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ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 1 5. ESCOAMENTO SUPERFICIAL 5.1. Introdução O escoamento superficial corresponde ao segmento do ciclo hidrológico relacionado ao deslocamento das águas sobre a superfície do solo. O conhecimento deste processo é de fundamental importância para o projeto de obras de engenharia, pois a maioria dos estudos hidrológicos está ligada ao aproveitamento da água superficial e à proteção contra os fenômenos provocados pelo seu deslocamento (Pruski et al., 2003) Associado ao escoamento superficial, ocorre o transporte de partículas do solo que sofrem deposição somente quando a velocidade do escoamento superficial for reduzida. Além das partículas de solo em suspensão, o escoamento superficial transporta compostos químicos, matéria orgânica, sementes e defensivos agrícolas que, além de causarem prejuízos diretos à produção agropecuária, também poluem os cursos d’água. Em projetos de estruturas para o controle da erosão e de inundações são necessárias informações sobre o escoamento superficial. Para o manejo de bacias hidrográficas, quando o objetivo é reter ou armazenar a água, o conhecimento do volume ou da lâmina escoada é suficiente; porém, quando se pretende conduzir o excesso de água de um lugar para o outro, é mais importante o conhecimento da vazão escoada. 5.2. Fatores que interferem no escoamento superficial Todos os fatores que influenciam na infiltração interferem, também, no escoamento superficial resultante. Uma vez que estes fatores foram detalhados no capítulo anterior, não serão analisados no presente capítulo. Inúmeros outros fatores, que também influenciam o escoamento superficial, são descritos na seqüência. 5.2.1. Fatores agroclimáticos Os fatores agroclimáticos compreendem aqueles relativos ao tipo, uso e cobertura do solo e aqueles relacionados ao clima, representados pelas características da precipitação e pela evapotranspiração. O escoamento superficial tende a crescer com o aumento da intensidade e a duração da precipitação, a qual constitui a principal forma de entrada de água na bacia hidrográfica. A cobertura e os tipos de uso do solo, além de seus efeitos sobre as condições de infiltração da água no solo, exercem importante influência na interceptação da água advinda da precipitação. Quanto maior a porcentagem de cobertura vegetal e rugosidade da superfície do solo, menor a vazão e o volume de escoamento superficial. A evapotranspiração representa importante fator para retirada de água do solo. Portanto, quanto maior a evapotranspiração, menor será a umidade do solo quando da ocorrência de precipitação e, conseqüentemente, maior será a taxa de infiltração e menor o escoamento superficial. 5.2.2. Fatores fisiográficos Os fatores fisiográficos incluem basicamente as características físicas da bacia hidrográfica tais como área da bacia, declividade, forma, topografia, rede de drenagem e a presença de obras hidráulicas. Quanto maior a área e a declividade da bacia, maior deverá ser a vazão máxima de escoamento superficial que ocorrerá na seção de deságüe da bacia e quanto mais a forma da bacia aproximar-se do formato circular, mais rápida deverá ser a concentração do escoamento superficial e, conseqüentemente, maior deverá ser a sua vazão máxima. A topografia além de influenciar a velocidade de escoamento da água sobre o solo e, conseqüentemente a vazão de escoamento, interfere também na capacidade de armazenamento de água sobre a superfície, que reflete no volume total escoado, sendo as áreas mais declivosas geralmente com menor capacidade de armazenamento superficial do que as mais planas. ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 2 Redes de drenagem muito densas e ramificadas permitem a rápida concentração do escoamento superficial, favorecendo, conseqüentemente, a ocorrência de elevadas vazões sobre a superfície do solo. A presença de obras hidráulicas na bacia influencia o escoamento superficial de duas maneiras: enquanto as obras destinadas à drenagem ocasionam aumento da velocidade de escoamento da água, as obras destinadas à contenção do escoamento superficial resultam em redução da vazão máxima em uma bacia. 5.3. Grandezas Associadas ao Escoamento Superficial 5.3.1. Vazão (Q) Vazão é o volume de água que atravessa uma determinada seção transversal por unidade de tempo, sendo geralmente expressa em m3 s-1. A vazão máxima de escoamento superficial (Qmáx) representa importante parâmetro para os projetos de sistemas de drenagem, de obras para controle da erosão e de cheias. Para o adequado planejamento e manejo integrado de bacias hidrográficas torna-se fundamental o conhecimento das vazões máximas, médias e mínimas para as freqüências de interesse. 5.3.2. Coeficiente de escoamento superficial (C) Coeficiente de escoamento superficial é um fator adimensional que representa a relação entre a lâmina (ou volume) de água que escoa sobre a superfície do terreno (ES) e a lâmina (ou volume) total precipitado (PT), sendo expresso pela equação PT ESC = (5.1) 5.3.3. Tempo de concentração (tc) Tempo de concentração é o tempo que a água que cai no ponto mais remoto da bacia hidrográfica leva para atingir sua seção de deságüe, ou seja, é o tempo necessário (contado a partir do início da chuva) para que toda a bacia contribua com escoamento superficial na seção de deságue. 