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www.cers.com.br MINISTÉRIO PÚBLICO E MAGISTRATURA ESTADUAL Direito Constitucional – Aula 01 Robério Nunes 1 CONSTITUCIONALISMO. Constitucionalismo (síntese): Movimento histórico-cultural de natureza jurídica, po- lítica, filosófica e social, com vistas à limitação do po- der e à garantia dos direitos, que levou à adoção de constituições pela maioria dos Estados, especial- mente no que concerne à constituição formal (es- crita). CONSTITUCIONALISMO. “Fases” do constitucionalismo: Constitucionalismo na antiguidade clássica; Constitucionalismo antigo (Séc. XIII ao final do Séc. XVIII); Constitucionalismo moderno (a partir do final do Séc. XVIII); Constitucionalismo liberal (do final do Séc. XVIII ao início do Séc. XX); Constitucionalismo social (desde o início do Séc. XX); Constitucionalismo contemporâneo ou Neoconstitu- cionalismo (desde meados do Séc. XX – pós II GG). Constitucionalismo. Constitucionalismo na antiguidade clássica: - Hebreu; - Grego; e - Romano. CONSTITUCIONALISMO. Marcos importantes: Início do Constitucionalismo antigo: Séc. XIII: Magna Carta (1215). Fim do Constitucionalismo antigo e início do Cons- titucionalismo moderno: Séc. XVIII: Constituições Americana (1787) e Fran- cesa (1791). CONSTITUCIONALISMO Movimentos constitucionais decisivos para formatar a ideia de constituição em sentido moderno: - Constitucionalismo inglês; - Constitucionalismo norte-americano; e - Constitucionalismo francês. CONSTITUCIONALISMO. Constitucionalismo inglês (historicista) Principais documentos históricos: - Magna Charta – 1215; - Petition of Rights – 1628; - Habeas Corpus Act – 1679; e - Bill of Rights – 1689. CONSTITUCIONALISMO. Constitucionalismo norte-americano (estadualista) Principais documentos históricos: - Pacto do Mayflower; - Declaração da Virgínia de 12/06/1776; - Declaração de independência de 04/07/1776; - Constituição de 1787; - Bill of Rights (10 primeiras emendas) de 1791. CONSTITUCIONALISMO. Constitucionalismo francês (individualista) Principais documentos históricos: - Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789; - Constituição Francesa de 1791; - Constituição Francesa de 1793; e - Constituição Francesa de 1799. CONSTITUCIONALISMO. Formatação teórica do Poder Constituinte: - “Qu’est-ce que le Tiers État?” (“O que é o Ter- ceiro Estado” ou “A Constituinte Burguesa”) - Emmanuel Joseph Sieyès. - O Poder Constituinte é o poder originário que pertence à Nação, capaz de criar, de maneira au- tônoma e independente, a constituição escrita. - Distinção entre Poder Constituinte e Poderes Constituídos. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO Prof. José Afonso da Silva: Constituição é o “sistema de normas jurídicas, escri- tas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o exer- cício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os www.cers.com.br MINISTÉRIO PÚBLICO E MAGISTRATURA ESTADUAL Direito Constitucional – Aula 01 Robério Nunes 2 limites de sua ação, os direitos fundamentais do ho- mem e as respectivas garantias. Em síntese, a cons- tituição é o conjunto de normas que organiza os ele- mentos constitutivos do Estado”. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO O entendimento sobre o que é uma constituição pode variar conforme a concepção que se adote: - Concepção sociológica; - Concepção jurídica; e - Concepção política. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO. Concepção sociológica - Ferdinand Lassalle. - “A Essência da Constituição”. - A Constituição escrita é apenas uma “folha de papel”. - A verdadeira constituição de um Estado é a soma dos fatores reais do poder, que preva- lece em caso de colisão com a “folha de papel”. - CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO. Art. 192, § 3º da CF/88 (redação original, anterior à EC 40/2003): “As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indireta- mente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar.” Conceito de Constituição. - Concepção jurídica - Hans Kelsen. - “Teoria Pura do Direito”. A constituição: - possui supremacia hierárquica formal; - é o fundamento de validade das demais nor- mas jurídicas inferiores; e - é norma pura, puro dever-ser, dissociada de qualquer fundamento sociológico, político ou filo- sófico. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO. - Concepção jurídica - Sentidos de Constituição (Kelsen) Sentido jurídico-positivo Sentido Lógico-jurídico CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO. Concepção política - Carl Schmitt. - “Teoria da Constituição”. - A constituição é a decisão política fundamental do titular do poder constituinte. - Há diferença entre constituição e lei constitu- cional. