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Análise do Contrato em 'O Mercador de Veneza'

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAMETRO - CAMPUS MARACANAÚ
CURSO DE DIREITO
DIREITO PROCESSUAL CIVIL II
DOCENTE: Ms. JACKSON DNAJA NOBRE FIGUEIREDO
FRANCISCO HERMISON MONTEIRO DO VALEi - MATRÍCULA: 2021221271
ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA - APS
ANÁLISE DO PROBLEMA RELACIONADO A EXECUÇÃO NA OBRA LITERÁRIA “O
MERCADOR DE VENEZA” DE WILLIAM SHAKESPEARE: UMA ABORDAGEM ACADÊMICA
MARACANAÚ-CE
ABRIL/2024
Em meio à vibrante Veneza renascentista, a obra de William Shakespeare, "O Mercador de
Veneza", nos presenteia com uma narrativa envolvente e personagens memoráveis, tecendo uma
complexa teia de dilemas morais e jurídicos que transcendem os limites do mero entretenimento. A
peça nos convida a uma profunda reflexão sobre os pilares da justiça, da misericórdia e da própria
natureza da lei.
No centro da trama, encontramos o famoso contrato firmado entre o usurário Shylock e o
mercador Antônio. Em ummomento de extrema necessidade para auxiliar o amigo Bassânio, Antônio
recorre a Shylock em busca de um empréstimo. A fim de garantir o pagamento da dívida, Antônio
concorda com uma cláusula peculiar: caso não consiga saldar o débito em três meses, Shylock terá
o direito de remover uma libra de sua carne.
UMCONTRATO EIVADO
DE TENSÕES E AMBIGUIDADES
Essa cláusula, carregada de simbolismo e crueldade, torna-se o epicentro da peça, expondo
as profundas tensões entre o judaísmo e o cristianismo na Veneza da época. Shylock, marginalizado
pela sociedade e vítima de constantes humilhações por parte de Antônio, busca neste contrato a
oportunidade de saciar sua sede de vingança.
Do ponto de vista jurídico, o contrato entre Shylock e Antônio apresenta diversos aspectos
problemáticos que merecem ser cuidadosamente analisados:
VALIDADE DO
CONSENTIMENTO
É questionável se Antônio, sob extrema pressão e necessidade financeira e em absoluto
estado de vulnerabilidade, agiu com total discernimento ao aceitar os termos do contrato. A coerção
e a assimetria de poder entre as partes lançam dúvidas sobre a validade do acordo, levantando
questões sobre a autonomia da vontade e a proteção contra contratos abusivos.
A PENA E SUA
DESPROPORCIONALIDADE
A pena de ter uma libra de carne retirada do corpo configura-se como um castigo cruel e
desumano, violando princípios básicos da justiça e da proporcionalidade. A lei deveria servir como
instrumento de proteção da vida e da integridade física do indivíduo, mesmo em situações de
inadimplência. A desproporcionalidade da pena evoca a reflexão sobre os limites do poder punitivo
e a necessidade de sanções justas e adequadas à gravidade do delito.
DISCRIMINAÇÃO DE
FUNDAMENTAÇÃO RELIGIOSA
O contrato reflete o preconceito religioso da época, colocando Shylock, o judeu, em posição
de desvantagem e alimentando a animosidade entre as comunidades. A lei deveria ser imparcial e
garantir igualdade de tratamento a todos, independentemente de crenças ou origens. A peça
evidencia os perigos da intolerância e nos convida a refletir sobre a importância de defender a
liberdade de crença e a igualdade perante a lei.
O JULGAMENTO: UMA BATALHA PELA
JUSTIÇA TEMPERADA COM PITADAS DEMISERICÓRDIA
No clímax da peça, Shylock comparece ao tribunal para exigir o cumprimento do contrato.
Diante da recusa de Antônio em pagar a dívida, Shylock insiste em seu direito à libra de carne,
demonstrando inflexibilidade e sede de vingança. Sua postura inflexível levanta questões sobre os
limites da justiça retributiva e a importância da misericórdia na resolução de conflitos.
É neste momento que Pórcia, disfarçada de advogado, intervém de forma brilhante,
utilizando sua inteligência e perspicácia para explorar as ambiguidades do texto contratual e
questionar a legitimidade das cláusulas do contrato. Através de uma argumentação impecável,
Pórcia consegue salvar Antônio da morte, expondo a injustiça do contrato e defendendo os princípios
da misericórdia e da justiça.
A atuação de Pórcia na corte demonstra o poder da razão e da boa argumentação jurídica
para defender direitos e valores humanitários, combatendo injustiças. A peça nos convida a refletir
sobre a importância de uma justiça que não se limita à aplicação estrita da lei, mas que também leva
em consideração a equidade, a compaixão e a busca por soluções justas e satisfatórias para todas
as partes envolvidas.
UM LEGADO DE REFLEXÕES
EQUESTIONAMENTOS ATEMPORAIS
"O Mercador de Veneza" transcende os limites do teatro e se consagra como uma obra
atemporal que continua a gerar debates e reflexões até hoje. Através da narrativa envolvente e dos
personagens marcantes, Shakespeare nos convida a questionar e refletir sobre:
A LEI E
SEUS LIMITES
i http://lattes.cnpq.br/8876247107820297
Até que ponto a lei deve ser aplicada de forma inflexível, mesmo quando seus resultados
forem considerados injustos ou desumanos? A peça levanta o debate sobre a importância da
interpretação judicial e da busca pela aplicação da lei com base em princípios humanísticos.
A RELAÇÃO
ENTRE DIREITO E MORAL
Em algumas situações, a lei pode ser fria e impessoal. A peça lança o questionamento se o
direito deve sempre prevalecer sobre a moral, ou se há espaço para a consideração de valores éticos
na tomada de decisões jurídicas.
A IMPORTÂNCIA DA
IGUALDADE PERANTE A LEI
"OMercador de Veneza" expõe os perigos da discriminação e da intolerância. A peça expõe
a necessidade imperiosa da defesa do ideal de uma sociedade onde todos os indivíduos sejam
tratados com igualdade e tenham seus direitos garantidos, independentemente de religião, etnia ou
origem social.
ALÉM DO JURÍDICO:
UMAQUESTÃO DEHUMANIDADE
"OMercador de Veneza" não se esgota na análise jurídica do contrato. A peça é, sobretudo,
um convite à reflexão sobre a própria condição humana. Shakespeare nos confronta com dilemas
morais universais, tais como a busca pela vingança versus o poder do perdão, a rigidez da lei versus
a compaixão pela dor e a necessidade do outro.
Através do embate entre Shylock e Antônio, somos convidados a refletir sobre a importância
da empatia e da compreensão do outro. A peça nos leva a questionar se a justiça pode ser alcançada
somente pela aplicação fria da lei, ou se a misericórdia e a capacidade de perdoar também
desempenham um papel fundamental na construção de uma sociedade mais justa e humana.
"O Mercador de Veneza" continua a ser uma obra relevante e oportuna nos dias de hoje.
Ao explorar os meandros do direito e da moral, a peça nos presenteia com questionamentos
atemporais que nos convidam a refletir sobe uma sociedade baseada na justiça, na tolerância e no
respeito pela dignidade humana.

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