5.3.4. Período de retorno (T) Período de retorno é o período de tempo médio, expresso em anos, em que certo evento (no caso, uma determinada vazão) é igualado ou superado, pelo menos uma vez. 5.4. Estimativa do Escoamento Superficial 5.4.1. Método Racional O Método Racional tem a finalidade de determinar a vazão máxima de escoamento superficial a partir de dados de chuvas para pequenas bacias, cujas áreas variem entre 50 e 500 ha. A vazão máxima é expressa pela equação 360 A i C Q mmax = (5.2) em que Qmax – vazão máxima de escoamento superficial, m3 s-1; C – coeficiente de escoamento superficial, adimensional; im – intensidade máxima média de precipitação para uma duração igual ao tempo de concentração da bacia, mm h-1; e A – área da bacia de drenagem, ha. O método racional está fundamentado nos seguintes princípios básicos: ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 3 a) as precipitações deverão ter alta intensidade e curta duração, sendo a vazão máxima de escoamento superficial aquela que ocorre quando a duração da chuva for igual ao tempo de concentração (tc), situação em que toda a área da bacia deverá contribuir com escoamento superficial na seção de deságüe. Ao considerar esta igualdade, admite-se que a bacia é suficientemente pequena para que esta situação ocorra. Em pequenas bacias, a condição crítica acontece devido a chuvas convectivas, ou seja, de curta duração e grande intensidade. A consideração de chuvas com duração superior a tc causaria também a redução da vazão máxima, pois a tendência natural da intensidade da chuva é decrescer com o aumento da duração. b) a precipitação com duração igual a tc ocorre uniformemente em toda a bacia; c) dentro de um curto período de tempo, a variação na taxa de infiltração não deverá ser grande. d) utilização de um único coeficiente de escoamento superficial, estimado com base nas características da bacia. Como o método racional parte do princípio básico de que a vazão máxima, provocada por uma chuva de intensidade uniforme e constante, ocorre quando todas as partes da bacia contribuem simultaneamente com escoamento na seção de deságüe, a complexidade real do processo de escoamento superficial é ignorada, desprezando tanto o armazenamento de água na bacia quanto as variações da intensidade de precipitação e do coeficiente de escoamento superficial durante a precipitação. Outra limitação do método é que ele nãopermite caracterizar o volume de escoamento superficial produzido e a distribuição temporal das vazões, e sim a vazão de pico ou vazão máxima de escoamento superficial. O método racional foi desenvolvido para estimar vazões máximas de escoamento em pequenas bacias urbanas, cuja proporção de área impermeável é grande, ou seja, para condições em que o valor de C aproxima-se da unidade. A ampliação do uso do método racional para áreas agrícolas é mais apropriada para bacias que não excedem a 200 ha. Para grandes bacias, com longos tempos de concentração, a condição de regime permanente e a uniformidade da intensidade de precipitação assumidas são irreais, e consideráveis erros deverão ocorrer na estimativa da vazão. A seguir, será analisado, de forma individualizada, cada um dos fatores considerados no método racional, discutindo-se a sua importância e os cuidados a serem tomados na adequada escolha dos valores a fim de garantir a confiabilidade do método. 5.4.1.1. Área da bacia de drenagem (A) A área drenada é o parâmetro determinado mais precisamente. Normalmente, utilizam-se mapas impressos ou digitalizados e até mesmo fotografias aéreas para essa finalidade. 5.4.1.2. Coeficiente de escoamento superficial (C) Do volume precipitado sobre a bacia, apenas uma parte atinge a seção de deságüe sob a forma de escoamento superficial, uma vez que parte da água é interceptada, a outra preenche as depressões e uma outra infiltra no solo, umedecendo-o e abastecendo o lençol freático. O volume escoado representa, portanto, apenas uma parcela do volume precipitado, sendo a relação entre os dois denominada coeficiente de escoamento, como mostrado na equação 1. As quantidades interceptadas, armazenadas na superfície, infiltradas e escoadas podem variar consideravelmente de uma precipitação para outra e, conseqüentemente, o coeficiente de escoamento superficial. A percentagem da chuva convertida em escoamento superficial aumenta com o crescimento da intensidade e da duração da precipitação. Muitos são os procedimentos disponíveis para obtenção do valor de C, no entanto, a principal forma utilizada são as tabelas. Por intermédio delas, pode-se obter este valor a partir das condições típicas da área analisada. Os valores de C recomendados por Asce, citado por Goldenfum e Tucci (1996), para áreas agrícolas, são apresentados no Quadro 5.1. No Quadro 5.2 são mostrados os valores de C, adaptados do critério de Fruhling e utilizados pela Prefeitura de São Paulo (Wilken,1978). No Quadro 5.3 são exibidos os valores de C, recomendados pelo Colorado Highway Department e, no Quadro 5.4, aqueles recomendados pelo Soil Conservation Service - USDA. Quando há variação do coeficiente de escoamento superficial na bacia analisada, este poderá ser determinado pela seguinte equação: ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 4 A AC C n 1i ii∑ == (5.3) em que Ci – coeficiente de escoamento superficial para a subárea i, adimensional; Ai – subárea considerada, L2; e A – área total considerada, L2. Quadro 5.1. Valores de C para áreas agrícolas C Superfície Intervalo Valor esperado Asfalto 0,70 - 0,95 0,83 Concreto 0,80 - 0,95 0,88 Calçadas 0,75 - 0,85 0,80 Pavimento Telhado 0,75 - 0,95 0,85 Plano (2%) 0,05 - 0,10 0,08 Declividade média (2 a 7%) 0,10 - 0,15 0,13 Cobertura: grama