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO Concepção política “Constituição” (decisão política fundamental, de- corrente de um ato de vontade do constituinte): “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrá- tico de Direito e tem como fundamentos: (...)” CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO. Concepção política “Lei constitucional” (não diz respeito a uma decisão política fundamental, mas está escrito na constitui- ção): “Art. 242. § 2º - O Colégio Pedro II, localizado na ci- dade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita fede- ral.” CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO Algumas outras teorias: - Concepção culturalista (J. H. Meirelles Teixeira); - A Força Normativa da Constituição (Konrad Hesse); - A Constituição como um processo público – A Constituição Aberta (Peter Häberle); - A Teoria da Constituição Dirigente; e - A Constitucionalização simbólica (Marcelo Ne- ves). www.cers.com.br MINISTÉRIO PÚBLICO E MAGISTRATURA ESTADUAL Direito Constitucional – Aula 01 Robério Nunes 3 CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO. Concepção culturalista - J. H. Meirelles Teixeira - “Curso de Direito Constitucional”. - A Constituição, como invenção humana, é re- sultado da cultura, e, ao mesmo tempo, nela interfere. - A constituição total é um objeto cultural que, em uma perspectiva unitária, abrange aspec- tos sociológicos, jurídicos, políticos, filosófi- cos e econômicos. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO. A Força Normativa da Constituição - Konrad Hesse. - “A Força Normativa da Constituição”. - “A Constituição jurídica não configura apenas a expressão de uma dada realidade. Graças ao elemento normativo, ela ordena e conforma a realidade política e social” (Konrad Hesse). - CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO. A Constituição como um processo público - Peter Häberle. - “Constituição como processo público”; “A socie- dade aberta dos intérpretes da constituição”. - A verdadeira Constituição é o resultado (tempo- rário) de um processo de intepretação aberto, historicamente condicionado e conduzido à luz da publicidade. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO. A Teoria da Constituição Dirigente - J.J. Gomes Canotilho. - “Constituição Dirigente e Vinculação do Legisla- dor”. - A Constituição dirige a atuação do Estado e de seus agentes, por meio de programas de ação, para concretizar determinados objetivos e fina- lidades. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO. Constitucionalização Simbólica - Marcelo Neves - “A Constitucionalização Simbólica”. - A atividade legislativa, inclusivea constituinte, pode possuir uma natureza eminentemente sim- bólica, visando atender objetivos políticos di- versos da produção de normas jurídicas, dando origem a uma legislação simbólica ou a uma constituição simbólica. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. Divisão clássica: a) Constituição em sentido material b) Constituição em sentido formal CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO Quanto à forma: a) Constituição escrita (dogmática, instrumental) b) Constituição não escrita (costumeira, consuetudi- nária, histórica) CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. A constituição escrita pode ser: - Codificada (reduzida, unitária, orgânica) – con- tida em um único texto. - Não codificada (legal, variada, inorgânica) – contida em mais de um texto. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO Normas escritas com natureza constitucional que estão fora do catálogo principal da CF/88: 1) Tratados internacionais de direitos humanos aprovados na forma do art. 5º, § 3º, equivalentes às emendas: Convenção Internacional sobre os Direitos das Pes- soas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, as- sinados em Nova York, em 30 de março de 2007. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. Normas escritas com natureza constitucional que estão fora do catálogo principal da CF/88: 2) Normas elaboradas pelo poder de reforma que não se integram ao texto principal da CF/88, per- manecendo no bojo das emendas de forma autô- noma. Por exemplo: www.cers.com.br MINISTÉRIO PÚBLICO E MAGISTRATURA ESTADUAL Direito Constitucional – Aula 01 Robério Nunes 4 EC 32/2001: “Art. 2º As medidas provisórias editadas em data anterior à da publicação desta emenda con- tinuam em vigor até que medida provisória ulterior as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso Nacional.” CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. CF/88: Art. 5º. (...) § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorren- tes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO Elementos da Constituição inglesa: 1) Statute Law – Estatutos, leis escritas do Parla- mento, sobre matéria constitucional; 2) Decisões judiciais que incorporam costumes (common law), inclusive o parlamentar (parliamen- tary custom), ou que interpretam leis do parlamento (cases law); CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. Elementos da Constituição inglesa: 3) Convenções Constitucionais (constitutional con- ventions) – acordos parlamentares políticos não-es- critos, que cuidam de matéria constitucional. São obrigatórios, tradicionais, e sua alteração é muito di- fícil. Não há possibilidade de controle judicial; e 4) Tratados Internacionais incorporados. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. Quanto à origem ou positivação: a) Constituição democrática (promulgada, popular) b) Constituição não democrática (outorgada, im- posta) c) Constituição cesarista (plebiscitária) d) Constituição pactuada (contratual) CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. Quanto à estabilidade (ou alterabilidade, ou mutabili- dade, ou consistência) a) Constituição rígida; b) Constituição flexível; c) Constituição semirrígida; d) Constituição transitoriamente flexível; e) Constituição fixa; f) Constituição imutável; e g) Constituição super-rígida. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO a) Constituição rígida (todas as brasileiras, exceto a de 1824) - Sua alteração formal ocorre por um pro- cesso distinto e mais difícil do que o processo de elaboração da lei comum: Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros. Art. 69. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO a) Constituição rígida (todas as brasileiras, exceto a de 1824) - Sua alteração formal ocorre por um pro- cesso distinto e mais difícil do que o processo de elaboração da lei comum: Art. 60. § 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. b) Constituição flexível – Sua alteração ocorre pelo mesmo processo da elaboração da lei comum: - Constituição inglesa (não escrita) – Soberania do Parlamento (Statute Law). - Estatuto do Império da Itália de 1848. - Constituição Soviética de 1924. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO c) Constituição semirrígida: Constituição Imperial do Brasil (1824): “Art. 178. É só Constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições respectivas dos Poderes Políti- cos, e aos Direitos Políticos e individuais dos cida- dãos. Tudo o que não é Constitucional, pode ser alterado sem as formalidades referidas, pelas le- gislaturas ordinárias.” www.cers.com.br MINISTÉRIO PÚBLICO E MAGISTRATURA ESTADUAL Direito Constitucional – Aula 01 Robério Nunes 5 CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO d) Constituição transitoriamente flexível É a flexível por algum tempo, findo o qual se torna rígida (Uadi Bulos): Ex: Constituição de Baden de 1947 e da Irlanda de 1937, flexíveis durante os três primeiros anos de vi- gência. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO e) Constituição fixa (silenciosa) É aquela que nada prevê sobre sua mudança formal, sendo alterável somente pelo próprio poder originário (Kildare Gonçalves). Exemplos: - Estatuto do Reino da Sardenha, de 1848; - Carta Espanhola de 1876. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO f) Constituição imutável (permanente, granítica, into- cável) É a que se pretende eterna, fundando-se na crença de que não haveria órgão competente para proceder à sua reforma. Pode estar relacionada a fundamen- tos religiosos. Os exemplos são os mesmos da Constituição fixa. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO g) Constituição super-rígida Segundo essa classificação trazida pelo Prof. Ale- xandre de Moraes, é a constituição rígida que possui um núcleo imutável (as cláusulas pétreas). CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO Quanto à dogmática (Pinto Ferreira) a) Constituição ortodoxa – influenciada por uma única ideologia (Constituição soviética de 1977). b) Constituição eclética (compromissória) – influ- enciada por várias ideologias, normalmente em uma linha conciliatória, de compromisso entre várias for- ças políticas, como a CF/88. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO Quanto à extensão a) Constituição concisa (breve, sumária, sucinta, básica, sintética) - Trata somente dos princípios fun- damentais e da estrutura do Estado, não desce a mi- núcias. É mais estável. Ex: Constituição norte-ameri- cana de 1787; CF 1891 (Pinto Ferreira). CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. Quanto à extensão b) Constituição prolixa (analítica, longa, volumosa, in- chada, ampla, extensa, desenvolvida, larga, expan- siva). Veicula muitos temas e entra em detalhes que poderiam ser tratados por leis comuns, ordinárias. Normalmente necessita de mudanças muito rapida- mente. Ex: CF/88. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. Quanto à finalidade a) constituição garantia (constituição negativa, abs- tencionista) – busca apenas garantir liberdades e li- mitar o poder. Ex: EUA de 1787. b) Constituição dirigente (analítica, programática) – estabelece um projeto de Estado para o futuro. Ex: CF/88. c) Constituição balanço – descreve e registra a or- ganização política atual, estabelecida. Ex: constitui- ções soviéticas. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO.Classificação ontológica (Karl Loewenstein) a) Constituição normativa; b) Constituição nominal (nominalista); e c) Constituição semântica. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO Quanto ao sistema: a) Principiológica – predominam princípios b) Preceitual – predominam as regras Bons Estudos !! Facebook: www.facebook.com/prof.roberionunes Instagram: prof.roberionunes
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