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Didática do Ensino Superior

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Prévia do material em texto

Curso 
DOCÊNCIA DO ENSINO 
SUPERIOR 
 
Disciplina 
DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curso 
DOCÊNCIA DO ENSINO 
SUPERIOR 
 
Disciplina 
DIDÁTICA DO ENSINO 
SUPERIOR 
Carly MACHADO 
Marco Antonio LAROSA 
Maria Cristina de Souza FERNANDES 
Maria Esther ARAUJO 
Nilson Guedes de FREITAS 
Vilson Sérgio de CARVALHO 
 
 
www.avm.edu.br 
 3 
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VILSON SÉRGIO DE CARVALHO é professor doutor em Ecologia Social 
pela UFRJ. Atua no Instituto AVM desde 1996, dando aulas nos cursos 
presenciais de pós-graduação sendo também membro da equipe 
pedagógica de seus cursos na modalidade a distância. Formou-se em 
Psicologia pela UFRJ, universidade onde concluiu seu bacharelado, 
licenciatura e mestrado em psicossociologia de Comunidades e Ecologia 
Social. A Educação Ambiental vem ocupando seu foco de atenção como 
professor e pesquisador desde o início dos anos 90 onde este escreveu 
alguns livros, além de vários artigos que já foram apresentados em 
congressos, jornadas e diferentes encontros na área. Já trabalhos em 
Consultorias Ambientais e desde 2005 ministra a disciplina Educação e 
Meio Ambiente no curso de graduação a distância em Pedagogia do IAVM. 
 
Sou CARLY MACHADO, psicóloga formada pela UFRJ, mestre em 
Psicologia Social também pela UFRJ, em um programa de pesquisa 
chamado EICOS, e doutora em Ciências Sociais pela UERJ. Trabalho 
desde o ano 2000 no IAVM. Comecei minhas atividades nos cursos de 
Pós-Graduação presencial, e em 2001 passei a atuar como tutora na Pós-
Graduação a distância. Em 2003 assumi o cargo de Coordenadora de 
Desenvolvimento dos cursos a distância do IAVM, cuidando da produção 
de material didático e elaboração de projetos e metodologias dos novos 
cursos do Instituto. Em 2008 assumi a Coordenação de Educação a 
distância do IAVM e é esta função que ocupo no momento. 
Desenvolvendo meus estudos e aprofundando minhas pesquisas, em 
2007 fiz um Pós-Doutorado na Universidade McMaster no Canadá e em 
2008 outro Pós-Doutorado na UERJ. 
 
Normalmente me apresento como ESTHER ARAÚJO. Sou graduada em 
Fonoaudiologia com Pós-Graduação em Docência do Ensino Superior e 
Saúde e Meio Ambiente. Sou Mestre em Gestão Ambiental e minha Linha 
de Pesquisa foi em Saúde e Educação, cujo foco principal foi a Saúde do 
Trabalhador Docente e Ambiente de Trabalho. 
Sempre participo de eventos relacionados a Políticas na área de Saúde e 
Educação buscando um aperfeiçoamento constante. Atualmente, além de 
docente em aulas presenciais, atuo com Educação a Distância (EAD) e 
coordeno um curso de Graduação na modalidade presencial. 
 
NILSON GUEDES DE FREITAS estudou física na UFRJ e Psicologia na 
Estácio de Sá; é bacharel em Administração, na UFF; especialista em 
Docência Superior, na UCAM; e Mestre em Educação pela UERJ. Desde 
1984 vem atuando como consultor de empresas e ministrando palestras 
em alguns estados do Brasil. Tendo trabalhado na área de ensino do 
Senac, Senai, Faetec, e em algumas instituições de ensino particular. 
Atualmente é professor da área pedagógica do curso de Pós Graduação do 
Projeto A Vez do Mestre, da Universidade Candido Mendes e na Santa 
Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, nos cursos de Pós Graduação de 
Saúde Mental e Desenvolvimento Infanto-Juvenil e de Neuropsicologia. É 
autor dos livros “Escola Competente” e “Pedagogia do Amor”. 
 
MARIA CRISTINA DE SOUZA FERNANDES é formada em Psicologia pela 
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC Minas, Brasil. 
Especialista em Administração de recursos humanos . Faculdade de 
Ciências Gerenciais da UNA. Especialista em Educação e Metodologia do 
Ensino Superior pelo Instituto de Educação de Minas Gerais (1993) 
 
MARCO ANTONIO LAROSA é Graduado em Jornalismo pela Universidade 
Gama Filho – UGF. Fez mestrado a distância em Educação pela American 
World University – USA e Doutorado em Educação na mesma modalidade 
pela Universidade de La Habana – Cuba. Foi Diretor do Curso de 
Comunicação Social na UCAM/RJ. É ainda Co-autor da obra “Como 
Produzir uma Monografia Passo a Passo e professor de diversos cursos de 
pós-graduação do Instituto A Vez do Mestre de diversas cadeiras 
pedagógicas. 
 
 
4 
 
 
 
 
5 
S
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o
 
 
 
 
07 Apresentação 
 
09 
Aula 1 
A Didática que temos e a 
Didática que queremos 
 
37 
Aula 2 
A relação professor - aluno 
 
79 
Aula 3 
A avaliação na prática 
pedagógica 
 
135 
Aula 4 
Metodologias do ensino superior 
 
175 
Aula 5 
Recursos tecnológicos: 
ferramentas pedagógicas 
 
209 
AV1 
Estudo dirigido da disciplina 
 
212 
AV2 
Trabalho acadêmico de 
aprofundamento 
213 Referências bibliográficas 
 
 
Didática do Ensino 
Superior 
 
C
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A discussão sobre a Didática do Ensino Superior é central às 
reflexões pertinentes à formação do educador que atua ou 
pretende atuar neste nível de ensino. Guardando especificidades 
em relação à didática da educação básica, as metodologias de 
ensino que permeiam a prática universitária colocam desafios ao 
profissional que deseja atuar neste campo de atividades. Nesta 
disciplina vamos analisar aspectos relacionados à sala de aula, à 
relação professor aluno, tematizaremos a questão da avaliação na 
prática pedagógica, os procedimentos de ensino na Universidade 
e, por fim, a aplicabilidade de recursos tecnológicos no cotidiano 
do nível superior. 
 
 
 
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Este caderno de estudos tem como objetivos: 
 
 Promover uma reflexão sobre a didática e sua importância na 
prática do professor universitário; 
 Analisar a relação professor-aluno; 
 Discutir os dilemas pertinentes à prática da avaliação no 
cotidiano pedagógico; 
 Oferecer alternativas metodológicas para o ensino no nível 
superior; 
 Refletir sobre a importância dos recursos tecnológicos como 
estratégias educacionais. 
 
 
 
 
A Didática que Temos 
e a Didática que 
Queremos 
 
Esther Araújo 
Vilson Sérgio de Carvalho 
 
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A didática é um tema crucial na formação do educador. A prática 
educativa didaticamente sustentada tem por ênfase a construção 
do conhecimento por parte do sujeito que aprende em interação 
com o professor que atua como facilitador da aprendizagem. 
Nesta Aula vamos discutir o processo educativo, tomando por foco 
os fundamentos da didática geral, a saber, o planejamento 
educacional, o projeto político-pedagógico e a avaliação. 
 
 
 
O
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja 
capaz de: 
 
 Compreender a educação como um processo; 
 Refletir criticamente sobre a Didática; 
 Identificar os fundamentos da didática geral; 
 Reconhecer a importância do planejamento educacional na 
didática do ensino superior; 
 Discutir as práticas avaliativas e seus desafios para o cotidiano 
educacional. 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 10 
 
 
Educação como processo 
 
 
 
 
 
Ao contrário do que possa parecer, estas 
perguntas não são fáceis de ser respondidas. Várias 
pessoas já tentaram respondê-las, gerando inúmeras 
definições para o que seja educar. Embora todas elas 
sejam corretas, as mesmas variam significativamente, 
dependendo dos postulados teóricos sobre as quais se 
baseiam.A etimologia da palavra educação já convida a 
um paradoxo. Advinda do latim “ex-ducere”, educar 
significa literalmente “conduzir para fora”. Nesse 
sentido, ela pode ser identificada com uma espécie de 
exteriorização, ou formas de conduzir uma 
exteriorização (movimento de dentro para fora). 
 
Perceba que a idéia implícita nessa significação 
remete à alimentação do potencial de cada indivíduo, 
de maneira a estimular o aprendizado, ou à mudança 
de comportamento (transformação interior) mediante o 
uso da razão (de dentro para fora). Outro sentido 
comum da palavra educar é o de alimentar, nutrir. 
Nesse caso estamos falando de um movimento 
contrário ao da exteriorização, ou seja, o de 
interiorização de algo, mais especificamente de um 
conhecimento que é trazido de fora com o objetivo de 
somar, de abastecer o sujeito. 
 
Estas tensões encerradas na própria etimologia 
da palavra educação já demonstram o porquê das 
dificuldades de se chegar a uma definição mais precisa 
do que esta venha a ser. 
 
Você sabe qual é o significado da palavra 
“educação”? Tem a exata noção para que ela serve? 
Importante 
 
 
Etimologia se refere 
ao estudo que busca 
o sentido das 
palavras a partir de 
suas origens. 
 
 
Dica do 
professor 
 
 
Não é exatamente 
assim que nos 
sentimos quando 
aprendemos? Um 
novo conhecimento 
nos abastece, e com 
ele nos sentimos 
diferentes. 
 