em solo arenoso Declividade alta (7%) 0,15 - 0,20 0,18 Plano (2%) 0,13 - 0,17 0,15 Declividade média (2 a 7%) 0,18 - 0,22 0,20 Cobertura: grama em solo argiloso Declividade alta (7%) 0,25 - 0,35 0,30 Quadro 5.2. Valores de C adotados pela Prefeitura de São Paulo (Wilken,1978) Zonas C Edificações muito densas: áreas centrais, densamente construídas de uma cidade com ruas e calçadas pavimentadas 0,70 - 0,95 Edificações não muito densas: área adjacente ao centro, de menor densidade de habitantes, porém com ruas e calçadas pavimentadas 0,60 - 0,70 Edificações com pouca superfície livre: áreas residenciais com construções cerradas e ruas pavimentadas 0,50 - 0,60 Edificações com muitas superfícies livres: áreas residenciais com ruas macadamizadas ou pavimentadas 0,25 - 0,50 Subúrbios com alguma edificação: áreas de arrabaldes e subúrbios com pequena densidade de construção 0,10 - 0,25 Matas, parques e campo de esportes: áreas rurais, verdes, superfícies arborizadas, parques ajardinados e campos de esporte sem pavimentação 0,05 - 0,20 Quadro 5.3. Valores de C propostos pelo Colorado Highway Department Características da bacia C Superfícies impermeáveis 0,90 – 0,95 Terreno estéril montanhoso 0,80 – 0,90 Terreno estéril ondulado 0,60 – 0,80 Terreno estéril plano 0,50 – 0,70 Prados, campinas, terreno ondulado 0,40 – 0,65 Matas decíduas, folhagem caduca 0,35 – 0,60 Matas coníferas, folhagem permanente 0,25 – 0,50 Pomares 0,15 – 0,40 Terrenos cultivados em zonas altas 0,15 – 0,40 Terrenos cultivados em vales 0,10 – 0,30 ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 5 Quadro 5.4. Valores de C recomendados pelo Soil Conservation Service – USDA Textura do solo Tipo de cobertura do solo Declividade (%) Arenosa Franca Argilosa 0 - 5 0,10 0,30 0,40 5 - 10 0,25 0,35 0,50 Florestas 10 - 30 0,30 0,50 0,60 0 - 5 0,10 0,30 0,40 5 - 10 0,15 0,35 0,55 Pastagens 10 - 30 0,20 0,40 0,60 0 - 5 0,30 0,50 0,60 5 - 10 0,40 0,60 0,70 Terras cultivadas 10 - 30 0,50 0,70 0,80 5.4.1.3. Intensidade máxima média da precipitação (im) A intensidade a ser considerada para a aplicação do método é a máxima média (im), observada para uma duração correspondente ao tempo de concentração (tc) e para o período de retorno (T) estabelecido pelo projetista. Esta intensidade é obtida pela equação que relaciona intensidade, duração e freqüência de precipitação para a localidade de interesse, que apresenta a seguinte forma: c a m )bt( T Ki += (5.4) em que T – período de retorno, anos; t – duração da precipitação, min; e K, a, b, c – parâmetros de ajuste relativos à localidade. Período de retorno A chuva crítica para o projeto de obras hidráulicas é escolhida com base em critérios econômicos, sendo o período de retorno de 5 a 10 anos normalmente utilizado no caso do projeto de sistemas de drenagem de superfície, de conservação de solos, de saneamento agrícola e para o manejo de bacias hidrográficas. Para o projeto de pequenas barragens, Iryda (1985) considera que o uso de períodos de retorno de 50 ou 100 anos pode ser considerado suficiente. Entretanto, para casos em que a ruptura da barragem coloca em perigo vidas humanas ou podem ocorrer grandes prejuízos econômicos, o autor aconselha períodos de retorno maiores, da ordem de 500 anos. MME-ELETROBRÁS-DNAEE (1985) recomenda que, no dimensionamento de vertedores associados a microcentrais hidrelétricas, o período de retorno seja de 100 anos, quando não houver riscos potenciais a jusante, e de 200 anos, em caso de riscos de danos expressivos a jusante. Na aplicação do Método Racional, o período de retorno é escolhido admitindo-se que este período associado à vazão máxima seja igual ao da precipitação que a provoca. Isso não é exatamente verdadeiro, pois a ocorrência de uma grande cheia não depende apenas da ocorrência de elevada precipitação, mas também das condições da bacia que interferem no escoamento superficial. Duração da precipitação A equação 2 pode ser assim reescrita: A qQmax = (5.5) em que 360 i C q m= é a vazão específica (vazão por unidade de área da bacia), mm h-1. ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 6 A vazão específica será tanto maior quanto maior for im, isto é, quanto menor for a duração da precipitação; porém, a vazão máxima elevará também com o aumento da área da bacia de contribuição. Entretanto, com o crescimentodesta, também aumentará o valor da duração da precipitação a ser considerada. Para atender a essas duas condições, que se opõem, fixa-se a duração da chuva em um valor igual ao tempo de concentração. Pela análise física do processo de escoamento superficial, os fatores que influenciam o valor da duração da precipitação em que toda a área da bacia considerada passa a contribuir com escoamento na seção de deságüe são: área da bacia, comprimento e declividade do canal mais longo (principal), forma da bacia, declividade média do terreno, declividade e comprimento dos afluentes, rugosidade do canal, tipo de cobertura vegetal e características da precipitação. Portanto, o tempo de concentração não é constante para uma dada área, variando com outros fatores como o tipo e a condição de cobertura da área e com a altura e distribuição da chuva sobre a bacia. É importante ressaltar que com o aumento do período de retorno considerado, a influência destes fatores diminui. Por intermédio de inúmeras equações empíricas e ábacos pode-se obter o valor do tempo de concentração de acordo com algumas características físicas da bacia. Algumas delas, apresentadas por Porto et al. (2000) e Freitas (1984), são descritas na