com conteúdo e efeitos de sentença
 
Sentença e mérito da
causa
 Definitivas
 Terminativas
 
Sentenças
processuais
Inadmissibilidade da tutela
jurisdicional
  Defeito quanto aos
pressupostos processuais
  Ausência de condições da
ação
Paralisação do processo por mais de um ano
Abandono do processo pelo autor
Perempção
Convenção arbitral
Desistência da ação
Morte da parte e ação intransmissível
A (relativa) estabilidade da sentença terminativa
Sentenças de mérito
- Conteúdos - Art. 487Acolhimento ou rejeição do pedido
Homologação de atos de
disposição de vontade
  Reconhecimento da
procedência do pedido
 Transação
  Renúncia à pretensão
formulada na ação
Prescrição e decadência
Primazia da resolução do mérito - art. 488
Consideração de fatos novos
na sentença
 Conceito de fato novo
 Contraditório
 Alteração do pedido ou da causa de pedir
Decisão interlocutória com
conteúdo dos arts. 485 ou 487
 Reconhecem a parcial impossibilidade de julgamento do
mérito
 Julgamento antecipado parcial do mérito
Elementos
Relatório
Motivação
Decisório (dispositivo)
Interpretação da sentença
Efeitos
Principais
Anexos
Secundários
Classificação
Declaratórias
Constitutivas
Condenatórias
Mandamentais
Executivas lato sensu
Ordem cronológica de conclusão  Lei 13.256/2016 - considerações
Observação:
Dispensa de relatório Possível nas sentenças do JEC - art. 38, caput, da Lei 9.099/1995
Doutrina Complementar
·                  Alexandre Freitas Câmara (O novo..., p. 292 e 293.) assevera que "a hipoteca
judiciária é uma penhora antecipada, uma pré-penhora. Em outros termos, o que se tem
aqui, como efeito da decisão, é uma antecipação de um ato executivo típico das execuções
por quantia certa, destinada não só a assegurar que em uma futura e eventual execução o
credor tenha seu direito satisfeito, mas também para servir como um poderoso
mecanismo inibidor de fraudes. A decisão (que condena a pagar dinheiro ou que converte
obrigação de outra natureza em perdas e danos) produz a hipoteca judiciária ainda que
seja genérica, ou seja, que não tem determinado o quantum da obrigação (art. 495, § 1.º, I).
Produz-se, também, mesmo que esteja pendente medida cautelar de arresto sobre bem do
devedor (art. 495, § 1.º, II). E se produz ainda que a sentença seja impugnada por recurso,
pouco importando se tal recurso é dotado de efeito suspensivo (art. 495, § 1.º, III) ou não
(art. 495, § 1.º, I). Não se produz, porém, a hipoteca judiciária quando a decisão condena
ao cumprimento da obrigação de entregar coisa distinta de dinheiro (FPPC, enunciado
310)".
·          Arruda Alvim (Manual..., 16. ed., p. 1.094 e ss.) sustenta que a sentença "é o ato
culminante do processo de conhecimento. Na sentença, o juiz, na qualidade de
representante do Estado, dá, com base em fatos, na lei e no direito, uma resposta
imperativa ao pedido formulado pelo autor, bem como à resistência oposta a esse pedido,
pelo réu, na defesa apresentada. Mesmo não havendo defesa, e tendo sido o réu revel, não
fica liberado o Estado-juiz do dever de resolver a pretensão, o que é feito essencialmente
pela sentença. A sentença assenta-se em fato ou fatos, dando aos mesmos uma significação
no universo jurídico, com base nos valores contidos na lei (v. art. 458, I e II, relatório e
fundamentação). Assim, temos, fundamentalmente, de uma perspectiva lógico-formal, na
sentença, a sequência silogística da norma, do fato e da conclusão decorrente da
subsunção do fato à norma (primária) e da sucessiva aplicação da norma (secundária) ao
fato. Por esta se diz que o processo judicial tem estrutura lógica. É exatamente no instante
em que é proferida a sentença que tal atividade lógica assume o momento fundamental de
sua aplicação, no campo do processo. A Lei 11.232/2005 modificou a redação do § 1.º do
art. 162, conceituando a sentença como 'o ato do juiz que implica alguma das situações
previstas nos arts. 267 e 269' do Código de Processo Civil. Esta mudança do texto legal fez