 
Educação como processo 10 
Repensando a didática 16 
Fundamentos de didática geral 22 
Protagonista da sala de aula 
em cena 23 
Planejamento educacional de 
currículo e de ensino 25 
Projeto político-pedagógico: 
desafios para a construção do 
conhecimento na escola 26 
Desafiando a avaliação da 
aprendizagem escolar 27 
Didática e construção do 
conhecimento 28 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 11 
 
 
Além dos conflitos presentes na própria origem 
etimológica do termo, existem outros, como por 
exemplo, o questionamento sobre se podemos ou não 
falar de uma única definição geral de educação. Como 
aponta Brandão (1996), não existe uma educação, mas 
sim educações. Segundo o autor, “não existe um 
modelo único de educação, assim como a escola não é 
o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o 
melhor” (p.9). Ao defender essa idéia, Brandão se 
refere ao fato de que a educação está presente nos 
mais diferentes âmbitos: na igreja, na escola, em casa, 
na rua, ou seja, na vida de maneira geral, onde formal 
ou informalmente, estamos sempre aprendendo um 
pouco mais. Sob essa ótica, ele dirá que a educação 
nada mais é do que: 
 
uma fração do modo de vida dos 
grupos sociais que a criam e recriam, 
entre tantas outras invenções de sua 
cultura, em sua sociedade. 
 (p. 10) 
 
Não sabemos o que você respondeu no primeiro 
questionamento, mas independente de sua resposta, é 
preciso reconhecer que tentar definir o que vem a ser 
educação não é uma tarefa fácil. Necessária à 
sobrevivência humana e à transmissão da herança 
cultural, a educação esteve sempre presente nos 
diferenciados grupos desde os tempos mais remotos. 
 
É inquestionável o valor da educação como uma 
peça fundamental para a conquista do desenvolvimento 
sócio-econômico de um país. Não é à toa que os países 
desenvolvidos possuem altos índices de escolarização. 
Podemos então dizer que a educação está entre as 
atividades mais importantes de uma sociedade. No 
entanto, a nível nacional nos encontramos diante de 
um quadro educacional extremamente diversificado. 
Um grande percentual da população brasileira ainda é 
privada da educação escolar, sem acesso a informações 
Dica do 
professor 
 
 
De que forma você 
pensa a cultura de 
seu aluno, em sua 
prática como 
educador? 
Os autores em 
educação que 
discutem o tema da 
Cultura nos fazem 
refletir sobre a 
forma como os 
adultos e, 
particularmente os 
professores, 
rejeitam a cultura 
dos jovens antes de 
conhecê-la e 
conceder-lhes uma 
chance. 
 
 
Dica de 
filme 
 
 
Sobre esse assunto 
sugerimos o filme 
“Meu mestre, meu 
herói”, com Morgan 
Freeman. 
 
 
Para 
navegar 
 
 
Para obter dados 
sobre o perfil da 
Educação no Brasil, 
consulte o site 
www.inep.gov.br. 
 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 12 
 
 
elementares que deveriam servir fundamentalmente 
para que o indivíduo se conheça, compreenda a si 
mesmo e possa se relacionar melhor com seu meio e os 
demais membros da comunidade onde vive. 
 
Segundo Piaget, a lógica, a moral, a linguagem e 
a compreensão de regras sociais não são inatas, ou 
seja, pré-formadas, nem são impostas de fora para 
dentro, por pressão do meio. São construídas por cada 
indivíduo ao longo do processo de desenvolvimento. 
Portanto, educar não é uma tarefa específica da escola. 
 
Cabe à sociedade, principalmente à família, 
propiciar experiências, trocas pessoais e conteúdos 
culturais que, interagindo com o processo de maturação 
biológica, permitam ao indivíduo atingir capacidades 
cada vez mais elaboradas de conhecer e atuar no 
mundo físico e social. 
 
Afinal, qual seria o sentido da educação senão o 
de propiciar valores, isto é, de oferecer pontos de 
referência para uma vida mais digna e mais humana? 
 
Sob essa ótica, a tarefa educar implica: 
 
dialogar, permitir 
que o ser surja 
(desabroche) e se 
afirme; 
 ajudar o outro a ser 
coerente com a sua 
maneira de viver a vida, 
com seu senso de 
justiça, com suas 
expectativas para que, 
assim, o educando 
possa viver melhor 
consigo mesmo e com o 
outro (conviver); 
 permitir e até promover situações 
para que o indivíduo aprenda a 
viver intensamente, com a 
preocupação de que o indivíduo se 
desenvolva como um todo, física e 
emocionalmente, ao mesmo tempo 
em que cresça cognitivamente, 
buscando alternativas de situações 
de aprendizagem, que resultem na 
conquista de objetivos, tanto na 
escola quanto em seu cotidiano 
social. 
 
De forma abrangente, muitos autores 
escreveram sobre esse comprometimento da educação 
com o desenvolvimento integral da humanidade. Um 
deles, o professor Imídio Nérice (1992) chegou a 
Dica de 
leitura 
 
 
Sobre Piaget, 
sugerimos a leitura 
do livro Para 
Compreender Jean 
Piaget de DOLLE 
Jean-Marie, São 
Paulo: McGrawHill, 
1983. 
 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 13 
 
 
identificar sinteticamente 22 objetivos da educação 
voltados para essa proposta. 
 
 Dar oportunidade para cada um revelar-se e 
realizar-se; 
 Formar a mentalidade científica (formação do 
espírito crítico e livre); 
 Desenvolver a capacidade de esforço e 
persistência (luta pela conquista); 
 Predispor e preparar o homem para o 
exercício profissional; 
 Tornar o educando independente (auto-
determinado); 
 Levar a ter confiança em si e em seus 
semelhantes; 
 Sensibilizar para a responsabilidade; 
 Tornar comunitário (estruturar o cidadão 
consciente e ativo); 
 Desenvolver a criatividade; 
 Conscientizar sobre a provisoriedade do 
conhecimento; 
 Sensibilizar para a preservação da natureza; 
 Formar o profissional eficiente; 
 Levá-lo a dar o melhor de si (senso estético); 
 Desenvolver a capacidade de apreciação 
(crítica); 
 Desenvolver a tolerância (paciência e respeito 
para com o diferente); 
 Possibilitar melhor conhecimento da 
sociedade e da natureza; 
 Predispor para o respeito ao próximo 
(solidariedade); Formar a consciência cívica (amor à pátria e à 
nação); 
 Levar à aprendizagem do transcendente 
(busca de uma explicação maior); 
 Formar o homem ético e moral (formação da 
própria consciência política); 
Importante 
 
 
Veja se você 
concorda com o 
autor! 
Aproveite o 
momento para 
examinar os itens ao 
lado e fazer uma 
reflexão sobre 
aqueles que você 
considera mais 
importantes em sua 
prática pedagógica. 
 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 14 
 
 
 Favorecer a elevação espiritual (enxergar 
além do plano material); 
 Informar formando (não apenas transmitir, 
mas construir o conhecimento); 
 
Após esta breve sinopse, podemos dizer que 
educar é um processo onde sempre encontraremos, de 
forma direta ou indireta, atividades (práticas e 
reflexivas) e relacionamento humano. 
 
Com base nas informações apresentadas, é 
possível levantarmos a seguinte questão: 
 
De uma forma simplificada podemos dizer que 
ela se processa de forma cíclica, conforme o esquema a 
seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
+ 
 
 
 
 
 
 
A aprendizagem é estimulada por atividades 
e/ou relacionamentos humanos capazes de 
desencadear novos processos de construção, onde 
aprendemos construindo nossa própria estrutura 
cognitiva e não apenas registrando estímulos que, 
associados a conhecimentos previamente estruturados, 
levam-nos à capacidade de uma nova compreensão, 
atingindo novos objetivos. 
Para pensar 
 
 
Já que a educação é 
um processo, como 
faremos a 
aprendizagem 
acontecer? 
 
 
Atividades e 
relacionamento 
humano 
Novos 
Conhecimentos 
 
APRENDIZAGEM 
Objetivos Conhecimentos 
adquiridos 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 15 
 
 
Por isso a insistência de educadores como Paulo 
Freire (1997) de que venhamos a promover uma 
educação libertadora, que realmente provoque essa 
capacidade no aluno, de refletir, de pensar, de criar; 
e não uma educação bancária, meramente informática 
e reforçadora da cultura do “decoreba”. 
 
Com essa mentalidade é vital que entendamos 
que a tarefa de educar não é uma tarefa fácil e o 
motivo da dificuldade reside no fato de que ela não se 
resume a algo pronto, regrado (como uma receita a ser 
seguida), mas pelo contrário, suscita de muitas 
vivências e de muitos questionamentos novos que 
exigirão um repensar e recriar contínuos. 
 
Daí o entendimento da educação como um 
processo e não um estado acabado. O termo processo 
sugere nitidamente a idéia de movimento, de alguma 
coisa em andamento e é justamente esse movimento 
uma das principais características do educar. A 
educação é na verdade um processo dialógico 
(interativo) deflagrador de outros processos, cuja 
reunião contribuiria para formação integral do homem 
no que tange às suas dimensões biológicas (DB), 
psicológicas (DP), sociais (DS), culturais (DC) e 
políticas (DP). 
 
 
 
 
 
 
 
Dica de 
leitura 
 
 
Sobre este assunto, 
veja o livro clássico 
de FREIRE Paulo, 
Pedagogia do 
Oprimido, Editora 
Paz e Terra, do Rio 
de Janeiro, 2002. 
 
 
Dica do 
professor 
 
 
Participe da 
elaboração deste 
texto conosco, 
escrevendo suas 
opiniões sobre o 
tema da Educação 
como um Processo, 
concluindo a leitura 
deste item. 
 