sequências. • Equação de Kirpich Foi desenvolvida a partir de informações de sete pequenas bacias agrícolas do Tennessee, com declividades variando entre 3 e 10% e áreas de, no máximo, 0,5 km2, e é expressa pela equação: 385,03 c H L57t ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛= (5.6) em que tc – tempo de concentração, min; L – comprimento do talvegue, km; e H – diferença de nível entre o ponto mais remoto da bacia e a seção de deságüe, m. Embora as informações de que a fórmula necessita (L e H) sejam uma indicação de que ela reflete o escoamento em canais, o fato de ter sido desenvolvida para bacias muito pequenas significa que os parâmetros podem representar, também, o escoamento sobre a superfície do solo. No entanto, verifica-se que quando o valor de L é superior a 10 km, a equação parece subestimar o valor de tc. • Equação de Ven Te Chow Foi obtida para pequenas bacias hidrográficas, com área de até 24,28 km2, localizadas em Illinois, EUA, e é expressa por 64,0 0 c S L64,52t ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛= (5.7) em que tc – tempo de concentração, min; L – comprimento do talvegue, km; e S0 – declividade média do talvegue, m km-1. • Equação de Picking 31 0 2 c S L79,51t ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛= (5.8) em que tc – tempo de concentração, min; L – comprimento horizontal do talvegue, km; e S0 – declividade média do talvegue, m km-1. ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 7 • Equação de Izzard Foi originada de pesquisas em laboratório a respeito do escoamento sobre diversas superfícies, descobertas e revestidas, com comprimentos de rampa variando entre 3,7 e 220 m, declividades de 0,1 a 4% para superfícies revestidas e 1 a 4% para superfícies descobertas. O escoamento foi provocado por chuvas simuladas com intensidades que chegaram a atingir 100 mm h-1. A equação de Izzard é recomendada para pequenas bacias, nas quais o escoamento é laminar, sem canais definitivos. É, portanto, utilizada para o projeto de obras de urbanização, loteamentos etc. A equação é apresentada a seguir. 32 m 31 c )i C( L b 42,526t = (5.9) 31 0 rm S Ci0000276,0 b += (5.10) em que tc – tempo de concentração, min; L – comprimento do trecho em que ocorre o escoamento superficial, que vai da saída da bacia ao ponto mais remoto da seção considerada, m; im – intensidade máxima média de precipitação, mm h-1; C – coeficiente de escoamento superficial, adimensional; H – diferença de nível entre o ponto mais remoto da bacia e a seção de deságüe, m; S0 = H/L – declividade média da superfície, desde o ponto mais remoto até a sua saída, m m-1; e Cr – coeficiente de retardo, adimensional (Quadro 5.5). Esta equação é aplicável somente a situações em que o produto (im . L) < 3.871 mm h-1 m. Quadro 5.5. Valores de Cr em função do tipo de revestimento Tipo de superfície Cr Asfalto liso e bem acabado 0,007 Pavimento de concreto 0,012 Macadame asfáltico (betuminoso) ou cascalho 0,017 Grama aparada ou terra firme 0,046 Turfa densa ou grama densa 0,060 • Equação derivada com base no método da onda cinemática A equação da onda cinemática é a solução teórica das equações que regem o escoamento turbulento em um plano e é de se esperar que funcione bem em pequenas bacias, onde prevalece esse tipo de escoamento. A tendência, entretanto, é de que o valor de tc seja superestimado à medida que a bacia aumenta. 3,0 t 4,0 m 6,0 c S i )n L(447t = (5.11) em que tc – tempo de concentração, min; L – comprimento do talvegue, km; n – coeficiente de rugosidade de Manning, s m-1/3; St – declividade da superfície, m m-1; e im – precipitação efetiva, mm h-1. ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 8 • Equação de Giandotti H 8,0 L 5,1A 4t c += (5.12) em que tc – tempo de concentração, h; A – área da bacia, km2; L – comprimento horizontal, desde a saída até o ponto mais afastado da bacia, km; e H – diferença de cotas entre a saída da bacia e o ponto mais afastado, m. • Equação SCS Lag A equação foi desenvolvida para bacias rurais com áreas de drenagem de até 8 km2 e reflete, fundamentalmente, o escoamento sobre a superfície do terreno. Para a aplicação em bacias urbanas, o Soil Conservation Service (SCS) sugere procedimentos para ajuste de acordo com a área impermeabilizada e a parcela dos canais que sofreram modificações. 5,0 0 7,0 0,8 c S9CN 1000L 42,3t −⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ −= (5.13) em que tc – tempo de concentração, min; L – comprimento do talvegue, km; S0 – declividade do talvegue, m m-1; e CN – número da curva (obtido pelo método do número da curva, a ser abordado posteriormente). • Equação SCS - método cinemático Smedema e Rycroft (1983) salientam que o tempo de concentração pode ser obtido dividindo-se a distância percorrida pelo escoamento superficial pela velocidade do escoamento. ∑ = = n 1i i i c V L 60 1000t (5.14) em que tc – tempo de concentração, min; Li – distância percorrida no trecho considerado, km; e Vi – velocidade média no trecho considerado, m s-1. A equação baseia-se no fato de que o tempo de concentração é o somatório dos tempos de deslocamento nos diversos trechos que compõem o comprimento do talvegue. Na parte superior das bacias, em que predomina o escoamento superficial sobre o terreno, ou em canais mal definidos, a velocidade pode ser determinada por meio dos valores apresentados no Quadro 5.6. Em canais com seção transversal bem definida, deve-se utilizar a equação de Manning. Matos et al. (2000) apresentam equações de regressão desenvolvidas para diferentes tipos de cobertura vegetal, que permitem calcular velocidade de escoamento superficial a partir da declividade da superfície do solo (Quadro 5.7). Estas equações foram ajustadas a partir de ábacos apresentados por Smedema e Rycroft (1983). ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 9 Quadro 5.6. Velocidades médias de escoamento superficial (m s-1) para cálculo de tc Declividade (%) Descrição do escoamento 0 - 3 4 - 7 8 - 11 > 12 Florestas 0 - 0,5 0,5 - 0,8 0,8 - 1,0 > 1,0 Pastos 0 - 0,8 0,8 - 1,1 1,1 - 1,3 > 1,3 Áreas cultivadas 0 - 0,9 0,9 - 1,4 1,4 - 1,7 > 1,7 Sobre a superfície do terreno Pavimentos 0 - 2,6 2,6 - 4,0 4,0 - 5,2 > 5,2 Mal definidos 0 - 0,6 0,6 - 1,2 1,2 - 2,1 > 2,1 Em canais Bem definidos (equação de Manning) Fonte: Porto et al. (2000). Quadro 5.7. Velocidade de escoamento (m s–1) em função da declividade (%) e do tipo de cobertura Tipo de cobertura Equações Floresta com grande quantidadede resíduos sobre a superfície V = 0,0729 I0,5051 Solo com mínimo cultivo ou em pousio V = 0,1461 I0,4920 Pastagem de gramínea, gramados V = 0,2193 I0,4942 Solo semidescoberto (com pouca cobertura) V = 0,3073 I0,4985 Canais com vegetação V = 0,4528 I0,5011 Áreas pavimentadas, escoamento em calhas rasas V = 0,6078 I0,4976 Fonte: Matos et al. (2000). • Equação de Dodge Foi determinada a partir de dados provenientes de dez bacias rurais com áreas de 140 a 930 km2. Como estas bacias têm maior porte que as demais, supõe-se que seus parâmetros reflitam melhor as condições de escoamento em canais. 17,0 0 0,41 c SA 88,21t −= (5.15) em que tc – tempo de concentração, min; A – área da bacia, km2; e S0 – declividade do talvegue, m m-1. Ao analisar as equações apresentadas para o cálculo do tempo de concentração, verifica-se que: • em geral, as equações têm comportamentos similares até L = 10 km e, a partir daí, passam a divergir. Esse comportamento é esperado, uma vez que os estudos que as originaram, em geral, referem-se a bacias desse porte; e • o método cinemático é o mais correto do ponto de vista conceitual, pois permite levar em consideração as características específicas do escoamento na bacia em estudo. É também o mais trabalhoso, pois exige a divisão dos caminhos percorridos pelo escoamento superficial em trechos uniformes e a determinação de suas características hidráulicas para a aplicação da equação de Manning. De acordo com as equações apresentadas anteriormente, o comprimento e a declividade do curso d’água principal da bacia são as características mais freqüentemente utilizadas para o cálculo do tempo de concentração. É difícil dizer qual equação dará melhores resultados em determinada bacia, pois todas foram obtidas para condições particulares. Dentre estas, entretanto, a de uso mais freqüente é a proposta por Kirpich. É válido ter sempre em mente que o erro na estimativa do tempo de concentração será tanto maior quanto menor for a duração considerada, uma vez que é maior a variação da intensidade de precipitação ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 10 com o tempo nesta condição. Já para grandes durações, as variações da intensidade com incrementos iguais de tempo são bem menores. Exercício 1 Determine a vazão máxima de escoamento superficial o tempo de concentração, considerando-se as condições de precipitação típicas de Patos de Minas, MG, e os seguintes parâmetros de uma bacia hidrográfica: • área da bacia: 100 ha; • período de retorno: 10 anos; • comprimento do talvegue: 2.000 m; • diferença de elevação entre a seção de deságüe e o ponto mais remoto da bacia: 35 m; • cobertura: 30% cultura de milho (cultivo em fileiras retas); 20% cultura de soja (cultivo em fileiras retas); 25% floresta; 25% pastagem; • condição hidrológica boa; • solo muito argiloso (Tie = 1 mm h-1); • declividade média da área da bacia: 5 – 10%; e Solução A equação de intensidade-duração-freqüência da precipitação para Patos de Minas é 014,1 250,0 m )9,41t( T 4316i += Utilizando a equação de Kirpich (equação 5.6) para a determinação do tempo de concentração, sendo L = 2 km e H = 35 m, tem-se min 3,32 35 0,2 57t 385,03 c =⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛= Substituindo os valores de T e tc, obtido pela equação de Kirpich, na equação de intensidade- duração-freqüência da precipitação para Patos de Minas obtém-se a intensidade máxima média de precipitação ( ) 1 014,1 250,0 014,1 250,0 m h mm 4,97)9,413,32( 10 4316 )9,41t( T 4316i −=+=+= O valor de C, calculado pela média ponderada em relação à porcentagem de ocupação de cada tipo de cobertura vegetal, é determinado utilizando-se os valores encontrados no Quadro 5.4 para os tipos de vegetação presentes na bacia (milho, soja, floresta e pastagem). Utilizando-se o referido Quadro tem-se: • para a área ocupada pela cultura do milho ⇒ C = 0,70, A = 30 ha • para a área ocupada pela cultura da soja ⇒ C = 0,70, A = 20 ha • para a área ocupada pela floresta ⇒ C = 0,50, A = 25 ha • para a área ocupada pela pastagem ⇒ C = 0,55, A = 25 ha O coeficiente de escoamento obtido pela equação 5.3 é o seguinte: 0,6125 25,00,55+25,00,50+20,00,70+30,00,70C =⋅⋅⋅⋅= Finalmente, a vazão máxima de escoamento superficial é determinada pela equação 5.2. 