reacender a celeuma doutrinária a respeito do conceito de sentença, porque na redação
precedente referia-se o texto a que a sentença era 'o ato pelo qual o juiz põe termo ao
processo', com ou sem solucionar ou resolver o mérito. Prevalecia, com a redação
anterior, um critério de término do processo para definir a sentença, e, com isso,
diferenciá-la das decisões interlocutórias, proferidas pelo juiz durante o trâmite
processual. Sentença era o ato final do juiz, que encerrava o procedimento em primeiro
grau de jurisdição, decidindo ou não o mérito da causa. (...) Nas ações designadas pela
doutrina como mandamentais ou executivas lato sensu (por exemplo: art. 461 do CPC), as
sentenças passíveis de execução por quantia certa marcam o encerramento da fase de
conhecimento da ação, mas não encerrarão o procedimento, em primeiro grau de
jurisdição, já que a ação prossegue, para a prática dos atos tendentes ao cumprimento do
teor da sentença. (...) Tanto é sentença aquela prolatada com base no art. 267 (extinção do
processo sem resolução de mérito) quanto aquela proferida com base no art. 269, I
(julgamento da causa), como, ainda, a que seja enunciada com base no art. 269, II, III e V
(que tenham como subjacentes atos autocompositivos). (...) Cada uma dessas sentenças,
previstas nos arts. 267 e 269, tem os seus pressupostos específicos, os quais, presentes,
deverão necessariamente levar à sua prolação. Nesse sentido, pode-se dizer que não há
liberdade para o juiz decidir desta ou daquela forma. Assim, se não estiver presente
qualquer pressuposto processual, como regra geral, será inexorável que o juiz profira
sentença arrimado no art. 267, sentença essa de conteúdo processual, ou que diz respeito
só ao processo, não atingindo a lide. Já, se estiverem presentes os pressupostos processuais
(positivos) e, portanto estivermos em face de processo existente e válido, e se não existir
nenhum pressuposto processual negativo (impediente, a presença de um pressuposto
dessa espécie, do reconhecimento da validade do processo), bem como verificada a
presença das condições da ação, constituindo todos esses elementos o que se designa por
pressupostos de admissibilidade de julgamento de mérito, apresentam-se ao juiz,
integralmente, os requisitos que o habilitam a proferir a sentença de mérito". Para esse
autor, na sentença, há três atividades "que se encadeiam: 1.ª) a reconstrução da situação
de fato ocorrida ('crítica do fato'); 2.ª) sucessivamente, a qualificação jurídica respectiva;
3.ª) a própria interpretação do direito, aplicando-o ao fato ('crítica do direito'), operando-
se tais atividades mercê de uma interação recíproca, da norma ao fato e vice-versa".
·          Fredie Didier Jr. (Curso..., v. 2, p. 315) ressalta que "a exigência da motivação das
decisões judiciais tem dupla função. Primeiramente, fala-se numa funçãoendoprocessual,
segundo a qual a fundamentação permite que as partes, conhecendo as razões que
formaram o convencimento do magistrado, possam saber se foi feita uma análise apurada
da causa, a fim de controlar a decisão por meio dos recursos cabíveis, bem como para que
os juízes de hierarquia superior tenham subsídios para reformar ou manter essa decisão.
Fala-se ainda numa função exoprocessual ou extraprocessual, pela qual a fundamentação
viabiliza o controle da decisão do magistrado pela via difusa da democracia participativa,
exercida pelo povo em cujo nome a sentença é pronunciada. Não se pode esquecer que o
magistrado exerce parcela de poder que lhe é atribuído (o poder jurisdicional), mas que
pertence, por força do parágrafo único do art. 1.º da Constituição Federal, ao povo. (...)
Perceber essa dupla função da motivação é fundamental. Assim, será mais fácil
compreender porque a decisão judicial é um duplo discurso: um discurso para a solução
do caso, dirigindo às partes, e um discurso para a formação do precedente, dirigido à
coletividade".