 
EDUCAÇÃO DB DP DS DC DP 
PROCESSO 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 16 
 
 
Repensando a didática 
 
Tradicionalmente concebida como uma disciplina 
pedagógica de cunho técnico e instrumental, a didática 
vem sendo revisada nas últimas décadas como uma 
reflexão sistemática do processo de ensino-
aprendizagem. O paradigma de uma didática definida, 
enquanto um conjunto de conhecimentos técnicos 
usados para transmitir algum conhecimento, tem sido 
gradualmente substituído pelo paradigma do 
questionamento e/ou da problematização dos 
diferentes elementos que influenciam no processo de 
ensino-aprendizagem e dos que são por este 
influenciados. É o que você verá nesta seção. 
 
Essa “nova didática”, como faz questão de 
enfatizar Candau (1983,1996), assume como foco de 
atuação não apenas o “como fazer pedagógico” - sem 
dúvida sua dimensão mais reconhecida e valorizada -, 
mas também “por quê? e para quem fazer?”. Nesse 
sentido, não mais interessa pensar apenas que tipo de 
metodologia, aparato ou dinâmica eu devo utilizar para 
dar uma aula; mas também, e principalmente, ter uma 
idéia clara de onde vou chegar a partir do caminho que 
escolher, tendo sempre em mente o alunado e a cultura 
escolar com os quais devo me confrontar. 
 
Lembre-se que um resultado positivo na escolha 
de um método dentro de uma determinada realidade 
didática não significa em hipótese alguma a garantia 
desse mesmo resultado dentro de uma outra realidade, 
ainda que com características semelhantes. 
 
Para melhor compreendermos o que é didática, 
é importante entendermos seu objeto de estudo: isto 
é, o jogo do ensino-aprendizagem. Cabe em primeiro 
lugar ressaltar que estamos falando de dois processos 
distintos: ensinar e aprender 
Dica de 
leitura 
 
 
Existem dois 
âmbitos culturais 
referentes à 
Educação: a Cultura 
da Escola, que diz 
respeito à dimensão 
cultural de qualquer 
instituição escolar, 
independente da 
realidade em que se 
encontra, e a 
Cultura Escolar que 
é singular, e se 
refere ä combinação 
de diferentes 
âmbitos culturais: 
do professor, do 
aluno, dos 
funcionários, cada 
qual com suas 
especificidades. 
 
Para 
aprofundamento no 
assunto, leia Escola 
e Cultura, FORQUIN 
de Claude, Editora 
ArtMed, 1993. 
 
 
Importante 
 
 
Exemplificando, se 
eu escolhi o 
retroprojetor para 
ministrar uma aula X 
na turma Z, devo ter 
claro porque optei 
por esse meio para 
dar esse tipo aula 
nessa turma 
específica e não um 
outro qualquer. Esse 
“ter claro” implica, 
obviamente, saber 
onde essa escolha 
vai me levar, quais 
as suas vantagens e 
seus limites, e 
ainda, quais os seus 
efeitos na turma 
escolhida. 
 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 17 
 
 
Apesar de percebermos a nítida e estreita 
relação entre eles, ensinar não significa 
necessariamente aprendizado por parte do outro. A 
preocupação maior da didática reside justamente numa 
tentativa de “costurar” os dois processos, tentando 
fazer com que o ensino promova realmente o 
aprendizado. 
 
Você já viu que a educação é um processo 
articulado, onde de forma contínua e inovadora, a 
vivência e o relacionamento humano buscam, através 
de novas experiências, respostas a questões que 
levarão o indivíduo a alcançar novos conhecimentos. 
Neste sentido, reflita: 
 
Se entendemos que o processo ensino-
aprendizagem está, direta ou indireta, relacionado às 
atividades e relacionamento humano, certamente o 
componente afetivo estará presente, não devendo ser 
ignorada a necessidade de adquirir atitudes que levem 
ao crescimento pessoal, interpessoal e intragrupal: a 
dimensão humanista do processo. 
 
Aspectos como objetivos instrucionais, seleção 
de conteúdo, estratégias de ensino, avaliação e outros, 
também são necessários para que o processo ocorra 
como ação intencional, sistemática e organizada, de 
forma a propiciar um melhor aproveitamento na 
transmissão e construção dos novos conhecimentos: a 
dimensão técnica facilitadora do processo. 
 
A dimensão político-social é um aspecto 
importantedo processo ensino-aprendizagem, e como 
este processo acontece dentro de uma cultura 
específica, com uma organização social montada, esta 
dimensão é capaz de influenciar toda a prática 
pedagógica. 
 
Para pensar 
 
 
Qual seria o papel 
da escola? 
Como atender as 
necessidades das 
pessoas que 
procuram a escola? 
 Quem a procura e 
para que a 
procuram? 
O que é preciso para 
facilitar este 
processo? 
 
 
Dica de 
leitura 
 
 
Para refletir sobre a 
dimensão político 
social da educação 
leia o texto 
Tendências 
Pedagógicas na 
Prática Escolar de 
LIBÂNEO José 
Carlos, que você 
encontra no livro 
Filosofia da 
Educação, de 
LUCKESI 
Cipriano,1ª. Ed., 
São Paulo: Cortez, 
2001, e também 
online no site 
 
http://planta.terra.c
om.br/educacao/linc
oln/libaneo.htm 
 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 18 
 
 
Desta forma, o domínio do conhecimento que a 
civilização produziu é um dos fatores que contribui para 
melhor situar o indivíduo frente aos fatos sociais. Com 
essa preocupação, a escola proporciona acesso a um 
conhecimento sistemático, fornecendo mecanismos 
para produção e reelaboração de novos saberes. Por 
meio destes atributos, a escola será capaz de colaborar 
com as novas e inadiáveis transformações sociais. 
 
A escola precisa estar adequada ao contexto 
social no qual se insere e do qual seus alunos se 
originam. O valor que representa enquanto instrumento 
de transmissão, reflexão e produção de saber, é 
importante e continua sendo visualizada, 
principalmente pelas classes populares, como um 
indispensável mecanismo de ascensão social. Porém, 
uma indagação permanece presente entre os 
educadores: 
 
A questão de como ensinar, que quase encobriu 
a importância dos conteúdos escolares, é então 
redefinida, voltando as preocupações para o que deve 
ser ensinado pela escola e a quem este conhecimento 
se destina. 
 
Tomando-se o ato pedagógico como educativo 
em sua essência, Bordas (1994) esclarece acerca dos 
componentes fundamentais que devem alicerçar o 
currículo escolar, tais como: 
 
 A organização e reorganização contínua rumo 
ao crescimento cognitivo e afetivo; 
 Grau de inter-relação para o alcance dos 
objetivos; 
 Os valores presentes em um dado momento 
histórico. 
 
 
Para refletir 
 
 
O que ensinar de 
forma a atender as 
necessidades e 
expectativas da 
sociedade? 
 
 
Dica de 
leitura 
 
 
E afinal: o que deve 
ser ensinado pela 
escola? 
James Banks, 
especialista em 
Educação 
Multicultural, 
destaca cinco 
dimensões 
importantes neste 
processo: 
- a integração de 
conteúdo de 
diferentes culturas, 
visando um 
conhecimento de 
âmbito universal; 
- o processo de 
construção do 
conhecimento; 
- a redução do 
preconceito; 
- reforço do 
empoderamento; 
- pedagogia da 
equidade. 
Como referência da 
Educação 
Multicultural veja o 
livro de CANDAU, 
Vera Sociedade, 
Educação e 
Cultura(s), 1ª. ed., 
Petrópolis: Vozes, 
2002. 
 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 19 
 
 
Ao professor apresentam-se duas alternativas: 
 
Ou ele transmite informações técnicas 
desvinculadas dos seus próprios fins e do 
contexto concreto em que foram geradas, muitas 
vezes fora da vivência da população a que se 
destina, utilizando-se o que aqui denominaremos 
como didática instrumental; 
 Ou nega esta visão tecnicista 
da educação, buscando 
relacionar seus compromissos 
políticos e ideológicos com a 
expectativa e necessidade do 
seu público alvo. 
 
É preciso deixar bem claro, porém, que 
competência técnica e competência política não são 
aspectos contrapostos. A prática pedagógica, por ser 
política, exige a competência técnica como facilitadora 
deste processo. 
 
É importante que nós educadores entendamos 
que reduzir a prática pedagógica à dimensão humanista 
ou tecnicista é limitar a aprendizagem. A articulação 
dessas dimensões configura verdadeiramente o centro 
da concepção do processo ensino-aprendizagem. 
 
Nesta perspectiva de uma articulação 
multidimensional, é que entendemos que a didática 
deva se situar; uma didática fundamental, que procura 
partir de uma prática pedagógica concreta, realmente 
vivenciada e de seus determinantes, trabalhando 
continuamente a relação teórico-prática. 
 
Só assim, partindo de uma didática 
fundamental, poderemos responder as questões que 
tanto afligem os educadores: 
 
Existem, na verdade, muitos fatores em pauta 
no jogo do ensinar x aprender, e a didática se constitui 
como um importante instrumento para pensar esses 
fatores, oferecendo a você, professor, algumas pistas 
que irão lhe ajudar como proceder de forma eficiente e 
eficaz na promoção da aprendizagem em sua classe. 
Através da contribuição da didática, é possível saber 
até que ponto seus alunos têm acompanhado as aulas; 
Dica de 
leitura 
 
 
Sobre os conceitos 
de Didática 
Fundamental e 
Didática 
Instrumental, 
confira o livro Rumo 
a uma nova didática, 
de CANDAU Vera, 
12ª. Ed., Petrópolis: 
Vozes, 1997. 
 