13 max sm 6,16360 001,497 6125,0Q −=⋅⋅= ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 11 Exercício 2 Determine a vazão máxima de escoamento superficial o tempo de concentração, considerando-se as condições de precipitação típicas de Patos de Minas, MG, e os seguintes parâmetros de uma bacia hidrográfica: • área da bacia: 100 ha; • período de retorno: 10 anos; • cobertura: 30% cultura de milho (cultivo em fileiras retas); 20% cultura de soja (cultivo em fileiras retas); 25% floresta; 25% pastagem; • condição hidrológica boa; • solo muito argiloso (Tie = 1 mm h-1); • declividade média da área da bacia: 5 – 10%; e • o perfil do talvegue foi dividido segundo os trechos descritos no Quadro 5.8. Quadro 5.8. Subdivisões pertinentes ao caminho percorrido pelo escoamento superficial Trecho Cota (m) Comprimento (m) Declividade (%) Observação Superior Inferior 0 - 1 35 25 150 6,7 Área de floresta 1 – 2 25 20 90 5,6 2 – 3 20 15 160 3,1 3 – 4 15 10 140 3,6 4 - 5 10 5 560 0,9 5 - 6 5 0 900 0,6 Rio principal Solução A equação de intensidade-duração-freqüência da precipitação para Patos de Minas é 014,1 250,0 m )9,41t( T 4316i += Para obter tempo de concentração pela equação do SCS – método cinemático (equação 5.14), devem-se determinar as velocidades médias de cada trecho do perfil do talvegue usando as equações apresentadas no Quadro 5.7 para a área de floresta e para o rio principal. O procedimento de cálculo é apresentado no Quadro 5.9. Quadro 5.9. Procedimento de cálculo de tc pela equação SCS – método cinemático Trecho Comprimento (m) Declividade (%) Velocidade média (m/s) ti = L/(V . 60) (min) 0 – 1 150 6,7 0,19 13,2 1 – 2 90 5,6 1,07 1,4 2 – 3 160 3,1 0,80 3,3 3 – 4 140 3,6 0,86 2,7 4 – 5 560 0,9 0,43 21,8 5 – 6 900 0,6 0,34 44,5 tc (min) 2000 86,9 O valor de tc é, portanto, 86,9 min . ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 12 Substituindo os valores de T e tc, obtidos pela equação de do SCS – método cinemático, na equação de intensidade-duração-freqüência da precipitação para Patos de Minas obtém-se a intensidade máxima média de precipitação ( ) ( ) h/mm7,559,419,86 104316i 014,1 250,0 m =+= O valor de C, calculado pela média ponderada em relação à porcentagem de ocupação de cada tipo de cobertura vegetal, é determinado utilizando-se os valores encontrados no Quadro 5.4 para os tipos de vegetação presentes na bacia (milho, soja, floresta e pastagem). Utilizando-se o referido Quadro tem-se: • para a área ocupada pela cultura do milho ⇒ C = 0,70, A = 30 ha • para a área ocupada pela cultura da soja ⇒ C = 0,70, A = 20 ha • para a área ocupada pela floresta ⇒ C = 0,50, A = 25 ha • para a área ocupada pela pastagem ⇒ C = 0,55, A = 25 ha O coeficiente de escoamento obtido pela equação 5.3 é o seguinte: 0,6125 25,00,55+25,00,50+20,00,70+30,00,70C =⋅⋅⋅⋅= Finalmente, a vazão máxima de escoamento superficial é determinada pela equação 5.2. 13 max sm 48,9360 0017,55 6125,0Q −=⋅⋅= 5.4.2. Método Racional Modificado Objetivando melhorar a estimativa da vazão máxima de escoamento superficial em bacias hidrográficas estudadas na região Sul de Minas Gerais, Euclydes (1987) introduziu um coeficiente, denominado coeficiente de retardamento, na equação do Método Racional, passando a vazão máxima de escoamento superficial a ser obtida pela equação φ= 360 Ai C Q mmax (5.16) emque φ é o coeficiente de retardamento, adimensional. O coeficiente de retardamento procura corrigir o fato do escoamento superficial sofrer um retardamento em relação ao início da precipitação. Se este fato fosse considerado no Método Racional, seria escolhida uma chuva mais longa e, conseqüentemente, com intensidade mais baixa. Com a aplicação do coeficiente de retardamento, que varia entre 0 e 1, procura-se uma compensação para este efeito, que não é considerado no Método Racional. O fator de retardamento pode ser determinado pela equação φ = 0,278 - 0,00034 A (5.17) em que A é a área da bacia, km2. A aplicação do método a outras regiões deve ser realizada com cautela e, sempre que possível, seguida da avaliação de seu desempenho. Euclydes (1987) recomenda, ainda, que o tempo de concentração seja determinado pela equação de Giandotti (equação 5.11). Portanto, por não considerar o efeito dos diversos fatores que influenciam o escoamento superficial, o Método Racional Modificado deve ser acompanhado de um ajuste às condições da bacia, antes de ser aplicado. 5.4.3. Método do Número da Curva (SCS-USDA) Por este método pode-se estimar a lâmina (volume por unidade de área da bacia) de escoamento superficial a partir de dados de precipitação e de outros parâmetros da bacia. Foi desenvolvido pelo Soil Conservation Service (1972), vinculado ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (SCS- USDA), a partir de dados de grande número de bacias experimentais, tendo a análise dessas informações permitido evidenciar a seguinte relação: eP ES S I = (5.18) em que ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 13 I – infiltração acumulada após o início do escoamento superficial, mm; S – infiltração potencial, mm; ES – escoamento superficial total, mm; e Pe – escoamento potencial ou excesso de precipitação, mm. A equação 5.18 é válida a partir do início do escoamento superficial. Portanto, tem-se IaPTPe −= (5.19) em que PT – precipitação total, mm; e Ia – abstrações iniciais, mm. Na Figura 5.1 são apresentadas as variáveis consideradas no Método do Número da Curva. Nesta figura evidencia-se que a precipitação acumulada varia linearmente com o tempo, o que corresponde a dizer que a intensidade de precipitação assumida é constante para uma dada duração de precipitação. A precipitação é totalmente convertida em abstrações iniciais até o tempo tIa. As abstrações iniciais correspondem a toda precipitação que ocorre antes do início do escoamento superficial englobando, portanto, além da interceptação e do armazenamento superficial, toda a infiltração