·                  Humberto Theodoro Júnior (Curso..., v. 1, 56. ed., p. 1.010) explica que
"terminativas são as que 'põem fim ao processo, sem lhe resolverem, entretanto, o mérito'.
São as que correspondem aos casos de extinção previstos no art. 484. Importam
reconhecimento de inadmissibilidade da tutela jurisdicional nas circunstâncias em que foi
invocada pela parte. O direito de ação permanece latente, mesmo depois de proferida a
sentença (...).Definitivas são as sentenças 'que decidem o mérito da causa, no todo ou em
parte'. Apresentam à parte a prestação jurisdicional postulada e, de tal sorte, extinguem o
direito de ação, no pertinente ao acertamento pretendido pela parte. Como a resolução do
mérito da causa pode ser fracionada, não se deve considerar sentença senão o julgamento
que completa o acertamento em torno do objeto do processo. As soluções incidentais de
fragmentos do mérito são decisões interlocutórias (art. 203, § 2.º), ainda quando versem
sobre questões de direito material. Sentença, realmente, só ocorre quando, no primeiro
grau de jurisdição, o juiz conclui a fase cognitiva do processo. O novo Código corrigiu a
incorreção da legislação anterior e qualificou a sentença de forma objetiva, sem se
importar com o seu conteúdo, que tanto pode referir-se ao mérito, como a preliminares
processuais. Não é, pois, o conteúdo que qualifica a decisão como sentença, mas, sim, o
fato de ela extinguir ou não o processo ou uma de suas fases. Entretanto, essa unidade
conceitual não impede que, no plano da eficácia, se encontre tratamento legal
diferenciado para uma e outra modalidade sentencial. Por exemplo, só as sentenças
definitivas se revestem da autoridade da coisa julgada material, tornando impossível a
rediscussão judicial sobre a mesma causa (art. 502). As sentenças terminativas só
produzem efeitos dentro do processo, de modo que não vedam às partes voltar a discutir o
litígio em outro processo (art. 486). Ainda no plano dos efeitos, somente a sentença de
mérito tem a força de produzir a hipoteca judicial (art. 495). Procedeu o legislador, porém,
a uma salutar unificação em matéria recursal, de maneira que, de toda sentença (seja
definitiva ou terminativa), o recurso será sempre de apelação (art. 1.009)".
·                  Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero (Novo
Código..., p. 494). Para esses autores, "existindo precedente constitucional ou precedente
federal sobre o caso debatido em juízo, a fidelidade ao direito constitui fidelidade ao
precedente. Daí que a ausência de efetivo enfrentamento - mediante a demonstração de
distinção - pelo juízo de precedente invocado pela parte constitui omissão relevante na
redação da fundamentação. Existindo precedente invocado pela parte, esse deve ser
analisado pelo juízo. Se disser efetivamente respeito à controvérsia examinada em juízo,
deve ser adotado como razão de decidir. Se não, a distinção entre o caso precedente e caso
concreto deve ser declinada na fundamentação. A ausência de efetivo enfrentamento do
precedente constitui violação do dever de fundamentação (art. 489, § 1.º, VI, CPC)".
·                  Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery (Comentários..., p. 1.154), a
respeito da fundamentação, afirmam que "todas as possibilidades de configuração de
fundamentação inexistente ou insuficiente previstas neste parágrafo convergem para
duas situações genéricas: (i) generalidade ou 'vazio' do texto constante da fundamentação,
que abarca os incisos I, II, III, V e VI; (ii) falta de enfrentamento de todos os argumentos
que poderiam contrariar a decisão tomada pelo juiz, situação prevista no inciso IV. É
preciso, todavia, cuidado na verificação das situações incluídas no grupo (i), pois por vezes
a mera indicação de um dispositivo legal ou de uma súmula pode ser suficiente para
fundamentar a argumentação. É muito difícil indicar critérios objetivos de
fundamentação sem a análise de cada caso concreto, portanto; o mais importante talvez
seja ressaltar a clareza no desenvolvimento da argumentação pelo juiz, e isso não se faz
mediante a normatização do que seria ou não fundamentação inexistente/insuficiente,
mas mediante o desenvolvimento pessoal do próprio juiz, que deve ter entre as qualidades
exigidas para o exercício da profissão o domínio da linguagem e da construção de texto. A
existência ou não de fundamentação é, portanto, muito mais fluida e subjetiva do que a
simples indicação legal pode fazer crer. Vale chamar a atenção, em especial, para o inciso
III deste parágrafo: como conceituar 'motivos que se prestariam a justificar qualquer
outra decisão judicial'? As normas constitucionais, por exemplo, podem ser utilizadas para
justificar uma gama variada de decisões, independentemente mesmo da área do direito a
que se relacionam - e utilizá-las como justificativa de uma decisão não poderia ser
considerado falha de fundamentação, sob pena de se negar vigência à própria
Constituição. A jurisprudência terá, portanto, de dar contornos mais fluidos a esses
dispositivos, até mesmo em razão da própria subjetividade que cerca o assunto".