 
Para pensar 
 
 
Que venho eu fazer 
aqui? 
O que vêm eles 
fazer aqui? 
O que espero eu 
deles? 
O que esperam eles 
de mim? 
 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 20 
 
 
em que momento você deve mudar a técnica utilizada; 
como está seu relacionamento com a turma e até com 
a escola; e outra série de questões. 
 
Por isso mesmo é que a didática ultrapassa, ou 
melhor, transcende o espaço da sala de aula, podendo 
ser empregada sempre que em qualquer situação você 
deseje transmitir um conhecimento qualquer a alguém, 
de forma que o mesmo possa entender o que você 
deseja que o outro compreenda. Seja esse alguém um 
aluno, um pai, ou um funcionário da escola. 
 
Muitas vezes estamos fazendo uso da didática 
sem nos dar conta desse uso, pois as situações 
didáticas se fazem presentes nos mais diferentes 
momentos de nosso dia a dia. 
 
Quando você conversou com seu filho usando a 
linguagem dele (suas gírias e maneiras de se 
expressar) para que ele entendesse melhor o 
ensinamento que você queria transmitir, você estava 
fazendo uso de um recurso didático. 
 
Do mesmo modo que, ao transmitir uma idéia 
para alguém se utilizando de um desenho, mapa ou 
representação gráfica, é também uma utilização de 
recurso didático com fins ao aprendizado. Pense um 
pouco nisso e reflita sobre a idéia que você tinha de 
didática. 
 
A Arte da Didática: Problemas e Desafios 
 
Cada dia me convenço mais de que a Didática é 
uma arte. Não se trata aqui de fazer poesia, ou de 
pensar a didática de maneira romântica, mas 
simplesmente refletir sobre a didática em todas as suas 
facetas, isto é, em termos de quem a executa, a quem 
se destina, do que ela exige e a que ela se pretende. 
Para refletir 
 
 
A partir das idéias 
desenvolvidas até 
aqui, como você 
pensa a Didática 
agora? 
 
Leia o texto abaixo 
com atenção, 
escreva suas 
reflexões. 
 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 21 
 
 
Mais do que a mera transmissão de 
conhecimento em sala de aula, exemplificada na figura 
do “professor bancário” de Paulo Freire, valoriza-se 
cada vez mais a necessidade de se construir o 
conhecimento com o aluno, num processo mútuo de 
aprendizagem, onde a didática se apresenta como uma 
ferramenta pedagógica fundamental. Não apenas como 
uma ferramenta técnica, mas como uma ferramentaproblematizadora atenta a todos os detalhes que 
interferem na dinâmica ensino-aprendizagem. Hoje, 
mais do que saber escolher e utilizar os meios 
adequados para dar aula, o professor que utiliza bem a 
didática é aquele que se preocupa com os elementos 
que direta ou indiretamente afetam o jogo ensino x 
aprendizagem que este promove dentro ou fora de sala 
de aula. 
 
E é nesse sentido que a arte da didática se 
expressa de forma mais palpável. Não basta ser feliz 
apenas na escolha e execução do método de trabalho, 
outros fatores como: exercício da criatividade, 
promoção de um ambiente favorável, planejamento 
geral, tomada de decisões, motivação da turma, 
atenção ao tempo, improvisação, são igualmente 
importantes e não podem ser ignorados do fazer e 
pensar didático. A arte da didática resume-se, portanto, 
na tentativa de combinar esses elementos (buscar uma 
aula dinâmica, dentro de um clima democrático e 
motivador, unindo teoria e prática etc.) com a correria 
do dia a dia, a resistência da instituição - às vezes dos 
próprios colegas de profissão -, a desmotivação dos 
alunos, a desqualificação profissional e a desvalorização 
salarial. 
 
O objetivo aqui, ao contrário do que pode se 
pensar, não é o de desanimar ninguém. Minha intenção 
resume-se apenas em apresentar a didática como uma 
arte, que como qualquer outra, tem seus problemas e 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 22 
 
 
exigências, mas que, por outro lado, também apresenta 
suas vantagens e compensações. Por exemplo, 
qualquer arte exige paixão, desejo, e na didática a 
situação não é diferente. Existe um sentimento muito 
forte, maior do que os problemas acima citados, que 
nos impulsiona a um emprego cada vez mais eficaz da 
didática. Talvez essa sensação advenha do sentimento 
de alteridade que todo professor tem ao contribuir 
decisivamente para a vida do outro, em termos de 
conscientização da realidade, exercício efetivo da 
cidadania, e possibilidade de construir sua própria 
história. Quem não se emocionou ao sentir que 
conseguiu transmitir algum conhecimento em aula e ao 
perceber esse entendimento a partir das próprias 
contribuições de sua turma? Como definir esse 
sentimento, como expressar em palavras esse misto 
emocional de satisfação consigo mesmo e com o outro 
no processo de aprendizagem? Talvez seja mesmo 
intraduzível, afinal toda arte tem também os seus 
mistérios. 
 
Vilson Sérgio de Carvalho 
 
Fundamentos de didática geral 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Leia atentamente esta seção para compor um 
instrumental necessário para responder a estas 
perguntas. 
 
Como lidar com a diversidade rompendo práticas 
pedagógicas excludentes? Quais são os principais 
dilemas dos professores ao longo da carreira? 
O que ensinar? 
Por que os professores resistem às inovações e, em 
particular, às propostas curriculares? 
O que são temas transversais? 
É apenas mais um modismo? 
Profissionais experientes precisam planejar? 
É possível avaliar respeitando singularidades? 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 23 
 
 
As questões acima povoam o dia-a-dia dos 
professores e perpassam a disciplina que procura fugir 
dos manuais, das receitas, das prescrições de 
procedimentos infalíveis que indicam soluções 
milagrosas. 
 
Lembrando sempre da diversidade cultural no 
cotidiano escolar e na sala-de-aula, você verá, a seguir, 
uma breve exposição das práticas pedagógicas: 
 
 A formação do profissional; 
 As propostas curriculares; 
 Projeto político-pedagógico; 
 Planejamento didático; 
 A avaliação da aprendizagem. 
 
Para facilitar a discussão das questões, 
dividiremos a exposição em quatro unidades: 
 
1. Protagonista da sala-de-aula em cena; 
2. Planejamento educacional de currículo e de 
ensino; 
3. Planejamento e projeto político-pedagógico: 
desafios para a construção do conhecimento 
na escola; 
4. Desafiando a avaliação da aprendizagem na 
escola. 
 
PROTAGONISTA DA SALA DE AULA EM CENA 
 
Problematizar a dificuldade da escola aceitar o 
aluno tal como ele é, constitui-se em ponto de partida 
deste estudo. Nosso objetivo inicial será discutir a 
formação de professores para a diversidade cultural. 
 
 Como ver os alunos como diferentes entre si, 
com potencialidades distintas, com direito de 
acesso ao conhecimento? 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 24 
 
 
 Até que ponto a presença de um aluno ideal 
no imaginário dos professores tem favorecido 
“a produção do fracasso escolar”, dificultando 
confiar no aluno e na sua capacidade de 
aprender? 
 Como lidar com a diferença em sua 
positividade? 
 Por que teimamos em produzir alunos 
padronizados, exatamente idênticos, negando 
suas particularidades? 
 É o aluno que tem que se submeter à lógica 
da escola ou será a escola que deve-se 
orientar para atender aos alunos? 
 Como os saberes, os valores, os interesses, 
as expectativas, as histórias de vida dos 
alunos podem ser reconhecidos, 
compreendidos e valorizados? 
 
É necessário ao professor refletir sobre os 
destinos que são construídos ou destruídos nas salas-
de-aula, como também o exame dos saberes que a 
criança leva para a escola e, ainda, as dificuldades de 
se lidar com eles. Quem é o aluno que, na vida 
cotidiana, responde a demandas cada vez mais 
complexas e na escola fracassa? Em que medida seu 
fracasso é resultado de conceitos e preconceitos sobre 
o aluno e sua família? Qual é o peso do estigma no 
processo ensino-aprendizagem? 
 
A formação de professores precisa ser 
repensada. É necessário que esteja comprometida em 
reverter as práticas pedagógicas que ignoram o 
universo cultural de alunos e alunas. Os professores, 
tanto aqueles que ainda se encontram em sua 
formação inicial como os que já estão no exercício 
profissional, não podem deixar de refletir sobre as 
múltiplas formas de romper com os estereótipos, 
Dica de 
leitura 
 
 
Buscando 
referências sobre 
como desenvolver o 
potencial particular 
do aluno, de acordo 
com uma 
conceituação 
moderna de 
inteligência que 
respeita as 
diferenças, leia de 
FERNÁNDEZ Alicia, A 
Inteligência 
Aprisionada – 
Abordagem 
Psicopedagógica 
Clínica Da Criança E 
Sua Família. Porto 
Alegre: Artes 
Médicas, 1991. 
 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 25 
 
 
preconceitos e discriminação ainda existentes no 
espaço da sala de aula. 
 
PLANEJAMENTO EDUCACIONAL DE CURRÍCULO E 
DE ENSINO 
 
O mundo moderno vem sendo objeto de 
profundas e aceleradas transformações econômicas, 
políticas e sociais que sinalizam para a necessidade da 
formação de um educador capaz de pensar, pesquisar, 
decidir, planejar e executar as atividades educacionais 
em sintonia com os avanços da sociedade. 
 