ocorrida durante esses dois processos. Após a ocorrência das abstrações iniciais, começa o escoamento superficial. A partir deste momento, tem-se que IESPe += ∴ ESPI e −= (5.20) Pela substituição da equação 5.20 na 5.18 e isolando o termo ES, tem-se SP P ES e 2 e += (5.21) Ao analisar o comportamento verificado nas bacias experimentais estudadas, foi possível ao SCS- USDA evidenciar que S 2,0Ia = (5.22) Figura 5.1. Componentes associados ao Método do Número da Curva (SCS-USDA). Substituindo as equações 5.19 e 5.22 na equação 5.21, tem-se S) 8,0PT( S) 2,0PT(ES 2 + −= (5.23) Visando à simplificação do emprego do Método do Número da Curva, a precipitação total de uso recomendado é aquela correspondente ao total precipitado para determinado período de retorno e duração de precipitação requerida (normalmente 6, 12 ou 24 h). Tempo Lâ m in a CAPACIDADE MÁXIMA DE INFILTRAÇÃO (S = IA + I) ESCOAMENTO PRECIPITAÇÃO TOTAL (PT) Infiltração (I) ABSTRAÇÕES INICIAIS (IA) ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 14 O SCS-USDA obteve, a partir da análise de uma série de hidrogramas associados a diferentes bacias hidrográficas, a seguinte relação: 254 CN 400.25S −= (5.24) em que CN é o número da curva, cujo valor pode variar entre 1 e 100, e depende do uso e manejo da terra, grupo de solo, da condição hidrológica e umidade antecedente do solo. Para a determinação do escoamento superficial pelo Método do Número da Curva é suficiente que o projetista conheça a precipitação que incide sobre a área para a duração pretendida (6, 12 ou 24 h) e obtenha, a partir de tabelas, o valor do número da curva para diferentes condições de superfície e tipos de solo. Os tipos de solo definidos pelo SCS-USDA são A, B, C e D, conforme descritos a seguir: • solo A: baixo potencial de escoamento, alta taxa de infiltração quando completamente úmido e perfil profundo, geralmente arenoso, com pouco silte e argila; • solo B: moderada taxa de infiltração quando completamente úmido e profundidade moderada; • solo C: baixa taxa de infiltração quando completamente úmido, camada de impedimento e considerável porcentagem de argila; e • solo D: elevado potencial de escoamento e baixa taxa de infiltração, raso e de camada impermeável. Diversos pesquisadores têm proposto como critério para diferenciação dos grupos de solos o estabelecimento de limites de taxas de infiltração. Estes limites, entretanto, apresentam grandes variações, quando considerados diferentes autores. Alguns dos limites propostos são apresentados no Quadro 5.10. No Quadro 5.11 constam os valores de CN apresentados por Tucci (2000) para condições de bacias com ocupação agrícola e urbana, respectivamente, para os grupos de solos definidos pelo SCS-USDA. Quadro 5.10. Taxas de infiltração de água no solo (mm h-1) sugeridas por diferentes pesquisadores para classificação do solo nos diversos grupos propostos no Método do Número da Curva Autor Grupos de solo definidos pelo SCS-USDA D C B A SCS (1972)* < 5,1 5,1 – 20,3 20,3 – 127,0 > 127,0 Leven e Stender (1967)* < 20,3 20,3 – 63,5 63,5 – 127,0 > 127,0 USFS (sem data)* < 12,7 12,7 – 31,8 31,8 – 76,2 > 76,2 Miller et al. (1973)* < 2,0 2,0 – 3,8 3,8 – 7,6 > 7,6 Estgate (1977)* < 4,6 4,6 – 9,9 9,9 – 30,0 > 30, Musgrave (1973)* < 5,6 5,6 – 11,9 11,9 – 25,4 > 25,4 Pruski et al. (1997) < 3,0 3,0 – 40,0 40,0 – 190,0 > 190,0 Fonte: (*) Hawkins, citado por Pruski et al. (2001). Para utilização adequada do Quadro 5.11, Pruski (1997) definiu os parâmetros relativos ao uso do solo, tratamento e condição hidrológica, conforme descrito subseqüentemente. Quanto ao uso do solo, é necessário entender: • sem cultivo: terra agrícola sem cobertura vegetal, com o mais alto potencial de escoamento superficial. Constitui situação típica de áreas cultivadas com culturas anuais, imediatamente após o preparo ou plantio; • cultivo em fileiras: culturas plantadas em linha, com espaçamento tal que boa parte da superfície do solo permanece exposta ao impacto das gotas da chuva do começo ao fim do ciclo da cultura. Exemplo: milho, sorgo, tomate e soja; • cultivo em fileiras estreitas: culturas plantadas tão próximas entre si que a superfície do solo permanece desprotegida apenas durante um curto período de tempo, imediatamente após o plantio. Exemplo: trigo, aveia e cevada; e • leguminosas em fileiras estreitas ou forrageiras em rotação: culturas plantadas em fileiras bastante próximas, ou, até mesmo, a lanço, por exemplo, a alfafa. No que diz respeito às rotações, constituem seqüências de cultivos em que os propósitos são manter a fertilidade do solo, reduzir a erosão ou promover um suprimento de uma cultura particular. Com relação ao tipo de tratamento, tem-se ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 15 • fileiras retas: são dispostas segundo a linha de declive do terreno; • fileiras com curvas de nível: são posicionadas tão próximas quanto possível das curvas de nível; e • fileiras com curvas de nível e terraços: além de estarem posicionadas em nível, existem também terraços para a contenção do escoamento superficial. Noque diz respeito à condição hidrológica, a cobertura pode ser assim considerada: • boa: em mais de 75% da área; • regular: entre 50 e 75% da área; e • má: em menos de 50% da área. Os valores de CN apresentados no Quadro 5.11 referem-se às condições médias de umidade antecedente. Pelas informações disponíveis no Quadro 5.12 pode-se enquadrar o solo na classe de umidade antecedente a partir da precipitação ocorrida nos cinco dias que antecedem à chuva crítica. Para condições iniciais