·                  José Roberto dos Santos Bedaque (Breves..., p. 1.224) indaga "qual o prejuízo
causado pela falha formal? Ao invés de pura e simplesmente concluir-se pela incidência
do art. 485, é preciso indagar se, não obstante o vício processual, não é possível a solução
do litígio sem ofensa às garantias processuais das partes e aos valores considerados
relevantes pelo sistema. Muitas vezes o risco representado pela falta do pressuposto não
se consumou, pois naquela situação concreta, o interesse a ser preservado pelo requisito
formal permaneceu incólume. Isto é, não se verificou o prejuízo temido pela não
observância da exigência processual. Mais importante que o iudicium é encontrar a
solução adequada à res in iudicium deducta. Concebe-se o instrumento na suposição de
que ele servirá melhor ao seu fim se observadas determinadas regras. Mas se, apesar de
não atendida alguma, verificar-se a possibilidade de o resultado coincidir com o escopo,
desconsidera-se a irregularidade e subordina-se a forma à finalidade. Ora, se o processo já
existe, resta saber se a decisão de mérito é possível. E, para solução dessa questão,
necessário ponderar que muitas vezes, em razão de outros princípios, a ausência do
requisito processual não deve constituir óbice ao julgamento da pretensão".
Enunciados do FPPC
N. 7. (Arts. 85, § 18, e 1.013, § 3.º, III, CPC/2015) O pedido, quando omitido em decisão
judicial transitada em julgado, pode ser objeto de ação autônoma.
N. 8. (Arts. 85, § 18, e 1.013, § 3.º, III, CPC/2015) Fica superado o enunciado 453 da
súmula do STJ após a entrada em vigor do CPC ("Os honorários sucumbenciais, quando
omitidos em decisão transitada em julgado, não podem ser cobrados em execução ou em
ação própria").
N. 19. (Art. 190, CPC/2015) São admissíveis os seguintes negócios processuais, dentre
outros: pacto de impenhorabilidade, acordo de ampliação de prazos das partes de
qualquer natureza, acordo de rateio de despesas processuais, dispensa consensual de
assistente técnico, acordo para retirar o efeito suspensivo de recurso, acordo para não
promover execução provisória; pacto de mediação ou conciliação extrajudicial prévia
obrigatória, inclusive com a correlata previsão de exclusão da audiência de conciliação ou
de mediação prevista no art. 334; pacto de exclusão contratual da audiência de conciliação
ou de mediação prevista no art. 334; pacto de disponibilização prévia de documentação
(pacto de disclosure), inclusive com estipulação de sanção negocial, sem prejuízo de
medidas coercitivas, mandamentais, sub-rogatórias ou indutivas; previsão de meios
alternativos de comunicação das partes entre si; acordo de produção antecipada de prova;
a escolha consensual de depositário-administrador no caso do art. 866; convenção que
permita a presença da parte contrária no decorrer da colheita de depoimento pessoal.
N. 122. (Art. 129, CPC/2015) Vencido o denunciante na ação principal e não tendo
havido resistência à denunciação da lide, não cabe a condenação do denunciado nas
verbas de sucumbência.        
N. 140. (Art. 296, CPC/2015) A decisão que julga improcedente o pedido final gera a
perda de eficácia da tutela antecipada.
N. 160. (Art. 487, I, CPC/2015) A sentença que reconhece a extinção da obrigação

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