Se qualquer atividade exige planejamento, a 
educação não é uma exceção. De acordo com Claudino 
Piletti, em Didática Geral, em nível educacional, alguns 
planejamentos são absolutamente necessários para o 
bom andamento do processo: 
 
1 - Planejamento educacional Consiste na tomada de decisões sobre a 
educação no conjunto do desenvolvimento geral 
do país. A elaboração desse tipo de 
planejamento requer a proposição de objetivos a 
longo prazo que definam uma política de 
educação. 
2 - Planejamento de currículo O problema central do planejamento curricular é 
formular objetivos educacionais a partir daquelesexpressos nos guias curriculares oficiais. Embora 
o currículo seja mais ou menos determinado, 
cabe à escola interpretar e operacionalizar estes 
currículos. A escola deve procurar adaptá-los a 
situações concretas, selecionando aquelas 
experiências que mais poderão contribuir para 
alcançar os objetivos dos alunos, das suas 
famílias e da comunidade. 
3 - Planejamento de ensino Podemos dizer que o planejamento de ensino é a 
especificação do planejamento de currículo. 
Consiste em traduzir em termos mais concretos 
e operacionais o que o professor fará na sala de 
aula, para conduzir os alunos a alcançar os 
objetivos educacionais propostos. 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 26 
 
 
Um planejamento de ensino deverá prever: 
 
 Objetivos específicos (ou instrucionais) 
estabelecidos a partir de objetivos 
educacionais; 
 Conhecimentos a serem adquiridos pelos 
alunos no sentido determinado pelos 
objetivos; 
 Procedimentos e recursos de ensino que 
estimulam as atividades de aprendizagem; 
 Procedimentos de avaliação que possibilitem 
verificar, de alguma forma, até que ponto os 
objetivos foram alcançados. 
 
PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO: DESAFIOS 
PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA 
ESCOLA 
 
Compreendemos o projeto político-pedagógico 
como o plano global da instituição ou o projeto 
educativo, um instrumento teórico-metodológico, cuja 
finalidade é contribuir para a organização do 
conhecimento escolar. Sua construção deve envolver e 
articular todos os que participam da realidade escolar 
(corpo docente, discente e comunidade) de forma que 
estes pensem, com base na própria realidade, sobre a 
singularidade que a caracteriza, sua autonomia, os 
objetivos das ações desenvolvidas e a maneira de 
operacionalizá-las de forma mais política, crítica e 
criativa. 
 
Em relação a esse projeto, a Nova Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9394, de 
1996 – no seu Artigo 12, Inciso I, propõe, como um 
dos objetivos dos estabelecimentos de ensino, a 
elaboração e a execução de sua proposta pedagógica. 
 
No que se refere aos docentes, encontramos no 
Artigo 13 – Incisos II e V outras referências normativas 
Dica de 
leitura 
 
 
Para obter dicas 
sobre planejamento, 
leia MENEGOLLA, M. 
E; SANTA'ANNA, 
I.M. Por que 
planejar? Como 
planejar? Petrópolis: 
Vozes, 1999. 
 
 
Para 
navegar 
 
 
Se você ainda não 
possui a LDB, ela 
está disponível 
online pelo site 
www.fifasul.br/fifasu
l/LDB_Online.htm 
das Faculdades 
Integradas de 
Fátima do Sul no 
Mato Grosso do Sul. 
 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 27 
 
 
que sugerem sua participação na elaboração e no 
cumprimento dos planos de trabalho, segundo a 
proposta pedagógica do estabelecimento, o que inclui 
sua participação integral nos períodos dedicados ao 
planejamento. Essa tarefa exigirá maior envolvimento 
com a realidade do aluno e a realidade institucional, 
maior tempo para pensar os objetivos, o currículo, os 
métodos e a avaliação da escola. 
 
O fato é que se não assumirmos criativamente a 
responsabilidade sobre os rumos de nossas práticas nas 
instituições de ensino em que lecionamos, corremos o 
risco de perder o sentido sobre o nosso fazer, restando-
nos, apenas, uma visão fragmentada e distorcida da 
realidade. 
 
DESAFIANDO A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM 
ESCOLAR 
 
Um curso que propõe refletir sobre os 
fundamentos da didática, buscando qualificar 
profissionais para a prática docente, não poderia deixar 
de trabalhar e refletir sobre as questões referentes à 
avaliação no cotidiano escolar, na medida em que 
avaliar implica julgamento de valor. Todos sabemos da 
complexa e árdua tarefa que configura o ato de julgar 
outro ser humano. 
 
Observe alguns problemas relacionados à 
avaliação: 
 
 A falta de clareza conceitual, ocorrida durante 
a avaliação feita pelos professores que 
confundem, usualmente, o ato de medir com 
o de avaliar os alunos envolvendo, 
freqüentemente, apenas memorização de 
fatos e informações; 
 A ausência ou a existência de critérios 
arbitrários para avaliar; 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 28 
 
 
 A utilização da avaliação como instrumento 
disciplinador do alunos, revelando, muitas 
vezes, o caráter autoritário do professor. 
 
Uma questão não menos importante a ser 
considerada na avaliação da aprendizagem está 
relacionada aos fins da educação. Da mesma forma que 
o planejamento e os procedimentos de ensino, a 
avaliação não se realiza em um espaço neutro, mas é 
contextualizada e depende de uma concepção de 
homem, de sociedade e de mundo que perpassam a 
prática pedagógica. Sua prática poderá privilegiar tanto 
uma postura reprodutora como uma postura 
transformadora do professor, sendo os objetivos da 
avaliação determinados em função dessa postura. 
 
Assim, três questões básicas são colocadas:o 
que avaliar, como avaliar e para que avalia 
 
Elas não poderão ser respondidas sem antes 
discutir as diferentes concepções de avaliação, bem 
como os pressupostos que a fundamentam, o que você 
verá em outros módulos irão compor esta matéria. 
 
Didática e construção do conhecimento 
 
O conhecimento não se transfere, se 
produz, se recria. 
 (Paulo Freire) 
 
Entendido como um desafio a ser explorado pela 
didática e pela pedagogia, ainda existem muitas 
questões sobre como se processa o conhecimento do 
aluno. Mergulhe neste desafio através da leitura de 
mais esta seção! 
 
Se pensarmos sobre a existência e o papel da 
escola, veremos que ela existe “em” e “para” um 
determinado contexto social. Neste sentido, as escolas 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 29 
 
 
são realidades sociais, e como necessidade social 
precisam ser dinâmicas, integrando os aspectos 
teóricos e práticos aqui já mencionados. O professor 
aparece como figura-chave do currículo, interpretando 
o proposto e convertendo seus conteúdos em 
aprendizagem compreensiva e significativa. 
 
Um aspecto relativamente novo a ser 
pesquisado e aprofundado relaciona-se ao mecanismo 
de “como se produz o conhecimento do aluno”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nesta reflexão, é importante entendermos o 
papel do currículo na construção do conhecimento: 
currículo como projeto de formação integral realizado 
pela escola e a partir dela. Também é importante 
sabermos que o currículo vai muito além do rol de 
disciplinas e conteúdos, tampouco se limita a aspectos 
meramente epistemológicos e metodológicos, à forma 
de abordagem dos conteúdos, mas sim uma 
intervenção mais efetiva na prática e na realidade 
social construtora do conhecimento. 
 
A construção de um currículo deve contemplar 
esta indissociabilidade entre teoria e prática, dentro de 
um conteúdo programático para a formação do senso 
crítico e o despertar da criatividade, não se limitando a 
ser um mero repasse de informações. O conteúdo é 
importante, mas não suficiente para aperfeiçoar o 
currículo. Não basta mudar o conteúdo, se for mantido 
o método anterior. 
 
O conhecimento e a aprendizagem, geralmente, são 
vistos como duas realidades distintas. Enquanto a 
aprendizagem é pessoal, o conhecimento é público. 
Porém, a interdependência – conhecimento e 
aprendizagem – é de tal sorte que não se pode 
produzir um sem o outro. 
Dica do 
professor 
 
 
Pensando na 
realidade da sua 
instituição escolar,quais desses fatores 
você considera mais 
graves, dificultando 
a inovação 
pedagógica, e assim 
necessitando de 
mudanças urgentes? 
Destaque aqui 
mesmo no texto 
estes fatores, e se 
quiser, aproveite 
para escrever algo 
sobre eles. 
Quem sabe este 
exercício não poderá 
ajudá-lo a escolher 
um bom tema para 
o seu trabalho 
monográfico? 
 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 30 
 
 
Embora ciente da necessidade de uma mudança, 
muitos fatores ainda limitam a execução de uma 
proposta inovadora: 
 
 Precária reflexão sobre as práticas 
educativas; 
 Falta de referência ao projeto político-
pedagógico; 
 Formação inadequada do educador; 
 Limitação dos espaços necessários e possíveis 
para a ação dos educandos; 
 Escassa explicitação, na prática, da dimensão 
política do ato educativo; 
 Ênfase ao “fazer técnico-pedagógico” que 
caracteriza um paradigma meramente 
tecnológico; 
 Predomínio da racionalidade técnica nas 
práticas curriculares, enfatizando os 
interesses e demandas de uma sociedade 
desenvolvimentista e capitalista; 
 Escassa interação teórico-prática; 
 Ênfase na quantidade de informações; 
 Escola não vista como espaço de construção e 
reelaboração coletiva do saber; 
 Separação entre conteúdo, forma, sujeito que 
conhece e objeto a ser conhecido. 
 
Estes são alguns equívocos a serem 
questionados nas nossas escolas, capazes de dificultar 
a aquisição de novos conhecimentos. Faz-se necessário 
superar esta visão e propor uma nova concepção que 
leve a práticas mais consistentes, tendo em vista 
provocar mudanças nas ações educativas, favorecendo 
a construção do conhecimento. Esta proposta deve 
constituir uma preocupação básica de nossas análises 
na busca de uma aproximação entre o proposto e o 
executado em uma didática voltada para a construção 
do conhecimento. Isto deve acontecer desde a infância, 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 31 
 
 
através de interações do sujeito com os objetos que 
procura conhecer, sejam eles do mundo físico ou 
cultural. 
 
