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Lirismo e Sátira na Literatura Brasileira I

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LITERATURA BRASILEIRA I
Aula 9 -Gonzaga, Santa Rita Durão e Silva Alvarenga: lirismo e sátira
Aula 9 -Gonzaga, Santa Rita Durão e Silva Alvarenga: lirismo e sátira
AULA 9 
LITERATURA BRASILEIRA I
Conteúdo Programático desta aula
a poética e a sátira de Tomás Antônio Gonzaga;
as poesias de Santa Rita Durão e Silva Alvarenga.
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 Tomás Antônio Gonzaga nasceu em Portugal, cresceu na Bahia e floresceu como poeta em Minas Gerais , de 1872 a 1882. Sua poesia confere aos caracteres arcádicos sentimentos universais com rara habilidade rítmica e melódica, constituindo os mais belos poemas de amor da nossa literatura.
Sua obra avulta em nosso Arcadismo e nele se inscreve como manifestação de individualidade que excede os parâmetros do período. Marília de Dirceu, publicada em 1792 e 1799, e Cartas Chilenas, 1863.
 A obra Marília de Dirceu é composta de três partes, que reúnem 33 liras na primeira, 38 na segunda e 9 na terceira, além de sonetos. 
 
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 https://www.youtube.com/watch?v=-nFgjzQFx_E
Marilia de Dirceu_Programa Retratos_1.o Bloco
8:01
 
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“O tema Marília é modulado por ele com certa amplitude. Temos desde uma presença física concretamente sentida, até uma vaga pastorinha incaracterística, mero pretexto poético (...).Na medida em que é objeto de poesia, Dorotéia de Seixas vai-se tornando cada vez mais um tema.(...) Dorotéia se desindividualizou para ser absorvida na convenção arcádica: é a pastora Marília, objeto ideal de poesia, sem existência concreta. Por isso mesmo, ora é loura, ora morena; ora compassiva, ora cruel: em qualquer caso, sem nervo nem sangue. É uma estatueta de porcelana ...”(p.19-121)
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Lira I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, de expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!
 
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Eu vi o meu semblante numa fonte, Dos anos inda não está cortado: Os pastores, que habitam este monte, Respeitam o poder do meu cajado: Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja até me tem o próprio Alceste: Ao som dela concerto a voz celeste; Nem canto letra, que não seja minha, Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! 
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“A delegação poética (...) não perturba aqui a emergência do lirismo pessoal: Gonzaga surge, vivo, sob o tênue disfarce do pastor Dirceu, e a sua obra é a única, entre as dos árcades, que permite acompanhar um drama pessoal e as linhas duma biografia. O impacto emocional sobre o leitor aumenta graças a este degelo do eu, sem o qual não irrompe o autêntico lirismo individual.” (CANDIDO, A. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2007. p.95)
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Lira IX
“Se existe um peito, Que isento viva Da chama ativa, Que acende Amor; Ah! Não habite Neste montado, Fuja apressado Do vil traidor. Corra, que o ímpio Aqui se esconde, Não sei aonde; Mas sei que o vi. Traz novas setas, Arco robusto; Tremi de susto, Em vão fugi. 
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“(...)
Se a seta falta, Tem outra pronta, Que a dura ponta Jamais torceu. Ninguém resiste Aos golpes dela: Marília bela Foi quem lha deu. Ah! Não sustente Dura peleja O que deseja Ser vencedor. Fuja, e não olhe, Que só fugindo De um rosto lindo Se vence Amor.”
 
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 Lira XV
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs, e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal, e o manso gado,
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.
 
Para ter que te dar, é que eu queria
De mor rebanho ainda ser o dono;
Prezava o teu semblante, os teus cabelos
Ainda muito mais que um grande Trono.
Agora que te oferte já não vejo
Além de um puro amor, de um são desejo.
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Se o rio levantado me causava,
Levando a sementeira, prejuízo,
Eu alegre ficava apenas via
Na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
De ver-te aos menos compassivo o rosto.
 
Propunha-me dormir no teu regaço
As quentes horas da comprida sesta,
Escrever teus louvores nos olmeiros,
Toucar-te de papoulas na floresta.
Julgou o justo Céu, que não convinha
Que a tanto grau subisse a glória minha.
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Ah! minha Bela, se a Fortuna volta,
Se o bem, que já perdi, alcanço, e provo;
Por essas brancas mãos, por essas faces
Te juro renascer um homem novo;
Romper a nuvem, que os meus olhos cerra,
Amar no Céu a Jove, e a ti na terra.
 
Fiadas comprarei as ovelhinhas,
Que pagarei dos poucos do meu ganho;
E dentro em pouco tempo nos veremos
Senhores outra vez de um bom rebanho.
Para o contágio lhe não dar, sobeja
Que as afague Marília, ou só que as veja.
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Se não tivermos lãs, e peles finas,
Podem mui bem cobrir as carnes nossas
As peles dos cordeiros mal curtidas,
E os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mão cosido.
 
Nós iremos pescar na quente sesta
Com canas, e com cestos os peixinhos:
Nós iremos caçar nas manhãs frias
Com a vara envisgada os passarinhos.
Para nos divertir faremos quanto
Reputa o varão sábio, honesto e santo.
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Nas noites de serão nos sentaremos
C’os filhos, se os tivermos, à fogueira;
Entre as falsas histórias, que contares,
Lhes contarás a minha verdadeira.
Pasmados te ouvirão; eu entretanto
Ainda o rosto banharei de pranto.
 