de umidade diferentes da média, a correção do valor do número da curva pode ser feita de acordo com as informações do Quadro 5.13. Quadro 5.11. Valores do CN para bacias com ocupação agrícola para condições de umidade antecedente AMC II Tipo de solo Uso do solo Tratamento Condição hidrológica A B C D Sem cultivo Fileiras retas 77 86 91 94 Má 72 81 88 91 Fileiras retas Boa 67 78 85 89 Má 70 79 84 88 Com curvas de nível Boa 65 75 82 86 Má 66 74 80 82 Cultivo em fileiras Com curvas de nível e terraços Boa 62 71 78 81 Má 65 76 84 88 Fileiras retas Boa 63 75 83 87 Má 63 74 82 85 Com curvas de nível Boa 61 73 81 84 Má 61 72 79 82 Cultivo em fileiras estreitas Com curvas de nível e terraços Boa 59 70 78 81 Má 66 77 85 89 Fileiras retas Boa 58 72 81 85 Má 64 75 83 85 Com curvas de nível Boa 55 69 78 83 Má 63 73 80 83 Leguminosas em fileiras estreitas Com curvas de nível e terraços Boa 51 67 76 80 Má 68 79 86 89 Regular 49 69 79 84 Boa 39 61 74 80 Má 47 67 81 88 Regular 25 59 75 83 Pastagens para pastoreio Com curvas de nível Boa 6 35 70 79 Má 45 66 77 83 Regular 36 60 73 79 Floresta Boa 25 55 70 77 Fonte: Mockus (1972). ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 16 Quadro 5.12. Classes de umidade antecedente do solo conforme a chuva ocorrida nos cinco dias anteriores à chuva crítica no período de crescimento da cultura Classes Chuva ocorrida nos cinco dias anteriores à chuva de projeto (mm) AMC I 0 – 35 AMC II 35 – 52,5 AMC III > 52,5 Fonte: Tucci (2000). Quadro 5.13. Correção de CN para condições iniciais de umidade diferentes da média (AMC II) Valores médios correspondentes a AMC II Valores corrigidos para AMC I Valores corrigidos para AMC III 100 100 100 95 87 98 90 78 96 85 70 94 80 63 91 75 57 88 70 51 85 65 45 82 60 40 78 55 35 74 50 31 70 45 26 65 40 22 60 35 18 55 30 15 50 25 12 43 20 9 37 15 6 30 10 4 22 5 2 13 Fonte: Tucci (2000). Exercício 3 Para as condições da bacia citada no exercício 1, determine a lâmina de escoamento superficial pelo Método do Número da Curva. Considere a condição de umidade do solo correspondente a AMC II e a precipitação total à duração de 24 horas de 130 mm. Solução Para o cálculo do ES, devem-se considerar, individualmente, as áreas ocupadas com cada um dos tipos de cobertura vegetal. Para a área ocupada com a cultura do milho, considerando o uso do solo correspondente a cultivo em fileiras com curvas de nível, condição hídrica boa e solo do grupo D, tem-se, pelo Quadro 5.11, CN = 89 (condição média de umidade do solo - AMC II). Substituindo o valor de CN na equação 5.24, tem-se mm 4,31254 89 25400S =−= Substituindo o valor de S na equação 5.23, tem-se mm 7,98 31,4 8,0130 31,4) 2,0130(ES 2 =⋅+ ⋅−= Adotando o mesmo procedimento para as demais áreas, encontram-se os valores de ES, conforme apresentados no Quadro 5.14. ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 17 Quadro 5.14. Valores de ES para os diferentes tipos de cobertura vegetal apresentados no exercício 3 Tipo de ocupação CNAMCII S (mm) ES (mm) Milho 89 31,4 98,7 Soja 89 31,4 98,7 Floresta 77 75,9 69,1 Pastagem 79 67,5 73,8 A lâmina média de escoamento superficial para a área considerada será igual a mm 1,85 100 5273,8+2569,1+2098,7+307,89 =⋅⋅⋅⋅=ES Exercício 4 Determine a lâmina de escoamento superficial a partir dos dados do exercício 3 para condição de umidade inicial do solo correspondente às classes AMC I e AMC II. Solução Para converter o valor de CN para as condições de AMC I e III, utilizam-se os valores do Quadro 5.13. Para a cultura do milho e da soja (CNAMC II = 89), os valores de CNAMC I e CNAMC III são 76,4 e 95,6, respectivamente. Já para a floresta (CNAMC II = 77), estes valores são 59,4 e 89,2, respectivamente, enquanto para a pastagem (CNAMC II = 79), 61,8 e 90,4, respectivamente. Em relação ao exemplo anterior, a alteração do valor da condição inicial de umidade de solo implica na alteração do valor de S, que é determinado pela equação 5.24. No Quadro 5.15 são apresentados os valores de S calculados para os diferentes tipos de cobertura vegetal e seu efeito sobre a lâmina de escoamento superficial. Comparando os valores de lâmina de escoamento superficial apresentados nos Quadros 5.14 e 5.15, observa-se claramente que quando a umidade inicial do solo foi menor, ou seja, na condição AMC I, o escoamento superficial foi menor que o obtido para a condição AMC II. Para a condição de umidade inicial do solo AMC III, a lâmina de escoamento superficial foi maior do que para a condição AMC II, o que caracteriza uma condição crítica de escoamento superficial. Quadro 5.15. Valores de ES para os diferentes tipos de cobertura vegetal e condições apresentados no exercício 4 Tipo de ocupação Condição inicial de umidade CN S (mm) ES (mm) AMC I 76,4 78,46 67,78 Milho AMC III 95,6 11,69 116,95 AMC I 76,4 78,46 67,78 Soja AMC III 95,6 11,69 116,95 AMC I 59,4 173,61 33,76 Floresta AMC III 89,2 30,75 99,21 AMC I 61,8 157,00 38,03 Pastagem AMC III 90,4 26,97 102,43 5.5. Referências bibliográficas EUCLYDES, H.P. Saneamento agrícola. Atenuação das cheias: metodologia e projeto. Belo Horizonte: RURALMINAS, 1987. 320 p. FREITAS, A.J. Tempo de concentração. Belo Horizonte: Prefeitura de Belo Horizonte. Superintendência de Desenvolvimento da Capital, 1984. 67 p. ERU 03977 - Manejo de bacias hidrográficas 18 GOLDENFUM, J.A.; TUCCI, C.E.M. Hidrologia de águas superficiais. Brasília, DF: ABEAS; Viçosa, MG: UFV, Departamento de Engenharia Agrícola, 1996. 128 p. IRYDA. Disenõ y constrccion de pequenõs embalses. 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