O conhecimento é construído por cada indivíduo 
ao longo do processo de desenvolvimento, processo 
que se dá como sucessão de estágios que se 
diferenciam uns dos outros por mudanças 
qualitativas. Estas mudanças permitem não só a 
assimilação de objetos de conhecimento compatíveis 
com as possibilidades já construídas, mas também 
servem de ponto de partida para novas construções, 
sendo um dos objetivos principais da educação o 
desenvolvimento da autonomia, tanto intelectual 
como moral. 
 
Um exemplo presente na publicação 
“Multieducação – Núcleo Curricular Básico – Rio de 
Janeiro - 1996” pode ilustrar perfeitamente o que aqui 
colocamos como autonomia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O exemplo aqui citado demonstra como pode se 
dar a aquisição de novos conhecimentos na escola, 
através da participação, compatíveis com os já 
Durante uma aula de geografia, a professora e os 
alunos da 8ª série lêem um texto do livro didático 
sobre aspectos sócio-econômicos do Oriente Médio. 
Dentre as informações, o texto afirma que os países 
ali localizados se caracterizam por serem muito ricos 
em petróleo, e que suas populações são muito 
pobres, muitas delas nômades, vivendo em cabanas 
no deserto. 
Após a leitura inicia-se um exercício de fixação das 
informações. Um aluno, após meditar, aparentando 
não compreender muito bem a lógica da situação, 
pergunta: “Professora, se existe tanto petróleo, se o 
país é tão rico, por que o povo é tão pobre?” 
Este aluno foi capaz de perceber, autonomamente, 
uma contradição, não aceitando passivamente as 
informações. Sua autonomia não foi manifestada 
apenas no plano intelectual, mas também no moral, 
pois foi capaz de agir a partir de valores morais, 
conscientemente assumidos como os mais 
eticamente corretos. 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 32 
 
 
construídos, que serviram de ponto de partida para 
uma nova construção. Por isso, a escola enquanto 
espaço intelectual de produção de conhecimento, de 
ensino e de aprendizagem, precisa libertar-se do 
modelo de educação domesticadora preponderante. 
 
Instaurar mudanças metodológicas, entretanto, 
não pode ser algo imposto por tendências ou atos 
administrativos. Requer, para tanto, adesão daqueles 
que fazem a educação cotidianamente, que precisam 
ser autores de um projeto transformador, como o aqui 
proposto. 
 
Voltamos novamente para a questão de que, 
enquanto autores de um processo de reorientação das 
práticas que desenvolvem, os professores/escola 
precisam traduzir também os fins políticos da educação 
escolar e encontrar relevância naquilo que realizam. Em 
consonância com esta natureza política do ato 
pedagógico, ensinar não é apenas aplicar 
procedimentos e técnicas de ensino, mas envolve uma 
consciente fundamentação teórica sobre o método e 
uma visão crítica sobre seus limites e possibilidades. 
 
 
 
 
 
A opção por um determinado conjunto de 
procedimentos metodológicos precisa levar em conta 
a realidade, questionando-a e, em determinados 
casos, adaptando-a. Só assim será possível se pautar 
numa proposta metodológica que favoreça a construção 
da cidadania e conduza para um pensar crítico. 
 
(...) Uma metodologia que torne os 
alunos capazes através do trabalho e 
da reflexão coletivas, construírem sua 
autonomia, capazes de repensar sua 
realidade pessoal para construir sua iden 
Para isso, a aplicação de uma determinada proposta 
metodológica deverá estar condicionada à situação 
cognitiva dos alunos bem como ao saber anterior 
que possuem 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 33 
 
 
 tidade e de formar-se como cidadãos 
(...). 
 (Bordas, 1994, p. 556) 
 
Você chegou ao final desse módulo. Através de 
sua leitura, certamente foi possível rever 
conhecimentos já aprendidos e construir outros mais. 
Esperamos que os conteúdos e as propostas aqui 
trabalhados possam auxiliá-lo em uma prática 
pedagógica bem-sucedida. 
 
 
EXERCÍCIO 1 
 
Desenvolva uma reflexão sobre a formação de 
professores para a diversidade cultural, apresentando 
como ênfase específica a formação do professor 
universitário. 
 
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ 
 
EXERCÍCIO 2 
 
Diferencie a Didática Instrumental de uma Didática 
Fundamental, tomando por base a “nova didática” 
discutida nesta Aula. 
 
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________ 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 34 
 
 
 
EXERCÍCIO 3 
 
Considere as frases abaixo e assinale a única opção 
verdadeira: 
 
( A ) A instauração de mudanças metodológicas é um 
processo que requer uma atitude impositiva por 
parte do professor em relação a seus alunos; 
( B ) A nova lei de diretrizes e bases (LDB) não propõe 
que os docentes participem plenamente do 
processo de elaboração e execução da proposta 
pedagógica; 
( C ) Segundo Brandão (1996) não faz sentido falarmos 
em uma educação e sim em "educações",levando 
em consideração o fato de que a educação está 
presente em diferentes âmbitos; 
( D ) Podemos considerar a tarefa de educar como uma 
tarefa fácil, especialmente devido a troca profícua 
que se estabelece entre professor e aluno; 
( E ) A nova LDB propõe apenas a instauração de 
novas medidas administrativas. 
 
 
EXERCÍCIO 4 
 
Um dos desafios enfrentados pela didática refere-se a 
produção curricular. Podemos encarar o currículo como: 
 
( A ) A proposta regimentar da escola; 
( B ) O roteiro dos conhecimentos que serão 
trabalhados em aula; 
( C ) Um projeto de formação integral realizado pela 
escola e a partir dela, indo além do rol de 
disciplinas e conteúdos; 
( D ) Um conjunto de especificações metodológicas a 
serem utilizadas pelo professor; 
( E ) Uma forma de abordar o conteúdo das disciplinas. 
 
Aula 1 | A didática que temos e a didática que queremos 35 
 
 
 
RESUMO 
 
Vimos até agora: 
 
 É inquestionável o valor da educação como 
uma peça fundamental para a conquista do 
desenvolvimento sócio-econômico de um 
país; 
 
 Educar é um processo onde sempre 
encontraremos, de forma direta ou indireta, 
atividades (práticas e reflexivas) e 
relacionamento humano; 
 
 A educação é na verdade um processo 
dialógico (interativo) deflagrador de outros 
processos, cuja reunião contribuiria para 
formação integral do homem no que tange às 
suas dimensões biológicas (DB), psicológicas 
(DP), sociais (DS), culturais (DC) e políticas 
(DP); 
 
 Uma didática fundamental procura partir de 
uma prática pedagógica concreta, realmente 
vivenciada e de seus determinantes, 
trabalhando continuamente a relação teórico-
prática; 
 
 São fundamentos da didática geral: o aluno, o 
planejamento, o projeto político-pedagógico e 
a avaliação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A relação professor - 
aluno 
 
Nilson Guedes de Freitas 
 
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Esta aula tem por tema central uma das questões fundamentais 
da Didática: a qualidade da relação Professor-Aluno. Para 
tratarmos deste assunto, vamos discutir paradigmas e elementos 
do imaginário coletivo. Analisaremos contextualmente os dilemas 
da educação na sociedade contemporânea. Falaremos também 
sobre a aprendizagem significativa e as questões relativas à 
dinâmica entre razão e emoção no processo de ensino e 
aprendizagem. Por fim, discutiremos o contrato didático e seu 
papel na relação professor-aluno. 
 
 
 
O
b
je
ti
v
o
s
 
 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja 
capaz de: 
 
 Identificar elementos relevantes à análise da relação professor-
aluno; 
 Compreender a centralidade desta relação no processo de 
ensino e aprendizagem; 
 Analisar a relação professor-aluno a partir da dinâmica razão e 
emoção; 
 Conceituar aprendizagem significativa e compreender a 
importância deste conceito na prática do educador; 
 Reconhecer a importância do contrato didático na definição de 
papéis e responsabilidades de aluno e professor na prática 
pedagógica. 
 
Aula 2 | A relação professor - aluno 38 
 
 
Palavras iniciais 
 
Os únicos demônios deste mundo são 
aqueles que estão em nossos próprios 
corações, e é aí que todas as nossas 
batalhas devem ser travadas. 
(Mahatma Gandhi) 
 
Como o próprio título do módulo sugere, iremos 
tratar de uma determinada relação. Sendo uma 
relação, teremos de olhar não só os “atores” 
envolvidos, mas também o contexto onde ela está 
inserida. Isto porque, dependendo do contexto ou 
ambiente em que tal relação se estabeleça, teremos 
como possibilidades o cerceamento ou a potencialização 
de seus horizontes. 
 
Estabelecemos relações a todo momento em 
nossas vidas, com outros viventes, com objetos e até 
mesmo com instituições de diversos conteúdos. A 
relação que iremos trabalhar é assim uma das possíveis 
e será a que ocorre em um ambiente pedagógico 
específico, na escola. Ao relacionarmos Professor e 
Aluno, estamos nos remetendo quase sempre ao ato - 
ou processo - de Aprender, implícito e explícito nessa 
relação. Para não fugirmos da realidade, lembramos 
que também aprendemos com nossos amigos, com 
nossos pais, com os livros... aprendemos sozinhos, ou 
seja, somos professor e aluno e aluno e professor, em 
muitas situações e momentos. O aprendizado, 
enquanto instância individual, tornou-nos mais aptos 
como espécime a sobreviver no mundo; enquanto na 
coletividade, nos permitiu o educar para viver em 
sociedade. Antes de tudo, o acontecer dessa relação 
passa pela alteridade e extrapolando daí para a sua 
inserção na sociedade e vice – versa. Enquanto relação, 
passa pela interação (com o imaginário social) e a 
aprendizagem (inteligência e afetividade) dos 
envolvidos. É nesse contexto, no processo relacional 
com o outro, que o homem busca ser reconhecido como 
Para refletir 
 
 
Quais os aspectos 
que você considera 
mais importantes na 
relação professor-
aluno? 
 