Quando passarmos juntos pela rua,
Nos mostrarão c’o dedo os mais Pastores;
Dizendo uns para os outros: “Olha os nosso
“Exemplos da desgraça, e são amores”.
Contentes viveremos desta sorte,
Até que chegue a um dos dois a morte.
(http://www.dominiopublico.gov.br)
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A sátira em Cartas Chilenas
 
No mesmo período em que foi publicada a primeira parte de Marília de Dirceu, aparecem, em Vila Rica, Cartas assinadas por Critilo. Trata-se de doze cartas dirigidas a Doroteu.
Seu conteúdo é uma sátira ao Governador Luís da Cunha Meneses, que recebeu a alcunha de Fanfarrão Minésio, da cidade de Santiago do Chile. 
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Leia um trecho da Primeira Carta:
“Escuta a história de um moderno chefe.
Que acaba de reger a nossa Chile,
Ilustre imitador a Sancho Pança.
E quem dissera, amigo, que podia
 Gerar segundo Sancho a nossa Espanha!
Não penses,
Doroteu, que vou contar-te
Por verdadeira história uma novela
Da classe das patranhas, que nos contam
Verbosos navegantes, que já deram
Ao globo deste mundo volta inteira.
Uma velha madrasta me persiga,
Uma mulher zelosa me atormente,
E tenha um bando de gatunos filhos,
Que um chavo não me deixem, se este chefe
Não fez ainda mais do que eu refiro.”
(http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000293.pdf)
 
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Santa Rita Durão- Caramuru
 
A obra Caramuru, de Frei José de Santa Rita Durão, A obra foi publicada em 1781. O poema é estruturado em 10 cantos, versos decassílabos e utiliza a oitava rima, nos moldes da epopeia camoniana. Conta os feitos heroicos do português Diogo Álvares e seu encontro com os tupinambás, na costa da Bahia, quando sofreu um naufrágio. 
https://www.youtube.com/watch?v=uyeWc6yQFzg
Obra Rara - "Caramuru: poema épico do descobrimento da Bahia“ 1:06 
 
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Conta a lenda que Diogo, para defender-se dos índios, havia disparado um tiro com sua arma de fogo. Segundo o autor, esse feito teria lhe rendido a alcunha, que significaria “filho do trovão”. Hoje, há estudos que contestam o significado, pois entendem que Caramuru seria uma referência ao local de onde provinha o português; sendo assim um apelido dado por seus conterrâneos. 
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 I 
“De um varão em mil casos agitado, 
Que as praias discorrendo do Ocidente, 
Descobriu o Recôncavo afamado 
Da capital brasílica potente: 
Do Filho do Trovão denominado, 
Que o peito domar soube à fera gente; 
O valor cantarei na adversa sorte, 
Pois só conheço herói quem nela é forte.” 
(http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000099.pdf)
 
 
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	“Domando a “fera gente” e as próprias paixões, Diogo é misto de colono português e missionário jesuíta, síntese que não convence os conhecedores da história, mas que dá a medida justa dos valores de Frei José de Santa Rita Durão. Na medida em que o herói encarna, aliás ossifica tais valores, ele se enrijece e acaba perdendo toda capacidade de ativar a trama épica.” (BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira.São Paulo: Cultrix,1994. p.70)
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 Silva Alvarenga: um elo com o Romantismo?
 Parte da crítica entende a obra de Manuel Inácio da Silva Alvarenga (Alcindo Palmireno), Glaura, como um “elo que prende os árcades e os românticos” ( Ronald de Carvalho). De fato, sua lírica extremamente musical, de fácil memorização e delicado campo semântico nos leva a aproximar as duas estéticas na obra do autor. Além disso, estão presentes referências à natureza brasileira, mencionando árvores como o cajueiro e a mangueira.
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O rondó foi uma forma poética muito praticada por Silva Alvarenga, e convem aproveitarmos a oportunidade para esclarecer a sua estrutura e sua história.
 Segundo Massaud Moisés, o rondó é um poema lírico de forma fixa, originário da França. A princípio consistia numa canção que acompanhava uma dança. O rondó português vingou o Arcadismo. 
 Sua estrutura é formada por uma quadra que se repete ao fim de oitavas ou de duas quadras. A quadra recorrente apresenta rima alternada. Geralmente o rondó se dispõe em oito quadras ou quatro oitavas. Utiliza, de preferência, o verso redondilho maior, ou septissílabo. ( Dicionário de termos literários.)
 
 
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O Beija-Flor - Rondó VII 
Deixo, ó Glaura, a triste lida Submergida em doce calma; E a minha alma ao bem se entrega, Que lhe nega o teu rigor.
 Neste bosque alegre e rindo Sou amante afortunado; E desejo ser mudado No mais lindo Beija-flor.
 Todo o corpo num instante Se atenua, exala e perde: É já de oiro, prata e verde A brilhante e nova cor.
 Deixo, ó Glaura, a triste lida Submergida em doce calma; E a minha alma ao bem se entrega, Que lhe nega o teu rigor. 
 
 
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Para finalizar:
Nessa aula conhecemos a obra de Tomás Antônio Gonzaga, Santa Rita Durão e Silva Alvarenga.
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