 
Palavras iniciais 38 
Introdução 41 
Paradigmas e o Imaginário 
Coletivo 45 
Os antigos ventos de hoje 52 
Aprendizagem significativa 58 
Somos razão e emoção 64 
Contrato didático 70 
Conclusão 73 
Aula 2 | A relação professor - aluno 39 
 
 
tal, ou seja, é somente pelo olhar da ontologia que se 
propiciará o homem a ser sujeito e não outra coisa 
qualquer. 
 
Nosso caminhar pelo trabalho passará 
inicialmente pelo Eu para podermos “olhar” o Outro e, 
assim, quando o outro “aparecer”, estaremos prontos 
para analisar a relação de forma humana e mais sábia. 
Como essa relação é dinâmica, isto é, num momento 
somos “professores” e no seguinte “alunos”, nossas 
argumentações são pertinentes a quaisquer um dos 
referenciais aqui utilizados para os professores e os 
alunos ou até mesmo para outros, por exemplo: 
diretores e orientadores. Seja por determinantes da 
atuação profissional ou como ação do imaginário 
coletivo do que seria o contexto do ambiente 
relacional, educacional que estamos abordando – 
professor ensina (ação) e o aluno aprende (reação), 
cabe ao professor, digamos, as ações iniciais nessa 
relação de papéis determinados. Em outras palavras, 
pelo menos no início (que pode não ser, como veremos, 
o momento inicial da relação propriamente dita) 
esperamos que o professor tome a iniciativa. É nesse 
momento que se apresenta a “situação-limite” ou o 
“inédito – viável”1 da relação. Momento em que se 
começa a descortinar toda a verdade daquela 
interação. Assim, elegemos e direcionamos nossos 
esforços para a ação e a interação do professor para 
com seres humanos e não objetos. 
 
Portanto, não adianta saber para ensinar, 
porque quem está na outra posição – a de aprender - 
pode não estar motivado, interessado ou mesmo 
entendendo, pois o que está sendo ensinado, por 
exemplo, para nada serve em seu “mundo” ou não está 
contextualizado para o outro. 
 
1
 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, p. 94. 
Para pensar 
 
 
Como você acha que 
se organiza a 
imagem do 
professor no 
imaginário coletivo, 
ou seja, na 
imaginação das 
pessoas no dia-a-
dia? 
- “o professor é o 
sabe-tudo!” 
- “tem sempre uma 
resposta na ponta 
da língua!” 
- “se a aula não é 
boa, a culpa é do 
professor” 
- “esse cara deve 
estudar da hora que 
acorda até a hora 
em que vai dormir” 
 
 
Aula 2 | A relação professor- aluno 40 
 
 
Quando se estabelece a relação objetivando esse 
processo, teremos assim a possibilidade de construir o 
saber e a aprendizagem significativa, com trocas e não 
por imposições sociais ou pessoais. Assim, esta relação, 
pelo menos a que estamos propondo, implicará a 
Aprendizagem Significativa – é uma relação de trocas 
de significados. Por nossa natureza particular, o ser 
humano é antes de mais nada o construtor de sua 
realidade, que é resultado direto de seu processo de 
significação no mundo. Somos os únicos responsáveis e 
construtores de nós mesmos. 
 
Estes são os principais ingredientes que 
estaremos utilizando para lidarmos com o tema de 
estudo. As inquietações que nos motivaram a produzir 
esse módulo são oriundas de alguns anos de 
observação da prática educacional, como professor, 
orientador e pesquisador, tanto para o nível médio 
como nos cursos de pós-graduação, assim como nas 
diversas palestras e discussões do curso de mestrado. 
Para o presente módulo, trataremos principalmente da 
relação entre os “atores” em si - Professor e Aluno na 
escola. Deixaremos o aprofundamento da discussão do 
ambiente relacional, a Escola, que não é o único local 
da sociedade para se aprender, para o próximo módulo 
do curso. Tal opção é decorrente, entre outras, do 
planejamento didático e das necessidades de 
distribuição do curso, no espaço e tempo, em módulos. 
 
Termino essa abertura com um trecho da 
apresentação de um pequeno volume escrito por 
Nicolau Maquiavel ao Magnífico Lourenço de Médicis, 
que além de deliciosa e inteligente – a apresentação de 
Maquiavel – a utilizo para demonstrar a forma do 
trabalho em si e toda minha intenção (guardando as 
devidas proporções, pronomes, papéis e tempos) para 
com os leitores. Maquiavel queria presentear o príncipe 
com o que ele possuía de mais valor: seus 
Dica do 
professor 
 
 
O aprender é 
processo de 
significação 
subjetiva do ser, ou 
seja, necessita ser 
exercido com 
liberdade, e não por 
imposição, pela 
simples razão de 
que numa relação 
dialógica entre 
sujeitos sempre 
ocorrerão trocas – o 
processo contínuo 
de reconhecer o 
outro. 
 
 
Aula 2 | A relação professor - aluno 41 
 
 
conhecimentos e estudos sobre as ações dos homens 
com poder. Maquiavel2 assim escreveu, “embora eu 
considere essa obra pouco digna de ser levada a sua 
presença, tenho confiança em que, todavia, ela possa 
ser, por sua benevolência, aceita, uma vez que eu não 
tive outra disposição que a de oferecer-lhe a 
possibilidade de compreender, em curtíssimo espaço de 
tempo, tudo quanto conheci e entendi no curso desses 
anos de uma vida cheia de perigos e privações. Não 
enriqueci esse texto com períodos longos e pomposos, 
carregados de retórica ou de alguma outra sofisticação 
lingüística puramente formal, por meio dos quais 
muitos costumam exprimir-se; desejei que, sem outro 
ornamento, somente a novidade da argumentação e a 
importância do assunto tornassem agradável minha 
obra. Não desejo que seja considerado uma presunção 
o fato de que um homem de baixo e pouco status social 
tenha a intenção de discutir e definir as leis que estão 
na base do governo dos príncipes; de fato, do mesmo 
modo que um pintor que desenha uma paisagem, de 
baixo observa o contorno das montanhas e de tudo o 
que está no alto, enquanto do alto observa tudo o que 
está embaixo, da mesma forma, para conhecer bem a 
natureza do povo, é necessário ser príncipe, para 
conhecer a natureza do príncipe, é necessário pertencer 
ao povo. 
 
Aceite, portanto, Vossa Alteza, esse pequeno 
presente com o mesmo espírito que me anima a 
mandá-lo; se a partir daí com cuidado o considerar e o 
ler, saberá que meu desejo é que o Senhor possa 
alcançar, por suas qualificações e capacidade, e 
favorecido pela fortuna, grandes metas...” (Maquiavel). 
 
2
 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe, p. 9 e 10. 
Para 
navegar 
 
 
Para saber mais 
sobre Maquiavel, 
visite o site: 
 
www.10emtudo.com
.br/artigos_1.asp?Co
digoArtigo=39 
 
Descubra neste 
texto o porquê do 
adjetivo 
“maquiavélico”. 
 
 
Aula 2 | A relação professor - aluno 42 
 
 
Introdução 
 
Por questões culturais e/ou históricas, e o caso 
brasileiro é simbólico, a grande produção de leis por 
nossos legisladores levou o nosso povo a uma máxima 
popular: “temos muitas leis em nosso país, se pelo 
menos meia dúzia delas fossem respeitadas estaríamos 
em outra situação!” (dependendo da região em que o 
leitor se encontra, teremos algumas variações no dito 
popular). Pensadas para estabelecer direitos, deveres, 
segurança e tranqüilidade para o convívio e, portanto, 
objetivando a melhor qualidade de vida de seus 
cidadãos, há um sentimento de que as coisas não 
melhoram na convivência em sociedade. 
 
Um dos resultados prático e direto disso é uma 
maior produção de leis. Precisamos de normas para o 
convívio social? No contexto de nossa sociedade, em 
particular, as normas se tornam necessárias para a 
convivência. Assim, sendo os legisladores 
representantes eleitos de nosso povo, como explicar 
que as leis produzidas por eles – visando o bem comum 
- não correspondam aos anseios da grande maioria da 
população? Percebemos como cidadãos que deveríamos 
cumprir as leis objetivando o bem comum. A 
complexidade dessa situação, por vezes, nos prostram 
e nos levam, pelo efeito paradoxal da situação, ao 
descrédito geral e ao estabelecimento de argumentos e 
leis próprias – os famosos jeitinhos. Mas, então, onde 
se encontra a linha do aceitável entre o prolixo e o 
sintético nas normas, entre a “escrita morta” e a “lei 
viva”, ou então entre o discurso e a prática? O que está 
faltando para que as intenções dêem certo? 
 
Com certeza o contexto já nos dá as principais 
respostas para nossas perguntas. Ou seja, por 
exemplo, quando procurarmos contextualizar a 
formação do povo e a nação brasileira se tornará óbvio, 
Aula 2 | A relação professor - aluno 43 
 
 
Darcy Ribeiro3 (1986) nos mostra isso, analisando 
como as questões históricas e culturais quase que nos 
impõem tal forma de ver o outro e como devemos 
tratá-lo. Fazendo analogia com a Educação, temos 
talvez umas das mais ricas produções científicas sobre 
educação em todo mundo, temos muito o que trocar – 
e trocamos - com os outros pensadores do mundo. 
 
A questão central, e acreditamos que seja a 
principal desde quando o homem começou a viver em 
sociedades, é: como “olhamos” o Eu e o Outro e as 
conseqüências disso? Como iremos trabalhar relações, 
é cabível tal observação, pois a escola só existe por ser 
um ambiente relacional, do Eu para com o(s) Outro(s), 
do nós. Além do que, a escola só existe por ser um 
“local” de interação intencional entre seres humanos e 
por ser um dos locais privilegiados, na sociedade, para 
a formação do cidadão. 
 
Para chegarmos à Lua com todo aquele aparato 
tecnológico, tivemos que, além de sonhar, soltar muita 
gaivota e empinar muita pipa, papagaio. Assim, não 
estamos aqui negando o valor e a razão da existência 
de todas as pesquisas. Muito pelo contrário. Estamos 
sim, mostrando que ainda nos encontramos, digamos, 
à vista da intermitência dos mesmos e antigos 
problemas (incompreensão, violência,...), na periferia 
do problema central. 
 
E assim estamos, porque temos ainda difíceis 
questões a resolver. Questões de significado e 
entendimento do quem sou eu e o eu com os outros 
numa comunidade; e questões temporais: o tempo 
pessoale interior de cada um se olhar de fato e olhar 
de verdade o outro e não o de impingir projeções suas, 
e o tempo coletivo, de evolução de nossa espécie – 
antropogênese - enquanto em sociedade. O cerne da 
 
3
 RIBEIRO, Darcy. Sobre o Óbvio, p. 15 – 33. 
Aula 2 | A relação professor - aluno 44 
 
 
questão é o da alteridade, do reconhecimento do outro, 
do lidar com a diversidade, com a diferença, do sairmos 
do egocentrismo. 
 
Como seres humanos, no processo de tornar-se 
homens, ou seja, em processo de devir, temos que 
responder a questões que nos remetem ao nosso 
“nascimento”, no sentido amplo da palavra. Erich 
Fromm4 as colocas assim, “A existência humana nos 
coloca fundamentalmente uma questão. O homem é 
jogado dentro deste mundo sem a sua vontade e 
retirado novamente sem a sua vontade. 
Contrariamente ao animal, que possui instintos e 
mecanismos de adaptação ao meio, que visam a sua 
integração na natureza, o Homem carece totalmente 
desses mecanismos instintivos. Donde, cumpre-lhe 
viver sua vida, ele não é vivido por ela. Está na 
natureza e, no entanto, transcende a natureza; tem 
consciência de si mesmo, e essa consciência de si como 
entidade separada fá-lo sentir-se intoleravelmente só, 
perdido, impotente. O próprio fato de ter nascido coloca 
um problema. No momento do nascimento a vida faz 
uma pergunta ao Homem, e a essa pergunta ele 
precisa responder. Precisa responder a ela a todo 
instante; e não é sua mente, não é seu corpo, é ele, a 
pessoa que pensa e sonha, que dorme, come, chora e 
ri – o Homem todo – quem precisa responder a ela. 
Qual é a pergunta formulada pela vida? A pergunta é: 
como poderemos superar o sofrimento, o 
aprisionamento, a vergonha que cria a experiência do 
isolamento; como poderemos encontrar a união 
conosco, com o nosso semelhante, com a natureza? O 
Homem precisa responder a essa pergunta de algum 
modo, e até na loucura ele procura dar uma resposta 
quando transforma violentamente a realidade fora de si 
mesmo ou quando vive completamente dentro da 
própria casca, superando assim o medo do isolamento 
 
4
 FROMM, Erich. Zen-Budismo e Psicanálise, p. 102 
Importante 
 
 
O tema central da 
obra de Fromm é 
profundamente 
humanista, ou eco-
ético-humanista: o 
homem se sente 
desamparado e só 
porque se separou 
ou deixou de 
desenvolver suas 
qualidades, 
potencialidades ou 
natureza mais 
propriamente 
humanas e deixou, 
por isso mesmo, de 
ter contato com as 
mesmas 
potencialidades e 
natureza das demais 
pessoas. Esta 
situação de 
alienação social, 
mesmo que 
maquiada - e 
principalmente 
enquanto tal - é 
uma característica 
trágica e que se 
encontra apenas 
entre os seres 
humanos, 
especialmente 
quando as condições 
materiais criam uma 
hierarquia de 
dominação. 
 
 
Aula 2 | A relação professor - aluno 45 
 
 
(...) Existem apenas duas respostas frente à mesma e 
sempre pergunta. Uma delas é sobrepujar o 
isolamento, e encontrar a unidade através da regressão 
ao estado de unidade com o ventre que existia antes do 
despertar da percepção, antes do nascimento do 
homem. A outra resposta é nascer plenamente, 
desenvolver a própria percepção, a própria razão, a 
própria capacidade de amar; a tal ponto que o homem 
possa ultrapassar o envolvimento egocêntrico, 
chegando a uma nova harmonia, a uma nova unidade 
com o mundo” (Fromm, E., 1960). 
 
Ao vivenciarmos, intensamente, tais questões e 
respostas para nossas vidas, estaremos dando sentido 
abrangente ao Processo de Individuação (conceito 
de Carl Gustav Jung, que é o esforço humano em 
integrar todas as suas energias psíquicas, conscientes e 
inconscientes, pela criação do Self, do seu centro vital) 
para sua razão de ser e de inserção - interação para 
com os outros, para com homens vivendo em 
sociedades. 
 
O raciocínio é simples. Para fazermos qualquer 
intervenção positiva em qualquer problema, temos que 
antes de tudo entendê-lo e contextualizá-lo antes de 
começarmos a agir, a caminhar. Procurando, antes de 
mais nada, entender como entramos nos problemas e 
assim, começarmos a resolvê-los. A porta de entrada é 
a mesma de saída. Como estamos postulando que o 
âmago do problema está na alteridade, o nosso olhar 
deve, antes de mais nada, estar voltado para o ser no 
seu devir homem. Seria aprendermos o que temos de 
mais urgente, difícil e ao mesmo tempo tão próximo e 
distante. Aprendermos, antes de tudo sobre nós 
mesmos. É mais fácil viajarmos para Marte, 
construirmos os maiores prédios, escalarmos as 
maiores montanhas, do que trilharmos o caminho dessa 
viagem solitária. Caminho árduo, mas que deve ser 
Dica de 
leitura 
 
 
Individuação 
significa tornar-se 
um ser único, 
homogêneo, na 
medida em que por 
individualidade 
entendemos nossa 
singularidade mais 
íntima, última e 
incomparável, 
significando também 
que nos tornamos o 
nosso próprio si 
mesmo. Pode-se 
traduzir 
Individuação como 
tornar-se si mesmo, 
ou realização do si 
mesmo. 
 
O livro Teorias da 
Personalidade, de 
FADIMAN e FRAGER 
(Editora Harbra), 
apresenta muito 
bem a teoria de 
Jung. 
 
 
Aula 2 | A relação professor - aluno 46 
 
 
trilhado se quisermos nos compreender – entrar em 
contato consigo mesmo – e assim, enxergar o outro 
ser. Essencialmente, esse ato é uma declaração de 
amor. De amor por você e conseqüentemente para com 
os outros, pois quando me vejo na integridade de 
minha diversidade – um ser com medos, coragem, 
carências, amor – habilito-me a olhar o outro com 
humildade, respeito e amor. Habilito-me a olhar e 
sentir o outro como ele é, pois me vejo nele e o vejo 
em mim. Esse vôo, como diria o filósofo Plotino: “É um 
vôo do só para o sozinho”. O desdobramento disso 
seria estarmos, talvez, caminhando para a noosfera 
(noos em grego, significa espírito e mente), que seria 
uma nova e verdadeira fase emergente para a 
humanidade, para a sociedade globalizada e humana, 
para a consciência planetária – que nada tem a ver com 
a globalização atual, que só tem aumentado as 
disparidades sociais, pois seu foco principal está no 
mercado de consumo – o ser consumidor e sua 
estrutura de poder e dependências. 
 
Paradigmas e o imaginário Coletivo 
 
Na maioria dos modelos e sistemas 
organizacionais humanos, sejam econômicos e/ou 
sociais, encontramos algumas características 
essenciais. Uma delas, é a relação de poder com o seu 
“desenho” vertical – centralizador (dominador e 
dominados). Outra característica importante, é que 
esses sistemas buscam, explícita ou implicitamente, 
mecanismos para se perpetuarem. Por exemplo, gerar 
e implantar uma tal relação de significados – e como 
veremos, a educação tem um papel importantíssimo na 
perpetuação dessas imagens - em que os dominados 
sejam dependentes dos dominadores. Podemos num 
esforço de análise categorizar da seguinte forma, 
quando nessas relações as ações e as práticas são 
regidas de forma implícita teremos os Imaginários com 
Aula 2 | A relação professor - aluno 47 
 
 
seus elementos culturais e de forma explícita teremos 
os Paradigmas. 
 
A definição de paradigma científico, que iremos 
utilizar, é decorrente das grandes mudanças teóricas 
científicas do início do século XX, foi estabelecida por 
Thomas Kuhn (1962) como: 
 
uma constelação de realizações – 
concepções, valores, técnicas etc. – 
compartilhadas por uma comunidade 
científica e utilizada por essa 
comunidade para definir

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